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‘Carregada no dendê’, Mangueira domina primeiro dia dos mini desfiles do Grupo Especial na Cidade do Samba

A Cidade do Samba recebeu na noite do último sábado, pela segunda vez consecutiva, o lançamento dos sambas-enredo e a abertura do Rio Carnaval 2023. As seis agremiações (Império Serrano, Grande Rio, Mocidade, Tijuca, Salgueiro e Mangueira) que vão abrir o Grupo Especial no ano que vem passaram pela “avenida” montada no local. Em exibições niveladas por cima, houve uma série de pontos positivos nas agremiações. O destaque geral do primeiro dia ficou com a Estação Primeira de Mangueira. A Verde e Rosa passou como um trator. * CONFIRA AQUI GALERIA DE FOTOS DO PRIMEIRO DIA

Confira abaixo como foram todas apresentações, segundo a equipe do site CARNAVALESCO:

IMPÉRIO SERRANO: A escola da Serrinha teve a missão de abrir o primeiro dia dos mini desfiles. Rainha da escola, Quitéria Chagas veio na frente, esbanjando samba no pé. Imperiana de fato! O tripé de São Jorge foi a força para nação imperiana. O coreógrafo Junior Scapin trouxe a comissão de frente já com traços da coreografia de desfile. Muito vigor na dança. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Flôres e Danielle Nascimento dançou com fantasia, experientes, passaram com segurança, fundamental para escola, que depende da nota máxima dupla. Craque, Ito Melodia mostrou que está totalmente adaptado ao Império. O samba-enredo que homenageia Arlindo Cruz foi muito bem conduzido pelo carro de som. A comunidade da Serrinha cantou, mas ainda pode mais, é aprimorar nos ensaios até o dia do desfile. A estrutura da apresentação foi muito organizada. E o sacode ficou por conta da Sinfônica. Mestre Vitinho possui totais condições de fazer uma estreia espetacular no Grupo Especial. A bateria imperiana está encaixada e ainda dando show.

GRANDE RIO: Alegria define a Grande Rio. A atual campeã do Grupo Especial segue em outro plano. Com o mesmo time do título de 2022, a tricolor de Caxias promete novamente um grande espetáculo. A abertura teve a presença do mascote simbolizando Zeca Pagodinho com direito a copa de cerveja na mão. A apresentação no mini desfile foi de forte concorrente, deixando claro que a busca pelo bicampeonato é realidade. Inegavelmente, a Grande Rio possui um dos melhores conjuntos da atualidade. A comissão de frente, mais uma vez, fez coreografia com cara de traços do desfile oficial. Os coreógrafos Hélio e Beth Bejani sabem como poucos conduzir uma apresentação na pista. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel e Taciana, foi esplêndido. A dupla estava exuberante, dançando o tempo inteiro. Na bateria, mestre Fafá é o maestro do carnaval. O andamento caxiense é um bálsamo para os sambistas. Aliado com a perfomance da bateria, o intérprete Evandro Malandro e a equipe do carro de som comandaram o samba-enredo com muita qualidade, dando ênfase nos momentos corretos. Como aconteceu na festa para o Carnaval 2022, a obra não explodiu no público, foi cantada com vontade pela comunidade, mas não sacudiu. Problema zero para quem chegou no desfile e foi um espetáculo que está na história do Sambódromo. A Grande Rio está como Zeca Pagodinho, seu enredo de 2023, deixando a vida levar e ela pode novamente comemorar na quarta-feira de cinzas.

MOCIDADE: Do “jeito Mocidade”, a Estrela Guia fez uma apresentação muito positiva. Foram pelo menos três destaques: a comissão de frente, do estreante coreógrafo Paulo Pinna, o intérprete Nino do Milênio e o desenvolvimento do samba-enredo entre os independentes. A Verde e Branco caprichou. Levou destaques fantasiados e componentes com objetos que remetem ao enredo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo e Bruna, desfilou fantasiado. A ala de passistas foi dividida. Os homens vieram na frente e depois de algumas alas apareceram as meninas de Padre Miguel. Como falado acima, Nino do Milênio está totalmente identificado com a Mocidade. Bola certeira da direção independente. O cantor conduziu o samba e a comunidade com uma levada perfeitamente encaixada com a bateria. Estranhamente, a obra da Mocidade não está no ranking das melhores do ano, mas mostrou na Cidade do Samba todo seu potencial. Mestre Dudu é outro patamar. Merecidamente, a “Não Existe Mais Quente” recuperou seu lugar de direito no topo do Grupo Especial. Uma das favoritas em 2022, a Mocidade vacilou na pista. Os erros foram reconhecidos e agora é lembrar dos carnavais de 2017 até 2020 e recuperar o protagonismo e o espaço entre as melhores.

UNIDOS DA TIJUCA: A escola do Borel segue seu processo de recuperação e reforçou o desejo de frequentar novamente o ranking das seis primeiras do carnaval. Após o ótimo desfile em 2022, injustiçado no resultado, a agremiação, mais uma vez, conta com um samba-enredo que facilita o canto dos componentes. O carro de som com Wantuir e Wic consegue uma interação fantástica com o público. Sem mestre Casagrande, em viagem para Argentina, a “Pura Cadência” caminhou com perfeição e segurança. Sem dúvida, a bateria é um dos orgulhos tijucanos. Estreante, o mestre-sala Matheus mostrou potencial. Sua parceria, a porta-bandeira Denadir é exemplo de segurança na dança. Como no desfile deste ano, a harmonia tijucana funcionou muito bem. O canto da Tijuca é muito unifome entre os componentes. “Apimentados”, os tijucanos estão mordidos. Promessa de um banho de axé em 2023 na Marquês de Sapucaí.

SALGUEIRO: A Academia do Samba pisou na Cidade do Samba e surpreendeu positivamente. O Salgueiro é uma das escolas do Grupo Especial que nos últimos desfiles larga com segurança na apuração, porque possui quesitos muito fortes: comissão de frente, casal, bateria. Aliás, a largada da Vermelho e Branco é uma das mais fortes da folia. A comissão de frente, do coreógrafo Patrick Carvalho, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves, formam um conjunto impactante. No mini desfile, a comissão de frente dançou demais, unindo vigor e leitura da exibição. Já parecia apresentação oficial na Sapucaí. Já o casal é entrosamento do início ao fim. O vento chegou a assustar a porta-bandeira logo no início, mas com exímio talento ela seguiu plena na pista. Se o questionado samba-enredo de 2023 é considerado um perigo, os componentes jogaram para escanteio qualquer falatório. Impulsionados pelo intérprete Emerson Dias, os salgueirenses cantaram muito. A “Furiosa” é um primor de ritmo. Mestres Guilherme e Gustavo, em pouco tempo, já colocaram seus nomes no hall dos melhores do carnaval. O conjunto plástico do carnavalesco Edson Pereira dando certo é muito possível que o Salgueiro tenha um resultado favorável no ano que vem.

MANGUEIRA: Arrepiante! A Verde e Rosa pisou na Cidade do Samba com muita força e poder. Já na comissão de frente, a coreógrafa Claudia Mota contou somente com mulheres, negras e que desfilaram descalças. Um vigor impressionante na dança. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus e Cintya, foi espetacular. Ela estava totalmente incorporada, arrancando suspiros de emoção e aplausos do público. Ele, elegante, como sempre, conduziu sua dama perfeitamente. O canto mangueirense sacudiu. Mérito para os intérpretes Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, além da bateria “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”. O samba-enredo é seguramente um dos melhores do ano. A Mangueira levou a sério o evento, trouxe componentes fantasiados e manteve o padrão de qualidade no alto do início ao fim do mini desfile. No fim da apresentação ainda teve o tradicional “arrastão”. Os sambistas saíram de alma lavada e que bom é ter a Estação Primeira como condutora da arte e cultura deste país.

Galeria de fotos: primeira noite dos mini desfiles do Grupo Especial para o Carnaval 2023 na Cidade do Samba

Por dentro dos ritmos: Saiba detalhes sobre a bateria da Vila Isabel para o Carnaval 2023

A bateria da Unidos de Vila Isabel realizou um primeiro ensaio na Avenida 28 de Setembro muito bom, segundo mestre Macaco Branco. Com a oportunidade do pontapé inicial dos trabalhos pela rua, ele julgou ser um bom parâmetro para testar a funcionalidade dos dois arranjos ensaiados, entre os três que pretende levar para a Avenida. Uma bossa no refrão do meio e outra paradinha no final da segunda até o refrão principal já se encontram a pleno vapor, ainda restando o arranjo musical que será encaixado na cabeça do samba futuramente. Macaco Branco se considera metódico, além de sempre aguardar o samba ser escolhido para só posteriormente desenvolver o trabalho, com o intuito de acompanhar a obra.

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Mestre Macaco Branco, comandante da Swingueira de Noel

Sua filosofia musical foi aprovada com nota máxima pelo segundo ano consecutivo por julgadores. Mesmo aumentando a responsabilidade, ajuda a credenciar a bateria da Vila Isabel entre um dos ritmos mais aguardados do carnaval, o que é motivo de orgulho para o mestre. O ritmo da “Swingueira de Noel” possui como características uma afinação de surdo particularmente grave, bem como o surdo de terceira efetuando um papel de centrador, marcando.

Essa identidade musical é complementada com repiques dando molho, junto das caixas com levada reta aliadas a uma inconfundível batida de taróis, com toque genuíno de partido alto. Dentro desse processo de retomada do ritmo da Vila foi fundamental o trabalho naipe por naipe, separados por rodinhas de ritmistas, para que os toques evoluíssem nos aspectos de limpeza, clareza e também sincronia na pulsação rítmica. Uma didática musical que privilegiou a melhora individual, proporcionando impacto na evolução coletiva da bateria.

Discípulo musical de mestre Mug desde a infância, Macaco Branco faz questão de exaltar o valioso Amadeu Amaral, que dedicou grande parte da vida a moldar e lapidar a cara da bateria da Vila Isabel, desde que herdou o ritmo de mestre Ernesto. Mug era daquelas personalidades únicas dentro do mundo do samba. A pouca instrução, devido às realidades da vida, contrastavam com um conhecimento musical profundo, ouvidos extremamente apurados, além de uma interminável vontade de ensinar. Hoje percussionista, mestre de bateria e formado como produtor musical pelo IATEC, Macaco Branco absorveu tudo que foi possível com uma autêntica lenda da Unidos da Vila Isabel, creditando grande parte do seu sucesso ao saudoso mestre Mug.

O mestre também aproveitou para ressaltar a importância do projeto social Instituto Celeiro de Bamba, que possibilita a formação musical de vários integrantes da comunidade, entre outras atividades, com impacto direto nos moradores do bairro e adjacências. Movimentar a agremiação com iniciativas desse tipo dignificam o já auto-explicativo nome escola de samba. Ainda pegando carona nessa relação com a comunidade, Macaco Branco explica que a vitória do samba composto pela rapaziada do morro dos Macacos tem ajudado a reaproximar a escola de Noel de sua raiz. Sendo assim, foi importante ter vencido o samba que a maior parte da escola queria e a expectativa é que esse processo ajude a restabelecer vínculos que possam gerar frutos.

Mestre Macaco Branco ainda faz questão de deixar registrado o agradecimento ao trabalho do diretor musical Douglas Rodrigues e de todo o carro de som, além da satisfação de poder conduzir uma bateria para um ídolo da escola e do mundo do samba, como Tinga. A inegável qualidade musical da Vila Isabel fica ainda mais destacada com o casamento entre o ritmo da “Swingueira de Noel” e a voz potente de Tinga, sendo uma das molas propulsoras do grande primeiro ensaio técnico da Vila. O saldo foi positivo, muito além do esperado.

Elmo José dos Santos: ‘Mini desfile é o grande grito de carnaval das escolas de samba’

As 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro fazem neste sábado e domingo, na Cidade do Samba, os mini desfiles para o lançamento dos sambas-enredo e a abertura do Rio Carnaval 2023. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa, falou sobre a importância da realização do evento, pela segunda vez consecutiva.

“A segunda edição reafirma um marco do carnaval. Tudo começou na pandemia. As escolas não querem mais voltar para aquele sistema antigo no palco. Agora, elas podem colocar todo o povo para desfilar e defender a cultura popular. É um momento muito importante para o carnaval. O mini desfile é o grande grito de carnaval das escolas de samba. As escolas reafirmam que vão fazer um grande espetáculo. Elas estão muito empolgadas. Dessa vez, a Liga preparou uma queima de fogos antes de cada apresentação. No fim do dia, vamos ter aquele nosso tradicional arrastão do povo atrás da última escola. Mesmo com Copa do Mundo, nós estamos presentes e firmes vamos defender com unhas e dentes nossa bandeira do samba. Vamos celebrar o Dia Nacional do Samba. Por isso, eu celebro os grandes mestres do passado que fizeram muito no passado pelo samba”, disse Elmo.

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Foto: Henrique Matos/Divulgação Liesa

O diretor de carnaval da Liesa também falou sobre o que será permitido fazer durante o mini desfile. “A única regra é que a bateria terá até 50 ritmistas. Combinamos que o limite será de 240 componentes por agremiação. O carro de som poderá ter até quatro cantores. Colocamos como opcional ter o tripé na frente de cada mini desfile. No mais, a gente deu liberdade para cada escola organizar seu mini desfile. Preparamos uma grande infraestrutura. Quem for de fora do Rio ou não puder ir poderá assistir uma grande transmissão no YouTube. O comando será do Milton Cunha”.

Para receber os mini desfiles, a Cidade do Samba ganhou ares de Sambódromo, com direito a relógio de cronometragem, pista pintada, áreas de concentração, dispersão e a tradicional queima de fogos, que anuncia a entrada das Escolas na Avenida. Segundo Elmo, os dois dias de espetáculo terão um início bem animado, com a folia do Cacique de Ramos meia hora depois da abertura dos portões, que acontecerá às 19h, no sábado, e às 18h, no domingo.

Direção da Liesa prepara mini desfiles na Cidade do Samba com mudanças e maior aproximação com os sambistas

A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) realiza neste sábado e domingo, na Cidade do Samba, os mini desfiles para o lançamento dos sambas-enredo, comemoração do Dia Nacional do Samba (celebrada em 2 de dezembro) e a abertura do Rio Carnaval 2023. Os interessados em acompanhar a festa de perto poderão optar por ingressos para pista ou pista VIP, sendo que a segunda opção tem oferta de serviços superior à da primeira (incluindo rede mais ampla de atendimento e banheiros privativos). Foram disponibilizadas ainda mesas e mesas VIPs, com lugares para quatro pessoas (e benefícios diferenciados no segundo caso, semelhantes ao da pista VIP) – CLIQUE AQUI PARA COMPRAR SEU INGRESSO.

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Vice-presidente Hélio Motta. Foto: Divulgação/Liesa

Para receber os mini desfiles, a Cidade do Samba ganhou ares de Sambódromo, com direito a relógio de cronometragem, pista pintada, áreas de concentração, dispersão e a tradicional queima de fogos, que anuncia a entrada das escolas na Avenida. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o vice-presidente Hélio Motta revelou mudanças na segunda edição do evento.

“A Liga está ratificando os mini desfiles como um evento de sucesso, que veio para ficar, vai entrar para o calendário da instituição e da cidade. Além disso, estamos comemorando o Dia Nacional do Samba junto com os sambistas e as escolas de samba. O povo vai curtir e participar. Tudo propício para ser um grande encontro. A gente mudou a dinâmica de fluxo de público. Na primeira edição, nós tivemos frisas. Esse ano, nós temos muito mais capacidade de ocupação de público e mais conforto, por exemplo, poderemos ter mais de 400 pessoas sentadas. Também colocamos mesas bistrô, com venda ambulante. Além dos mini desfiles, vamos ter o Cacique de Ramos como atração. E na tenda principal teremos um grupo de samba que vai se apresentar no intervalo de uma escola para outra, assim, elas vão ter tempo de se arrumarem para suas apresentações”, contou Motta.

O dirigente da Liesa explicou como será o serviço de alimentação na Cidade do Samba. “A gente manteve do primeiro evento o padrão de comunicação e tivemos um investimento maior na iluminação cênica. Para alimentação, teremos venda de massas, hamburguerias, espetos, salgados, distribuídos em quatro pontos de venda. Teremos duas opções de cerveja, com combos promocionais, e mais venda ambulante”.

Hélio Motta explicou que o conjunto de mudanças que a Liesa vem realizando fazem parte de um projeto para um modelo melhor, principalmente, com a maior integração com os sambistas.

“Todas as mudanças que temos feito ao longo do tempo, fazem parte de um projeto para um modelo melhor. Nossos desfiles são o melhor produto cultural desse país. Porém, a partir do momento em que estamos concorrendo com outros modelos de entretenimento, temos que aprimorar a experiência do sambista e do público em geral, interagir com eles, além de criar novas oportunidades para as marcas, de modo a criar maior valor agregado que atraia mais investimentos”.

O vice-presidente da Liga e presidente responsável pela editora que grava os sambas-enredo respondeu também sobre a decisão de mudar a capa do álbum do Carnaval 2023 após os pedidos dos sambistas na internet.

“O álbum nasceu com o conceito de integração. Criamos o selo Rio Carnaval para gerenciar e organizar todo nosso acervo dentro das plataformas. Percebemos os sambistas falando nas redes sociais sobre a capa, a Liga está ouvindo mais, pela nossa Editora repensamos, queremos que o produto sempre melhore, não temos medo de errar, e nosso compromisso é entregar o melhor produto. Gostei muito de ver os sambistas fazendo capas para Liga. Achei essas atitudes bem legal e encaramos como uma forma de melhorar o produto. Já até estou pensando em outras coisas para o ano que vem, mas aí é surpresa e só no meio do ano que poderemos falar”.

Por dentro dos ritmos: saiba detalhes sobre a bateria do Império Serrano para 2023

O Parque de Madureira estava fechado para visitantes ao longo da última terça-feira (devido ao jogo do Brasil na Copa dias antes), mas nem isso afastou as pessoas de darem aquela conferida à noite, assim que os ritmistas imperianos pegaram suas peças, para iniciar o ritmo. A bateria do Império Serrano é daquelas que costumam dispensar comentários ou apresentações. Além de ser historicamente uma das mais premiadas do carnaval brasileiro, também é praticamente um acontecimento musical dentro do carnaval carioca. Entrar em contato com seu ritmo tradicional e constatar a emoção dos populares com a bateria imperiana dá a exata dimensão sobre seu legado.

O Carnaval de 2022 deixou mestre Vitinho muito feliz e com a sensação de dever cumprido. O título veio com notas 10 e premiações, como o ESTRELA DO CARNAVAL, de melhor bateria. O projeto agora almeja ainda mais. Com pé no chão e humildade, o trabalho é focado em desenvolvimento e evolução, seja individual e/ou coletiva. A personalidade do mestre é envolta de perfeccionismo, sem contar o desejo de sempre buscar elevar os conhecimentos através dos estudos. Isso é uma forma de, na prática, mostrar para o ritmista que se atrever a fugir do lugar comum e se desafiar é vital no processo evolutivo musical.

Mestre Vitinho se considera um obcecado, daqueles que não se contenta com qualquer outra atitude que não seja a excelência musical. Dentro desse prisma, uma notória evolução envolvendo os toques de caixas de guerra e repiques ganharam destaque diante de um trabalho disciplinado. Ele alerta para a necessidade, inclusive, da mudança na própria postura do ritmista tocando, na forma como segura a peça, baquetas e se movimenta enquanto produz ritmo. Segundo o mestre, desenvolver essa questão particular permitiu um acrescento na própria musicalidade da escola, além de integrar e sincronizar os ritmistas criando uma filosofia baseada em unidade.

O projeto fundamental da Oficina de Percussão segue dando resultados, aumentando a qualidade musical da Sinfônica do Samba, além de possibilitar que o sonho de participar de uma bateria tradicional e renomada como a do Império Serrano vire realidade. A ala de chocalhos, por exemplo, é composta quase que integralmente de alunos da oficina e apresentou um nível técnico elogiável durante todo o ensaio.

Uma das principais características do ritmo imperiano são as afinações mais pesadas das marcações, que junto da batida das caixas de guerra (resgatada com a bela rufada) dá um molho peculiar a Sinfônica, complementada de forma magistral pelo som metálico dos agogôs da escola da Serrinha. Os surdos de terceira também possuem valor musical distinto dentro do ritmo do Império, hoje em dia fazendo menos cortes e desenhos, o que ajuda mais a casar o seu toque com a musicalidade pedida pelo samba. Cabe ressaltar que é parte da identidade musical imperiana ter um arranjo mais complexo de ser executado em bossas ou mesmo uma extensão musical diferenciada (paradinhas mais longas).

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Mestre Vitinho, comandante da Sinfônica do Samba

Produzir arranjos musicais para um enredo de Arlindo Cruz no Império Serrano é praticamente um presente para um mestre de bateria estreante no Grupo Especial. Mestre Vitinho pretende levar quatro bossas para a Avenida e todas já estão sendo ensaiadas. Um trabalho que buscou uma imersão profunda na carreira do homenageado, em suas obras, culturas e experiências, como relatado em bate-papo com o mestre após o ensaio,

“Falar de Arlindo é falar de música. É musicalidade pura. O cara é a música viva em pessoa. Um gênio de compositor, com múltiplas composições. Um grande ídolo do Império Serrano e um dos maiores ídolos que a escola da Serrinha já teve. Então falar de Arlindo Cruz é algo musicalmente rico e vasto. Falar de ancestralidade, de religião, de pagode, de samba de raiz, melodias fortes. Então ao saber que o enredo seria ele, tratei logo de estudar. Passei a escutar ainda mais Arlindo, me aprofundar sobre seus Orixás de cabeça para desenvolver as bossas tendo tudo isso em conta”, disse Vitinho.