Início Site Página 887

Passista da Vila ressalta enredo sobre Martinho: ‘Nunca vi a escola tão envolvida assim’

vila04aA Vila Isabel encerrou o desfile das escolas de samba de 2022 com uma homenagem a Martinho da Vila. Personagem icônico da escola e da história da música brasileira, o cantor e compositor foi cantado pela Sapucaí na madrugada deste domingo. O passista Gabriel Cauarú falou sobre a emoção da comunidade com o enredo.

“A comunidade nunca ficou tão envolvida assim, já estou aqui há seis anos e não tinha visto isso ainda. É o enredo dos sonhos, falar do Martinho da Vila é uma coisa que a gente espera há muito tempo e ele mereceu muito essa homenagem”, disse Gabriel, que completou:

“Em um Carnaval importante como esse, depois de dois anos de pandemia, a energia está absurda, duas vezes maior. A última vez que a Vila foi campeã ela fechou o Carnaval, o povo de Noel gosta muito disso. Acho que podemos brigar pelo título”, encerrou o ator de 24 anos.

O advogado Henrique Rodrigues revelou ao site CARNAVALESCO que a escolha da Vila Isabel em homenagear Martinho o motivou a desfilar. O advogado de 30 anos saiu na ala 6, ‘Memórias de um sargento’. Outra componente, Valéria Marques, de 55 anos, também falou sobre o enredo.

“O Martinho da Vila ser enredo da escola esse ano foi o motivo que me fez escolher desfilar aqui. Eu admiro muito a obra dele. Gostei muito do desfile e da minha fantasia. O samba também é lindo e muito animado. Fechamos com chave de ouro. A expectativa é pelo título”, comentou o advogado.

“Martinho é o grande ícone da escola, então a Vila Isabel veio contar desde o início da carreira dele até o fim. Eu acredito no título, somos grandes candidatos ao campeonato, com absoluta certeza”, disse Valéria, que desfilou na ala 2, ‘Raízes da Roça’.

‘Homenagem que a escola esperava há muito tempo’, dizem compositores sobre samba para Martinho da Vila

Vila03 1A Vila Isabel fechou o desfile das escolas de samba de 2022 com a homenagem ao grande ícone da escola. A agremiação passou com pela Sapucaí com o enredo sobre Martinho da Vila, com samba bastante cantado pelos componentes. Autor da obra em parceria com André Diniz, Evandro Bocão falou sobre o processo para escrever a canção.

“A emoção é muito grande em homenagear o Martinho, nosso ícone, o homem que representa o mundo do samba. A gente conhece muito de Martinho, é um samba que emocionou muito ele também. Nós tínhamos que escrever o samba pra escola sim, mas a obra tinha que emocionar ele especialmente. Ele ficou muito feliz, disse que a gente acertou em cheio na história dele. Você canta o samba e você vê o Martinho da Vila”, disse Bocão.

Escolhido em setembro do ano passado, a obra teve também participação de Dudu Nobre, Professor Wladimir, Marcelo Valença, Leno Dias e Mauro Speranza. A ala de compositores desfila com a fantasia ‘Escritores da Liberdade’. Autores de um dos sambas concorrentes, Kleber Cassino e Mano 10 também falaram sobre a homenagem.

“É uma homenagem que a escola já aguardava há bastante tempo, já desejava prestar essa homenagem ao Martinho da Vila. É um enredo maravilhoso. Vamos em busca desse título pra nossa escola. Expectativa pelo campeonato é muito grande”, comentou Kleber Cassino.

“É uma obra fantástica. A eliminatória do samba-enredo foi uma disputa maravilhosa, que nem a gente imaginava que seria tão boa”, completou Mano 10.

Saravá, Seu Zé! Barroca Zona Sul homenageia popular entidade em desfile digno do mestre dos malandros

A Faculdade do Samba Barroca Zona Sul foi a quinta escola a desfilar no Sambódromo do Anhembi na segunda noite. Trazendo nada menos que Zé Pilintra como homenageado no enredo “A Evolução está na sua fé… Saravá Seu Zé!”, a verde e rosa apresentou grande desempenho ao longo de exatos 65 minutos de desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE

barrocazonasul desfileoficial2022 13

A aura de Zé Pilintra esteve presente na avenida. Conteve a ansiedade de mais um atraso no início em função de sujeira na pista, e fez com que a Barroca passasse na avenida sem tomar conhecimento do fato de ser a única agremiação da noite sem algum título do Grupo Especial. Fez um desfile de excelente qualidade, com destaques para a comissão de frente, que veio com Carlinhos de Jesus como coreógrafo e dançarino, o fascinante conjunto de alegorias e a harmonia fantástica da comunidade da Zona Sul. Em uma noite marcada por estrelas brilhando, certamente a Barroca foi uma delas.

Comissão de Frente

Malandragem é o que não faltou na comissão de frente da Barroca, que veio encenando a “Devoção a Zé Pilintra… Do Brasil para o mundo”. Os dançarinos vieram caracterizados como os devotos da entidade espalhados pelo mundo, com uma vestimenta padrão que mudava apenas a cor da gravata para se referir a todos os continentes, com uma peça central representando um devoto da própria escola. A grande surpresa, guardada até o último instante, foi um elemento alegórico que trouxe um personagem extra: O próprio coreógrafo da trama, o consagrado Carlinhos de Jesus, onde não só distribuiu flores e cartas para o público como interagiu diretamente com a dança ao longo de três passagens do samba.

barrocazonasul desfileoficial2022 14

Com uma dança ousada e ensaiada exaustivamente, carregada da genialidade do artista carioca, a comissão surpreendeu o público. Foi o prelúdio de um grande desfile e uma forma impor a presença da tradicional verde e rosa paulistana.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Barroca, Igor Sena e Camila Pancini, veio representando o “Auto da Compadecida – Zé Pilintra & Nossa Senhora”, onde de acordo com a interpretação, a entidade foi recebida no Reino Divino pela mãe de Cristo e o encarregou de ser um mensageiro de luz, para que as pessoas na Terra não cometessem os mesmos pecados que ele cometera em vida.

barrocazonasul desfileoficial2022 16

A vestimenta do casal veio fabulosa e casou com a dança impecável da dupla. Giros síncronos e passos ensaiados ao longo dos versos do samba deram um elemento a mais. Com muita empolgação, seguiram transmitindo a energia positiva da comissão e complementaram a forte cabeça da escola.

Harmonia

Chega a ser impressionante imaginar que é apenas o segundo carnaval da Barroca Zona Sul no Grupo Especial depois de tantos anos. Uma comunidade aguerrida, que cantou o samba a plenos pulmões e com isso permitiu que a bateria até mesmo arriscasse bossas ousadas, muito bem respondida por todos. O coral da verde e rosa ditou a trilha sonora do espetáculo, e foi um grande ponto de destaque.

barrocazonasul desfileoficial2022 36

Enredo

A Barroca procurou contar a história de José dos Anjos ainda em vida, antes de subir aos céus e se tornar uma das mais populares entidades da legitimamente brasileira umbanda. O líder maior da gira dos malandros foi recebido no Sambódromo do Anhembi com ritual de louvação digno de sua figura. A história prosseguiu contando desde a saída dele do sertão nordestino até a chegada ao Rio de Janeiro, onde virou peça icônica da boemia da noite carioca em meio a bares e cassinos. O terceiro setor falou sobre a consagração de Zé Pilintra como entidade espiritual, e o desfile foi encerrado com um pedido pelo fim da intolerância religiosa e exaltando o povo das favelas.

Todos os elementos do desfile, comissão de frente, alegorias e alas, transmitiram suas mensagens com bastante facilidade e uma beleza simples, mas emblemática. A Barroca apresentou um grande tema e foi feliz na sua representação.

Evolução

Uma evolução em grande parte positiva da escola, mas com dois momentos a serem observados. A estratégia para o recuo da bateria não foi das melhores, e os ritmistas foram inseridos entre duas alas comuns, sem passistas ou destaques que pudessem ajudar a encobrir o vão antes da escola se reunir, fazendo com que um espaço de uma ala se abrisse em frente ao segundo módulo. Já no quarto módulo, a escola deu uma acelerada no ritmo para conseguir fechar o portão em cima do tempo máximo, o que seria uma boa estratégia se não fosse o primeiro erro. Pode acabar perdendo décimos por uma causa muito banal.

barrocazonasul desfileoficial2022 64

Samba-Enredo

Cravado por muitos como o melhor samba do ano, o rendimento do samba cumpriu as expectativas do que se espera de uma obra de nível tão elevado. O canto foi alto, com a comunidade bastante envolvida. Casou perfeitamente com as passagens dos setores e foi ganhando o público conforme a escola passava. Dificilmente perderá pontos na apuração.

Fantasias

Surpreendentes e de fácil leitura, as roupas dos componentes da Barroca Zona Sul eram leves e no geral ajudavam no envolvimento dos componentes com o desfile. Dançavam todos sem medo de serem felizes e conseguiram fazer do carnaval a diversão que se espera dele. O grande destaque fica para as fantasias do último setor, um grau acima das demais e que transmitiram mensagens até mesmo complexas com um simples olhar, como foi o caso da ala da intolerância religiosa.

barrocazonasul desfileoficial2022 31

Alegorias

As alegorias foram um show à parte. O Abre-alas lembrou muito um autêntico terreiro de umbanda preparado para o ritual de invocação de Zé Pilintra, que veio sentado em um trono simples como o povo que ele defende, mas na forma de uma enorme escultura toda trabalhada no veludo e com uma face muito bem trabalhada.

O segundo carro veio representando os famosos arcos da Lapa e a boemia carioca, onde Zé Pilintra deixou a sua marca. Um carro simples de acabamento, mas de mensagem fácil de ser captada, contando com vários malandros, damas da noite e mesas de bar.

barrocazonasul desfileoficial2022 12

O terceiro carro representou um terreiro de umbanda por si só, todo trabalhado em branco e com uma enorme escultura de Oxalá, segurando seu cajado. Uma alegoria imponente e bela, com exceção da posição incomum do destaque, que veio de costas na parte da frente. A ideia dessa representação, cujo queijo veio com um grande globo terrestre, era de demonstrar respeito ao orixá.

A alegoria final foi composta por um letreiro frontal onde se lia “Saravá Seu Zé”, com o meio preenchido com uma favela de barracas todas em verde e rosa com um Cristo Redentor atrás, e a mensagem “Quem me protege não dorme” em suas costas.

Outros destaques

Como se não bastasse fazer uma grande apresentação em um dia difícil, a Barroca conseguiu segurar a ansiedade de ter que esperar mais um caso de derramamento de óleo ocasionado pela escola anterior. Hoje mais leve, atrasou o desfile em cerca de meia hora, mas não atrapalhou.

barrocazonasul desfileoficial2022 5

Mas sem dúvidas, Carlinhos de Jesus foi o responsável por fazer todos os olhares se virarem para a Faculdade do Samba. Além do excelente desempenho da comissão de frente, foi um dos grandes responsáveis por fazer o público cair no samba e se render a homenagem a Zé Pilintra, que abençoou o desfile da Barroca Zona Sul logo após ter desfilado lá no Rio de Janeiro com Exu pela Grande Rio. Será que pegaram a ponte aérea para seguir brincando o carnaval? Veremos o resultado disso na próxima terça-feira.

Vila encerra seu desfile arrebatador com Martinho tomando sua “gelada”

Vila02aA última alegoria da Unidos de Vila Isabel, veio representando o Boulevard se enfeitando para celebrar a vida e a coroação do poeta homenageado Martinho. O bairro saúda “O pai da alegria”, que do alto, com sua “gelada”, assiste a sua gente emocionada reluzir.

A alegoria com tons variando entre lilás, dourado e azul, por simbolizar uma grande celebração no estilo Martinho, apresentou uma escultura do homenageado tomando sua “gelada”. Nas laterais, a simulação de um bar, com garrafas adesivadas com o símbolo da escola simulando cervejas.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Wil Sales estreando não só na Vila, como também no Sambódromo, compartilhou sua emoção e felicidade por estar participando dessa maravilhosa homenagem.

“Eu nunca me senti tão em êxtase. Não dormi, não comi, só chorei. Não tem explicação para a sensação de estar na Avenida homenageando Martinho da Vila. Minha ficha ainda não caiu, estou totalmente anestesiado”, afirmou com a voz trêmula, digna de grande emoção.

“Eu desfilo na Vila faz sete anos, mas o sentimento de hoje é totalmente diferente. Me faltam palavras para dizer o que tô sentindo nesse momento. Gratidão pela escola e por nosso Martinho”, contou Jasmin Angel.

O também estreante na escola Rodrigo Vieira afirmou ser o maior fã de Martinho da Vila, o que o levou a desfilar na escola. Quando questionado sobre a responsabilidade em homenagear um dos grandes ídolos da escola, respondeu: “Meu coração está a mil! Estou aqui conversando com você mas estou com o coração pulando pela boca. Foi lindo, nós vamos ganhar”.

Águia de Ouro apresenta plástica competitiva, mas problemas com evolução podem atrapalhar bicampeonato

Quarta escola da noite de sábado, e atual campeã do Grupo Especial, o Águia de Ouro entrou na avenida com um ritmo cadenciado, e precisou acelerar pra encerrar o desfile dentro do tempo permitido. A escola pode se prejudicar no quesito Evolução, e em outros que possam ser afetados pela correria. * VEJA FOTOS DO DESFILE

aguiadeouro desfileoficial2022 23

Evolução

O quesito sofreu algumas falhas durante o desfile. Na entrada da bateria no recuo, o abre-alas parou pouco antes do momento certo, e os ritmistas precisaram desviar pra entrar no recuo.

No minuto 52, quando o último setor passava pelo setor B, a escola precisou aumentar o seu ritmo de andar. Conforme o tempo ia passando, a velocidade ia aumentando. Mesmo com o tempo apertado, a escola conseguiu fechar os portões com 63 minutos.

aguiadeouro desfileoficial2022 1

Samba

O carro de som da escola teve um desempenho sem complicações, mas as cordas chamaram a atenção. Momentos antes de realizar o apagão do trecho “Senhor”, os surdos param de tocar, enquanto as caixas e repiques seguram o andamento. Nesse momento o vilão 7 cordas aproveita pra fazer um dedilhado. Aliás, a variação do violão foi notado em mais trechos diferentes.

aguiadeouro desfileoficial2022 7

Os cavacos também apresentaram variações criativas dentro do samba. No trecho: Awurê, Awurê, Awurê os cavacos fazem um solinho seguindo a melodia. Os cavacos também solam e arpejam no “Epa Babá… Xeu Epa Babá”.

Comissão de Frente

A comissão, nomeada como “Evocação… O Clamor na Fé em Oxalá na Busca Pela Misericórdia”, mostrou Exu Yanguí evocando a paz em nome da humanidade. Os bailarinos estavam divididos entre dois grupos: Ebomis (Título de Quem Já Fez a Obrigação de 7 Anos) e Emis (Elemento Ar – Força Elementar Sob Domínio de Oxalá). Os personagens principais eram Exu Yangui e Oxalufã.

aguiadeouro desfileoficial2022 5

Coreografada pelo Roberto Mafra, a comissão teve uma apresentação na segunda torre segura e sem complicações.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Foi através da luz de Obatalá que a humanidade surgiu, e Exu Yangui designou a liberdade dos seres vivos. Através disso, o primeiro casal da agremiação, João Camargo e Ana, pisou na avenida com a fantasia nomeada: “A Luz de Obatalá e os Desígnios de Exu Yanguí”.

A parte de cima da roupa era branco, e a parte de baixo, marrom. Conforme olhava de cima pra baixo, o marrom aumentava intensidade (degradê).

aguiadeouro desfileoficial2022 18

Ao finalizar a apresentação ao jurado da segunda torre, ambos deram dois passos pra trás ainda com o olhar fixado. O casal cumpriu com todos os requisitos exigidos no regulamento. João trouxe um leque na mão e cravou os passos com firmeza. Já a Ana esbanjou simpatia e demonstrou leveza.

Harmonia

O canto da escola se destacou, assim como é em todas as atividades da agremiação. A intensidade do canto aumentou conforme a bateria realizava os apagões, no trecho: “Senhor em tua honra tudo se faz lento”.

aguiadeouro desfileoficial2022 10

Enredo

Através do enredo “Afoxé de Oxalá – No Cortejo de Babá, Um Canto de Luz em Tempos de Trevas”, o Águia de ouro faz uma grande homenagem à cultura afro-brasileira, um verdadeiro cortejo de exaltação à diversidade étnica.

O primeiro setor, “Águas de Oxalá… O Ritual Sagrado na Busca de Clemência e Paz”, detalha o ritual das Águas de Oxalá. Seguido pelo segundo setor, “Das Trevas ao Esplendor da Natureza… Sagração à Oxalufã e à Oxaguiã”, um início todo em branco. Porém, ao ver de perto, notou-se elementos que representava a terra na parte debaixo (abre-alas, baianas e casal).

aguiadeouro desfileoficial2022 69

O terceiro, “A Adoração à Oxalá – Awurê, Ao Dono do Saber… Derrame Sobre Nós o Seu Amor, Glorioso Protetor”, mostra como o respeito é um pilar importante as tradições africanas.

“Regozijo em Oxalá… Em Busca de Harmonia, Pompéia Pede Paz!”, é o título do quarto, e último, setor da agremiação. O Águia de Ouro fechou o seu carnaval com um grande pedido de paz.

Fantasias

Num contexto geral, as fantasias da escola apresentaram uma boa diferença nos elementos que continham. Em algumas alas, notou-se adereços de mãos, em outras, fantasias mais leves, sem muitos detalhes como costeiro. A divisão fez sentido com a representação da ala.

aguiadeouro desfileoficial2022 34

O início da escola foi um grande destaque pela presença do branco, que predominou e contrastou com a mensagem. A ala das baianas chamou a atenção pela divisão de cores. Em cima era branco, combinando com a proposta do setor inicial, porém ao ver de perto, o saiote continha um degradê marrom.

A ala 12, “Etnias… Oxalá Criou a Vida, a Humanidade Dividiu as Raças”, chamou atenção pela forma criativa de falar sobre assunto, fugindo de elementos clichês, como: Mãos de diferentes etnias apertando. Outro destaque ficou no quarto setor e a sequência de fantasias que representavam religiões diferentes.

aguiadeouro desfileoficial2022 25

Alegorias

O abre-alas representou “O Ritual das Águas de Oxalá, o Horizonte Veste Branco Para Amenizar a Dor”. A segunda alegoria, “No Esplendor da Natureza, a Grandeza do Pai da Criação”, trouxe componentes nas laterais seguravam um guarda-chuva em formato de flor. Ao abrir e girar, dava um efeito visual que contribuiu pro contexto.

O terceiro, “No Novo Mundo, o Altar dos Deuses Africanos… Louvar e Acreditar”, trouxe várias crianças na composição. E o último, “Regozijo em Oxalá… No Panteão dos Orixás, Pompéia, Pede Paz!”.

Guardiões do casal da Vila Isabel reviveram comissão de frente de desfile de 1988

Vila01A Vila Isabel no carnaval de 2022 homenageou o ícone da escola, Martinho da vila. O enredo ‘Canta, Canta, Minha Gente! A Vila é de Martinho’, levou para Sapucaí a trajetória de vida do poeta, compositor, cantos, sambista e presidente de honra da agremiação. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, formado pelo mestre sala Marcinho Siqueira e a porta-bandeira Cristiane Caldas teve a companhia dos Guardiões da Kizomba na Avenida.

Você não leu errado, os Guardiões da Kizomba estiveram na Marquês de Sapucaí em 2022, mas é claro, não é a famosa comissão de frente de 1988 que fazia a síntese do enredo ‘Kizomba, Festa da Raça”. Tratou-se de uma homenagem para aquela comissão. Os guardiões do primeiro casal levaram o axé de Zambi, Deus supremo, criador e senhor do mundo, para o desfile da Vila Isabel.

O enredo de sucesso no fim dos anos 80 talvez tenha saído do imaginário de algumas pessoas, ou fuja de pessoas mais jovens, mas quem lembra ou conhece ainda se emociona com ele. Lembrando o enredo ou não, o certo é que os componentes responsáveis por fazerem os Guardiões mostraram a equipe do site CARNAVALESCO que o seu autor, Martinho da Vila, é atemporal.

“Lógico que lembro. Foi a festa da raça e eu inclusive desfilei. Esse enredo ajuda a mostrar como o Martinho é uma entidade da nossa cultura, um rei do samba de partido e isso tudo me deixa extremamente feliz”, disse Alex de Oliveira para equipe do site CARNAVALESCO.

“Eu tenho uma memória afetiva muito presente, porque já ouvia bastante na casa dos meus tios e depois veio o enredo que vi na televisão. Poder participar do desfile da Vila esse ano me deixa muito feliz”, informou Henrique Seixas.

Alex e Henrique fazem contraponto a integrantes mais novos, como Gerson Medeiros e Gabi Ribeiro, que não possuem as recordações da ‘Festa da Raça’, mas falam com carinho, respeito e admiração sobre o artista homenageado.

“Eu não tenho lembranças do enredo do Martinho, mas meus pais são fãs dele e eu cresci ouvindo. Martinho é um gênio e estar homenageando ele é para deixar todo mundo feliz, porque é um enredo de muita honra e simboliza resistência, porque o Martinho é um cara preto que superou todas as barreiras e se tornou esse ícone”, contou Gerson Medeiros

“Eu não lembro do desfile da Kizomba, mas o Martinho é um poeta que representa muito. Fiquei muito feliz quando recebi o convite para fazer parte dos guardiões, primeiro por ser a Vila Isabel e depois por ser um ano de Martinho,” comentou Gabi Ribeiro

O enredo proposto por Martinho ajudou a Vila Isabel levantar o seu primeiro título entre as gigantes do carnaval carioca. Em 1987 a Lícia Caniné, esposa de Martinho naquele momento assumiu a presidência da escola e desejava que o enredo de 1988 fosse um símbolo da luta contra o racismo. Martinho acabou sendo autor do enredo que derivou da palavra Kizomba, palavra em kimbundo, de origem angolana. Seu significado é ‘confraternização da raça’.

Sua comissão de frente representava os guerreiros africanos, símbolo da garra e superação do povo preto, mas como a escola estava fraca financeiramente, foi obrigada a realizar a fantasia com materiais baratos, como sisal, tecidos com estampas de inspiração em África e palhas. O resultado foi uma comissão de frente de pouco brilho, mas muita presença. Em 2022, a escola mostrou uma fantasia rica e bem-acabada, com uma segunda pele que parecia uma pintura de tribos de região de origem Banto (hoje a região dos Congos e Angola) remetia a retalhos de tecido inspirados em África, por cima da segunda pele havia uma armadura na cor marrom e um aveludado laranja, essa armadura tinha detalhes em azul, amarelo e búzios brancos. Na parte superior dos corpos, uma ombreira imponente com muita palha e tecido e na cabeça um adereço que acompanha a parte debaixo, mas possui um conjunto de penas branca, cinza e azul no topo. Uma verdadeira festa personificada, ou melhor, uma Kizomba.

Ritmistas da Grande Rio se engajam na luta do título inédito e da intolerância religiosa

GR04bFigura mais atacada pelos intolerantes religiosos, o Orixá dos caminhos, dos mercados e da comunicação, Exú é o enredo da Acadêmicos da Grande Rio de 2022. Todo o simbolismo do primeiro orixá e sua passagem pela Umbanda estão diluídos em alas e alegorias da Tricolor de Caxias.

Figura mais que importante nos cultos de matriz africana, a percussão, o toque, a música e o som, encantam os corpos e estabelecem os transes e a comunicação de entidades e guias com os presentes nos cultos e festas. Além de promover alegria e fazer dançar. E numa escola de samba não é diferente, a bateria, coração da escola de samba provoca esses efeitos em quem assiste e embala o componente, através do toque. O coração pulsante da Grande Rio veio trajada com a fantasia “Nunca foi sorte sempre foi exu”, homenageando fazendo uma analogia aos jogos, gorros utilizados no culto de Exú e capas homenageando as figuras de Seu Zé Pelintra, Maria Padilha, Tranca Rua e do Malandro carioca Madame Satã. Felizes com o significado do figurino, os ritmistas comemoraram o significado da roupa e a confecção da peça, como fez analista contábil Pablo Barreto.

“A roupa tem muita presença e não incomoda a gente. Gostei desse lance nas costas, cada ritmista é um naipe de baralho e uma personalidade, cada um representa uma personificação de Exú. É meu primeiro ano, mas parece que estou há sois, três anos. O clima da bateria e da escola é muito gostoso. A comunidade é muito engajada. Parece que é uma família mesmo e tá todo mundo no propósito do primeiro título”, elogiou um dos integrantes do naipe de tamborim.

GR04cQuem também fez questão de elogiar a confecção da peça foi o costureiro Patrick que também é praticante de religião de matriz africana.

“Desfilo na bateria desde 2018 e esse ano gostei muito do figurino. O acabamento está muito bem, o chapéu está ótimo. Sou macumbeiro assumido e o enredo é muito forte. Todas as escolas falam de tema afro, fora a Vila Isabel. E isso é muito legal, para gente que é macumbeiro a gente fica muito animado”, concluiu o ritmista.

Unanimidade entre os desfilantes, o carnaval em abril provocou uma sensação diferente no componente. Desde 2005 na bateria da Grande Rio, o ritmista Alerson creditou o clima mais ameno do outono como fator determinante para desfilar com menos incômodo e discordou veementemente de quem acreditava que a Grande Rio levaria para avenida um tema pesado.

“O figurino tá bem leve, tá bem confortável. Ele é um pouco quente por conta de algumas texturas aveludadas, mas nada que atrapalhe. O Carnaval em abril deu uma ajudada, embora o carnaval de fevereiro seja maravilhoso. Eu achei o tema maravilhoso, nenhuma escola anteriormente já abordou este enredo na avenida. Em 2020 já vínhamos com tema afro e esse temos Exu que é luz, que é caminho. Mesmo que as pessoas achem pesado, para gente que está dentro não é isso, é maravilhoso”, avaliou o veterano da Invocada.

GR04aDestaque na letra do samba e presente na narrativa, Exu Capa Preta veio representando por ninguém mais, ninguém menos que a autoridade máxima da bateria de Caxias, mestre Fafá. Fazendo coro com o manifesto anti intolerância religiosa da escola, Fafá contou que se sente honrado em homenagear a entidade e pediu ajuda ao sagrado para ajudar a escola a arrematar o caneco.

“Venho representando seu Capa Preta. Foi um pedido do carnavalescos. E topei na hora. Espero que ele abra nossos caminhos para Vitória. Eu me sinto muito honrado de estar falando de Exu. Ainda mais com toda a força da intolerância religiosa. Eu espero que ele abra os nossos caminhos e que façamos algo antológico. Estamos com a melhor expectativa possível. Viemos trabalhando muito forte. Acho que a Grande Rio merece muito este título. Com muito humildade e respeito a todo mundo. Nossos patronos não medem esforços para colocar carros belíssimos, gigantes na avenida. A gente quer trazer esse caneco para Caxias e tirar essa zica da gente”, desejou o comandante da bateria.

‘A Grande Rio está na briga pelo título’, diz porta-bandeira Taciana Couto

GR03Com o enredo “Fala Majeté! – Sete chaves de Exu”, a Acadêmicos do Grande Rio entrou na avenida falando sobre o orixá que é guardião da comunicação. Incorporando as manifestações culturais que são ligadas a simbologia e também a história de Exu.

Aposta da noite, é impossível não notar o talento do jovem primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da tricolor de Caxias, Daniel Werneck e Taciana Couto. A dupla possui a sincronia perfeita e tem a jovialidade como trunfo.

Representando “A criação”, as fantasias do casal dialogavam com as divindades envolvidas no processo de criação do mundo de acordo com as cosmogonias africanas: Olodumaré, Oduduwa e Exu, com a presença do orixá nos mitos de criação.

Nas cores prata, vermelha, preta e branca, a fantasia do casal é de uma delicadeza linda. Com a saia da porta-bandeira com plumas em vermelho e preto com bolinhas em branco. Já a do mestre-sala era toda trabalhada na cor prata e com pedrarias e ele carregava consigo uma palma também do mesmo tom.

Cria da comunidade caxiense, a primeira porta-bandeira Taciana Couto, esteve desfilando na Pimpolhos da Grande Rio (escola mirim) desde os cinco anos de idade. Relembrando o carnaval passado, onde ela juntamente com Daniel representaram “Exu e pomba gira”. Já para o desse ano, o orixá Exu também está presente no figurino da dupla.

A porta-bandeira conta um pouco sobre o que isso representa: “Representar a criação do mundo, com vários instantes e histórias envolvidas é muito importante. E a relação de exu com essa criação e muitas ideias é algo de extrema relevância”.

Com uma história de vida totalmente ligada às escolas de samba e à arte de dançar. É o que define o primeiro mestre-sala da escola de Caxias, Daniel Werneck, que assumiu o cargo em 2015. Daniel, em entrevista ao site CARNAVALESCO explica sobre a essência da representatividade da fantasia do casal.

“Quando Oxalá é designado para criar o mundo e ele acaba recusando o pedido de Olodumaré. Que pede que antes de oxalá criar o planeta, desse um presente para Exu que nega e acaba se embebedando com o vinho de palma. E Oduduwa quando vem a terra, pega o segredo e cria o mundo e dá o sopro da vida”.

Como foram dois anos sem carnaval por conta da pandemia de covid-19, o mestre-sala Daniel destaca o quão importante é estar simbolizando a criação do mundo em sua fantasia e a representatividade que o enredo sobre Exu traz:

“Hoje isso pra gente é de extrema importância, pois viemos representando justamente isso, que a vida tem um começo, meio e fim, pois como passamos no meio de uma pandemia em que perdemos muita gente. O enredo serve até para desmistificar o que as pessoas pensam pelo orixá, já que acham que exu é algo pesado e na realidade é muito leve”.

Sem dúvidas a Grande Rio arrepiou todos com o desfile que fez nesta noite, a porta-bandeira Taciana expõe a sua opinião sobre como a escola veio: “A escola veio aí para brigar pelo título, então confiamos que fizemos o nosso maior e melhor. Pois nos dedicamos muito para isso, ensaiando e trabalhando bastante. Tenho certeza que apresentamos um trabalho muito bom na avenida”.

Baianas da Grande Rio vibram com espetáculo propiciado pela escola na avenida

GR02A ala das baianas, uma das de maior prestígio das Escolas, da Tricolor de Caxias trouxe a representação “Ventou no Canavial”. Um dos principais destaques para a fantasia é que a cana-de-açúcar, Irèké, é um alimento associado à Exu e é muito utilizado em oferendas e rituais específicos. Maria de Fátima, que está em seu primeiro ano pela escola de Caxias após sua promessa de sobreviver à pandemia se concretizar, em entrevista ao site, comentou sua opinião sobre desfilar nesta ala e sobre a fantasia.

“É maravilhoso, nós nos sentimos como se fossemos rainhas. A fantasia está dez, muito bem feita, bem acabada, tecidos de boa qualidade, o que garante a nossa estabilidade como baiana.”

Inspirada em uma narrativa recorrente de terreiros, segundo o qual Exu fuma cachimbo, toca flauta, chupa cana e assovia ao mesmo tempo. Os ventos de Oyá, unidos ao poder de transformar de Exu, possam espalhar por todos os canaviais contemporâneos as chamas da magia capaz de quebrar o medo, a dor, o obscurantismo e a opressão.

Em variações de combinações de cores da escola, as baianas entrelaçadas ao sincretismo presente no samba para saudar Exu enquanto a força que, juntamente com a justiça de Xangô e à intempestividade de Iansã, conduziu milhares de escravizados à lutar pela liberdade. Maria de Fatima Carvalho, desfilante há 8 anos como baiana na Escola, contou, em entrevista para o site, a importância de trazer essa fantasia à Sapucaí.

“Nós somos as colhedoras de cana, da lavoura de cana que faz a cachaça. Exu não é o que o povo fala, Exu é do bem. As pessoas têm que procurar coisas boas, não para ruindade. Se vai procurar a ruindade, Exu faz. Tem que pedir muito, Exu é coisa divina.”, concluiu.

Coreógrafa da Grande Rio diz que principal mensagem da comissão de frente foi contra intolerância religiosa

GR01A Grande Rio foi a quinta escola a se apresentar neste início de domingo, trouxe para a Sapucaí o enredo de Exu. Na comissão de frente, “Câmbio Exu” representou o pedido de proteção para a abertura dos caminhos, apresentou uma interpretação poética para o que os espectadores pudessem imaginar o Exu em sua essência. Beth Bejani, coreógrafa da comissão de frente, em entrevista ao site CARNAVALESCO, contou como foi o processo criativo para a coreografia apresentada.

“A gente estudou muito tempo, demos um pouco de sorte também porque tivemos 2 anos de muita pesquisa, então a gente foi conseguindo acrescentar ainda mais coisas ao trabalho. Os meninos ajudaram muito com a dinâmica da coreografia, com todo o processo. Foi um processo incrível durante todo esse tempo”

“Trouxemos muita energia, com nossos efeitos, por conta do tamanho que se tornou a comissão de frente, mas pudemos trazer, acima de tudo alegria, irreverência. Porque nós trouxemos uma condição de desmistificar que Exu é um personagem do mal e não tem nada disso, é um agente folclórico da nossa cultura popular”, completou Hélio Bejani, também coreógrafo da comissão.

A parte principal da apresentação foi proposto um olhar de conexão entre os mundos terrestre e espiritual, representado como uma espécie de mediador. A comissão da escola de Duque de Caxias, contou a história de uma catadora de lixo, moradora da cidade, que se comunicava com Exu através de um telefone e contava com expressões misteriosas. Com a proposta de deixar a seguinte mensagem a quem assistiu: A energia que vem da transformação é poderosa!

O cenário foi criado com a catadora e os outros catadores vivendo no meio de uma civilização julgada como lixo, insatisfeita com a situação, a personagem principal busca formas de se reconectar com a fé, e colocou em cheque os valores distorcidos da nossa sociedade.

“A gente trouxe como principal mensagem a fé, a intolerância religiosa, contra o preconceito, esses são os pontos principais. Após o ensaio técnico, recebemos uma rede de apoio, pessoas pedindo para que a gente siga e vença por eles. Pessoas que nunca puderam dizer qual era sua fé, sua religião por sofrerem críticas”, completou Beth.