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É o bonde do Caveira! Fantasia da bateria homenageia mestre Ciça no desfile da Viradouro

Viradouro01A fantasia da bandeira da Viradouro, no décimo quarto ano de Ciça no comando, não poderia ser melhor para o consagrado mestre. No desfile da escola, que aborda o carnaval de 1919, a Furacão Vermelho e Branco retratou o fundador do Bola Preta, Caveirinha, com clara associação, feita pelos carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, ao apelido de mestre Ciça entre seus ritmistas, “Caveira”.

Fundador do bloco Bola Preta, um dos maiores do Rio de Janeiro, Caveirinha, retratado pela fantasia, recebeu o apelido por sua aparência, muito magra, graças à gripe espanhola de 1918. Já pelas bandas de Niterói, em referência ao seu comandante, os ritmistas da Viradouro se apelidam de “Bonde do Caveira”.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Ciça comentou sobre a homenagem feita pela escola. Ao site, o mestre agradeceu o reconhecimento da escola, na qual conquistou o campeonato do carnaval de 2020.

“É sempre bom uma homenagem, isso faz bem pra gente, o reconhecimento da escola comigo não tem preço. É sempre uma satisfação ser lembrado. Eles botaram o nome da fantasia como ‘A Tropa do Caveira’”, disse.

Além disso, ao comentar sobre a fantasia da bateria, o mestre elogiou o figurino montado pelos carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira. Confiante, Ciça também disse acreditar no bicampeonato da escola de Niterói.

“A fantasia é muito boa, ótima para tocar, o chapéu é pequeno. Se não tocar, eu tenho que dar uma coça neles. Respeitando todas as coirmãs, a Viradouro vem forte pelo título, vem pra ser campeã.”, concluiu.

Fotos: desfile do Salgueiro no Carnaval 2022

Paulo Gustavo para sempre! Com casais da vida real, São Clemente prega que toda maneira de amor vale a pena

SC04cQuarta agremiação a desfilar no primeiro dia de desfiles do grupo especial, a São Clemente teve como enredo uma das figuras mais carismática do entretenimento do brasileiro, o ator e comediante Paulo Gustavo. Além dos sucessos no cinema e na tv, a vida pessoal do ator também esteve presente na narrativa da escola. Passagens como o casamento no Parque Lage com o dermatologista Thalles Bretas e a chegada dos filhos Romeu e Gael estiveram presentes no final do segundo setor e início do terceiro setor.
De fato mais do que apenas ilustrar estas passagens e se posicionar ao lado da aceitação e do amor, a São Clemente resolveu trazer casais da vida real para integrar a alegoria de número 3 “Thalles e as crianças”, além do próprio Thalles que desfilou no topo do carro. A alegoria fazia uma brincadeira com a heteronormatividade que geralmente os contos de fada estão imbuídos, uma vez que nestas histórias sempre se parte da premissa que um príncipe exclusivamente se apaixonará por uma princesa. Na contramão desta ideia, a São Clemente trouxe inúmeros casais de príncipes e princesas na fantasia.

SC04aOs futuros papais, Roberto Toledo, (36) e Jeferson Abreu, (42) participaram da composição da alegoria vestidos de príncipes e revelaram que assim como Paulo Gustavo e Thalles realizaram o desejo de experienciar a paternidade, eles pretendem fazer o mesmo: “Estamos há 13 anos juntos e já estamos habilitados no cadastro nacional de adoção. Significa muito estar aqui representando o amor do Thalles e do Paulo .Para nós é uma oportunidade de estar mostrando para todo mundo que vai nos assistir que somos pessoais normais que querem um relacionamento sério e constituir família e que independente da orientação sexual o que vale é o amor. É motivo de orgulho e resistência representar a nossa vivência no atual momento político que a gente vive no país, contou o gaúcho.

SC04bO clima de satisfação em bradar o amor em meio as ondas conservadoras e preconceituosas que claramente se tornaram tão evidentes nos últimos tempos era visível nos componentes da alegoria. A servidora pública Mariana Maia contou a felicidade em casar no cartório com a atual mulher, Lorena Maia: “Casamento no papel no cartório, minha mãe fez uma chuva de arroz no meio do cartório”, relembrou Mariana. A esposa Luciana acredita que Paulo Gustavo concedeu visibilidade a causa LGBTQIA+ e ajudou que muitas famílias tivessem mais tolerância e complacência seus respectivos parentes gays “Ele foi um exemplo para todo mundo, ele criou uma família linda. Muita gente começou a admirar o Gustavo como artista e viu um cara homossexual com dois filhos. E muita gente que tinha preconceito viu aquilo e detectou um casal como outro qualquer. As pessoas imaginam que existe muita promiscuidade nesse mundo gay e não é isso. Nós somos um casal como qualquer casal, frisou a fonoaudióloga.

Mancha Verde capricha no conjunto plástico, mas problema no abre-alas pode comprometer as ambições da escola

Terceira agremiação a passar pela avenida, a Mancha Verde apresentou o enredo “Planeta Água”. A harmonia e o conjunto plástico da escola se destacaram. Porém, a agremiação demorou sete minutos para entrar na avenida, por conta de um problema no abre-alas. Uma parte da escultura de Oxum, quebrou. Os integrantes estavam tentando arrumar e, com isso, o atraso foi inevitável. Entretanto, a escola alviverde não deixou de fazer um ótimo desfile. Apresentou uma ótima plástica, harmonia e levantou o público dentro dos apagões e bossas realizadas pela bateria ‘Puro Balanço’, regida por mestre Guma. A Mancha Verde fechou seu desfile com 1h04m. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

A ala da Mancha Verde, coordenada pelos coreógrafos Wender Lustosa e Marcos dos Santos, representou “As águas de Oxalá”. Além de muita dança, veio bastante encenada. Dentro disso, aparecem as entidades Oxalá, Exú e Xangô. O orixá Oxalá, andava curvado com um cajado e era cultuado pelas lavadeiras, onde em determinado momento, saía uma espécie de pano ou toalha de dentro de um vaso, passava por cima de Oxalá e fazia uma espécie de culto ao orixá.

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Enquanto isso, Xangô se movimentava e dançava por todo o perímetro em que a ala se apresentava e, na hora da consagração à Oxalá, ele rodeava as lavadeiras e apontava seus martelos como uma espécie de poder sobre o culto. Já a entidade Exú, também se movimentava por toda a encenação e interagia com o público fazendo caras e bocas.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Marcelo Silva e Adriana Gomes, representavam Nossa Senhora de Aparecida e o pescador. A dupla optou por fazer uma apresentação técnica. Durante o percurso, o casal preferiu manter a coreografia dentro do samba para os jurados avaliarem. Apenas em alguns segundos, Marcelo e Adriana fizeram a dança do giro no sentido horário e anti-horário. A coreografia foi muito bem executada e eles estavam em uma sintonia total. O jogo de mãos, o sorriso e o bailado mais lentos também foram notórios. Ao todo, a apresentação foi satisfatória.

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Harmonia

O samba escolhido caiu como uma luva para a escola e, isso culminou perfeitamente para o andamento do canto da escola. A expectativa que se tinha sobre a harmonia da escola, se concretizou no desfile. Os ensaios perante ao hino foram de extrema relevância e, dentro do desfile, a Mancha Verde conseguiu obter o mesmo sucesso. Sob liderança de Freddy Viana (que completa dez anos de casa e já é extremamente identificado com a comunidade), o carro de som vingou novamente. É impressionante como o cantor intercala e chama a comunidade para o canto. As partes mais cantadas dos sambas são os refrões, onde a melodia jogada para cima e, as rimas com o verbo ‘ar’ predominam. Outra parte muito entoada é a última estrofe, que simboliza o refrão. ‘à terra, deixando o clamor à humanidade, a nobre missão de preservar, nosso futuro, nosso lar’. O apagão da bateria, que aconteceu no refrão principal, foi o ponto alto do desfile. Arrancou muitos aplausos e gritos das arquibancadas.

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Enredo

O nome do enredo, “Planeta Água”, já diz por si só o que representa. A importância das águas e tudo o que ela representa. Desde as melhores coisas, até as partes místicas e maus tratos para com ela. Não é um enredo linear. Entretanto, o conceito no começo do desfile, é mostrar o perdão à Oxalá através de um banho de água. Após, ainda dentro da religiosidade, a escola mostrou a religiosidade de Nossa Senhora Aparecida e o pescador, onde a santa foi descoberta no Rio Paraíba do Sul.

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Depois, mostra-se as águas dentro da cultura dos índios. Também é citado as lendas que se envolve dentro do imaginário, como a história da sereia Iara. Dentro do desfile, na ala número 6, ainda é pontuado a questão do petróleo derramado nas águas e a poluição e, também, fala de chuva, festança e plantação. O fechamento aborda a chegada das águas ao mar de Netuno, que é o Deus das águas.

Evolução

Foi o quesito negativo da escola. Pelo atraso de 7 minutos no cronômetro devido ao problema do abre-alas, a escola teve que acelerar o passo em alguns momentos do desfile. Houve uma indecisão. Ora aceleravam, ora paravam, achando que dava para passar tranquilo. Porém, após a saída da bateria de dentro do recuo, as alas começaram a acelerar bastante. Nesse quesito, a Mancha deve perder décimos.

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Vale destacar a entrada da bateria no recuo. Estrategicamente, a batucada veio atrás do abre-alas e, assim, na hora que entrou no recuo, a alegoria preencheu o espaço técnico. Apesar dos problemas, há de ressaltar esse fato.

Samba-enredo

O samba que foi escolhido ainda em 2020, caiu nas graças da comunidade. Diferente do último carnaval, a escola optou por uma obra de total facilidade de adaptação. Juntamente à bateria Puro Balanço, comandada pelo mestre Guma, o carro de som conseguiu colocar o hino para frente. Sua melodia foi otimamente sustentada. Como dito anteriormente, o intérprete Freddy Viana levantou o astral da comunidade e conseguiu embalar a agremiação alviverde.

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Destaque para a ala 4, que tinha quatro fantasias diferentes: “Cacique Igobi, “Tarobá”, “Guerreiros Caigangues” e “O Cauim”

Fantasias

A escola abusou do luxo nas vestimentas. Desde a comissão de frente até as últimas alas. Sem mais. É um mérito que a Mancha Verde de conservar todos os seus materiais, que estavam prontos ainda em meados de 2020, por Jorge Freitas, que é um carnavalesco que gosta muito desse estilo de apresentação. Pelos setores perfeitamente especificados, pode ser que o público tenha conseguido pegar a proposta do desfile dentro dessas vestimentas.

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Alegorias

A escola alviverde levou quatro alegorias para o desfile. A primeira, simbolizava “Fontes de Oxum, a senhora das águas”. A alegoria teve várias esculturas de Oxum. Nela, também teve leds e chafariz com água real. Porém, uma escultura de Oxum, localizada no lado esquerdo do carro, teve o braço quebrado. Isso atrasou a entrada da Mancha Verde na avenida em 7 minutos. Pode ser algo penalizado que vai prejudicar a escola no dia da apuração.

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O segundo carro alegórico, trouxe os “Filhos de Tupã: Guaraci, o Deus Sol e a Serpente M’Boi. Neste carro, vimos as alas das crianças vestidas de curumins. Junto disso, teve muito verde e vários elementos da mata. À frente, uma gigante escultura de uma cobra, que mexia a cabeça de um lado para o outro.

A terceira alegoria, teve como contexto, “A Sereia dos rios encontra a rainha do mar”, onde o contexto se baseou em mostrar o curso dos rios e o fluxo indo para o mar. Iara, a sereia dos rios, encontrava as ondas do mar, que é o lar de Iemanjá, protetora de todos os marinheiros. Na frente, uma escultura colorida simbolizando Iara, junto de botos e, ao topo, uma escultura de Iemanjá. Em volta, detalhes em led com imagens de peixes e criaturas do mar.

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Por fim, a última simbolizou “Moinhos da Vida e o Deus dos mares”, e que chega ao mar de Netuno, o Deus mitológico dos mares. À frente da alegoria, havia uma escultura de um cavalo-marinho. Os detalhes de toda o carro, tinha muito brilho. Deu um grande contraste na pista.

Outros destaques

A bateria Puro Balanço, regida pelo mestre Guma, teve um grande desempenho. Principalmente se tratando dos apagões. A paradinha no refrão principal, foi realizada quatro ou cinco vezes e, sempre, arrancou aplausos e reações enérgicas do público.

Time de atores e comediantes presta homenagem a Paulo Gustavo na São Clemente

SC03A São Clemente já tinha enredo definido no pré-carnaval, mas no meio do caminho resolveu apostar na emoção, na alegria e na irreverência do ator Paulo Gustavo. Na avenida, o sucesso nacional “Minha Mãe é uma peça”, os programas de tv e as bilheterias estrondosas foram lembradas juntamente com as hilárias personagens.

As risadas provocadas pelos personagens dividiram espaço com a emoção e dor da partida precoce do artista. Visivelmente emocionados os familiares declararam “Eu não consigo falar nada agora. Acho que ele diria: arrasem! Se cuidem! Se amem! Cura! Cura para todos!”, declarou visivelmente emocionada a irmã do ator Juliana Amaral.

Estrela da comissão de frente, a grande inspiração da icônica Dona Hermínia, Dona Déa também se ateve a pouca e emocionadas palavras e aproveitou para vestir a carapuça da irreverente e intempestiva personagem criada pelo ator: “Eu tô muito feliz de estar recebendo essa homenagem da São Clemente e do povo! A escola tá falando de amor! Dona Hermínia está dando uma ordem: Paulo Gustavo para sempre!”, brincou com a letra do samba a matriarca.

Quem também foi um dos responsáveis pelo sucesso “Minha Mãe era uma peça” foi o premiado diretor de teatro João Fonseca, responsável pela direção artística do espetáculo. Ele também esteve presente no desfile e relembrou a abordagem de Paulo a ele, quando fez o convite para assumir o cargo de diretor do espetáculo: “Além de um ator extraordinário ele era muito inteligente e sabia muito bem o que queria. Quando a gente começou a ensaiar (o Minha mãe é uma peça) ele falou que eu compraria um apartamento com essa peça. E fizemos 15 anos o espetáculo. Uma coisa inacreditável. O Paulo era um gênio. Era a pessoa mais divertida que eu já conheci na vida” – recordou o diretor do humorístico “Vai que cola”.

No time dos amigos de longa data dos tempos de estudante de teatro, o ator Louis Lobianco ressaltou a alegria como característica principal do ator “ Só de ver o rosto do Paulo nos carros eu já me emociono. Se ele estivesse aqui ele estaria curtindo e aproveitando 200%! Tem que ser um momento muito alegre”, pontuou o comediante.

Estiveram presentes ainda no desfile da São Clemente, outros nomes como Patrícia Travassos, Ingrid Guimarães, Mariana Xavier, Rodrigo Pandolfo.

Análise da bateria do Salgueiro no desfile de 2022

A bateria Furiosa dos Mestres Guilherme e Gustavo fez uma apresentação muito boa. Uma bateria do Acadêmicos do Salgueiro pesada, com a afinação grave característica, plenamente inserida nas tradições salgueirenses. O swing envolvente dos surdos de terceira proporcionou um balanço que adicionou molho a sonoridade produzida por repiques, caixas e taróis. O complemento das peças leves se deu de modo eficaz, contribuindo com a musicalidade da bateria do Salgueiro. A ala de tamborins executou o desenho rítmico com precisão, firmeza e qualidade sonora.

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O naipe de chocalhos com toque coeso e uníssono auxiliou no preenchimento da musicalidade, bem como a boa ala de cuícas. As paradinhas do Salgueiro, com boa concepção musical e grau de dificuldade de execução elevado, fluíram de forma correta durante o desfile. A bossa em que os ritmistas se ajoelham e erguem os braços em ato de “Resistência” provocou boa interação popular, sem contar a representação racial e cultural envolvida, sendo um acerto musical de muito bom gosto.

Já a bossa da primeira do samba, de musicalidade ímpar, garantiu uma sonoridade acima da média. As passagens da bateria Furiosa do Salgueiro pelos módulos de julgadores transcorreu de modo equilibrado e preciso, sem nenhum problema musical a ser relatado de dentro da pista. A melhor apresentação ocorreu na última cabine dupla da Avenida, sendo ovacionada pelo público e muito aplaudida pelos jurados. A única ressalva negativa a ser sinalizada é mais uma vez para um chapéu que prejudicou a visualização de diretores e da bateria. O chapéu tinha penas alongadas tanto para cima, quanto para o lado, dificultando a visão periférica dos ritmistas.

Salgueiro apresenta estética impecável, comissão de frente se destaca, mas evolução pode atrapalhar briga pelo título

Terceira escola a desfilar no Grupo Especial já na madrugada deste sábado, o Salgueiro apresentou conjunto estético impecável de Alex de Souza. Fantasias luxuosas, alegorias grandes e bem acabadas se destacaram na apresentação da escola. A comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira também brilharam. Contudo, a escola pecou algumas vezes em evolução e a grandiosidade de alguns figurinos pode ter atrapalhado a leitura do enredo, o que pode tirar a agremiação da briga pelo título. A escola se apresentou em 70 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

No primeiro ano como coreógrafo do Salgueiro, Patrick Carvalho trouxe 15 componentes na Comissão de Frente da escola, sendo oito mulheres e sete homens. Batizada de Akikanju Ijó, que significa ‘Dança dos Heróis’, em Iorubá, a apresentação se inicia com o próprio solo do Salgueiro. Em cerca de 2m50s de apresentação, o quesito apresentou grande trabalho. Com roupas metálicas, a dança começa por alguns segundos no chão, e logo em seguida todos sobrem para exibição no tripé.

O elemento solta fumaça e os componentes que estavam em cima, descem, e surgem iaôs, que dançam sobre areia jogada ao ar. Na sequência da encenação, Mercedes Baptista, pioneira como mulher negra no balé, aparece dançando e sobe em um queijo erguido por um punho em riste. Por fim, os componentes seguem a dança com bastante sincronia e mais fumaça é liberada. O segmento teve ótima apresentação e arrancou aplausos do público durante os vários atos.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Um dos grandes casais a pisar na Sapucaí nos últimos anos, Marcella Alves e Sidclei vieram nas cores da escola, representando a tradição de ancestralidade da agremiação. As plumas brancas no figurino da Porta-Bandeira remetem a antigos carnavais, que mantém a tradição da agremiação da legitimação da festa preta. Junto a eles, os Guardiões representaram os guerreiros da escola, em vermelho e branco, com estandartes em homenagens a grandes nomes do Salgueiro, como Laíla, mestre Louro e Anescarzinho. Com a parte de cima prateada, os dois tiveram apresentação impecável em todos os módulos, com sincronia e troca de gestos e olhares. Os dois faziam movimentos difíceis parecer fáceis em cerca de 2m10s de apresentação.

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Harmonia

Um dos pontos altos do desfile do Salgueiro foi o canto. A escola cantou do início ao fim, todas as alas não economizaram na voz. O samba também pegou na Avenida e foi bastante entoado pelas arquibancadas. As alas coreografadas também estavam com a obra na ponta da língua e cantou bastante junto aos movimentos. Destaque para as alas 2, ‘Quilombolas’, 9, ‘Omolokôs, 12, ‘Festa de Iemanjá’, e 23, ‘Afoxé’.

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Enredo

O início do desfile do Salgueiro relacionou a história da própria escola com a luta contra o preconceito racial, no qual a agremiação foi pioneira a partir da década de 1960. Os primeiros momentos do Salgueiro na Avenida tiveram bastante vermelho e branco, e alusão a grandes personagens negros da escola e do Brasil. Já no segundo setor, o Salgueiro abordou as religiões de matrizes africanas, com a presença de alas em representação de orixás, caboclos, omolokô e um grande carro com cores e esculturas de Iemanjá.

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Em seguida, o Salgueiro levou para a Sapucaí as manifestações negras em seus vários campos, como a culinária, a dança, a música, a arte e o esporte. No quarto setor, a Academia do Samba reforçou a resistência negra através do canto e da dança, com alas em alusão à escolas de samba, ritmos africanos, blocos afro e gêneros oriundos das comunidades cariocas, como o samba, o charme e o funk. O Salgueiro encerrou desfile com os movimentos sociais de combate ao racismo e de resistência preta, como o AfroReggea e o Nós do Morro. A grandiosidade de algumas fantasias, no entanto, atrapalhou a leitura do enredo em determinados momentos.

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Evolução

Calcanhar de Aquiles do Salgueiro nos últimos anos, a evolução foi um pouco problemática para a escola novamente. Logo no primeiro módulo, a agremiação abriu um pequeno buraco entre a ala ‘Palmares Salgueirense’ e o Abre-Alas. No setor 6, outro pequeno buraco se abriu na frente da segunda alegoria. Ao fim do desfile, algumas alas aceleraram o passo no setor 11 sem necessidade, o último carro passou rápido pela cabine, mas a bateria não imprimiu correria e se apresentou por completo.

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Samba

Criticado no pré-Carnaval, o samba funcionou muito bem no Sambódromo. Alas e arquibancadas cantavam bastante a obra, que tinha como pontos alto o refrão, o refrão do meio, e de ‘Sambo pra resistir’ até ‘O povo me chama assim’. Uma leve queda de ‘Hoje, cativeiro é favela’ até ‘Lutaram por nós, contra mordaça’ foi percebida, mas sem atrapalhar o desempenho da obra. Emerson Dias e Quinho também fizeram grande trabalho no carro de som e impulsionaram a escola do início ao fim.

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Fantasias

Logo na primeira ala, o Salgueiro relembrou grandes enredos pretos da escola, como em 1960, que teve tema ‘Zumbi dos Palmares’. Batizada de ‘Palmares Salgueirense’, a ala traz um estandarte com a logo dos enredos e fantasia com referências africanas em vermelho, preto e branco. A ala das baianas também chamou atenção pela riqueza de detalhes em dourado, vermelho e preto, que representavam as Camélias do Leblon, com buquês de flores nas mãos. A ala 8 também se causou impacto visual, com fantasias grandes e em dourado. Com rostos pintados, o ‘Terreiro de Candomblé’ trazia os orixás para a Sapucaí.

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A mistura do prateado com o branco na ala 12, Festa de Iemanjá também foi um dos destaques do conjunto de fantasias de Alex de Souza. A ala 17, ‘O Negro e o Futebol Carioca’ fez uma referência ao futebol ao levar fantasias com alusão ao Bangu e Vasco da Gama, clubes pioneiros na luta contra o racismo nos gramados. Símbolo de resistência cultural negra no país, o bloco Cacique de Ramos foi representado pela ala 25 com fantasia grande e muito bonita nas cores da agremiação.

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Apesar do luxo, e da riqueza de detalhes, algumas fantasias soltaram adereços. Muitos búzios, enfeites de palha e outros adereços foram vistos espalhados pela Sapucaí. No setor 6, um componente da ala ‘Irmandades Religiosas’ passou sem a parte da cabeça da fantasia. Durante passagem pela última cabine de jurados, uma componente da ala ‘Tias Baianas’ também passou sem a cabeça da fantasia. Ao perceber os jurados e ser alertada pelas arquibancadas, colocou rapidamente o elemento do figurino.

Alegorias

Com o nome ‘Salgueiro, o Griô do Samba’, o primeiro carro da escola reafirma a agremiação como uma das percursoras da temática negra nos desfiles. Com muito vermelho, branco e prata, trouxe também na alegoria elementos que remetem à africanidade, como zebras, elefantes, lanças e escudos. O grande destaque, além do acabamento e beleza do carro, fica por conta da escultura de Djalma Sabiá, fundador da escola, que morreu há dois anos. O ‘Griô’ ensina jovens negros sobre o legado de luta e resistência do Salgueiro.

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Na sequência o Salgueiro levou dois tripés, o primeiro com o nome de ‘Pequena África e a Pedra do Sal’ e na sequência o ‘Oferendas para Iemanjá, ambos muito bonitos e bem acabados. O segundo carro mantém a cor branca como principal do início do desfile do Salgueiro. Nesta alegoria, Alex de Souza aborda as religiões de matriz africana, com vários santos sincretizados com orixás. O destaque do carro vai para as imagens de Jesus e Oxalá, maiores entidades do catolicismo e da umbanda. Alguns símbolos aparecem danificados na alegoria para explicitar a intolerância religiosa. O carro também tinha elementos giratórios, esculturas em movimento e a palavra ‘Respeito’ em dourado na parte traseira.

A terceira alegoria do Salgueiro marca os diversos atos de resistência negra, seja na dança, na arte e na música. A alegoria reproduz o Theatro Municipal com lindas esculturas que fazem alusão a Mercedes Baptista. As composições estavam caracterizadas como as representações da literatura, do teatro, e balé. Na sequência Alex de Souza trouxe a história ainda mais para o Rio de Janeiro ao reproduzir o Viaduto Negrão de Lima na quarta alegoria. No Viaduto de Madureira, a escola levou à Sapucaí a resistência através da música, com as danças do charme e do funk na ala coreografada Maculelê, de Carlinhos do Salgueiro. Este carro, no entanto, estava esteticamente abaixo dos demais.

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O Salgueiro encerrou o desfile com uma grande encenação na última alegoria. O carro, chamado de ‘A Resistência Continua’, faz alusão a uma praça pública, e é envolvido por manifestantes que pedem o fim do preconceito racial. Um obelisco com a palavra ‘Racismo’, então é derrubado, para simbolizar a queda desse preconceito. A parte de trás da alegoria ainda remeteu ao Morro do Salgueiro no período de fundação da escola, em menção à favela reproduzida por Arlindo Rodrigues no Carnaval de 1984. Com riqueza de detalhes, o carro parecia mesmo uma grande praça no meio da Sapucaí, com detalhes impecáveis de acabamento. Todo conjunto alegórico do Salgueiro funcionou, causou grande impacto visual e não apresentou problemas.

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Outros Destaques

De Cabocla Jurema, a rainha Viviane Araújo também estava com fantasia belíssima, com tons de vermelho e verde e uma pequena onça no ombro. Passistas como Reis e Rainhas da Rua, em alusão a Exu riscaram o chão e apresentaram lindo figurino. Bateria dos Mestres Guilherme e Gustavo apresentou três bossas, fantasia ‘Umbanda – Gira de Caboclo’, com cores em vermelho, preto e dourado, além de uma coreografia onde agachava e colocava os braços pra cima, com punho em riste.

Mancha Verde 2022: galeria de fotos do desfile

Fotos: desfile da Mangueira no Carnaval 2022

Tia Glorinha do Salgueiro brilha na avenida fantasiada de ‘flor da abolição’

Salgueiro04cCarregando os ramos das camélias do Leblon, as baianas do Salgueiro entraram brilhantemente na avenida. As flores que são cultivadas no Quilombo, antigas terras do comerciante José Seixas, foram vendidas a fim de angariar lucros para a causa abolicionista.

Representando as “Camélias do Leblon”, a fantasia da ala das baianas tem um significado de muita importância, pois é o orgulho de suas origens e a liberdade conquistada pelos escravizados. Na frente da ala, a Tia Glorinha representava “Camélia, a flor da Abolição”, ela trouxe o símbolo da luta pela libertação dos escravos.

Em uma entrevista muito especial dada para o site CARNAVALESCO, a responsável pela ala das baianas do Salgueiro contou o que achou do figurino e a importância dele na temática afro: “A fantasia está de acordo com o enredo, quando vi o protótipo fiquei conferindo se estava bom ou não. Procurei ajustar tudo para que tivéssemos uma evolução maravilhosa na avenida. Com esse enredo e a nossa roupa, lembrei o tempo que eu era menina e recordei todas essas coisas”.

Salgueiro04aDesfilando há 9 anos na ala das baianas do Salgueiro, a dona de casa Dina, de 77 anos, exaltou o quão satisfeita está com o enredo da escola. “O nosso figurino está impecável, consegui evoluir e sei que foi tudo bem pensado pela nossa presidente da ala. Esse enredo não é a resistência do Salgueiro, e sim de toda a nossa luta e também a minha como mulher negra”.

A ala das baianas por muitas vezes são compostas pelas senhoras que possuem mais idade, só que na do Salgueiro foi misturado o velho e o novo. Pela primeira vez desfilando na ala das baianas, a advogada Luana Peixoto, de 35 anos, relata como foi essa experiência.

“É incrível estar nessa ala, pois além disso é meu primeiro desfile também. É uma energia muito boa e sei que o Salgueiro veio para brigar pelo título. Estou muito honrada e grata de estar aqui e ano que vem estarei de volta novamente”.

Essa tradicional ala costuma ganhar bastante prêmios e Tia Glorinha expõe sua opinião sobre essas premiações: “Eu sou muito mãezona, tenho carinho e carisma por todos. Acredito que ser responsável pela ala influencia nisso, mas pego muito no pé na questão de ensaios, pois temos obrigação de ensaiar sempre. Claro que tem algumas exceções e tudo bem. A premiação é importante porque ganhamos mais reconhecimento e por isso que a ala das baianas costuma ganhar prêmios, pelo jeito que brilhamos na avenida e de tudo que acontece antes do desfile também”.