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Análise da bateria da Mangueira no desfile de 2022

A bateria da Mangueira de Mestre Wesley fez uma boa apresentação. O surdo mor auxiliou no preenchimento da sonoridade, dando bom balanço ao ritmo mangueirense. Os marcadores do tradicional surdo de primeira foram precisos. O bom trabalho dos surdos proporcionou uma base grave sólida para que as caixas de guerra da Mangueira com sua rufada peculiar brilhassem. * OUÇA A BATERIA E ARRANCADA DO SAMBA

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O acompanhamento das peças leves contou com um tamborim com bom volume, executando um desenho rítmico atrelado a cultura musical da Mangueira de maneira firme. O naipe de chocalhos da Mangueira deu uma sonoridade ímpar a cabeça da bateria. Os ganzás mangueirenses, como culturalmente são conhecidos dentro da escola foram exímios, agregando à musicalidade. Foi possível notar uma fileira de pratos, que também auxiliou na produção sonora, bem como a boa ala de cuícas.

A paradinha da bateria da Mangueira é dividida em breques. As execuções em frente aos módulos de julgadores foram realizadas corretamente, com direito a chuva de papel picado durante o refrão principal. Uma boa atuação da bateria da Mangueira, aliando um trabalho rítmico seguro e altamente identitário, baseado na potencialização das virtudes do genuíno ritmo mangueirense.

Abre-alas do Salgueiro faz homenagem ao grande Djalma Sabiá só mulheres negras na alegoria

Salgueiro03bCom o enredo “Resistência”, o Salgueiro entrou na avenida reverberando a luta e a coragem da população negra para garantir a sua cultura, a fé e o seu lugar de fala. Resistir é o lema da agremiação e dos componentes para o carnaval de 2022. Na atualidade, apresentar esse tema sobre a resistência afro-brasileira é de extrema necessidade, e a escola mais uma vez trouxe um enredo representativo sobre a luta e a importância da visibilidade do protagonismo negro.

O Salgueiro foi a fundo na resistência e na sua própria raiz, fazendo uma homenagem a Djalma Sabiá, um dos fundadores e baluartes da escola. O “Griô” salgueirense veio representado já no carro abre-alas do vermelho e branco do Andaraí. Com a alegoria “Salgueiro, o Griô do samba”, que resgata a estética africana apresentada a partir de 1960.

As cores vermelho, branco e preto são predominantes por todo o carro que tem elementos como: lanças, escudos e animais representados. Além disso, ele trouxe grandes esculturas, dando destaque ao grande Djalma Sabiá como o griô, que transmite histórias e a tradição salgueirense.

Salgueiro03aA alegoria veio só com mulheres negras que cujo figurino representava a inspiração africana e raiz salgueirense. O Salgueiro foi uma das pioneiras nos enredos afros e fez nesse carro uma releitura do afro sal.

Convidada para desfilar no abre-alas da escola, a atriz Dandara Abreu, de 33 anos, expõe o que representa para ela vir na alegoria que homenageia o grande Sabiá: “Esse carro faz toda a referência ao enredo, pois nada é mais resistente que o griô”.

Ela também destaca a importância disso como salgueirense: “Foi uma honra ter sido convidada para desfilar no carro e fiquei muito emocionada do Salgueiro fazer questão de colocar só mulheres negras para compor a alegoria”.

A escola veio muito forte ao falar sobre a raiz, o carro que é o afro sal é considerado como uma força da resistência. Tendo em vista os vários casos que acontecem constantemente de preconceitos raciais, ter escolas de samba falando sobre esses enredos se torna muito importante.

Para a secretária, Stella Ribeiro, de 37 anos, os enredos afros são de extrema importância. “No tempo de hoje que o racismo é tão forte, essas temáticas que as escolas de samba estão trazendo é muito bom, pois enaltece a cultura negra e nosso povo. Para mim é uma honra como mulher negra que vive em um país que não se aceita como negro homenagear o Sabiá. Ele foi uma representação forte dentro da nossa cultura, o que torna muito importante”, relata.

Representando toda a sua história, o abre-alas do Salgueiro foi sem dúvidas um trunfo ao fazer uma homenagem para Djalma Sabiá, que infelizmente faleceu no último ano. Ele foi aquele que nos “ensinou a ser diferente”, como diz no samba-enredo. Vindo com tudo que os componentes prezam pela escola, trazendo o espírito salgueirense, nada mais justo do que iniciar o desfile com essa alegoria.

Desfilando há mais de 40 anos na instituição, a dona de casa Leda Santos, de 87 anos, conta o que sentiu ao ver o carro e a importância dessa representação: “Foi uma emoção muito grande, pois minhas duas filhas vieram nele. Algo tão lindo e de um significado incrível e por isso estou muito feliz. Sei que Sabiá nos abençoou nesse desfile, pois demos o nosso melhor”.

São Clemente abre homenagem a Paulo Gustavo com ‘paraíso da comédia’

SC02aO carro abre-alas ‘Paraíso da Comédia Brasileira’ apresentado pela São Clemente levou para Sapucaí uma leitura do que seria o paraíso dos sonhos de Paulo Gustavo. Artista de sucesso no humor brasileiro, Paulo chega em um céu carregado de comediantes e humoristas. Neste céu há muita arte e liberdade de expressão.

Dentro deste contexto, a escola apresentou um carro branco enorme, dividido em três partes, sendo a primeira parte um pequeno palco que recebia amigos e familiares do artista. Branco, mas com muitos detalhes coloridos, o abre-alas foi trabalhado na paleta de cores referente ao arco-íris. Símbolos do imaginário infantil e do movimento LGBTQIA+, mas teve o rosa chamando atenção. Na frente do carro, além do palco que carregava os amigos e familiares, uma personagem sem gênero específico, deita sobre a lua e as nuvens. Aliás, as nuvens são encontradas por todo o carro e ornaram com os anjos drag queens encontrados nas duas laterais.

Na parte superior do carro foi vista uma homenagem aos comediantes que Paulo admirava. É uma festa de piadas, travessuras e alegria com figuras como Golias, O Grande Otelo e Derci Gonçalves. Interagindo com todos eles um enorme Paulo Gustavo com um sorriso largo. Esse sorriso também pode ser visto nos componentes que estiveram em cima do carro nesta primeira noite de desfiles do grupo especial do carnaval 2022.

SC02b“É muito emocionante estar nesse carro. Quando eu recebi a fantasia já foi forte, desfilar deixa qualquer um sem palavras. Esse carro representa também um sonho do céu que o Paulo gostaria de encontrar e poder fazer parte dessa alegria que era o céu dele, traz muita felicidade para gente”, disse Ana Dantas, no seu primeiro desfile pela São Clemente.

O enredo ‘Minha vida é uma peça’ arrecadou para escola novos componentes que eram fãs do artista. É o caso de Rubens Cleiton, que é apaixonado por carnaval, mas desfila pela primeira vez na escola que homenageia seu ídolo Paulo Gustavo.

“Eu estou com uma sensação muito louca, porque estive no carro de um cara que além de muita alegria, representava toda a militância LGBTQIA+ e estar fazendo parte dessa homenagem foi incrível. Espero que tenhamos agradado, porque não faltou alegria na avenida. Bem como ele gostaria de ver”, contou Rubens ao site CARNAVALESCO.

Rubens e Ana Dantas desfilaram usando uma fantasia toda branca, com detalhes nas cores, prata e rosa. A roupa era justa ao corpo, com grandes adereços nos ombros e na cabeça, além de um grande caimento na parte das pernas. A fantasia é inspirada no universo Drag Queen que Paulo Gustavo admirava, pega referência dos trajes de rock utilizados na época de Elvis Presley e combinou bem com as figuras citadas que compunham o carro.

Casal brilha e Mangueira homenageia Cartola, Jamelão e Delegado em desfile com conjunto visual caprichado, mas com erros de evolução

Um presente para os mangueirenses, assim pode ser definido o desfile da Estação Primeira de Mangueira nesta noite, predominante verde e rosa, foi a primeira vez que o carnavalesco Leandro Vieira utilizou tanto as cores da escola nas fantasias e alegorias desde que chegou na escola. O capricho nas fantasias impressionou, foi um show de bom gosto de Leandro, com muito volume, as alas tinham acabamentos maravilhosos e leitura era fácil, o mesmo vale para as alegorias, que contaram o enredo de forma clara. A comissão de frente emocionou com homenagem a Nelson Sargento, o mesmo vale para Squel e Matheus, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira desfilou na frente da bateria e contou com umas fantasias mais bonitas que já usaram na Mangueira. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA MANGUEIRA

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Como destaque negativo, fica a iluminação dos carros, o primeiro passou com algumas luzes apagadas e um produto de limpeza foi esquecido na parte de trás da alegoria, já o segundo carro passou com a parte superior apagada pelos setores 6 e 10. A evolução da escola foi outro ponto a ser observado, o início se mostrou um pouco travado e o final foi mais corrido, com alas passando em ritmo acelerado. No final, um espaço considerável ocorreu no momento em que a bateria se apresentava na última cabine de julgamento.

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Apresentando o enredo “Angenor, José e Laurindo”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, a Mangueira homenageou três dos seus maiores baluartes e foi a segunda escola a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. A verde e rosa terminou sua apresentação com 67 minutos.

Comissão de Frente

Intitulada “Tempos Idos”, nome de uma canção de Cartola, a comissão de frente assinada pelos coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri fez um resgate das antigas comissões, quando a velha-guarda era o centro das atenções, 15 dançarinos usavam o tripé como uma espécie de palco e três crianças representavam Cartola, Jamelão e Delegado ainda meninos. A apresentação foi uma síntese do enredo, o sambista do morro de Mangueira foi evidenciado, dando destaque para o momento em que ao vestir o verde e rosa, ele vira estrela na avenida.

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A apresentação foi marcada pela emoção, e arrancou aplausos por onde passou, nenhum erro foi observado durante os módulos de julgamento. O ápice ocorreu em cima do tripé, com uma caracterização incrível, os homenageados surgiram ao lado das crianças que os representavam, posteriormente, através de uma troca de roupa impressionante, os sambistas passavam das roupas simples, para o manto verde e rosa. Na letra do samba que remetia a composição “As rosas não falam”, rosas surgiam no palco e Cartola se apresentou para os jurados. O público recebeu com muito entusiasmo a comissão, a apresentação finalizou com um tributo a Nelson Sargento, trazendo ainda mais emoção.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel Jorgea, diferentemente do habitual, não veio no início da escola, eles desfilaram na frente da bateria, no setor que homenageou Jamelão, com uma fantasia nomeada “Dinastia Verde e Rosa”, o casal personificava a própria Mangueira, as cores da escola estavam presentes e o primor da fantasia chamou atenção, uma das mais bonitas que já vestiram na escola.

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Apresentando uma dança de ritmo cadenciado, sincronizada e com gestos graciosos, a dupla não cometeu falhas expressivas nos módulos de julgamento e impressionou pela garra, as terminações de movimentos estiveram perfeitas, a troca de olhares e o romance entre eles foi de emocionar. O bailado fez menção simbólica aos antigos desfiles da escola, bebendo da fonte dos casais que fizeram história na verde e rosa. Ambos cantaram o samba o tempo todo, o sorriso de Squel encantou mais uma vez todo o público, assim como a presença marcante de Matheus.

Harmonia

A harmonia da escola foi muito satisfatória, como de costume, o mangueirense cantou com muita garra o samba, que mesmo criticado no pré-carnaval, rendeu e ofereceu para escola um canto uniforme. Pode-se destacar a ala 1, “Velhas Baianas”, até mesmo as alas coreografadas cantaram com bastante empolgação, como por exemplo a ala 17, “Eu vi seu Laurindo beijando a bandeira”. No geral, os componentes cantaram com força, apesar de algumas fantasias um pouco abafadas.

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Enredo

A Mangueira levou à avenida a vida e obra de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre-sala da escola. O enredo “Angenor, José e Laurindo”, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, emocionou e encantou todo o público do Sambódromo. As alegorias e fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada, Leandro dividiu os setores de forma clara, começou com uma homenagem a comunidade do Morro de Mangueira, local em onde os grandes homenageados do enredo cresceram e fizeram história.

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Posteriormente, o carnavalesco optou por separar cada homenageado em um setor, no segundo vimos um tributo ao Mestre Cartola, algumas alas representaram músicas compostas por ele e o carro que fechou o setor trouxe “As rosas não falam”. O terceiro setor da Mangueira foi reservado a Jamelão, intitulado “A voz do meu terreiro”, o setor trouxe o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e a bateria, ambos representando a Mangueira e os antigos carnavais da Verde e Rosa. O setor que encerrou o desfile foi destinado ao Mestre Delegado, o carro que fechou a história chamava-se “O bailarino Negro”.

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Evolução

A evolução da escola foi o quesito que pode preocupar mais na apuração oficial, o início se mostrou lento e um pouco travado, mesmo com os componentes brincando e se divertindo, foi observado que a escola não foi uniforme como se espera do quesito, já a parte final da escola foi mais acelerada que o normal, na altura do setor seis, as últimas alas passaram correndo em frente a cabine de julgamento, a situação se normalizou na última cabine, porém, durante o final da apresentação da bateria, o carro que estava à frente seguiu e deixou um buraco considerável em frente ao módulo, a rainha de bateria Evelyn Bastos tentou ocupar o espaço, mas ele já havia sido observado. Vale ressaltar também, que no setor 6, uma componente da ala 19 embolou a fantasia com outra da ala 20, o carnavalesco Leandro Vieira ajudou a desembolar.

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Samba-Enredo

Criticado no pré-carnaval, o samba da Mangueira foi cantado por todos os componentes e por boa parte da Sapucaí. A composição de Moacyr Luz e companhia rendeu no Sambódromo e mostrou sua força. Marquinho Art Samba também fez ótimo trabalho e a todo momento impulsionava a escola, representando o lendário Jamelão, ele conduziu o samba com brilhantismo. O destaque do samba fica para o verso ‘A voz do meu terreiro’, essa parte até o fim do refrão, foi o momento que o mangueirense cantou com mais afinco, enquanto a virada do samba apresentou leve queda.

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Alegorias e Adereços

A escola optou por levar o número mínimo de carros para a avenida, ao todo, foram quatro carros, um tripé e dois elementos cenográficos. Rico em detalhes e com excelentes acabamentos, os carros eram cenográficos, mas sem perder a carnavalização. Porém, a escola deve perder pontos preciosos por conta de alguns deslizes. O desfile começou com dois elementos alegóricos representando as baianas, muito bonito, eles vieram em frente a ala de baianas, o primeiro carro, “Teu cenário é poesia”, representou o próprio morro de Mangueira, apesar de muito bonito, o carro apresentou falhas em algumas luzes e foi observado um produto de limpeza esquecido na parte de trás da alegoria, o segundo trouxe Cartola e sua música mais famosa, “As rosas não falam”, o carro soltava aroma de rosas pela avenida, entretanto, o carrossel da parte de cima da alegoria passou apagado pela avenida. O terceiro carro fez uma homenagem a Jamelão, predominantemente vermelho, o carro recriou o ambiente noturno de um antigo dancing carioca. No último carro, “O bailarino negro”, a escola trouxe a figura de mestre Delegado, o carro lembrava uma caixinha de música e a escultura em cima estava muito bem acabada.

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Fantasias

Um show de Leandro Vieira, mais uma vez, o carnavalesco apresentou um conjunto de fantasias de encher os olhos, volumosas, criativas e de boa leitura, foi um dos pontos altos do desfile. Pela primeira vez, Leandro abusou do verde e rosa em toda a escola e deixou todo mangueirense orgulhoso. Como destaque, pode-se citar a primeira ala, “Velhas Baianas”, a sétima ala, que representava o sol, impressionou pelo volume apresentado, a fantasia da ala 11 mostrou uma criatividade enorme, representando a gafieira. A ala 13 trouxe estandartes com os títulos da escola e mais uma vez o bom gosto foi visto. A ala de baianas, apesar de lindas, passou com algumas matriarcas segurando a cabeça da fantasia, outro detalhe observado foi que talvez por conta do volume, um número excessivo de componentes passaram mal.

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Outros Destaques

A bateria do Mestre Wesley se apresentou de forma impecável pela avenida, representando a “Saudosa Mangueira”, a fantasia impressionou pela riqueza de detalhes. A rainha da bateria, Evelyn Bastos mais uma vez encantou o público na avenida, com muito samba no pé, a rainha desfilou com as cores da escola. A frente do carro em homenagem a Jamelão, desfilaram Alcione e Rosemary, ambas foram muito aplaudidas pelo público.

Ritmistas da São Clemente comentam irreverente fantasia da bateria no desfile de 2022

SC01aNo carnaval de 2022 a São Clemente passou na avenida homenageando o ator e humorista Paulo Gustavo. No coração da escola, a ‘Fiel bateria’ veio representando a mais famosa personagem de Paulo, a Dona Hermínia. Surgida nos palcos do teatro com o espetáculo ‘Minha mãe é uma peça’, a personagem caiu no gosto do público e ganhou novas dimensões ao ver sua história adaptada para as telas do cinema. Com três filmes de sucesso na bilheteria, Dona Hermínia voltou a aparecer nas telas através do programa 220 voltz do Multishow. Criado por Paulo Gustavo, o programa trazia diversos personagens de diferentes personalidades que falavam sobre temas polêmicos da sociedade com o humor leve e provocativo característico do trabalho de Paulo. O programa foi sucesso enquanto esteve no ar e a personagem fazia parte de uma das esquetes mais esperadas pelo telespectador.

O que muitos não sabem, é que Dona Hermínia nasce de uma leitura do humorista a respeito da própria mãe, a Dona Déia. Paulo sempre que podia, mencionava como a mãe era figura fundamental para a formação do ser que ele era, portanto, nada mais justo que a ‘Fiel bateria’ que nunca abandona a São Clemente e é responsável por dar o ritmo a comunidade, vir homenageando a mãe do Paulo, ou melhor, a mãe de todos os brasileiros. Lembra o mestre Caliquinho.

“Hoje o coração está batendo forte, é muito bom estar de volta na avenida e homenagear a Dona Deia, que representa a mãe de todo o Brasil. Ela é aquela mãe que grita e que dá carinho, quando conheceu nossa comunidade e nossa quadra contagiou todo mundo”.

SC01bAlém da alegria que marca a figura de Dona Déia, a bateria usou uma fantasia que trazia clara referência à Dona Hermínia. Os ritmistas usavam um vestido longo na cor amarela e detalhes em preto e branco. Na parte da frente da fantasia, um avental que remetia ao avental que sempre estava “grudado” na personagem de Paulo Gustavo. Na cabeça uma peruca cheia de bobs e um lenço preto. Bonita e bem acabada, a fantasia esteve bela, porém, despertou incômodo nos ritmistas.

“Embora a fantasia esteja bonita, ela está com muito tecido. O tecido não deixou a fantasia pesada não, mas ela está bastante volumosa para uma bateria”, contou Mônica Jordão.

Ainda que a fantasia tenha causada incômodo, Mônica ressaltou para a equipe do site CARNAVALESCO que está muito feliz com o enredo e a homenagem.

“Esse ano me sinto muito feliz em vir na bateria, porque a dona Deia é a cara da mãe brasileira. Fora isso, eu sou a única mulher desfilando no repique, então eu sei a importância de você ser representado. Vai ser muito bom ver os homens sabendo como é estar de vestido”.

Sentimentos compreendidos e compartilhados pelo colega de bateria, Miguel Lino. Tocador do surdo de segunda, Miguel comentou o seguinte para o site CARNAVALESCO.

“Estou feliz de vestir uma homenagem a dona deia. Como diz no samba, ‘anunciando a mãe de todo brasileiro’. Assisti a todos os filmes do Paulo, eu era fã dele e agora da mãe dele. É uma honra participar dessa homenagem”.

“A fantasia está leve, mas está abafada. Na medida do possível eu acredito que ela esteja dentro da proposta do enredo e pela São Clemente a gente faz até o impossível”.

Com apresentação técnica, Colorado do Brás faz desfile que cresceu ao longo da avenida

A Colorado do Brás foi a segunda escola a desfilar no Sambódromo do Anhembi na primeira noite de desfiles do Grupo Especial de São Paulo. Com o enredo “Carolina – A Cinderela Negra do Canindé”, a vermelho e branco contou a história da escritora Carolina de Jesus, uma das mais importantes autoras da literatura brasileira, e que ganhou fama na época em que morou na antiga favela do Canindé, nas proximidades de onde hoje é o barracão da agremiação. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Com uma apresentação técnica, a Colorado fez um desfile que cresceu ao longo da apresentação e representou com determinação a homenageada que é tão querida por sua comunidade. Quesitos específicos, porém, como comissão de frente, deixaram a desejar e não conseguiram apresentar a escola de maneira adequada, com erros de execução. O desfile encerrou com 64 minutos.

Comissão de Frente

Apresentando “O ‘Grande Baile’ de Carolina, a Cinderela Negra do Canindé”, a comissão de frente retratou a época em que o talento de Carolina de Jesus foi descoberto pelo jornalista Audálio Dantas. Enquanto fazia uma reportagem sobre a favela do Canindé, Audálio leu o diário da então catadora de papelão intitulado “Quarto de Despejo”, e fascinado, ajudou a publicar a obra.

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Liderados pelo coreógrafo Kelson Barros, os dançarinos interpretaram Carolina e Audálio, além da entidade Zé Pilintra, e personagens que fizeram o papel da Elite Literária, que via com preconceito a ascensão da escritora, e a Realeza Negra, que após tantos anos subjugada, encontrou em uma mulher preta e favelada uma voz que lhes representasse.

A comissão trouxe uma coreografia de interpretação difícil, muito longa e de poucos destaques. Em alguns momentos, faltou sincronia entre os casais que formavam o elenco e Zé Pilintra derrubou o chapéu próximo a segunda cabine. A falta de um ponto claro de início e fim da apresentação, que aparentou durar mais de quatro passagens, pode comprometer a avaliação do quesito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da escola, representado por Ruhanan Pontes e Ana Paula, veio vestido de libélulas. Esses insetos, cujo nome deriva de liber (“livro” em latim) são considerados símbolos de transformação, inspiração e renascimento, e são características que se assemelham com a trajetória de vida de Carolina de Jesus.

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A dupla conseguiu executar sua dança com proeza. Em determinados momentos do samba, como nos versos “livre feito uma borboleta”, imitaram uma revoada e causou um efeito agradável de se ver. Houve sincronia em seus movimentos, e no conjunto poderá impactar em boas notas para a Colorado.

Harmonia

O carro de som apostou em bossas e apagões em diferentes momentos ao longo do desfile. A resposta da comunidade, porém, não se fez presente em todos os momentos. Algumas alas apresentaram canto fraco, em especial a ala “Carolina do Diabo”, que foi inaudível em momento importante do refrão principal. Os dois primeiros carros passaram em grande silêncio, com componentes aparentando desânimo na parte final da apresentação.

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Enredo

O desfile da Colorado apresentou a jornada de vida de Carolina de Jesus desde a sua juventude sofrida na região onde hoje se encontra a cidade mineira de Sacramento até se mudar para a paulista Franca. Entre várias mudanças em busca do sonho de uma vida melhor, chegou a morar brevemente para o Rio de Janeiro, mas retornou para São Paulo, onde o destino lhe agraciou com a fama anos depois. Graças a sua primeira obra, “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”, seu nome ganhou o Brasil e o mundo, com o livro sendo traduzido para 13 idiomas e superando obras de escritores consagrados, como Jorge Amado. Sua história virou de peça de teatro até documentários, e até os dias de hoje é reconhecida como uma das mais importantes representantes da cultura negra do país.

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A cabeça da escola foi de difícil leitura. Da comissão de frente até o primeiro carro, não estava claro de fato do que se tratava o enredo. A partir do segundo setor o desfile ganhou nova cara, e foi fácil saber do que se tratavam fantasias e alegorias. Foi um quesito que cresceu de qualidade ao longo do desfile.

Evolução

Sem sustos, conforme já se esperava de um carnaval com limite máximo de elementos reduzidos, porém com tempo de desfile mantido. A Colorado não passou sustos e conseguiu evoluir com fluidez ao longo de boa parte do desfile. Na parte final foi percebida uma leve acelerada, mas não que comprometesse o bailado dos componentes, que em geral sambaram com desenvoltura.

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Samba-Enredo

O samba da Colorado do Brás foi um dos mais comentados no pré-carnaval. Narrado em primeira pessoa, a obra interpretada por Chitão Martins apresenta a história de Carolina de Jesus com riqueza poética e refrão marcante.

Na avenida, o carro de som da escola correspondeu às expectativas. Completando 10 anos neste mesmo microfone, o intérprete conseguiu melhorar ainda mais seu desempenho em relação aos ensaios, e foi um dos pontos altos do desfile. A letra do samba ajudou na leitura do enredo ao longo da apresentação, e é um quesito que passou segurança para a escola durante toda a avenida.

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Fantasias

As fantasias vieram representando com riqueza de detalhes as diferentes passagens da vida de Carolina de Jesus. Neta de escravos que fizeram parte dos momentos finais do tráfico negreiro, as roupas dos componentes apresentaram a ancestralidade africana de Carolina, e retrataram dos seus primeiros momentos na cidade grande até a consagração como renomada escritora, que chegou a inclusive gravar músicas de própria autoria.

Com um conjunto simples. Com leves exceções, as roupas dos componentes conseguiram transmitir bem sua mensagem, com destaque especial para as alas “O Colono e o Fazendeiro” e principalmente “A Cor da Fome é Amarela”, que teve significado marcante no enredo.

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Alegorias

As alegorias da Colorado do Brás cresceram ao longo do desfile no quesito interpretação, mas o acabamento andou no sentido contrário. O Abre-alas foi de significado genérico, e poderia se encaixar em qualquer enredo com temática similar. Mas a partir da segunda alegoria, os elementos ganharam riqueza de significado, com destaque para do terceiro carro, que representou “O Quarto de Despejo – A Carruagem”, uma referência ao livro de maior sucesso de Carolina de Jesus.

Outros destaques

Figura que marcou presença inclusive nos ensaios técnicos, a filha da homenageada, Vera Eunice de Jesus, não deixou de marcar presença e foi um dos destaques da Colorado do Brás, que encerrou sua apresentação de forma satisfatória.

No desfile do Salgueiro, a resistência negra no futebol

Salgueiro02O futebol chegou ao Brasil, em 1894, trazido pelos europeus e estudantes de classe alta que voltavam de seus estudos no Reino Unido Charles Miler e Oscar Cox. Dando continuidade ao enredo resistência, a décima sétima ala “O negro e o futebol carioca”, arremeteu a relatar o preconceito que os negros sofreram no esporte por, incialmente, ser uma atividade realizada com jogadores majoritariamente brancos, trazendo para os dias atuais, que mesmo após muita luta, os negros ainda tem que se firmar neste cenário. Mario Sérgio, em entrevista ao site, relatou a importância de trazer essa temática para o desfile.

“A fantasia veio representando a dificuldade que os negros enfrentaram há décadas atrás para se inreriem no futebol, tanto no Rio de Janeiro. O Vasco e o Bangu foram pioneiros a contribuírem para dar um basta nesse preconceito. Nós viemos com para uma época mais contemporânea representando o que eles viveram tempos atrás.”

O Bangu Atlético Clube, fundado por ingleses mas formado, em sua maioria, por operários da Fábrica de Tecidos de Bangu, foi o primeiro clube no estado a escalar um atleta negro no ano de 1905. Tomada esta atitude, no ano de 1907 a Liga Metropolitana de Football proibiu que atletas “de cor” fossem escalados, com isso, o clube branco e vermelho decidiu abandonar a competição.

O acontecimento de 1905 poderia ter ficado só no passado, porém, nos dias atuais ainda podemos observar diversos casos em que negros sofrem preconceito no futebol. Marcelo Jaqueta, que desfila há 3 anos na escola, relatou em entrevista ao site CARNAVALESCO sua opinião sobre esses atos.

“É triste nós observarmos essa realidade nos dias de hoje porque todos somos iguais, não tem cor, somos seres humanos, o sangue que corre na nossa veia é vermelho, é igual, não tem diferença. Então, a gente tem que lutar e sempre falar em resistência, temos que acabar com esse preconceito hoje. O Salgueiro trouxe isso, vamos acabar com o preconceito!”, concluiu.

‘Saber que nossa luta continua e que nós nunca iremos para de lutar’, diz atriz Aline Dias sobre vir na última alegoria do Salgueiro

Salgueiro01bA terceira escola a se apresentar nesta sexta-feira na Sapucaí, trouxe um desfile retratando críticas sociais que, mesmo no século 21, têm de ser debatidas e a resistência a esses ataques. No seu último carro apresentado “A resistência continua!” teve sua parte da frente representada por uma praça estilizada e o termo racismo sendo utilizado, a última alegoria do Salgueiro mostrou para os espectadores como é necessário estimular o debate sobre temas ligados à discriminação contra a população negra no Rio de Janeiro.

Para instigar ainda mais quem assiste ao desfile, na alegoria pudemos observar uma cena em que um grupo de manifestantes envolve a alegoria e ocupa o cenário urbano, formado pela praça estilizada e os prédios que a contornam. Reunindo as pessoas na praça e assim gerando uma mobilização, os protestantes se expressaram contra as injustiças e violências contra os negros e, firmando assim, o Morro do Salgueiro como lugar de resistência afro-brasileira até os dias atuais. Um dos diretores da Escola, em entrevista para o site CARNAVALESCO, contou alguns detalhes do carro.

Salgueiro01c“Esse carro é o desfecho do enredo, representou justamente a resistência contra o racismo. Pudemos contar na composição com vários personagens do movimento negro, a velha guarda da escola também veio nessa alegoria. É a representação do enredo”.

Em certo momento do desfile, o preconceito e o racismo são derrubados, no sentido literal da palavra, providos de cartazes e bandeiras, utilizando-se de algumas imagens e palavras de ordem, o grupo ocupou o obelisco que está localizado na praça. Já na parte traseira da quinta alegoria, a vermelho e branco trouxe um cenário inspirado na favela criada para o desfile de Skindô de 1984.

“Representar a luta antirracista, representar o povo preto, é muito necessário, é muito importante passar essa mensagem para o público e saber que a nossa luta continua e que nós não iremos para de lutar.”, comentou a a atriz Aline Dias que veio compondo a última alegoria.

Análise da bateria da Imperatriz no desfile

A bateria Swing da Leopoldina de Mestre Lolo fez uma grande apresentação. Uma exímia afinação de surdos foi notada, amparando o ritmo da bateria da Imperatriz Leopoldinense de forma eficaz. O balanço dos surdos de terceira preencheram a sonoridade junto a um toque de caixas uniforme e ressonante, além de repiques complementando o molho da cozinha da bateria. Peças leves acompanharam e contribuíram com qualidade inegável. Uma ala de tamborins com ótimo volume, coesão rítmica, que tocou chapado a convenção que explorou a melodia do samba com um desenho baseado em simplicidade. Um naipe de chocalhos exemplar, assim como cuícas seguras também foram percebidas.

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O leque de paradinhas esbanjou concepção musical refinada. A bossa do refrão do meio inseriu um arranjo musical com retomada que remetia à bateria da Mocidade Independente. Os chocalhos fizeram subida “cascavel”, com marcadores tocando o surdo de maneira invertida, além das caixas fazendo a batida da bateria da Mocidade. A paradinha da segunda unia bom gosto musical e uma sonoridade de notório destaque.

As passagens da bateria da Imperatriz diante dos julgadores ocorreram sem qualquer transtorno musical evidenciado da pista de desfile. Inclusive, a apresentação na última cabine dupla de jurados arrancou aplausos e boa receptividade. Uma abertura de início dos trabalhos muito boa do ritmo da escola de Ramos. A única ressalva negativa fica por conta do chapéu da bateria. De altura elevada, prejudicou as sinalizações das paradinhas por parte dos diretores, que foram bravos e garantiram com muito sacrifício que nenhum problema ocorresse.

Colorado 2022: galeria de fotos do desfile