A Independente Tricolor é uma escola jovem e que vai para o segundo ano consecutivo no Grupo Especial pela primeira vez na sua história, é a terceira participação no grupo principal do carnaval de São Paulo. Para esse momento especial, escolheu um enredo afro, o que não é tão comum na escola, cantará “Agojie, a Lâmina da Liberdade!”. Será a quarta escola a desfilar na sexta-feira, dia 9 de fevereiro, também primeira vez que não abrirá um dia de desfile.

Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

Na visita ao barracão da Independente Tricolor, o carnavalesco Amauri Santos que vai para o terceiro carnaval consecutivo defendendo as cores da agremiação vermelha, branca e preta. Em conversa com o site CARNAVALESCO contou como surgiu o enredo e outros detalhes em toda a preparação da escola refundada em 2010.

De onde surgiu o tema Agojie?

“Então na verdade o enredo surgiu pelo presidente, né, meu terceiro ano consecutivo na escola. O presidente pediu um enredo africano, né? No Carnaval passado, ele tinha um enredo Tróia que ele sonhava em fazer. Aí esse ano ele pediu enredo africano, mas com algumas ponderações, que não fosse muito para o lado religioso somente e que não fosse mais uma vez o enredo com sofrimento, falando muito de escravidão. Eu apresentei algumas coisas para ele, algumas ideias e quando apresentei esse é ele o curtiu gostou. Por conta disso, acredito eu né? Como eu falo sempre para minha surpresa, o enredo é em homenagem a mulher, a mulher preta, em uma escola oriunda de torcida essa coisa aguerrida. Acredito que o fato de falar um pouquinho também de mulheres guerreiras tenha contribuído para que ele aceitasse esse enredo. Então dentro dessa pesquisa, encontrei as Ahosi, o único exército de mulheres do mundo que existiu do século 17 ao século 19”.

Ponto alto

Um tema que os carnavalescos sempre pensam bem antes de dizer é sobre aquele momento que mais destacam dentro do trabalho deles… Realmente, não é fácil, e o Amauri Santos trouxe dois momentos para nos atentarmos um pouco mais no desfile da Independente.

“O enredo é bastante reto, porém dou uma ênfase maior a nossa abertura, sabe? Vai ter uma abertura dessa coisa mística. A abertura e o fechamento porque é totalmente distante uma coisa da outra, totalmente oposto, porque é muito ancestral a nossa primeira alegoria, uma coisa de ancestralidade e a última é totalmente futurista. Então assim eu acredito que os pontos altos do nosso desfile, apesar de ser equilibrado, vai ser a abertura, acredito nessa abertura muito forte, muito bonita plasticamente. E o final do nosso desfile, o encerramento”.

Questões visuais nas alegorias e cores da escola na avenida

A Independente Tricolor tem as tradicionais cores vermelho, branco e preto, mas não fica somente nelas. Ainda mais com o tema afro que está por vir, Amauri programa uma mistura de cores de acordo com o setor e o que é contado.

“É da forma que eu falei que tem de alegoria que são variadas, quem olha a primeira alegoria e olha a última não parece a mesma escola, então é uma evolução. Assim também é em relação à fantasia, trazemos um pouquinho mais da África mesmo. Já é mais conhecida e tem um diferencial assim, porque apesar de ser um enredo feminino se eu fosse buscar só sairia fantasia feminina, né? A gente só fala de mulher o tempo todo. Então eu fui pegando a personalidade também de cada uma delas, de cada uma dessas personagens. Mas em relação a cores, explorei um bocado a cor da escola, tem bastante vermelho, preto e branco, porém tem também o momento da palha, tem um momento de um colorido africano, eu acho que a escola tá uma África alegre, tá uma África feliz”.

Em relação às estruturas das alegorias e como virá a Independente neste quesito, o carnavalesco da agremiação da Zona Norte, ressaltou: “Totalmente mudanças, por mais que a gente, por exemplo, no do acesso para o especial mantivemos algumas estruturas muito visíveis. Mas era um momento também de se reestruturar e se igualar no especial. Agora pelo resultado que nós tivemos, deu uma segurança a mais para escola pensar ‘poxa eu tenho condições de ficar’. Então vamos ousar um pouquinho mais, por mais que reaproveitei algumas coisas de estrutura, mas foi 100% de escultura feita. Nosso abre-alas tem 52 esculturas. Então foram bastante esculturas, reaproveitamos alguma coisa sempre de ferragem, mas modificando. Esse ano tá totalmente cara nova”.

Relação com escola e como chega para 2024

Se em 2023, a Independente estava com o espírito de superação depois de tudo que aconteceu com a escola, para 2024 é outro clima com mais leveza e maior liberdade como disse Amauri: “Com a maior liberdade assim, sempre quem interfere mais às vezes, né de dar uma opinião ou outra mais alegoria e sempre positiva é o presidente. Porém assim tudo que foi feito de criação, geralmente quando eu crio já apresento o porquê para a escola, então para não haver dúvida. Porque a gente tem uma diretoria, eu acho que é feita em conjunto, então para não ter dúvidas, já vou apresentando, mas foi muito bem aceito o desenvolver do enredo”.

“A permanência aí de forma bacana, que foi no Grupo Especial, deu um pouco mais de gás. A escola, de estrutura, permanece basicamente a mesma. E buscando o máximo como a gente fala, hoje somos uma escola técnica. Busca o máximo a técnica e a diretoria, o presidente, a nossa direção de carnaval está buscando sempre isso. Então de estrutura, é basicamente a mesma do carnaval passado, mas talvez mais madura, mais entrosada. Já sabendo um pouquinho mais dos caminhos a trilhar”.

As novidades, uma ala somente de mulheres pretas

“Foram duas exigências, dois pedidos que eu fiz, foi numa ala, a ala 7 que é um exército e eu pedi uma mulher preta à frente, desse exército e também uma ala para representar as Agojies, uma ala de mulher preta. Então essa é mais uma surpresa que vai ser uma ala somente de mulheres pretas, até para selecionar, né? A escola tem muito branco então, é uma ala nova, e aí e cria-se um pouquinho uma dificuldade, mas vai ser bem bacana, a gente precisava de uma ala assim”, e complementou: “Vem uma espada, vem uma guerreira”, sem dar detalhes sobre, nos ensaios técnicos elas já estão vindo com algumas características, e chama atenção.

Elogio ao samba e meta da Independente

No espaço livre deixado nas entrevistas com o carnavalesco, o artista Amauri resolveu elogiar a obra criada por Maradona, André Diniz, Evandro Bocão e Chitão, que é o intérprete da escola. Ressaltou o quanto o samba foi importante e ajudou no seu trabalho. Também comentou sobre a disputa da Independente no segundo ano consecutivo no Grupo Especial.

“Em relação ao samba, né? Eu considero pelo menos dos últimos tempos aí, eu considero que um dos melhores sambas que eu trabalho, para o meu trabalho. Maradona, André Diniz, acertaram a mão, tá perfeito para o desfile. Então assim é um samba muito bom, a quadra cantando, a quadra aceitou o samba. Tem algumas palavrinhas ali mais difíceis, mas que dão molho. Desde o início quando o André Diniz conversou comigo, falou ‘Amauri isso é uma tendência e depois que a pessoa aprende, isso fica forte no samba’. Não deu outra a quadra aprendeu a cantar o samba, tá cantando forte, a nossa luta agora né? Como a luta era para humildemente permanecer no grupo e conseguimos o sétimo lugar, a nossa luta hoje é pra ficar entre as cinco”.

Conheça o desfile

Setor 1: “Mas aí eu fui buscar um pouco mais, de onde vinha essa força feminina, essa força da mulher preta. Aí a gente dividiu o enredo em quatro momentos, né? Acaba sendo uma evolução, eu comecei falar da ancestralidade buscar lá nas mães ancestrais uma coisa um pouco mais mística nas mães ancestrais, e esse domínio sobre o nascer ou não nascer, sobre a vida e a morte, sobre o bem e o mal, então já essa força feminina. Falo do continente também como sendo um continente feminino, porque o enredo, coloco continente Africano. Eu tô chamando de Mama África, já começa por aí, que deu à luz a tantas mulheres fortes. Então vou nessa nossa ancestralidade no primeiro momento”.

Setores 2 e 3: “No segundo momento do nosso desfile entro nas candaces, essas rainhas guerreiras que lutaram a frente do seu povo. Que tinha uma voz na sociedade, no seu reino ou como fosse, e venho fazendo essa homenagem as candaces e a última Candace que eu falo nesse setor é a Agontimé que ela atravessa para um outro setor que é onde vai dar início a essas mulheres essas guerreiras que são as Agojies. A Agontimé, na verdade, foi mãe do rei Guezô. Ela foi levada para Daomé, e o Rei Guezô, foi o rei que mais deu moral a essa exército. Mas o maior momento deste exército foi com o reinado do do Guezô. Então isso fala um pouco do treinamento, fala dessa luta feminina, essa resistência, que elas resistiram a várias investidas dos europeus principalmente dos Franceses e rolava essa troca. Eles internamente se sequestravam e entregavam o seu próprio povo para os europeus em troca de armamentos, de pólvora e de álcool, então rolava muito isso. E elas resistiram a alguns impérios vizinhos mesmo com os armamentos mais pesados, com cavalaria e elas conseguiam resistir só que houve um momento que os franceses com auxílio de outros países conseguiram derrotá-las. Falamos que foi a última batalha, elas foram extintas, porém ficou legado”.

Setor 4: “Onde passamos esse último setor ficou legado que elas mesmo extintas ficou legado para as mulheres de hoje que se empoderam, que lutam pela sua liberdade, pela liberdade do seu povo e que é um momento acho que de falar um pouco disso. E deixamos uma mensagem de futuro, que essa força feminina, nunca se perca, né? Eu acho que justamente chegou até aqui e tá vivendo esse momento bom para isso, de mostrar a cara, mostrar a sua vontade, a sua liberdade e que isso não se perca daqui pra frente. Então nosso enredo vai se transformando… Começa numa coisa ancestral. Passa ali um pouquinho até pelo Egito e entra nas nossas guerreiras, nas Agojies, deixamos essa mensagem de presente futuro que não pode se perder”.

Ficha técnica:
Alegorias: quatro (quatro setores)
Componentes: 1.580
Alas: 20
Diretor de barracão: Emerson Branco