Coreógrafo da Unidos da Tijuca, Sérgio Lobato fala sobre relação com Jack Vasconcelos: ‘Tinha até um receio, mas foi maravilhoso’
Quarta escola a pisar na Sapucaí no segundo dia de desfiles do Grupo Especial, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “Waranã-A Reexistência Vermelha”. Para a Comissão de Frente, a escola do Borel apostou no coreógrafo Sérgio Lobato, que retorna à Tijuca, agremiação pela qual fez sua estreia na Sapucaí, em 2006.
No seu primeiro trabalho no retorno à Unidos da Tijuco, o coreógrafo apresentou uma comissão em que retratava a “A Reexistência Vermelha”, com o surgimento da etnia Mawé, na qual retratava a morte e o renascimento de Kahu e a resistência indigena brasileira.
Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, Sérgio Lobato comentou sobre o processo de criação do projeto da Comissão de Frente da Tijuca. Segundo ele, a criação e pesquisa da coreografia se deu junto ao carnavalesco da escola, Jack Vasconcelos.
“Foi um processo de pesquisa, junto com o carnavalesco Jack Vasconcelos, até chegarmos a uma ideia, um conceito e aí, fomos buscando subsídios para trazer para minha coreografia. Estamos representando a lenda que fala de Tupanã, do bem e do mal, e também trago essa dualidade na coreografia, um pouco dos guetos. Tem muita energia, muita força, muitas coisas bonitas.”, revelou.
Quando questionado sobre o ponto alto da coreografia que foi apresentada na avenida, o coreógrafo preferiu não determinar um único momento, mas sim, contou apostar no conjunto da sua coreografia.
“Não tem uma parte específica, o conjunto coreográfico é muito forte, a história que nós contamos, em um samba só.”, afirmou.
O carnaval de 2022, para Sérgio, marcou a primeira vez em que trabalhou em conjunto com o carnavalesco Jack Vasconcelos, contratado pela Tijuca para este carnaval. Ao falar da relação com o artista, Sérgio Lobato revela ter tido um certo receio de trabalhar com o carnavalesco, que considerava muito sério. Porém, reafirma sua ótima relação com o mesmo.
“Foi bem legal trabalhar com o Jack. Eu confesso que, no início, tinha até um receio, quando falaram que eu ia trabalhar com o Jack, eu nunca tinha trabalhado e sempre achei uma pessoa muito séria. Mas, foi maravilhoso, uma união, entrosamento e parceria.”, concluiu.
Análise da bateria da Unidos da Tijuca no desfile de 2022
Uma grande apresentação da bateria Pura Cadência de Mestre Casagrande. Houve uma exemplar afinação de surdos, amparando musicalmente os demais instrumentos, onde se destacaram o swing envolvente dos surdos de terceira, além da fabulosa caixa de guerra tijucana. As caixas da bateria da Tijuca, com toque uniforme e uníssono, constituem uma base rítmica que preenchem por completo o trabalho acima da média da cozinha da bateria da Unidos da Tijuca. O acompanhamento das peças leves se manteve sólido durante toda pista. Uma ala de chocalhos apresentando valor sonoro com toque preciso de volume elevado. A ala de tamborins tocou com firmeza, executando o desenho simples de forma coesa e obtendo um acrescento musical notável ao ritmo.
O carreteiro dos tamborins da Tijuca engloba um toque identitário que mescla os movimentos de 2 x 1 e 3 x 1. Essa união ajuda no ressoar das caixas, sempre consistentes da bateria da Tijuca. A paradinha da cabeça do samba apresentou uma musicalidade fluída, com um belo arranjo musical. Foi possível notar os tamborins entrando no corredor da bateria, para auxiliar a retomada do ritmo em sua plena síncope na parte de trás do ritmo. As execuções das paradinhas nos módulos de julgadores foi correta, não havendo qualquer problema sonoro evidenciado na pista de desfile.
A bateria de Mestre Casão se apresentou com destaque no primeiro módulo de julgadores, de cabine dupla. Com direito à reconhecimento dos jurados com notórios aplausos. A exibição na última cabine dupla foi simplesmente apoteótica, tendo levado o público ao delírio, assim como encantado os julgadores.
Mocidade Alegre executa desfile impecável e se destaca como principal favorita ao título
Terceira escola a desfilar na noite de desfiles de sábado, a Mocidade Alegre protagonizou um verdadeiro show e entrou forte na disputa pelo título. Seguramente, superou todos os desfiles da sexta. A escola foi praticamente impecável em todos os quesitos e setores. O enredo, homenageando Clementina de Jesus, foi contado de forma linear, falou de toda vida da cantora, como paixão pela música, escola de samba e religiosidade. A comissão de frente, que tinha a figura de Carolina de Jesus, foi interpretada pela artista Thelma Assis, pegando todos de surpresa. Um fato que a Mocidade guardou a sete chaves. O canto da comunidade ecoou com força e, o intérprete Igor Sorriso, conduziu os componentes da Morada com uma energia gigante. De fato, a Mocidade Alegre, que é uma das maiores campeãs do carnaval paulistano, pode levantar o caneco depois de oito anos.
Comissão de frente
A ala da escola, comandada por Jhean Allex, representou “Devoção, festejos e ancestralidade: O fascínio da Clementina”. Tiveram como figurantes as “Lavadeiras”, “Os brincantes das folias de reis” e a própria Clementina de Jesus. Com o objetivo de retratar a influência das lavadeiras na vida da cantora, houve bailarinas com típicas fantasias lavando às margens dos rios. Dentro da apresentação, se colocou um elemento alegórico dourado com anjos negros no lado direito e esquerdo. Vale destacar que algumas dessas lavadeiras, carregavam bacias, enquanto outras apenas encenavam. Os brincantes da folia, dançavam pela pista toda dançando carregando uma fantasia com uma espécie de fantoche. Uma grande surpresa foi revelada durante o ato. A artista e ex-BBB, Thelma Assis, foi a atriz que protagonizou o papel de Clementina de Jesus durante toda a apresentação. Pegou todos de surpresa e, quando o público viu, a reação positiva foi imediata. Thelma é Mocidade Alegre fanática há muito tempo. Desfilou de passista há muitos anos e, agora, ganhou um papel pra lá de importante. Simplesmente foi a protagonista da homenageada do enredo. Uma emoção muito grande.
Mestre-sala e porta-bandeira
Rodeado de guardiões, o casal Uilian Cesario e Karina Zamparolli, representeu as “Bençãos à Clementina”, e fez uma grande apresentação. A dupla executou corretamente os giros em sentido giro horário e anti-horário e, o sorriso no rosto de Karina, é algo a se destacar dentro da apresentação. Nas cores vermelho e dourado, as fantasias eram leves. A porta-bandeira optou por usar um material que desse destaque às cores na parte de baixo. Isso ajudou totalmente para o sucesso do casal dentro da pista. As vestimentas usadas pela dupla, foram em vermelho e dourado. A única diferença é que também usava uma capa em azul claro.
Harmonia
O samba-enredo escolhido foi de agrado da comunidade desde o início. Impulsionados pelo intérprete Igor Sorriso, a comunidade da ‘Morada do samba’, mostrou um canto totalmente agradável em seu desfile. Se confirmou o que foi feito nos ensaios. O cantor, junto ao seu carro de som, teve uma atuação de gala. Em questão de colocar a escola para o alto, sem dúvidas, Igor Sorriso está nas primeiras prateleiras. A interação com as arquibancadas e todo o público também é outro ponto importante a se destacar. Isso se nota no apagão dentro do refrão principal.
Enredo
O intuito da Mocidade Alegre foi exaltar uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira. Clementina de Jesus foi uma das revolucionárias e elevou o patamar de toda a arte musical brasileira. Isso porque, em suas obras, disseminou repúdio contra o racismo e o machismo. Uma mulher extremamente empoderada e com muitas raízes de ancestralidade africana e, dentro disso, a Morada buscou um enredo desse tipo.
O tema foi executado de uma forma linear. No início, a Mocidade Alegre abordou suas origens com a comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira, duas alas cênicas e carro abre-alas. A agremiação conta isso como forma de “flor de raiz africana”. No segundo setor, a escola contou a história de Clementina, onde citou seu início na música, o canto no morro, a paixão por cozinhar, a relação das escolas de samba com Portela e Mangueira e outras grandes influências na vida de Clementina. Na terceira parte, foram colocadas algumas obras que fizeram parte de sua carreira, seja em parcerias ou inspirações de músicas. No quarto setor, contou-se sobre a religiosidade de Clementina, como “Influências católicas”, “Influências africanas” e “Sincretismo brasileiro”. Fechando o desfile, a Mocidade Alegre falou de africanidade e o cortejo de coroação.
Evolução
Foi outro quesito destaque da escola, principalmente por inovar e se ajoelhar no refrão principal. Na parte do samba, onde se canta: ‘A Mocidade se ajoelha aos seus pés, todas as alas se ajoelhavam e voltavam logo após o refrão terminar. Um efeito sensacional que chocou e levantou toda a arquibancada. Esse ato foi feito quatro vezes, entre os minutos De resto, o andamento da Morada também fluiu com muita potência 20, 36, 45 e 49.
Em certas partes do samba, a comunidade tem uma coreografia padronizada. Destaque para quando a escola canta o ‘iô’ três vezes, onde os componentes vão de um lado para o outro.
Samba-enredo
O hino da Mocidade Alegre tem uma letra muito bem elaborada. Foi feita de uma forma explicativa e alegre. Diferente dos últimos dois anos, a obra não conta com palavras afros ou indígenas. Sendo assim, a comunidade conseguiu pegar mais fácil. Além disso, o entendimento do hino ficou mais fácil. Em todas as partes do samba, dá para entender o contexto e a mensagem que a agremiação quis passar.
Dentro da pista, todas as partes foram cantadas com força. É até difícil especificar. Porém, pelo apagão feito pela bateria e o fato da comunidade se ajoelhar, o refrão principal se destaca. A parte do ‘iô’ é criticada, mas foi outra que pegou com os componentes.
Fantasias
As fantasias da Mocidade chegaram na avenida muito luxuosas. A escola optou por usar materiais como plumas em cima dos costeiros, dando um efeito de primeira dentro da pista. Aparentemente, todas as alas vieram sem erros de acabamento. A vestimenta da ala sincretismo brasileiro foi o destaque principal. Os costeiros apareciam como asas, com materiais que pareciam dar essa sensação e, na parte de baixo, havia a figura do espírito santo. Também há de se destacar a ala de abertura, que é a “Flor de Raiz Africana”.
Alegorias
A primeira alegoria, veio apresentando as origens de Clementina de Jesus, onde aparecia uma espécie de teatro, com cortinas abertas nas cores vinho e dourado. No complemento do carro, havia esculturas de anjos ao lado e uma grande igreja.
O segundo carro alegórico, nomeado:” Descendo dos morros, subindo nos palcos – a trajetória da dama negra do samba, a voz de navalha”, simbolizou o a musicalidade de Clementina e mostrou a relação com as escolas de samba cariocas, Portela e Mangueira. Na parte de trás, duas esculturas de grandes destaques: Clementina carregando um surdo verde e rosa na cabeça e uma águia se mexendo. Obviamente, fazendo referência à Portela e Mangueira.
A terceira alegoria, intitulado como: “Nas ondas do rádio e dos discos de vinil, a musicalidade de quem foi feita para vadiar”, apresentou todo o talento de Clementina. Tinha a cantora com um microfone à frente do carro e, no topo, um disco de vinil girando.
O último carro alegórico, teve como: “– Sob o manto da mãe África, a negritude coroa Clementina, a Rainha Quelé”, mostrou toda a africanidade na vida de Clementina de Jesus. No topo, mostrou-se a figura do orixá Obaluaê com uma coroa, que mexia os braços e a cabeça, além de outras figuras afro. Foi a alegoria destaque da escola. Tinha a cor toda em dourado.
Outros destaques
A bateria Ritmo Puro, comandada por mestre Sombra, tem como principal característica dar um destaque maior aos surdos de terceira e as caixas. As bossas foram de total sucesso no desfile. Obviamente, o apagão do refrão principal, que fez a escola ajoelhar, ficou para a história e foi o destaque da batucada. Dentro do recuo, a bateria entrou e saiu de novo no mesmo momento, para se curvar ao jurado frente ao box.
“Pavão Cósmico”: Símbolo da Tijuca pede passagem para o desfile da escola na Sapucaí
Com o enredo “Waranã-A Reexistência Vermelha, a Unidos da Tijuca, quinta escola a pisar na Sapucaí, apostou na temática indigena, na estreia do carnavalesco Jack Vasconcelos pela escola. Logo no início do desfile, a escola trouxe um pede-passagem, elemento que anuncia a chegada da agremiação na avenida, com o símbolo da escola, o pavão.
Representando o “Pavão Cósmico”, o elemento abria os caminhos para a história que a escola contou, a saga do povo indigena Sateré-Mawé. Esteticamente, para o pede-passagem, o carnavalesco Jack Vasconcelos apostou nas cores quentes, que permearam todo o desfile, com um laranja bem forte e um azul, de contraste. Além disso, o pede-passagem trazia um letreiro em amarelo e azul, com o nome da escola.
Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, a responsável pelo pede-passagem, Rafaela Amaral, falou sobre a representatividade do elemento no desfile, logo na abertura da escola do Borel.
“Ele é o pede-passagem da escola, que traz nosso símbolo maior, que é o pavão. Ele vem logo depois da comissão e do casal pedindo passagem para que dê tudo certo porque a escola está muito bonita.”, contou.
No carnaval, é muito comum o uso do símbolo da escola logo no início de seu desfile, como a águia da Portela, o Tigre da Porto da Pedra, o Boi Vermelho da Unidos de Padre Miguel e outros, muitas vezes para puxar a emoção dos componentes e torcedores. Tijucana apaixonada, Rafaela falou sobre a representatividade do símbolo da escola para os corações tijucanos.
“O pavão representa tudo para nossa escola, a gente o carrega na bandeira, nosso símbolo maior. É o que a gente mais admira e cultua na escola. Nos emociona muito o pavão logo na nossa abertura”, contou.
Por fim, ao ser questionada sobre as possibilidades de título de sua escola, a Unidos da Tijuca, Rafaela preferiu manter “os pés no chão”. Apesar de confiante, ela prefere esperar o resultado da apuração.
“Está muito cedo ainda, tem muita escola para desfilar. Mas, a escola tá bem bonita, a equipe tá bem forte e vai dar tudo certo. Só queremos fazer o nosso e torcer lá na terça-feira.”, disse.
Comissão de Frente encanta, mas Mocidade comete erros de evolução e peca no acabamento de alegorias
Com enredo em homenagem a Oxóssi, padroeiro da escola, a Mocidade desfilou na madrugada deste domingo na Marquês de Sapucaí. A escola se destacou bastante com a Comissão de Frente, no samba, que foi bastante cantado no Sambódromo, e no bom conjunto de fantasias. Contudo, a agremiação apresentou graves erros de evolução por conta um problema no abre-alas. A Estrela Guia também pecou no acabamento de algumas alegorias, em apresentação que durou 68 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Comissão de Frente
Coreografada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, a Comissão de Frente, nomeada como ‘Oxóssi é Caçador de Uma Flecha Só’, teve 15 componentes, todos homens. O primeiro segmento da escola promoveu uma encenação de um dos itans de Oxóssi, onde o orixá encerra sofrimento de uma aldeia enfeitiçada por uma bruxa. Caçadores tentaram eliminar o mal, mas sem sucesso, aí é a vez de Oxóssi, conduzido por guias da natureza, que com a flecha única e certeira, consegue acertar a ave assombrava a região.
Os caçadores vieram com tambores, que acendiam em led aos batuques dos dançarinos. No módulo três, no setor seis, no entanto, dois elementos não acenderam. Alguns tambores também apresentaram acabamento deficitário. Contudo, a coreografia foi executada de forma impecável e no fim, a flecha de Oxóssi, em verde neon, era lançada ao ar com um drone, e acertava o pássaro, representado por um homem em um alto elemento cênico. Toda apresentação durou cerca de três minutos.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira simbolizou Mutalambô, a face divina da natureza do caçador. A intenção foi passar a mensagem a força das mulheres caçadoras e valentia dos guerreiros. Ainda na simbologia da coreografia, ao unir virtudes dos dois, Oxóssi se converte em Mutalambô, deus da caça, fartura e abundância. Diogo Jesus vestia roupas em dourado com tons de verde, esplendor com flecha e riqueza de detalhes na fantasia. O figurino de Bruna Santos tinha saia branca com detalhes verdes nas pontas e esplendor com flechas atrás. Os dois passaram sem erros em todos os setores, demonstraram sincronia, e elegância na apresentação, que durou cerca de 2m15s.
Harmonia
A escola se destacou bastante no canto, e teve o samba bastante entoado na Sapucaí. As bossas da bateria também impulsionaram ainda mais a escola, que gritava o refrão, assim como as arquibancadas. As alas também passaram bastante animadas, cantando e brincando. Destaque para a ala 11, ‘As Penas de Oxalá: Ministro Sagrado do Reino’ que evoluiu muito bem no canto, assim como a ala seguinte ‘Os Alaketus: Os Reis da Cidade de Ketu’.
Enredo
No primeiro setor, a Mocidade promoveu uma grande anunciação a Oxóssi. Naquele momento, foi abordado a ancestralidade desse grande batuque com o toque do agueré. Na sequência, a escola explicou as origens do orixá, onde nasceu, família, com outros orixás, como Exú, Ogum, Iemanjá. A intenção aqui também foi explicar o motivo de Oxóssi ser o orixá da caça, com ajuda de Ogum e conselhos de Ossain. No terceiro setor, a Mocidade contou os itans, lendas relacionadas a Oxóssi com outros orixás como Iansã, Otim, Oxumaré e Oxalá.
O quarto setor da escola já faz uma abordagem de Oxóssi na chegada ao brasileiro passando pelo sincretismo religioso, onde no catolicismo se transforma em São Sebastião. Mostra também a mistura das religiões de matriz africana com a indígena brasileira para o surgimento também da Umbanda. O setor também fez uma referência às casas de Candomblé pelo país com tema central na casa de Tia Chica, por onde chega a cultura dos ritmos africanos, como o agueré. O último setor rendeu uma grande homenagem à bateria ‘Não Existe Mais Quente’, que tem como marca essa ancestralidade do agueré.
Evolução
A questão mais problemática da Mocidade ficou por conta do quesito evolução. Logo no início, a escola abriu um buraco em frente ao primeiro módulo por conta da dificuldade de locomoção do abre-alas. Os tambores acoplados à frente do carro tiveram não avançaram e precisaram ser empurrados. Ao passar pelo último módulo, os elementos foram desacoplados. O problema com o carro abriu outros buracos na Avenida, como no último setor. A escola evoluiu de forma retardada, ficou parada por vários minutos e no final precisou correr, e alas passaram rápido nos últimos setores. A primeira alegoria ainda soltou bastante água na pista, o que causou impacto na parte dos pés das fantasias de alguns componentes.
Samba
O samba, que já era elogiado no pré-Carnaval, correspondeu na Avenida e foi bastante cantado pela escola. O refrão foi gritado pela comunidade, assim como o refrão do meio. Outras partes, como de ‘Samborê, pemba, folha de jurema’ até ‘Quem rege meu Orí, governa minha fé’. De ‘Oh, juremê, oh, juremá’ até ‘Mandiga de Tia Chica fez a caixa guerrear’ é outro momento do samba que se destacou. O carro de som, comandado por Wander Pires também teve ótimo desempenho.
Fantasias
Logo na primeira ala, ‘Ancestralidade Independente’, a Mocidade mostrou beleza nas fantasias com bonito acabamento, muitos detalhes em verde e um grande elemento na cabeça. Os componentes vieram com bengalas, representando essa essência ancestral. Na sequência, a Mocidade trouxe alas fantasiadas com orixás que tem histórias ligadas a Oxóssi, como Exu, Ogum, Iemanjá, Ocô, Ossain, Otin, Iansã, Oxumaré e Ikú. Todos os figurinos apresentaram riqueza de detalhes, cores vibrantes, acabamentos impecáveis e criatividade de Fábio Ricardo.
A ala das Baianas veio como ‘As Sacerdotisas do Terreiro’, como uma homenagem às ialorixás, as mães de santo. Com amuletos, riqueza de detalhes e bonita cabeça, a ala chamou atenção. A ala 18, ‘Caveiras e Muralhas: Os Guerreiros de Ketu’ apresentaram grandiosidade, em esplendores verdes, nas cores do orixá. No último setor da escola, a Mocidade reproduziu algumas fantasias de baterias da agremiação nas últimas décadas, de desfiles memoráveis da Estrela Guia, como ‘Ziriguidum 2001’, de 1985; ‘Chuê, Chuá, as Águas vão Rolar’, de 1991; ‘Sonhar Não Custa Nada’, de 1992; e ‘As Mil e Uma Noites de Uma Mocidade pra lá de Marrakesh’, de 2017, ano do último título da escola.
Alegorias
A primeira alegoria, ‘Toque da Anunciação: Um Destino Escrito nas Estrelas’ trouxe Orunmilá com seu Ozum. O símbolo da Mocidade é posicionado por Orunmilá no opon, tábua sagrada, enquanto olodés apontam ao arco e a flecha para todos os lados. Tamobores aparecem no primeiro carro, assim como nos demais, para simbolizar o batuque e o toque do agueré. A alegoria chamava atenção por muito verde e muito dourado e a escultura gigante giratório de Orunmilá. Contudo, a alegoria, contudo, apresentou problemas com os dois tripés que estavam acoplados, e estes exigiram muita força dos membros de apoio. Na sequência, Iroco, orixá do tempo, na figura de uma grande árvore, foi levada para a Avenida. Esta foi conduzida por odés, que se alimentam da árvore.
O segundo carro da Mocidade trouxe um grande elefante como consta em um dos itans de Oxóssi. O carro remetia às savanas africanas com espumas em bege, contudo, o acabamento da alegoria deixou a desejar e forma vistas pedaços de pano soltos e partes coladas com fita aparente. Na sequência, a Mocidade trouxe a alegoria ‘Entre Tambores e Dores: Uma terra devastada’. O carro representava a destruição de Ketu com um africano esculpido e martirizado como parte central. O carro, contudo, também teve problemas de acabamento. Na sequência a escola trouxe um grande terreiro de candomblé com Tia Chica como destaque em escultura gigante. O carro era predominantemente branco e verde. Por fim, a escola trouxe uma grande homenagem aos mestres da escola em carro prateado, com a imagem de grandes personalidades da bateria, como André, Coé, Quirino, Jorjão, Bira. Os queijos dos destaques eram nos formatos de estrela e luzes verdes davam bom impacto visual.
Outros Destaques
A bateria do mestre Dudu, que veio na representação de Oxóssi, foi um dos destaques com bossas que levantaram a comunidade e as arquibancadas. O Castorzinho também chamou atenção na Sapucaí e foi requisitado pelo público para fotos.
Phelipe Lemos e Denadir Garcia defendem pavilhão da Unidos da Tijuca pela primeira vez
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Tijuca, Phelipe Lemos e Denadir Garcia defendem o pavilhão da escola do Borel pela primeira vez. Os dois, que já são amigos de longa data, dançam juntos pela primeira vez.
Sobre esse encontro, Phelipe destaca que está muito feliz e o fato deles serem amigos ajudou muito no processo, ele ainda pontua que a experiência dela tem aprendido muito com a experiência dela.
“Eu tô muito feliz, eu e Denadir somos amigos há mais de 20 anos, a gente tem uma ligação muito forte, uma amizade muito forte, a cumplicidade é um ponto forte, isso ajudou muito na nossa preparação para o carnaval da Tijuca, fico feliz de poder dançar com uma pessoa que eu já admirava antes, uma pessoa experiente, sou fã do trabalho dela, pegar um pouquinho da experiência dela tá me fazendo muito feliz”, conta Phelipe.
Denadir destaca que o encontro aconteceu na hora certa, apesar da pandemia ter sido ruim, ela acredita que esses dois anos de pausa serviram para que o casal se entrosasse e se conhecesse melhor.
“Dois anos sem carnaval, uma tristeza profunda, mas apesar disso, serviu para que eu e o Phelipe pudéssemos nos conhecer melhor profissionalmente, na vida pessoal já éramos amigos, mas foi bom porque podemos estudar bastante um ao outro, estamos preparadíssimos, graças a Deus”, frisa a porta-bandeira.
A fantasia do casal é toda vermelha, eles contam que representa o próprio fruto do Guaraná, enredo da escola, segundo Phelipe, a fantasia faz composição com a comissão de frente.
“A gente vai vir representando o Guaraná, que é fruto da lenda do Waranã, a comissão de frente vai ter um ato que vai representar o nascimento da fruta, na sequência o casal vem representando a fruta do Guaraná”, conta Phelipe.
Denadir complementa a fala do parceiro e diz que o objetivo deles é devolver notas boas para a Tijuca no quesito, ela acredita ainda que a escola brigará pelo título.
“A gente vem representando a fruta do guaraná, a expectativa é grande, a Tijuca tá muito bonita, a comunidade está com uma força, com uma vontade muito grande de disputar o título, de vir nos desfiles das campeãs, a nossa proposta, é de resgatar uma nota boa de mestre-sala e porta-bandeira pra Tijuca, nós vamos com esse intuito pra avenida e tenho certeza que papai do céu vai nos abençoar”, conta Denadir.
Análise da bateria da Mocidade no desfile de 2022
A bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel de Mestre Dudu fez um grande desfile. Num enredo extremamente atrelado à história da bateria Não Existe Mais Quente (NEMQ), um ritmo altamente identitário foi produzido. As afinações invertidas de surdos proporcionaram um balanço intercalado entre repiques, terceiras e o excepcional naipe de caixas de guerra da bateria da Mocidade. A batida tradicional, com acentuação rítmica característica e peculiar foi um dos diferenciais do belo trabalho da cozinha da bateria. Tudo isso proporcionado por um andamento mais cadenciado, permitindo a fluência rítmica com equilíbrio entre os naipes se destacando.
O acompanhamento das peças leves esteve excepcional. Tamborins foram exímios, uníssonos, adicionando grande qualidade sonora numa execução limpa e coesa dos dois desenhos rítmicos, além da contribuição sempre precisa em bossas. A subida “cascavel” dos chocalhos da Mocidade deu aquele brilho particular às peças leves, além de apresentarem sonoridade notável ao longo de toda pista. As paradinhas com concepção musical soberba, valorizaram o ritmo com movimentos simples, dando ênfase a arranjos musicais envolvendo tapas cheios de diversos naipes, produzindo um volume de destaque aliado a pressão de batidas secas, mas firmes.
Já a bossa iniciada na segunda do samba acrescentou uma sonoridade sublime, com direito a retomada da bateria da Mocidade nos tapas secos e chapados dos tamborins. A paradinha que evidenciou um solo de atabaques com agogôs de duas campanas (bocas) no refrão principal propiciou ovação popular quando os demais ritmistas passavam todo seu axé e depois formavam o arco e flecha vinculado à questão religiosa que fundamenta o tema da escola. Um acerto musical e cultural.
As passagens da bateria da Mocidade Independente pelos módulos de jurados ocorreram de modo fluído, exibindo um ritmo que foi aplaudido por julgadores, bem como recebido de forma empolgada por grande parte do público.
‘A disputa de samba mudou a minha vida’, diz Wic Tavares após estreia ao lado do pai Wantuir na Unidos da Tijuca
Filha de peixe, peixinho é! Wictória Tavares, mais conhecida como Wic, estreou no carnaval em 2013, no carro de som da Inocentes de Belford Roxo, com apenas 16 anos. Porém, a relação de Wic com o carnaval começou na Tijuca, quando aos seis anos de idade, conheceu o carnaval.
Neste ano, Wic estreia como intérprete oficial pela escola do Bora, ao lado de seu pai, o experiente Wantuir, ela diz que desde pequena acompanhava o pai e sempre sonhou com esse momento, ela comenta sobre os desafios, a expectativa e emoção em viver esse momento.
“Desde muito nova eu já desfilava na Sapucaí ao lado do meu pai. Eu olhava pra ele e tinha muita admiração. Aquilo era o máximo para mim. Sempre tive vontade de cruzar a Sapucaí cantando. Minha vida mudou após a disputa do samba deste ano e eu só tenho que agradecer à família tijucana. Eu to muito feliz, eu estou do lado de pessoas que eu confio, que me passam energia positivas, claro que eu a ansiedade é enorme, mas é como o samba diz, e eu acredito nisso”, disse emocionada.
Wantuir acredita que Wic tem total condições de se destacar na avenida, ele diz que ambos já cantaram juntos em outras oportunidades, mas que esse momento é muito especial e emocionante.
“Pra mim, ter a minha filha do meu lado é o meu maior presente na avenida, já desfilamos juntos em outras oportunidades, mas aqui é pauleira, confio muito nela, os ensaios foram ótimos e tenho certeza que essa dupla vai arrebentar na avenida”, comentou Wantuir.
O pré-carnaval da Tijuca foi marcado por alguma desconfiança, Wantuir pede respeito e diz que a escola é a maior campeã da última década, para ele, o samba é maravilhoso e a escola vai surpreender positivamente.
“A expectativa é a melhor, são 32 anos de avenida, posso dizer, sem humildade nenhuma, a Tijuca vai fazer acontecer, está beleza pura, o samba é maravilhoso, nossos quesitos são incríveis, tem que respeitar a Tijuca, somos a maior campeã da década passada”, destaca Wantuir.
Wic também fala sobre a importância e representatividade de uma mulher preta vir comandando um carro de som na Marquês de Sapucaí: “Pra mim é uma felicidade imensa, eu tô muito grata por ter esse espaço, poder representar todas as mulheres pretas, representando o samba e todas que sonham estar aqui”, conta a intérprete.