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Fotos: desfile da Imperatriz Leopoldinense no Carnaval 2022

Imperatriz cumpre promessa de maior abertura do Especial e faz desfile com grande qualidade estética

A Imperatriz voltou ao Grupo Especial e fez jus à missão de abrir o principal grupo do Rio de Janeiro após mais de dois anos sem carnaval devido à pandemia. O encontro Rosa Magalhães, Imperatriz e Arlindo Rodrigues trouxe alegorias e fantasias luxuosas, misturando a estética dos dois carnavalescos que mais representam o estilo clássico da Imperatriz. O início da escola impressionava pelo alinhamento entre a enorme locomotiva da comissão de frente, o tripé trazendo a figura do homenageado e o abre-alas com o Theatro Municipal. Destaque também para a bateria de mestre Lolo e para a comissão de frente com bons efeitos e traduzindo com irreverência e bom humor o enredo. As fantasias com boa leitura eram luxuosas, de bom gosto e com materiais que foram consagrados pelo carnavalesco homenageado. Único ponto negativo foi a irregularidade na harmonia, que alternou algumas alas cantando muito e outras nem tanto. Com o enredo “Meninos eu vivi…Onde Canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”, a Imperatriz abriu a primeira noite de desfiles do Grupo Especial encerrando com o tempo de 67 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA IMPERATRIZ

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

Coreografada por Thiago Soares, a comissão de frente “O trem das lembranças” apresentou uma proposta coreográfica lúdica, respeitando as características da Imperatriz Leopoldinense e promovendo o reencontro da escola com suas marcas de identidade. O elemento alegórico do grupo recriou a imagem mais simbólica do desfile de 1981, o trem que se tornou vedete da apresentação em homenagem a Lamartine Babo. De seu vagão, há a referência ao espelho, material lançado no carnaval por Arlindo. No elenco, o pioneirismo na inserção de mulheres no quesito, as bailarinas dançavam com saias que se transformavam em capas e outros elementos de figurino.

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Depois, em um segundo momento a comissão de frente interagia com o vagão de trem e portas espelhadas, até um segundo elenco todo prateado aparecer. Uma bailarina também realizava um truque de troca rápida de roupa os outros integrantes se aproximavam, o que levava o publico ao delírio. Outro ponto forte, era um drone totalmente caracterizado de sabiá que voava no final da apresentação da comissão. Importante ser citado que na primeira cabine de julgamento um pouco antes da apresentação ter início uma das bailarinas parou para ajustar a roupa com uma assistente e depois no segundo módulo , um dos espelhos girou um pouquinho antes da hora na troca de elenco.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal, Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro, vestiu a fantasia “Imperatriz- a manequim dos sonhos de Arlindo” representando as formas sinuosas, arabescas e barrocas, ideias constantes em toda obra do carnavalesco homenageado e que também caracterizam o estilo romântico, histórico, barroco e tradicional da Rainha de Ramos desde sua fundação. A apresentação nos três módulos aconteceu sem problemas, com a bandeira sendo bem desfraldada mesmo com o vento que começou a atingir a pista com um pouco mais de força. A dupla da Imperatriz preferiu trazer uma coreografia mais tradicional com destaque para o fato de conseguirem alinhar ao mesmo tempo intensidade e leveza com uma postura corporal impecável. Apenas algumas terminações de passos faziam maior referência ao samba como em “Salve a Mocidade”, em que faziam um referência com os braços ao alto. A dupla também seguiu o ritmo de uma bossa de mestre Lolo com um ritmo de pagode no trecho “Seu samba nascendo no morro”.

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Harmonia

O ponto negativo a ser citado da escola, pois o canto não foi tão uniforme e nem tão intenso como visto em alguns ensaios. A imperatriz alternou alas cantando com mais vigor como ” Africanidades – a raiz africana nas peles e no vime”, e outras nem tanto como algumas do terceiro setor. O canto começou até mais intenso no início do desfile mas foi perdendo um pouco dessa vitalidade a partir da segunda cabine. Outras alas que se destacaram no canto foram “Zumbi dos Palmares – o herói da revolução” no segundo setor, e “Sincretismo religioso – Oxalá do Bonfim” no quarto setor. Do samba, o trecho “Amada Imperatriz” era o de maior destaque com os componente entoando e erguendo o braço para cima.

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Enredo

O enredo “Meninos, eu vivi… Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine” trouxe o reencontro da Imperatriz Leopoldinense com o seu grande mentor artístico Arlindo Rodrigues, pontuando o momento de renascimento da escola que se olha no espelho e se reconhece outra vez como uma referência do carnaval. A escola dividiu o desfile em cinco setores. No primeiro “Da Ribalta à Avenida” – À Luz do Destino, o Menino e o Dom”, a revolução que Arlindo trouxe do Theatro Municipal para o carnaval. Em seguida “Canta, Salgueiro!- A Revolução Africana na Vermelho e Branco”, apresentou a chegada de Arlindo e Pamplona ao Salgueiro nos anos 60.

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No terceiro setor “”Salve a Mocidade! – Onde Arlindo descobriu o Brasil”, foi representado a mudança de Arlindo para a Mocidade, no quarto setor “Reluzente como a luz do dia – O encontro romântico e barroco entre Arlindo Rodrigues e a Imperatriz”, foi retratado a chegada do homenageado à escola de Ramos. E por fim, em “Meninos, eu vivi … Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”, a escola celebrou a consolidação da Imperatriz como potência por Arlindo no desfile sobre Lamartine. O enredo foi apresentado de forma coerente, no geral de fácil leitura e como se esperava da carnavalesca Rosa Magalhães, com um tom didático e bastante claro.

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Evolução

A Imperatriz Leopoldinense realizou uma evolução fluida, sem correria e sem grandes paradas, apesar de algumas fantasias serem de um material um pouco mais pesado . Não foram observados buracos ou alas emboladas. O segundo setor que fazia referência ao Salgueiro e o último brindando a força dos carnavais de Arlindo na Imperatriz eram os que traziam um evolução mais espontânea e alegra. Nesse sentido, a fantasia parece ter ajudado um pouco.

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Samba

O samba interpretado pela dupla Arthur Franco e Bruno Ribas foi beneficiado pelo andamento cadenciado introduzido pela “Swing da Leopoldina” de mestre Lolo, facilitando o canto e a evolução dos componentes. A dupla de intérpretes mostrou grande entrosamento com Arthur trazendo intensidade à obra e Bruno Ribas realizando boas intervenções harmônicas e vocalizações. Destaque para o trecho “Amada Imperatriz”, em que alguns momentos a bateria de mestre Lolo secava os instrumentos e o trecho era entoado pelos componentes com bastante vigor. O trecho “Seu samba nascendo no morro”, mais melódico e com uma outra bossa de mestre Lolo em ritmo de pagode também era cantando com intensidade.

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Fantasias

O conjunto de fantasias da Imperatriz foi um dos grandes destaques do desfile trazendo uma mistura do estilo Rosa com o Estilo Arlindo Rodrigues, e se consolidando naquela estética clássica, romântica da Imperatriz que há algum tempo não era vista com tanto vigor e bom gosto na Sapucaí. A utilização da renda e de babados, estilo de material aliado tanto a estética de Rosa como de Arlindo era visto em diversas fantasias principalmente no primeiro e no último setor que faziam maior referência a produção do Arlindo.

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Destaque para as alas “Imersão teatral -Inspiração no drama e na comédia”, e “Corpo de baile – A arte em movimento”, ambas do primeiro setor, e a fantasias das composições do último carro ” Meninos eu vivi” que também esbanjavam bom gosto no uso da renda. No segundo setor houve a mudança de cor fazendo homenagem ao Salgueiro e trouxe a presença de um estilo mais afro com destaque para figurinos com mais vime, outro material de preferência de Arlindo como nas ” baianas de todos os deuses – matriarcas afro-brasileiras” e “Zumbi dos Palmares – o herói da revolução”. Em geral um banho de bom gosto com materiais de primeira qualidade.

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Alegorias

A escola trouxe cinco alegorias e dois tripés. O primeiro tripé que funcionava como um “pede passagem” “Arlindo a contemplação” trazia o homenageada admirando a entrada de sua amada Imperatriz para contar sua história. O carro abre-alas “À luz de um nobre destino, o universo fascinante do Theatro Municipal” com a primeira parte apresentando a coroa da Imperatriz Leopoldinense decorada com os rocailles magníficos do interior do Theatro Municipal, além das luminárias fascinantes que adornam o lugar. Na segunda parte, os espelhos – introduzidos por Arlindo no carnaval e abundantes na decoração do Theatro.

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O segundo carro “A raça encarnada na Negritude do Salgueiro – Formas estampas e natureza: A África de Arlindo” trouxe um retrato da verdadeira identidade do negro brasileiro e das raízes africanas plantadas no Brasil”. A escultura de Zumbi era muito alta. No último carro “Meninos, eu vivi…e ainda vivo! A eterna influência” trouxe no final uma bonita homenagem a Joaosinho Trinta com o cristo de “ratos e urubus”. Joaozinho trabalhou com Arlindo, o substituiu no Salgueiro e foi seu contemporâneo na disputa de carnavais com um estilo oposto ao clássico que formou a identidade da Imperatriz. Apesar da beleza e do bom gosto dos carros, as luzes do segundo tripé “Decorações de rua – o caminho enfeitado pelas mãos de Arlindo e Pamplona”, estavam apagado próximo a terceira cabine de julgamento. A ultima alegoria também apresentou alguns problemas de acabamento quando um pano voava com o vento e deixava a mostra a parte interna.

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Outros Destaques

Antes do desfile, Joao Drumond discursou prestando uma homenagem ao avô falecido em 2021, o eterno patrono da Imperatriz, Luiz Pacheco Drumond. A cantora Iza esbanjou simpatia a frente da Swing da Leopoldina com a fantasia “matriz brasileiro – as cores da Terra”, representando os matizes que coloriram o avistamento dos portugueses no descobrimento do país. Os ritmistas vieram representando o descobrimento do Brasil, um dos temas que Arlindo mais gostava de contar na Avenida.

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Mestre Lolo e seus diretores fez uma homenagem a mestre André o icônico comandante da “Não Existe Mais Quente” inventor das famosas paradinhas. O último carro, além de trazer imagens de Arlindo em um telão também trouxe vídeos com seu Luizinho Drumond, o responsável pela escolha do enredo e a volta de Rosa a Imperatriz. Já a carnavalesca veio sentada na última alegoria da escola. O ex mestre-sala Chiquinho causou bastante emoção ao vir sozinho no carro “A sagração no altar da Bahia”, sua falecida mãe, a porta-bandeira Maria Helena originalmente também viria na alegoria.

Ala das baianas faz referência aos antigos carnavais da Mangueira

Mangueira04aA tradicional ala das baianas da Estação Primeira de Mangueira, esse ano reforçam o mergulho na memória dos aspectos afetivos da escola, assim revivendo antigos carnavais.

Com bastante forro apesar de leve, a saia é composta por cor predominante rosa, porém com a barra esverdeada, fazendo referência as conhecidas cores da escola. Na parte superior do corpo, um chapéu com flores e penas de cor rosa.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, algumas baianas relataram suas opiniões quanto as suas respectivas fantasias, as quais aparentemente foram de total agrado das componentes.

“Esse é o meu quarto ano como baiana. Nossa fantasia está lindíssima, e além de clássica, está honrando a verdadeira tradição das baianas. Me sinto muito feliz e emocionada em poder rodar bastante minha baiana ao estilo dos antigos carnavais”, contou a fotógrafa Andréia Nestreia, de 51 anos.

Mangueira04bA baiana Nara Cristina, de 65 anos, também compartilhou parte de sua emoção em estar de volta a Sapucaí e não mediu elogios a sua fantasia.

“Está linda a minha fantasia, da até gosto de desfilar. Muita emoção esse ano com a Mangueira, mas o importante é se divertir e torcer para o título sair na terça feira, antiga clássica quarta feira de cinzas”.

Estreando como baiana na escola, Claudia Coelho se mostrou muito emocionada em desfilar na sua escola do coração. Torcedora há mais de 20 anos, quando questionada sobre a emoção em estar desfilando, respondeu: “Meu coração está explodindo de felicidade! Eu sempre quis desfilar, mas demorei a tomar coragem. O desfile exige muita responsabilidade, principalmente na ala das baianas, mas finalmente estou aqui, antes tarde do que nunca”, brincou.

Em homenagem a Cartola, Jamelão e Delegado, Mangueira abre o desfile com mar verde e rosa

Mangueira03bCom um enredo muito aguardado, “Angenor, José e Laurindo”, em homenagem a Cartola, Jamelão e Delegado, a Estação Primeira de Mangueira foi a segunda escola a pisar na Marquês de Sapucaí, na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. Para exaltar seus baluartes, a escola abriu seu desfile com intenso uso das cores do seu pavilhão, o verde e rosa.

Em seu sexto carnaval na Mangueira, o carnavalesco Leandro Vieira desenvolveu o projeto com maior uso das cores da escola. Logo no início do desfile, o artista formou um mar verde e rosa. A tradicional ala de baianas, por exemplo, vestia uma bela fantasia, toda em verde e rosa, atrás de um elemento cenográfico que as representava.

Mangueira03aEm entrevista ao Site CARNAVALESCO, algumas componentes da Mangueira relataram a emoção de vestir as cores da escola em sua fantasia. Confiantes, admitem o orgulho de ver o mar verde e rosa, no palco sagrado da Marquês de Sapucaí. É o que conta a baiana Paula, apaixonada mangueirense.

“A gente está nas cores da escola representando a nossa ancestralidade, os guerreiros que fundaram a Mangueira e hoje estão sendo homenageados pela escola. É uma honra estar vestida nas cores da escola, o verde e rosa, que foi escolhida pelo Cartola, Dona Zica, Nelson Sargento e tantos outros baluartes que já nos deixaram”, disse.

A emoção de vestir o verde e rosa de Paula é compartilhada com a analista jurídica Raquel Nery, que exalta a capacidade da escola de unir pessoas de pensamentos diferentes.

Mangueira03c“Eu sou suspeita para falar porque a Mangueira é e sempre foi minha escola do coração. Hoje, não sei como vou fazer para segurar a emoção, ainda mais com a escola carregada com as suas cores. Eu costumo dizer que a Mangueira é a única instituição capaz de congregar, em suas cores, flamenguistas e vascaínos, petistas e bolsonaristas. Estação Primeira de Mangueira só existe uma”, afirmou.

Veterano na Sapucaí com a Mangueira, DamiãoPereira afirmou nunca ter visto a escola tão carregada em suas cores. O historiador relatou sua emoção ao ver a abertura da Estação Primeira, carregada no verde e rosa.

“Eu já desfilo na Mangueira há muito tempo e hoje, pela primeira vez, estou vendo essa quantidade de verde e rosa na avenida. É extremamente significante porque essas cores significam o que de fato é a Mangueira, é Verde e Rosa, a melhor escola que existe”, contou.

Diretamente do Rio Grande do Sul para a Avenida Marquês de Sapucaí, a psicóloga Bruna Madrid se emocionou ao pisar no solo sagrado com a Mangueira, em sua estreia como desfilante.

“Eu estou muito emocionada porque eu sempre acompanhei o carnaval e Mangueira na TV e agora poder estar aqui fazendo parte disso e com escola exaltando as suas cores, é mágico. Está tudo muito lindo”, relatou.

Com fantasia verde e rosa, bateria da Mangueira encanta Marquês de Sapucaí

Mangueira02aCom homenagem a Cartola, Jamelão e Delegado, a Mangueira foi a segunda escola a pisar na Sapucaí, na primeira noite do Grupo Especial. No enredo “Angenor, José e Laurindo”, a bateria ganhou um lugar especial, homenageando o eterno intérprete da escola, Jamelão.

A fantasia, desenvolvida pelo bicampeão Leandro Vieira, fez referência a Gradim, o responsável por levar Jamelão à Estação Primeira de Mangueira. O figurino, além de um terninho verde e rosa, tinha um belo chapéu, com papagaios nas cores da escola.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, os ritmistas comandados por mestre Wesley aprovaram a roupa desenvolvida por Leandro Vieira. Confiantes, os componentes acreditam no título da Verde-Rosa. É o caso do músico Roberto Malaguete, de 65 anos.

Mangueira02b“A fantasia é um pouco volumosa. Para a gente que transporta o instrumento, ela dá uma atrapalhada, mas nada que nossa boa vontade não possa compensar. De qualquer forma, vai dar tudo certo. A Mangueira está além do título, ela tem uma características muito pessoais, como a batida do surdo, que caracteriza nossa escola. Todo mundo sabe para pra ver a Mangueira, quer saber como está a escola, já existe essa consciência coletiva, de pelo menos, olhar e respeitar toda história da Mangueira”, disse.

Além disso, o músico, com apresentações de percussão mundo afora, se disse emocionado ao pisar na Marquês de Sapucaí. “Sou músico e sempre trabalhei com cultura brasileira. Aqui, estou premiado um ano de felicidade, por viver esse momento maravilhoso, que tem a ver com a nossa cidade, com meu amor pela música e pela percussão. Eu vou estar agradecendo aos meus orixás pela benção de participar desse evento, uma ópera a céu aberto”.

O sentimento de Roberto sobre a fantasia é compartilhado com Kleber Assumpção, já veterano na bateria da Mangueira. O motorista também disse acreditar no título da Supercampeã.

“A fantasia é bem levinha, muito tradicional para a gente poder tocar e ficar bem à vontade, homenageando nosso mestre Jamelão, ídolo do samba e da nossa escola. Vamos que vamos, pra cima. Vamos entrar na avenida com garra para trazer esse título pra Mangueira”, afirmou.

O mais novo dos entrevistados, Sérgio Paiva, de 34 anos, não teve dúvidas quanto a sua aprovação da fantasia dos ritmistas. “A nossa fantasia está leve, muito boa para a gente poder tocar e fazer nossa apresentação. Acredito muito no título, tem alguns anos que a gente não ganha. Se Deus quiser, esse ano a gente levanta mais um caneco”, contou.

Com forte crítica social dentro do carnaval, Tucuruvi encanta com seu canto e comissão de frente

O Tucuruvi abriu o Carnaval 2022 do Grupo Especial de São Paulo com o enredo “Carnavais… De lá pra cá o, que mudou? Daqui pra lá, o que será?”. O desfile foi marcado pelo forte canto da comunidade, uma comissão de frente que emocionou, onde homenageou todas as escolas do Grupo Especial e, principalmente, pela crítica social feita. Os carnavalescos Dione Leite e Fernando Dias, conseguiram desenvolver isso de uma forma lúdica. Todos conseguiram entender a mensagem. Vale destacar as inúmeras vezes que sambistas e outras agremiações foram lembrados na apresentação. As fantasias foram de fácil entendimento. A escola optou por não usar nenhum tipo de luxo. Por fim, o ‘Zaca’ fez um desfile técnico, justamente para tentar se manter no Grupo Especial, visto que voltar e ser a primeira de todas, desfilando na pista ‘fria’, não é uma tarefa fácil. A apresentação da agremiação fechou com 1h04m. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

A ala da escola, lidera pelo coreógrafo Fernando Lee, veio simbolizando a mensagem: “A força da nossa raiz ninguém pode calar”, contando com 15 dançarinos. Desses integrantes, 14 representavam ‘os guardiões do legado’ e um deles, a ‘força da ancestralidade’. A fantasia foi composta por uma saia e uma cauda. Nessa saia, dentro da apresentação, ela abria e o grupo se alinhava e, juntos, formavam a frase ‘sou resistência’ e, na cauda, havia uma abertura, onde o efeito se dava em um pavilhão de todas as escolas. Cada componente da ala trajado com o símbolo de uma escola de samba do Grupo Especial nesse costeiro. Um ótimo efeito que arrancou muitos aplausos do público presente no Anhembi.

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Para a abertura dos desfiles, realmente foi algo que de se reverenciar, pois essa questão se identifica muito com tudo que o carnaval passou atualmente também. Além de ter sido uma abertura para a apresentação do Tucuruvi, de fato, passou a sensação de ser uma abertura para todas as escolas pisarem na pista nos desfiles que estão para acontecer.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Luan Caliel e Waleska Gomes, representando “A forma mais pura de alegria”, bailaram de maneira satisfatória. A fantasia era leve, e isso fez com que a porta-bandeira pudesse realizar os seus movimentos no sentido horário e anti-horário sem problemas. O mestre-sala sambou de forma intensa e fez movimentos rápidos juntos aos giros de Waleska Gomes. A coreografia dentro do samba também foi executada com sucesso e, quando mostraram o pavilhão para a cabine de jurado frente ao recuo, arrancou aplausos do jurado. Sobre as vestimentas, a porta-bandeira vestiu uma roupa dourada com a saia na cor vinho. Luan Caliel, também usou o dourado brilhoso, mas a combinação feita foi com uma espécie de cor laranja claro.

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Harmonia

A ansiedade e responsabilidade de abrir os desfiles do Grupo Especial, fez com que a comunidade do Tucuruvi entoasse o hino com uma força tremenda. Na questão do volume do canto, tudo o que se viu nos ensaios técnicos, se confirmou na apresentação oficial. Esse quesito sempre foi uma característica da escola e a felicidade estampada no rosto dos componentes era nítida.

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O carro de som, liderado por Leonardo Bessa, teve uma apresentação dentro do que se pede. Levantou o astral da comunidade e do Anhembi. No carnaval paulistano, a primeira agremiação que desfila nas noites, sempre tende a levantar as arquibancadas e, o ‘Zaca’, junto ao seu carro de som e canto, de certa forma, conseguiu.

Enredo

A escola teve uma apresentação satisfatória dentro do que se pede. É interessante observar um gesto legal, onde durante grande parte do desfile, a agremiação fez alusões às coirmãs. Vimos várias vezes pavilhões das outras escolas do Especial, principalmente as mais antigas e que marcaram época, afinal, o tema volta ao passado para resgatar a história dos baluartes e tudo o que foi feito para chegarmos até aqui.

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Porém, a proposta principal do enredo da comunidade da Cantareira, é fazer uma crítica social ao que virou o carnaval nos dias de hoje e, notou-se isso em todos os setores do desfile, onde se fala muito de dinheiro e que a ganância ficou em primeiro lugar. O destaque vai para o terceiro setor, onde o carro “Cassino Carnaval” abriu as alas fazendo fortes questionamentos.

Evolução

O departamento de harmonia foi extremamente técnico nesse quesito. Optou por colocar a bateria no primeiro setor para assim, se ‘livrar’ do recuo rapidamente. A batucada entrou de forma correta, respeitando o limite técnico. Sobre as alas, elas evoluíram de maneira correta. Bem como a alegria do samba, a evolução funcionou. Um complementou o outro. Com qualquer tipo de fantasia dá para evoluir bem, mas as leves, como o Tucuruvi usou, fez com que muitos componentes, sambassem no pé em vários momentos. Alas coreografadas também foram de bastante destaque, onde interagiam com o público a todo instante. Destaque para a primeira encenação, que ficava posicionada no carro abre-alas.

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Samba-enredo

Apesar de teoricamente, o samba do Tucuruvi ter uma melodia para baixo, a bateria e o carro de som, liderados por mestre Serginho e Leonardo Bessa, respectivamente, desde os ensaios, fizeram estratégias para isso mudar. A aceleração do ritmo da batucada culminou bastante para essa mudança. A letra fala muito de como o carnaval de antigamente era melhor e mais alegre, de ganância dentro do carnaval, de baluartes esquecidos e, sobretudo, de resistência. Porém, também enaltece algum tipo de esperança.

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As partes mais cantadas são os dois últimos versos: ‘o choro da velha baiana, a esperança no olhar, a força da nossa raiz ninguém pode calar’. Após essa parte, entra o primeiro refrão que também é muito entoado pela comunidade. Destaque para a frase ‘sou resistência e você tem que respeitar’, onde alguns componentes até batiam no peito ao cantar essa parte forte do samba.

Fantasias

A escola optou por fazer igual o seu enredo. Não quis nada de luxo nas fantasias. Apesar disso, os materiais utilizados e o acabamento, estavam bons. A proposta foi muito clara, sendo esquecer toda a beleza luxuosa e optar pelo simples com o intuito de propor uma fácil leitura ao público e aos jurados. Quem assistiu o desfile e prestou atenção, com certeza prestou atenção em cada detalhe.

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Vale destacar a ala 2: “O trevo do Camisa Nairanã chegou”, onde homenageava a escola de samba Camisa Verde e Branco. Alas 3 e 4 que faziam uma homenagem à Mocidade Alegre, respectivamente e, por fim, a ala 8: “Nova realidade: Gaviões da Fiel Torcida e seu manto preto e branco”, uma homenagem aos Gaviões da Fiel, onde os componentes carregavam bandeiras.

Alegorias

Assim como as fantasias, o entendimento da alegoria foi muito claro. A primeira alegoria veio representando o carnaval elitizado e não elitizado, com alas coreografadas que interagia e encenava para o público. Tais integrantes, dançavam no chão, pois o carro tinha aberturas.

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Segunda alegoria simbolizou a Avenida Tiradentes, palco dos desfiles mais épicos e populares da história do carnaval de São Paulo. Um carro colorido e recheados de destaques no centro e lados. No topo, uma grande figura do Henricão com uma coroa, segurando um bastão. A escultura se mexia o tempo todo, acenando para o público.

O terceiro carro representava um cassino. Aparentemente, fazia uma referência às apostas que as pessoas fazem dentro do carnaval para ver quem sai vencedor ou não.

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A quarta alegoria simbolizava a resistência, onde nele, havia a velha guarda e, também, os pavilhões das escolas do Grupo Especial e Acesso. Como dito anteriormente, na questão do entendimento e proposta de enredo, ficou muito claro o que a escola quis passar.

Outros destaques

A Bateria do Zaca, comandada pelo mestre Serginho, teve um desempenho seguro. A batucada executou bossas esporadicamente. A batucada se destacou por marcar o samba e dar sustentação rítmica ao samba e carro de som, para assim, a harmonia funcionar com fluidez. A bossa destaque vai para o último refrão, onde a bateria brinca com todos os instrumentos e, no final, a batucada faz uma paradinha no verso ‘sou resistência e você tem que respeitar’.

Eterno Jamelão: velha guarda presta homenagem ao ídolo da escola em desfile

Mangueira01aCom enredo homenageando três dos maiores ícones de sua história, os escolhidos da Estação Primeira de Mangueira foram Cartola, Jamelão e Mestre Delegado. Tendo isso em vista, a velha-guarda da escola realizou um verdadeiro tributo a Jamelão. A ala apresentou dados biográficos do homenageado, deixando muitos mangueirenses saudosos e emocionados.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, alguns componentes dessa ala tão querida por todos os sambistas, fizeram questão de relatar um pouco de suas relações com o saudoso intérprete da escola Jamelão.

Mangueira01b“Tenho a honra de dizer que conheci Jamelão, fui ao enterro dele inclusive. Ele foi um dos maiores intérpretes que esse mundo já viu. Nós não éramos tão amigos, ele era um pouco ranzinza”, brincou, “Mas sempre que me via, me cumprimentava”, afirmou o senhor Ari Rios, componente da Mangueira há 25 anos.

Também parte da velha-guarda da escola, Iracema da Silva se mostrou bastante emocionada em prestar tal homenagem. Com mais de 30 anos de escola, disse também ter conhecido Jamelão.

Mangueira01c“Não cheguei a ter tanta intimidade com ele, mas éramos muito amigos na quadra, nos amávamos. Tenho certeza que não só para mim, mas ele faz muita falta, por isso me sinto muito feliz em poder lhe prestar essa homenagem”.

Roberto da Silva, veterano de Mangueira com mais de 40 anos, também não deixou de contar parte de sua vivência com o homenageado.

“Me sinto honrado por ter conhecido ele, temos muitas histórias. Ele era muito bacana, gente finíssima, só não gostava de dar entrevistas. Me lembro que ele só dava entrevista a quem o pagasse”, riu ao relembrar.

“Confesso que eu tinha um pouco de medo de brincar com ele, já que ele era bem grosso, sempre expulsava a gente. Ele costumava manter sempre uma postura de bastante autoridade, mas ainda sim um querido por todos e gente boníssima”, finalizou.

Tucuruvi 2022: galeria de fotos do desfile

Ouça a bateria e arrancada do samba no desfile da Mangueira 2022