Início Site Página 956

Salgueiro apresenta estética impecável, comissão de frente se destaca, mas evolução pode atrapalhar briga pelo título

Terceira escola a desfilar no Grupo Especial já na madrugada deste sábado, o Salgueiro apresentou conjunto estético impecável de Alex de Souza. Fantasias luxuosas, alegorias grandes e bem acabadas se destacaram na apresentação da escola. A comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira também brilharam. Contudo, a escola pecou algumas vezes em evolução e a grandiosidade de alguns figurinos pode ter atrapalhado a leitura do enredo, o que pode tirar a agremiação da briga pelo título. A escola se apresentou em 70 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

desfile salgueiro 2022 011

Comissão de Frente

No primeiro ano como coreógrafo do Salgueiro, Patrick Carvalho trouxe 15 componentes na Comissão de Frente da escola, sendo oito mulheres e sete homens. Batizada de Akikanju Ijó, que significa ‘Dança dos Heróis’, em Iorubá, a apresentação se inicia com o próprio solo do Salgueiro. Em cerca de 2m50s de apresentação, o quesito apresentou grande trabalho. Com roupas metálicas, a dança começa por alguns segundos no chão, e logo em seguida todos sobrem para exibição no tripé.

O elemento solta fumaça e os componentes que estavam em cima, descem, e surgem iaôs, que dançam sobre areia jogada ao ar. Na sequência da encenação, Mercedes Baptista, pioneira como mulher negra no balé, aparece dançando e sobe em um queijo erguido por um punho em riste. Por fim, os componentes seguem a dança com bastante sincronia e mais fumaça é liberada. O segmento teve ótima apresentação e arrancou aplausos do público durante os vários atos.

desfile salgueiro 2022 001

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Um dos grandes casais a pisar na Sapucaí nos últimos anos, Marcella Alves e Sidclei vieram nas cores da escola, representando a tradição de ancestralidade da agremiação. As plumas brancas no figurino da Porta-Bandeira remetem a antigos carnavais, que mantém a tradição da agremiação da legitimação da festa preta. Junto a eles, os Guardiões representaram os guerreiros da escola, em vermelho e branco, com estandartes em homenagens a grandes nomes do Salgueiro, como Laíla, mestre Louro e Anescarzinho. Com a parte de cima prateada, os dois tiveram apresentação impecável em todos os módulos, com sincronia e troca de gestos e olhares. Os dois faziam movimentos difíceis parecer fáceis em cerca de 2m10s de apresentação.

desfile salgueiro 2022 004

Harmonia

Um dos pontos altos do desfile do Salgueiro foi o canto. A escola cantou do início ao fim, todas as alas não economizaram na voz. O samba também pegou na Avenida e foi bastante entoado pelas arquibancadas. As alas coreografadas também estavam com a obra na ponta da língua e cantou bastante junto aos movimentos. Destaque para as alas 2, ‘Quilombolas’, 9, ‘Omolokôs, 12, ‘Festa de Iemanjá’, e 23, ‘Afoxé’.

desfile salgueiro 2022 071

Enredo

O início do desfile do Salgueiro relacionou a história da própria escola com a luta contra o preconceito racial, no qual a agremiação foi pioneira a partir da década de 1960. Os primeiros momentos do Salgueiro na Avenida tiveram bastante vermelho e branco, e alusão a grandes personagens negros da escola e do Brasil. Já no segundo setor, o Salgueiro abordou as religiões de matrizes africanas, com a presença de alas em representação de orixás, caboclos, omolokô e um grande carro com cores e esculturas de Iemanjá.

desfile salgueiro 2022 029

Em seguida, o Salgueiro levou para a Sapucaí as manifestações negras em seus vários campos, como a culinária, a dança, a música, a arte e o esporte. No quarto setor, a Academia do Samba reforçou a resistência negra através do canto e da dança, com alas em alusão à escolas de samba, ritmos africanos, blocos afro e gêneros oriundos das comunidades cariocas, como o samba, o charme e o funk. O Salgueiro encerrou desfile com os movimentos sociais de combate ao racismo e de resistência preta, como o AfroReggea e o Nós do Morro. A grandiosidade de algumas fantasias, no entanto, atrapalhou a leitura do enredo em determinados momentos.

desfile salgueiro 2022 023

Evolução

Calcanhar de Aquiles do Salgueiro nos últimos anos, a evolução foi um pouco problemática para a escola novamente. Logo no primeiro módulo, a agremiação abriu um pequeno buraco entre a ala ‘Palmares Salgueirense’ e o Abre-Alas. No setor 6, outro pequeno buraco se abriu na frente da segunda alegoria. Ao fim do desfile, algumas alas aceleraram o passo no setor 11 sem necessidade, o último carro passou rápido pela cabine, mas a bateria não imprimiu correria e se apresentou por completo.

desfile salgueiro 2022 072

Samba

Criticado no pré-Carnaval, o samba funcionou muito bem no Sambódromo. Alas e arquibancadas cantavam bastante a obra, que tinha como pontos alto o refrão, o refrão do meio, e de ‘Sambo pra resistir’ até ‘O povo me chama assim’. Uma leve queda de ‘Hoje, cativeiro é favela’ até ‘Lutaram por nós, contra mordaça’ foi percebida, mas sem atrapalhar o desempenho da obra. Emerson Dias e Quinho também fizeram grande trabalho no carro de som e impulsionaram a escola do início ao fim.

desfile salgueiro 2022 126

Fantasias

Logo na primeira ala, o Salgueiro relembrou grandes enredos pretos da escola, como em 1960, que teve tema ‘Zumbi dos Palmares’. Batizada de ‘Palmares Salgueirense’, a ala traz um estandarte com a logo dos enredos e fantasia com referências africanas em vermelho, preto e branco. A ala das baianas também chamou atenção pela riqueza de detalhes em dourado, vermelho e preto, que representavam as Camélias do Leblon, com buquês de flores nas mãos. A ala 8 também se causou impacto visual, com fantasias grandes e em dourado. Com rostos pintados, o ‘Terreiro de Candomblé’ trazia os orixás para a Sapucaí.

desfile salgueiro 2022 125

A mistura do prateado com o branco na ala 12, Festa de Iemanjá também foi um dos destaques do conjunto de fantasias de Alex de Souza. A ala 17, ‘O Negro e o Futebol Carioca’ fez uma referência ao futebol ao levar fantasias com alusão ao Bangu e Vasco da Gama, clubes pioneiros na luta contra o racismo nos gramados. Símbolo de resistência cultural negra no país, o bloco Cacique de Ramos foi representado pela ala 25 com fantasia grande e muito bonita nas cores da agremiação.

desfile salgueiro 2022 119

Apesar do luxo, e da riqueza de detalhes, algumas fantasias soltaram adereços. Muitos búzios, enfeites de palha e outros adereços foram vistos espalhados pela Sapucaí. No setor 6, um componente da ala ‘Irmandades Religiosas’ passou sem a parte da cabeça da fantasia. Durante passagem pela última cabine de jurados, uma componente da ala ‘Tias Baianas’ também passou sem a cabeça da fantasia. Ao perceber os jurados e ser alertada pelas arquibancadas, colocou rapidamente o elemento do figurino.

Alegorias

Com o nome ‘Salgueiro, o Griô do Samba’, o primeiro carro da escola reafirma a agremiação como uma das percursoras da temática negra nos desfiles. Com muito vermelho, branco e prata, trouxe também na alegoria elementos que remetem à africanidade, como zebras, elefantes, lanças e escudos. O grande destaque, além do acabamento e beleza do carro, fica por conta da escultura de Djalma Sabiá, fundador da escola, que morreu há dois anos. O ‘Griô’ ensina jovens negros sobre o legado de luta e resistência do Salgueiro.

desfile salgueiro 2022 112

Na sequência o Salgueiro levou dois tripés, o primeiro com o nome de ‘Pequena África e a Pedra do Sal’ e na sequência o ‘Oferendas para Iemanjá, ambos muito bonitos e bem acabados. O segundo carro mantém a cor branca como principal do início do desfile do Salgueiro. Nesta alegoria, Alex de Souza aborda as religiões de matriz africana, com vários santos sincretizados com orixás. O destaque do carro vai para as imagens de Jesus e Oxalá, maiores entidades do catolicismo e da umbanda. Alguns símbolos aparecem danificados na alegoria para explicitar a intolerância religiosa. O carro também tinha elementos giratórios, esculturas em movimento e a palavra ‘Respeito’ em dourado na parte traseira.

A terceira alegoria do Salgueiro marca os diversos atos de resistência negra, seja na dança, na arte e na música. A alegoria reproduz o Theatro Municipal com lindas esculturas que fazem alusão a Mercedes Baptista. As composições estavam caracterizadas como as representações da literatura, do teatro, e balé. Na sequência Alex de Souza trouxe a história ainda mais para o Rio de Janeiro ao reproduzir o Viaduto Negrão de Lima na quarta alegoria. No Viaduto de Madureira, a escola levou à Sapucaí a resistência através da música, com as danças do charme e do funk na ala coreografada Maculelê, de Carlinhos do Salgueiro. Este carro, no entanto, estava esteticamente abaixo dos demais.

desfile salgueiro 2022 111

O Salgueiro encerrou o desfile com uma grande encenação na última alegoria. O carro, chamado de ‘A Resistência Continua’, faz alusão a uma praça pública, e é envolvido por manifestantes que pedem o fim do preconceito racial. Um obelisco com a palavra ‘Racismo’, então é derrubado, para simbolizar a queda desse preconceito. A parte de trás da alegoria ainda remeteu ao Morro do Salgueiro no período de fundação da escola, em menção à favela reproduzida por Arlindo Rodrigues no Carnaval de 1984. Com riqueza de detalhes, o carro parecia mesmo uma grande praça no meio da Sapucaí, com detalhes impecáveis de acabamento. Todo conjunto alegórico do Salgueiro funcionou, causou grande impacto visual e não apresentou problemas.

desfile salgueiro 2022 035

Outros Destaques

De Cabocla Jurema, a rainha Viviane Araújo também estava com fantasia belíssima, com tons de vermelho e verde e uma pequena onça no ombro. Passistas como Reis e Rainhas da Rua, em alusão a Exu riscaram o chão e apresentaram lindo figurino. Bateria dos Mestres Guilherme e Gustavo apresentou três bossas, fantasia ‘Umbanda – Gira de Caboclo’, com cores em vermelho, preto e dourado, além de uma coreografia onde agachava e colocava os braços pra cima, com punho em riste.

Mancha Verde 2022: galeria de fotos do desfile

Fotos: desfile da Mangueira no Carnaval 2022

Tia Glorinha do Salgueiro brilha na avenida fantasiada de ‘flor da abolição’

Salgueiro04cCarregando os ramos das camélias do Leblon, as baianas do Salgueiro entraram brilhantemente na avenida. As flores que são cultivadas no Quilombo, antigas terras do comerciante José Seixas, foram vendidas a fim de angariar lucros para a causa abolicionista.

Representando as “Camélias do Leblon”, a fantasia da ala das baianas tem um significado de muita importância, pois é o orgulho de suas origens e a liberdade conquistada pelos escravizados. Na frente da ala, a Tia Glorinha representava “Camélia, a flor da Abolição”, ela trouxe o símbolo da luta pela libertação dos escravos.

Em uma entrevista muito especial dada para o site CARNAVALESCO, a responsável pela ala das baianas do Salgueiro contou o que achou do figurino e a importância dele na temática afro: “A fantasia está de acordo com o enredo, quando vi o protótipo fiquei conferindo se estava bom ou não. Procurei ajustar tudo para que tivéssemos uma evolução maravilhosa na avenida. Com esse enredo e a nossa roupa, lembrei o tempo que eu era menina e recordei todas essas coisas”.

Salgueiro04aDesfilando há 9 anos na ala das baianas do Salgueiro, a dona de casa Dina, de 77 anos, exaltou o quão satisfeita está com o enredo da escola. “O nosso figurino está impecável, consegui evoluir e sei que foi tudo bem pensado pela nossa presidente da ala. Esse enredo não é a resistência do Salgueiro, e sim de toda a nossa luta e também a minha como mulher negra”.

A ala das baianas por muitas vezes são compostas pelas senhoras que possuem mais idade, só que na do Salgueiro foi misturado o velho e o novo. Pela primeira vez desfilando na ala das baianas, a advogada Luana Peixoto, de 35 anos, relata como foi essa experiência.

“É incrível estar nessa ala, pois além disso é meu primeiro desfile também. É uma energia muito boa e sei que o Salgueiro veio para brigar pelo título. Estou muito honrada e grata de estar aqui e ano que vem estarei de volta novamente”.

Essa tradicional ala costuma ganhar bastante prêmios e Tia Glorinha expõe sua opinião sobre essas premiações: “Eu sou muito mãezona, tenho carinho e carisma por todos. Acredito que ser responsável pela ala influencia nisso, mas pego muito no pé na questão de ensaios, pois temos obrigação de ensaiar sempre. Claro que tem algumas exceções e tudo bem. A premiação é importante porque ganhamos mais reconhecimento e por isso que a ala das baianas costuma ganhar prêmios, pelo jeito que brilhamos na avenida e de tudo que acontece antes do desfile também”.

Análise da bateria da Mangueira no desfile de 2022

A bateria da Mangueira de Mestre Wesley fez uma boa apresentação. O surdo mor auxiliou no preenchimento da sonoridade, dando bom balanço ao ritmo mangueirense. Os marcadores do tradicional surdo de primeira foram precisos. O bom trabalho dos surdos proporcionou uma base grave sólida para que as caixas de guerra da Mangueira com sua rufada peculiar brilhassem. * OUÇA A BATERIA E ARRANCADA DO SAMBA

desfile mangueira 2022 070

O acompanhamento das peças leves contou com um tamborim com bom volume, executando um desenho rítmico atrelado a cultura musical da Mangueira de maneira firme. O naipe de chocalhos da Mangueira deu uma sonoridade ímpar a cabeça da bateria. Os ganzás mangueirenses, como culturalmente são conhecidos dentro da escola foram exímios, agregando à musicalidade. Foi possível notar uma fileira de pratos, que também auxiliou na produção sonora, bem como a boa ala de cuícas.

A paradinha da bateria da Mangueira é dividida em breques. As execuções em frente aos módulos de julgadores foram realizadas corretamente, com direito a chuva de papel picado durante o refrão principal. Uma boa atuação da bateria da Mangueira, aliando um trabalho rítmico seguro e altamente identitário, baseado na potencialização das virtudes do genuíno ritmo mangueirense.

Abre-alas do Salgueiro faz homenagem ao grande Djalma Sabiá só mulheres negras na alegoria

Salgueiro03bCom o enredo “Resistência”, o Salgueiro entrou na avenida reverberando a luta e a coragem da população negra para garantir a sua cultura, a fé e o seu lugar de fala. Resistir é o lema da agremiação e dos componentes para o carnaval de 2022. Na atualidade, apresentar esse tema sobre a resistência afro-brasileira é de extrema necessidade, e a escola mais uma vez trouxe um enredo representativo sobre a luta e a importância da visibilidade do protagonismo negro.

O Salgueiro foi a fundo na resistência e na sua própria raiz, fazendo uma homenagem a Djalma Sabiá, um dos fundadores e baluartes da escola. O “Griô” salgueirense veio representado já no carro abre-alas do vermelho e branco do Andaraí. Com a alegoria “Salgueiro, o Griô do samba”, que resgata a estética africana apresentada a partir de 1960.

As cores vermelho, branco e preto são predominantes por todo o carro que tem elementos como: lanças, escudos e animais representados. Além disso, ele trouxe grandes esculturas, dando destaque ao grande Djalma Sabiá como o griô, que transmite histórias e a tradição salgueirense.

Salgueiro03aA alegoria veio só com mulheres negras que cujo figurino representava a inspiração africana e raiz salgueirense. O Salgueiro foi uma das pioneiras nos enredos afros e fez nesse carro uma releitura do afro sal.

Convidada para desfilar no abre-alas da escola, a atriz Dandara Abreu, de 33 anos, expõe o que representa para ela vir na alegoria que homenageia o grande Sabiá: “Esse carro faz toda a referência ao enredo, pois nada é mais resistente que o griô”.

Ela também destaca a importância disso como salgueirense: “Foi uma honra ter sido convidada para desfilar no carro e fiquei muito emocionada do Salgueiro fazer questão de colocar só mulheres negras para compor a alegoria”.

A escola veio muito forte ao falar sobre a raiz, o carro que é o afro sal é considerado como uma força da resistência. Tendo em vista os vários casos que acontecem constantemente de preconceitos raciais, ter escolas de samba falando sobre esses enredos se torna muito importante.

Para a secretária, Stella Ribeiro, de 37 anos, os enredos afros são de extrema importância. “No tempo de hoje que o racismo é tão forte, essas temáticas que as escolas de samba estão trazendo é muito bom, pois enaltece a cultura negra e nosso povo. Para mim é uma honra como mulher negra que vive em um país que não se aceita como negro homenagear o Sabiá. Ele foi uma representação forte dentro da nossa cultura, o que torna muito importante”, relata.

Representando toda a sua história, o abre-alas do Salgueiro foi sem dúvidas um trunfo ao fazer uma homenagem para Djalma Sabiá, que infelizmente faleceu no último ano. Ele foi aquele que nos “ensinou a ser diferente”, como diz no samba-enredo. Vindo com tudo que os componentes prezam pela escola, trazendo o espírito salgueirense, nada mais justo do que iniciar o desfile com essa alegoria.

Desfilando há mais de 40 anos na instituição, a dona de casa Leda Santos, de 87 anos, conta o que sentiu ao ver o carro e a importância dessa representação: “Foi uma emoção muito grande, pois minhas duas filhas vieram nele. Algo tão lindo e de um significado incrível e por isso estou muito feliz. Sei que Sabiá nos abençoou nesse desfile, pois demos o nosso melhor”.

São Clemente abre homenagem a Paulo Gustavo com ‘paraíso da comédia’

SC02aO carro abre-alas ‘Paraíso da Comédia Brasileira’ apresentado pela São Clemente levou para Sapucaí uma leitura do que seria o paraíso dos sonhos de Paulo Gustavo. Artista de sucesso no humor brasileiro, Paulo chega em um céu carregado de comediantes e humoristas. Neste céu há muita arte e liberdade de expressão.

Dentro deste contexto, a escola apresentou um carro branco enorme, dividido em três partes, sendo a primeira parte um pequeno palco que recebia amigos e familiares do artista. Branco, mas com muitos detalhes coloridos, o abre-alas foi trabalhado na paleta de cores referente ao arco-íris. Símbolos do imaginário infantil e do movimento LGBTQIA+, mas teve o rosa chamando atenção. Na frente do carro, além do palco que carregava os amigos e familiares, uma personagem sem gênero específico, deita sobre a lua e as nuvens. Aliás, as nuvens são encontradas por todo o carro e ornaram com os anjos drag queens encontrados nas duas laterais.

Na parte superior do carro foi vista uma homenagem aos comediantes que Paulo admirava. É uma festa de piadas, travessuras e alegria com figuras como Golias, O Grande Otelo e Derci Gonçalves. Interagindo com todos eles um enorme Paulo Gustavo com um sorriso largo. Esse sorriso também pode ser visto nos componentes que estiveram em cima do carro nesta primeira noite de desfiles do grupo especial do carnaval 2022.

SC02b“É muito emocionante estar nesse carro. Quando eu recebi a fantasia já foi forte, desfilar deixa qualquer um sem palavras. Esse carro representa também um sonho do céu que o Paulo gostaria de encontrar e poder fazer parte dessa alegria que era o céu dele, traz muita felicidade para gente”, disse Ana Dantas, no seu primeiro desfile pela São Clemente.

O enredo ‘Minha vida é uma peça’ arrecadou para escola novos componentes que eram fãs do artista. É o caso de Rubens Cleiton, que é apaixonado por carnaval, mas desfila pela primeira vez na escola que homenageia seu ídolo Paulo Gustavo.

“Eu estou com uma sensação muito louca, porque estive no carro de um cara que além de muita alegria, representava toda a militância LGBTQIA+ e estar fazendo parte dessa homenagem foi incrível. Espero que tenhamos agradado, porque não faltou alegria na avenida. Bem como ele gostaria de ver”, contou Rubens ao site CARNAVALESCO.

Rubens e Ana Dantas desfilaram usando uma fantasia toda branca, com detalhes nas cores, prata e rosa. A roupa era justa ao corpo, com grandes adereços nos ombros e na cabeça, além de um grande caimento na parte das pernas. A fantasia é inspirada no universo Drag Queen que Paulo Gustavo admirava, pega referência dos trajes de rock utilizados na época de Elvis Presley e combinou bem com as figuras citadas que compunham o carro.

Casal brilha e Mangueira homenageia Cartola, Jamelão e Delegado em desfile com conjunto visual caprichado, mas com erros de evolução

Um presente para os mangueirenses, assim pode ser definido o desfile da Estação Primeira de Mangueira nesta noite, predominante verde e rosa, foi a primeira vez que o carnavalesco Leandro Vieira utilizou tanto as cores da escola nas fantasias e alegorias desde que chegou na escola. O capricho nas fantasias impressionou, foi um show de bom gosto de Leandro, com muito volume, as alas tinham acabamentos maravilhosos e leitura era fácil, o mesmo vale para as alegorias, que contaram o enredo de forma clara. A comissão de frente emocionou com homenagem a Nelson Sargento, o mesmo vale para Squel e Matheus, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira desfilou na frente da bateria e contou com umas fantasias mais bonitas que já usaram na Mangueira. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA MANGUEIRA

carro capa manga
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Como destaque negativo, fica a iluminação dos carros, o primeiro passou com algumas luzes apagadas e um produto de limpeza foi esquecido na parte de trás da alegoria, já o segundo carro passou com a parte superior apagada pelos setores 6 e 10. A evolução da escola foi outro ponto a ser observado, o início se mostrou um pouco travado e o final foi mais corrido, com alas passando em ritmo acelerado. No final, um espaço considerável ocorreu no momento em que a bateria se apresentava na última cabine de julgamento.

desfile mangueira 2022 064

Apresentando o enredo “Angenor, José e Laurindo”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, a Mangueira homenageou três dos seus maiores baluartes e foi a segunda escola a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. A verde e rosa terminou sua apresentação com 67 minutos.

Comissão de Frente

Intitulada “Tempos Idos”, nome de uma canção de Cartola, a comissão de frente assinada pelos coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri fez um resgate das antigas comissões, quando a velha-guarda era o centro das atenções, 15 dançarinos usavam o tripé como uma espécie de palco e três crianças representavam Cartola, Jamelão e Delegado ainda meninos. A apresentação foi uma síntese do enredo, o sambista do morro de Mangueira foi evidenciado, dando destaque para o momento em que ao vestir o verde e rosa, ele vira estrela na avenida.

desfile mangueira 2022 015

A apresentação foi marcada pela emoção, e arrancou aplausos por onde passou, nenhum erro foi observado durante os módulos de julgamento. O ápice ocorreu em cima do tripé, com uma caracterização incrível, os homenageados surgiram ao lado das crianças que os representavam, posteriormente, através de uma troca de roupa impressionante, os sambistas passavam das roupas simples, para o manto verde e rosa. Na letra do samba que remetia a composição “As rosas não falam”, rosas surgiam no palco e Cartola se apresentou para os jurados. O público recebeu com muito entusiasmo a comissão, a apresentação finalizou com um tributo a Nelson Sargento, trazendo ainda mais emoção.

desfile mangueira 2022 011

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel Jorgea, diferentemente do habitual, não veio no início da escola, eles desfilaram na frente da bateria, no setor que homenageou Jamelão, com uma fantasia nomeada “Dinastia Verde e Rosa”, o casal personificava a própria Mangueira, as cores da escola estavam presentes e o primor da fantasia chamou atenção, uma das mais bonitas que já vestiram na escola.

desfile mangueira 2022 040

Apresentando uma dança de ritmo cadenciado, sincronizada e com gestos graciosos, a dupla não cometeu falhas expressivas nos módulos de julgamento e impressionou pela garra, as terminações de movimentos estiveram perfeitas, a troca de olhares e o romance entre eles foi de emocionar. O bailado fez menção simbólica aos antigos desfiles da escola, bebendo da fonte dos casais que fizeram história na verde e rosa. Ambos cantaram o samba o tempo todo, o sorriso de Squel encantou mais uma vez todo o público, assim como a presença marcante de Matheus.

Harmonia

A harmonia da escola foi muito satisfatória, como de costume, o mangueirense cantou com muita garra o samba, que mesmo criticado no pré-carnaval, rendeu e ofereceu para escola um canto uniforme. Pode-se destacar a ala 1, “Velhas Baianas”, até mesmo as alas coreografadas cantaram com bastante empolgação, como por exemplo a ala 17, “Eu vi seu Laurindo beijando a bandeira”. No geral, os componentes cantaram com força, apesar de algumas fantasias um pouco abafadas.

desfile mangueira 2022 074

Enredo

A Mangueira levou à avenida a vida e obra de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre-sala da escola. O enredo “Angenor, José e Laurindo”, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, emocionou e encantou todo o público do Sambódromo. As alegorias e fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada, Leandro dividiu os setores de forma clara, começou com uma homenagem a comunidade do Morro de Mangueira, local em onde os grandes homenageados do enredo cresceram e fizeram história.

desfile mangueira 2022 036

Posteriormente, o carnavalesco optou por separar cada homenageado em um setor, no segundo vimos um tributo ao Mestre Cartola, algumas alas representaram músicas compostas por ele e o carro que fechou o setor trouxe “As rosas não falam”. O terceiro setor da Mangueira foi reservado a Jamelão, intitulado “A voz do meu terreiro”, o setor trouxe o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e a bateria, ambos representando a Mangueira e os antigos carnavais da Verde e Rosa. O setor que encerrou o desfile foi destinado ao Mestre Delegado, o carro que fechou a história chamava-se “O bailarino Negro”.

desfile mangueira 2022 023

Evolução

A evolução da escola foi o quesito que pode preocupar mais na apuração oficial, o início se mostrou lento e um pouco travado, mesmo com os componentes brincando e se divertindo, foi observado que a escola não foi uniforme como se espera do quesito, já a parte final da escola foi mais acelerada que o normal, na altura do setor seis, as últimas alas passaram correndo em frente a cabine de julgamento, a situação se normalizou na última cabine, porém, durante o final da apresentação da bateria, o carro que estava à frente seguiu e deixou um buraco considerável em frente ao módulo, a rainha de bateria Evelyn Bastos tentou ocupar o espaço, mas ele já havia sido observado. Vale ressaltar também, que no setor 6, uma componente da ala 19 embolou a fantasia com outra da ala 20, o carnavalesco Leandro Vieira ajudou a desembolar.

desfile mangueira 2022 011

Samba-Enredo

Criticado no pré-carnaval, o samba da Mangueira foi cantado por todos os componentes e por boa parte da Sapucaí. A composição de Moacyr Luz e companhia rendeu no Sambódromo e mostrou sua força. Marquinho Art Samba também fez ótimo trabalho e a todo momento impulsionava a escola, representando o lendário Jamelão, ele conduziu o samba com brilhantismo. O destaque do samba fica para o verso ‘A voz do meu terreiro’, essa parte até o fim do refrão, foi o momento que o mangueirense cantou com mais afinco, enquanto a virada do samba apresentou leve queda.

desfile mangueira 2022 051

Alegorias e Adereços

A escola optou por levar o número mínimo de carros para a avenida, ao todo, foram quatro carros, um tripé e dois elementos cenográficos. Rico em detalhes e com excelentes acabamentos, os carros eram cenográficos, mas sem perder a carnavalização. Porém, a escola deve perder pontos preciosos por conta de alguns deslizes. O desfile começou com dois elementos alegóricos representando as baianas, muito bonito, eles vieram em frente a ala de baianas, o primeiro carro, “Teu cenário é poesia”, representou o próprio morro de Mangueira, apesar de muito bonito, o carro apresentou falhas em algumas luzes e foi observado um produto de limpeza esquecido na parte de trás da alegoria, o segundo trouxe Cartola e sua música mais famosa, “As rosas não falam”, o carro soltava aroma de rosas pela avenida, entretanto, o carrossel da parte de cima da alegoria passou apagado pela avenida. O terceiro carro fez uma homenagem a Jamelão, predominantemente vermelho, o carro recriou o ambiente noturno de um antigo dancing carioca. No último carro, “O bailarino negro”, a escola trouxe a figura de mestre Delegado, o carro lembrava uma caixinha de música e a escultura em cima estava muito bem acabada.

desfile mangueira 2022 053

Fantasias

Um show de Leandro Vieira, mais uma vez, o carnavalesco apresentou um conjunto de fantasias de encher os olhos, volumosas, criativas e de boa leitura, foi um dos pontos altos do desfile. Pela primeira vez, Leandro abusou do verde e rosa em toda a escola e deixou todo mangueirense orgulhoso. Como destaque, pode-se citar a primeira ala, “Velhas Baianas”, a sétima ala, que representava o sol, impressionou pelo volume apresentado, a fantasia da ala 11 mostrou uma criatividade enorme, representando a gafieira. A ala 13 trouxe estandartes com os títulos da escola e mais uma vez o bom gosto foi visto. A ala de baianas, apesar de lindas, passou com algumas matriarcas segurando a cabeça da fantasia, outro detalhe observado foi que talvez por conta do volume, um número excessivo de componentes passaram mal.

desfile mangueira 2022 057

Outros Destaques

A bateria do Mestre Wesley se apresentou de forma impecável pela avenida, representando a “Saudosa Mangueira”, a fantasia impressionou pela riqueza de detalhes. A rainha da bateria, Evelyn Bastos mais uma vez encantou o público na avenida, com muito samba no pé, a rainha desfilou com as cores da escola. A frente do carro em homenagem a Jamelão, desfilaram Alcione e Rosemary, ambas foram muito aplaudidas pelo público.

Ritmistas da São Clemente comentam irreverente fantasia da bateria no desfile de 2022

SC01aNo carnaval de 2022 a São Clemente passou na avenida homenageando o ator e humorista Paulo Gustavo. No coração da escola, a ‘Fiel bateria’ veio representando a mais famosa personagem de Paulo, a Dona Hermínia. Surgida nos palcos do teatro com o espetáculo ‘Minha mãe é uma peça’, a personagem caiu no gosto do público e ganhou novas dimensões ao ver sua história adaptada para as telas do cinema. Com três filmes de sucesso na bilheteria, Dona Hermínia voltou a aparecer nas telas através do programa 220 voltz do Multishow. Criado por Paulo Gustavo, o programa trazia diversos personagens de diferentes personalidades que falavam sobre temas polêmicos da sociedade com o humor leve e provocativo característico do trabalho de Paulo. O programa foi sucesso enquanto esteve no ar e a personagem fazia parte de uma das esquetes mais esperadas pelo telespectador.

O que muitos não sabem, é que Dona Hermínia nasce de uma leitura do humorista a respeito da própria mãe, a Dona Déia. Paulo sempre que podia, mencionava como a mãe era figura fundamental para a formação do ser que ele era, portanto, nada mais justo que a ‘Fiel bateria’ que nunca abandona a São Clemente e é responsável por dar o ritmo a comunidade, vir homenageando a mãe do Paulo, ou melhor, a mãe de todos os brasileiros. Lembra o mestre Caliquinho.

“Hoje o coração está batendo forte, é muito bom estar de volta na avenida e homenagear a Dona Deia, que representa a mãe de todo o Brasil. Ela é aquela mãe que grita e que dá carinho, quando conheceu nossa comunidade e nossa quadra contagiou todo mundo”.

SC01bAlém da alegria que marca a figura de Dona Déia, a bateria usou uma fantasia que trazia clara referência à Dona Hermínia. Os ritmistas usavam um vestido longo na cor amarela e detalhes em preto e branco. Na parte da frente da fantasia, um avental que remetia ao avental que sempre estava “grudado” na personagem de Paulo Gustavo. Na cabeça uma peruca cheia de bobs e um lenço preto. Bonita e bem acabada, a fantasia esteve bela, porém, despertou incômodo nos ritmistas.

“Embora a fantasia esteja bonita, ela está com muito tecido. O tecido não deixou a fantasia pesada não, mas ela está bastante volumosa para uma bateria”, contou Mônica Jordão.

Ainda que a fantasia tenha causada incômodo, Mônica ressaltou para a equipe do site CARNAVALESCO que está muito feliz com o enredo e a homenagem.

“Esse ano me sinto muito feliz em vir na bateria, porque a dona Deia é a cara da mãe brasileira. Fora isso, eu sou a única mulher desfilando no repique, então eu sei a importância de você ser representado. Vai ser muito bom ver os homens sabendo como é estar de vestido”.

Sentimentos compreendidos e compartilhados pelo colega de bateria, Miguel Lino. Tocador do surdo de segunda, Miguel comentou o seguinte para o site CARNAVALESCO.

“Estou feliz de vestir uma homenagem a dona deia. Como diz no samba, ‘anunciando a mãe de todo brasileiro’. Assisti a todos os filmes do Paulo, eu era fã dele e agora da mãe dele. É uma honra participar dessa homenagem”.

“A fantasia está leve, mas está abafada. Na medida do possível eu acredito que ela esteja dentro da proposta do enredo e pela São Clemente a gente faz até o impossível”.

Com apresentação técnica, Colorado do Brás faz desfile que cresceu ao longo da avenida

A Colorado do Brás foi a segunda escola a desfilar no Sambódromo do Anhembi na primeira noite de desfiles do Grupo Especial de São Paulo. Com o enredo “Carolina – A Cinderela Negra do Canindé”, a vermelho e branco contou a história da escritora Carolina de Jesus, uma das mais importantes autoras da literatura brasileira, e que ganhou fama na época em que morou na antiga favela do Canindé, nas proximidades de onde hoje é o barracão da agremiação. * VEJA FOTOS DO DESFILE

coloradodobras desfileoficial2022 37

Com uma apresentação técnica, a Colorado fez um desfile que cresceu ao longo da apresentação e representou com determinação a homenageada que é tão querida por sua comunidade. Quesitos específicos, porém, como comissão de frente, deixaram a desejar e não conseguiram apresentar a escola de maneira adequada, com erros de execução. O desfile encerrou com 64 minutos.

Comissão de Frente

Apresentando “O ‘Grande Baile’ de Carolina, a Cinderela Negra do Canindé”, a comissão de frente retratou a época em que o talento de Carolina de Jesus foi descoberto pelo jornalista Audálio Dantas. Enquanto fazia uma reportagem sobre a favela do Canindé, Audálio leu o diário da então catadora de papelão intitulado “Quarto de Despejo”, e fascinado, ajudou a publicar a obra.

coloradodobras desfileoficial2022 3

Liderados pelo coreógrafo Kelson Barros, os dançarinos interpretaram Carolina e Audálio, além da entidade Zé Pilintra, e personagens que fizeram o papel da Elite Literária, que via com preconceito a ascensão da escritora, e a Realeza Negra, que após tantos anos subjugada, encontrou em uma mulher preta e favelada uma voz que lhes representasse.

A comissão trouxe uma coreografia de interpretação difícil, muito longa e de poucos destaques. Em alguns momentos, faltou sincronia entre os casais que formavam o elenco e Zé Pilintra derrubou o chapéu próximo a segunda cabine. A falta de um ponto claro de início e fim da apresentação, que aparentou durar mais de quatro passagens, pode comprometer a avaliação do quesito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da escola, representado por Ruhanan Pontes e Ana Paula, veio vestido de libélulas. Esses insetos, cujo nome deriva de liber (“livro” em latim) são considerados símbolos de transformação, inspiração e renascimento, e são características que se assemelham com a trajetória de vida de Carolina de Jesus.

coloradodobras desfileoficial2022 6

A dupla conseguiu executar sua dança com proeza. Em determinados momentos do samba, como nos versos “livre feito uma borboleta”, imitaram uma revoada e causou um efeito agradável de se ver. Houve sincronia em seus movimentos, e no conjunto poderá impactar em boas notas para a Colorado.

Harmonia

O carro de som apostou em bossas e apagões em diferentes momentos ao longo do desfile. A resposta da comunidade, porém, não se fez presente em todos os momentos. Algumas alas apresentaram canto fraco, em especial a ala “Carolina do Diabo”, que foi inaudível em momento importante do refrão principal. Os dois primeiros carros passaram em grande silêncio, com componentes aparentando desânimo na parte final da apresentação.

coloradodobras desfileoficial2022 45

Enredo

O desfile da Colorado apresentou a jornada de vida de Carolina de Jesus desde a sua juventude sofrida na região onde hoje se encontra a cidade mineira de Sacramento até se mudar para a paulista Franca. Entre várias mudanças em busca do sonho de uma vida melhor, chegou a morar brevemente para o Rio de Janeiro, mas retornou para São Paulo, onde o destino lhe agraciou com a fama anos depois. Graças a sua primeira obra, “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”, seu nome ganhou o Brasil e o mundo, com o livro sendo traduzido para 13 idiomas e superando obras de escritores consagrados, como Jorge Amado. Sua história virou de peça de teatro até documentários, e até os dias de hoje é reconhecida como uma das mais importantes representantes da cultura negra do país.

coloradodobras desfileoficial2022 44

A cabeça da escola foi de difícil leitura. Da comissão de frente até o primeiro carro, não estava claro de fato do que se tratava o enredo. A partir do segundo setor o desfile ganhou nova cara, e foi fácil saber do que se tratavam fantasias e alegorias. Foi um quesito que cresceu de qualidade ao longo do desfile.

Evolução

Sem sustos, conforme já se esperava de um carnaval com limite máximo de elementos reduzidos, porém com tempo de desfile mantido. A Colorado não passou sustos e conseguiu evoluir com fluidez ao longo de boa parte do desfile. Na parte final foi percebida uma leve acelerada, mas não que comprometesse o bailado dos componentes, que em geral sambaram com desenvoltura.

coloradodobras desfileoficial2022 18

Samba-Enredo

O samba da Colorado do Brás foi um dos mais comentados no pré-carnaval. Narrado em primeira pessoa, a obra interpretada por Chitão Martins apresenta a história de Carolina de Jesus com riqueza poética e refrão marcante.

Na avenida, o carro de som da escola correspondeu às expectativas. Completando 10 anos neste mesmo microfone, o intérprete conseguiu melhorar ainda mais seu desempenho em relação aos ensaios, e foi um dos pontos altos do desfile. A letra do samba ajudou na leitura do enredo ao longo da apresentação, e é um quesito que passou segurança para a escola durante toda a avenida.

coloradodobras desfileoficial2022 30

Fantasias

As fantasias vieram representando com riqueza de detalhes as diferentes passagens da vida de Carolina de Jesus. Neta de escravos que fizeram parte dos momentos finais do tráfico negreiro, as roupas dos componentes apresentaram a ancestralidade africana de Carolina, e retrataram dos seus primeiros momentos na cidade grande até a consagração como renomada escritora, que chegou a inclusive gravar músicas de própria autoria.

Com um conjunto simples. Com leves exceções, as roupas dos componentes conseguiram transmitir bem sua mensagem, com destaque especial para as alas “O Colono e o Fazendeiro” e principalmente “A Cor da Fome é Amarela”, que teve significado marcante no enredo.

coloradodobras desfileoficial2022 29

Alegorias

As alegorias da Colorado do Brás cresceram ao longo do desfile no quesito interpretação, mas o acabamento andou no sentido contrário. O Abre-alas foi de significado genérico, e poderia se encaixar em qualquer enredo com temática similar. Mas a partir da segunda alegoria, os elementos ganharam riqueza de significado, com destaque para do terceiro carro, que representou “O Quarto de Despejo – A Carruagem”, uma referência ao livro de maior sucesso de Carolina de Jesus.

Outros destaques

Figura que marcou presença inclusive nos ensaios técnicos, a filha da homenageada, Vera Eunice de Jesus, não deixou de marcar presença e foi um dos destaques da Colorado do Brás, que encerrou sua apresentação de forma satisfatória.