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Bem humorada e crítica, São Clemente realiza desfile dentro de suas características e entra na briga pelo título da Série Ouro

Sétima e última escola a desfilar na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a São Clemente apresentou o enredo “O Achamento do Velho mundo”, desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira. Após mais de uma década no Grupo Especial, a Preta e Amarela não perdeu o porte da elite do carnaval e realizou um desfile leve e bem humorado, com destaque para a Comissão de Frente, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e o bom desenvolvimento e clareza do enredo. A agremiação da Zona Sul mostrou um reencontro com suas características e se colocou na briga pelo título. A irregularidade no canto em alguns momentos pode ser o único senão na apuração. A escola terminou sua apresentação com 55 minutos de duração, já ao amanhecer. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA SÃO CLEMENTE

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No esquenta, o intérprete Leozinho Nunes e seu carro de som cantaram o samba-hina da São Clemente. Como curiosidade do desfile, a Preta e Amarela começou a cantar o seu samba do carnaval de 2023 antes da abertura dos portões da pista da Marquês de Sapucaí.

Comissão de Frente

Comandada pelo coreógrafo Lucas Maciel, que também exercerá a função no Paraíso do Tuiuti, a Comissão de Frente da São Clemente, intitulada “De alma leve e de corpo quente”, representou o encontro entre a cultura nativa da fictícia Pindorama com a cultura do Velho Mundo. Para a apresentação do grupo de bailarinos, a escola trouxe um elemento cenográfico (tripé), que trazia de um lado o cenário de Pindorama e do outro o cenário do Velho Mundo.

LEIA MATÉRIAS ESPECIAIS
* São Clemente traz o batidão do funk carioca na terceira alegoria
* Abre-alas da São Clemente trouxe a irreverência da escola e do carioca em seu hábitat natural, a praia
* O espírito do verão brilhou nas baianas da São Clemente
* As iguarias do Rio foram apresentadas com leveza e alegria na São Clemente

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Na avenida, a Comissão de Frente abusou do bom humor e da irreverência. 14 dançarinos, 13 homens e 1 mulher, a personagem principal da cena, desenvolveram uma coreografia com muitos elementos da cultura latina, como passos de funk, gestos que remetiam a arco e flecha, entre outros. Em dados momentos, a coreografia casava com a letra do samba , como no “Oi, sumido” e “Flecha que incendeia”. No rumo da trama, os habitantes de Pindorama partiam rumo à Euroca com suas pranchas, que os bailarinos jogavam no chão para simbolizar a chegada.

Quando os nativos chegaram à Euroca, a dança mudava de cena e o tripé virava. Ali, era revelada a presença do “europeu”, representado por Marcelo Adnet. Na dança, ele era colonizado pelos nativos e o ponto alto se dava, quando ele dançava como os outros, “sambando de ladinho” e com passos de funk, os nativos tiraram sua roupa e era formado o baile funk da “Tupinacã 2000”, em referência a uma famosa produtora de funk carioca. A coreografia provocou aplausos do público nos setores em que passou, sobretudo quando aparecia a figura do famoso humorista.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Após um período afastados da Marquês de Sapucaí, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Alex Marcelino e Raphael Caboclo voltou a dançar juntos na São Clemente. Representando “Jaci e Guaraci”, Alex vestiu uma roupa de Sol (Guaraci), em amarelo e Raphaela de a Lua (Jaci), em um figurino todo preto. A lua e o sol eram considerados divindades pelos nativos.

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Na avenida, o casal se mostrou mais uma aposta certeira da escola da Zona Sul. Com uma coreografia muito bela e sincronizada, a dupla se apresentou de maneira segura nos três módulos de julgadores. A dança do casal tinha referências claras a letra do samba-enredo da escola em diversos momentos, como no da “Flecha Certeira”, em que Alex apontava a flecha que carregava na fantasia para sua parceira. Em um momento de muita delicadeza da dança, o mestre-sala jogava diversos beijos a sua porta-bandeira. Raphaela Caboclo se destacou também por fortes giros na pista.

Harmonia

No quesito harmonia, a São Clemente apresentou o único senão do seu desfile, que pode vir a ser seu calcanhar de aquiles na disputa pelo título na apuração. Apesar não passar com alas sem cantar a totalidade do samba, o desempenho da escola apresentou uma certa irregularidade, com alguns componentes de alas cantando somente os refrões do Samba-enredo, sobretudo nas alas 4, “Turispajé” e 13, “Respeito às matas”. De positivo, o forte canto apresentado pelas Alas 1, “Canoas ao mar” e as duas últimas alas da escola, 19, “Um baile pra Jaci” e 20, “A pajelança assim se fez”. O refrão da samba escola, sobretudo a parte do “samba de ladinho”, era bem cantada pelos componentes e “pegou” no público da Sapucaí, com muitos realizando coreografias nesse momento.

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Enredo

Em resgate às características irreverentes da São Clemente, o enredo “O Achamento do Velho Mundo” propôs uma subversão do Descobrimento do Brasil. Na história, os povos originários do continente americano partiram rumo às terras europeias para descobri-las. Na avenida, o carnavalesco da Preta e Amarela, Jorge Silveira, realizou uma grande viagem lúdica e divertida que se passou em um período de um dia começando na manhã, com os indígenas partindo para o mar com 13 canoas assim que o Sol aparece, e terminando em uma grande festa à noite, nas novas terras chamadas de Euroca, em vez de Europa. Durante o desfile, a diferença entre as culturas dos dois povos foi bem explorada de maneira leve e bem humorada.

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O enredo da São Clemente foi contado em três carros e 21 alas, ao todo. A história foi dividida em três setores: O primeiro, “Porto de Pindorama”, com a partida dos tupis em treze canoas a partir da Praia de Botafogo, bairro da escola; O segundo, “Espelho d’agua se abriu, já serenou, partiu”, com a chegada ao Velho Mundo, batizado de Euroca; e o terceiro, “Valeu, meu irmão, por chegar de peito aberto”, com o festejo dado em Pindorama, com um baile funk pelo congraçamento dos dois povos, como uma mensagem de tolerância e respeito às diferenças.

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A leitura do enredo da São Clemente se mostrou de maneira bastante clara na avenida. As fantasias e alegorias da escola possuíam leitura clara e evidente aos olhos, como por exemplo na ala 8, “ Nativos embrulhados como frutas”, que possuíam uma banana em suas fantasias e no carro 3, “Vem pro Batidão”, como esculturas de índios portando headphones e os famosos paredões de bailes funks na frente da alegoria.

Evolução

Leve, fluida, divertida e bem humorada, como pede o enredo, assim pode ser definida a evolução da São Clemente na avenida Marquês de Sapucaí. Ao longo dos 55 minutos de desfile, os componentes da escola evoluíram de maneira brilhante na avenida, com muita interação com o público, brincadeiras e coreografias espontâneas, como no “samba de ladinho, vem pro batidão” da letra do samba-enredo da escola. A ala de passistas da São Clemente, vestidos de “Embaixadores de Pindorama”, em tons de verde e amarelo, foi destaque no quesito pela alegria, samba no pé e desenvoltura ao longo da pista.

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Alegorias e Adereços

A São Clemente levou para a avenida três carros alegóricos, além do elemento cenográfico da Comissão de Frente. De modo geral, as alegorias da escola cumpriram o papel de passar de maneira clara a história contada no enredo e não apresentaram graves problemas de acabamento. O abre-alas da escola, o “Porto de Pindorama”, utilizou primordialmente o amarelo da escola, em tons bem cítricos, com um grande letreiro com o nome da escola à frente e uma escultura com um óculos de sol no rosto, para representar Pindorama, de onde partiu os nativos para descobrirem o Velho Mundo.

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A segunda alegoria, “Euroca”, apostou em estética diferente do primeiro carro da escola para abordar o Velho Mundo. Com elementos que remetiam ao luxo, como lustres nas laterais e cores mais frias, a alegoria também ganhou destaque na avenida. A terceira e última alegoria, “Vem pro batidão- Um baile para Jaci”, representou o baile funk dado pelos nativos para Jaci, ao estilo do verão de Botafogo. O carro passou a mensagem de maneira bem clara, com componentes vestindo shorts jeans, bonés e tops estilizados e um grande paredão de baile funk à frente da alegoria.

Fantasias

No quesito fantasias, o carnavalesco Jorge Silveira seguiu a tônica do desfile e do enredo da São Clemente, de fácil leitura e entendimento e referências claras. As fantasias da escola apresentaram bom gosto e clareza. No primeiro setor, a aposta do carnavalesco foi por cores mais quentes, com predominância de tons de amarelos cítricos para representar Pindorama, com destaque para a ala de baianas , de “É verão em Pindorama”, em uma fantasia bem tropical amarela. No segundo setor, para entrar na representação do Velho Mundo, as fantasias da escola começaram a ganhar tons mais frios, com muito verde, porém sem perder a clareza na leitura. Já no terceiro e último setor, quando Pindorama e o Velho Mundo se encontram, as cores das fantasias da escola ganharam maior diversidade, com destaque para a ala “Cacique recebe a chave do Velho Mundo”, em um belo figurino e uma chave de acessório de mão. O amanhecer ao final do desfile da escola comprovou a aposta acertada do carnavalesco na escolha de cores dos figurinos da escola.

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Samba-Enredo

Composto por Marcelo Adnet, André Carvalho, Gustavo Albuquerque, Pedro Machado, Fabiano Paiva, Luizinho do Méier, Gabriel Machado, Baby do Cavaco e Hamilton Fofão, o samba-enredo da São Clemente se provou um acerto na avenida, sendo muito funcional para a proposta da escola de um desfile leve e animada. Como referências claras do enredo para o público, o refrão principal do samba foi a parte mais cantada pelos componentes da escola e pelo público nas arquibancadas. O desempenho do carro de som clementiano, comandado por Leozinho Nunes, que se vestiu de indígena na avenida, foi fundamental para o bom desempenho da obra, animando os componentes das alas da Preta e Amarela.

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Outros Destaques

Comandada pelo experiente Mestre Caliquinho, a “Fiel Bateria” veio fantasiada de “Cacique” no desfile da São Clemente. A rainha de bateria da escola, Raphaela Gomes, representou “A mais bela filha do Cacique”. Raphaela é filha do presidente Renato Almeida Gomes, o “cacique” da São Clemente. Ao longo da avenida, os ritmistas da escola apresentaram bossas que se mostraram coerentes e de boa aceitação pelo público, além de sustentar com primor o andamento do samba da escola.

Detentora de vários prêmios Estrela do Carnaval, baianas da UPM elogiam figurino do desfile

UPM002 3Com uma fantasia rica em detalhes e baseada na poesia nordestina, a ala das baianas foi para a Marquês de Sapucaí com uma mistura de nordeste, Arábia e uma pitada de Unidos de Padre Miguel. Vermelha e muito brilhosa, a roupa foi aprovada pelas baianas antes mesmo de entrarem na Passarela do Samba.

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, a presidente da ala das baianas, além das componentes, compartilharam a reação e o sentimento ao ver e vestir a fantasia que elas vestiram por toda Marquês de Sapucaí.

Elisângela de Oliveira Santos, de 51 anos, é baiana da Unidos de Padre Miguel há sete anos. Ela explicou os detalhes da fantasia e sua mensagem no enredo da escola neste ano. Uma mistura de culturas representada em uma roupa muito leve.

UPM005 3“A fantasia realmente é uma poesia, toda linda e cheia de detalhes. É uma poesia, é o nordeste e a Arábia. Está tudo envolvido nela, o que deixa tudo ainda mais lindo. O mais legal é que ela é cheia de detalhes e, ao mesmo tempo, muito leve. Eu consigo dançar e me desenvolver muito bem ao longo do desfile. Quando vi a fantasia, fiquei muito impactada com essa pegada de nordeste. Estou realmente muito feliz com ela ”, contou Dona Elisângela.

A presidente da ala das baianas, Gleice Borges, tem 33 anos e está no seu primeiro ano como presidente do segmento. Ela destacou o grande peso que é comandar as baianas neste Carnaval.

“É uma enorme responsabilidade. A mídia em cima e as pessoas falando que somos campeãs, então a responsabilidade fica ainda maior. A gente se sente na obrigação de fazer o melhor possível – quem é sambista dá sempre o seu melhor. Mas nós estamos fazendo com gosto e com muito amor pela Unidos de Padre Miguel”, disse Gleice.

UPM004 3Uma fantasia muito leve e que facilita a movimentação das baianas. Assim Gleice definiu a fantasia do segmento. Ela também compartilhou qual o recado que elas deixaram na Passarela do Samba.

“A fantasia é realmente uma poesia, porque ela está leve e alegre – justamente o que representa as baianas da Unidos de Padre Miguel. A nossa mensagem é viver a vida da forma mais leve possível, com tranquilidade e paz. É isso que a UPM quer trazer neste ano. Eu acompanhei a confecção da fantasia e achei incrível que eles conseguiram misturar os dois mundos dentro de uma só fantasia. Isso foi uma ideia bem legal e criativa. A fantasia está bem leve, não está machucando, está bem bonita, muito confortável por dentro e todas as baianas aprovaram”, contou a presidente.

Para ela, neste ano, com a expectativa de um possível título e acesso ao Grupo Especial, a responsabilidade de representar a Unidos de Padre Miguel na Passarela do Samba é ainda maior.

“A responsabilidade é enorme, não só pelo favoritismo mas por ter amor ao pavilhão. Esse ano nós estamos confiantes que tudo dará certo e nós seremos campeões, rumo ao Grupo Especial do carnaval. Vamos trazer a paz, mostrar o nosso nordeste e um pouco da Arábia. Faremos tudo muito bonito. A responsabilidade é muito grande, mas estamos tranquilos para fazer um grande carnaval este ano”, animada, disse Gleice Borges, que comanda a ala das baianas.

Kátia de Jesus, de 57 anos, é baiana da UPM há dois anos, oito no carnaval e irá desfilar em todos os dias de desfiles. Para ela, a fantasia condiz com o enredo da escola de samba neste ano: “A nossa escola não deve nada a ninguém”.

“A nossa fantasia é realmente uma poesia, porque está muito linda e imponente. Ela está muito leve e maravilhosa e condiz com o nosso enredo: não deve nada a ninguém. Só o adereço da cabeça que pesa um pouco, mas está tudo muito confortável”, comentou a baiana.

A Unidos de Padre Miguel, com a cultura Árabe e a força do nordeste, foi a quinta escola a entrar na Passarela do Samba neste primeiro dia de carnaval.

Tom Maior realiza culto às mães pretas ancestrais com destaque para harmonia contagiante

A Tom Maior foi a sexta escola a se apresentar na noite desta sexta-feira, dia 17 de fevereiro, pelo Grupo Especial do Carnaval 2023. Com destaque para o impecável desempenho da harmonia e da evolução, a escola do Sumaré teve um desempenho de acordo com as expectativas criadas no pré-Carnaval e levantou o Sambódromo do Anhembi, encerrando a apresentação com uma hora e três minutos. A Vermelho e Amarelo apresentou este ano o enredo “Um Culto às Mães Pretas Ancestrais”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

A Tom Maior iniciou seu desfile fazendo uma “Saudação às mães pretas ancestrais” na comissão de frente. Sobre um elemento alegórico, dançarinos representaram oito guerreiros-eleyé, sete Iyamis, seis Yabás e Odu, a Iyami da criação. Os guerreiros-eleyé representam pássaros recebidos pelas Iyamis em missão. Durante a apresentação, o oratório esculpido em pedra no fundo da alegoria se abre, revelando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Três figuras representando mães marcaram a apresentação: Odu, como mãe criadora, as Yabás, mãe da força e Nossa Senhora Aparecida, mãe de amor e respeito.

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Uma comissão que alternou grupos cênicos entre os que evoluíam no chão e no elemento alegórico. Uma coreografia impactante e energética da parte dos dançarinos que representaram os guerreiros e Odu, enquanto as representantes das Iyamis mostraram elegância e sincronia. Ao final de cada passagem do samba, a imagem de Nossa Senhora Aparecida surgia do oratório, indicando a presença da entidade diante de todo o culto. Ótimo desempenho do conjunto como um todo.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Ruhanan Pontes e Ana Paula vieram representando em suas fantasias “A Terra e a Água”. O casal nota 40 em 2022 estreou com o pé direito na Tom Maior, realizando grande apresentação pelos módulos em que se apresentaram. Sempre irreverente, Ruhanan realizou o cortejo com a maestria habitual, enquanto a elegante Ana Paula defendeu o pavilhão da escola com vigor e habilidade. Giros bem sincronizados e minueto bem realizado diante dos olhos dos jurados podem garantir mais uma vez as cobiçadas notas do quesito.

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Harmonia

Um canto implacável marcou todo o desfile da Tom Maior. O excelente samba ajudou muito no desempenho da harmonia da escola, que não perdeu o fôlego em nenhum momento. Apagões realizados pela bateria “Tom 30” sempre muito bem respondidos, mesmo naqueles mais longos e ousados. A comunidade do Sumaré brincou o Carnaval com desenvoltura e contribuiu para o espetáculo do conjunto apresentado.

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Enredo

O enredo da Tom Maior tem como temática a força da figura da mãe na religiosidade afro-brasileira, através do que há de comum entre a experiência das pessoas com a figura materna pessoal nas diferentes religiões.

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Enredos de temática afro tendem a ser de leitura complexa da parte do público, mas o carnavalesco Flávio Campello conseguiu criar uma linha narrativa fluída e com soluções criativas. A mensagem do enredo foi facilmente transmitida através das alas, que entregaram para cada carro alegórico finalizarem os setores de forma muito bem sintetizada.

Evolução

A direção de harmonia da Tom Maior pode se orgulhar do andamento do desfile. Fluída do início ao fim, sem aberturas de espaços em nenhum momento, com as alas sempre bem alinhadas. A comunidade do Sumaré desfilou solta e em ritmo notável, brincando o Carnaval do jeito que tem que ser. Para finalizar com chave de ouro, portões fechados com uma hora e três minutos, com toda direção celebrando muito ao final. Expectativas altas para os 40 pontos no quesito.

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Samba-Enredo

Com um dos mais aclamados sambas ao longo do pré-Carnaval, a Tom Maior contou mais uma vez com a maestria do intérprete Gilsinho para liderar a ala musical ao longo do desfile. A obra é assinada pelos seguintes compositores: Gui Cruz, Turko, Portuga, Rafa do Cavaco, Vitor Gabriel, Fabio Souza, Imperial, Junior Fionda, Willian Tadeu e Anderson.

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O samba não apenas funcionou muito bem na Avenida, como contagiou o público que em grande volume contribuiu com o coral da Tom Maior que desfilava diante dele. A bateria “Tom 30” fez muito bom uso de momentos chave da obra, com bossas e apagões sendo presença constante por todo o desfile. Um desempenho geral do quesito para sempre relembrar com carinho.

Fantasias

As fantasias no primeiro setor representaram elementos da lenda da criação do mundo na mitologia iorubá. No segundo, a ligação de elementos da natureza africana com a ancestralidade. O terceiro setor foi todo dedicado às Obirinsás, em uma única ala enorme, mas com fantasias diferentes nas colunas, formando um grande tapete colorido. Já no último setor, ritmos de celebrações religiosas brasileiras marcaram presença.

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A maneira como a Tom Maior trouxe as fantasias no desfile permitiu uma leitura não tão difícil para os padrões do estilo do enredo. Houve apostas em diversidade de fantasias entre as alas, com destaque para a já citada ala das Obirinsás, que foi um verdadeiro espetáculo e serviu de tapete para o carro que veio em seguida. As roupas eram volumosas e ricas em detalhes, contribuindo para a grandeza do desfile.

Alegorias

As alegorias da Tom Maior foram dedicadas às diferentes divindades retratadas no enredo. O Abre-alas representou “A criação do universo na cabaça de Odu”, enquanto os carros dois e três representaram respectivamente “As Yamis e os Eleyés” e as “Yabás”, com o último carro sendo o “Adurá para as Santas Pretas”.

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Um conjunto alegórico diferente do habitual de São Paulo, apostando majoritariamente em um piso baixo com esculturas altas. Cada alegoria tinha sua própria identidade muito distinta uma da outra, mas que tinham na beleza e alto padrão como marcas em comum. É preciso se atentar para problemas de iluminação em duas das alegorias. O globo no topo do Abre-alas continha faixas de LED apagadas ao centro, enquanto no terceiro carro havia espaços para refletores que estavam ausentes, mas deixando os conectores de tomada como elementos estranhos. Caberá da interpretação dos jurados possíveis deduções.

Outros destaques

A bateria “Tom 30” do presidente e Mestre Carlão mais uma vez teve um desempenho irretocável. Ousada, lidou com o samba com maestria e carinho, e engrandeceu o já excelente espetáculo apresentado pela Tom Maior. As passistas que desfilaram à frente da ala das Obirinsás estavam espetaculares, e o que se viu por todo o desfile foi o sentimento de um digno culto às mães pretas ancestrais.

A comunidade do Sumaré tem motivos para sair do Sambódromo do Anhembi com as expectativas elevadas. Um desfile de conjunto do mais alto nível, digno de uma das escolas que conseguiu a pontuação máxima em 2022. Agora é aguardar para ver se terça-feira o roteiro se repete ao menos nos números, o que pode significar muito em pleno cinquentenário da Tom Maior.

‘O encanto das mil e uma noites sertanejas’: Abre-alas da UPM traz a união da cultura árabe com o Nordeste

UPM005 2Com o abre-alas “O encanto das mil e uma noites sertanejas”, a Unidos de Padre Miguel deu ao início do desfile uma grande imponência ao desfile na Passarela do Samba. O primeiro carro da escola de samba representou as histórias da Antiga Pérsia, que foram contadas através de um olhar especial do Sertão. Rico em detalhes que remetem a cultura árabe, como os camelos que vinham à frente do carro, o carro chamou a atenção de todos ainda na dispersão.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, os componentes do abre-alas da Unidos de Padre Miguel explicaram a mensagem do carro alegórico e o peso que foi estar acima dele em meio a esperança de chegar ao Grupo Especial.

Rogéria Freitas, de 40 anos, fez a sua estreia pela UPM. Com o boi vermelho como seu personagem favorito, a componente explicou que o abre-alas da agremiação representa a soma da cultura árabe com a nordestina.

UPM007“É uma emoção e um privilégio poder estrear no abre-alas. O boi vermelho é o meu personagem favorito. Representando ‘Mil e uma noites sertanejas’, mostraremos uma Arábia chegando ao nordeste e a sua riqueza somada ao fascínio e ao calor do nordeste. Uma só emoção”, disse Rogéria.

O diretor de alegorias da Unidos de Padre Miguel, Pascoal, que está na escola de samba desde 2010, destacou o que representa o abre-alas no enredo “Baião de Mouros” não só para o desfile, mas para os componentes da escola.

“O sentimento é como se fosse um filho, porque a gente acompanha todo o processo. Dentro do enredo a gente espera que cause impacto ao público. A mensagem que queremos passar é do lugar de fala que é o carnaval. Falar do encontro de culturas que é o nordeste com a cultura árabe, dentro da nossa cultura popular que é o carnaval. Muitos brasileiros não conhecem essa ligação entre as duas culturas. A ideia é mostrar a nossa própria história dentro da cultura de outro país. O nosso país é assim, essa mistura de culturas”, explicou Pascoal.

UPM001 2Para Pascoal, o seu personagem favorito no enredo é Alá, Deus islã e um dos principais nomes nesta história que a Unidos de Padre Miguel levou para a Marquês de Sapucaí. Com a benção de Alá, Pascoal disse que a escola vai brigar para chegar ao Grupo Especial.

“Meu personagem favorito é Alá, porque ele que vai proteger a gente em busca desse sonho que é chegar ao Grupo Especial. Já está na hora da gente ir para lá. Que Alá nos abençoe e nos proteja”, contou.

Marina Santos, de 37 anos, é técnica de enfermagem e desfilou pela primeira vez na Unidos de Padre Miguel. Logo na estreia, assumiu a responsabilidade de estar acima do imponente abre-alas que a escola de samba levou para o Sambódromo.

“Muito nervosismo, claro. Estou muito empolgada, eufórica. Faremos um desfile rumo ao título e ao acesso para o Grupo Especial do carnaval carioca. O boi, para mim, é o personagem mais importante no enredo e o meu favorito. Ele está muito lindo. Iremos invadir a Arábia com toda a nossa cultura e riqueza, levando muita felicidade e alegria. O carro está perfeito e muito lindo”, contou a componente da agremiação de Padre Miguel.

A Unidos de Padre Miguel foi a quinta escola a entrar na Marquês de Sapucaí neste primeiro dia de desfiles do carnaval carioca.

Acadêmicos de Niterói faz desfile grandioso na parte plástica, mas com canto irregular

Por Diogo Sampaio

A Acadêmicos de Niterói estreou com o pé direito na Marquês de Sapucaí. Em um desfile sem grandes erros, a azul e branca apostou fortemente na plástica, com alegorias gigantescas e um conjunto de fantasias bem-acabadas, se mostrando disposta a entrar na briga pelo título da Série Ouro e o acesso ao Grupo Especial. No entanto, o samba mediano e o canto irregular dos componentes pode ser um dificultador na hora de sonhar com voos maiores. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Com o enredo intitulado de “O Carnaval da Vitória”, assinado pelo carnavalesco André Rodrigues, a agremiação foi a sexta a passar pelo Sambódromo na primeira noite de desfiles da Série Ouro. A escola encerrou a apresentação pouco antes das 05h, aos 54 minutos.

Comissão de Frente

Intitulada de “Me dê a mão, venha pro lado de cá, com a barca dos festejos”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Carlos Fontinelle retratava a antiga tradição de Carnaval das barcas decoradas, que faziam as viagens entre a estação do Araribóia e a Praça XV animando os foliões. Para encenar este trajeto pela Baía de Guanabara, sete mulheres vinham vestidas com uma saia de fitas e sete homens vinham com guarda-chuvas, ambos fazendo menção ao movimento do mar. O ápice da apresentação ocorria quando o elemento cenográfico que acompanhava os bailarinos soltava uma chuva de papel picado.

LEIA MATÉRIAS ESPECIAIS
* Baianas da Niterói representam antigo bloco carnavalesco da cidade
* Apesar de ainda não ser unanimidade, componentes se orgulham de ser Niterói
* Desfilantes da Viradouro se emocionam com homenagem em ala da Acadêmicos de Niterói
* Cubango recebe homenagem no desfile da Acadêmicos de Niterói

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Juntos desde o Carnaval de 2019, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fabrício Pires e Giovanna Justo, mostrou mais uma vez total entrosamento e cumplicidade. Os dois optaram pela dança tradicional, mesclando a velocidade nos giros e rodopios com a singelidade nos gestos na hora do cortejo e da apresentação do pavilhão.

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Quanto ao figurino, o casal veio com uma fantasia nomeada de “Banho de Mar à Fantasia”, representando o grande esplendor e uma das maiores manifestações carnavalescas da cidade de Niterói. Enquanto Fabrício simbolizava a figura do pierrot, Giovanna veio retratando a da colombina. A indumentária de ambos era bastante luxuosa e requintada, com direito a penas de faisão.

Enredo

Em sua estreia na Marquês de Sapucaí, a Acadêmicos de Niterói resolveu aproveitar as comemorações dos 450 anos da sua cidade-natal e trouxe o enredo “Carnaval da Vitória”. O tema abordou o retorno dos festejos momecos em 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, que simbolizou um momento de revolução e de estabelecimento de paradigmas para a folia niteroiense.

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O clima leve e romântico do Carnaval antigo foi transmitido pelo desfile da agremiação, que soube contar com clareza a proposta através de alegorias e fantasias de fácil leitura. No entanto, pelo tema não ser de amplo conhecimento, em alguns momentos se fez necessária a consulta ao Roteiros dos Desfiles para se ter uma maior compreensão daquilo que estava sendo representado.

Evolução

A Acadêmicos de Niterói teve uma evolução sem grandes erros. A escola começou com um ritmo mais cadenciado e acelerou um pouco o passo quando se aproximava do final da apresentação, mas não chegou a correr em nenhum momento. As alas, principalmente da segunda alegoria em diante, estiveram soltas, com componentes brincando Carnaval, mas sem abrir clarões ou ocorrer embolamentos.

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Samba-Enredo

Assinado por Marcelo Adnet, Tem-Tem Jr, Júnior Fionda, Anderson Lemos, Diego Nogueira, Fábio Barbosa, James Bernardes, Thiago Oliveira, Marcus Lopes e Ronie Oliveira, o samba-enredo da Acadêmicos de Niterói teve um desempenho acima do esperado. A obra, que era considerada mediana no período do pré-Carnaval, cresceu no desfile oficial graças a performance do carro de som, principalmente do intérprete oficial Danilo Cezar. Com uma grande trajetória na folia capixaba, onde coleciona diversos prêmios, Danilo não se intimidou com a estreia na Marquês de Sapucaí e defendeu com segurança a obra, trazendo o público junto em diversos momentos do desfile. O ponto negativo fica para o canto da própria agremiação que, em determinados pontos, não correspondeu completamente.

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Harmonia

A harmonia foi um dos pontos fracos no desfile da Acadêmicos de Niterói. Na parte inicial era possível notar uma certa frieza nas alas, com componentes entoando pouco o samba-enredo. Porém, da metade para o final, o canto da escola cresceu consideravelmente, com desfilantes mais soltos, alegres e cantando com força. Entre essas que se destacaram positivamente, vale mencionar as alas “Sabiá da Vila Ipiranga – Os primeiros louros”, “Corações Unidos da Engenhoca – A eterna namorada” e “Academia do Cubango – O saber em verde e branco”.

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Fantasias

O conjunto de fantasias da Acadêmicos de Niterói foi marcado pelo bom acabamento dos figurinos, em sua maioria leves e de fácil leitura. Entre os pontos altos, a indumentária das baianas, intitulada de “O bom gosto da Cidade Sorriso mora na Engenhoca”. Branca com uma barra azul, a vestimenta optou pelo tradicionalismo e permitiu, entre outras coisas, uma melhor evolução das senhoras pela Avenida.

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Alegorias e Adereços

O ponto alto da apresentação da Acadêmicos de Niterói foi o seu conjunto alegórico. Com o nome de “Orgulho do meu lugar, sob o olhar de Araribóia”, o abre-alas já demonstrou de cara a intenção da agremiação em apostas no gigantismo. O carro que abria o desfile retratava a chegada a Praça Martim Afonso, nome oficial do lugar que é conhecido como Praça Araribóia, durante os festejos de Carnaval. Com postes que lembravam os antigos artifícios de iluminação das ruas, a alegoria possuía como grande destaque uma enorme escultura carnavalizada do Cacique Araribóia, maior símbolo identitário da cidade. Além disso, trazia um enorme letreiro com a palavra “Niterói”. Apesar de toda imponência gerada pela altura da escultura principal e o bom acabamento, o fato de alguns postes não terem acendido pode ser motivo para desconto de décimos.

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Com uma enorme escultura de um Diabo segurando o seu tridente, a segunda alegoria retratava uma concentração dos blocos, com composições de fantasias múltiplas e diversas. Esse carro causou um momento de susto quando o braço da escultura principal quase bateu na torre dos fotógrafos. A escola ficou parada por algum momento até que a alegoria conseguisse ser manobrada e passasse sem sofrer danos.

Grande, mas sem esculturas gigantescas como as duas primeiras, a terceira alegoria, intitulada “O Esplendor Destino em nossos corações”, fechou o setor em homenagem às escolas de samba de Niterói e suas dinâmicas próprias de funcionamento, fazendo uma espécie de encontro de pavilhões no Caminho Niemeyer. Todo em tons de azul, o carro tinha uma coroa ao centro, no alto, um dos símbolos da agremiação.

Outros Destaques

A chuva de papel picado não ficou restrita a comissão de frente. Dois canhões vieram acompanhando a bateria e fizeram a alegria do público a cada momento em que disparavam uma rajada.

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Aliás, falando na bateria, outro estreante que merece destaque é o mestre Demétrius Luiz. Depois de cinco carnavais à frente dos ritmistas do Acadêmicos do Cubango, ele não se intimidou em debutar em outra agremiação. Apostando na simplicidade, trouxe uma levada tradicional, com bossas bem colocadas, e foi fundamental junto ao carro de som para crescer o desempenho do samba.

Ala mirim se reafirma como uma das maiores potências da UPM

UPM005 1Uma das alas mais tradicionais e premiadas da Unidos de Padre Miguel, a ala mirim, representou no desfile da escola o personagem Aladdin. Matreiro, divertido e inteligente, a leveza do Aladdin é exatamente o que a escola quis que as crianças levassem para a Avenida.

Suas fantasias, nomeadas “Aladim Raimundim”, simbolizam um delírio de um “sertão das arábias”, onde Aladdin sobrevoa o agreste com seu tapete mágico. O site CARNAVALESCO compreendeu que as melhores opiniões sobre a ala viriam das próprias crianças.

UPM003 1Samyra do Nascimento, de 11 anos, fez questão de se pronunciar: “Eu amei demais a escolha. Quando vimos as fantasias e os carros alegóricos, todos ficamos encantados. Vai ser muito bom e temos que vencer. Vamos cantar para os jurados”.

Mikaelly Narciso, de 10 anos, se mostrou grata pela oportunidade. “Achei maravilhoso. É o meu sonho estar aqui desfilando pela escola”, citou. Ao ser questionada sobre a animação para o desfile, respondeu com um sonoro: “Lógico!”

“Está tudo lindo e ótimo. Eu amo fazer parte da ala das crianças. Vamos dançar muito”, afirmou Any Gabrielly, de 13 anos.

UPM apresenta uma mistura de culturas dentro e fora do enredo

UPM004A Unidos de Padre Miguel, quinta escola da Série Ouro a desfilar nesta sexta-feira, 17 de fevereiro, retratou na avenida a influência árabe, moura e muçulmana no nordeste brasileiro. O enredo intitulado “Baião de Mouros” fez um cruzamento de histórias até o nascimento do Rei do Baião.

O terceiro carro alegórico celebra o conjunto de ressignificações culturais árabe-nordestinas, que se encontram no carnaval da Mesquita de Padre Miguel. A escola brinca que sua quadra, localizada na Rua Mesquita, é a Mesquita de Padre Miguel que irá promover o encontro de Mustafá e Lampião.

UPM003Viviane Prado, de 46 anos, se mostrou muito feliz em estar numa posição de destaque na alegoria. “Estou representando as mulheres egípcias. Nosso enredo é incrível”, comentou.

Numa mistura chamativa de cores, o carro não falhava em marcar sua presença. A americana Addison Muoneke, de 35 anos, pratica o samba há dez anos, mas nunca havia participado do carnaval brasileiro. Ela desfila pela primeira vez como um dos destaques da alegoria.

“Admiro muito a cultura do Brasil. Estou aqui representando amor, aceitação e beleza. Por todas as mulheres negras também. Só tenho a agradecer a esse país que mudou a minha vida”, afirmou.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Acadêmicos de Niterói no desfile

A bateria da Acadêmicos de Niterói fez um um desfile muito bom. Um ritmo marcado pela concepção musical pautada pela simplicidade. Soluções rítmicas funcionais contribuíram com a fluência plena entre os naipes.

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A cozinha da bateria apresentou um ritmo de extrema qualidade. Com uma afinação de surdos privilegiada, além de marcadores precisos e firmes. Caixas de guerra ressonantes deram valor sonoro a “Cadência de Niterói”. Repiques talentosos contribuíram no preenchimento da sonoridade de maneira eficaz. Os surdos de terceira deram inegável balanço ao ritmo.

A cabeça da bateria exibiu naipes de qualidade técnica simplesmente irretocável. Começando por três filas de cuícas, que eram ouvidas em qualquer parte do ritmo. Uma ala de chocalhos de inegável virtude musical se exibiu com firmeza e precisão. Um naipe de tamborins absurdamente talentoso efetuou uma batida simples, pontuando a melodia do samba-enredo da caçula do grupo com invariável qualidade técnica.

A bateria de mestre Demétrius virava em cada passada do samba sem convenção no refrão principal, garantindo versatilidade ao ritmo. Vale ressaltar que após esse movimento, tamborins faziam uma subida muito bem pontuada, que ajudava a dar pressão junto às marcações que executavam a virada. Mesmo sendo simples, tal movimento ocorria num lugar incomum do refrão principal, já que acontecia após o primeiro verso “É Niterói”, retomando o ritmo e a plena fluência entre os naipes no segundo verso “A pedra fundamental”. Um detalhe musical de um trabalho com bom gosto e esmero, fundamentado em soluções simplistas.

A paradinha da cabeça do samba é iniciada com tapas em conjunto que se aproveitaram da síncope do samba, contando ainda com tamborins que participaram com destaque junto às caixas de guerra e surdos, além dos repiques solistas que exibiram não só técnica, como classe. Foi a construção musical mais elaborada, apresentando certo grau de dificuldade.

Uma bossa no final da segunda do samba valorizou a obra com um arranjo musical simples, mas absolutamente funcional. Repiques consolidam chamadas para toques rítmicos em conjunto, com destaque para as terceiras finalizando a convenção com pressão junto às caixas de guerra volumosas e bem integradas. Uma musicalidade eficaz, permitida por uma concepção baseada em simplicidade.

Um “apagão” provocou certa interação popular, fechando a bateria no final da segunda do samba. Ritmistas balançaram os braços para um lado e para o outro, antes da retomada ser efetuada com uma virada.

As apresentações nos três módulos de jurados transcorreram perfeitamente, sem qualquer problema a ser evidenciado da pista de desfile. Uma estreia da bateria da Acadêmicos de Niterói para recordar, onde foi apresentada uma conjunção sonora de respeito, com uma integração musical notável entre os mais diversos naipes. Mestre Demétrius tem motivos de sobra para ficar feliz com a atuação dos ritmistas da “Cadência de Niterói”, no que foi seu primeiro carnaval sem os saudosos irmãos Billucka em sua diretoria de bateria. Henricão e Claudinho Cardoso se orgulharam em outro plano, de um desfile que apresentou virtude sonora com soluções musicais descomplicadas.

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Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos de Padre Miguel no desfile

A bateria da Unidos de Padre Miguel (UPM) fez um ótimo desfile, sob o comando de mestre Dinho. Um ritmo que apresentou um leque amplo de bossas, com bastante integração cultural ao que o samba e o tema da escola pediam. Paradinhas foram bem recebidas por público e julgadores, evidenciando o grande trabalho da bateria “Guerreiros”.

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A cozinha da bateria contou com uma afinação de surdos relativamente grave, sem contar a segurança e firmeza dos marcadores de primeira e segunda, tanto em bossas, como no ritmo. As caixas de guerras intercalaram polegadas e batidas distintas. Algumas caixas eram tocadas embaixo, de forma reta, dando amparo musical, enquanto outras consolidaram o ritmo efetuado o toque em cima. Repiques de qualidade técnica inegável contribuíram tanto na sonoridade da parte de trás do ritmo da UPM, como em bossas.

A cabeça da bateria da Unidos apresentou uma qualidade técnica extremamente elevada. Cuícas corretas e coesas foram notadas, assim como os agogôs de qualidade técnica deram leveza à parte da frente do ritmo. Uma ala de chocalhos de imenso valor musical tocou de forma entrelaçada a um naipe de tamborins simplesmente espetacular. O “Bonde do Pateta” deixou o eterno e saudoso ex-diretor Eduardo Amorim orgulhoso, passando com “Alegria nos Punhos” e agregando valor sonoro a um trabalho simplesmente primoroso envolvendo as peças leves.

Uma bossa baseada em pressão foi executada na cabeça do samba, gerando impacto sonoro pelos tapas em conjunto ressoando, junto a marcadores precisos. Vale ressaltar a contribuição luxuosa do naipe de tamborins no arranjo musical. Foi executada de maneira firme, proporcionando um swing envolvente após a retomada.

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A paradinha do refrão principal deu pressão ao ritmo da Unidos, graças aos tapas ritmados nos primeiros versos da segunda passada do estribilho. O acerto ainda consiste em permitir que os últimos versos do refrão fossem cantados em coro, fazendo ecoar o trecho “A nossa escola não deve nada a ninguém, respeite o povo da Vila Vintém”. A bossa ainda é finalizada com o peculiar conjunto de cinco tapas consecutivos (Tum-Tum-Tum-Tum-Tum!), tradicional pelas bandas de Padre Miguel. As vezes somente a finalização era exibida, enquanto o refrão era cantado em coro, permitindo interação popular.

No final da segunda do samba-enredo, também baseada em simplicidade musical, foi possível notar uma bossa chamada pelos repiques solistas (tanto por repiniques, como por repiques mor). A retomada foi baseada numa subidinha curta dos tamborins, num movimento muito bem executado e alinhado. Uma construção musical que mesclou singeleza e precisão rítmica, num arranjo simples e bastante funcional.

Breques apresentados em sequência cobriram a primeira da obra de inegável bom gosto musical. Tudo começa com a bateria “Guerreiros” fazendo uma nuance rítmica muito bem produzida, com destaque para os tamborins e surdos no verso “Vi camelo no agreste sultão cabra da peste”. Finalizando os beques seguidos veio o mais arrojado, tanto em complexidade, quanto no impacto musical. O verso “Romance de cavalaria” recebe o amparo de naipes remetendo ao toque de cavalaria, contando com a técnica refinada e eficácia dos tamborins, além dos caixeiros seguros e surdos de terceira envolventes. Uma batida que mostrou imensa capacidade musical e foi bem executada. A retomada com três pancadas dos surdos permitiu impacto sonoro, evidenciando o trabalho acima da média dos marcadores, com convenções que uniram requinte e pressão.

Outro breque simples, mas profundamente eficaz mostrou qualidade musical e fluidez rítmica pela pista. No trecho “O beduíno segue os passos do vaqueiro”, a bateria da Unidos tocou em ritmo de Xaxado, apresentando um invariável balanço. O ritmo era retomado logo em seguida, numa construção musical que se revelou um acerto principalmente cultural, ao proporcionar uma sonoridade plenamente integrada ao que o samba e o tema da escola solicitavam.

A paradinha do refrão do meio exibiu uma sonoridade destacada, além de apresentar plena integração com a obra. Se aproveitou do bom balanço dos surdos para consolidar o ritmo, sem contar tapas em contratempos.

As apresentações da bateria da Unidos de Padre Miguel nos módulos de jurados foram muito boas, sendo a melhor delas na segunda cabine. Na apresentação do último módulo, mestre Dinho mostrou toda sua bagagem e experiência, começando a lançar as convenções logo após sair do segundo recuo, já que o tempo para apresentação da bateria “Guerreiros” para o julgador seria pequeno, por causa do horário de desfile próximo do limite de estourar.