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Série Barracões: Tijuca traz mitos e lendas portuguesas sob o olhar e a estética de Alexandre Louzada

Multicampeão do carnaval carioca com seis títulos, com outras duas conquistas em São Paulo, Alexandre Louzada está de casa nova. A Unidos da Tijuca apostou no experiente carnavalesco buscando reencontrar o caminho das conquistas e voltar ao desfile das campeãs, fato que não acontece desde 2016, quando inclusive conseguiu um vice-campeonato. É muito tempo para uma escola que se acostumou a disputar e ganhar títulos em profusão durante a década passada. Conhecida neste século como uma escola criativa, inovadora, ousada, contemporânea, arrojada, a Amarelo-ouro e Azul-pavão, com Louzada, quer manter tudo isso, mas procurando acrescentar uma grande pitada do que fez esse artista ser tão adorado pelo mundo do samba e sempre entregar resultados: o bom gosto, o luxo, o bom acabamento e as proporções volumétricas mais avantajadas de alegorias e fantasias. Escola de um presidente português, a Tijuca vai apresentar em 2024 o enredo “O Conto de Fados”, com a proposta de fazer uma viagem a Portugal mostrando diversos aspectos da história do país como fábulas, mistérios e lendas populares. Dando início a série “Barracões”, o site CARNAVALESCO conversou com o carnavalesco Alexandre Louzada que inicialmente falou mais sobre a ideia de apresentar uma narrativa fantástica apoiada na mais tradicional música portuguesa, o fado. O artista também revelou as características que pretende trazer para a escola do Borel em sua estreia.

Fotos: Mauro Samagaio/Divulgação Tijuca

“Todo carnavalesco é um contador de histórias. O fato é que a história tradicional de Portugal nasce com essa narrativa dramática, principalmente no início dos pescadores, nas aventuras quando iam tão longe, e essa música, o fado nasceu em becos, nas beiras de cais, como o nosso samba também. É um compilado de lendas. Toda história fantástica, toda narrativa, fábula que é de origem oral, vai passando de geração em geração, mas sempre tem um pezinho na história. Já tenho ouvido aqui dentro que já está bastante diferente dos últimos carnavais da Tijuca. Ao mesmo tempo me dá um ‘friozinho’ na barriga porque a responsabilidade é jogada para você, existe aquele ‘sorrisinho’ de que por estar diferente, pode ser sinônimo de estar bonito. O que vai para a Avenida é uma Tijuca que não passou ainda, com a minha cara. Eu tenho uma característica de preferir as dimensões maiores, tanto de fantasia quanto alegoria. É a minha proposta para a Tijuca, materiais diferentes, talvez seja o carnaval com o retorno mais das minhas características. Eu já estou mais naquela fase de ser mais mentor de pessoas que estão começando agora. Eu tenho um grande diretor de carnaval que se faz presente no barracão, sobe em cima de carro. Não é um trabalho só meu, a gente montou uma equipe que está em uma sintonia muito bacana”, explica o artista.

Depois de dois anos na Beija-Flor produzindo enredos com uma pegada mais política, Louzada vai reencontrar na Tijuca a temática mais lúdica, ainda que ajudando a contar a história de uma grande nação. E como o Brasil foi colonizado por Portugal, estando ligado à nação europeia por mais de 300 anos oficialmente, é óbvio entender que sua própria cultura absorveu diversos traços lusitanos. O carnaval carioca, mesmo, já apresentou a “terrinha” de diversas formas. Então, como não se tornar repetitivo neste novo olhar? Alexandre Louzada, também com o seu talento como bom contador de histórias, apresenta uma visão mais quimérica da formação do país, fugindo de alguns estereótipos, ainda que eles também em algum momento vão se fazer presente ao desfile.

“Foi um trabalho difícil de reunir lendas e histórias de ouvir e contar, que somadas traçam desde a origem até Portugal se tornar este país como nós conhecemos. Até mesmo alguns estereótipos que comumente são associados a Portugal , tem uma história para contar, tem uma razão de ser. Foi pensando dessa forma, e como o nosso enredo aborda uma mitologia primordial, que é um lugar chamado Ofiussa, dramatizado pelos gregos, a gente vai buscar em Homero, na Odisseia, uma narrativa que diz que Ulisses antes de voltar para sua terra, se aventurou fora do Mar Egeu, atravessou as colunas de Hércules, porque ele ouvia falar de uma terra governada por uma rainha mitológica, metade serpente, metade mulher, e com esse ímpeto de herói, queria conquistar aquela terra que ele tinha interesse de montar uma cidade. Nossa história vai buscar essa reminiscência. E como quem narra a maioria das histórias fantásticas da mitologia grega é o Orfeu, nós nos colocamos como o Orfeu sambista, lógico que todo membro da velha-guarda, todos os mais antigos de cada escola, são os narradores da sua própria agremiação. A gente passa a construir essa história de Portugal através do mito de Ofiussa, da rainha Serpes e de Ulisses, que é um história de amor e de traição, de desencanto, e que dali foi a pedra fundamental da cidade que viria mais tarde a se chamar Lisboa”, esclarece o carnavalesco.

Primeiro pavão da carreira mexe com o coração de Louzada

Com quase 40 anos de carreira, tendo passado por diversas agremiações, Alexandre Louzada já teve a honra de reproduzir em suas alegorias, diversos símbolos e mascotes que representam as instituições por onde trabalhou. Das águias da Portela, escola em que iniciou a sua trajetória, passando pelos icônicos beija-flores, que tiveram bastante êxito na carreira de Louzada, pelas conquistas que vieram junto, ou os imponentes tigres do Império de Casa Verde em São Paulo. Por isso, em 2024, um novo desafio e uma inédita honra: levar para a Sapucaí o pavão, um dos mais tradicionais mascotes do carnaval de escolas de samba. E por isso, a nobre ave da Unidos da Tijuca produzida para o próximo desfile já pode ser considerada como um dos xodós do carnavalesco neste trabalho que se inicia na Amarelo-ouro Azul-pavão.

“Eu trabalho sempre início e fim. Nunca tinha feito um pavão, e fiz o meu primeiro pavão, espero que seja o primeiro só, e não o único, que eu possa desenvolver mais outros pavões. Acho que o abre-alas mostra uma tradição da Tijuca, mas com a minha cara. Eu também acredito que o segundo carro é um carro que é cenografia pura. Não existe um trabalho de adereço de carnaval propriamente dito. É uma alegoria impactante.A última alegoria também deve emocionar muito por trazer a devoção a Nossa Senhora de Fátima”, aponta o profissional, preferindo não estragar as surpresas.

Um outro fio condutor desta história é uma tradicional árvore presente em Portugal. A azinheira, uma espécie de carvalho, está presente nas lendas que permeiam o imaginário fantástico do povo lusitano. Podendo medir até dez metros de altura, a azinheira é nativa da região mediterrânica da Europa e do Norte da África. A sua madeira é dura e resistente à putrefação, sendo largamente utilizada, desde a antiguidade até os dias atuais, na construção de habitações (vigas e pilares), embarcações, barris para envelhecimento de vinhos e na fabricação de ferramentas. A sua madeira ainda é utilizada como lenha e na fabricação de carvão, que continua sendo uma importante fonte de combustível doméstico em muitas regiões ibéricas (Portugal e Espanha). A segunda alegoria vai trazer essa parte fantástica das lendas que envolvem esta árvore, de uma forma bastante enraizada hoje na cultura pop que é o universo do “Harry Potter.

“Depois dessa criação, o surgimento dessa terra, passa até pelos fenícios, que já eram conhecidos por todo o mundo naquela época. Existe uma praia em Portugal chamada Ofir, e associa-se a lenda ou a história sobre o rei Salomão, das minas, nas terras de Ofir. Mas Ofir existe na África, existe em Portugal. As próprias Ilhas Salomão na Oceania são de Salomão porque dizem que era lá este lugar tão falado. Mas o que me interessa é Portugal. Como os fenícios estiveram nessa praia, será que não seria lá que eles extraíam o ouro, a prata, o ouro mais puro, o de Ofir? A gente vai buscando esses ganchos. Quando em Portugal, na idade do ferro e do bronze, começaram as grandes migrações no Norte, veio com eles a magia dos Celtas. Portugal já teve um clima de Harry Potter. Para gente interessa essa coisa da magia dos druidas, da sabedoria do carvalho, em Portugal tem a Azinheira que é uma espécie de Carvalho, é uma das árvores protegidas de Portugal, a gente vai sempre enveredando por essas lendas fantásticas”, indica o carnavalesco.

Um Brasil que bebeu da água da mitologia portuguesa

A cultura brasileira tem uma relação íntima com diversos traços culturais de Portugal, muito óbvio a partir da análise da colonização, até 1889, o principal mandatário do país, ainda que nascido aqui, era um soberano com raízes fortes na coroa portuguesa. É fácil ver até hoje estes traços dentro de costumes nacionais, o próprio carnaval, teve influência do “entrudo”, ainda que o nosso tenha se sedimentado muito mais em raízes das religiões de matriz africana. Outras celebrações como os festejos juninos, além da língua, são outros traços corriqueiros. Mas, em um enredo que procura em diversos momentos fugir do Portugal conhecido já fortalecido como nação e até potência, Alexandre Louzada, em sua pesquisa, também encontrou influências no Brasil advindas de um Portugal ainda em formação, do tempo dos fenícios e dos druidas, um tempo ainda anterior ao país referência nas grandes navegações e no desbravamento do mundo conhecido pela Europa.

“Em nossa proposta, é possível encontrar alguns folclores que ainda acontecem em Portugal e que vieram para o Brasil que tem reminiscência celta. Essa coisa dos mascarados, com chifre, como tem as cavalhadas em Goiás, os próprios personagens do Bumba meu Boi, desses folguedos, e isso tudo é reminiscente desses povos da origem de Portugal. São coisas que perduram até hoje. Festejar uma colheita farta, até mesmo como chegaram as primeiras cepas de uva para Portugal, vieram com os gregos, com os fenícios. Tudo tem uma razão mitológica para existir. A invasão do Império Romano. Toda a contribuição que essa invasão trouxe para a cultura do país reflete na nossa cultura também, pois fomos colonizados. Os árabes, os Mouros que lá estiveram. Se hoje a gente fala azeite, várias palavras, astronomia, alquimia, matemática, arquitetura, tudo isso veio se agregar a Portugal e se refletiu depois em técnicas para que ela se tornasse uma potência naval daquela época, acho que essa mistureba que é Brasil”, define Louzada.

Como potência desbravadora e conquistadora de “novos mundos”, alcunha dada a terras que não eram conhecidas dos europeus mas que já se formavam com território e população, Portugal teve em seu processo de colonização algumas manchas históricas como a escravidão e o extermínio de povos nativos, a ganância na busca por mercadorias, desbravando mares e terras sem pensar muito nas consequencias. Apesar de não ser o principal foco, essa parte não será ignorada.

“A gente tem um pouco de celta, um pouco de romano, de mouros, você vai encontrar sempre uma história boa para contar. Até mesmo nesses 500 anos de Camões, nos Lusíadas, os versos de Camões, que hora exaltam as proezas de Portugal, mas também tem a autocrítica, não é uma colonização pacífica, é cheia de sofrimento e opressão, a gente também não enaltece, mostra os dois lados, a escrita e os versos que condena, o que mostra como eram os sonetos dele. Os navegantes tinham medo dos monstros marinhos que poderiam encontrar, mas mal sabiam que eles mesmos eram os monstros que temiam encontrar”, determina o profissional.

Coração português do presidente e andamento do barracão

Um dos mais interessados no tema é o presidente Fernando Horta. Português natural da cidade de Lixa, Borba de Godim, o mandatário está no comando da Unidos da Tijuca seguidamente há mais de 20 anos. Com ele, a escola conquistou três dos seus quatro títulos e viveu na última década a sua fase mais vitoriosa e de maior destaque. Em 2002, Portugal também se fez presente no carnaval da escola de alguma forma com o enredo dedicado à língua portuguesa. Em 1998 também com o desfile sobre o clube Vasco da Gama, em que pelas raízes lusitanas do time e por apresentar a história do navegador que dá nome a instituição, também trouxe aspectos do país. Mas, dessa vez, muito das lendas e do imaginário propostos por Alexandre Louzada estão ainda mais presentes na memória do presidente que veio da “terrinha” para o Brasil com 14 anos. Apesar de ser um tema que tenha uma relação muito intrínseca com o dirigente, o carnavalesco estreante na Tijuca garante que o presidente tem dado todo o suporte e liberdade, rendendo boas conversas sobre as histórias lusitanas, sempre com a autonomia dada ao artista o que é um pilar de Fernando Horta.

“Ele sabe mais do que eu, recebi uma verdadeira aula paralela de Portugal. Até mesmo quando eu falo na entrevista que para muitos é uma lenda a aparição de Fátima, ele fala, não é lenda, estava lá, depois ele fala não estava mas meu avô estava (risos). O Fernando se tornou um amigo, não é só o meu presidente. A gente conversa de coisas variadas, também sou curioso. Ele dá muita liberdade ao artista. Mas eu aprendi mais com ele do que o meu enredo ensinou alguma coisa a ele. Tem coisas fundamentadas apresentadas no enredo que ele reconheceu que nunca tinha ouvido falar. Ele recebe com carinho, não foi um enredo pensado para ter uma aporte financeiro, não foi pensado para ser um enredo CEP. Você não vai ver quase nada que você conheça em Portugal se você não for um arqueólogo ou um historiador, ou um escritor fantástico”, revela o artista.

O carnavalesco também fez questão de ressaltar o talento como gestor que o presidente possuiu, inclusive, aproveitando para desmentir qualquer informação que possa relacionar o trabalho de barracão com atrasos. Alexandre afirma o contrário inclusive.

“Ele é um grande gestor, mas também se revelou um grande amigo, além de ser um grande gestor. Ele tem uma noção bem precisa de tudo que existe dentro de um barracão de escola de samba. A Tijuca do primeiro até esse dia vem cumprido rigorosamente com tudo prometido. Ele não negou em nenhum momento a assistência tanto na parte de compra quanto de remuneração.E por ter começado cedo, a gente teve uma vantagem no início, mas não é vantagem que se reflita em resultado. Mas, se a gente tivesse começado tarde ou mais normal que uma escola comece, a gente deu muita sorte, porque hoje para se comprar um material, primeiro para fabricar você vai receber daqui a 15, 20 dias, já vai estar atrasado para caramba. E tem a escassez do mercado mesmo. Acho que o que vai para a Avenida tem bastante a minha cara, da minha equipe. Estou bem assessorado e bem assistido”, destaca louzada.

Devoção a Senhora de Fátima e alguns traços lusitanos encerram desfile

Como disse mais acima o carnavalesco Alexandre Louzada, o final do desfile promete ser um ponto alto da Tijuca. A devoção católica a Nossa Senhora de Fátima, tão presente em Portugal como aqui no Brasil, será representada através dos relatos de acontecimentos na cidade de Portugal que dá nome a santa inclusive, localizada no Médio Tejo. Para muitos no país é a certeza de um sinal claro e manifesto de Deus, para alguns gera dúvidas se aconteceu algo realmente e para outros são aspectos que fazem parte do fantástico popular através de uma lenda. O que ficou para a história, sedimentada na religião católica é que, de acordo com os testemunhos das três crianças videntes, a primeira aparição da santa ocorreu no dia 13 de maio de 1917, ao meio-dia, repetindo-se durante os seis meses seguintes, sempre no dia 13 e à mesma hora, com exceção do mês de agosto, quando ocorreu no dia 19, até 13 de outubro. De qualquer forma para Louzada é um traço da cultura lusitana que não pode faltar neste desfile da Unidos da Tijuca.

“O enredo termina em uma grande romaria porque o próprio desfile das escolas de samba já é uma romaria, você é devoto de uma escola. E os portugueses são muito devotos de vários santos, adoram uma procissão e uma romaria. A gente fala de uma das coisas fantástica de Portugal, é a aparição de Fátima. Para muitos é lenda, para quem viveu é a realidade, para quem crê cegamente tudo aquilo aconteceu, mas o importante é mostrar que uma santa católica, representa todas as mães, seja de qual religião for, e como é no Brasil, a figura de uma Nossa Senhora de Fátima, representando todas as nossas senhoras, de todas as congregações, e de todas as mães zeladoras de santo, que abençoam nosso samba. Quando o samba fala de Alecrim, o Alecrim, a primeira vez que é citado, a lenda diz que ela nasceu ao lado da manjedoura em que nasceu Jesus. Portugal é um país muito religioso. A gente mostra toda essa história”.

E neste mesmo setor virão os aspectos de Portugal que mais ilustram a “terrinha”para quem está familiarizado com o básico de conhecimento sobre o país. A culinária, os doces e as festas que chegaram ao Brasil e hoje fazem parte da nossa cultura estarão também no encerramento do desfile da Azul e Amarelo do Borel onde o fado vira samba e o samba vira fado. O carnavalesco Alexandre Louzada aproveita também para convocar toda a nação tijucana a fazer parte desse desfile e lutar muito para ajudar a agremiação a conseguir a vitória.

“Até os estereótipos de Portugal como o bacalhau, as sardinhas, os doces que nasceram nos conventos, as freiras que usavam as claras em seus hábitos e faziam doces com as gemas, e com temáticas sacras, toucinho do céu, pastéis de Belém, pastel de Santa Clara, vai se construindo uma culinária sempre voltada para os santos católicos. Os tapetes de arraiolo, os costumes que a gente adotou aqui, os festejos como São João e Santo Antônio. A gente usa Saramago, que vai fazer 100 anos, ele que resgata essa alma de Portugal. E, por fim, eu tenho somente que agradecer ao tijucano, desde o primeiro dia que pisei no barracão, todas as vezes que vou a quadra, é um carinho muito grande. Vou transformar esse agradecimento em um apelo. Acho que não é um trabalho só do carnavalesco. É um trabalho de todo mundo para a Tijuca voltar a ser feliz. Vai depender mais da alegria do cantar de vocês do que propriamente dito da beleza de alegoria e fantasia. Nada é mais bonito que o povo feliz cantando o samba-enredo da escola”, finaliza o artista.

Conheça o desfile

A Unidos da Tijuca vai levar para a Sapucaí um desfile dividido em cinco setores definidos por Alexandre Louzada como cinco fados, nestes, o carnavalesco também considera a abertura como um setor. São cinco alegorias e 1 tripé, 28 alas mais a velha-guarda que terá papel de destaque no início como os Orfeus que serão os narradores deste conto. Confira abaixo a divisão de setores baseadas nas falas de Louzada e na sinopse divulgada pela escola:

Abertura

“O nosso enredo aborda uma mitologia primordial, que é um lugar chamado Ofiussa, dramatizado pelos gregos, a gente vai buscar em Homero, na Odisseia, uma narrativa que diz que Ulisses antes de voltar para sua terra, se aventurou fora do Mar Egeu, atravessou as colunas de Hércules, porque ele ouvia falar de uma terra governada por uma rainha mitológica, metade serpente, metade mulher, e com esse ímpeto de herói, queria conquistar aquela terra que ele tinha interesse em montar uma cidade. A gente passa a construir essa história de Portugal através do mito de Ofiussa, da rainha Serpes e de Ulisses, que é um história de amor e de traição, de desencanto, e que dali foi a pedra fundamental da cidade que viria mais tarde a se chamar Lisboa”.

Segundo Setor (Permanece o mistério)

“Depois, o surgimento dessa terra, passa até pelos fenícios. Existe uma praia em Portugal chamada Ofir, e associa-se a lenda ou a história sobre o rei Salomão, das minas, nas terras de Ofir. Como os fenícios estiveram nessa praia, será que não seria lá que eles extraíam o ouro, a prata, o ouro mais puro, o de Ofir? Quando em Portugal, na idade do ferro e do bronze, começaram as grandes migrações no Norte, veio com eles a magia dos Celtas. Portugal já teve um clima de Harry Potter. Pra gente interessa essa coisa da magia dos druidas, da sabedoria do carvalho, em Portugal tem a Azinheira que é uma espécie de Carvalho, é uma das árvores protegidas de Portugal, a gente vai sempre enveredando por essas lendas fantásticas”.

Terceiro Setor (Palco constante de invasão de impérios ricos e dominantes)

Tudo tem uma razão mitológica para existir. A invasão do Império Romano. Toda a contribuição que essa invasão trouxe para a cultura do país reflete na nossa cultura também, pois fomos colonizados. Os árabes, os Mouros que lá estiveram. Se hoje a gente fala azeite, várias palavras, astronomia, alquimia, matemática, arquitetura, tudo isso veio se agregar a Portugal e se refletiu depois em técnicas para que ela se tornasse uma potência naval daquela época, acho que essa mistureba que é Brasil

Quarto Setor ( Reino de vocação e de ímpeto ao mar)

“A gente tem um pouco de celta, um pouco de romano, de mouros, você vai encontrar sempre uma história boa para contar. Até mesmo nesses 500 anos de Camões, nos Lusíadas, os versos de Camões, que hora exalta as proezas de Portugal, mas também tem a autocrítica, não é uma colonização pacífica, é cheia de sofrimento e opressão, a gente também não enaltece, mostra os dois lados, a escrita e os versos que condena, o que mostra como os sonetos dele. Os navegantes tinham medo dos monstros marinhos que poderiam encontrar, mas mal sabiam eles que eles eram os monstros que temiam encontrar”.

Quinto Setor (Fado revela versos do pequeno, imenso Portugal)

“O enredo termina em uma grande romaria porque o próprio desfile de escola de sambas já é uma romaria, você é devoto de uma escola. E os portugueses são muito devotos de vários santos, adoram uma profissão e uma romaria. A gente fala de uma das coisas fantástica de Portugal , é a aparição de Fátima. Até os estereótipos de Portugal como o bacalhau, as sardinhas, os doces que nasceram nos conventos , as freiras que usavam as claras em seus hábitos e faziam doces com as gemas, e com temáticas sacras. Os tapetes de arraiolo, os costumes que a gente adotou aqui, os festejos como São João e Santo Antônio. A gente usa Saramago, que vai fazer 100 anos, pois ele que resgata essa alma de Portugal”.

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