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Freddy Ferreira: ‘Organização do ritmo e consequências no equilíbrio e fluência da bateria’

Fluência entre os naipes. Equilíbrio musical. Equalização de timbres. Todas essas expressões são as mais buscadas quando se faz ritmo com uma bateria. Em comum entre elas? Todas são alcançáveis de modo praticamente natural diante de uma organização, que leva em conta a pulsação de cada ritmista na hora de demarcar o lugar de desfile.

freddy ferreira
Freddy Ferreira é colunista de bateria do CARNAVALESCO

É possível dizer que todas as peças leves (tamborim, chocalho, agogô e cuíca) possuem mapas de desfiles. Ou seja, os ritmistas da cabeça da bateria já sabem, antes de irem para a pista, o lugar que ocuparão ao longo de todo o cortejo. Mas a realidade da cozinha da bateria costuma ser diferente da parte da frente do ritmo. A galera do peso normalmente não possui mapa de desfiles, fazendo com que a organização da parte de trás do ritmo (onde tocam repiques, caixas e surdos) fique deficiente em relação aos demais. Embora existam trabalhos que fogem à regra, com mapas para a cozinha, normalmente a organização acaba seguindo o feeling de diretores.

A situação se agrava ainda mais quando se tratam de baterias do grupo de Acesso. Pois, como existe uma cultura de enxertos nesses ritmos, por vezes os conhecidos acabam naturalmente se aproximando e tocando juntos. Esse fato pode sim prejudicar a fluência entre os naipes, bem como o equilíbrio musical. Normalmente indivíduos de nível técnico semelhantes são os que mais se aproximam nessas situações. Isso não privilegiará a organização alternada, ou seja, não será possível mesclar posições de ritmistas que se garantem tocando seguidos de ritmistas que ainda estão em processo de evolução e desenvolvimento.

O ideal, dentro da cultura do “cata cata”, é sempre organizar os ritmistas intercalando bons valores técnicos a quem ainda deixa a desejar, garantindo assim tanto a fluência, quanto o equilíbrio. Encher um lado do ritmo de indivíduos talentosos pode acabar impactando negativamente na outra extremidade, causando inconsistência em toda a bateria. Às vezes essas questões parecem meros detalhes, mas a consequência certamente será percebida pela pista de desfile, enquanto uma bateria melhor organizada executar seu ritmo de forma que fique cada vez mais evidente o bom equilíbrio e fluência entre os naipes, propiciada por uma afinação de surdos que permita uma equalização satisfatória.

A equalização de timbres, por exemplo, também é algo que sofre influência direta da organização do ritmo. Por vezes, o próprio caminhar de quem toca com instrumento grave pode ser revelador para perceber a forma que o surdo ressoa. No Acesso, por exemplo, têm ocasiões em que o caminhar dos surdos em relação aos demais naipes é um pouco mais lento, gerando distanciamento entre os marcadores. Isso ajuda a criar instabilidades sonoras em todo o entorno. Portanto, além de ser vital a boa organização do ritmo, também se faz necessário um caminhar ponderado de toda a bateria, garantindo que os ritmistas sigam tocando na mesma pulsação, evitando assim oscilações rítmicas provocadas pela alteração brusca de movimento. Quanto mais pesada estiver a afinação dos surdos, maior deverá ser o cuidado e a atenção com esse fato.

Vale uma reflexão apurada nessa última semana antes dos desfiles. Talvez seja uma boa pensar na organização de toda a galera da cozinha da bateria. A parte de trás do ritmo, invariavelmente, é quem dá toda a base fundamental para que uma bateria toque de modo consistente. Se preocupar com a organização também do peso, portanto, é uma maneira válida de buscar fluência entre os naipes e o equilíbrio musical. Ritmo bem organizado e equalizado dificilmente apresentará inconsistências que são dribladas com uma estratégia bem definida de demarcação de lugar eficaz dos ritmistas.

Escolas de samba realizam lavagem simbólica da Sapucaí neste sábado

A uma semana do início dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, o Sambódromo recebe neste sábado a tradicional lavagem simbólica da pista. A partir das 18h30, mães baianas de todas as agremiações se unem para purificar a avenida e evocar as boas energias para o Rio Carnaval 2024.

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Foto: Divulgação/Rio Carnaval

A cerimônia marca, ainda, a abertura do último final de semana de ensaios técnicos na Sapucaí, com teste de luz e som. Ainda no sábado, ensaiam Grande Rio, Beija-Flor e Vila Isabel. Já no domingo, será a vez de Mangueira, Viradouro e Imperatriz Leopoldinense, a partir das 19h.

Os desfiles do Grupo Especial acontecem nos dias 11 e 12 de fevereiro, com as seis melhores colocadas voltando para o Desfile das Campeãs, no dia 17.

Uma semana antes do carnaval e com entrada franca, Grupo de Acesso II acontece neste sábado em São Paulo

O carnaval chegou e já tem desfiles neste final de semana no Sambódromo do Anhembi. É isso mesmo! Neste sábado, dia 3 de fevereiro, teremos as primeiras escolas de samba desfilando em São Paulo. São onze agremiações no Grupo de Acesso II, a terceira divisão do carnaval paulistano. Duas brigam pela vaga no Grupo de Acesso I, enquanto três escolas irão para a UESP disputar o Grupo Especial de Bairros.

Abrindo os desfiles, São Miguel e São Lucas estão de volta ao Anhembi, enquanto pavilhões que estiveram no Grupo Especial dos anos 2000 para cá como X-9 Paulistana, Morro da Casa de Casa Verde, Imperador do Ipiranga, Unidos do Peruche e própria São Lucas, e também escolas mais jovens como Primeira da Cidade Líder, Amizade Zona Leste e Camisa 12, além de Uirapuru da Mooca e Imperatriz da Paulicéia.

1 – Unidos de São Miguel (20h)

Desde 2014 longe do Anhembi, a Unidos de São Miguel está de volta ao templo da folia paulistana. A agremiação da Zona Leste, que já participou do Grupo Especial nos anos 90, nesta volta conta com uma dupla de artistas, Alexandre Callegari e Natanael Serra, para desenvolver o enredo “Um príncipe negro na corte dos esfarrapados”. A São Miguel contará a história de Dom Obá, militar que participou do exército durante a Guerra do Paraguai e virou amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II.

SaoMiguel20231222 002

Fundação: 1977
Melhor resultado: 11ª lugar no Grupo Especial 1994 e vice do Acesso I em 93
Participações no Acesso II: Nove vezes (última 2014)
Colocação em 2023: Vice-campeão do Especial de Bairros (UESP)

2 – Unidos de São Lucas (20h50)

Outro retorno para o Anhembi é o da campeã da Especial de Bairros, a Unidos de São Lucas. A escola esteve no Grupo Especial de São Paulo por duas ocasiões, em 2001 e 2002, entretanto está longe do Sambódromo do Anhembi desde 2016. Neste retorno, a São Lucas tem Clara Nunes como inspiração através da canção que serviu para gerar “O Canto das Três Raças… o grito de alforria do trabalhador!”, tema comandado por Fernando Dias. Mas vale citar que não é uma retratação, e sim uma inspiração para falar sobre o sistema de trabalho no Brasil. Vem de títulos consecutivos do Acesso 1 de Bairros em 2022 e o Especial de Bairros em 2023.

Sao Lucas20231226 005

Fundação: 1980
Melhor resultado: 11º lugar Grupo Especial (2001) e vice do Acesso (2000)
Participações no Acesso II: Doze vezes (última 2016)
Colocação em 2023: Campeã do Especial de Bairros (UESP)

3 – Imperatriz da Pauliceia (21h40)

Pelo segundo ano consecutivo no Grupo de Acesso II, a Imperatriz da Paulicéia escapou do peso de abrir um dia de desfiles e será a terceira a pisar no Anhembi. Ficou em 8ª lugar em 2023 e quer melhorar o feito após conseguir a permanência. Para isso, conta com a única mestra de bateria mulher entre as 33 escolas filiadas à LIGA-SP, a Mestra Rafa, e o enredo será “Maracatu – Bendito é o Seu Rito”. Serão diferentes rituais presentes no cortejo pernambucano representados pela comissão de carnaval formada por Wagner Miranda, o Bimbo, Deuseni Ignotti e Clayton Kaomi.

ImperatrizPauliceia et PrimeiroCasal

Fundação: 1980
Melhor resultado: 5ª lugar do Grupo Acesso II
Participações no Acesso II: Três vezes (2004, 2005 e 2023)
Colocação em 2023: 8ª lugar no Acesso II

4 – Amizade Zona Leste (22h30)

É a Rosas de Ouro representada no Grupo de Acesso II. O homenageado é nada mais nada menos que Eduardo Basílio, um dos grandes baluartes do carnaval de São Paulo, um dos fundadores da Roseira e pai da atual presidente Angelina Basílio. A agremiação da Zona Leste vai para o décimo carnaval consecutivo no terceiro grupo e já bateu na trave pela promoção ao Acesso I, e com o enredo “Eduardo Basílio. Um Mar de Rosas de Ouro do Quilombo da Brasilândia para o Mundo” busca alcançar pela primeira veza segunda divisão da folia paulistana.

AmizadeZonaLeste et PrimeiroCasal

Fundação: 1995
Melhor resultado: 3º lugar do Grupo de Acesso II em 2014
Participações no Acesso II: Nove vezes
Colocação em 2023: 9ª lugar

5 – Uirapuru da Mooca (23h20)

Ou seria a Mocidade Independente de Padre Miguel? Mas o enredo não será o Caju, e sim uma homenagem para a tradicional agremiação do carnaval carioca. O enredo é “Da estrela guia que brilha no céu, vem aí, a Mocidade Independente de Padre Miguel”, desenvolvido por Toninho Tatuapé. Desde 2012, a agremiação está no Grupo de Acesso II, e no passado chegou a ter dois anos no Grupo de Acesso I. Foi campeã logo em seu primeiro ano no terceiro grupo, em 2009.

UirapuruMooca et PrimeiroCasal

Fundação: 1976
Melhor resultado: Campeão Acesso II (2009) e 6ª lugar no Acesso I (2010)
Participações no Acesso II: 12 participações
Colocação em 2023: 7ª lugar

6 – X-9 Paulistana (00h10)

Desde 1988, quando embalou entre Grupo de Acesso e Especial se consagrando bicampeã da folia paulistana em 1997 e 2000, não voltava para divisões inferiores. Em 2024, tradicional agremiação da Zona Norte estará no Grupo de Acesso II, o qual já venceu em duas ocasiões, 1981 e 1987. O retorno ao terceiro grupo será com o enredo “Nordestino sim… Nordestinado jamais!”, desenvolvido por uma comissão de carnaval em homenagem ao poeta cearense Patativa do Assaré. Mostrará vitórias do povo nordestino, retratando um Nordeste alegre e claro, combatendo o preconceito.

X9 Barracao20231221 008

Fundação: 1975
Melhor resultado: Campeão Grupo Especial (1997 e 2000)
Participações no Acesso II: Sete vezes
Colocação em 2023: 7ª lugar no Acesso II

7 – Camisa 12 (01h00)

Oriunda da torcida organizada do Corinthians, a Camisa 12 está desde 2018 no Grupo de Acesso II. Bateu na trave do acesso em 2020 quando ficou no segundo lugar, que se fosse hoje, garantiria a promoção. Para buscar o acesso mais uma vez, terá como tema “Meu black é de rei, minha coroa é de Chico. Chico Rei entre nós”, desenvolvido pelo carnavalesco Gleuson Pinheiro. O enredo falará sobre a lenda imaginária de Chico Rei, citado no livro “História Antiga de Minas” e que foi resgatado pelo historiador Diogo de Vasconcelos em 1904.

Camisa1220231222 007

Fundação: 1996
Melhor resultado: 4ª lugar no Acesso I e campeão Acesso II (2001 e 2003)
Participações no Acesso II: Quinze vezes
Colocação em 2023: 5ª lugar no Acesso II

8 – Primeira da Cidade Líder (01h50)

Ou seria a Majestade do Samba? Depois de homenagear o Salgueiro, a Cidade Líder dessa vez falará sobre a Portela através do enredo “Salve ela! A Majestade do Samba Portela!, desenvolvido pelo carnavalesco Ewerton Visotto. Uma homenagem para a Águia de Madureira que contém 22 títulos no carnaval carioca e completou 100 anos recentemente. Essa é a quinta participação consecutiva da agremiação de trinta anos no Grupo de Acesso II, que ficou em quarto lugar em 2022 e 2023.

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Fundação: 1993
Melhor resultado: 4ª lugar no Acesso II (2019, 2022 e 2023)
Participações no Acesso II: Quatro vezes
Colocação em 2023: 4ª lugar no Acesso II

9 – Imperador do Ipiranga (02h40)

Outro pavilhão pesado, vem da Zona Sul de São Paulo, a Imperador do Ipiranga vai para cinco anos no Grupo de Acesso II, tendo como a melhor colocação neste período um 5ª lugar no primeiro ano, em 2019. Com o enredo “Desperte a criança que há dentro de você”, desenvolvido por uma comissão de carnaval, trará o imaginário infantil para Avenida em busca o retorno ao Grupo de Acesso I, o qual venceu quatro vezes, para assim almejar o Especial, onde esteve pela última vez em 2010. No Acesso II, venceu as edições de 1971 e 1977.

Imperador do Ipiranga20231218 006

Fundação: 1968
Melhor resultado: 7ª lugar no Grupo Especial
Participações no Acesso II: Oito vezes
Colocação em 2023: 6ª lugar no Acesso II

10 – Morro da Casa Verde (03h30)

Após dois anos no Acesso I, a agremiação de Dona Guga retornou ao terceiro grupo onde apresentará o enredo “O canto de Ominirá: Negra é a raiz da liberdade!”, do carnavalesco Ulisses Bara. Sua última vez no Grupo Especial foi em 2002, quando homenageou Zeca Pagodinho. Já no Acesso I é uma presença mais recorrente, porém busca a volta cantando sobre a liberdade da mulher. Foi a campeã do Acesso II em 2020.

Morro Casa Verde20231219 005

Fundação: 1962
Melhor resultado: 6ª lugar no Grupo Especial
Participações no Acesso II: 9 participações
Colocação em 2023: 8ª lugar no Acesso I

11 – Unidos do Peruche (04h20)

Com o enredo “Da Cultura do Reino de Ifé, ao legado da Rainha Ronke”, desenvolvida por Mauro Xuxa, a Peruche busca retornar ao segundo grupo após quatro anos no Acesso II, sendo que esteve em 2018 no Especial e 2019 no Acesso I. Em 2022, quando ainda subia apenas uma escola, bateu na trave com o vice-campeonato, enquanto em 2023 ficou na terceira colocação. É o pavilhão com mais títulos neste grupo: são cinco do Especial e três do Acesso I.

Peruche et PrimeiroCasal

Fundação: 1956
Melhor resultado: 5 vezes campeã do Grupo de Especial (última em 1967)
Participações no Acesso II: 3 participações
Colocação em 2023: 3ª lugar no Acesso I

Transmissão e o evento

A entrada é franca, e os desfiles começam às 20 horas, com a previsão de a última agremiação entrar na pista às 4h20. Haverá transmissão pelo canal do YouTube oficial da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, e cobertura completa do site CARNAVALESCO, com crônicas e redes sociais em tempo real direto do Sambódromo do Anhembi.

Mestre Nilo Sérgio celebra 20 anos à frente da bateria da Portela: ‘Meu legado é a união’

Mestre Nilo Sérgio está no comando da bateria “Tabajara do Samba” da centenária Portela desde 2006. O músico concedeu uma entrevista especial e contou sobre sua relação com a Portela desde que é menino, sobre a principal virtude da bateria, sobre o legado que quer deixar e sobre a pressão das notas e da avaliação no Grupo Especial.

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Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

O que a Portela representa na sua vida?
“A Portela representa para mim, como se fosse o nascimento dos meus filhos. A Portela não chega junto, porque eu amo mais meus filhos, mas é uma coisa muito parecida. A Portela na minha vida é tudo, estou aqui desde garoto. Esse ano eu faço 20 anos à frente da bateria. Fui catador de garrafa a ritmista, depois diretor de bateria a mestre. A Portela para mim representa tudo. Minha família não é diretamente ligada, mas vim sozinho e hoje estou aí”.

Com tantos anos de avenida, como você se sente a cada ano pisando no solo sagrado da Sapucaí?
“Como no primeiro ano, quando eu pisei na avenida. Dá vontade de ir no banheiro, nervosismo, emoção, cada ano é um choro diferente”.

O que você acha do nível das baterias, hoje em dia, no Grupo Especial?
“Está muito nivelado. Quando está assim a gente conversa com os diretores, vamos tentar fazer as bossas dentro do enredo, não sobrando, cobrando mais o ritmista, para não dar um problema. Porque o jurado está ali para poder tirar ponto. Todas as escolas entram com 10, ali você pede um, dois décimos durante o desfile. Porque quando é nota 10, é para a bateria, mas quando é 9.9 é o mestre que segura. Se falo que vai ser isso e acabou não vamos passar, porque aí está ferindo a melodia, a cadência da bateria. Temos muitos mestres bons. Trabalham demais. Quem erra menos que ganha 10. É o que eu falo pra todo mundo, o menos é mais. A ousadia, sem atravessar, sem ferir a melodia do samba, sem sair da métrica da bateria, do ritmo. Bateria é um conjunto, não é um solo”.

Para você é muita pressão?
“Eu me pressiono muito, me cobro muito. Cobro o ritmista demais e os meus diretores. Eu começo em abril a ensaiar. A bateria da Portela é a que a gente ensaia mais, segunda, quarta, sexta e domingo. São quatro dias na semana. Eu não saio para perder um décimo, eu não saio para perder 40 pontos. É cobrança porque eu gosto, eu quero ver a rapaziada feliz. A única vaidade minha é ver que a bateria da Portela está boa, para mim já basta”.

No dia da apuração, em qual local o você acompanha o resultado?
“Eu não vou para a quadra, eu não vou para a Apoteose na apuração, eu fico em casa. Depois quando dá nota, eu agradeço a todo mundo na bateria. Fico em casa tomando minha cervejinha e batendo papo, porque, assim, meu dever foi cumprido”.

O que você acha que foi o problema do carnaval passado e qual é a diferença para 2024?
“A diferença foi que a Portela fez 100 anos. A escola estava bonita, mas deu problema no percurso. Eu fico chateado, a bateria ficou chateada. Esse ano, não. Os carros também estão bonitos, mas não tem aquele peso dos 100 anos. Eu sou uma escola centenária, que só em abril que eu faço 101 anos”.

Qual é a maior virtude da bateria da Portela no seu comando?
“É a união. Eu abri as portas, porque quando eu cheguei na bateria da Portela eu era o único menor. Coloquei essa rapaziada de Oswaldo Cruz e de outros lugares. Elas estão com o mesmo brilho que eu tinha no olhar”.

Qual é o legado que quer deixar para os ritmistas e para a bateria da Portela?
“Essa molecada respeitando todo mundo. Irmandade e amizade que não é só dentro da Portela, que vai para casas deles. Daqui há 30 anos, eu vou ser presidente da velha-guarda. Os mais velhos têm muito a passar, burro é aquele que não escuta o mais velho. Se você perceber, sentar, escutar, sempre tem uma coisa que eles vão deixar de legado para você”.

Mangueira fecha ensaio de rua com canto forte e sonha com o campeonato

Por Maria Clara Marcelo e Matheus Morais

A Estação Primeira de Mangueira concluiu seu último ensaio de rua na noite de quinta-feira. A escola demonstrou domínio profundo do samba que embala o enredo em homenagem a Alcione, além de uma harmonia bem preparada para o ensaio técnico na Marquês de Sapucaí.

A verde e rosa desfilará como a quarta escola na segunda-feira de Carnaval, em 12 de fevereiro e para o Carnaval de 2024, apresentará o enredo “A Negra Voz do Amanhã”, dos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, explorando a história de vida e a carreira musical de Alcione, destacando sua representatividade negra e feminina, seus sucessos, e a criação da Mangueira do Amanhã, escola mirim da comunidade.

Comissão de frente

A comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias, conduziu uma dança vigorosa, em sintonia com a proposta do enredo. Foi uma performance centrada nas passagens do samba-enredo, incorporando coreografias distintas que refletiam os estilos musicais mencionados, os integrantes pontuavam seus movimentos, destacando algumas partes como no trecho “e vai provar que o samba é primo do jazz”, observavam-se passos mais alinhados com o ritmo norte-americano.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Matheus Olivério e Cintya Santos, reconhecidos como o ‘casal furacão’, realizaram mais uma excelente apresentação. Cintya, com sua energia contagiante, e Matheus, com sua elegância, demonstraram uma dança repleta de sintonia e entrosamento, mantendo a correção nos passos e preservando a tradicionalidade do bailado de um casal de mestre-sala e porta-bandeira durante todo ensaio.

casal manga

Harmonia

A Estação Primeira de Mangueira impressionou com um canto poderoso em seu último ensaio de rua. Todas as alas entoaram o samba deste ano com vigor, destacando a força que a Mangueira planeja levar para a Avenida em 2024. A dupla de cantores oficiais, Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, brilhou com uma interpretação excepcional, incentivando constantemente os componentes a cantar com ainda mais intensidade. Sem dúvida, serão fundamentais para impulsionar o canto da agremiação no dia do desfile, que vem cada vez mais aprimorado.

Evolução

O ensaio da Estação Primeira de Mangueira seguiu sem correrias aparentes ou espaçamentos indevidos entre as alas. Os componentes demonstraram muita energia, alegria e espontaneidade. Entretanto, é necessário que a coordenação esteja atenta à evolução, pois a primeira parte do desfile parece ser bastante extensa, abrangendo a comissão de frente, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma grande ala coreografada e, por fim, o abre-alas. Vale atenção com o desfile, que pode ficar muito devagar em certo ponto, com a ilusão que a escola possa estar parada.

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Samba-Enredo

O desempenho elevado do samba-enredo nos ensaios contradiz a opinião de muitos críticos em relação à obra. A excelente sincronia entre a bateria e o carro de som também se destaca como um diferencial para o rendimento da canção como um todo, seja letra, seja melodia.

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“A gente sempre vai avaliando as coisas e sempre falta um pouquinho mais, sempre falta um pouquinho mais, sempre, sempre, sempre. Mas, em um todo foi maravilhoso”, disse Art Samba.

“Para mim foi o ensaio que está lavando a nossa alma, que deixa a gente mais aguerrido para descer domingo lá para Sapucaí e mostrar que sim a Mangueira pode estar na briga para conquistar mais uma estrela. A comunidade está abraçando, está gritando esse samba, então hoje foi um ensaio para lavar a alma, um dos ensaoios que mais a comunidade cantou. Foi um ensaio perfeito hoje e domingo pode esperar um grande show da Estação Primeira da Mangueira”, completou Dowglas Diniz.

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Outros destaques

O trabalho da bateria, liderada pelos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, foi fundamental, mantendo o ritmo e a musicalidade nas bossas apresentadas. Destaca-se a paradinha com o tambor de crioula e o uso dos xequerês na bossa do “Ê bumba meu boi…”, proporcionando grande musicalidade ao samba.

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“Foi bom, ensaio produtivo, a gente saiu no andamento um pouquinho acelerado hoje, acho que era a euforia já de estar chegando no carnaval e ensaio técnico no domingo, mas a gente conseguiu acertar e foi bom, foi bom para a gente, é bom acontecer isso antes, dar tempo da gente acertar no caminho. Agora é mais tirar a emoção da rapaziada, falar para ele ser mais profissional, ser um pouco frio, porque às vezes a emoção atrapalha a gente na largada, acertando isso está tudo certo. A expectativa para o ensaio técnico na Sapucaí é a melhor possível, acho que a gente está no mais crescente, não só a bateria, como a Mangueira toda, a comunidade está cantando bastante, acredito que domingo a gente vai dar um show lá embaixo na Sapucaí”, afirmou mestre Taranta Neto.

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“Gostei muito, no início a gente foi um pouco na emoção, corremos um pouquinho, mas deu para ajustar antes de sair daquela parada que a gente começa a caminhar. Aí chegamos no consenso até aqui e no final a gente já está padronizado ali que entre um 142 e um 144 é o nosso andamento, que encaixou com o samba, e se Deus quiser a gente vai conseguir implantar isso, e chegou a hora, agora não tem mais o que fazer, foram os últimos ajustes e o nosso último ensaio de bateria que a gente ainda tem aqui essa terça-feira, junto com a nossa entrega de fantasia, e se Deus quiser a gente vai trazer esses 40 aí novamente”, garantiu o mestre Rodrigo Explosão.

A nação mangueirense se colocou em peso na rua, ainda que a chuva tivesse deixado a ameaça para cair de fato sobre os componentes e espectadores, ainda que mais fraca que o previsto. Reunidos na Avenida Estação Primeira cada um que colocou seu coração nesta noite foi recompensado pelo carinho e força da Verde e Rosa em plenos pulmões.

Para encerrar, a rainha de bateria da Beija-Flor, Lorena Raíssa, compareceu também ao desfile, esbanjando carisma, tal qual a rainha da bateria, Evelyn Bastos, que foi bem receptiva a rainha da coirmã.

Em seu último ensaio de rua, Grande Rio se despede de Caxias abraçada pela comunidade e sonha com a segunda estrela

A Grande Rio não poderia encerrar a temporada de pré-carnaval sem se despedir de Caxias. A escola fez seu último ensaio de rua na noite de quinta-feira, na Avenida Brigadeiro Lima e Silva – no coração da cidade. Inicialmente, o treino estava marcado para o último sábado, mas foi cancelado por conta do mau tempo. Com o samba na ponta da língua do componente, a agremiação promete mostrar no ensaio técnico a força e o rugido da onça.

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Muito mais que um preparativo técnico, o ensaio também foi marcado pela emoção e celebração da comunidade. A agremiação fará neste sábado seu ensaio técnico na Marquês de Sapucaí, e o encontro da noite simbolizou o final de um ciclo de trabalho intenso que, agora, parece estar pronto. O diretor de carnaval da Grande Rio, Thiago Monteiro, ressaltou a importância de sentir a energia caxiense antes de pisar no solo sagrado da Passarela do Samba. Para ele, a escola virá forte em busca do bicampeonato e promete surpresas jamais vistas na Avenida.

“Foi uma grande festa. Hoje, além da parte técnica, queríamos muito entregar para Caxias uma festa – e entregamos. A gente quis fazer isso para pegar esse calor da cidade e levar conosco. O ensaio de rua é a comunidade, a gente está junto com a nossa terra e o nosso chão. Na quadra é um ambiente controlado, mas aqui nós temos o calor humano – isso é fundamental. A gente está planejando coisas que a Sapucaí nunca viu – espero que dê certo (risos). Neste ano queremos ganhar. Chega de comemorar o passado, vamos lutar para que no presente e em um futuro muito próximo tenhamos algo muito bom. É um trabalho muito forte. Respeitamos todo mundo, mas sabemos o que estamos fazendo aqui dentro”, afirmou Thiago.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Daniel Werneck e Taciana Couto foram responsáveis por abrir mais um ensaio de rua da agremiação de Caxias. Com uma coreografia que mistura a dança tradicional e passos coreografados em referência ao enredo e a trechos do samba, o casal esbanjou sincronismo e conexão. A dupla conseguiu os 30 pontos no Carnaval de 2023 e, se depender deles, a onça vai rugir na Avenida. Para o grande dia do desfile, Taciana e Daniel prometem levar uma surpresa para a Marquês de Sapucaí.

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“Tudo pronto e bem alinhado. Só guardamos alguns detalhes para o grande dia, porque nós sempre deixamos um ‘temperinho’ especial. Hoje fechamos com chave de ouro mais uma temporada, com a comunidade abraçando o nosso samba e enredo. Tenho certeza que a Grande Rio fará um grande desfile no ensaio técnico. A coreografia foi toda pensada e planejada dentro do enredo, da proposta da fantasia e de acordo com o samba. Gostamos de misturar o tradicional com um pouquinho da inovação, então há detalhes do samba, coisas da fantasia e muito da dança tradicional do casal de mestre-sala e porta-bandeira – acredito que apostamos mais nisso neste ano. A fantasia é surpresa, mas posso garantir que é linda e uma das mais bonitas que a gente já vestiu até agora”, comentou Taciana.

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“A expectativa para o ensaio técnico é sentir a energia da arquibancada e um pouco do que vamos apresentar na Avenida. Estamos ansiosos para poder buscar, mais uma vez, um grande desfile para brigar pelo campeonato – acredito que essa é a maior tensão que temos neste momento. O que podemos dizer para os torcedores é que eles vão ver uma Grande Rio linda, leve e que com certeza vai surpreender e encantar muito na Avenida. Daniel e Taciana também vão levar uma surpresinha e espero que as pessoas entendam essa magia que estamos buscando levar ao desfile”, completou o mestre-sala.

Harmonia

O chão caxiense é forte e apaixonado. O último ensaio de rua da temporada foi marcado pela emoção que parece ter deixado o canto da comunidade ainda mais forte. Desde o primeiro ensaio, ainda em novembro do ano passado, o samba-enredo foi abraçado pelos torcedores da Tricolor da Baixada. O crescimento constante, fruto também do trabalho feito pela direção de harmonia da escola, deixou a obra ainda mais alinhada para a Avenida. O forte entrosamento entre carro de som, bateria e torcedores, mostra que a escola está unida e disposta a brigar por um só propósito: levar a segunda estrela para Duque de Caxias.

Andrezinho, um dos diretores de harmonia da agremiação, pontuou a força da comunidade como um dos destaques da noite. Confiante no trabalho desenvolvido, ele acredita que a escola está pronta para o ensaio técnico e o desfile.

“Foi um ensaio muito bom. Acredito que o povo já está muito bem preparado para o sábado e para o domingo de desfile também (risos). É somente fazer o que já estamos acostumados, e cobrar só um pouquinho – porque sempre queremos cobrar mais um pouco. A escola está preparada e podem esperar, porque a onça vai rugir”, avaliou Andrezinho.

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Evolução

O treino começou por volta das 22h10 e teve aproximadamente 70 minutos de duração. Na noite desta quinta-feira, a entrega e a paixão da comunidade foi, de fato, um grande destaque. Algumas alas coreografadas chamavam a atenção e muitas contavam com adereços de mão. De modo geral, os componentes pularam, dançaram e brincaram carnaval. Por conta do ensaio ter ocorrido durante a semana, a escola aparentava estar um pouco menor – o que não apagou o brilho e a força do torcedor. A Grande Rio se despediu de Caxias com chave de ouro.

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Samba-enredo

Inicialmente houve quem criticasse o samba, mas ele está muito longe de ser um problema para o povo de Caxias. É inegável que a obra possui alguns trechos que pareciam complicar a vida do componente, mas o trabalho intenso da equipe musical da escola somado ao trabalho de harmonia tornou o samba-enredo um verdadeiro xodó do torcedor. A comunidade canta a plenos pulmões cada verso do samba e promete dar um show na Avenida. O diretor de carnaval está confiante no trabalho e na força musical da agremiação, e promete surpresas na Avenida.

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“Sempre digo que respeito quem criticou, mas para mim, para a minha comunidade e o meu cantor – que vão defender na pista – é tranquilíssimo. É um samba que foi interpretado e cuidado durante muito tempo. Nós estamos com muita tranquilidade do que temos na mão, que é o nosso povo, a bateria, a harmonia e o nosso time de canto. Tem fluído muito bem e vamos ter um bom teste no sábado, já com o teste de som e luz. Aguardem, porque teremos muitas novidades no desfile”, disse Thiago.

Outros destaques

A rainha de bateria Paolla Oliveira marcou presença neste último ensaio de rua e deu um show de carisma e samba no pé. Querida pelo chão caxiense, a majestade foi aclamada pelo público ao longo de toda a avenida.

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Outros dois grandes destaques desta noite, o carro de som comandado pelo intérprete Evandro Malandro e a bateria do mestre Fafá são peças fundamentais para a explosão do canto caxiense. Evandro tem se mostrado um grande puxador e tem tudo para levantar a Apoteose no próximo sábado. Confiante que a Grande Rio brigará pelo bicampeonato, o cantor fez uma análise do trabalho desenvolvido ao longo da temporada.

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“Estou muito feliz, realizado e também esperançoso de que teremos um ótimo desfile. Foi uma ‘avalanche’ cantada que tivemos aqui na avenida. A emoção, assim como bateu no nosso último ensaio de quadra, bateu hoje também. Foi muito gratificante. A parte do canto do samba-enredo foi muito bem trabalhada, assim como a parte de junção com a bateria e os arranjos. É um casamento que vem dando certo e estamos muito felizes por isso. Acredito que o sambista pode esperar uma onça bem feroz, determinada e muito bem preparada para rugir na Sapucaí e disputar sim o título. Estamos muito bem focados”, disse Evandro.

Unidos da Tijuca realiza seu último ensaio de rua, mostra forte trabalho de quesitos e diz ser possível buscar o título

Em seu último ensaio de rua, realizado na noite de quinta-feira, a Unidos da Tijuca mostrou, mais uma vez, uma comunidade muito aguerrida e cheia de vontade de buscar um novo título, contrariando todos os prognósticos. Se depender do desempenho dos componentes, a escola do Borel poderá sonhar na quarta-feira de cinzas. Um treino marcado pelo alto volume de canto e pela evolução impecável. Aliado a ótima atuação do carro de som, liderado por Ito Melodia, e pela cadência exemplar da bateria de mestre Casagrande, o tão criticado samba-enredo foi ainda mais impulsionado. Além disso, o casal de mestre-sala e porta-bandeira seguiu mostrando sua evolução, estando cada vez mais entrosados. A agremiação está com seus quesitos afinados e quer mostrar que pode voltar a ser o famoso rolo compressor.

“Todos nós, da diretoria da escola, tratamos o componente com muito respeito, com muito carinho, porque não há necessidade de brigar com ninguém para poder fazer a pessoa cantar. Muito pelo contrário, às vezes você até perde um componente. Quem já pegou a fantasia no barracão teve a oportunidade de ver o nosso carnaval pronto. Então, nós temos uma grande chance de ser campeões. Eu acho que o que depende de nós não pode faltar. Temos que ter mais vontade do que os outros”, disse o diretor de carnaval Marquinho Marino.

Com o enredo “O Conto de Fados”, de autoria do carnavalesco Alexandre Louzada, a escola do Borel fará uma viagem a Portugal para mostrar diversos aspectos da história do país através de fábulas, mistérios e lendas populares. A Tijuca será a quinta agremiação a desfilar na avenida no domingo de carnaval, dia 11 de fevereiro.

Comissão de frente

Os integrantes comandados por Sérgio Lobato trouxeram novamente a apresentação que encantou a todos no ensaio técnico. Carregando adereços coloridos, eles se juntavam para formar o Galo de Barcelos. O número foi marcado pela energia dos movimentos sincronizados e pela irreverência do grupo. Além disso, todos cantavam com força o samba da escola.

Mestre-sala e Porta-bandeira

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Driblando toda a dúvida que muitos tinham, Matheus e Lucinha mostraram que estão cada vez mais entrosados para o desfile oficial. O jovem mestre-sala exibiu um bailado confiante e cheio de energia. Já a experiente porta-bandeira dançou com toda sua segurança e qualidade técnica. A apresentação mesclou bem os passos mais tradicionais com alguns movimentos coreografados de acordo com a letra do samba. Chamou bastante a atenção o momento em que os dois dançaram o ‘vira’, no trecho “Amar o fado” da obra musical.

Samba-enredo

Se por um lado, o samba da Unidos da Tijuca não é considerado um dos melhores do Carnaval 2024, por algumas passagens mais simples em sua letra, por outro lado, a mesma obra mostrou um ótimo rendimento. Muito por conta da força da comunidade, que resolveu comprar a ideia e novamente cantou bastante. Mas também pela grande atuação de Ito Melodia aliada ao desempenho sempre seguro da bateria de mestre Casagrande.

“Essa evolução no samba foi enorme. Era um samba que era taxado como ruim. E eu acho que no domingo a gente provou que o samba funciona. Não é essa tragédia que todo mundo falava. Cada um teve seu pensamento, mas a gente provou lá domingo. Essa semana, vários compositores que perderam o samba me ligaram e falaram que o samba realmente funcionou, parabenizando a escolha da escola. Então, eu acho que o samba não tem que provar mais nada. Lógico, vai ter que funcionar também no dia do desfile”, disse o diretor de harmonia Fernando Costa.

Harmonia

O grande destaque da noite em mais um ensaio de rua. Todas as alas do cortejo tijucano cantaram o samba-enredo com muita força, sem deixar cair o nível até o final. Não se percebeu ninguém sem cantar, os componentes mostraram que estão com a letra na ponta da língua. Um excelente volume durante todo o samba, ainda mais impressionante no refrão principal, que marcou uma grande explosão. Destaque também para o desempenho do carro de som comandado pelo intérprete Ito Melodia, que atuou com sua potência e empolgação características.

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“Desde que a gente começou o ensaio de canto na quadra, a coisa foi evoluindo, é normal. Acho que hoje, no nosso último ensaio, a gente chegou quase no 100%. Assim como no dia do ensaio técnico também foi. Eu vim puxando a escola, não dá pra sentir muito, mas eu tenho o rádio. E foi tranquilo a nossa comunicação, não teve problema nenhum. E o principal são amigos que estão ali assistindo de vários lugares, amigos confiáveis que chegam para você e se tiver ruim vai falar. Mas todos eles falaram que foi muito bom”, falou Fernando Costa.

Evolução

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Outro ponto muito positivo do treino da agremiação. Os integrantes desfilaram em um ritmo muito adequado, sem qualquer tipo de atropelo ou lentidão. Nenhum buraco foi percebido entre as alas do cortejo. O que ficou marcado, mais uma vez, foi a animação e espontaneidade dos componentes. Todos mostraram muita alegria em cantar o samba e defender a escola. Algumas alas coreografadas deram um toque ainda mais especial.

Outros destaques

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A bateria de mestre Casagrande, como de costume, mostrou toda sua qualidade na sustentação do ritmo, além de bossas muito propícias e bem encaixadas, que impulsionaram ainda mais o rendimento do samba. A rainha Lexa mostrou muita animação ao interagir com o público e sambar ao lado de todas as musas quando se encontravam durante o ensaio.

Show de Verão da Mangueira em homenagem a Alcione dá prévia da emoção que a escola irá apresentar na Sapucaí

Criado há 26 anos, o Show de Verão da Mangueira chegou a sua 19ª edição. Foi em 1998 que a primeira edição foi realizada para angariar fundos para o carnaval que seria campeão daquele ano, cujo enredo era “Chico Buarque da Mangueira”, homenageando o cantor Chico Buarque. Este ano, a homenageada escola na Avenida, também foi a homenageada do show, Alcione, que cantou seus sucessos e os sucessos da Estação Primeira.

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Fotos: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

De 1998 para cá, outras edições foram realizadas com a participação de diversos cantores, como o próprio Chico, Maria Bethânia, Gal Costa, Rosemary, Fafá de Belém e outros artistas, mas uma figura cativa do evento e uma das maiores mangueirenses do Brasil, cuja história se confunde com a da escola, sempre esteve presente no line up do show e esse ano, além de ser o tema do enredo do carnaval de 2024 da Mangueira, Alcione foi a grande homenageada do Show de Verão da Mangueira. O evento intitulado “Show De Verão Da Mangueira Celebra Alcione, Enredo Da Escola No Carnaval De 2024”, faz parte das inúmeras celebrações acerca dos 50 anos de carreira da Marrom.

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A carnavalesca da Mangueira e a única mulher a ocupar esse cargo no Grupo Especial este ano, Annik Salmon, que divide a concepção do desfile em homenagem a Marrom com o carnavalesco Guilherme Estevão, esteve presente no show e disse em entrevista ao site CARNAVALESCO, os seus sentimentos em estar a frente de uma grande homenagem a uma grande mulher mangueirense.

“É uma felicidade imensa. É um presente que eu só tenho que agradecer a Mangueira, agradecer a tudo, agradecer por estar na Mangueira neste momento. Em um momento que, 50 anos da Alcione, 50 anos da Alcione na Mangueira, e é um presente poder estar aqui agora fazendo esse enredo dessa mulher que tive o prazer, a felicidade de conhecer, conversar, entrar dentro da casa dela, conhecer a família e saber mais íntimo da vida dela. Não é saber só de pesquisas, a gente ver vídeos, é saber ouvindo mesmo dela. Então isso é incrível, foi ótimo, toda a pesquisa do enredo. E mais ainda, eu ser uma mulher, hoje a única, no carnaval do Grupo Especial, e poder estar falando dessa mulher tão importante para a gente, para a nossa cultura, para a nossa música, e principalmente para os crias ali da Mangueira, para essas crianças que hoje brilham”, conta Annik.

Neste ano, além da grande homenageada, que foi o fio condutor do set list do show, o evento teve a presença de outros artistas sambistas e, também, torcedores de escolas de samba, como afirmou o vice-presidente da Mangueira, teve portelense, salgueirense, imperiano e independente no palco para cantar a Mangueira. O vice-presidente da Mangueira, Moacyr Barreto, contou ao site CARNAVALESCO a emoção de estar na diretoria da escola em um enredo histórico e na realização de um show histórico.

“É muito bom a gente estar fazendo um enredo que é uma das mais justas homenagens, eu diria a mais justa homenagem que a Mangueira fez, a Mangueira já fez grandes enredos homenageando personalidades, personalidades vivas. A gente não está só homenageando a Alcione, a gente está homenageando a própria Mangueira, porque a gente está falando da gente também, a negra voz do amanhã é de todos esses meninos que foram da Mangueira do Amanhã e estão aqui, a Evelyn, Douglas, Digão, o Vitor Art, todos eles que vieram da Mangueira do Amanhã e são fruto desse trabalho que ela fez com a gente nesses 50 anos que ela está lá. Aliás, a gente fica muito feliz por ser mangueirense, por defender a cultura nacional, é muito importante porque a cultura é isso, é o nosso povo feliz, vocês viram aqui, tinha no palco salgueirense, Mocidade, tinha portelense e todo mundo cantando a Mangueira, cantando em homenagem a Alcione e em homenagem à Mangueira, é muito bom, porque o carnaval também nesse momento deixou de aquela coisa da briga, onde cada um estava querendo derrubar o outro, hoje a briga é naquela reta da avenida, antes e depois é todo mundo amigo, está todo mundo junto e isso fortaleceu muito nos 40 anos que a Liesa foi criada”, comenta Moacyr.

A velha-guarda da Verde e Rosa iniciou os trabalhos no Vivo Rio, cantando clássicos mangueirenses como “Jequitibá do Samba”. Em seguida, foi a vez de Dudu Nobre comandar o microfone do Show de Verão, iniciando sua participação com uma das suas composições mais conhecidas, “Água da minha sede”, Dudu recebeu o cantor Xande de Pilares no palco para prestarem uma homenagem ao puxador Quinho, falecido no dia 3 de janeiro deste ano. Os dois levantaram o público presente cantando o samba-enredo “Peguei um Ita no Norte”, imortalizado na voz de Quinho, no campeonato do Salgueiro, em 1993.

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Xande de Pilares, salgueirense, homenageou a Marrom cantando “Gostoso Veneno”, canção da cantora. Em um momento de emoção, o cantor confidenciou ao público que quando era mais novo, quase reprovou de ano na escola e, enquanto passava esse sufoco, entrou em uma loja de discos e viu um álbum recém lançado de Gonzaguinha que continha a música “O que é, O que é?”, que segundo ele o ajudou a passar de ano e foi inspiração desde a infância para que ele compusesse a canção “Tá escrito”, que levantou o Vivo Rio na voz de seu criador.

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Pretinho da Serrinha, que além de diretor musical do show, foi outro artista a se apresentar ao grande cortejo a Alcione. Pretinho, que é literalmente da Serrinha, comunidade da Zona Norte carioca, é conhecido por ser um fiel e grande torcedor do Império Serrano e revelou no palco que teve o aval da homenageada para ser o diretor musical do show, homenageada essa que, assim como ele, é uma fiel e grande torcedora, mas da Mangueira.
Pretinho cantou composições suas como “Reza” e “Felicidade” em homenagem ao povo de Mangueira, e homenageou Alcione cantando a clássica “Garoto Maroto”.

Logo após isso, foi a vez de Fernanda Abreu, que cantou sua música “Tambor” e saudou os mangueirenses presentes cantando “Lendas do Abaeté”, samba-enredo do desfile campeão da Verde e Rosa no carnaval de 1973.

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Se tratando de desfiles campeões da Mangueira, Chico Buarque também esteve no palco. Abrindo a sua participação com “Autonomia”, de Cartola, Chico homenageou outro mangueirense cantando “Folhas Secas”, de Nelson Cavaquinho, o filho fiel do enredo de 2012 da Verde e Rosa. Além de cantar a sua clássica “O meu guri”, Chico saiu do palco e foi até a coxia buscar a grande homenageada da noite, trazendo Alcione ‘como um gentleman’, assim como disse a cantora. Os dois causaram um frisson no público presente no Vivo Rio com um dueto da canção “Sob Medida”, de Chico Buarque.

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Trazida ao palco, a homenageada da noite e do carnaval da Mangueira, trajada de verde e rosa da cabeça aos pés, se sentou no centro do palco e começou a embalar a noite dos presentes ao cantar seus clássicos. “A Loba” foi a primeira canção a ser cantada por Alcione, para mostrar a força da mulher mangueirense. Em seguida, Fernanda Abreu retorna ao palco e divide os microfones com a Marrom cantando “Surdo”.

O público vai à loucura no refrão da clássica “Você me vira a cabeça”. A seguir, Alcione, relembrando a sua ancestralidade e sua raiz maranhense, recebe Xande de Pilares no palco e cantam “Cajueiro Velho”, lançada por ela em 1976.

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Com a bateria da Mangueira ao fundo e o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mangueira do Amanhã, escola de samba mirim, Alcione cantou o clássico que lhe lançou no mundo da música, “Não deixe o samba morrer”. A presença das crianças no palco era a personificação da mensagem desta canção e a certeza de que, assim como o samba-enredo da Mangueira deste ano diz, “aqui o samba não morrerá jamais”.

Bateria no palco, ok? Os outros segmentos vieram atrás. Na presença do 1º casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Cintya Santos, os intérpretes Marquinhos Art’Samba e Dowglas Diniz e a rainha da bateria, Evelyn Bastos, “Exaltação à Mangueira” foi canção da vez, a euforia foi tanta, que o público presente ficou em pé, a constatação nítida de que, tal como a exaltação canta, a Mangueira chegou!

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O primeiro samba-enredo puxado pela participação da escola no show foi o de 2024, “A negra voz do amanhã” foi entoado pelo Vivo Rio com a negra voz, Alcione, no centro do palco festejando com a escola e os outros artistas presentes.

Alcione encerrou a sua participação e o show ficou por conta da Verde e Rosa. Os segmentos cantaram e encantaram os presentes com os bem sucedidos sambas-enredos mais recentes da agremiação, como “As Áfricas que a Bahia canta”, de 2023, “A menina dos olhos de Oyá”, do título de 2016 e encerrando o Show de Verão da Mangueira de 2024 com “Histórias para ninar gente grande”, do também campeonato da Verde e Rosa em 2019.

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Após as cortinas se fecharem, a bateria desceu do palco e puxou um cortejo até o hall de entrada do Vivo Rio tocando sambas-enredos antigos da agremiação, apenas tocando, os intérpretes era o próprio público que cantava em plenos pulmões os clássicos “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, samba- enredo do carnaval campeão de 1986 e “Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu”, de 1994.