Inspiração e empoderamento, são palavras e sentimentos que as mulheres de Mangueira carregam consigo, Alcione e Evelyn Bastos não fogem à regra. Indo para 11 anos à frente da bateria da Verde e Rosa, ao ser questionada se ainda fica apreensiva antes de entrar na avenida, a rainha não nega.
Foto: Diego Mendes/Divulgação Rio Carnaval
“Nossa, sempre. É um chão muito quente, é um chão diferente. É um chão que faz com que as nossas lembranças se aflorem. Então cada ano é diferente, cada jogo é um jogo. Dá sempre um frio na barriga”, revela Evelyn.
Além de rainha da bateria por mais de uma década, Evelyn está indo para o seu terceiro ano como presidenta da escola mirim Mangueira do Amanhã, fundada por Alcione. A rainha reconhece a imensa importância da cantora para a comunidade mangueirense, além da sua responsabilidade em reinar à frente da bateria e presidir um projeto, como a escola mirim, cujo objetivo é deixar o samba morrer, assim como Alcione canta.
“Nossa, é uma responsabilidade muito grande, mas é um ano muito especial, que a gente vem falando de Alcione, que é a nossa fundadora. Então, acaba tornando tudo com muito mais afeto. Até me sinto abençoada por poder viver esse momento. De presidir a Mangueira do Amanhã e, ao mesmo tempo, ser rainha de bateria, cantando para a Alcione, sabe? Eu me sinto como se eu estivesse agradecendo em arte tudo que ela representa para a gente”, disse a rainha.
Foto: Filipe Aires/Divulgação Rio Carnaval
A respeito da fantasia, Evelyn não quis dar muitos detalhes a respeito, mas pelo pouco que confidenciou, já dá para perceber que tem relação com a Marrom.
“Eu não posso dar spoiler para vocês, mas é uma fantasia diferente, irreverente e, ao mesmo tempo, traz um empoderamento”, conta Evelyn.
Evelyn, que é filha de rainha de bateria da Mangueira, foi rainha da Mangueira do Amanhã, foi passista, rainha do carnaval carioca e tem irmã passista da Verde e Rosa, hoje como rainha da bateria, é uma voz ativa e atuante pela presença de mais mulheres da comunidade no cargo de rainha da bateria.
Foto: Diego Mendes/Divulgação Rio Carnaval
“Eu pude viver nesses 11 anos de reinado, essa transição da preferência dos muitos faisões e da mídia, para a rainha de bateria de origem e de essência, então eu pude acompanhar essa transição, viver essa transição e me sinto extremamente feliz, eu acredito que esse é o caminho para que a gente tenha o carnaval por muitos e muitos anos valorizando a nossa gente, valorizando os nossos corpos, valorizando o nosso povo, que detêm o carnaval, a cultura do carnaval, a essência do carnaval, o ânimo do carnaval estão na mão do suburbano favelado. Sendo assim, nada mais justo, pela ordem ancestral do samba, de coroar uma mulher com origem da sua gente, que reconhece a sua gente, que reconhece seu povo. Eu acredito que a gente esteja no melhor caminho possível. Demorou, mas aconteceu, é uma construção, mas a gente já vê resultados”, finaliza a rainha.
Na busca pelo tão sonhado acesso ao Grupo Especial, a Unidos de Padre Miguel levará para a Marquês de Sapucaí um dos maiores símbolos de devoção do povo nordestino. Com o enredo “O Redentor do Sertão”, assinado pelos carnavalescos Edson Pereira e Lucas Milato, a escola contará a história de Padre Cícero, que completaria 180 anos neste ano, e aposta na fé para a busca do milagre da Vila Vintém.
Fotos: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO
Com grandes desfiles ao longo dos últimos anos, no mundo do carnaval a escola da Zona Oeste é considerada uma das favoritas na briga pelo título da Série Ouro. Em 2023, a escola bateu na trave e garantiu o vice-campeonato. No carnaval deste ano, para somar à força da comunidade, o carnavalesco promete mais um desfile marcado pela luxuosidade e grandes alegorias.
“Neste ano, o nosso grande objetivo foi entregar ao público o que eles esperam da Unidos. É um desfile que será grandioso, imponente, com alegorias volumosas e fantasias luxuosas – como eles (torcedores) gostam. Acredito que o grande objetivo quando iniciamos o processo de criação do desfile foi entregar para a nossa comunidade algo que eles já esperam da Unidos de Padre Miguel. Eles podem esperar uma escola que por mais um ano brigará pelo campeonato – e se Deus quiser, vai conseguir”, afirma Lucas Milato.
“Padim Ciço”, como era conhecido, foi uma importante figura religiosa e política para o Vale do Cariri, no sul Ceará, entre os séculos 19 e 20. Em 1889, um suposto milagre ocorrido na capela de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte, transformou a vida do padre e da cidade. Ao participar da comunhão geral, a hóstia sangrou na boca de uma fiel. No enredo, a escola de samba vai falar sobre a importância do padre milagreiro na vida e na cultura do Sertão nordestino. Os carnavalescos baseiam-se em relatos místicos do povo nordestino e fatos da bibliografia de Padre Cícero.
O personagem homenageado pela equipe da Vila Vintém já foi citado em alguns desfiles, mas nunca havia sido tema de enredo. Em 2019, foi representado na comissão de frente da União da Ilha. No Carnaval paulista do ano passado, foi homenageado em um carro alegórico da Mancha Verde que representava a fé do povo nordestino. Segundo Milato, o enredo sobre o milagreiro do Sertão surgiu através de um desejo da direção da agremiação em falar sobre milagres.
“Ele é muito presente em diversos desfiles, mas nunca como protagonista. Decidimos dar esse protagonismo contando a história dele. Para isso, criamos um conto baseado nos sentimentos do sertanejo e em relatos – alguns reais e outros fantásticos – do próprio povo do Cariri para montar e estruturar esse conto e de uma forma mais lúdica contar a história do Padre Cícero. O mais interessante é justamente o norte que a gente deu para o desfile como um todo. São os relatos místicos do povo nordestino que permeiam essa relação dele com o Juazeiro e com a região do sertão de uma maneira geral. Conseguimos nos basear bastante nesses relatos e, junto com alguns fatos reais da bibliografia, estruturamos essa viagem que vamos fazer na história de vida dele”, explica.
O desfile é dividido em três setores baseados em sentimentos do povo do sertanejo: o primeiro fala sobre a esperança, o segundo sobre o medo e o terceiro aborda a fé. O carnavalesco acredita que um dos grandes trunfos da agremiação é conseguir passear por diversos estilos estéticos e apresentar em cada setor uma plástica específica.
“Iniciamos o nosso desfile com uma estética mais infantil para falar da chegada de Padre Cícero em Juazeiro, e no segundo setor já conseguimos brincar um pouco mais com as cores. É um setor bem obscuro, porque falamos sobre o apocalipse do Sertão. Mas para falar sobre esse apocalipse, nos inspiramos no folclore nordestino e conseguimos brincar bastante com as cores quentes. No terceiro vamos finalizar com muito luxo, que é o que a Unidos de fato gosta. É quando começamos a falar sobre a ascensão do Padre Cícero e da visibilidade que ele ganha mundialmente. Consequentemente falamos das romarias, e nos pautamos muito no barroco da igreja católica. Conseguimos passear nestes três estilos estéticos – além da estética de cordel que está presente ao longo de todo o desfile”, conta.
Este é apenas um dos trunfos de uma escola que conta com a força de sua comunidade durante os desfiles. Apesar da força plástica prometida para esse Carnaval, Milato enfatiza a estruturação da Unidos e a força da Vila Vintém como os grandes destaques.
“A escola por si só é campeã todos os anos por vários outros quesitos. Tem uma comunidade muito potente, um canto muito forte e uma estrutura organizacional muito bacana. A plástica é apenas um dos trunfos da escola, porque ela por si só já é. Acredito que a comunidade é o grande trunfo da Unidos de Padre Miguel”, comenta o carnavalesco.
E o tradicional boi vermelho, símbolo da escola da Zona Oeste, não poderia ficar de fora do desfile. A presença é mais que confirmada, mas os detalhes são guardados a sete chaves.
Junção do jovem talento com o experiente carnavalesco
Lucas Milato assina o carnaval do Boi Vermelho da Zona Oeste em parceria com Edson Pereira, que também é carnavalesco do Salgueiro. Aos 27 anos, o jovem faz parte do dia a dia do barracão, enquanto Edson – que conhece bem a escola – tem contribuído no trabalho de consultoria.
Milato já assinou desfiles da Série Prata e estreou como carnavalesco na Marquês de Sapucaí em 2020, quando comandou o desfile da Unidos da Ponte. Em 2022 e 2023, assinou os carnavais da Inocentes de Belford Roxo. Ele acredita que comandar o carnaval de uma das escolas favoritas ao acesso é o maior desafio de sua carreira.
“A responsabilidade de assinar um carnaval da Unidos é muito grande, e neste momento eu diria que é o maior desafio da minha trajetória. A escola se prepara para isso todos os anos, e não está sendo diferente neste Carnaval. Estamos realizando um trabalho para de fato buscar o campeonato. Estamos muito confiantes – não só a escola como a comunidade e os próprios foliões que admiram a agremiação. Trabalhamos com muita humildade e força de vontade para trazer este título para a Vila Vintém”, afirma Milato.
Conheça o desfile da Unidos de Padre Miguel
A Unidos de Padre Miguel será a quinta agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí no sábado de carnaval, 10 de fevereiro. O Boi Vermelho da Zona Oeste vai para a Passarela do Samba com 24 alas, três alegorias e dois tripés – sendo um na comissão de frente. Ao todo, a escola terá cerca de 1900 componentes.
Setor 1: “A gente inicia com a esperança. Falamos desde o nascimento de Padre Cícero até sua chegada a Juazeiro. Quando ele chega em Juazeiro, desperta a esperança no povo do Cariri. Este setor passeia pelo nascimento do padre e o início de sua relação tanto em Crato como em Juazeiro, além do início da relação com o povo. Foi justamente a partir deste momento que ele iniciou a missão de cuidar do povo nordestino. A gente se apropria de duas visões que ele teve e foram primordiais para o desenrolar do nosso enredo. Um primeiro relato fantástico do povo em relação ao nascimento do padre, e a partir daí desenrolamos todo o processo até a chegada nessa outra visão, na qual ele sonhou que estava na mesa da santa ceia com Jesus – que deu a ele a missão de cuidar do povo nordestino. A partir deste momento, o padre faz essa peregrinação em prol do povo sertanejo”.
Setor 2: “É quando Padre Cícero se depara com um cenário apocalíptico na região do Juazeiro. A gente cria esse grande apocalipse do sertão para falar dos medos do povo nordestino. É um setor que faz essa viagem pelos mais variados medos. Criamos este momento no meio do nosso desfile porque foi justamente aí que o povo viu que poderia contar com o padre – mesmo diante daquela situação caótica, ele esteve ao lado da população nordestina. Para isso, passeamos pelo folclore nordestino e pelo medo que eles tinham no cangaço. A gente também se inspira na maior seca do Sertão, que culminou no dia dos mil mortos. O setor é um grande apanhado: falamos do folclore, do medo do cangaço, da pior seca do sertão e criamos esse cenário apocalíptico para passear no medo do povo sertanejo”.
Setor 3: “É quando passa o cenário de caos e o Padre Cícero começa a trazer bonanças para a região do Juazeiro. Iniciamos já falando do milagre que culminou na ascensão mundial dele: o milagre da hóstia da Maria. Após isso, todo mundo queria ir para Juazeiro para buscar um milagre e saber quem era o padre milagreiro. Juazeiro começou a ficar superlotada e não possuía mais espaço para esses fiéis. Criam as romarias justamente para dividir esses milhares de peregrinos que estavam indo para a cidade. Vamos passear pelas romarias e chegar à figura do Padre Cícero como grande milagreiro do sertão e, também, como o grande milagreiro da Vila Vintém que trará o título para nós”.
Maracanaú se localiza no estado do Ceará, fazendo parte da Grande Fortaleza. Fundada oficialmente no século XIX, é uma região povoada há séculos, desde os indígenas até os dias atuais, sendo local de diversas histórias. Lugar de fabricação da cajuína e sede do Maior São João do mundo em questão de dias de festa, é essa a cidade que a Acadêmicos de Vigário Geral vai levar à Sapucaí no carnaval de 2024, sob a batuta de Alexandre Costa, Lino Salles e Marcus do Val, através do enredo “Maracanaú: Bem-vindos ao maior São João do planeta”.
Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO
Alexandre Costa, um dos carnavalescos da escola, recebeu o site CARNAVALESCO para comentar sobre a concepção do enredo, montagem e o trabalho no barracão da escola.
Ele fala que a ideia veio da busca de um enredo alegre e colorido, sem deixar a parte histórica e as tradições de lado. A equipe então chegou a Maracanaú, descobrindo várias histórias curiosas da cidade cearense.
“Nós descobrimos que lá é a cidade da bebida, da cajuína. Nós descobrimos que é uma cidade que tem um potencial enorme industrial. Nós temos o maior arraiar em tempo, que dura quarenta dias o arraiar de lá. Descobrimos também que algumas das misses que concorreram, até mo miss universo, saíram de Maracanaú”, contou Alexandre, animado.
Dentre todas essas curiosidades, foi a grandiosidade do São João da cidade que impressionou a equipe de criação, que busca levar uma homenagem bem colorida e à altura da festa para a avenida.
“A gente tem uma pegada que a gente gosta muito de levar o colorido para a avenida. A gente leva as cores da escola, mas a gente gosta do colorido, que eu acho que visualmente isso é carnaval para a gente”.
Alexandre prossegue falando sobre a decisão do enredo ser a cidade de Maracanaú, contando do processo desde a concepção até a aprovação da presidente Elisabeth da Cunha. Alexandre conta que o processo começa com três propostas de enredos sendo apresentadas em pequenos textos, explicando cada um, para que a presidente faça a escolha final.
“A escola deixa a gente bem à vontade para escolher o enredo. A gente levou mais de uma proposta para eles, como sempre a gente sempre leva três propostas. E aí a presidente, ela escolhe aquela que ela acha: ‘essa daqui eu gostei’, e aí a gente embarca nessa”.
O carnavalesco cita então o que ele enxerga como trunfo da escola para este carnaval de 2024 está nessas curiosidades que Maracanaú possui sendo carnavalizadas na avenida.
“Tem o potencial de um dos maiores parques industriais, que algumas que concorreram ao miss universo saíram de lá. A própria coisa do São João, eu não sabia que lá é dito como o maior São João do planeta por causa do tempo que dura quarenta dias. Essas coisas que foram instigando a gente”.
Na visão de Alexandre, a alegria será o grande destaque da Vigário para este carnaval.
“A alegria, com certeza, não tem como fazer um carnaval desse sem alegria. É um enredo que, eu aposto, a galera que vai estar assistindo vai gostar muito. Que é um enredo que acaba te contagiando, não tem jeito, é Brasil”.
Falamos também sobre o trabalho na Série Ouro, a situação dos barracões e do trabalho em um espaço mais precário. Alexandre destacou a questão das goteiras dentro do espaço, e como isso atrapalha o andamento das alegorias.
“O nosso barracão é relativamente pequeno. Você dá para ver que está tudo muito bem apertado, está apertadinho. Mas, a gente tem algumas coisas que acabam atrapalhando a gente, como você está vendo que, aqui choveu lá fora, aqui dentro chove ainda mais uma semana, que como a gente não tem telhado em cima, falta muita telha, aqui embaixo vaza tudo e fica pingando eternamente, então a gente tem que trabalhar por debaixo das lonas, então é plástico para cá, plástico para lá e a gente trabalhando debaixo. Quando faz sol, que o sol seca a laje, que aí para de pingar, é um alívio para a gente”.
O tamanho do espaço também é citado como uma problemática para produzir o carnaval, assim como a questão da água.
“A gente tem a questão da altura, que aqui eu não tenho muita altura no barracão, então algumas peças eu tenho que acabar fazendo de encaixe, porque se vou com um carro baixo lá na avenida ele some. Fora umas outras questões, tipo: eu aqui no barracão não tenho água. A gente não tem água, eu trago água de casa para a galera que trabalha. São umas coisinhas que se pudessem melhorar… a gente está na reza para Cidade do Samba 2 sair, que aí tudo melhora”.
Alexandre revela então que a garra é fundamental para que o trabalho prossiga dentro do possível, junto ao amor pelo carnaval, sendo esse o grande truque do barracão.
“É muito amor pelo carnaval, porque não é para todo mundo isso aqui não. Inclusive tem a equipe de decoração, que os meninos vieram, só que eles estão acostumados com a Cidade do Samba, né? Aí chega aqui, olha isso daqui, a situação que alaga o barracão, eles correm. Mas, tem uma galera que: ‘não, vamos lá, vamos fazer acontecer’, e vamos na garra, não tem jeito, é a garra mesmo”.
Por fim, Alexandre Costa afirmou sentir amor e prazer ao fazer carnaval, apesar de todas as adversidades citadas, comparando o fazer carnaval com outra atividade sua, ser professor.
“Eu vivo isso daqui o ano inteiro amigo, a gente entrega um trabalho já começa a pesquisa para o outro carnaval e é um trabalho de um ano, não trabalho só agora nos últimos meses. Tudo bem que agora o ritmo aperta um pouquinho, mas é um trabalho de um ano, então para a gente fazer a gente tem que gostar muito. E é uma coisa que é igual… eu sou professor, então toda a turma que eu pego, quando eu entro, é aquela coisa do arrepio que dá e: ‘vambora! Vamos fazer o nosso trabalho’”.
Conheça o desfile da Acadêmicos de Vigário Geral
Com cerca de 1.800 componentes e três alegorias, é que a Vigário Geral vem para desfilar na Sapucaí sendo a terceira escola da primeira noite de desfiles, no dia 9 de fevereiro. Alexandre Costa detalhou para o CARNAVALESCO o desfile da escola, setor por setor para o carnaval de 2024:
Setor 1: “O primeiro setor a gente começa contando a origem de Maracanaú. Esse primeiro setor é dedicado a isso. A gente começa contando a história desde os indígenas. A gente tem os indígenas que descobriram aquele pedaço lá da região. Tem também os negros que chegaram para também ajudar a construir. A gente tem os navegadores, né? Porque tudo acabou vindo também pelas invasões. É basicamente isso”.
Setor 2: “O segundo setor a gente já parte já para: Maracanaú foi, já surgiu, como que ela está se desenvolvendo. A gente já começa falando mais da coisa da: a cidade surgiu, e agora? A gente tem a parte de parque industrial que a gente tem que falar. A gente tem a curiosidade da cajuína, porque muitos pensam que é de Pernambuco, mas é lá de Maracanaú, o cara que descobriu. A gente também traz nesse setor a mão de obra que ajudou a construir a cidade em si”.
Setor 3: “O terceiro setor, que é o São João, não tem como não terminar no alto, em alto astral. A gente começa com os santos, que não pode deixar, São José e Santo Antônio. A gente tem a parte da fogueira, a gente vai levar os santos, a gente leva as coisas de São João: balão, bandeirinha, as coisas tradicionais de São João mesmo, só que interpretando através de fantasias”.
O quesito comissão de frente é sem qualquer dúvida aquele que sofreu maior evolução na história dos desfiles. Quem assiste a um vídeo de uma comissão nos 80 e vê no que se transformaram nos dias de hoje pode se tratar de algum quesito que foi criado recentemente. As velha-guardas deram espaço a rebuscadas coreografias nos anos 90 e aos imponentes espetáculos quase hollywoodianos dos tempos atuais. A série ‘De olho nos quesitos’ se debruça sobre um dos quesitos mais debatidos pelos sambistas.
Comissão de frente da Viradouro fez sucesso em 2023. Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval
E um dos aspectos que causam mais debates entre analistas, coreógrafos, sambistas e amantes das escolas de samba são os polêmicos tripés que compõem a apresentação das comissões. Para muitos um trambolho desnecessário e inútil. Para outros um apoio importante dentro da logística das apresentações como são nos dias de hoje. Fato é que eles são pivô da maioria das notas abaixo de 10 justificadas pelos julgadores do quesito.
O tripé da comissão de frente está sob julgamento por diversos aspectos. Em primeiro lugar trata-se de uma alegoria como qualquer outra e portanto precisa estar bem acabado, iluminado e com todos os seus efeitos em perfeito funcionamento. Precisa ainda estar adequado à proposta da comissão, não pode ser uma mera ‘coxia’ onde há trocas de roupa e elenco sem uma funcionalidade com a apresentação em si. E ainda não pode atrapalhar a visibilidade da apresentação. Por essa diversidade de nuances, nossa reportagem encontrou citações em 38 justificativas nos últimos cinco anos dos quatro julgadores do quesito em 2024, anunciados pela Liesa.
Apenas 36% de notas 10 no domingo de carnaval
Como já é público e notório, as escolas que desfilam no domingo costumam tirar notas mais baixas que as de segunda. Tal tese encontra eco em uma rápida análise nas 81 notas aplicadas em comissão de frente pelos quatro julgadores do quesito em 2024, de 2018 pra cá. Em apenas 36% dos casos a nota máxima foi aplicada para escolas que se apresentaram na primeira noite. O restante das notas máximas ficaram para a segunda-feira. Como se vê, não se trata de uma perseguição midiática com quem desfila na primeira noite, mas sim de preconceito do próprio corpo julgador.
Os quatro julgadores de 2024 já julgaram o quesito mais de uma vez nos últimos cinco anos. Paola Novaes, que era jurada de evolução, passou para a comissão de frente em 2022 e também julgou ano passado. Raffael Araújo está no grupo desde 2020. Rafaela Riveiro Ribeiro e Raphael David julgam o quesito desde 2019. Paola é quem tem o menor índice de notas 10 dadas. 42% das 24 notas que aplicou. Foram apenas 10, seis delas na segunda de carnaval. Salgueiro e Portela são as únicas agremiações que só tiraram notas 10 com ela. Dentre aquelas que foram julgadas no mínimo duas vezes por Paola, Imperatriz, Tuiuti e Mocidade ainda não conseguiram nenhum 10 com a jurada. Dentre aspectos do sub-quesito de concepção, problemas no tripé foi a justificativa mais usada por Paola. No que tange ao aspecto da realização, falhas de elementos que não funcionaram na comissão é o problema que ela mais citou. É uma jurada bastante focada em elementos objetivos das apresentações.
Vila Isabel e Viradouro gabaritam com jurado
Raphael David julgou nos desfiles de 2019 pra cá. Das 51 notas atribuídas por ele, 26 foram 10, 51% do total. Viradouro e Vila Isabel são as únicas escolas que só tiraram notas 10 com o jurado nesses quatro anos de julgamento. Dentre as agremiações que foram julgadas quatro vezes por ele, todas obtiveram ao menos uma nota 10, casos de Portela, Mangueira e Tuiuti, que obtiveram só uma nota máxima e são aquelas que possuem pior desempenho com o jurado. Apenas 35% das notas 10 dadas por Raphael foram no domingo de carnaval.
Suas justificativas se concentram basicamente em avarias ou problemas de concepção do tripé alegórico das comissões. A indumentária também é motivo de atenção por parte do julgador. No sub-quesito da realização, ele despontuou coreografias segundo ele sem impacto e falhas de acabamento na indumentária dos dançarinos.
Rafaela Riveiro Ribeiro observa bastante a mensagem das comissões de frentes, embora também domine as suas justificativas nos tripés. Foram identificadas sete vezes nos últimos julgamentos dela problemas de leitura e entendimento da proposta dos coreógrafos no aspecto da realização da apresentação.
A jurada possui 51 notas atribuídas entre 2019 e 2023. Apenas 45% delas foram a nota máxima. De seus 23 10, 15 foram aplicados na segunda-feira de carnaval, 65% do total. Mangueira e Mocidade possuem o melhor desempenho com ela, com três 10 em quatro notas possíveis. A Portela é quem precisa melhorar aos olhos da jurada. Não obteve uma nota 10 nesses quatro anos.
Julgador aponta ‘problemas de visibilidade’ para não dar nota 10
Raffael Araújo está no grupo de julgadores de comissão de frente desde 2020. Em três anos julgando o Grupo Especial aplicou 22 notas 10, 58% do total. Do atual grupo que vai julgar o quesito é o mais ‘generoso’ percentualmente. Ocorre porém que 64% de suas notas máximas foram atribuídas na segunda-feira, é quase o dobro de notas 10 se comparado com o domingo.
Beija-Flor e Salgueiro são as escolas que melhor performaram nas notas do jurado, cravando três notas 10. O Tuiuti é quem teve o desempenho mais fraco, anotando duas notas 9,8 e um 10, dado no desfile de 2023. Raffael é o único julgador do atual grupo que anota em suas justificativas a maioria de notas como dificuldades para visualizar a apresentação das comissões. Em seis oportunidades ele apontou que a visibilidade não foi adequada para avaliar o grupo e tirou pontos em virtudes disso. Mais um sinal de alerta para as 12 escolas do Grupo Especial.
Fluência entre os naipes. Equilíbrio musical. Equalização de timbres. Todas essas expressões são as mais buscadas quando se faz ritmo com uma bateria. Em comum entre elas? Todas são alcançáveis de modo praticamente natural diante de uma organização, que leva em conta a pulsação de cada ritmista na hora de demarcar o lugar de desfile.
Freddy Ferreira é colunista de bateria do CARNAVALESCO
É possível dizer que todas as peças leves (tamborim, chocalho, agogô e cuíca) possuem mapas de desfiles. Ou seja, os ritmistas da cabeça da bateria já sabem, antes de irem para a pista, o lugar que ocuparão ao longo de todo o cortejo. Mas a realidade da cozinha da bateria costuma ser diferente da parte da frente do ritmo. A galera do peso normalmente não possui mapa de desfiles, fazendo com que a organização da parte de trás do ritmo (onde tocam repiques, caixas e surdos) fique deficiente em relação aos demais. Embora existam trabalhos que fogem à regra, com mapas para a cozinha, normalmente a organização acaba seguindo o feeling de diretores.
A situação se agrava ainda mais quando se tratam de baterias do grupo de Acesso. Pois, como existe uma cultura de enxertos nesses ritmos, por vezes os conhecidos acabam naturalmente se aproximando e tocando juntos. Esse fato pode sim prejudicar a fluência entre os naipes, bem como o equilíbrio musical. Normalmente indivíduos de nível técnico semelhantes são os que mais se aproximam nessas situações. Isso não privilegiará a organização alternada, ou seja, não será possível mesclar posições de ritmistas que se garantem tocando seguidos de ritmistas que ainda estão em processo de evolução e desenvolvimento.
O ideal, dentro da cultura do “cata cata”, é sempre organizar os ritmistas intercalando bons valores técnicos a quem ainda deixa a desejar, garantindo assim tanto a fluência, quanto o equilíbrio. Encher um lado do ritmo de indivíduos talentosos pode acabar impactando negativamente na outra extremidade, causando inconsistência em toda a bateria. Às vezes essas questões parecem meros detalhes, mas a consequência certamente será percebida pela pista de desfile, enquanto uma bateria melhor organizada executar seu ritmo de forma que fique cada vez mais evidente o bom equilíbrio e fluência entre os naipes, propiciada por uma afinação de surdos que permita uma equalização satisfatória.
A equalização de timbres, por exemplo, também é algo que sofre influência direta da organização do ritmo. Por vezes, o próprio caminhar de quem toca com instrumento grave pode ser revelador para perceber a forma que o surdo ressoa. No Acesso, por exemplo, têm ocasiões em que o caminhar dos surdos em relação aos demais naipes é um pouco mais lento, gerando distanciamento entre os marcadores. Isso ajuda a criar instabilidades sonoras em todo o entorno. Portanto, além de ser vital a boa organização do ritmo, também se faz necessário um caminhar ponderado de toda a bateria, garantindo que os ritmistas sigam tocando na mesma pulsação, evitando assim oscilações rítmicas provocadas pela alteração brusca de movimento. Quanto mais pesada estiver a afinação dos surdos, maior deverá ser o cuidado e a atenção com esse fato.
Vale uma reflexão apurada nessa última semana antes dos desfiles. Talvez seja uma boa pensar na organização de toda a galera da cozinha da bateria. A parte de trás do ritmo, invariavelmente, é quem dá toda a base fundamental para que uma bateria toque de modo consistente. Se preocupar com a organização também do peso, portanto, é uma maneira válida de buscar fluência entre os naipes e o equilíbrio musical. Ritmo bem organizado e equalizado dificilmente apresentará inconsistências que são dribladas com uma estratégia bem definida de demarcação de lugar eficaz dos ritmistas.
A uma semana do início dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, o Sambódromo recebe neste sábado a tradicional lavagem simbólica da pista. A partir das 18h30, mães baianas de todas as agremiações se unem para purificar a avenida e evocar as boas energias para o Rio Carnaval 2024.
Foto: Divulgação/Rio Carnaval
A cerimônia marca, ainda, a abertura do último final de semana de ensaios técnicos na Sapucaí, com teste de luz e som. Ainda no sábado, ensaiam Grande Rio, Beija-Flor e Vila Isabel. Já no domingo, será a vez de Mangueira, Viradouro e Imperatriz Leopoldinense, a partir das 19h.
Os desfiles do Grupo Especial acontecem nos dias 11 e 12 de fevereiro, com as seis melhores colocadas voltando para o Desfile das Campeãs, no dia 17.
O carnaval chegou e já tem desfiles neste final de semana no Sambódromo do Anhembi. É isso mesmo! Neste sábado, dia 3 de fevereiro, teremos as primeiras escolas de samba desfilando em São Paulo. São onze agremiações no Grupo de Acesso II, a terceira divisão do carnaval paulistano. Duas brigam pela vaga no Grupo de Acesso I, enquanto três escolas irão para a UESP disputar o Grupo Especial de Bairros.
Abrindo os desfiles, São Miguel e São Lucas estão de volta ao Anhembi, enquanto pavilhões que estiveram no Grupo Especial dos anos 2000 para cá como X-9 Paulistana, Morro da Casa de Casa Verde, Imperador do Ipiranga, Unidos do Peruche e própria São Lucas, e também escolas mais jovens como Primeira da Cidade Líder, Amizade Zona Leste e Camisa 12, além de Uirapuru da Mooca e Imperatriz da Paulicéia.
1 – Unidos de São Miguel (20h)
Desde 2014 longe do Anhembi, a Unidos de São Miguel está de volta ao templo da folia paulistana. A agremiação da Zona Leste, que já participou do Grupo Especial nos anos 90, nesta volta conta com uma dupla de artistas, Alexandre Callegari e Natanael Serra, para desenvolver o enredo “Um príncipe negro na corte dos esfarrapados”. A São Miguel contará a história de Dom Obá, militar que participou do exército durante a Guerra do Paraguai e virou amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II.
Fundação: 1977
Melhor resultado: 11ª lugar no Grupo Especial 1994 e vice do Acesso I em 93
Participações no Acesso II: Nove vezes (última 2014)
Colocação em 2023: Vice-campeão do Especial de Bairros (UESP)
2 – Unidos de São Lucas (20h50)
Outro retorno para o Anhembi é o da campeã da Especial de Bairros, a Unidos de São Lucas. A escola esteve no Grupo Especial de São Paulo por duas ocasiões, em 2001 e 2002, entretanto está longe do Sambódromo do Anhembi desde 2016. Neste retorno, a São Lucas tem Clara Nunes como inspiração através da canção que serviu para gerar “O Canto das Três Raças… o grito de alforria do trabalhador!”, tema comandado por Fernando Dias. Mas vale citar que não é uma retratação, e sim uma inspiração para falar sobre o sistema de trabalho no Brasil. Vem de títulos consecutivos do Acesso 1 de Bairros em 2022 e o Especial de Bairros em 2023.
Fundação: 1980
Melhor resultado: 11º lugar Grupo Especial (2001) e vice do Acesso (2000)
Participações no Acesso II: Doze vezes (última 2016)
Colocação em 2023: Campeã do Especial de Bairros (UESP)
3 – Imperatriz da Pauliceia (21h40)
Pelo segundo ano consecutivo no Grupo de Acesso II, a Imperatriz da Paulicéia escapou do peso de abrir um dia de desfiles e será a terceira a pisar no Anhembi. Ficou em 8ª lugar em 2023 e quer melhorar o feito após conseguir a permanência. Para isso, conta com a única mestra de bateria mulher entre as 33 escolas filiadas à LIGA-SP, a Mestra Rafa, e o enredo será “Maracatu – Bendito é o Seu Rito”. Serão diferentes rituais presentes no cortejo pernambucano representados pela comissão de carnaval formada por Wagner Miranda, o Bimbo, Deuseni Ignotti e Clayton Kaomi.
Fundação: 1980
Melhor resultado: 5ª lugar do Grupo Acesso II
Participações no Acesso II: Três vezes (2004, 2005 e 2023)
Colocação em 2023: 8ª lugar no Acesso II
4 – Amizade Zona Leste (22h30)
É a Rosas de Ouro representada no Grupo de Acesso II. O homenageado é nada mais nada menos que Eduardo Basílio, um dos grandes baluartes do carnaval de São Paulo, um dos fundadores da Roseira e pai da atual presidente Angelina Basílio. A agremiação da Zona Leste vai para o décimo carnaval consecutivo no terceiro grupo e já bateu na trave pela promoção ao Acesso I, e com o enredo “Eduardo Basílio. Um Mar de Rosas de Ouro do Quilombo da Brasilândia para o Mundo” busca alcançar pela primeira veza segunda divisão da folia paulistana.
Fundação: 1995
Melhor resultado: 3º lugar do Grupo de Acesso II em 2014
Participações no Acesso II: Nove vezes
Colocação em 2023: 9ª lugar
5 – Uirapuru da Mooca (23h20)
Ou seria a Mocidade Independente de Padre Miguel? Mas o enredo não será o Caju, e sim uma homenagem para a tradicional agremiação do carnaval carioca. O enredo é “Da estrela guia que brilha no céu, vem aí, a Mocidade Independente de Padre Miguel”, desenvolvido por Toninho Tatuapé. Desde 2012, a agremiação está no Grupo de Acesso II, e no passado chegou a ter dois anos no Grupo de Acesso I. Foi campeã logo em seu primeiro ano no terceiro grupo, em 2009.
Fundação: 1976
Melhor resultado: Campeão Acesso II (2009) e 6ª lugar no Acesso I (2010)
Participações no Acesso II: 12 participações
Colocação em 2023: 7ª lugar
6 – X-9 Paulistana (00h10)
Desde 1988, quando embalou entre Grupo de Acesso e Especial se consagrando bicampeã da folia paulistana em 1997 e 2000, não voltava para divisões inferiores. Em 2024, tradicional agremiação da Zona Norte estará no Grupo de Acesso II, o qual já venceu em duas ocasiões, 1981 e 1987. O retorno ao terceiro grupo será com o enredo “Nordestino sim… Nordestinado jamais!”, desenvolvido por uma comissão de carnaval em homenagem ao poeta cearense Patativa do Assaré. Mostrará vitórias do povo nordestino, retratando um Nordeste alegre e claro, combatendo o preconceito.
Fundação: 1975
Melhor resultado: Campeão Grupo Especial (1997 e 2000)
Participações no Acesso II: Sete vezes
Colocação em 2023: 7ª lugar no Acesso II
7 – Camisa 12 (01h00)
Oriunda da torcida organizada do Corinthians, a Camisa 12 está desde 2018 no Grupo de Acesso II. Bateu na trave do acesso em 2020 quando ficou no segundo lugar, que se fosse hoje, garantiria a promoção. Para buscar o acesso mais uma vez, terá como tema “Meu black é de rei, minha coroa é de Chico. Chico Rei entre nós”, desenvolvido pelo carnavalesco Gleuson Pinheiro. O enredo falará sobre a lenda imaginária de Chico Rei, citado no livro “História Antiga de Minas” e que foi resgatado pelo historiador Diogo de Vasconcelos em 1904.
Fundação: 1996
Melhor resultado: 4ª lugar no Acesso I e campeão Acesso II (2001 e 2003)
Participações no Acesso II: Quinze vezes
Colocação em 2023: 5ª lugar no Acesso II
8 – Primeira da Cidade Líder (01h50)
Ou seria a Majestade do Samba? Depois de homenagear o Salgueiro, a Cidade Líder dessa vez falará sobre a Portela através do enredo “Salve ela! A Majestade do Samba Portela!, desenvolvido pelo carnavalesco Ewerton Visotto. Uma homenagem para a Águia de Madureira que contém 22 títulos no carnaval carioca e completou 100 anos recentemente. Essa é a quinta participação consecutiva da agremiação de trinta anos no Grupo de Acesso II, que ficou em quarto lugar em 2022 e 2023.
Fundação: 1993
Melhor resultado: 4ª lugar no Acesso II (2019, 2022 e 2023)
Participações no Acesso II: Quatro vezes
Colocação em 2023: 4ª lugar no Acesso II
9 – Imperador do Ipiranga (02h40)
Outro pavilhão pesado, vem da Zona Sul de São Paulo, a Imperador do Ipiranga vai para cinco anos no Grupo de Acesso II, tendo como a melhor colocação neste período um 5ª lugar no primeiro ano, em 2019. Com o enredo “Desperte a criança que há dentro de você”, desenvolvido por uma comissão de carnaval, trará o imaginário infantil para Avenida em busca o retorno ao Grupo de Acesso I, o qual venceu quatro vezes, para assim almejar o Especial, onde esteve pela última vez em 2010. No Acesso II, venceu as edições de 1971 e 1977.
Fundação: 1968
Melhor resultado: 7ª lugar no Grupo Especial
Participações no Acesso II: Oito vezes
Colocação em 2023: 6ª lugar no Acesso II
10 – Morro da Casa Verde (03h30)
Após dois anos no Acesso I, a agremiação de Dona Guga retornou ao terceiro grupo onde apresentará o enredo “O canto de Ominirá: Negra é a raiz da liberdade!”, do carnavalesco Ulisses Bara. Sua última vez no Grupo Especial foi em 2002, quando homenageou Zeca Pagodinho. Já no Acesso I é uma presença mais recorrente, porém busca a volta cantando sobre a liberdade da mulher. Foi a campeã do Acesso II em 2020.
Fundação: 1962
Melhor resultado: 6ª lugar no Grupo Especial
Participações no Acesso II: 9 participações
Colocação em 2023: 8ª lugar no Acesso I
11 – Unidos do Peruche (04h20)
Com o enredo “Da Cultura do Reino de Ifé, ao legado da Rainha Ronke”, desenvolvida por Mauro Xuxa, a Peruche busca retornar ao segundo grupo após quatro anos no Acesso II, sendo que esteve em 2018 no Especial e 2019 no Acesso I. Em 2022, quando ainda subia apenas uma escola, bateu na trave com o vice-campeonato, enquanto em 2023 ficou na terceira colocação. É o pavilhão com mais títulos neste grupo: são cinco do Especial e três do Acesso I.
Fundação: 1956
Melhor resultado: 5 vezes campeã do Grupo de Especial (última em 1967)
Participações no Acesso II: 3 participações
Colocação em 2023: 3ª lugar no Acesso I
Transmissão e o evento
A entrada é franca, e os desfiles começam às 20 horas, com a previsão de a última agremiação entrar na pista às 4h20. Haverá transmissão pelo canal do YouTube oficial da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, e cobertura completa do site CARNAVALESCO, com crônicas e redes sociais em tempo real direto do Sambódromo do Anhembi.
Mestre Nilo Sérgio está no comando da bateria “Tabajara do Samba” da centenária Portela desde 2006. O músico concedeu uma entrevista especial e contou sobre sua relação com a Portela desde que é menino, sobre a principal virtude da bateria, sobre o legado que quer deixar e sobre a pressão das notas e da avaliação no Grupo Especial.
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval
O que a Portela representa na sua vida?
“A Portela representa para mim, como se fosse o nascimento dos meus filhos. A Portela não chega junto, porque eu amo mais meus filhos, mas é uma coisa muito parecida. A Portela na minha vida é tudo, estou aqui desde garoto. Esse ano eu faço 20 anos à frente da bateria. Fui catador de garrafa a ritmista, depois diretor de bateria a mestre. A Portela para mim representa tudo. Minha família não é diretamente ligada, mas vim sozinho e hoje estou aí”.
Com tantos anos de avenida, como você se sente a cada ano pisando no solo sagrado da Sapucaí?
“Como no primeiro ano, quando eu pisei na avenida. Dá vontade de ir no banheiro, nervosismo, emoção, cada ano é um choro diferente”.
O que você acha do nível das baterias, hoje em dia, no Grupo Especial?
“Está muito nivelado. Quando está assim a gente conversa com os diretores, vamos tentar fazer as bossas dentro do enredo, não sobrando, cobrando mais o ritmista, para não dar um problema. Porque o jurado está ali para poder tirar ponto. Todas as escolas entram com 10, ali você pede um, dois décimos durante o desfile. Porque quando é nota 10, é para a bateria, mas quando é 9.9 é o mestre que segura. Se falo que vai ser isso e acabou não vamos passar, porque aí está ferindo a melodia, a cadência da bateria. Temos muitos mestres bons. Trabalham demais. Quem erra menos que ganha 10. É o que eu falo pra todo mundo, o menos é mais. A ousadia, sem atravessar, sem ferir a melodia do samba, sem sair da métrica da bateria, do ritmo. Bateria é um conjunto, não é um solo”.
Para você é muita pressão?
“Eu me pressiono muito, me cobro muito. Cobro o ritmista demais e os meus diretores. Eu começo em abril a ensaiar. A bateria da Portela é a que a gente ensaia mais, segunda, quarta, sexta e domingo. São quatro dias na semana. Eu não saio para perder um décimo, eu não saio para perder 40 pontos. É cobrança porque eu gosto, eu quero ver a rapaziada feliz. A única vaidade minha é ver que a bateria da Portela está boa, para mim já basta”.
No dia da apuração, em qual local o você acompanha o resultado?
“Eu não vou para a quadra, eu não vou para a Apoteose na apuração, eu fico em casa. Depois quando dá nota, eu agradeço a todo mundo na bateria. Fico em casa tomando minha cervejinha e batendo papo, porque, assim, meu dever foi cumprido”.
O que você acha que foi o problema do carnaval passado e qual é a diferença para 2024?
“A diferença foi que a Portela fez 100 anos. A escola estava bonita, mas deu problema no percurso. Eu fico chateado, a bateria ficou chateada. Esse ano, não. Os carros também estão bonitos, mas não tem aquele peso dos 100 anos. Eu sou uma escola centenária, que só em abril que eu faço 101 anos”.
Qual é a maior virtude da bateria da Portela no seu comando?
“É a união. Eu abri as portas, porque quando eu cheguei na bateria da Portela eu era o único menor. Coloquei essa rapaziada de Oswaldo Cruz e de outros lugares. Elas estão com o mesmo brilho que eu tinha no olhar”.
Qual é o legado que quer deixar para os ritmistas e para a bateria da Portela?
“Essa molecada respeitando todo mundo. Irmandade e amizade que não é só dentro da Portela, que vai para casas deles. Daqui há 30 anos, eu vou ser presidente da velha-guarda. Os mais velhos têm muito a passar, burro é aquele que não escuta o mais velho. Se você perceber, sentar, escutar, sempre tem uma coisa que eles vão deixar de legado para você”.
A Estação Primeira de Mangueira concluiu seu último ensaio de rua na noite de quinta-feira. A escola demonstrou domínio profundo do samba que embala o enredo em homenagem a Alcione, além de uma harmonia bem preparada para o ensaio técnico na Marquês de Sapucaí.
A verde e rosa desfilará como a quarta escola na segunda-feira de Carnaval, em 12 de fevereiro e para o Carnaval de 2024, apresentará o enredo “A Negra Voz do Amanhã”, dos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, explorando a história de vida e a carreira musical de Alcione, destacando sua representatividade negra e feminina, seus sucessos, e a criação da Mangueira do Amanhã, escola mirim da comunidade.
Comissão de frente
A comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias, conduziu uma dança vigorosa, em sintonia com a proposta do enredo. Foi uma performance centrada nas passagens do samba-enredo, incorporando coreografias distintas que refletiam os estilos musicais mencionados, os integrantes pontuavam seus movimentos, destacando algumas partes como no trecho “e vai provar que o samba é primo do jazz”, observavam-se passos mais alinhados com o ritmo norte-americano.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Matheus Olivério e Cintya Santos, reconhecidos como o ‘casal furacão’, realizaram mais uma excelente apresentação. Cintya, com sua energia contagiante, e Matheus, com sua elegância, demonstraram uma dança repleta de sintonia e entrosamento, mantendo a correção nos passos e preservando a tradicionalidade do bailado de um casal de mestre-sala e porta-bandeira durante todo ensaio.
Harmonia
A Estação Primeira de Mangueira impressionou com um canto poderoso em seu último ensaio de rua. Todas as alas entoaram o samba deste ano com vigor, destacando a força que a Mangueira planeja levar para a Avenida em 2024. A dupla de cantores oficiais, Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, brilhou com uma interpretação excepcional, incentivando constantemente os componentes a cantar com ainda mais intensidade. Sem dúvida, serão fundamentais para impulsionar o canto da agremiação no dia do desfile, que vem cada vez mais aprimorado.
Evolução
O ensaio da Estação Primeira de Mangueira seguiu sem correrias aparentes ou espaçamentos indevidos entre as alas. Os componentes demonstraram muita energia, alegria e espontaneidade. Entretanto, é necessário que a coordenação esteja atenta à evolução, pois a primeira parte do desfile parece ser bastante extensa, abrangendo a comissão de frente, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma grande ala coreografada e, por fim, o abre-alas. Vale atenção com o desfile, que pode ficar muito devagar em certo ponto, com a ilusão que a escola possa estar parada.
Samba-Enredo
O desempenho elevado do samba-enredo nos ensaios contradiz a opinião de muitos críticos em relação à obra. A excelente sincronia entre a bateria e o carro de som também se destaca como um diferencial para o rendimento da canção como um todo, seja letra, seja melodia.
“A gente sempre vai avaliando as coisas e sempre falta um pouquinho mais, sempre falta um pouquinho mais, sempre, sempre, sempre. Mas, em um todo foi maravilhoso”, disse Art Samba.
“Para mim foi o ensaio que está lavando a nossa alma, que deixa a gente mais aguerrido para descer domingo lá para Sapucaí e mostrar que sim a Mangueira pode estar na briga para conquistar mais uma estrela. A comunidade está abraçando, está gritando esse samba, então hoje foi um ensaio para lavar a alma, um dos ensaoios que mais a comunidade cantou. Foi um ensaio perfeito hoje e domingo pode esperar um grande show da Estação Primeira da Mangueira”, completou Dowglas Diniz.
Outros destaques
O trabalho da bateria, liderada pelos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, foi fundamental, mantendo o ritmo e a musicalidade nas bossas apresentadas. Destaca-se a paradinha com o tambor de crioula e o uso dos xequerês na bossa do “Ê bumba meu boi…”, proporcionando grande musicalidade ao samba.
“Foi bom, ensaio produtivo, a gente saiu no andamento um pouquinho acelerado hoje, acho que era a euforia já de estar chegando no carnaval e ensaio técnico no domingo, mas a gente conseguiu acertar e foi bom, foi bom para a gente, é bom acontecer isso antes, dar tempo da gente acertar no caminho. Agora é mais tirar a emoção da rapaziada, falar para ele ser mais profissional, ser um pouco frio, porque às vezes a emoção atrapalha a gente na largada, acertando isso está tudo certo. A expectativa para o ensaio técnico na Sapucaí é a melhor possível, acho que a gente está no mais crescente, não só a bateria, como a Mangueira toda, a comunidade está cantando bastante, acredito que domingo a gente vai dar um show lá embaixo na Sapucaí”, afirmou mestre Taranta Neto.
“Gostei muito, no início a gente foi um pouco na emoção, corremos um pouquinho, mas deu para ajustar antes de sair daquela parada que a gente começa a caminhar. Aí chegamos no consenso até aqui e no final a gente já está padronizado ali que entre um 142 e um 144 é o nosso andamento, que encaixou com o samba, e se Deus quiser a gente vai conseguir implantar isso, e chegou a hora, agora não tem mais o que fazer, foram os últimos ajustes e o nosso último ensaio de bateria que a gente ainda tem aqui essa terça-feira, junto com a nossa entrega de fantasia, e se Deus quiser a gente vai trazer esses 40 aí novamente”, garantiu o mestre Rodrigo Explosão.
A nação mangueirense se colocou em peso na rua, ainda que a chuva tivesse deixado a ameaça para cair de fato sobre os componentes e espectadores, ainda que mais fraca que o previsto. Reunidos na Avenida Estação Primeira cada um que colocou seu coração nesta noite foi recompensado pelo carinho e força da Verde e Rosa em plenos pulmões.
Para encerrar, a rainha de bateria da Beija-Flor, Lorena Raíssa, compareceu também ao desfile, esbanjando carisma, tal qual a rainha da bateria, Evelyn Bastos, que foi bem receptiva a rainha da coirmã.