Vila Isabel faz bela homenagem a Martinho com impactante comissão de frente e bonito conjunto estético
A Vila Isabel encerrou os desfiles do Grupo Especial prestando uma justa e belíssima homenagem a Martinho da Vila, presidente de honra da escola da Azul e Branca do bairro de Noel. O homenageado apareceu em dois momentos da apresentação da Vila Isabel, primeiro na comissão de frente ,sentado em um lugar de honra no gigantesco tripé, e depois voltou para encerrar o desfile à frente da Swingueira de Noel. A vida e a obra de Martinho foram apresentadas com alegorias grandiosas e bem acabadas, além de fantasias com qualidade estética e boas soluções criativas. O intérprete Tinga mais uma vez fez uma grande apresentação, auxiliado pelo bom trabalho de Macaco branco e seus ritmistas. Com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!”, a agremiação fechou as noites de desfiles do Grupo Especial, levando 68 minutos para encerrar sua apresentação. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Comissão de Frente
O coreógrafo Márcio Moura trouxe para Passarela do Samba a comissão “No trono de Omolu, a ascensão de um novo Rei”. Na apresentação, a Unidos de Vila Isabel veio coroar seu Rei Negro. Ancestralidade, musicalidade e religiosidade são os condutores dessa festa da raça, saudando o novo rei, suas histórias e ensinamentos. Um Griô, guardião de histórias e lendas, com as feições de Martinho e carregando um cajado, junto com guerreiros africanos segurando máscaras negras que se transformavam em escudos e depois oferendas, chegavam à Marquês de Sapucaí com a responsabilidade de apresentar toda a ancestralidade do homenageado, o rei Martinho.
Do enorme tripé com a figura de Omolu segurando uma coroa, saíam três tambores, e destes instrumentos apareciam ogãs que realizavam movimentos de batida. O primeiro elenco era substituído por figuras caracterizadas de Omolu, que também saíam do tripé. No fim, o homenageado surpreendentemente aparecia em um lugar de honra no tripé, e era coroado pela enorme coroa de Omulu, causando uma grande reação do público. Depois, a apresentação se encerrava com Martinho sendo redirecionado para uma posição em que ele pudesse olhar para o resto da escola e acompanhar a homenagem.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, estreou na Vila Isabel vestindo a fantasia “Força e Axé de Zambi”, representando o poder de Zambi a proteger Martinho recaindo sobre a Vila Isabel, revestidos de pedras brilhantes e nas cores da agremiação. A dança trouxe uma coreografia que prezou pela delicadeza, ainda que tivesse seus momentos de mais vigor. A se destacar, o entrosamento do casal, o contato visual e a proximidade sempre priorizada nos movimentos e a bandeirada sendo realizada com graça e correção. No fim, uma reverência para o público e em especial para a cabine de julgamento. Antes da apresentação da dupla, o Griô da comissão de frente fazia um aceno indicando o casal para os jurados de longe.
Harmonia
Sobre o rendimento do canto da escola, não há nenhum tipo de crítica ou apontamento negativo a ser feito. Impulsionado por um ótimo trabalho do carro de som, em um andamento equilibrando vigor e cadência, os componentes cantaram do início do desfile ao final com intensidade e correção em todas as alas, entendendo a necessidade de também dar esse presente ao homenageado tão querido em Vila Isabel. A se destacar o canto da ala das baianas “Yá-Yá do cais dourado”, também as alas “embaixador negro”, “resgate de Gbala”, a velha guarda, que além de tudo estava muito elegante com a fantasia “E uma boa noite, Vila Isabel”.
Enredo
“Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!” apresentou uma homenagem à vida e às obras de Martinho da Vila destacando como são centrais para o Carnaval e para o Mundo do Samba. O enredo trouxe a gigantesca importância do homenageado para a Cultura Brasileira, e a própria presença de Martinho na história da Vila Isabel, com a qual a vida dele se mistura. O enredo apresentou a celebração de um grande gênio popular, da Negritude e do Rei Negro que, na Sapucaí, foi coroado e comemorado no desfile da Vila Isabel. Dividido em 5 setores, a escola iniciou a apresentação convocando toda a massa e trazendo o Martinho pé na roça, pé no morro e pés no chão.
No segundo setor, “em cada verso mais uma obra-prima” a Vila trouxe a genialidade do compositor que ficou gravada para a eternidade. Em seguida foi apresentado “meu laiaraiá: a simplicidade da genialidade” e ” singrando em mares bravios: viagem ao templo da criação”. O quarto setor representou Martinho como um griô e sua sabedoria. E no último setor “kizomba na casa de bambas – o legado imortal para o carnaval”, a Vila encerra seu desfile celebrando também seu primeiro campeonato e samba mais festejado.
Evolução
A evolução da escola no geral foi fluida. O que se pode colocar como ponto menos destacado a evolução da quarta alegoria “África em prece” que no setor seis evoluindo com um pouco de lentidão gerando um pouco mais de espaço até a ala seguinte “Voz pela liberdade”, mas sem chegar a gerar um problema de buraco. De resto, com fantasias não tão pesadas e com a força do samba, os componentes evoluíram de forma espontânea, sem embolar alas e algumas alas como os passistas “Raízes Kaapó” mostrando samba no pé.
Samba
O samba foi interpretado por Tinga, que mais uma vez aliou potência de voz com chamados aos componentes a cantar o samba. O carro de som contou com vozes de apoio experientes, alguns principais em escolas da Série Ouro como Thiago Brito da Unidos de Bangu e Tinguinha da Lins Imperial, além do interminável Gera. O entrosamento entre o carro de som e a bateria do mestre Macaco Branco também foi um ponto que mais uma vez deve ser destacado. As bossas da bateria muitas vezes ajudavam a convocar os foliões ao canto. Alguns trechos como “Modéstia a parte, o Martinho é da Vila”, além do refrão principal. A cabeça do samba, que começava no “Ferreira chega aí” também, em diversos momentos, fazia os componentes cantarem com orgulho e levantando os braços para o céu.
Fantasias
A escola trouxe um conjunto estético muito bonito, volumoso mas sem ser pesado, bem acabado e com soluções criativas. O uso dos tons do azul, uma das cores da escola, foi destacado nas fantasias, sem ser exagerado e combinando com outros tons que eram definidos pela temática de cada setor. A se destacar no primeiro setor a ala “Raizes na roça”, com tons de palha, folhas de bananeira e a própria fruta. No segundo setor, as baianas “Yá-Yá do cais dourado”, com um colorido muito bonito, com leds e trazendo pequenos barracos na saia. A última ala “Grande carnaval do Boulevard” trazia os personagens que sempre povoaram o imaginário do universo carnavalesco de rua invadem o Boulevard para celebrar a coroação do Negro Rei, representados pelos componentese por enormes bonecões que vinha se movendo no meio da ala.
Alegorias
O conjunto alegórico da Vila Isabel era constituído de 5 alegorias e 1 tripé. O abre-alas ” Favela é África e o dono do palco é o zumbi” representou o morro como a face ancestral da negritude, trazendo becos e vielas, o povo dos Macacos e do Pau da Bandeira, abençoados por Zambi. À frente, a figura de Zumbi protegendo os seus. A primeira parte da alegoria trouxe elementos que o relacionam à Cultura Africana, depois, a Coroa da Vila Isabel, girando para convidar à coroação do seu Rei Maior, Martinho. Por fim, as máscaras africanas e a favela, conjugando a realidade afro-brasileira e trazendo a força das tribos ancestrais africanas.
O quarto carro “África em Prece” trazia a figura de um Griô, com as feições de Martinho, sob a sombra de uma grande árvore. O tripé “Pegando o bonde para passar no boulevard”, apresentou uma viagem através dos tempos, com a beleza e o espírito carnavalesco dos Carnavais de Ilusões que sempre movimentaram as ruas do bairro.
No geral, as alegorias eram grandiosas, bem acabadas e com soluções de muito bom gosto, como os barzinhos que apareciam nas laterais do último carro “Kizomba na casa de bambas”, que trazia também a velha guarda sentada e elegante. O único ponto negativo a se destacar é que por problemas na concentração, o terceiro carro “Singrando os mares, um grito de Liberdade” teve uma parte do guarda-corpo solto, a alegoria era a forma de um enorme navio representando Martinho indo ao encontro com a África.
Outros destaques
A “Swingueira de Noel”, de mestre Macaco Branco, veio de “pequeno burguês”, vestida de farda homenageando o Sargento Martinho, inspiração da canção de mesmo nome da fantasia da bateria. A rainha Sabrina Sato, estava de ” comandante cinco estrelas” , comandando a tropa representada pelos ritmistas. A cantora Marti’Nália, filha de Martinho, veio também à frente da bateria tocando xequerê. Antes do desfile, no esquenta, Tinga cantou um trecho de um dos maiores sucessos de Martinho, a canção “Madalena”. O intérprete, aliás, e seu time de voz, vieram calçados com uma sandália bem parecida com as que o homenageado costuma usar.
Exu abre os caminhos, Grande Rio realiza desfile histórico, arrebata o público e entra na briga pelo título
Arrebatador, assim pode ser definido o desfile da Acadêmicos do Grande Rio, cercada de muita expectativa, a escola realizou um dos desfiles mais completos de sua história, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora apresentaram um trabalho de alto nível estético. O samba, muito elogiado no pré-carnaval, foi impulsionado pelo desempenho incrível de Evandro Malandro e da bateria de Mestre Fafá. A escola de Caxias entrou na avenida com muita garra, mostrando que estava disposta a brigar pelo tão sonhado campeonato e saiu com a sensação de dever cumprido. O início da escola foi esplêndido, a comissão de frente encantou e impactou o público, assim como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, que passou perfeito por toda a avenida. A agremiação saiu da avenida sendo ovacionada pelo público e com a certeza de que brigará pelo título. * VEJA FOTOS DO DESFILE

Apresentando o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exú” assinado pelos carnavalescos, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, a tricolor de Caxias foi a quinta escola a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A escola terminou sua apresentação com 68 minutos.
Comissão de Frente
A comissão de frente, coreografada pelo casal Hélio e Beth Bejani, foi intitulada “Câmbio, Exu” e mais uma vez encantou o público, a apresentação contou o enredo com maestria, através de um belíssimo trabalho de concepção e realização. Exu foi o primeiro a pisar na avenida, um componente representava o orixá e o restante o povo de rua, a premissa partiu do olhar de Estamira, catadora do lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, ela conduziu a apresentação. Em seu universo, o imaginário de Estamira conferia a Exu o poder da recriação do mundo e a reorganização do caos. O tripé utilizado era o próprio lixão, o trabalho de cenografia impressionou pelo uso de materiais pouco convencionais, no elemento alegórico havia um globo terrestre e em frente às cabines de julgamento, Exu abraçava o mundo era elevado, já no alto, ele se alimenta, a entrega do componente que representa Exu impactou o público, na parte de baixo do carro, os dançarinos usavam as cabaças como pêndulos, simulando um transe. Em todas as apresentações, a comissão arrancou aplausos, inclusive dos jurados.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, deram um show na avenida, esbanjando carisma, a dupla se apresentou com bastante segurança em todas as cabines de julgamento, a fantasia dialogava com as divindades envolvidas no processo de criação do mundo através de Olodumaré, Oduduwa e Exu. A roupa do casal contribuiu para a beleza da dança, o branco, o prata estavam presentes e a saia de Taciana possuía penas pretas e laranjas.
Taciana realizou belíssimos giros e manteve sempre o pavilhão bem esticado, Daniel também se destacou ao realizar os movimentos com bastante agilidade e precisão. Ambos demonstraram ter muita confiança um no outro e apenas no olhar se entendiam. A dupla uniu a dança tradicional com a modernidade, e em alguns momentos arriscaram passos mais coreografados, nos passos, eles realizaram movimentos de Exu e Oxalá, durante a apresentação ambos demonstraram muita leveza, sincronia e garra, levantando e empolgando o público.
Harmonia
A abertura da escola foi muito forte, as primeiras alas cantavam o samba com muita empolgação e vibração, e a Sapucaí inteira acompanhou, vale destacar a ala de abertura da escola, “Mar de Dendê”, mesmo volumosa, os componentes gritavam o samba. As baianas vieram logo atrás da segunda ala e as senhoras de Caxias evoluíram com muita graciosidade pela avenida, foi observado um canto muito forte das matriarcas. O mesmo vale para a ala de passistas, extremamente bem vestidos, as moças e rapazes deram um show e levantaram o público durante a passagem da escola. No geral, nenhuma ala passou sem cantar, a escola apresentou um canto extremamente uniforme e animado.
Enredo
Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad foram os responsáveis por desenvolverem o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, a dupla optou por levar para avenida sete setores, uma referência às sete chaves de Exu. Apesar de denso, o enredo passou pela avenida de forma muito clara, as alegorias e fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada. O primeiro setor do desfile começou em movimento, dividido em dois momentos, a presença de Exu nos mitos de criação e depois o Exu enquanto potência das encruzilhadas. O segundo setor retratou as raízes de Exu em solo brasileiro, o terceiro celebrou o Orixá enquanto energia das trocas, o quarto setor da escola saudou o povo da rua, tendo a Lapa como centro, o quinto foi as festas, folias e carnavais, o penúltimo setor retratou as obras em que Exu foi inserido, sejam elas literárias, pinturas, esculturas, músicas e etc. O último setor traz o lixo, ele retrata a energia de que Exu circula por espaços associados a quem é rejeitado pela sociedade.
Evolução
Em um ano marcado por evoluções problemáticas, a Grande Rio passa avenida deslizando, nenhum contratempo foi observado, as alas e alegorias passaram pela pista com extrema facilidade, os componentes evoluíram com alegria, foi um show da comunidade de Caxias, a escola, que no último carnaval perdeu o título neste quesito, parece ter aprendido com os erros e se apresentou de forma organizada, mas sem perder a leveza.
Samba-Enredo
Cotado como a obra mais completa da safra deste ano, o samba da parceria de Gustavo Clarão e companhia superou todas as expectativas e rendeu muito bem do início ao fim. Mérito da atuação de gala do intérprete Evandro Malandro. Certamente foi a melhor uma das melhores atuações de sua carreira. O carro de som também merece destaque, o entrosamento com a bateria do mestre Fafá impulsionou ainda mais o canto da escola. O samba foi um dos pontos vários pontos positivos da escola, além dos refrões, algumas partes da obra se destacavam, principalmente o ínicio, com o “Boa noite moça, boa noite moço” e “Ô luar, ô luar… Catiço reinando na segunda-feira”, na boca do povo, o samba tem tudo pra render ainda mais no desfile oficial.
Alegorias e Adereços
A escola contou com cinco alegorias e dois tripés, a estética dos carros impressionou, a dupla de carnavalescos, que já criou uma identidade, realizou um trabalho impecável nas alegorias da escola, com um estilo próprio e único, a dupla mostrou que é possível fazer um projeto rústico ser bonito. Foi observado um acabamento muito bom nos carros, os materiais utilizados e a riqueza de detalhes foram um bálsamo para os olhos.
A primeira alegoria da escola, “A grande encruzilhada: barcas dos Exus e assentamentos”, causou um impacto logo na abertura, no alto do carro os componentes balançavam bandeirões, a segunda alegoria, “Chão de terreiro, axé de mercado”, passou apagada pelo primeiro módulo de julgamento, mas nada que tirasse seu brilho, nos demais setores a iluminação foi retomada.
O carro três, “Reinado Catiço”, trouxe a lapa e retratou de forma fiel a noite na região, a alegoria quatro, foi um dos momentos mais coloridos do desfile, chamada “Dobra o Surdo de Terceira”, ela trouxe um grande bate-bola na frente, a escola finalizou seu desfile com a representação do Lixão de Gramacho, os materiais utilizados foram diferentes do habitual e o efeito impactou o público. Vale mencionar ainda os dois tripés que a escola levou para a avenida, cada um com uma estética diferente, eles passaram perfeitos pela avenida.
Fantasias
Mais um show dos carnavalescos, o conjunto estético impressionou pela volumetria e facilidade de leitura, o requinte no acabamento também foi um dos destaques, o uso de cores se mostrou outro acerto da dupla, o início foi mais quente, com cores puxadas para o alaranjado, no setor que representava as raízes de Exu em solo brasileiro, as cores verdes foram usadas, assim como o uso de bastante palha nos costeiros. As fantasias abusaram de farrapos e pedaços de tecidos, como a das baianas, representando um ponto de Exu, elas vestiram uma fantasia de extremo bom gosto e acabamento. Várias poderiam ser as fantasias a serem destacadas, ficam o registro para a primeira ala, “Mar de Dendê”, a quinta, “Oráculo de Ifá”, que apresentou um volume muito grande na avenida, a ala 18, dos bate-bolas e também para a ala 22, “Se for de paz pode entrar”, os estandartes eram enormes e causou um efeito visual maravilhoso.
Outros Destaques
Um dos principais destaques da escola, a bateria invocada comandada pelo Mestre Fafá, com a fantasia “Nunca foi sorte, sempre foi Exu”, a bateria impulsionou o canto da escola e brincou durante todo o desfile, com um repertório vasto, apresentou várias bossas ao longo da passagem pela avenida, durante uma bossa os ritmistas paravam de tocar para que o canto da escola se sobressaísse, em outros momentos foi observado pequenas coreografias, o suficiente para empolgar o público por onde passaram.
Pelo segundo ano consecutivo à frente dos ritmistas, Paolla Oliveira brilhou mais uma vez como rainha, a fantasia evocava a Magia das Pombagiras e a atriz encantou o público por onde passou.
A escola de Duque de Caxias tradicionalmente leva muitas personalidades da mídia para a avenida, neste ano não foi diferente, podemos destacar a presença das musas Bianca Andrade, Camila de Lucas e Pocah, outra figura que levantou o público foi Gil do Vigor.
Erros em Evolução afetam desfile forte da Tijuca no canto da comunidade e na bateria
Quarta agremiação a desfilar nesta noite de sábado, a Unidos da Tijuca emocionou o público da Sapucaí com a bela apresentação da sua comissão de frente, que trazia o renascimento do curumim Kahuê. O início do desfile da escola foi marcado por alguns erros de evolução, mas o forte canto da comunidade tijucana conferiu vigor ao desfile. Bateria e samba-enredo foram outros destaques da apresentação da escola, que veio com um visual estético mais simples. A Unidos finalizou o seu desfile com 68 minutos. * VEJA FOTOS

Comissão de Frente
A Comissão de Frente da Unidos da Tijuca, dirigida por Sérgio Lobato, entrou na passarela representando “A reexistência vermelha”. O grupo exibiu uma coreografia que sintetizou a história narrada no enredo e foi dividida em três blocos. A apresentação se iniciou com o conflito entre Tupanã e Yurupari, entre o sol e a lua, entre luz e escuridão. Seres do A’at e do Waty se combatiam em busca do equilíbrio.
Surgia, então, a figura de Anhyã, uma guardiã, uma sábia e conhecedora do poder das plantas, que foi tocada por uma cobra enamorada e deu à luz a Kahu’ê. Porém, toda a inocência e alegria do menino provocava ciúme e inveja de seus tios. Kahu’ê foi aniquilado, e em seguida, levado pelos braços do Yurupajé, o corpo do menino fez renascer o povo Mawé. A cena do renascimento do curumim emocionou o público.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Phelipe Lemos e Denadir Garcia, desfilou com a fantasia intitulada “Energia encarnada”, traduzindo em dança toda a força vital que comanda os ciclos da natureza. Os dois realizaram um bailado seguro e correto, apresentando o pavilhão da escola com muita elegância.
O pavilhão azul e amarelo da escola se uniu ao vermelho, pedindo licença aos ancestrais e lançando ao vento uma fábula mítica de luta e ‘reexistência’ indígena. O casal esbanjou sintonia ao interagir no olhar e muita sincronia nos movimentos. Phelipe riscou o chão enquanto Denadir realizava seus giros com o pavilhão tijucano. Por algumas vezes durante o bailado ele ficou na ponta dos pés.
Enredo
A Unidos da Tijuca apresentou o enredo “Waranã: a Reexistência Vermelha”, contando o mito de surgimento da etnia Mawé – os filhos do guaraná, os peles vermelhas do Brasil. A escola narrou a formação do guaraná a partir da saga de Kahu’ê, o inocente curumim, cuja presença breve sobre o plano terreno se dá em face das disputas das forças cósmicas e do embate entre Tupana (o bem) e Yurupari (o mal). As cores da escola se fizeram presente no enredo. O amarelo fez alusão às energias que emanam do reino solar de Tupana. Já o azul em tons mais fechados, referiu-se à noite e às energias soturnas do reino de Yuruparí.
Em seguida, surge o vermelho para caracterizar o povo ‘sateré-mawé’, cuja origem é umbilicalmente ligada ao guaraná, à terra, ao sangue e à vitalidade. A escola também apresentou momentos de explosão multicor, que tiveram como intenção estética conduzir-nos aos domínios do fantástico, do discurso mítico que vai além do real. Os grafismos, presentes nos contos Sehaypóri, gravados no Puratig (ou Porantim), o remo sagrado e símbolo da identidade sateré-mawé, se fizeram presentes no conjunto estético visual da Tijuca.
Alegorias
A escola começou seu desfile no alto céu, de Tupana e Yurupari, cujas forças passam a reger o cosmos, ao sabor dos desígnios de Monan, a energia que equilibra o bem e o mal. A luz do pede-passagem que trazia o pavão, símbolo da escola, não acendeu. Logo depois, abre-alas da Tijuca representava Nusokén, o paraíso segundo a visão Sateré-mawé. O carnavalesco Jack Vasconcelos elaborou uma versão fantástica da terra e seus encantados, em que os elementos dos reinos animal, vegetal e mineral apresentaram formas, texturas, grafismos e cores que se instauraram no campo mítico, muito além do real.
As esculturas de onças representam as Tapyra’yawaras, sentinelas da floresta, espíritos criados por Tupana para proteção da natureza. São elas, banhadas pela luz do Sol e pelo brilho da Lua, que trazem o paraíso de Nusokén para a Avenida. No segundo chassi, trazido por um cágado representando a ancestralidade, havia a imagem maternal de Aynhã, grávida de Kahu’ê. A figura de Aynhã se fundia com a de uma borboleta, símbolo de feminilidade e liberdade. O paraíso de Nusokén constitui Anhyã e todos os saberes da natureza estão com ela.
O segundo carro alegórico se chamava “Renascer e frutificar: a dádiva de Tupama”. Ao lançar os raios da boa aventurança, Tupana espalha a dádiva da fartura. Da terra, brotam as sementes nascidas do olho de Kahu’ê e regadas pelas lágrimas de Aynhã, provendo de vitalidade e energia o povo de pele vermelha. Representada de forma poética e estilizada, Aynhã tinha seu rosto encoberto por uma máscara feita em grafismos, de onde caíam lágrimas regando o solo em que brotava o waranã-sessé, o guaraná bom. A terra preta, a boa terra de plantar, foi representada no piso da alegoria, cuja forração apresentou geometrizações que estilizavam o chão em que Aynhã plantou um dos olhos de Kahu’ê.
A terceira alegoria simbolizava “Os frutos de uma nação”, trazendo à tona a formação da etnia sateré-mawé, o povo do guaraná. Em destaque, estava a lagarta de fogo ‘sateré’ e o papagaio ‘mawé’, que formam o nome da etnia. O quarto carro fazia alusão ao espírito maligno que espalha destruição, medo e ameaça o equilíbrio da vida e foi chamado de “A maldade de Yurupari avança pela floresta”. Na parte de trás da alegoria, paini-pajés oravam pelos espíritos de restauração, pelos benfeitores e pelas crianças. A última alegoria da Tijuca foi batizada de “Erê, essa mata é sua”, celebrando a vitória do amor com direito a guaraná, doces e muita brincadeira.
Fantasias
A primeira ala da Unidos da Tijuca veio com uma fantasia representando o alto céu, com dois figurinos, nas cores da escola, amarelo-ouro e azul-pavão, representando a polarização de energias cósmicas e os ciclos que regem o universo. De acordo com o enredo, durante o dia, A’at (o grande sol), em nome de Tupana (o bem), rege Nusokén, o paraíso segundo o povo sateré-mawé. À noite, Waty (a lua) vem comandar, em nome de Yurupari, as energias más que se revelam quando a luz vai embora.
O falante curumim Kahu’ê, personagem do enredo, apareceu na quarta ala da escola, de cores verde e vermelho, representando a floresta e os seres da mata. A ala “Os olhos do curumim” trouxe à tona, novamente, a questão da dualidade, pois na terra amarela nada se frutificou, mas, na terra preta, surgiu o bom fruto que daria origem ao povo sateré-mawé. “O revoar das borboletas” foi representado na ala de passistas da Unidos, que trazia todo o poder da transformação e da reexistência, colorindo a passarela do samba.
Diversos clãs indígenas foram representados na alas da Unidos da Tijuca, como por exemplo os “Tuxauas”, os “Wanturiá”, os “Koreiwá”, os “Hawariá” e os “Napu’wany’ã”. A ala das baianas da Tijuca fazia referência ao poder da Jurema, que em ritos religiosos, entre danças, cantos e infusões, manifesta-se em incorporações por meio da ingestão da bebida sagrada. A fantasia, predominantemente azul e amarela, trazia um colorido sutil na barra das saias das senhoras. Os materiais utilizados pelo carnavalesco Jack Vasconcelos eram simples, porém tiveram um belo efeito visual.
Evolução
A Unidos da Tijuca apresentou problemas de evolução desde de o início de seu desfile. O enorme carro abre-alas teve alguns problemas na acoplagem, o que levou a abrir um grande buraco em frente ao setor 3. Isso acabou fazendo com que a escola evoluísse lentamente nos primeiros setores. Aos poucos o ritmo de desfile da Tijuca foi se acertando. Alas como “Os olhos do curumim” abriram um espaço um pouco maior do que o necessário entre as fileiras. A escola concluiu seu desfile sem maiores correrias.
Harmonia
A Unidos da Tijuca apresentou um canto uniforme ao longo do seu desfile. A comunidade do Borel cantou o samba-enredo com muito vigor e intensidade, do começo ao fim, mantendo a mesma energia. O refrão “Erê, essa mata é sua… é sua. Erê, vem provar doce mel” foi o ponto alto do samba, que impulsionou a harmonia da escola. Destaque para o canto das alas “A castanheira sagrada”, “Os olhos do curumim”, “Lagarta de fogo Sateré” e “O renascimento da floresta”.
Samba-Enredo
O samba-enredo da Unidos da Tijuca foi um dos pontos altos do desfile da escola. Seu refrão principal, além de ser fácil de cantar, possui uma melodia contagiante que fica na cabeça: “Erê, essa mata é sua/ Erê, vem provar doce mel”. A dupla de intérpretes Wantuir e Wic Tavares, que são pai e filha, estava bem entrosada com o carro de som e a bateria Pura Cadência. A obra é uma composição de Eduardo Medrado, Kléber Rodrigues e Anderson Benson.
Outros destaques
Um pede passagem que trazia o Pavão, símbolo da escola, abriu os caminhos para contar a saga do povo sateré-mawé, que se dá no tempo mítico dos deuses do panteão indígena. A Unidos da Tijuca encerrou seu desfile com uma verdadeira ibejada, a festa dos erês, distribuindo doces para o público que acompanhava o desfile da escola.
A bateria da Tijuca veio vestida de “Ao som do trovão de Tupana”, simbolizando a voz do pensamento bom que restabelece o equilíbrio vital sobre a Terra. Mestre Casagrande representava o “originador”, o primeiro sateré-mawé.
Análise da bateria da Grande Rio no desfile de 2022
A bateria da Grande Rio de Mestre Fafá fez uma apresentação muito boa. Um ritmo marcado pelo andamento cadenciado, que propiciou um pleno equilíbrio de naipes e timbres. É a única bateria do carnaval carioca com mapa de todos os ritmistas, o que ocasionou uma organização notável no ritmo, proporcionando uma musicalidade de equalização ímpar. Uma boa afinação de surdos foi notada. O swing envolvente das terceiras preencheram o balanço da cozinha com consistência.
A ala de caixas ressonantes deu sustentação rítmica, agregando à sonoridade, junto com repiques. A ala de chocalhos tocou de maneira firme e coesa. Sincronizado com um naipe de tamborins de sonoridade exemplar, executando a convenção rítmica com precisão e principalmente coesão. Os agogôs pontuaram a melodia do samba e complementaram a bateria da Grande Rio, junto com uma boa ala de cuícas. Paradinhas com boa concepção musical, explorando movimentos rítmicos baseados em simplicidade, mas com extrema eficácia, além de uma construção sonora que deu valor a melodia do samba da escola.
A bossa da cabeça do samba gerou fluidez na boa conversa rítmica, com direito ao tamborins virando de costas para efetuarem uma subida responsável por pautar a retomada do ritmo. As apresentações em todos os módulos ocorreram sem qualquer transtorno sonoro evidenciado pela pista de desfile, com todas as paradinhas tendo êxito na execução, bem como nas retomadas. Vale ressaltar a bela apresentação no último módulo de cabine dupla.
Análise da bateria da Vila Isabel no desfile de 2022
Na primeira vez pisando na Sapucaí sem Mestre Mug nesse plano, a bateria Swingueira de Noel de Mestre Macaco Branco fez uma ótima apresentação. O andamento cadenciado da bateria da Unidos de Vila Isabel permitiu uma fluência rítmica entre os diversos naipes, num ritmo pautado pelo equilíbrio musical. Uma boa afinação de surdos foi notada. O balanço dos surdos de terceira, com o papel de centrador propiciou uma conversa rítmica entre as peças da parte de trás do ritmo, dando base sonora para o desempenho de repiques, caixas retas e a tradicional batida dos taróis da bateria da Vila.
O acompanhamento das peças leves se deu de forma sólida e consistente. Uma ala de chocalhos firme e coesa tocou sincronizada a um naipe de tamborins preciso e uníssono, preenchendo a musicalidade da bateria, além de auxiliar na perfeita equalização. As paradinhas unem concepção criativa envolvendo bom gosto e complexidade no nível de execução. A bossa da cabeça do samba possui um arranjo musical refinado e bem produzido.
A paradinha de maior destaque sonoro foi a da segunda do samba, possibilitando um molho diferenciado durante sua execução. As passagens da bateria da Vila Isabel por todos os módulos de julgamento foram impecáveis, sendo a melhor apresentação a do último módulo de cabine dupla, onde houve certa ovação popular, além de uma nítida boa receptividade do júri.