Há poucos dias do começo do carnaval paulistano, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) lançou mais um grande produto. O documentário “Os bastidores do carnaval de São Paulo”, dirigido por Jairo Roizen e Guma Sena, teve pré-estreia no shopping Bourbon, na Zona Oeste da capital paulista, com cobertura in loco do CARNAVALESCO. Pouco antes da exibição da película, o Gerente de Comunicação da instituição (que também é um dos diretores da obra), falou, em entrevista exclusiva, sobre a área e, também, sobre algumas temáticas mais gerais sobre a folia.

De São Paulo para o mundo

Um dos temas mais factuais no carnaval paulistano no pré-carnaval são as reforms estruturais realizadas no Anhembi. Na visão de Jairo, todas elas buscam agradar tanto os fãs dos desfiles quanto quem não é tão próximo, mas tem interesse na folia de Momo: “A Liga-SP tem, cada vez mais, buscado se aproximar do público e das pessoas que ainda não conhecem o carnaval. Isso é evidente nas nossas ações, como no projeto do Esquenta, das transmissões… tivemos coisas muito interessantes esse ano. Tivemos, até mesmo, propaganda na Times Square, em New York, divulgando o carnaval de São Paulo. Vamos ter muita novidade esse ano no Sambódromo, muita mesmo. Teremos um local completamente diferente, com uma roupagem diferente do que foi nos outros anos. Esse ano é um projeto que será aprimorado nas próximas temporadas. Com a reforma do espaço, ficou um pouco difícil fazer do jeito que queríamos; mas, no lado da Marginal, nos setores A, B, C, D e E, teremos um grande boulevard. Os setores serão interligados, não vai ter mais a separação entre as pessoas que comparam um ingresso para o setor E ficar apenas lá: ele pode ir para o setor B, onde está a praça de alimentação – que, nos ensaios técnicos, já funcionou e, para o desfile, será muito melhor. Terá uma circulação nas pessoas. Apenas quando você subir para a arquibancada e assistir o desfile você será setorizado. Essa é uma grande novidade que tornará o evento um grande festival, onde as pessoas chegam um pouco antes para comer e beber bem, encontrar os amigos e, quem sabe, fazer com que isso seja ainda melhor em 2025, interligando todo o Sambódromo”, destacou.

Especialista no assunto na Liga-SP, Jairo aproveitou para falar sobre algumas mudanças ligadas à estética e à iluminação do local e dos arredores: “Teremos uma comunicação visual completamente diferente: na parte de trás, nas arquibancadas da Marginal (a da Olavo Fontoura nós não conseguiremos fazer nesse ano porque teremos uma quantidade muito grande de camarotes, a infraestrutura da Rede Globo, a sala de imprensa…) nós teremos um painel de LED que ficará passando os desfiles para quem estiver no boulevard. Tudo isso para que a gente traga o público mais para perto, para quem pensem que o carnaval é sempre a mesma coisa e que as escolas são todas iguais – e não é, mas quem não conhece, não sabe como funciona. Se você passar pelo outro lado da Marginal, você vê que a iluminação de fora já é diferente, as placas estão iluminadas… o Sambódromo já está com uma vibração diferente”, comemorou.

Sucesso em todos os canais – e sem polêmicas

Ao falar sobre alguns dados que ilustram o êxito da Liga-SP na comunicação e na eficiência dos projetos tocados pela instituição, Jairo deu detalhes sobre a comercialização de ingressos: “Hoje, faltando duas semanas para os desfiles do Grupo Especial, já temos cem por cento dos ingressos para sábado comercalizados e noventa e oito por cento dos ingressos de sexta-feira já comercializados. Isso é histórico. Ano passado, esgotamos os ingressos faltando uma semana para o carnaval – e, para sábado, os ingressos já estão esgotados há mais de vinte dias (ou seja, faltando mais de um mês para o desfile); e, faltando quinze dias para o evento, os ingressos de sexta-feira devem se acabar em um ou dois dias. Essa é a maior prova de que o trabalho está sendo correto, de crescimento”, afirmou.

Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Antes de trazer alguns números das redes sociais da entidade, Jairo aproveitou para explicar um slogan que foi muito criticado à época do surgimento: “Quando falamos que somos o maior carnaval do Brasil, não é uma competição. Não somos o melhor carnaval do Brasil, nem queremos isso: queremos que todos os carnavais do Brasil sejam fortes e bons. O carnaval do Rio de Janeiro e de Porto Alegre sendo fortes, o de São Paulo também será. Para nós, é algo muito ruim quando acontece algo como aconteceu no RJ, com um prefeito que não era a favor do carnaval e prejudicar… isso refletiu em SP, também. Os carnavais precisam ser fortes. Mas, quando falamos que é o maior carnaval do Brasil, falamos isso porque a Liga-SP organiza o maior número de entidades – trinta e três escolas de samba, três grupos diferentes, tudo isso no mesmo Sambódromo com a mesma estrutura. Se você for agora no Sambódromo, o maquinário que servirá o Grupo de Acesso II será o mesmo do Grupo Especial. A infra-estrutura é a mesma, a dedicação é a mesma, a qualidade de som é a mesma. Também falamos de carros alegóricos, componentes e transmissões ao vivo: foram cinquenta e cinco que fizemos, isso não existe em lugar algum. Transmitiremos os Grupos de Acesso I e II, as apurações desses grupos. Hoje, através das redes sociais e dos canais da Liga-SP, alcançamos cerca de oitenta milhões de pessoas. E queremos crescer cada vez mais”, vislumbrou.

Outros dados vieram após o agradecimento de Jairo a alguns gestores do carnavla paulistano. “Tive a sorte de pegar um trabalho que já era feito na gestão anterior, e o presidente Sidnei acredita muito na Comunicação – e esse documentário é uma prova disso. O apoio do presidente Paulo Serdan, do presidente Renato Remondini, o Tomate – que assumiu a vice-presidência. Fico até impressionado, é difícil eu ouvir um ‘não’ deles. A ideia que eu levo eles me apoiam. Eles, também, investem na Comunicação. Espero que, daqui um ano, tenhamos ainda mais novidades e ações que repercutiram para que a gente possa aumentar tudo isso. Quem sabe, no ano que vem, teremos o doce problema de saber como colocar mais gente no Sambódromo – algo que já fizemos nesse ano, tirando cadeiras e mesas de pista. No Setor A, por exemplo, eram duzentas e cinquenta pessoas; nesse ano, serão oitocentas. Isso democratiza e populariza o carnaval, faz com que mais pessoas tenham acesso à festa e ao Sambódromo. Isso favorece a cultura e as escolas de samba”, pontuou.

Regulamento em pauta

Grande assunto do ciclo carnavalesco na cidade de São Paulo, o novo regulamento também foi tema da entrevista com o Gerente de Comunicação da Liga-SP. E Jairo é enfático ao dizer que os novos balizamentos fazem parte de um projeto que era solicitado por muitos: “O regulamento precisava de uma mexida. Não só nele, mas na maneira de se pensar o campeonato do carnaval de São Paulo. Isso vai acontecer esse ano, sem dúvida. Lógico que não dá para fazer uma mudança radical de uma hora para a outra, mudar tudo e torná-lo subjetivo – até porque não é esse o caminho. Mas existem algumas mudanças que vão refletir bastante no resultado do carnaval desse ano, refletinho no trabalho das escolas – e os ensaios técnicos já mostraram isso. Era uma mudança que o público pedia, as escolas pediam e a Liga-SP ouviu os sambistas. As pessoas têm uma mania de achar que a Liga-SP é um ser superior, mas nós somos apenas as escolas de samba – e nós ouvimos todas elas. Para falar do quesito samba-enredo, chamamos os compositores para desenhar o regulamento junto com a gente; para casal de mestre-sala e porta-bandeira, os casais; comissão de frente, os coreógrafos. E assim por diante. Se vai dar certo, se vamos estar ou não no mundo ideal ou não, só saberemos depois do carnaval. Mudamos, mexemos e enxergamos que, para o carnaval continuar crescendo, mudanças precisavam ser feitas”, refletiu.

Módulos novos

Desde 1998, as cabines de jurados do Anhembi se tornaram um dos grandes ícones do Sambódromo paulistano. No final de 2023, entretanto, elas deixaram de existir. Todas foram substituídas por módulos metálicos onde ficarão os julgadores – serão quatro em 2024. Para Jairo, a história deixada por elas foi marcante, mas, de fato, deveria ser encerrada: “Na minha opinião particular e em uma opinião que foi falada na Liga-SP (já que o presidente Sidnei ouviu muitas pessoas até da Velha Guarda, e o mandatário frequentemente se aconselha com eles), aquelas cabines de jurados que existiam antes, há muito tempo, achávamos que não era ideal, não era confortável, a visão não era boa… era obsoleta. A gente exige muito do jurado e entrega muito pouco para eles. A primeira decisão foi tirá-las. Os módulos atuais são projetos pilotos: para 2025, teremos que readaptar, repensar os camarotes para ter os módulos conversando com eles, teremos que repensar a posição para não atrapalhar as arquibancadas. Tudo isso nós fomos descobrindo conforme o processo foi acontecendo. Divide opiniões e vai dividir mesmo, já que todas as mudanças fazem isso”, conformou-se.

Os locais novos, entretanto, possuem uma característica única – e que deve ser exaltada, de acordo com o dirigente “O mais legal e importante, que as pessoas não se atentaram ainda, é que, pela primeira vez, o carnaval no Sambódromo do Anhembi, será julgado em todos os ângulos. Temos jurados que estão a quatro metros de altura, outros mais altos, uns mais em cima… vai ter um jurado de Alegoria que verá a saia, outro verá o teto e a iluminação; na Evolução, um verá tudo mais focado, e outro verá a avenida inteira, acompanhando a escola inteira. Teremos visões diferentes de um mesmo desfile. Isso vai impactar nas notas, no resultado e, na minha opinião, vai fazer com que a gente tenha um julgamento mais completo do carnaval. Se vai dar certo e se vai acontecer o que nós pensamos, só saberemos depois do desfile. É um processo de amadurecimento que, nos próximos anos, terá que ser aprimorado. O primeiro passo foi dado e, no dia da apuração, teremos um evento com todos entendendo muito mais o que o jurado quer dizer, com menos questionamentos, pois teremos ângulos e possibilidades diferentes de se julgar certo. Espero que dê certo e que, em 2025, só tenha que ajustar para continuar fazendo um julgamento e um critério cada vez melhor para que o carnaval de São Paulo cresça cada vez mais”, finalizou.