Martinho da Vila, Flávia Oliveira, Neguinho da Beija-Flor, Pinah, Rosa Magalhães, Haroldo da Costa, Leci Brandão, Muniz Sodré e Milton Cunha. Esses são apenas alguns dos nomes de peso que compõem a série documental, Original Globoplay, que estreia nesta quinta-feira, na plataforma de streaming da Globo. Em cinco episódios, disponíveis para maratonar, ‘Enredos da Liberdade – O Grito do Samba Pela Democracia’ aborda, com muita música, pesquisa e poesia, o processo de criação dos sambas-enredo que surgiram nos anos 80, em meio ao contexto de ruptura com o regime militar, que já perdurava por 20 anos no Brasil.
Foto: Divulgação/Globo
A série mostra que o samba, apesar de ter sido vigiado durante os anos de chumbo, consegue eclodir no período da redemocratização, fruto da efervescência de crítica social e do avanço dos debates da luta negra no Brasil e no mundo. Os sambas-enredo, nesse sentido, se afirmaram como uma manifestação cultural que faz desfilar a ideia de uma nova sociedade, reorganizada pela dramaturgia carnavalesca, como afirma o diretor da série, Luis Carlos de Alencar.
“As escolas de samba, a partir dos anos 80, também traduziram, elaboraram e formularam suas críticas sociais e seus próprios projetos de sociedade. Seja algo conjuntural – enredos que falam da censura, da inflação, do FMI, do arrocho salarial -, seja em uma dimensão mais histórica e estrutural – que vai falar do negro na sociedade brasileira, denunciar as agruras da escravatura e do pós-abolição, e também anunciar possibilidades de futuros, lugares que não existem senão como desejo de bem viver e justiça”, declara.
A produção contou com mais de 30 profissionais envolvidos e se desdobrou em 45 dias de filmagens. Cerca de 12 Escolas de Samba foram entrevistadas, totalizando 55 nomes consagrados do Carnaval Carioca, entre eles compositores, intérpretes, passistas, mestres de bateria, carnavalescos, presidentes de agremiações e Velhas Guardas. Somaram-se ainda 31 entrevistados que são especialistas nesta grande festa, na história brasileira da luta pela democracia e na história da resistência negra no país.
Além do uso de imagens raras do acervo da Globo, outro destaque é a trilha sonora, desenvolvida a partir da diversidade musical dos sambas-enredo, sob a batuta do diretor musical Rafael Mike e seus músicos. Todos os episódios terminam com um número musical de um samba memorável regravado, para o qual foram convidados cantores de grande relevância da música popular brasileira, a exemplo de Teresa Cristina, Mart’nália, além de intérpretes reconhecidos e também de novatos no mundo das Escolas de Samba, como Grazi, Vic Tavares, Wantuir, Bico Doce e Analimar.
‘Enredos da Liberdade – O Grito do Samba Pela Democracia’ é uma série documental Original Globoplay de cinco episódios. A direção e argumento são de Luis Carlos de Alencar; a ideia original, argumento e direção de pesquisa são de Rodrigo Reduzino; o roteiro é de Vitã e a produção executiva é de Vladimir Seixas e Camilla Ribeiro, da produtora Couro de Rato.
A série de reportagens ‘De olho nos quesitos‘ se debruça sobre aquele que é o quesito que justifica ser um desfile de escola de samba um grande espetáculo. Quem não se pega embasbacado com uma escultura se movendo como se estivesse viva? Ou com um esmeroso trabalho cenográfico que transforma um chassi de caminhão num autêntico cenário digno de um filme de Hollywood?
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval
Nesta reportagem trazemos o resultado de uma minuciosa análise das notas aplicadas pelos quatro julgadores de alegorias e adereços escolhidos pela Liesa. Todos possuem muita experiência julgando o Grupo Especial. Madson Oliveira julgou os cinco desfiles analisados, Soter Bentes e Walber Freitas avaliaram quatro anos e Fernando Lima está desde 2020.
Mas o que está em julgamento quando uma alegoria passa pela avenida. O quesito é subdividido em dois. Na concepção o jurado avalia a ideia do carnavalesco, a adequação daquela alegoria ou tripé ao enredo, sua beleza estética e na realização aponta eventuais falhas de iluminação, acabamento e se a alegoria de fato está passando na sua frente igual o seu desenho no livro abre-las indica.
As justificativas mais comuns para despontuar uma alegoria em sua imensa maioria trata da parte da realização. Os apontamentos mais comuns pelas justificativas lidas pela equipe do CARNAVALESCO tratam do projeto luminotécnico dos carros, isto é, se passar apagado e o jurado ver é obrigatório o desconto. Além disso os jurados observam com olhos de lince eventuais avarias no acabamento das mesmas e costumam usar binóculos para identificar o que o manual do julgador manda descontar. Dificuldades de leitura (entender a alegoria), volumetria irregular (quando as esculturas estão muito grandes ou muito pequenas), falta de impacto ou criatividade, conjunto irregular (duas alegorias muito bem feitas e as demais capengas) e mecanismos e efeitos sem funcionar, são outros dos motivos bastante apontados pelos julgadores do quesito.
Vila Isabel e Viradouro quase perfeitas. Beija-Flor com somente dois 10
Outrora apontada como a mais opulenta escola da avenida, a Beija-Flor passa por uma crise estética grande nos últimos anos. Apesar do título conquistado em 2018 a Deus da Passarela só recebeu duas notas 10 dos quatro jurados que julgarão este ano, de 2018 pra cá. Foram 16 décimos perdidos em cinco anos. Média de 3,2 décimos a cada desfile. Por outro lado, Vila Isabel (seis décimos) e Viradouro (quatro) são as de melhor desempenho. É forçoso ressaltar, entretanto, que a Viradouro não participou dos cinco desfiles, pois em 2018 figurava na Série Ouro (antiga Série A).
Outras agremiações de grandes torcidas tem perdido muitos décimos em alegorias. Considerando aquelas que desfilaram desde 2018, o Tuiuti é quem mais perdeu, um total de dois pontos; Unidos da Tijuca e Portela perderam 1,8 ponto; Mangueira e Mocidade 1,7 e a Beija-Flor 1,6. A Imperatriz, que em 2020 não estava no Especial, perdeu 1,3 ponto nos quatro desfiles dos quais participou.
Julgador ‘carrasco’ aplica uma nota 10 a cada 13 dadas
Foram dadas 190 notas pelos quatro julgadores de alegorias que estarão na avenida em 2024 avaliando o quesito, de 2018 pra cá. 36% dessas notas foram 10. A discrepância entre as escolas que desfilam no domingo e na segunda fica nítida se comparadas as notas entre elas. 43 dez saíram na segunda (62,3%) e apenas 26 no domingo (37,7%). O dobro.
O jurado Fernando Lima está no corpo de jurados desde 2020. E as escolas sentem calafrios quando Jorge Perlingeiro lê o seu nome na apuração. Ele só deu três notas 10 em seus três anos julgando. Na sua estreia nenhuma escola tirou a nota máxima. Em 2022 apenas uma tirou e ano passado, duas. Isso faz com que ele tenha um índice de 92% de notas abaixo de 10. Um autêntico ‘carrasco’ dos carnavalescos.
Soter Bentes é o mais ‘generoso’. A maioria de suas notas distribuídas é 10. Foram 22 em 38 possíveis, índice de 58%. 64% de suas notas 10 foram dadas para as agremiações que passaram na segunda-feira de carnaval. Visões distintas de um mesmo espetáculo.
Madson Oliveira é o julgador há mais tempo no júri atual de alegorias. Ele costuma pesar a mão também, afinal 40% de suas notas foram apenas 10. Mas ele costuma equilibrar entre as escolas de domingo e segunda. Foram 11 notas máximas para as agremiações da primeira noite e 15 para as da segunda.
Walber Freitas também costuma equilibrar a aplicação de notas 10 entre as duas noites de apresentação. Do júri atual ele é quem tem a menor diferença entre as duas noites. Sete notas 10 no domingo e 11 na segunda, apenas quatro de diferença. Porém ele costuma ser rigoroso no geral. Aplicou apenas 18 notas 10 em 51 possíveis nos quatro anos que julgou, um índice de apenas 35%.
Neste carnaval, o gshow festeja a diversidade da folia, com todas as suas cores, corpos e vozes. Desde a última segunda-feira, o portal de entretenimento da Globo publica a série “Gente é para Brilhar”, que traz ensaios exclusivos com personagens plurais que usam a avenida como espaço de celebração e de luta contra o preconceito.
Fotos: Marcos Serra Lima/Divulgação gshow
Batizado com um dos versos da música ‘Gente’, de Caetano Veloso, o especial terá como protagonistas de seus ensaios anônimos que venceram as dificuldades para se transformar em referência do carnaval, como Alessandra Silva, passista da Grande Rio, que teve o braço amputado por conta de uma intercorrência médica e teve que reaprender várias atividades do seu dia a dia, incluindo o sambar; Paula Bergamin, arquiteta que aos 62 anos é musa da Vila Isabel; e Viviane Assis, musa da Viradouro que coloca em pauta a inclusão das pessoas com nanismo.
“Minha escola me abraçou demais, me apoiou em tudo. Achei que nunca mais fosse sambar. Mas vi que sou querida, quando passo sambando, as pessoas me aplaudem mais e muita coisa aconteceu para mim”, relembra Alessandra sobre sua trajetória.
Já Paula reflete sobre autoaceitação: “o empoderamento é você se aceitar, pagar suas contas, é acrescentar algo ao mundo”. Confira os ensaios completos com entrevistas entre os dias 29 de janeiro e 6 de fevereiro, no gshow.
A Unidos de Vila Isabel realizou seu último ensaio na Boulevard 28 de Setembro durante a noite desta quarta-feira. O clima geral era de celebração pelo trabalho desenvolvido por todos os integrantes da escola até aqui. Já no esquenta, o intérprete Tinga cantou sambas recentes importantes para a agremiação, inclusive os que embalaram os campeonatos de 2006 e 2013. O treino teve início por volta das 22h e, como de costume, já deixou claro a vontade da comunidade pelo tão sonhado quarto título na história. O cortejo foi marcado pela forte harmonia e evolução competente. A bateria de mestre Macaco Branco em conjunto ao time de cantores teve mais uma atuação cheia de energia e qualidade musical. Destaque também para a presença dos bailarinos e coreógrafos da comissão de frente e para a sempre encantadora apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho e Cris Caldas.
Fotos: Rafael Soares/CARNAVALESCO
Pouco antes do ensaio, o presidente da Vila Isabel pediu a palavra e fez um discurso de agradecimento para sua comunidade: “Quero agradecer a cada um de vocês que se dedicaram incansavelmente, semana após semana, nos nossos ensaios. Que se dedicaram no canto, em vir aqui no dia de hoje, debaixo de chuva, debaixo de adversidades. Esse espírito é fundamental para o que a gente almeja alcançar na quarta-feira de cinzas que é o título. Agradecer a todos os departamentos, que são fundamentais para conseguir nosso objetivo. São preponderantes para a gente alcançar a nossa quarta estrela. Agradeço do fundo do meu coração”.
A Vila Isabel levará para a Marquês de Sapucaí a reedição do enredo “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, de autoria do saudoso carnavalesco Oswaldo Jardim em 1993. Neste ano, o carnavalesco Paulo Barros será o responsável pelo trabalho. A branca e azul será a terceira agremiação a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro.
Comissão de frente
Os bailarinos comandados por Alex Neoral e Márcio Jahú realizaram passos bem tranquilos e pareceram ter escondido o jogo de sua apresentação. Eram 10 integrantes vestidos com roupas normais, camisas pretas e calças brancas. Foram feitos alguns movimentos de braços e pernas, além de giros, lembrando crianças. O que mais chamou a atenção foram os momentos em que os dançarinos se agrupavam e se moviam em sincronia, como se fossem apenas um elemento. Certamente, algo bem mais elaborado será apresentado no desfile oficial.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, seguem brilhando em apresentações de muita beleza e encanto. A dupla mostrou uma dança bem tradicional e clássica, com poucos elementos coreográficos. Chamou muito a atenção a segurança com que a dupla executou seus movimentos. Eles combinaram muito bem leveza e energia para mostrar um número de alto nível. Também foi muito belo notar a expressividade do casal, sempre com bastante sorrisos, olhares, interações e conexões.
Samba-enredo
A Vila Isabel escolheu reeditar um clássico samba de sua grandiosa história. De autoria do gênio Martinho da Vila, “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” ainda é muito atual, possuindo alta qualidade de letra e melodia. O enredo é facilmente entendido através da obra musical. Novamente, o samba teve um ótimo rendimento no ensaio de rua, tanto no carro de som, comandado com perfeição pelo intérprete Tinga, quanto no forte canto dos componentes da escola. O desempenho da bateria do mestre Macaco Branco impulsiona ainda mais a obra musical.
Harmonia
A comunidade da Vila Isabel segue dando aula de harmonia. Praticamente todas as alas passaram cantando o samba com muita força, mostrando que está na ponta da língua. Isso acabou produzindo um uníssono, que deixou clara a grande conexão entre componentes e cantores. O ponto alto certamente foi o refrão principal “Gbala é resgatar, salvar/E a criança, esperança de Oxalá/Gbala, resgatar, salvar/A criança é a esperança de Oxalá”. Mas até os trechos mais graves do samba foram bastante entoados pela comunidade, deixando evidente que o trabalho de harmonia da escola está sendo executado com perfeição. A atuação de Tinga e seus cantores de apoio foi exemplar, mais uma vez. Muita potência e sustentação de canto, além de empolgação para energizar os desfilantes.
“Agradeço a Deus pela possibilidade de cantar esse grande samba do mestre Martinho. É sempre uma emoção muito grande. Já cantei ele por muito tempo nos eventos da escola, mas poder desfilar com ele é um sonho realizado. E toda a comunidade está unida, cantando forte, cantando bonito. Tenho certeza que vamos mostrar a força da nossa escola, com a nossa comunidade na avenida, primeiro no ensaio técnico, depois no desfile. Vamos para cima para buscar esse título”, disse o intérprete Tinga.
Evolução
Quesito que se mostrou muito bem defendido pela agremiação no ensaio. Apesar de certa escuridão em trechos da 28 de Setembro, isso não atrapalhou o cortejo, já que nenhum buraco se abriu entre as alas. Nenhum tipo de aceleração ou lentidão foi observado, pois o ritmo foi bem fluido. Muito propício para que os componentes desfilassem com bastante tranquilidade, se preocupando apenas em cantar e brincar. Todos eles mostraram animação e espontaneidade, ressaltadas pelos adereços de mão que algumas alas levaram. Além disso, nenhuma ala coreografada foi vista, o que faz uma escola ainda mais solta.
“Não medimos esforços para mostrar a todos do que a Vila Isabel é capaz. Nossa cabeça está voltada para ganhar o carnaval. Tenho certeza que toda a comunidade também. A gente está com a cabeça erguida e não está com medo de ninguém. Nosso espírito será sempre esse. Temos que entender que a Vila Isabel vai sempre brigar por campeonatos. É com esse espírito que vamos entrar no sábado, no ensaio técnico. E também na segunda-feira de carnaval. Se Deus quiser e tudo der certo, a gente vai alcançar nosso objetivo. Vamos com muita dedicação, com muita humildade, muito trabalho, muita garra e muito amor a esse pavilhão”, declarou o presidente Luiz Guimarães.
Outros destaques
Mais uma atuação de excelência da bateria do mestre Macaco Branco. Os ritmistas mostraram uma cadência muito apropriada para o rendimento do samba-enredo na voz dos cantores e dos componentes. Bossas com muita qualidade musical, bem adaptadas à obra, impulsionando ainda mais seu desempenho.
“Lembro que começamos a ensaiar bem cedo, lá em junho, com a bateria. Um trabalho que foi feito com todos os diretores e com o pessoal da comunidade da Vila. Foi um presente de Deus poder tocar ‘Gbalá’ outra vez, somos apaixonados nesse samba. E ensaiar aqui na 28 de Setembro é sempre muito bom. É como se fosse na avenida mesmo. Dá para ter um parâmetro legal. Agora vamos lá no sábado para mostrar tudo o que estamos fazendo por aqui toda semana. Não só no ensaio técnico, mas no dia do desfile também”, disse o mestre Macaco Branco.
Torcedores da Vila Isabel prepararam uma bela festa para receber os desfilantes na entrada da quadra ao final do ensaio. Muitas bandeiras da escola tremulavam e um grande foguetório marcou o céu, mostrando a confiança e felicidade de todos.
A partir de 3 de fevereiro, a TV Brasil transmite, em parceria com as emissoras da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), uma programação especial de Carnaval com shows e desfiles ao vivo de diversos locais do país. A agenda inclui as transmissões ao vivo da festa em Salvador (BA) e o desfile das escolas campeãs de São Paulo (SP), além de produções próprias.
Vitória (ES)
A programação do especial Carnavais do Brasil começa com a transmissão no sábado (3), a partir das 22h, para todo o país, do Desfile do Grupo Especial de Vitória, no Espírito Santo, em parceria com a TVE ES. Direto do Sambão do Povo, o público vai assistir às apresentações do Andaraí, Mocidade da Praia, Imperatriz do Forte, Independente de São Torquato, Império de Fátima, Unidos de Barreiros e Independente de Eucalipto.
Salvador (BA)
Já na semana do Carnaval, a festa começa na quinta-feira (8), com a folia em Salvador. Em parceria com a TVE Bahia, a TV Brasil traz para o público de casa as apresentações dos circuitos Barra-Ondina, Campo Grande e do Pelourinho. De 8 a 13 de fevereiro, a emissora transmite shows ao vivo dos grandes nomes do Carnaval baiano – mais de 170 atrações musicais e culturais se apresentam nos três circuitos. Na quinta e sexta-feira a partir de 21h, e de sábado a terça a partir das 16h.
São Paulo (SP)
Também no dia 3, a partir das 21h, exclusivamente para São Paulo, a TV Brasil transmite o Desfile das Escolas do Grupo II de Acesso da capital paulista. Passarão pela avenida Unidos de São Miguel, Unidos de São Lucas, Imperatriz da Pauliceia, Amizade Zona Leste, Uirapuru da Mooca, X-9 Paulistana, Camisa 12, Primeira da Cidade Líder, Imperador do Ipiranga, Morro da Casa Verde e Unidos do Peruche. Já no dia 11, é a vez das escolas do Grupo de Acesso I entrarem na avenida, também com transmissão pela TV Brasil, a partir das 20h com Dom Bosco de Itaquera, Torcida Jovem, Nenê de Vila Matilde, Pérola Negra, Colorado do Brás, Unidos de Vila Maria, Estrela do Terceiro Milênio e Mocidade Unida da Mooca.
E para fechar as celebrações da festa paulistana, no dia 17 de fevereiro, sábado, ao vivo para todo o país, a TV Brasil transmite o Desfile das Escolas Campeãs do Grupo Especial, ao vivo direto do Sambódromo do Anhembi.
Rio de Janeiro (RJ)
Nos dias 13 e 16 de fevereiro, exclusivamente para o Rio de Janeiro, a emissora pública transmite o desfile das escolas de samba da Série Prata, direto da Estrada Intendente Magalhães, na Zona Norte carioca. Ao vivo da Passarela do Povo, o público vai conferir aos desfiles das escolas com flashes comandados pelo apresentador Murilo Ribeiro, o Muka. Na terça-feira (13), a partir das 19h e na sexta-feira (16), às 21h.
Oswaldo Cruz
E para fechar as celebrações carnavalescas, no dia 18 (domingo), a TV Brasil exibe o documentário “Estação Osvaldo Cruz”, às 20h30. A produção leva o espectador para um passeio pelo bairro que é o berço do samba carioca, guiado pelo sambista e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz. Há quase 30 anos, ele organiza o Trem do Samba, festa inspirada pelo pioneiro Paulo da Portela, que todo dia 2 de dezembro leva milhares de pessoas às ruas do bairro para celebrar o Dia Nacional do Samba.
Serviço
Desfile do Grupo Especial do Carnaval de Vitória
3 de fevereiro (sábado), às 22h para todo o país
Desfile das Escolas do Grupo de Acesso do Carnaval de São Paulo
3 de fevereiro (sábado), às 21h, exclusivo para São Paulo
11 de fevereiro (domingo), às 20h, para todo o Brasil
Desfile das Campeãs do Carnaval de São Paulo
17 de fevereiro (sábado), às 21h, para todo o país
Carnaval de Salvador
8 e 9 de fevereiro (quinta e sexta-feira), às 21h, para todo o país
10, 11, 12 e 13 de fevereiro (sábado a terça-feira), às 16h, para todo o país
Desfile das Escolas de Samba da Série Prata do Rio de Janeiro (Intendente Magalhães)
13 de fevereiro (terça-feira), às 19h, exclusivo para o Rio de Janeiro
16 de fevereiro (sexta-feira), às 21h, exclusivo para o Rio de Janeiro
Documentário Estação Oswaldo Cruz
18 de fevereiro (domingo), às 20h30
Há poucos dias do começo do carnaval paulistano, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) lançou mais um grande produto. O documentário “Os bastidores do carnaval de São Paulo”, dirigido por Jairo Roizen e Guma Sena, teve pré-estreia no shopping Bourbon, na Zona Oeste da capital paulista, com cobertura in loco do CARNAVALESCO. Pouco antes da exibição da película, o Gerente de Comunicação da instituição (que também é um dos diretores da obra), falou, em entrevista exclusiva, sobre a área e, também, sobre algumas temáticas mais gerais sobre a folia.
De São Paulo para o mundo
Um dos temas mais factuais no carnaval paulistano no pré-carnaval são as reforms estruturais realizadas no Anhembi. Na visão de Jairo, todas elas buscam agradar tanto os fãs dos desfiles quanto quem não é tão próximo, mas tem interesse na folia de Momo: “A Liga-SP tem, cada vez mais, buscado se aproximar do público e das pessoas que ainda não conhecem o carnaval. Isso é evidente nas nossas ações, como no projeto do Esquenta, das transmissões… tivemos coisas muito interessantes esse ano. Tivemos, até mesmo, propaganda na Times Square, em New York, divulgando o carnaval de São Paulo. Vamos ter muita novidade esse ano no Sambódromo, muita mesmo. Teremos um local completamente diferente, com uma roupagem diferente do que foi nos outros anos. Esse ano é um projeto que será aprimorado nas próximas temporadas. Com a reforma do espaço, ficou um pouco difícil fazer do jeito que queríamos; mas, no lado da Marginal, nos setores A, B, C, D e E, teremos um grande boulevard. Os setores serão interligados, não vai ter mais a separação entre as pessoas que comparam um ingresso para o setor E ficar apenas lá: ele pode ir para o setor B, onde está a praça de alimentação – que, nos ensaios técnicos, já funcionou e, para o desfile, será muito melhor. Terá uma circulação nas pessoas. Apenas quando você subir para a arquibancada e assistir o desfile você será setorizado. Essa é uma grande novidade que tornará o evento um grande festival, onde as pessoas chegam um pouco antes para comer e beber bem, encontrar os amigos e, quem sabe, fazer com que isso seja ainda melhor em 2025, interligando todo o Sambódromo”, destacou.
Especialista no assunto na Liga-SP, Jairo aproveitou para falar sobre algumas mudanças ligadas à estética e à iluminação do local e dos arredores: “Teremos uma comunicação visual completamente diferente: na parte de trás, nas arquibancadas da Marginal (a da Olavo Fontoura nós não conseguiremos fazer nesse ano porque teremos uma quantidade muito grande de camarotes, a infraestrutura da Rede Globo, a sala de imprensa…) nós teremos um painel de LED que ficará passando os desfiles para quem estiver no boulevard. Tudo isso para que a gente traga o público mais para perto, para quem pensem que o carnaval é sempre a mesma coisa e que as escolas são todas iguais – e não é, mas quem não conhece, não sabe como funciona. Se você passar pelo outro lado da Marginal, você vê que a iluminação de fora já é diferente, as placas estão iluminadas… o Sambódromo já está com uma vibração diferente”, comemorou.
Sucesso em todos os canais – e sem polêmicas
Ao falar sobre alguns dados que ilustram o êxito da Liga-SP na comunicação e na eficiência dos projetos tocados pela instituição, Jairo deu detalhes sobre a comercialização de ingressos: “Hoje, faltando duas semanas para os desfiles do Grupo Especial, já temos cem por cento dos ingressos para sábado comercalizados e noventa e oito por cento dos ingressos de sexta-feira já comercializados. Isso é histórico. Ano passado, esgotamos os ingressos faltando uma semana para o carnaval – e, para sábado, os ingressos já estão esgotados há mais de vinte dias (ou seja, faltando mais de um mês para o desfile); e, faltando quinze dias para o evento, os ingressos de sexta-feira devem se acabar em um ou dois dias. Essa é a maior prova de que o trabalho está sendo correto, de crescimento”, afirmou.
Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO
Antes de trazer alguns números das redes sociais da entidade, Jairo aproveitou para explicar um slogan que foi muito criticado à época do surgimento: “Quando falamos que somos o maior carnaval do Brasil, não é uma competição. Não somos o melhor carnaval do Brasil, nem queremos isso: queremos que todos os carnavais do Brasil sejam fortes e bons. O carnaval do Rio de Janeiro e de Porto Alegre sendo fortes, o de São Paulo também será. Para nós, é algo muito ruim quando acontece algo como aconteceu no RJ, com um prefeito que não era a favor do carnaval e prejudicar… isso refletiu em SP, também. Os carnavais precisam ser fortes. Mas, quando falamos que é o maior carnaval do Brasil, falamos isso porque a Liga-SP organiza o maior número de entidades – trinta e três escolas de samba, três grupos diferentes, tudo isso no mesmo Sambódromo com a mesma estrutura. Se você for agora no Sambódromo, o maquinário que servirá o Grupo de Acesso II será o mesmo do Grupo Especial. A infra-estrutura é a mesma, a dedicação é a mesma, a qualidade de som é a mesma. Também falamos de carros alegóricos, componentes e transmissões ao vivo: foram cinquenta e cinco que fizemos, isso não existe em lugar algum. Transmitiremos os Grupos de Acesso I e II, as apurações desses grupos. Hoje, através das redes sociais e dos canais da Liga-SP, alcançamos cerca de oitenta milhões de pessoas. E queremos crescer cada vez mais”, vislumbrou.
Outros dados vieram após o agradecimento de Jairo a alguns gestores do carnavla paulistano. “Tive a sorte de pegar um trabalho que já era feito na gestão anterior, e o presidente Sidnei acredita muito na Comunicação – e esse documentário é uma prova disso. O apoio do presidente Paulo Serdan, do presidente Renato Remondini, o Tomate – que assumiu a vice-presidência. Fico até impressionado, é difícil eu ouvir um ‘não’ deles. A ideia que eu levo eles me apoiam. Eles, também, investem na Comunicação. Espero que, daqui um ano, tenhamos ainda mais novidades e ações que repercutiram para que a gente possa aumentar tudo isso. Quem sabe, no ano que vem, teremos o doce problema de saber como colocar mais gente no Sambódromo – algo que já fizemos nesse ano, tirando cadeiras e mesas de pista. No Setor A, por exemplo, eram duzentas e cinquenta pessoas; nesse ano, serão oitocentas. Isso democratiza e populariza o carnaval, faz com que mais pessoas tenham acesso à festa e ao Sambódromo. Isso favorece a cultura e as escolas de samba”, pontuou.
Regulamento em pauta
Grande assunto do ciclo carnavalesco na cidade de São Paulo, o novo regulamento também foi tema da entrevista com o Gerente de Comunicação da Liga-SP. E Jairo é enfático ao dizer que os novos balizamentos fazem parte de um projeto que era solicitado por muitos: “O regulamento precisava de uma mexida. Não só nele, mas na maneira de se pensar o campeonato do carnaval de São Paulo. Isso vai acontecer esse ano, sem dúvida. Lógico que não dá para fazer uma mudança radical de uma hora para a outra, mudar tudo e torná-lo subjetivo – até porque não é esse o caminho. Mas existem algumas mudanças que vão refletir bastante no resultado do carnaval desse ano, refletinho no trabalho das escolas – e os ensaios técnicos já mostraram isso. Era uma mudança que o público pedia, as escolas pediam e a Liga-SP ouviu os sambistas. As pessoas têm uma mania de achar que a Liga-SP é um ser superior, mas nós somos apenas as escolas de samba – e nós ouvimos todas elas. Para falar do quesito samba-enredo, chamamos os compositores para desenhar o regulamento junto com a gente; para casal de mestre-sala e porta-bandeira, os casais; comissão de frente, os coreógrafos. E assim por diante. Se vai dar certo, se vamos estar ou não no mundo ideal ou não, só saberemos depois do carnaval. Mudamos, mexemos e enxergamos que, para o carnaval continuar crescendo, mudanças precisavam ser feitas”, refletiu.
Módulos novos
Desde 1998, as cabines de jurados do Anhembi se tornaram um dos grandes ícones do Sambódromo paulistano. No final de 2023, entretanto, elas deixaram de existir. Todas foram substituídas por módulos metálicos onde ficarão os julgadores – serão quatro em 2024. Para Jairo, a história deixada por elas foi marcante, mas, de fato, deveria ser encerrada: “Na minha opinião particular e em uma opinião que foi falada na Liga-SP (já que o presidente Sidnei ouviu muitas pessoas até da Velha Guarda, e o mandatário frequentemente se aconselha com eles), aquelas cabines de jurados que existiam antes, há muito tempo, achávamos que não era ideal, não era confortável, a visão não era boa… era obsoleta. A gente exige muito do jurado e entrega muito pouco para eles. A primeira decisão foi tirá-las. Os módulos atuais são projetos pilotos: para 2025, teremos que readaptar, repensar os camarotes para ter os módulos conversando com eles, teremos que repensar a posição para não atrapalhar as arquibancadas. Tudo isso nós fomos descobrindo conforme o processo foi acontecendo. Divide opiniões e vai dividir mesmo, já que todas as mudanças fazem isso”, conformou-se.
Os locais novos, entretanto, possuem uma característica única – e que deve ser exaltada, de acordo com o dirigente “O mais legal e importante, que as pessoas não se atentaram ainda, é que, pela primeira vez, o carnaval no Sambódromo do Anhembi, será julgado em todos os ângulos. Temos jurados que estão a quatro metros de altura, outros mais altos, uns mais em cima… vai ter um jurado de Alegoria que verá a saia, outro verá o teto e a iluminação; na Evolução, um verá tudo mais focado, e outro verá a avenida inteira, acompanhando a escola inteira. Teremos visões diferentes de um mesmo desfile. Isso vai impactar nas notas, no resultado e, na minha opinião, vai fazer com que a gente tenha um julgamento mais completo do carnaval. Se vai dar certo e se vai acontecer o que nós pensamos, só saberemos depois do desfile. É um processo de amadurecimento que, nos próximos anos, terá que ser aprimorado. O primeiro passo foi dado e, no dia da apuração, teremos um evento com todos entendendo muito mais o que o jurado quer dizer, com menos questionamentos, pois teremos ângulos e possibilidades diferentes de se julgar certo. Espero que dê certo e que, em 2025, só tenha que ajustar para continuar fazendo um julgamento e um critério cada vez melhor para que o carnaval de São Paulo cresça cada vez mais”, finalizou.
A Independente Tricolor é uma escola jovem e que vai para o segundo ano consecutivo no Grupo Especial pela primeira vez na sua história, é a terceira participação no grupo principal do carnaval de São Paulo. Para esse momento especial, escolheu um enredo afro, o que não é tão comum na escola, cantará “Agojie, a Lâmina da Liberdade!”. Será a quarta escola a desfilar na sexta-feira, dia 9 de fevereiro, também primeira vez que não abrirá um dia de desfile.
Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO
Na visita ao barracão da Independente Tricolor, o carnavalesco Amauri Santos que vai para o terceiro carnaval consecutivo defendendo as cores da agremiação vermelha, branca e preta. Em conversa com o site CARNAVALESCO contou como surgiu o enredo e outros detalhes em toda a preparação da escola refundada em 2010.
De onde surgiu o tema Agojie?
“Então na verdade o enredo surgiu pelo presidente, né, meu terceiro ano consecutivo na escola. O presidente pediu um enredo africano, né? No Carnaval passado, ele tinha um enredo Tróia que ele sonhava em fazer. Aí esse ano ele pediu enredo africano, mas com algumas ponderações, que não fosse muito para o lado religioso somente e que não fosse mais uma vez o enredo com sofrimento, falando muito de escravidão. Eu apresentei algumas coisas para ele, algumas ideias e quando apresentei esse é ele o curtiu gostou. Por conta disso, acredito eu né? Como eu falo sempre para minha surpresa, o enredo é em homenagem a mulher, a mulher preta, em uma escola oriunda de torcida essa coisa aguerrida. Acredito que o fato de falar um pouquinho também de mulheres guerreiras tenha contribuído para que ele aceitasse esse enredo. Então dentro dessa pesquisa, encontrei as Ahosi, o único exército de mulheres do mundo que existiu do século 17 ao século 19”.
Ponto alto
Um tema que os carnavalescos sempre pensam bem antes de dizer é sobre aquele momento que mais destacam dentro do trabalho deles… Realmente, não é fácil, e o Amauri Santos trouxe dois momentos para nos atentarmos um pouco mais no desfile da Independente.
“O enredo é bastante reto, porém dou uma ênfase maior a nossa abertura, sabe? Vai ter uma abertura dessa coisa mística. A abertura e o fechamento porque é totalmente distante uma coisa da outra, totalmente oposto, porque é muito ancestral a nossa primeira alegoria, uma coisa de ancestralidade e a última é totalmente futurista. Então assim eu acredito que os pontos altos do nosso desfile, apesar de ser equilibrado, vai ser a abertura, acredito nessa abertura muito forte, muito bonita plasticamente. E o final do nosso desfile, o encerramento”.
Questões visuais nas alegorias e cores da escola na avenida
A Independente Tricolor tem as tradicionais cores vermelho, branco e preto, mas não fica somente nelas. Ainda mais com o tema afro que está por vir, Amauri programa uma mistura de cores de acordo com o setor e o que é contado.
“É da forma que eu falei que tem de alegoria que são variadas, quem olha a primeira alegoria e olha a última não parece a mesma escola, então é uma evolução. Assim também é em relação à fantasia, trazemos um pouquinho mais da África mesmo. Já é mais conhecida e tem um diferencial assim, porque apesar de ser um enredo feminino se eu fosse buscar só sairia fantasia feminina, né? A gente só fala de mulher o tempo todo. Então eu fui pegando a personalidade também de cada uma delas, de cada uma dessas personagens. Mas em relação a cores, explorei um bocado a cor da escola, tem bastante vermelho, preto e branco, porém tem também o momento da palha, tem um momento de um colorido africano, eu acho que a escola tá uma África alegre, tá uma África feliz”.
Em relação às estruturas das alegorias e como virá a Independente neste quesito, o carnavalesco da agremiação da Zona Norte, ressaltou: “Totalmente mudanças, por mais que a gente, por exemplo, no do acesso para o especial mantivemos algumas estruturas muito visíveis. Mas era um momento também de se reestruturar e se igualar no especial. Agora pelo resultado que nós tivemos, deu uma segurança a mais para escola pensar ‘poxa eu tenho condições de ficar’. Então vamos ousar um pouquinho mais, por mais que reaproveitei algumas coisas de estrutura, mas foi 100% de escultura feita. Nosso abre-alas tem 52 esculturas. Então foram bastante esculturas, reaproveitamos alguma coisa sempre de ferragem, mas modificando. Esse ano tá totalmente cara nova”.
Relação com escola e como chega para 2024
Se em 2023, a Independente estava com o espírito de superação depois de tudo que aconteceu com a escola, para 2024 é outro clima com mais leveza e maior liberdade como disse Amauri: “Com a maior liberdade assim, sempre quem interfere mais às vezes, né de dar uma opinião ou outra mais alegoria e sempre positiva é o presidente. Porém assim tudo que foi feito de criação, geralmente quando eu crio já apresento o porquê para a escola, então para não haver dúvida. Porque a gente tem uma diretoria, eu acho que é feita em conjunto, então para não ter dúvidas, já vou apresentando, mas foi muito bem aceito o desenvolver do enredo”.
“A permanência aí de forma bacana, que foi no Grupo Especial, deu um pouco mais de gás. A escola, de estrutura, permanece basicamente a mesma. E buscando o máximo como a gente fala, hoje somos uma escola técnica. Busca o máximo a técnica e a diretoria, o presidente, a nossa direção de carnaval está buscando sempre isso. Então de estrutura, é basicamente a mesma do carnaval passado, mas talvez mais madura, mais entrosada. Já sabendo um pouquinho mais dos caminhos a trilhar”.
As novidades, uma ala somente de mulheres pretas
“Foram duas exigências, dois pedidos que eu fiz, foi numa ala, a ala 7 que é um exército e eu pedi uma mulher preta à frente, desse exército e também uma ala para representar as Agojies, uma ala de mulher preta. Então essa é mais uma surpresa que vai ser uma ala somente de mulheres pretas, até para selecionar, né? A escola tem muito branco então, é uma ala nova, e aí e cria-se um pouquinho uma dificuldade, mas vai ser bem bacana, a gente precisava de uma ala assim”, e complementou: “Vem uma espada, vem uma guerreira”, sem dar detalhes sobre, nos ensaios técnicos elas já estão vindo com algumas características, e chama atenção.
Elogio ao samba e meta da Independente
No espaço livre deixado nas entrevistas com o carnavalesco, o artista Amauri resolveu elogiar a obra criada por Maradona, André Diniz, Evandro Bocão e Chitão, que é o intérprete da escola. Ressaltou o quanto o samba foi importante e ajudou no seu trabalho. Também comentou sobre a disputa da Independente no segundo ano consecutivo no Grupo Especial.
“Em relação ao samba, né? Eu considero pelo menos dos últimos tempos aí, eu considero que um dos melhores sambas que eu trabalho, para o meu trabalho. Maradona, André Diniz, acertaram a mão, tá perfeito para o desfile. Então assim é um samba muito bom, a quadra cantando, a quadra aceitou o samba. Tem algumas palavrinhas ali mais difíceis, mas que dão molho. Desde o início quando o André Diniz conversou comigo, falou ‘Amauri isso é uma tendência e depois que a pessoa aprende, isso fica forte no samba’. Não deu outra a quadra aprendeu a cantar o samba, tá cantando forte, a nossa luta agora né? Como a luta era para humildemente permanecer no grupo e conseguimos o sétimo lugar, a nossa luta hoje é pra ficar entre as cinco”.
Conheça o desfile
Setor 1: “Mas aí eu fui buscar um pouco mais, de onde vinha essa força feminina, essa força da mulher preta. Aí a gente dividiu o enredo em quatro momentos, né? Acaba sendo uma evolução, eu comecei falar da ancestralidade buscar lá nas mães ancestrais uma coisa um pouco mais mística nas mães ancestrais, e esse domínio sobre o nascer ou não nascer, sobre a vida e a morte, sobre o bem e o mal, então já essa força feminina. Falo do continente também como sendo um continente feminino, porque o enredo, coloco continente Africano. Eu tô chamando de Mama África, já começa por aí, que deu à luz a tantas mulheres fortes. Então vou nessa nossa ancestralidade no primeiro momento”.
Setores 2 e 3: “No segundo momento do nosso desfile entro nas candaces, essas rainhas guerreiras que lutaram a frente do seu povo. Que tinha uma voz na sociedade, no seu reino ou como fosse, e venho fazendo essa homenagem as candaces e a última Candace que eu falo nesse setor é a Agontimé que ela atravessa para um outro setor que é onde vai dar início a essas mulheres essas guerreiras que são as Agojies. A Agontimé, na verdade, foi mãe do rei Guezô. Ela foi levada para Daomé, e o Rei Guezô, foi o rei que mais deu moral a essa exército. Mas o maior momento deste exército foi com o reinado do do Guezô. Então isso fala um pouco do treinamento, fala dessa luta feminina, essa resistência, que elas resistiram a várias investidas dos europeus principalmente dos Franceses e rolava essa troca. Eles internamente se sequestravam e entregavam o seu próprio povo para os europeus em troca de armamentos, de pólvora e de álcool, então rolava muito isso. E elas resistiram a alguns impérios vizinhos mesmo com os armamentos mais pesados, com cavalaria e elas conseguiam resistir só que houve um momento que os franceses com auxílio de outros países conseguiram derrotá-las. Falamos que foi a última batalha, elas foram extintas, porém ficou legado”.
Setor 4: “Onde passamos esse último setor ficou legado que elas mesmo extintas ficou legado para as mulheres de hoje que se empoderam, que lutam pela sua liberdade, pela liberdade do seu povo e que é um momento acho que de falar um pouco disso. E deixamos uma mensagem de futuro, que essa força feminina, nunca se perca, né? Eu acho que justamente chegou até aqui e tá vivendo esse momento bom para isso, de mostrar a cara, mostrar a sua vontade, a sua liberdade e que isso não se perca daqui pra frente. Então nosso enredo vai se transformando… Começa numa coisa ancestral. Passa ali um pouquinho até pelo Egito e entra nas nossas guerreiras, nas Agojies, deixamos essa mensagem de presente futuro que não pode se perder”.
Ficha técnica:
Alegorias: quatro (quatro setores)
Componentes: 1.580
Alas: 20
Diretor de barracão: Emerson Branco
O carnaval está se aproximando e todos os caminhos levam cariocas e apaixonados pela folia direto para a Marquês de Sapucaí. Esse ano a festa ganha um tom ainda mais especial. A Band será a responsável por abrir os desfiles das escolas de samba no sambódromo, que completa agora, em 2024, 40 anos de idade. A responsabilidade, é claro, vem acompanhada da credibilidade do jornalismo. Os apresentadores JP Vergueiro e Thaís Dias irão comandar as transmissões, a partir das 20h30 de sexta-feira, dia 09.
Foto: Divulgação
“Que responsabilidade, felicidade e prazer enormes! Eu, aos 40 anos, apresentando a festa mais popular do mundo, no ano em que a Marquês de Sapucaí também completa 40 anos. O que eu posso garantir é que tanto na sexta, quanto no sábado, o público vai se emocionar, se divertir e se informar duranteas apresentações das 16 escolas da Série Ouro que vão cruzar a avenida”, afirma Thaís Dias, apresentadora do Band Folia.
Somando os dois dias de desfiles, sexta e sábado, serão mais de 20 horas, ao vivo, com comentários de Aydano André Motta, Bruno Chateaubriand e Rafaela Bastos. O tradicional “esquenta”, que levanta o público na Sapucaí e já é marca registrada da Band, também estará presente no ar.
Pela avenida, repórteres estarão espalhados para que o telespectador não perca nenhum detalhe e mergulhe nas histórias que ajudam a colocar de pé o maior espetáculo da terra. Uma das novidades desse ano será a presença do entretenimento, que contará com participações especiais de Amin Khader e Wic Tavares.
“Essa mistura de informação do jornalismo, com a diversão do entretenimento e o timaço de comentaristas vai dar o que falar. Tudo isso vai ser contado ali, retratado no ar com o jeito Band de fazer”, comenta JP Vergueiro, apresentador do Band Folia.
Pelo segundo ano consecutivo, a Band marca presença na avenida com um glass estúdio posicionado estrategicamente. Além da cobertura ao vivo dos desfiles, o espaço será palco para edições especiais dos programas “Brasil Urgente Rio” e “Jornal do Rio”, que trarão notícias ao vivo da Sapucaí.
O público poderá acompanhar a transmissão na TV aberta, no Bandplay, no Band.com.br e nas rádios.
O culto de Ifá estará presente no carnaval de 2024 através do desfile dos Acadêmicos do Tucuruvi. A amizade entre Exu e Orunmilá será o fio-condutor da história que passará pela criação do mundo na crença iorubá, os lugares onde Ifá se estabeleceu e o clamor pelo respeito e tolerância entre os povos. A série “Barracões” do site CARNAVALESCO esteve na Fábrica do Samba para conhecer mais a respeito do processo de construção do enredo assinado pelos carnavalescos Dione Leite Yago Duarte.
Inspiração para o enredo: a ideia por trás de falar de Ifá
A Tucuruvi já havia abordado a África em um contexto geográfico no passado, mas será a primeira vez em sua história que a escola levará para a Avenida um enredo de cunho religioso africano. Dione Leite falou a respeito dessa experiência que é inédita não apenas para a comunidade da Cantareira, como também para o próprio carnavalesco e o impacto que o contato com Ifá teve em sua vida.
Fotos: Lucas Sampaio/CARNAVALESCO
“A Tucuruvi, pela primeira vez, traz um enredo de cunho religioso africano, sobre a ancestralidade africana. Ela nunca tinha tratado de nenhum tema específico de matriz africana, e esse é o primeiro carnaval da escola. Interessante, além da escola, que é o meu primeiro e o primeiro do Yago também, então nós estamos todos debutando no mesmo ano em fazer uma temática que tanto queria fazer. Quando surgiu o Ifá, há alguns anos, o Rodrigo, nosso vice-presidente e diretor de carnaval, se iniciou em Ifá e na época ele nos falou o que poderia ser falado, mas era bem próximo ao carnaval, não se tinha muito tempo. Quando foi janeiro do ano passado, antes de levar Bezerra da Silva para a Avenida, aqui nessa sala a gente estava conversando e já se falava do próximo desfile. O Rodrigo falou: ‘bom, ano que vem nós podemos trazer um enredo africano para a Avenida, só que a África que a gente queria tanto’, e aí vem a proposta. Quando passa o carnaval o Rodrigo falou: ‘óh, já tem um caminho. Vamos falar de Ifá’, e para a gente foi, de verdade, falo por mim, um dos maiores presentes nas nossas vidas, e eu acho que para a escola também. Não menosprezando nada que passou, que faz parte hoje já do rol de grandes enredos do Tucuruvi, mas com certeza nada maior, nada mais intenso, nada mais profundo, cultural e filosófico do que Ifá. É muito abrangente, e por incrível que pareça é sobre pessoas, é sobre seus comportamentos, é sobre suas vidas pessoais, e Ifá nos traz isso. A gente ganha de presente esse enredo maravilhoso que tem mudado a vida da gente muito”, declarou.
Aas pesquisas de desenvolvimento do enredo proporcionaram um efeito transformador na vida dos carnavalescos. Yago Duarte falou a respeito do que sentiu ao longo do processo.
“A maior transformação que eu passei esse ano, ao desenvolver esse projeto junto com o Dione é interna. É sentir uma fé que eu não sentia há muito tempo, é sentir uma energia que eu não sentia há muito tempo. Tem uns lapsos de criatividade e de pensamentos que eu não tinha há muito tempo, então esse projeto tem sido inacreditável do nosso ponto de vista pessoal e profissional também. É um enredo que nos trouxe muita energia diferente. Está tudo muito diferente com a gente desde o primeiro rascunho de desenho, desde a arte do enredo, desde a primeira pesquisa, desde a primeira palavra dos livros que a gente leu. Tudo tem tido um valor emocional muito grande para a gente, e temos sentido muito a fé também até pelo privilégio que nós tivemos de conhecer de perto Ifá. Isso tem sido muito transformador na criação e desenvolvimento desse carnaval”, afirmou.
Processo de desenvolvimento: a permissão de Ifá para contar sua história
O culto de Ifá envolve ritos sagrados aos quais os não-iniciados não costumam ter acesso, e para abordá-los os carnavalescos precisaram de uma permissão especial vinda diretamente de Ifá através de Pai Maurício, babalaô e principal mentor por trás do desenvolvimento do enredo. O contato com a autoridade religiosa se revelou mais que especial para Dione Leite.
“No início do enredo nós tivemos não só participação, mas o trabalho junto e que trabalha até hoje com a gente do Vinícius Natal, que veio do Rio de Janeiro. O Rodrigo traz o Vinícius para a escola como uma ferramenta muito importante de pesquisa. Mas quando nós vamos, Rodrigo nos apresenta ao Babalaô Pai Maurício, que é chefe na Nigéria e Pai de Rodrigo. Quando Rodrigo nos apresenta a ele e nos leva até a casa do Pai Maurício, a gente tem uma noção real do que era Ifá. Sabíamos que teríamos uma mentoria, mas não esperávamos que essa mentoria seria algo tão intenso. Nós tivemos permissão para conhecer Ifá de perto porque Ifá, o rito, é fechado, ele é muito sagrado. Nós tivemos acesso, com permissão de Ifá, a conhecer alguns lugares onde pessoas que não são iniciadas não entram para que a gente pudesse saber como mostrar isso na Avenida. A figura do Pai Maurício, desse mentor incrível, maravilhoso, é que o Pai ele nos assessora e nos guia, dentro desse caminho junto do Rodrigo, a levar o enredo a um lugar seguro. Yago está falando uma verdade, que quando nós começamos a pesquisa e a ler Ifá ele criava tantas ramificações, se expandia tanto na nossa mente que ficava difícil de você conseguir localizar, de conseguir se concentrar. Para entrar num lugar, para criar um desfile plástico de uma escola de samba, para que tenha um samba de enredo, um filme todo, tudo que se precisa ter da sinopse, se você não tiver com a mão certa você pode levar para outro lado o que não desejar. Mas desde o início Rodrigo tinha enfatizado muito o que ele esperava do enredo, que era deixar uma semente plantada em cada pessoa e mostrar essa filosofia ao mundo para ajudar a propagar Ifá, que era algo que ele tinha prometido pessoalmente na iniciação dele, que um dia ele iria mostrar o quanto Ifá era bom porque tinha sido bom para ele”, relatou.
Falar diretamente de Ifá é uma novidade no carnaval como um todo. Para que essa história pudesse ser contada na Avenida não foi apenas necessário pedir a permissão para tal na cidade mais antiga do mundo de acordo com a crença iorubá, como também a linha narrativa do enredo gira em torno de um pedido feito por Ifá.
“Nosso enredo foi consultado lá em Ile-Ifé, na Nigéria, onde está Ifá hoje. Foi consultado lá, pelo pai Maurício, junto ao babá nigeriano, que hoje é o grande Akodá, o terceiro homem do Arabá, a terceira pessoa mais importante dentro do processo de Ifá na Nigéria e no mundo, um dos conselheiros pessoais da eminência. Quando eles fazem a consulta, Ifá nos dá permissão de poder trabalhar esse enredo. Até então, nunca tinha sido tratado só sobre Ifá no carnaval. É a primeira vez no carnaval que alguém vai falar sobre Ifá. Ifá apareceu em vários enredos como passagens, mas não um enredo específico somente dele. Ainda tem um pedido que nós mostrássemos Exu e Orunmilá e essa amizade deles, e por isso que quem conta a história do nosso enredo é Exu afinal nada melhor do que um amigo falar do outro. Mostra também muito a questão de que esse Exu, diferente do Exu brasileiro, do Exu catiço, que é tão demonizado pela sociedade, que não é nada de demônio porque isso é só no Brasil. Na Europa e em outros lugares o Exu é uma energia vital, uma energia que movimenta, é a energia da abundância, é a energia da prosperidade, dos caminhos abertos. Todos nós carregamos Exu dentro de nós porque essa vitalidade que nós temos, a nossa força é Exu, para entender essa energia de Exu. Não tem como nós carregarmos um demônio, por isso que durante muito tempo se tentou mudar essa imagem. Hoje um dos papéis importantes do Tucuruvi é tirar essa imagem, mostrar que o Exu iorubano é um ser divino, sagrado, uma divindade extremamente potente capaz de mover tudo e capaz de mudar tudo à sua volta. Então esse é o grande papel que Ifá está trazendo para nós. Ifá, que é o dono do destino, que é aquele que traça o nosso destino. Mas só para ver, sem Exu em Ifá nós não teríamos o caminho para chegar. Exu é tão importante no processo todo, principalmente dentro de Ifá, porque sempre quando se vai realizar um ebó em Ifá, quando eu tenho que fazer algo no jogo, primeiro eu preciso sempre alimentar Exu, que é a boca que tudo come, para depois poder alimentar qualquer outra situação na minha vida. E é assim que é o Tucuruvi, ele abre com o Exu e ele fecha esse desfile com o Exu”, contou.
Setor a setor: a representação de Ifá no desfile da Tucuruvi
A Tucuruvi levará ao Sambódromo do Anhembi um desfile dividido em cinco setores, explicados em detalhes por Yago Duarte. O primeiro segmento, representado na comissão de frente da escola, abordará a criação do mundo através da cosmogonia urbana.
“A gente iniciou o desfile com a criação do mundo, quando nada existia, porém já havia a presença de Exu e Olodumarê, então de toda essa inquietação surgiu a luz e surgiu a humanidade. Surgiu o universo, os planetas, surgiu tudo que a gente conhece hoje em dia. Então a nossa abertura de desfile é a criação do universo, a participação de Exu, Olodumarê e Orunmilá”, explicou.
O segundo setor do desfile apresentará os elementos de Ifá passando por Ile-Ifé, na Nigéria, considerada pela crença iorubá a cidade mais antiga do mundo. De acordo com o dialeto africano, “Ylè” significa casa, portanto Ile-Ifé seria o primeiro lugar que a humanidade chamou de lar.
“A gente vem conhecer os elementos de Ifá, os elementos sagrados de Ifá, que fazem parte dessa filosofia, dessa religião. As insígnias que são os Odus, a gente conhece ali os grafismos, conhece as texturas, as cores. A gente passa por Ile-Ifé, de onde vem todos os fundamentos, de onde nasceu uma das vertentes de Ifá, de onde surgiram os seres humanos. Ile-Ifé é considerada a primeira cidade segundo os iorubás, a primeira cidade da humanidade. Então a gente passa pelos fundamentos de Ifá saindo de Ile-Ifé.”
O terceiro setor mostra o momento em que Ifá sai da Nigéria e se espalha pelo mundo através de uma das fases mais cruéis da história: a diáspora africana. Quando os povos africanos foram escravizados e enviados à força para diferentes lugares do mundo. A crença em Ifá resistiu aos navios negreiros e se espalhou principalmente pelas Américas, onde formaram-se diferentes “Iles”.
“Passamos ali pela diáspora africana, de onde todos os saberes, toda a fé e energia resistiram a esse processo tão doloroso que foi a saída de lá, a vinda dos escravos para as Américas, e foi a forma que Ifá chegou até aqui. Ifá resistiu a esse processo doloroso, e depois que chegou nas Américas foi parar em Cuba, foi parar no Haiti, veio parar no Brasil.”
O quarto setor é o Ile-Brasil, a morada estabelecida por Ifá no país em Salvador e o encontro de Ifá com os elementos naturais brasileiros.
“Quando chegou no Brasil, Ifá encontrou uma terra que era muito parecida com aquela de onde ele tinha saído, então imediatamente ele se identificou e a gente fala dessa identificação com os quatro elementos. Ifá encontrou os quatro elementos vitais para que ele pudesse estabelecer a sua nova morada. Ifá saiu de Ile-Ifé e veio para o Ile-Brasil”.
O desfile do Tucuruvi se encerra no quinto setor, onde a escola convida a todos a repensar sobre a questão da intolerância e falar de tolerância com amor. Essa é a grande mensagem que Exu e Orunmilá deixarão para o público que assistir ao desfile da escola
“Finalizamos o desfile com a mensagem de paz, de esperança, de união de todos os povos, de respeito, de tolerância, de que Exu pode nos levar a todos os lugares, de que Exu é um ser benevolente e que a amizade dele com Orunmilá foi primordial para que Ifá pudesse se estabelecer nos quatro pontos do mundo, e que cuidar da nossa vida espiritual é primordial para que a gente possa ser uma pessoa boa. É isso que Exu prega para as nossas vidas, e a gente termina o desfile com essa mensagem de tolerância e de que se todos nós nos unirmos, a gente consegue ser feliz, a gente pode ser feliz, a gente pode conquistar tudo aquilo que está no nosso destino”, concluiu Yago.
Dione detalhou a respeito de como a abordagem pedida por Ifá dos diferentes elementos do culto e as orientações recebidas ao longo do processo influenciaram o desenvolvimento do enredo.
“Quando é consultado Ifá para saber se poderia fazer o desfile, se poderia falar dele, Ifá se manifesta através do Aponga e diz que nós deveríamos mostrar ao mundo a amizade de Exu e Orunmilá. A gente tem a presença de Exu muito latente em um desfile junto a Orunmilá para a construção tanto da narrativa quanto da construção visual. Eles abrem e fecham o desfile de maneira muito simbólica para que as pessoas possam ter esse entendimento. Sobre os fundamentos eles são muito fechados, são lugares que pessoas que não são iniciadas não têm acesso, então a gente até preferiu não expor porque não era cabível, mas nós tivemos a mentoria e orientação de como mostrar isso dentro da Avenida de outras formas. Por exemplo, a gente traz para o desfile uma pedra de yangui, que representa Exu, é a pedra de Exu. A gente tem elementos diferentes dentro da construção narrativa. Muita gente sabe o que é a pedra de yangui, mas a gente tenta trazer ela para o desfile de uma forma diferente, além de outras ações que vão acontecer durante o desfile, que são ações muito importantes que começam a mostrar para as pessoas. Por exemplo, como que um babalaô educa os seus filhos, os seus iniciados, e outras tantas situações que têm. Esse segredo é bom para deixar curioso”, disse.
Lições que a Tucuruvi anseia em transmitir
“Que Exu é bom. Que Exu nos dá caminho. Que Exu é bom e que ninguém pode ter dúvida disso. Ele não faz maldade. Ele é bom.”
Com essa simples afirmação, Yago Duarte define a mensagem que espera que o público absorva após o fechar dos portões do desfile da Tucuruvi. Dione Leite aproveitou para falar sobre como a escola está vivendo a experiência de falar de Ifá no carnaval de 2024.
“É uma semente. Ganhar o carnaval é uma consequência de um trabalho ser bem-feito. Ponto. É óbvio, mais do que nunca, a energia que hoje rodeia o Tucuruvi, a energia que rodeia a nossa quadra, os nossos componentes, o poder do samba de enredo. O samba é extremamente poderoso, ele é avassalador dentro da quadra. Um samba que vem crescendo a cada ensaio absurdamente. Mas sabe aquele negócio de você passar e você saber que a pessoa vai ter a curiosidade de saber o que é isso? Quando você se inicia em Ifá, você desperta para uma nova vida. É como se você matasse um velho homem para renascer um novo homem. Um novo homem disposto à harmonia porque Ifá ele é harmônico, Ifá só está sob a harmonia. Se uma das peças da tua vida, uma engrenagem, não estiver em harmonia com as outras, Ifá tem esse poder de ir lá e organizar para que você tenha uma vida abundante, tenha uma vida próspera em todas as áreas. Quando a gente fala em abundância e prosperidade, parece que é só dinheiro, mas não, é muito além. Tem outras coisas que envolvem o ser humano”, afirmou.
“Eu quero até complementar a fala do Dione de que as pessoas confundem prosperidade com poder aquisitivo, e não é isso. O que a gente prega é que prosperidade é ter uma vida espiritual boa, é ser feliz. A prosperidade não depende do quanto de dinheiro você tem, ser próspero não é isso”, completou Yago.
Por fim, Dione e Yago manifestaram a satisfação de levarem o culto de Ifá para a Avenida no desfile dos Acadêmicos do Tucuruvi em 2024.
“Eu tive um relato do Pai Maurício essa semana, nosso babalaô maravilhoso, que falou bem assim. Quem se inicia em Ifá, quando acorda de manhã, ele dá bom dia, mas não da boca para fora. É porque ele vai ter um bom dia. Quem se inicia em Ifá, quando olha uma cadeira fora do lugar, ele não vai chutar a cadeira. Ele vai olhar, pensar, pegar aquela cadeira e colocar no lugar. Ifá é essa harmonização. Que a gente possa, na manhã do domingo de carnaval, despertar para uma nova vida, despertar para uma nova consciência de vida e que a gente possa olhar o céu e dar um bom dia diferente de todos os outros que a gente viveu. Acho que aí a Tucuruvi cumpriu o seu papel com Exu e Ifá, essas duas divindades tão espetaculares que a gente está tendo a oportunidade de conhecer, de se familiarizar e de respeitar mais ainda. E já de antemão quero agradecer por todo o caminho até aqui. Parece clichê isso e acho que todos os anos a gente meio que fala a mesma coisa, mas de verdade, eu não tenho uma mensagem que eu não troque com o Rodrigo quando está falando de carnaval, de alguma coisa que deu certo, que eu digo pra ele. Gratidão por me permitir viver isso, Rodrigo. Porque, de verdade, eu não esperava. Eu achei que iria me aposentar sem isso. Hoje, eu estou muito feliz. Muito, muito, muito, muito. A gente está em janeiro, está cansado, mas não é um cansaço mental. As pessoas falam para mim: ‘pô, eu não vejo a hora disso acabar’. Não, eu não vejo a hora disso ir lá. Eu nunca quis entrar tanto na Avenida. A Tucuruvi nunca quis tanto realizar esse desfile. A gente nunca esteve tão empolgado. É essa energia que nos rodeia, é essa energia que hoje toma conta da Tucuruvi, é essa energia que o Rodrigo nos proporcionou lá atrás em nos apresentar Ifá, em trazer o Pai Maurício, em nos apresentar o Akodá na Nigéria, em nos colocar dentro de uma filosofia, um universo totalmente diferente de tudo que a gente tinha conhecido até hoje. A gente é muito grato”, concluiu Dione.
“Esse carnaval foi um privilégio gigantesco e a gente não tem nem como medir o tamanho do privilégio e dos acessos que nós tivemos para conhecer. Primeiro que não tem como a gente medir e não tem como a gente pagar essa gratidão. É um projeto que mudou a minha vida e do Dione. É um projeto que tirou de nós aquilo que a gente não achava que conseguia, então a gente não tem como pagar isso, essa oportunidade e esse privilégio que a gente tem de falar de Ifá”, finalizou Yago.
Ficha técnica
Enredo: “Ifá”
Diretor de barracão: Roberto Guedes
Coordenador de ateliê: Carlos Westerley
2000 componentes
20 alas
4 alegorias
Ordem de desfile: Sétima escola a desfilar no dia 10 de fevereiro pelo Grupo Especial
Há dois carnavais como rainha da bateria do Paraíso do Tuiuti, Mayara Lima se tornou um fenômeno dentro e fora das quadras e da Passarela do Samba. Nas redes sociais, a majestade acumula mais de 900 mil seguidores. Fora delas, Mayara carrega uma legião de sambistas admirados com seu samba no pé e sincronismo com os ritmistas. Mas muito além do sucesso e do alto desempenho na dança, a rainha da SuperSom também se tornou sinônimo de representatividade para muitas crianças.
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval
Nos ensaios de rua da escola de São Cristóvão, muito além do samba no pé, o que também chama a atenção é o carinho e admiração do público infantil pela sambista. Além da tietagem, as crianças também tentam reproduzir as coreografias de Mayara. Cria da Cidade de Deus, ela acredita que estar à frente do posto de rainha de bateria é, também, a representação de meninas da comunidade.
“É muito importante. Sempre falo e repito: o meu intuito em estar à frente da bateria é representar essas meninas. Eu faço a maior questão de puxar para o meu lado as crianças que me acompanham no ensaio ou pedem para sambar comigo. Acredito que esse é o resgate do samba e o nosso futuro. Se quem está agora não alimentar, não oferecer o melhor para essas crianças e não mostrar o melhor que o samba tem, ele deixará de existir. Quanto mais a gente alimentar isso, será melhor para o futuro”, comenta a rainha de bateria.
Começou a vida no mundo do samba no Aprendizes do Salgueiro. Em 2022, bastou um ensaio da bateria no setor 11 da Marquês de Sapucaí para a então princesa se tornar um dos assuntos mais comentados das redes sociais e cair nas graças dos sambistas. O resultado não poderia ser outro: Mayara foi coroada rainha de bateria do Tuiuti.
Ela afirma que o samba no pé é natural e o sincronismo com a SuperSom somente ‘acontece’. Hoje professora de dança, a rainha de bateria conta que a receita é a prática e muito treino. Não precisa nascer com o dom, basta querer, dedicar-se e aprender.
“Parece ser fácil na hora de explicar (risos). Eu gosto muito de improvisar. Venho, escuto a bateria e vou. Só escuto a música e deixo meu corpo falar. Acredito que mostrar o que tenho dentro de mim, sem ensaiar passo marcado ou robotizar muito, é mais significante – trazer a essência do que vem na minha alma e do que mais amo fazer, que é dançar. Não é que eu faça muita coreografia, eu só expresso o que tem dentro de mim e o meu amor pelo samba. Costumo dizer que o samba é a minha maior forma de expressão, então o que eu puder fazer aqui, eu faço. O samba é a minha cura”, disse Mayara.
Após atingir níveis de influenciadora, ser considerada uma das últimas revelações do carnaval e receber tantos outros elogios, Mayara dispensa comparações e títulos como “a maior rainha de todas”. Para ela, dividir espaço com outros grandes nomes do mundo do samba é motivo de muita responsabilidade.
“É uma grande responsabilidade, porque, dentre tantas rainhas maravilhosas, estar no meio é uma honra para mim. Temos Bianca, Evelyn, Lorena Raissa, Maria Mariá, Viviane Araújo, Sabrina Sato, entre tantas rainhas maravilhosas que fazem parte dessa nova jornada. Fico muito feliz em fazer parte disso. Ser nomeada como a rainha maior e coisas do tipo é muito superficial, porque têm tantos talentos na Sapucaí. Fico muito feliz de dividir o cenário com essas rainhas maravilhosas”, destaca.
Foto: Léo Queiroz/Divulgação Rio Carnaval
O sucesso também vem acompanhado dos haters – pessoas mal-intencionadas que utilizam as redes sociais para atacar alguém. Apesar da enxurrada de elogios, há quem critique o bailado da majestade. Mayara conta que traz consigo as vivências que teve ao longo da vida. Para ela, o samba no pé somado com algumas coreografias não causa problema algum. O importante é reconhecer e respeitar a história do samba e os ancestrais.
“Eu acredito que por eu incluir passos de samba dentro da musicalidade e do que a bateria pede, muitas pessoas tiram isso como ‘fazer coreografia’. Mas eu trago a minha vivência para dentro do samba para engrandecer a minha arte do samba no pé, mas nunca esquecendo do mais importante que é, de fato, o samba raiz. Mesclando o samba no pé com as firulas, não há pecado nenhum. Respeitando quem veio antes de mim – meus ancestrais -, misturo o que aprendi a vida inteira”, explica.
No carnaval deste ano, a rainha do Morro do Tuiuti promete uma fantasia levíssima para que possa evoluir bastante na Passarela do Samba. À frente da SuperSom, ela entrará na Marquês de Sapucaí na segunda-feira de carnaval. A escola de São Cristóvão será a quinta agremiação a desfilar.