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Barracões Acesso 2 SP: Unidos de São Lucas exalta trabalhadores e se inspira em Clara Nunes

Para homenagear o povo, escola utilizou a música "Canto das Três Raças", imortalizada por baluarte do samba

Com dois desfiles no Grupo Especial de São Paulo na virada do milênio, a Unidos de São Lucas estava com saudades do Anhembi. Desde 2017 desfilando longe do Sambódromo paulistano, a escola da Zona Leste retorna em 2024 ao principal solo do carnaval da cidade de São Paulo no dia 03 de fevereiro, como a segunda escola a desfilar no Grupo de Acesso II da Liga-SP – fruto do título no Especial de Bairros da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) em 2023. Para desenvolver o enredo “O Canto das Três Raças… o grito de alforria do trabalhador!”, a agremiação desenvolve um trabalho conjunto capitaneado por Fernando Dias, carnavalesco da vermelha, preta e branca.

Em visita ao barracão da escola, localizado na Fábrica do Samba II, na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo, o profissional recebeu a reportagem do CARNAVALESCO para falar sobre o desenvolvimento do projeto.

Homenagem – à cantora e ao povo

Ao observar o título do enredo, não há como não se lembrar do clássico cantado por Clara Nunes. Das grandes baluartes do samba e da Música Popular Brasileira (MPB) em geral, a portelense já estava na mente da diretoria da escola para a apresentação em 2024. “Quando eu cheguei na escola, a ideia já existia com o Raphael Maslionis, nosso diretor de carnaval, e com o Adriano Freitas, o Nanão, nosso presidente. Queríamos cantar o Canto das Três Raças como um grito de alforria, porque até hoje, se a gente parar para pensar, ainda somos escravizados. Conseguimos colocar uma roupinha, um tênis, mas… quando os invasores chegaram, eles levaram uma porção de coisa e continuam fazendo a mesma coisa hoje em dia, mas um pouquinho disfarçado. O problema é que eles seguem levando”, destacou Fernando Dias.

Apesar disso, a canção não será retratada diretamente pela agremiação, na visão do próprio carnavalesco. E há um motivo especial para que isso aconteça. “Nós não estamos dentro da música, nós usamos a canção da Clara Nunes como inspiração, para falarmos desse grito nosso. A música já é marcante, então queríamos trabalhar em paralelo como a música. É tudo para dizer que continuamos com a forca no pescoço, digamos assim”, comentou.

Pouco depois, a confirmação do próprio profissional: ao ser indagado sobre a grande referência para o desfile como um todo, a cantora sequer foi citada – em uma frase curta e bastante enfática. “A referência maior é a nossa classe trabalhadora. No nosso último setor nós falamos de nós mesmos, trabalhadores, nos dias de hoje”, vaticinou o carnavalesco.

Projeto de resgate

O impacto de voltar a desfilar no Anhembi, logicamente, é um desafio para qualquer escola de samba. Não seria diferente para a vermelho, preto e branca da Zona Leste. E, na visão de Fernando, há uma característica que se destaca em tudo que está sendo feito para o carnaval 2024. “Nosso grande trunfo é que estamos em uma sequência de enredos mais culturais. Ano passado viemos com ‘Jongo’, esse ano viemos com o Canto das Três Raças… estamos resgatando um pouco parte da nossa cultura. A chegada da São Lucas aqui é para marcar, procuramos ter um tema marcante para 2024”, destacou, relembrando o enredo campeão do Grupo Especial de Bairros da UESP em 2023.

Um projeto, obviamente, é formado por muitas pessoas. Além dos já citados Raphael Maslionis, diretor de carnaval, e Adriano Freitas, o Nanão, presidente da escola, mais um componente-chave da Unidos de São Lucas foi citado ao longo da entrevista para falar sobre o trabalho desenvolvido. “A pesquisa foi feita junto de todo mundo e com o Felipe Diniz, nosso enredista. A gente sempre acha alguns fatos diferentes, mas, como o nosso tempo é muito enxuto, temos que enxugar ao máximo e retratar logo de cara o que queremos falar. Não dá para ficar viajando”, comentou.

Eficiência e funcionalidade

Falando sobre o desfile em si, Fernando foi bastante sucinto ao apresentar o que será exibido para o público. É importante destacar, justamente, a literalidade da canção de Clara Nunes transposta para o que será visto. “Nós abrimos a escola com os invasores, a parte indígena. Quando os invasores chegaram, eles falam que descobriram, mas nós já tínhamos os índios que moravam aqui. Eles não descobriram nada! Depois, chega a parte afro e, por fim, aparece o branco, que também é trabalhador”, explicou.

O carnavalesco aproveitou para destacar, também, algumas das observações feitas por ele e pela escola para evitar desafios ainda maiores. “São duas alegorias, de acordo com o regulamento. Havia a opção de ter acoplamento, mas, toda vez que subimos da UESP, é muito dificultoso para quem chega. Lá é uma outra realidade, a competição aqui envolve projetos gigantes. Além dos carros, teremos um tripé representando os inconfidentes – Tiradentes, no caso. Teremos na faixa de seiscentos componentes em dez ou onze alas”, pontuou o profissional, aproveitando para dar outro detalhe da ficha técnica da agremiação.

Retorno alegrando a comunidade

Como não poderia deixar de ser, os componentes da Unidos de São Lucas não veem a hora de retornar ao Anhembi após anos distante do Sambódromo. A agremiação, que abraça uma no Sudeste da capital, próxima das divisas de São Paulo com Santo André e São Caetano do Sul, quer mostrar seu valor no principal palco da folia paulistana. “A escola está muito feliz, apesar de termos juntado dois sambas. Conseguimos fazer essa junção, e sei que é muito difícil fazer essa união e conseguir um resultado tão bom quanto a gente conseguiu. A galera aceitou e está com o samba já na ponta da língua, toda sexta-feira estou na quadra e posso falar isso. Tivemos também a apresentação das fantasias, demos um ‘up’ na escola e todos estão animados. Queríamos o choque, queríamos mostrar que não estamos no Grupo de Acesso II à toa”, afirmou Fernando.

No barracão, o carnavalesco aproveitou para contar um pouco do cotidiano dele na escola e revelou uma informação muito relevante para o prosseguimento do trabalho até o desfile. “Meu dia a dia aqui começa cedo e se divide em dois ou três. Tenho que ir na quadra acompanhar a reprodução de fantasias, algo que já está oitenta por cento pronto – sobrando mais tempo para ficar no barracão. Como os barracões ficam um ao lado do outro, facilita muito o desenvolvimento do trabalho em duas agremiações – sempre de comum acordo entre as duas instituições”, destacou ele, que também auxiliar outras instituições carnavalescas.

Por sinal, o profissional aproveitou para elogiar a infra-estrutura da Fábrica do Samba II novamente citando a experiência no local que já possui. “Eu já conheço a Fábrica do Samba II graças a trabalhos em outros anos e escolas. Quando entregaram para as escolas, percebi que era um grande ganho. Ter um local para que você desfile e traga em segurança, recuperando muita coisa sem Sol ou sem a chance de jogarem fogo. A estrutura que a Liga-SP conseguiu para nós é muito boa. A São Lucas já tinha um espaço de barracão, mas muitas da UESP não tem. Ainda assim, não é algo comparável ao espaço que temos aqui”, relembrou o carnavalesco – também se colocando no lugar de outros profissionais com o mesmo cargo em co-irmãs.

Confiante, Fernando aproveitou para dar o tom do que será visto no Anhembi. “A única coisa que eu posso dizer é: aguardem a São Lucas. Ela vem para gritar”, finalizou.

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