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Panorama das baterias que desfilam neste sábado no Grupo Especial do Rio

A proposta do panorama pré desfile é informar o que se aguarda das baterias do Grupo Especial no geral, além de pontuar o que se espera de uma a uma individualmente. Muitas das vezes, além da produção sonora, uma bateria busca passar algum aspecto cultural envolvido ao enredo da escola de forma musical, agregando inestimável valor ao ritmo. A intenção desse conteúdo, portanto, visa garantir ao leitor uma quantidade de informações mínimas, no intuito de guiar os sambistas e apreciadores de ritmo, proporcionando uma absorção musical mais fluída de cada bateria.

No dia do desfile oficial após a passagem de cada escola será publicado um texto, analisando a bateria pela pista e pontuando as passagens pelos módulos de julgadores. Numa análise que, além de exaltar fatores positivos e mencionar peculiaridades de cada ritmo, também fará ponderações de caráter técnico, levando em conta as apresentações das baterias para os jurados. No final de cada dia de desfile será gravado um vídeo contendo um apanhado geral sobre os ritmos, resumindo as passagens de cada bateria como quesito.

Paraíso Tuiuti

tuiuti ensaiotecnico2022 47A estreia de Mestre Marcão na bateria Super Som do Paraíso do Tuiuti apresentará um ritmo pautado pela concepção musical requintada, além de uma sonoridade acima da média. Na parte de trás do ritmo, os surdos de terceira darão o balanço junto a um trabalho ressonante de caixas de guerra e repiques. Tudo musicalmente entrelaçado por um acompanhamento de peças leves de qualidade, que propiciará boa fluência na conversa rítmica. O conjunto de paradinhas da bateria do Tuiuti terão elevado grau de dificuldade, se aproveitando da melodia do samba para produzir arranjos musicais refinados.

Portela

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A bateria Tabajara do Samba de Mestre Nilo Sérgio exibirá seu ritmo identitário, com caixas rufadas tocadas embaixo dando um molho peculiar. O swing das terceiras contribuirá com o ritmo, que ainda contará com peças leves complementando com eficiência no preenchimento da sonoridade. As paradinhas irão mesclar concepção envolvente e complexidade. O destaque sonoro deverá ficar com a bossa do refrão de baixo, que tem tudo para propiciar um balanço único, devido a construção musical feita com esmero. No refrão do meio, uma paradinha unirá o autêntico ritmo portelense à movimentos dançantes.

Mocidade Independente de Padre Miguel

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A bateria Não Existe Mais Quente (NEMQ) de Mestre Dudu levará para a Avenida um ritmo vinculado à sua identidade. O valor sonoro das afinações invertidas de surdos se fará presente, dando amparo musical às caixas tocadas com uma acentuação rítmica genuína. O acompanhamento das peças leves também exibirá características identitárias, como a subida ”cascavel” dos chocalhos, além de uma ala de tamborins de notável nível técnico. Paradinhas terão grau de dificuldade elevado, além de interação. A musicalidade da bossa da cabeça do samba merece menção, bem como movimentos sincronizados na paradinha do refrão de baixo.

Unidos da Tijuca

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A bateria Pura Cadência de Mestre Casagrande trará para a Sapucaí um ritmo pautado por arranjos musicais explorando as variações melódicas do samba tijucano. Uma afinação de surdos caprichada é aguardada, bem como o tradicional toque de caixas de guerra ressonante, uma das marcas da bateria da Unidos da Tijuca. O bom acompanhamento das peças leves auxiliarão no preenchimento da sonoridade, sem contar a contribuição musical nas bossas. Parte dos tamborins entrarão no corredor da bateria da Tijuca, o que ajudará nas retomadas. As paradinhas terão boa concepção musical, além de movimentos dançantes.

Acadêmicos do Grande Rio

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Foto: Reprodução / Instagram

A bateria da Acadêmicos do Grande Rio de Mestre Fafá se apresentará evidenciando uma educação musical destacada. O equilíbrio entre os naipes será notado, assim como a fluência rítmica entre as diversas peças. Cada naipe tocará respeitando a integridade rítmica. Os arranjos musicais serão baseados nas nuances da obra, se aproveitando da melodia do samba para produção sonora. O ritmo da cozinha da bateria da Grande Rio servirá de base musical para um trabalho de valor sonoro de destaque no acompanhamento das peças leves. As paradinhas aliarão boa concepção musical, coesão e espontaneidade.

Unidos de Vila Isabel

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A bateria Swingueira de Noel de Mestre Macaco Branco exibirá um ritmo com as características genuínas da bateria da Unidos de Vila Isabel. As terceiras funcionarão como centradores, dando estabilidade ao toque de caixas reto, além do som tradicionalmente inconfundível dos taróis da bateria da Vila. Tudo isso entrelaçado com um acompanhamento de peças leves de qualidade. As paradinhas serão de grau de complexidade elevado e proporcionarão balanço em alguns trechos do samba. A concepção musical da bossa da segunda do samba merece exaltação, assim como a sonoridade da paradinha da cabeça do samba.

Considerações Finais

As baterias do Grupo Especial do Rio de Janeiro prometem apresentações de alto impacto audiovisual, com nível rítmico pautado pela excelência musical. Concepções musicais extremamente bem elaboradas serão notadas, assim como uma construção sonora baseada em riqueza de detalhes. Isso tudo comprova o nível de ritmo exemplar que será obtido pelas baterias. Nem o processo de pandemia, que prejudicou a continuidade dos ensaios e fizeram as escolas se adaptarem, foi capaz de impedir o franco desenvolvimento rítmico geral. A busca, além de apresentar uma musicalidade aprimorada, será pela interação e vibração popular. É aguardado, portanto, um trabalho rítmico primoroso, assim como contagiante, engrandecendo cada vez mais nossa cultura de baterias.

Entrevistão com Júnior Escafura: ‘Caso algum dia me torne presidente da Portela, preciso estar preparado para honrar o nome do meu pai’

Júnior Escafura, integrante da comissão de carnaval da azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira, possui um vínculo muito especial com a escola. Passando a compor o time em 2019, juntamente com Claudinho Portela e Higor Machado, Escafura também é diretor de harmonia do Império Serrano.

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Com passagens em escolas como a Imperatriz Leopoldinense e a Estácio de Sá, o retorno de Escafura para a Portela foi muito bem visto. Portelense desde que era criança, ele acompanhou de perto seu pai sendo presidente da escola. O diretor recebeu a equipe do site CARNAVALESCO e falou sobre o desafio de estar de frente na direção de harmonia, sobre o julgamento do quesito e também sobre as lembranças que têm com a “Majestade do Samba”.

Qual é o maior desafio de um diretor de harmonia?

“O diretor de harmonia tem que ser aquela pessoa que mais possui tranquilidade dentro de uma escola de samba. O desafio de ser um diretor é você trazer a escola, trazer o componente para o seu lado e fazer ele entender que também é um dos diretores de harmonia da escola. Quando os integrantes compram a sua ideia, compram a briga da agremiação, ele vai desempenhar um papel muito importante, pois ajuda a harmonia”.

O que você pensa sobre o julgamento do quesito harmonia? Tem que subdividir como é em samba, ou seja, canto dos componentes e carro de som?

“Nos últimos anos o quesito harmonia tem sido motivo de bastante polêmica sobre o julgamento. Porque os jurados têm despontuado muito as escolas em função do carro de som. E a gente que trabalha diretamente com os componentes percebemos que eles ficam frustrados quando veem o resultado da nota de harmonia e a escola não recebeu um 10. Isso os deixa se sentindo culpados e é muito ruim para o diretor. Eu entendo que se os jurados estão focando muito no carro de som, temos que pensar em subdividir o quesito, ou talvez mais para frente criar o quesito “carro de som”. Quem sabe? É uma experiência que pode ser feita e estudada, pois as escolas trabalham muito. É difícil ver alguma ala passar sem cantar, porque as agremiações melhoraram bastante esse trabalho de harmonia”.

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Foto: Emerson Pereira/Divulgação

Fazendo uma comparação você concorda que após os dois meses com o samba escolhido o ensaio de rua é o melhor caminho para realmente treinar toda escola?

“O ensaio de rua por si só tem uma pegada de avenida, pois você está tirando o componente do lugar habitual de ensaio (a quadra). Os integrantes já começam a achar que é desfile, e assim você motiva mais o componente , tendo mais espaço para trabalhar e mais evolução. Porque o canto, eles já estão acostumados a ensaiar, mas um trabalho de evolução na quadra não dá pra fazer muito bem, pois não se tem espaço. No ensaio de rua, acabamos tendo isso como aliado e assim trabalhar bem o componente para que ele tenha uma evolução satisfatória do jeito que a escola precisa. Fazer o andamento certo das alas, a estratégia para o desfile, e na rua conseguimos ter isso de modo melhor”.

Qual é sua maior lembrança do desfile de 1995 ?

“O desfile de 1995 é o carnaval da minha vida, inesquecível. Meu pai era presidente da Portela e a lembrança que eu tenho é de sair da Sapucaí com a escola aclamada como campeã de ponta a ponta. Saímos convictos que seríamos campeões naquele ano, porque era a imprensa, o público que lotava o Sambódromo e os componentes da Portela emocionados. É um carnaval que a gente se considera campeão só por causa do desfile, e por isso temos muito orgulho de 1995”.

O que te faz lembrar seu pai na Portela?

“Do meu pai eu lembro a alegria dele, pois ele era uma pessoa muito alegre. O grande mérito dele na minha opinião, quando assumiu a agremiação ele a uniu. Tinham muitas pessoas que estavam afastadas da Portela, como o Noca, Paulinho da Viola, João Nogueira, Nega Pelé (que se tornou rainha de bateria neste ano) e também vários outros que estavam distantes da escola. Quando ele assume, convida todos eles para voltar e quando estamos unidos somos muito fortes. Isso foi mérito do meu pai e a maior lembrança que tenho da gestão dele, pois quando a Portela está unida e caminhando com todos do mesmo lado é difícil segurar”.

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Essa pressão de ser um Escafura e sempre estar cotado para vir como presidente é fácil de lidar ou mexe muito com você?

“Na Portela eu estou desde criança e como o meu pai foi presidente da escola é natural que eu venha sendo apontado como o futuro líder daqui. É motivo de orgulho e felicidade que tenho, pois as pessoas me enxergam como um líder da escola. Fico muito feliz de ter esse carinho, principalmente dos segmentos mais antigos, como a velha guarda e portelenses que me viram crescer. Consigo lidar muito bem com isso, pois não tenho essa pressão e sim uma responsabilidade. Se isso um dia vier a acontecer preciso estar preparado, pois venho há anos caminhando ao lado do meu pai, mesmo sendo novo aprendi muita coisa. Passei por diversos departamentos dentro da escola, fui diretor de quase todos os setores. Venho me preparando para isso, mas quando acontecer tenho que estar preparado para ser um grande presidente, honrar o nome do meu pai, da minha família e dos outros grandes líderes que a Portela teve”.

O que pensa sobre o próximo pleito portelense?

“Penso que a Portela está caminhando para o centenário e que ela precisa estar unida e forte. Todo mundo do mesmo lado, isso que tem que ser a eleição da escola. As pessoas precisam entender que temos que ter um pouco menos de vaidade, e a agremiação tem que ser a principal responsável. A bandeira da Portela, o pavilhão da escola que é sagrado, é mais importante que qualquer pessoa. A eleição tem que ter o clima de harmonia, clima feliz e todo mundo unido, pois estamos caminhando para os 100 anos e seria muito lindo ter todos no mesmo lado, para que a gente faça um carnaval inesquecível”.

O samba de 2022 foi muito criticado, mas vem rendendo muito. Gilsinho e Nilo Sérgio foram fundamentais nessa transformação?

“Aconteceu uma crítica, porque a Portela tem uma torcida muito grande, e tínhamos grandes sambas aqui. Toda a disputa da escola é um pouco polêmica, porque sempre tem grandes sambas e compositores. Dificilmente vai ter um samba que é escolhido por unanimidade. Esse ano, por exemplo, o samba que ganhou era o preferido dos segmentos da escola, do carnavalesco, pois era o que mais atendia a proposta que vamos apresentar na avenida. As pessoas vão ver o carnaval da Portela e vão entender o porque ele foi escolhido. O Nilo, Gilsinho e o trabalho de harmonia muito forte da escola foram fundamentais sim. A comunidade por si só caminha muito bem, eles compram o samba e não tem jeito. O componente vem para a briga, a Portela é assim, pois quando começam a criticar ela se transforma. Quanto mais criticam o samba-enredo, a gente não fica satisfeito em só cantar, e sim em berrar. O ensaio técnico foi a prova disso e surpresa para muita gente, mas para mim não. Pois eu conheço isso aqui e estou desde que nasci, sei muito bem qual é a raiz da escola. Mesmo com a crítica nos unimos e fomos para dentro para fazer um belo carnaval”.

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Qual é o tamanho do desafio na Harmonia do Império Serrano?

“Ser diretor de harmonia do Império Serrano é um desafio muito grande, porque é uma escola muito tradicional e que hoje está na Série Ouro. Mas ela não é de lá, é uma das maiores campeãs do carnaval. Então fui pra lá com a responsabilidade e também sabendo que ela está fazendo um investimento grande para disputar o título que dá o acesso ao grupo especial. É um carnaval muito parelho na Série Ouro, as escolas têm muita dificuldade e o Império também. O presidente Sandro Avelar quando assumiu, uniu a escola e isso foi primordial para o bom trabalho que a agremiação está fazendo. Trouxe grandes nomes como Leandro, Patrick e também o Vitinho como mestre que vai ser considerado como um dos grandes mestres de bateria do carnaval carioca, aposto muito nisso. Vejo hoje um Império muito motivado e feliz. É um orgulho estar trabalhando lá e ajudar a escola a fazer um grande carnaval e sei que a responsabilidade é enorme”.

Série Barracões: Em segundo ano da dupla Bora e Haddad, Grande Rio aposta na energia de Exu para conquistar o carnaval de 2022

Embalada pelo vice-campeonato, por critério de desempate, no último carnaval, em 2020, com a homenagem ao zelador de santos Joãozinho da Goméia, também desenvolvido pela dupla de carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, a Grande Rio dobrou a aposta para o próximo carnaval e mostrará as diversas faces de Exu na avenida Marquês de Sapucaí. Em busca de desmistificar estigmas que rondam a entidade, a Tricolor de Duque de Caxias quer reforçar sua mensagem contra a intolerância religiosa.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Eu acho que existe uma mensagem grande, que é um grito contra a intolerância religiosa e o que hoje se debate como racismo religioso. Então, cantar Exu na Marquês de Sapucaí, com um corpo desfilante de mais de 3000 pessoas para todo público na Avenida e reverberando em lares do mundo todo é um ato político, por excelência e é um ato de afirmação em defesa das religiões de matriz africana, desse complexo de saberes que o Simas nomeia “afroameríndio”, se a gente pensar na Lélia Gonzalez, a gente pode pensar em “amefricanidades”, que nos ajudam a compreender quem somos enquanto nação, que tantas vezes é reduzida, esquecida e perseguida. Os casos de intolerância religiosa estão aí nos jornais, na ordem do dia. Então, é mais um enredo da Grande Rio, e se engana quem pensa que é o segundo porque a escola já cantava isso lá trás, em “Águas claras para um rei negro”, etc e, mais uma vez, a escola sentindo orgulho de saudar sua ancestralidade, essa divindade tão poderosa, esse complexo de saberes tão poderoso, essa energia tão intensa, em defesa do povo de axé e, para além disso, a mensagens se desdobram, é uma grande defesa da nossa capacidade fazer festa, de ser feliz, de ocupar as ruas, enquanto corpos livres, diversos. O enredo celebra isso, destaca a importância de Exu para as manifestações carnavalescas, para as próprias escolas de samba e é, no meu entendimento, um grande passeio por espaços, por tempos, por cenários que falam muito da nossa humanidade, da nossa capacidade festiva, foliônica. Então, acredito que vai ser algo muito potente nesse sentido.”, afirmou Leonardo Bora.

Além disso, ao apontar a mensagem que a escola pretende passar com o enredo, o outro carnavalesco da Grande Rio, Gabriel Haddad, destaca a importância da energia de Exu e do que classifica como “visão exuzíaca de mundo”.

“São as sete chaves, uma delas é a importância dessa grande energia, do poder desta energia Exuzíaca de mundo, no último setor, na última chave, que é olhar para aqueles que muitas vezes são excluídos do convívio, da sociedade, por serem consideradas loucas, mas na verdade, são grandes pensadores, grandes artistas. Eu acho que essa visão Exuzíaca de mundo, essa mudança na visão, que é, por exemplo, o que Elza Soares propões com Exu na escolas, não é só o ensino de Exu nas escolas, mas sim uma mudança de pensamento em relação ao ensino, ao convívio social e isso passa por Jardelina, como Leonardo falou, Bispo do Rosário, Estamira, quando eles se comunicam com Exu, quando fazem essa conexão, tanto artística quanto filosófica, com essa energia Exuzíaca, essa necessidade de olhar para o outro e pensar nessa comunicação, nessa religação a outra pessoa.”, afirmou.

Escolha do enredo

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Foto: Site CARNAVALESCO

Cada carnavalesco tem seu processo e tempo de tomada de decisão para a escolha de um enredo. No enredo da Grande Rio, como bem à Exu, a tomada de decisão ocorreu na rua, logo após a apuração do desfile vice-campeão de 2020. A partir dali, os carnavalescos encorparam a ideia e pensaram um enredo sobre Exu para a Grande Rio, uma escola da Baixada Fluminense, de Duque de Caxias.

“Exu já aparecia em diversos enredos nossos, desde 2018 na Cubango, passando por 2019 e, de certa forma, já estava em nosso imaginário de pesquisa, eu sou neto de um homem que tinha um terreiro de umbanda dentro de casa e acompanhava isso tudo. Essa energia de Exu já me acompanhava, eu já era encantado com tudo e, no dia da apuração de 2020, quando a gente sentou na rua, em uma encruzilhada, nós conversamos e decidimos que o próximo enredo tinha que ser Exu e, dali em diante, a gente começou a pesquisar, a montar o enredo, já que todo enredo é pensando para uma escola de samba específica, nós começamos a pensar no desfile da Grande Rio, para uma escola de samba de Duque de Caxias e isso gerou o “Fala Majeté”, disse Gabriel Haddad.

“A pesquisa do enredo de 2020, a homenagem a Joãozinho da Goméia, levou a gente a um estudo muito profundo sobre a energia de Exu. Então, o casal de mestre-sala e porta-bandeira vinham expressando o padê de Exu libertador, um poema de Abdias do Nascimento, e a gente reuniu um material muito vasto, que possibilitou que essa idéia se fortaleceu muito e tão logo a apuração terminou, a nossa ideia de fazer um enredo dedicado a Exu, em que Exu fosse o protagonista e não apenas um ponto do enredo, ganhou corpo e a gente já começou a pensar possibilidades narrativas, estéticas”.

As diversas possibilidades de Exu

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Foto: Site CARNAVALESCO

Depois de escolhido o enredo, Bora e Haddad partiram para a pesquisa e montagem da obra sobre Exu. Durante esse processo, os carnavalescos constataram algo que os surpreendeu: o caráter inclassificável e multifacetado da entidade, o que abriu diversas possibilidades estéticas para a parte plástica do desfile da Grande Rio.

“O que mais surpreendeu e surpreende, na verdade, não é uma surpresa, mas é uma constatação. Já era o que a gente vinha pensando e a cada dia se torna mais forte, que é o caráter inclassificável de Exu, o caráter multifacetado dessa entidade, dessa energia, desse conjunto de divindades, porque não tem apenas uma cara, uma forma de se celebrar, cultuar e celebrar, é muito próximo da diversidade humana. É um enredo que, a cada etapa da pesquisa, se desenhava um novo cenário, uma nova possibilidade estética. Nas nossas pesquisas, a gente procura o máximo de interlocutores possíveis, não fica restrito só a livros, internet, filmes, músicas, mas, principalmente, a gente busca o diálogo e as narrativas orais, o que já foi explorado no enredo de 2020. Então, é impressionante como é um enredo que mexe com o imaginário coletivo e que mexe com as pessoas, sejam elas iniciadas na religiões de matriz africanas ou não, é um enredo que não passa de maneira despercebida, de alguma forma, ele afeta e mexe com a visão de todo mundo, algo muito forte e envolvente.”, falou Leonardo Bora.

Além disso, também durante o processo de pesquisa, Bora e Haddad se depararam com diversas obras, de músicos, cineastas, etc, que produziram e produzem diversas coisas acerca de Exu. Com tanto material sendo produzido sobre o enredo, ao montar o desfile da Grande Rio, os artistas agregaram coisas até o último minuto possível.

“É muito interessante ver artistas contemporâneos, de diversas áreas da música, do cinema, passando por Exu. Quantos lançamentos ligados a Exu, como livros, a gente tem hoje a narrativa fortíssima do Simas(Luiz Antonio) e, a cada dia, surge uma nova ideia. E é muito parecido com a pesquisa do Joãozinho da Goméia, em que as coisas foram se agregando até quase o dia do desfile e tem acontecido isso com Exu a todo tempo.”, disse Gabriel Haddad.

“A gente foi percebendo que Exu é um grande tema, uma grande potência para se pensar a contemporaneidade. É uma grande chave, como a gente traz no enredo, para se pensar outras formas de enxergar o mundo, pensar outras formas para sociedade contemporânea, Exu é um complexo de saberes, conjunto de conhecimentos que pode pensar novas pedagogias, como propõe o Luis Rufino, que deve ser cantado e ensinado nas escolas, como cantou Elza Soares e que está ocupando os museus e as galerias e nunca saiu das ruas, dos bares, espaços que sentimos tanta falta ao longo do isolamento social. Então, a gente percebeu aquela obviedade que é fascinante, que é o fato de que Exu está em tudo, é uma energia múltipla, que se desdobra, expande, circula, é movimento, é comunicação e essa conexão com personagens que nos fascinam, que nos interessa muito como narradores, como artistas, que é o caso de Jardelina, Stela do Patrocínio, Bispo do Rosário e Estamira. E, no caso da Estamira, não apenas pela ligação evidente com Duque de Caxias, no antigo lixão de Gramacho, mas por essa proposição de uma nova visão de mundo, de um entendimento de uma nova sociedade, lixo, questionando essa ideias e buscando a possível recriação, uma religação com valores ancestrais a partir da evocação de Exu”, completou Bora.

Desafio de fazer Exu

Oxum, Oxóssi, Iemanjá, Ogum e tantos outros orixás já foram homenageados por diversas escolas nas passarelas do samba. Porém, nenhuma escola ainda havia encarado o desafio de fazer Exu, por toda misticidade por trás da entidade. Na entrevista ao Carnavalesco, Leonardo Bora e Gabriel Haddad falaram sobre esse desafio.

“A gente está tocando em questões muito sensíveis e, em um contexto tão inflamado, onde a gente vê um recrudescimento do conservadorismo, inúmeros casos de perseguição, de demonização, a gente sabe que tem um quê de coragem e ousadia nisso, porém, desde o início, a gente quis e não teve nenhum questionamento por parte da escola, nada nesse sentido, ao contrário, a escola abraçou o enredo, que também era um pedido da escola, continuar na linha de enredos que tocam em religiosidades afro-brasileiras”, disse Bora.

“Ao mesmo tempo que é um desafio, é muito prazeroso, pela descoberta de algo novo a cada dia, um artista que esteja produzindo algo novo sobre Exu e a gente não consegue mais colocar no enredo porque o livro já foi entregue e os jurados já estão lendo, mas é sempre gostoso ver que o enredo que a gente está desenvolvimento, está na boca do povo”, afirmou Haddad.

Eu acho que é um enredo que, no geral, possibilita um processo criativo, seja no texto escrito, no visual, no dia a dia de barracão, muito intenso e ao mesmo tempo, muito festivo. É interessante que, às vezes, e isso é um resquício do preconceito e do racismo religioso, a gente escuta que o enredo da Grande Rio é pesado e, no dia a dia de trabalho, barracão, ensaios na quadra, na rua, essas mesmas pessoas falam que, ao mesmo tempo, está tudo tão leve, o trabalho está leve, o clima está leve, a escola está feliz e, aí, a conta não fecha, como a coisa é pesada e leve ao mesmo tempo? Tudo bem que Exu também é ambiguidade, dualidade, é essa dança de opostos, mas o que está por trás dessa noção de peso? Isso é uma coisa que a gente tem questionado muito. É um enredo denso, complexo e, ao mesmo tempo, muito simples. Eu tenho certeza que qualquer espectador, na Sapucaí, em casa ou em qualquer lugar do mundo, vai se identificar com o que vai passar na avenida e é também muito intenso, esse talvez seja um trunfo da escola, é um enredo que nos leva para uma linguagem, uma estética e uma proposta cromática de mais impacto que o Tata Londirá, afinal de contas, é a energia de Exu. Não tem como desenvolver visualmente na avenida, um Exu sem buscar uma linguagem que seja pura energia, que seja uma dose de energia ali na avenida, seria um pouco incoerente com tudo aquilo que a gente tem aprendido com os saberes que envolve essas entidade”, completou Bora.

Trunfos

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Foto: Site CARNAVALESCO

Para buscar o décimo que foi perdido no carnaval de 2020, a Grande Rio não tem um único trunfo, mas sim diversos trunfos. Para os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, além do enredo, o samba, a comissão de frente, o casal e a força da comunidade também serão trunfos da Tricolor da Baixada em 2022.

“O primeiro trunfo eu acho que é Exu de enredo, é Exu puxando o desfile da escola, o grande samba que a escola escolheu, eu acho que o trunfo é esse, o enredo escolhido, que teve uma aceitação incrível dentro da própria escola e, com essa aceitação, a gente já imagina um grande samba, a comunidade comprando esse barulho do desfile, de entrar com garra, os ensaios têm sido incríveis. Então, eu acho que o trunfo do desfile é a escolha do enredo, que levou a um grande samba e, hoje, a comunidade compra e canta a plenos pulmões.”, afirmou Gabriel Haddad.

“O samba é um grande trunfo, uma comissão de frente muito afinada, competente, que tem uma coerência, do Hélio e da Beth Bejani, admirável, um casal de mestre-sala e porta-bandeira, o Daniel e Thaciane, que está voando e o que diz respeito ao nosso trabalho específico, a gente confia muito no trabalho plástico, a gente entende que será um desfile com uma dose de experimentação, de provocação mais acentuada que o Tata Londirá, então, a gente está dobrando a aposta nesse sentido para esse próximo carnaval, é um carnaval muito diferente do que se imagina. Eu acho que são alguns trunfos que podem gerar um bom jogo, já que Exu também rege os jogos, também é o senhor da sorte. Eu acho que também é um grande trunfo essa mensagem que a gente quer passar, a questão da intolerância religiosa, a importância de se cantar Exu e desmistificação dos estereótipos negativos geralmente atribuídos a essa entidade, que é óbvio que tem a ver com o processo colonial e de estruturação da nossa sociedade, extremamente racista. Se o enredo conseguir desconstruir esse estereótipo negativo para essas pessoas que estão vendo, vivendo e vibrando, ao som de um samba profundamente festivo, entendo aquele visual, se entregando, porque o desfile é o todo, a gente espera que tudo se integre e funcione na hora, que a gente tem certeza que a comunidade caxiense fará um grande espetáculo”, disse Bora.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Entenda o desfile

A Acadêmicos do Grande Rio contará o enredo “Fala Majeté! As sete chaves de Exu” através de cinco alegorias e dois tripés, com um corpo desfilante de aproximadamente 3.200 componentes. No desfile, cada setor representará uma das “sete chaves de Exu”.

Abertura/Primeira chave: “Mar de dendê, a grande encruzilhada, que é o oceano atlântico e o quanto esse cruzo de saberes, essa potência de Exu, essa força dessas diversas energias de Exu, porque, em África são diversas energias, não tem uma só energia poderosa Exuzíaca e a vinda dessa energia cruzando a maior encruzilhada do mundo, que é o oceano Atlântico, que, para Exu, é o mar de dendê”, disse Haddad.

“É uma abertura em movimento, em trânsito e em transe, que pensa nessa ideia de encruzilhada, de cruzos culturais, de atravessamentos. É uma abertura descolada da realidade, é uma leitura muito intensa, poética, dessa vinda, de todo esse complexo Exuzíaco, de diversos Exus africanos, que vão se espraiar no Brasil”, declarou Bora.

Segundo setor/chave: “Exu enquanto símbolo de liberdade/corpo coletivo, que se materializa na leitura do Alberto Mussi e da Conceição Evaristo, no mito de Zumbi dos Palmares, que mais do que uma pessoa, é uma ideia, que se organiza e Exu se torna um símbolo de liberdade e resistência”, disse Bora.

Terceiro setor: “Mostra a energia Exuzíaca, já espraiada no Brasil, se manifestando no espaço de troca dos mercados, das feiras, nesses lugares para onde se vai, não apenas para adquirir um produto no sentido capitalista, mas pra se trocar saberes, conhecimentos, histórias e memórias. Para se preparar o padê, que é oferecido a Exu, se vai à uma feira comprar os produtos. Então, é um setor que vai falar desse terreiro,que também é mercado e do mercado, que também é terreiro. Esses espaços se misturam e também expressa essas cruzas culturais”, comentou Bora.

Quarto setor: “Depois dessa afirmação do candomblé enquanto uma religião afro brasileira, a gente vem pensando nas macumbas cariocas, nas umbandas, nas religiões afro brasileiras do nordeste, que fazem esse cruzo, já na manifestação dos Exus-catiço, que é o que mais se aproxima do imaginário popular em nosso enredo. Então, a gente vai ter homenagem ao povo da calunga pequena, Seu Tranca-Rua, Maria Padilha, a Pomba-Gira cigana e tudo mais que está no refrão do meio do samba da Grande Rio”, disse Haddad.

Quinto setor: “É esse povo que pensou essas religiões, pensou umbanda, candomblé e todas as outras religiões que têm Exu como fundamento. A gente apresenta as festas, o que é o povo brasileiro sem festejar? Então, são festas relacionadas a Exu e a essa energia poderosa das ruas. A gente vai desde o maracatu, passando pelas festas populares como os mascarados, os bate-bolas, o bloco Seu sete da Lira, que o Exu rei da Lira puxava um bloco de carnaval, incorporado, no centro do Rio, até uma homenagem a João 30, que foi um dos que levou Exu para avenida em 89, ao surdo de terceiro, que faz a comunicação entre o surdo de primeira e o de segunda”, disse Haddad.

Sexto setor: “Saúda Exu enquanto a “boca que tudo come”. Então, a gente mostra nesse setor, o quanto esse complexo de saberes e essa divindade foram assimilados por artistas e transformados em música, literatura, pintura. Então, nós vamos exaltar figuras como Jorge Amado, que tinha como símbolo da fundação de sua casa um Exu do Caribé e criou uma revista chamada Exu e falava que Exu planta em suas antenas. É nesse setor que a gente saúda a importância de Elza Soares cantar Exu nas escolas e vamos falar de uma série de artistas contemporâneos que estão pensando Exu, ocupando os museus com Exu. A gente falando do texto profundamente Exuzíaco, não à toa o símbolo dele é o infinito, de Grande Sertão Veredas e o samba canta “É poesia na escola e no sertão”, romance esse que nos ajuda pensar a energia de Exu. É um setor que pretende reverberar essa mensagem de Exu para todo cosmo”, disse Bora.

Sétimo setor: “Depois de festejar no terreiro, ocupar as ruas nas noites da Lapa, brincar carnaval e comunicar os saberes para todo mundo, a gente pensa essa ideia de lixo, a linha do lixo é muito comum nas umbandas, todo mundo conhece Maria-Farrapo, Maria-Mulambo e a gente pensa no poder dessa visão Exuzíaca de mundo para pensar”, finalizou Bora.

 

 

 

Carnaval voltou! Primeira noite de desfiles do Grupo Especial emociona sambistas na Sapucaí

Após dois anos e dois meses sem carnaval em razão da pandemia mundial de Covid-19, o povo do samba voltou a se encontrar na noite desta sexta-feira para prestigiar a Elite Carioca do carnaval. A emoção era tanta, que antes mesmo das escolas serem anunciadas pela tradicional sirene, já era possível ver rostos ansiosos e emocionados. Voltar ao solo sagrado depois de tanto tempo foi fascinante.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O site CARNAVALESCO conversou com alguns foliões ainda na concentração e outros ali presentes na Sapucaí sobre esse retorno. Foi unânime o sentimento de emoção, além de muita gratidão por terem a chance de viver toda essa magia mais uma vez.

Luciano Rodrigues, de 37 anos, se mostrou bastante emocionado já na concentração. Mangueirense apaixonado, além de ter sua filha desfilando na escola pela primeira vez, também é um dos passistas da agremiação.

“Vou ser sincero, meu coração está a mil! Estou com as expectativas lá em cima e espero me surpreender ainda mais. Estou aqui entregando minha filha que está estreando na escola e já vou me arrumar para desfilar também. Acredito que esse será o maior e melhor carnaval de todos. Ver a Mangueira aqui pronta, me passa a sensação de dever cumprido, nós vencemos esse período difícil, e finalmente conquistamos o direito de estarmos de volta novamente”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Acompanhando os desfiles de uma frisa, as amigas Neuza Rodrigues e Silvia Palhares, também demostraram muita felicidade de estarem vivenciando esse momento novamente.

“Estar de volta é libertador. Essa Avenida é o templo da nossa negritude, da nossa resistência. Estou muito feliz também em ver que os enredos desse ano são todos ou sobre os povos originais, ou sobre a cultura afro-brasileira. Foi triste demais esse tempo longe, cheguei a acreditar na possibilidade de não ter mais carnaval”, disse Neuza.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Está sendo muito bom encontrar com as pessoas novamente. O brasileiro tem essa necessidade do calor humano muito mais do que qualquer coisa, literalmente. Independente de escola de samba, o ser humano precisa sair, encontrar pessoas, trocar afeto. Sem dúvida alguma o que mais me entristeceu nesse período foi a falta de calor humano, que bom finalmente estar podendo me saciar disso”, declarou Silvia.

Amante do carnaval há mais de 30 anos, Maria Isaura Neves, de 70 anos, não mediu palavras em mostrar seu contentamento com a volta dos desfiles. A tijucana apaixonada contou que nesses dois anos se sentiu bastante depressiva, e que a falta do carnaval refletiu de forma bem caótica em sua vida.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Eu sou apaixonada por isso aqui, me sinto em casa. Foi triste e doído ficar longe, confesso. Estou feliz que agora estamos todos seguros, vacinados, e prontos para festejar como deve ser. A parte triste é que passa muito rápido, amanhã já termina”, lamentou a costureira, mas que promete aproveitar bastante esses dois dias de folia.

O maranhense Antônio José Rodrigues também marcou presença mais uma vez. Morador do Rio de Janeiro há mais de 40 anos, o radialista afirmou nunca ter perdido um carnaval desde que se mudou para cá.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Eu amo isso daqui, a cada ano que passa, a minha presença é certa. Foi triste ficar dois anos longe, confesso que senti muita falta, não via a hora de começar tudo de novo. Não torço exclusivamente para nenhuma escola, gosto de todas e tenho um carinho especial por algumas, mas sou da opinião de que vença a melhor”.

Alex Escobar e Maju Coutinho homenageiam operários do samba em ensaio fotográfico

“Alô, povão, agora é sério!”. O grito estava guardado no peito e na garganta por mais de dois anos. Neste período, a classe trabalhadora diretamente ligada à feitura do maior espetáculo da Terra foi a que mais sofreu com a suspensão das atividades de onde tiravam seu sustento. E numa preparação intensiva para apresentar os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, Alex Escobar e Maju Coutinho visitaram todos os 12 barracões das agremiações na Cidade do Samba, se aproximaram desses profissionais e fizeram um ensaio fotográfico para homenageá-los.

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Foto: Divulgação

“Procurei absorver aquela energia, sentir o que se passa na cabeça de cada um desses operários do samba e foi muito especial. Entre todos os envolvidos com o carnaval, eles foram os que mais sofreram com a pandemia. Deu pra sentir a força do motorista que leva o carro até a Avenida, que é uma coisa inacreditável”, explica Escobar. Maju faz coro sobre a importância de valorizar esses profissionais: “O carnaval não alimenta só a alma dos integrantes das escolas, ele também é uma indústria que bota comida na mesa de muita gente que passou por um período difícil nessa paralisação por causa da pandemia, que mostrou resiliência e seguiu na luta. Esse retorno é importantíssimo para alimentar também o espírito carnavalesco e para movimentar essa indústria que é a nossa Hollywood”.

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Foto: Divulgação

No ensaio, os dois assumiram, com reverência, o posto de costureiras, aderecistas e conferiram de perto a trabalho de soldadores. Nas agremiações uma verdadeira romaria aconteceu a cada visita. “Esse é o meu 9º carnaval como âncora das transmissões, mas neste ano com uma diferença fundamental, que é o fim da espera. Todas as escolas estão muito entusiasmadas, mas agora está mais do que o normal, numa ansiedade pela volta do desfile. E junto com isso temos a chegada da Maju. Ela, como mulher preta, gera uma identificação. Quando ela chegava nas escolas, o povo preto queria dar um abraço, tirar uma foto, recebê-la de braços mais abertos ainda. Ela é encantadora, cativa todo mundo”, elogia ele sobre a colega, que faz sua estreia na transmissão dos desfiles.

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Foto: Divulgação

O comentarista Milton Cunha acredita que este será o Carnaval da catarse. “As pessoas já estão exaustas de chorar, de enterrar seus mortos, de pensar na dor. Acho que a catarse vai ser hoje eu não sofro, hoje eu vou me acabar, é hoje que eu canto, eu grito, eu desmaio, eu acordo. O carnaval vai ter uma pulsação dionírico de muita alegria, muita felicidade. Chegou a hora de botar a fantasia, a pluma e sair celebrando a vida”. Pretinho da Serrinha concorda com o parceiro de transmissão: “Por causa dessa espera, pela indecisão de vai ter ou não vai ter, o primeiro momento vai ser de tensão, de curiosidade. Mas assim que começar vai ser aquele emoção e com certeza vai ser um dos maiores carnavais da nossa história. Carnaval vem cumprir seu papel que é de trazer alegria e nos fazer esquecer por algum momento dos problemas”, garante.

Fotos: alegorias da Vila Isabel na área de concentração

Fotos: alegorias da Unidos da Tijuca na área de concentração

Fotos: alegorias da Portela na área de concentração

Fotos: alegorias do Tuiuti na área de concentração