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Domingo marcado por erros deixa decisão do título para segunda-feira

A primeira noite de desfiles do Grupo Especial foi marcada por falhas das escolas, inclusive da Grande Rio, que desfilou defendendo pela primeira vez um título do principal grupo do carnaval carioca. A Tricolor de Caxias fez um desfile com alto rendimento estético mas teve problemas de iluminação das alegorias e de evolução. Já a Mangueira se colocou como grande desfile da noite pelo avassalador rendimento do samba, realizando o tão esperado reencontro entre a Verde e Rosa e a Bahia, ainda que tenha pecado justamente na parte plástica.

O Salgueiro também apresentou nível alto em conjunto estético mas errou muito em evolução devido ao gigantismo das alegorias. Já Mocidade e Tijuca preocupam por apresentarem problemas sérios em evolução e na plástica. O Império Serrano retornou ao Grupo Especial em seu melhor desfile neste século, se colocando firme para permanecer na elite do carnaval carioca. Veja como foram os desfiles.

Império Serrano

Coube ao Império Serrano a missão de dar o pontapé inicial aos desfiles do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí em 2023. Atual campeão da Série Ouro, o Reizinho de Madureira mostrou credenciais que fazem com que o torcedor sonhe com a permanência na elite do carnaval carioca. Com um conjunto visual imponente, o Menino de 47 pisou na avenida disposto a realizar seu maior carnaval neste século, ao final do desfile a sensação é de que a escola cumpriu o objetivo. Como esperado, o enredo em homenagem a Arlindo Cruz emocionou não só os imperianos, mas também a grande maioria do público presente na avenida. A presença do homenageado no último carro coroou a bela exibição da escola. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Grande Rio

Pela primeira vez na história a Grande Rio entrou na Sapucaí para defender um título. Mais uma vez a plástica da dupla Leonardo Bora e Gabriel Haddad impressionou com acabamentos primorosos e soluções fora do lugar comum, além da fácil leitura. Porém, a escola teve muitas falhas em evolução, abriu buracos, além de problemas com a iluminação do segundo carro e do segundo tripé. O samba, em noite inspirada do intérprete Evandro Malandro, foi um ponto alto da noite com bom canto da comunidade e do público. Com o enredo “ Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, para te ver, para te abraçar, para beber e batucar!”, a Grande Rio foi a segunda agremiação a desfilar na primeira noite do Grupo Especial, encerrando seu desfile com 1h09. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Mocidade

Terceira agremiação a cruzar o Sambódromo no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, a Mocidade Independente de Padre Miguel realizou uma apresentação irregular. Enquanto o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo Jesus e Bruna Santos, e o intérprete Nino do Milênio sobressaíram positivamente; a evolução problemática e a falta de acabamento nas alegorias prejudicaram o desempenho da verde e branco de Padre Miguel, que encerrou sua passagem com 68 minutos. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Unidos da Tijuca

Quarta escola a entrar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “É onda que vai, é onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Em 1 hora e 10 minutos, o desfile da escola do Borel foi prejudicado pelos erros apresentados em evolução e os problemas de acabamento nas alegorias. A exuberante Comissão de Frente de Sérgio Lobato e a bateria “Pura Cadência” de Mestre Casagrande foram os destaques da escola. O valente desempenho do carro de som da escola, apesar dos problemas no som da pista, foi notório e o enredo da Amarela e Azul teve fácil leitura. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Salgueiro

Na estreia do carnavalesco Edson Pereira, a Academia do Samba trouxe carros enormes, com ótimo apuro visual, fantasias com a mesma excelência estética e com grande acabamento e volume, mas o gigantismo das alegorias causando problemas de evolução como a constituição de clarões na pista e uma escola por muito tempo parada. A comissão de frente coreografada por Patrick Carvalho foi um ponto alto da noite, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei Santos e Marcella Alves. A leitura do enredo nas fantasias e alegorias e seu desenvolvimento lógico gerou dificuldades para o público. Quinta escola da primeira noite do Grupo Especial, o Salgueiro apresentou o enredo” Delírios de um paraíso vermelho”, encerrando seus desfile com 1 hora e 10 minutos. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Mangueira

Desde que os primeiros versos do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira ecoaram na Marquês de Sapucaí, sem nem mesmo a escola ter saído da armação, se tornou nítida a força da obra. Nas arquibancadas e frisas, o público presente no Sambódromo cantava junto do carro de som a composição escrita por Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. Era um início de um desfile arrebatador. Com o enredo “As Áfricas Que a Bahia Canta”, a verde e rosa fez uma apresentação sem grandes erros, baseada também no desempenho inspirado da bateria e na harmonia impecável, despontando na briga pelas primeiras posições. A escola foi a última agremiação do primeiro dia do Grupo Especial e deixou a pista de desfiles já com dia claro, aos 70 minutos. LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA DO DESFILE // VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Vila Isabel 2023: imagens das alegorias na concentração do Sambódromo

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Opinião: análise do primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio no Carnaval 2023

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Freddy Ferreira analisa as baterias no primeiro dia do Grupo Especial do Rio

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Mocidade Unida da Mooca supera provações e brilha em homenagem ao Santo Negro da Liberdade

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A Mocidade Unida da Mooca foi a última escola a se apresentar na noite deste domingo, 19 de fevereiro, em desfile válido pelo Grupo de Acesso I do Carnaval de São Paulo 2023. Com destaque para o emocionante exemplo de superação de toda uma comunidade que se uniu para se recuperar dos danos causados por uma tempestade, a agremiação da Mooca trouxe bela plástica e canto imponente. Problemas com a alegoria da comissão de frente, porém, podem comprometer o julgamento da MUM, que desfilou este ano com o enredo “O Santo Negro da Liberdade”.

Comissão de Frente

Certamente uma das mais belas comissões de frente a desfilar no Carnaval de São Paulo em 2023. Um elemento alegórico simbolizou uma capela que existe no bairro da Liberdade, onde Francisco José das Chagas foi condenado à morte pela forca. O protagonista, conduzido por soldados, é levado para cumprir a sentença sob olhares desesperados de cidadãos que vinham andando na Avenida. Quando os soldados executam a sentença, a corda da forca se rompe, e “Chaguinhas” foge protegido pelo povo, mas em seguida é recapturado e novamente levado à forca. Mais uma vez a corda se rompe, mas dessa vez os soldados o açoitam e Chaguinhas cai sob um alçapão. Em seguida, surge Oxóssi acompanhado de entidades femininas, e do alto da capela, Chaguinhas reaparece sendo reverenciado como santo.

Uma atuação emocionante da parte do grupo cênico. A atuação causou impacto no público, com muitas pessoas se emocionando diante da dramatização. Saudações ao público foram executadas corretamente, e a apresentação da escola ocorrendo ao final das passagens do samba. Uma atuação magnífica que será lembrada por muito tempo.

O único porém não teve relação com os atores. O elemento alegórico apresentou problemas no início do desfile e sofreu alguns travamentos, comprometendo a evolução da MUM por todo o desfile.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Mocidade, formado por Patrick Vicente e Graci Araújo, desfilaram com um belo conjunto de fantasias em tons de vermelho. Uma das mais belas apresentações de casais da temporada, marcada por conexões diretas entre o cortejo do Mestre-Sala com os giros da Porta-Bandeira, como se fossem um único passo mais grandioso. Era explícita a sintonia afinada da dupla, que desfilou com muita elegância levantando aplausos de todo o público até mesmo fora dos momentos de apresentação do pavilhão. Fantástico desempenho do casal.

Harmonia

Com motivação reforçada após a superação do terrível acidente ocorrido com as alegorias na quarta-feira, a comunidade da Mooca fez ecoar pelo Sambódromo do Anhembi um canto forte como um desabafo. O belo samba ajuda muito, mas era explícito nos componentes a vontade de provar que a escola ressurgiu diante das adversidades. Houve aposta de dois apagões na bateria que foram bem respondidos, coroando o excelente desempenho do quesito.

Enredo

A história de Francisco José das Chagas é uma daquelas incríveis histórias espalhadas pelo Brasil que muitas vezes é ignorada. O santo popular, padroeiro do bairro da Liberdade, localizado no centro da capital paulista, era um cabo do exército brasileiro no ano da independência que liderou um motim reivindicando o pagamento de salários atrasados por cinco anos, mas que foi condenado à forca e teve sua sentença executada onde hoje fica o Largo da Liberdade. Dizem os registros que a sentença precisou ser executada três vezes, pois nas duas primeiras a corda simplesmente se rompeu. Na primeira, o público presente clamou por sua liberdade (daí o nome do bairro). Na segunda, louvou o ocorrido como um milagre, mas mesmo assim houve uma terceira tentativa a qual Chaguinhas se manteve vivo, o que fez os soldados executores da sentença o assassinarem a pauladas.

A Mocidade Unida da Mooca contou no desfile como Chaguinhas também é saudado na umbanda como entidade, que viveu em uma época na qual o país ainda não havia liberto os escravos e era afrodescendente. Uma narrativa um tanto complexa para quem não conhece a história mais a fundo, e com a ausência do nome do homenageado no título do enredo, na letra do samba e até mesmo em elementos do desfile fizeram da apresentação da MUM algo mais para se admirar áudio e visualmente do que para se compreender da parte de quem não faz parte da bolha do Carnaval. Nesse aspecto, o enredo foi de fato deficiente.

Evolução

A evolução da Mocidade foi muito comprometida pelos problemas apresentados pelo elemento alegórico da comissão de frente no início do desfile. Somado a isso o discurso do presidente Rafael Falanga, que consumiu ao menos cinco minutos da cronometragem, fez com que a escola precisasse acelerar muito o passo para evitar riscos de estouro de tempo. Até nesse aspecto houve uma falha da direção de harmonia, tendo em vista que a MUM finalizou seu desfile com 56 minutos, sobrando ainda outros quatro. Não foi um dia feliz para este quesito técnico da comunidade da Mooca.

Samba-Enredo

O samba da Mocidade é muito belo e criativo. Uma letra que transforma a história de Chaguinhas e a devoção ao santo popular em uma narrativa épica. Muito bem defendido pela dupla de intérpretes Gui Cruz e Clayton Reis, o samba ecoou forte por todo o Sambódromo do Anhembi na voz do valente coral da Mooca. Excelente desempenho do quesito neste Carnaval.

Fantasias

As fantasias da MUM procuraram contar a trama do enredo através da penitência sofrida por Chaguinhas, sua ascensão a santo popular e a representação que seu legado deixou no bairro que se tornou padroeiro. Um conjunto luxuoso, volumoso e muito belo marcou todo o desfile da Mocidade, que plasticamente se apresentou impecável.

Alegorias

Um milagre aconteceu na forma do intenso mutirão em torno da recuperação dos dois carros alegóricos gravemente danificados pela tempestade de quarta-feira. Não apenas eles desfilaram de maneira imponente e bela como vieram praticamente impecáveis do início ao fim do desfile. Um pequeno elemento no segundo carro, porém, pode ser penalizado pelos jurados das torre da direita da pista, que é um dos terços das esculturas de orixás cuja cruz caiu. As alegorias ilustraram a trama contada pelo samba de maneira bem encaixada, sendo certamente um motivo de orgulho para marcar a história da Mocidade Unida da Mooca.

Outros destaques

A bateria “Chapa Quente” do Mestre Dennys foi uma das poucas neste domingo a apostar em apagões. Fica fácil confiar tal aposta quando uma comunidade responde com tanto vigor. Além disso, bossas sempre muito bem aplicadas pelos ritmistas marcaram a apresentação da escola. A Rainha Aline Ertogrel foi outro belo destaque conduzindo seus súditos com a elegância e beleza dignas da realeza que representa.

Mas o grande destaque certamente foi algo que não aconteceu no desfile. A superação da Mocidade Unida da Mooca em colocar um Carnaval na Avenida após tantas provações é comovente. Os problemas ocorridos ao longo da apresentação podem talvez comprometer as chances da sonhada classificação para o Grupo Especial, mas só dos portões terem se fechado com a escola tão bela dará uma motivação ainda maior para a MUM vir cada vez mais poderosa. O que a comunidade da Mooca fez nesses últimos dias é digno de escola gigante. Parabéns a todos os componentes e voluntários que ajudaram pelo maravilhoso trabalho de superação.

Samba-enredo brilha em desfile avassalador da Estação Primeira de Mangueira

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Por Diogo Sampaio

Desde que os primeiros versos do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira ecoaram na Marquês de Sapucaí, sem nem mesmo a escola ter saído da armação, se tornou nítida a força da obra. Nas arquibancadas e frisas, o público presente no Sambódromo cantava junto do carro de som a composição escrita por Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. Era um início de um desfile arrebatador. Com o enredo “As Áfricas Que a Bahia Canta”, a verde e rosa fez uma apresentação sem grandes erros, baseada também no desempenho inspirado da bateria e na harmonia impecável, despontando na briga pelas primeiras posições. A escola foi a última agremiação do primeiro dia do Grupo Especial e deixou a pista de desfiles já com dia claro, aos 70 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

Intitulada “O Cortejo Negro de Magueira”, a comissão de frente assinada pela coreógrafa Cláudia Motta, estreante na agremiação, trouxe para Avenida a reunião de todos os símbolos estéticos, musicais e personalísticos baianos que são frutos de recriações de áfricas promovidas pelos negros. Manifestações como os Cucumbis, Afroxés e Blocos Afros foram retratados ao longo da coreografia, que tinha seu ápice quando a parte de cima do tripé que acompanhava os integrantes se abria e revelava a figura de Oyá Onira, uma qualidade de Iansã responsável por conduzir o enredo da Estação Primeiras.

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LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS SOBRE O DESFILE
* Componentes da Mangueira aprovam renovação dos segmentos da escola e se mostram confiantes
* Quarta alegoria da Mangueira enaltece os blocos afro do carnaval da Bahia
* Velha-guarda brilhou como a “Realeza Negra” ao deixar de lado o traje tradicional
* Baianas da Mangueira se inspiram na força das Yabás para exaltar a negritude
* Cucumbis: festa dos escravizados é homenageada no abre-alas da Mangueira
* Em enredo com forte presença musical, ala de compositores da Mangueira representou um dos redutos do samba na Bahia no século passado

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Pela primeira vez dançando juntos, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus Olivério e Cintya Santos fez uma apresentação marcada pela velocidade e intensidade, que mesclou o bailado tradicional com passos coreógrafos, com direito a muitos giros e rodopios. Os dois vieram simbolizando a orixá Oyá Onira em um figurino rosa e prateado.

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Harmonia

O canto forte da comunidade mangueirense que já era visto nos ensaios de rua e de quadra, durante o período de pré-Carnaval, se confirmou na Avenida. Do início ao fim da apresentação, os componentes entraram o samba composto por Lequinho e companhia com garra e intensidade. Até mesmo alas coreografadas, que costumam apresentar um canto mais fraco, berraram a obra na Avenida, como foi o caso do grupo performático “A Estética Timbaleira”.

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Enredo

Desenvolvido pelos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, o enredo “As Áfricas Que a Bahia Canta” trouxe para Marquês de Sapucaí a construção das visões da África no território baiano, por meio da musicalidade e das instituições carnavalescas negras, com destaque para o protagonismo feminino e questões como o racismo. Essa proposta foi bem contada ao longo da apresentação, graças a fácil leitura das alegorias e fantasias, somadas a letra do samba que soube sintetizar bem o que era mostrado na Avenida.

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Evolução

Ao longo dos 70 minutos de desfile, a Estação Primeira de Mangueira realizou uma evolução solta e alegre, sem erros. Apesar dos componentes estarem mais livres dentro das alas não houve embolamento ou abertura de clarões em nenhum momento. Além disso, a escola manteve um ritmo mais intenso, porém sem correr.

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Samba-Enredo

Celebrado por muitos desde a disputa de samba, o hino oficial da Estação Primeira de Mangueira mostrou no desfile oficial o tamanho de sua força. Rendendo um canto forte de alas e das arquibancadas, a obra embalou a apresentação avassaladora da escola, sendo o seu principal combustivel. A boa performance da dupla de intérpretes Marquinhos Art’ Samba e Dowglas Diniz no carro de som, aliada a ousadia da bateria em bossas e paradinhas, foram fundamentais para o sucesso do samba na Marquês de Sapucaí.

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Alegorias e Adereços

Após seis carnavais e dois títulos de campeã do Grupo Especial, o casamento entre Mangueira e o carnavalesco Leandro Vieira chegou ao fim após o desfile do ano passado. Com isso, a escola foi ao mercado e trouxe da Série Ouro Annik Salmon, que estava na Porto da Pedra, e Guilherme Estevão, que havia assinado por dois anos o Império da Tijuca. A dupla, que nunca havia trabalhado junto, assumiu a missão e deu uma nova cara estética para verde e rosa.

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O abre-alas, intitulado “Cucumbis: Festa Para a Rainha”, já refletiu esta mudança no visual. Volumoso, com cores mais fechadas e um aspecto rústico, a alegoria retratou a festa baseada nas recordações que os negros escravizados tinham de seu continente de origem: a África.

O segundo carro, de nome “Embaixada Africana – Manifesto em Forma de Arte”, manteve o nível estético da primeira, mas com um visual um pouco mais barroco. Todo em dourado e com esculturas movimentadas, a alegoria homenageou o clube negro e seu desfile de 1897, inspirado na “Revolta dos Malês” e na resistência da Etiópia frente ao imperialismo do continente europeu. Apesar da beleza, a ausência de uma composição em um queijo da lateral esquerda pode causar a perda de décimos.

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Já terceira e quarta alegorias, chamadas “Afroxés – Pro Santos Pelas Mãos das Mães” e “Blocos Afros – A África que a Bahia Criou”, retomaram o aspecto rústico. Em ambas, o trabalho caprichado de esculturas e uso de figuras geométricas chamou a atenção. Fechando o conjunto e o quesito, o quinto carro, intitulado “Axés”, veio saudando os ventos de Oyá que sopraram em direção a Cidade Maravilhosa e fizeram dela o lugar do samba.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Estação Primeira de Mangueira seguiu a mesma linha estética das alegorias, apresentando figurinos bem acabados e com soluções criativas. Materiais considerados baratos como a palha foram bem empregados em indumentárias como as das alas “A Fala Que Faz – Preceitos Em Arte” e “Ilê Aiyê – A Liberdade da Arte Negra”. Além disso, recursos poucos usuais no Carnaval foram empregados na confecção de figurinos e surtiram efeito, caso do uso das espadas de São Jorge nas roupas da ala “Cortejo de Rotins”.

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Outros Destaques

Reinando há quase uma década à frente dos ritmistas da “Tem Que Respeitar o Meu Tamborim”, Evelyn Bastos é sempre um acontecimento à parte durante o desfile da Estação Primeira de Mangueira e este ano não foi diferente. Homenageando Oxum, a beldade incorporou a personagem, sem abandonar o samba no pé, e esbanjou toda a beleza da mãe das águas doces.

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Mas não foi só Evelyn que arrebatou o público não. A bateria da Estação Primeira levantou a galera das arquibancadas e proporcionou um verdadeiro espetáculo na Marquês de Sapucaí. Pratas da casa e estreando no comando dos ritmistas, os mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto foram responsáveis pelo melhor desempenho da “Tem Que Respeitar o Meu Tamborim” dos últimos anos, com diversas bossas e paradinhas ousadas, todas elas bem executadas.

Componentes da Mangueira aprovam renovação dos segmentos da escola e se mostram confiantes

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Mangueira02 4A Estação Primeira apostou em jovens talentos para integrar seu time para o carnaval 2023. A porta-bandeira Cintya, o intérprete Dowglas, os carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon e o mestre de bateria Taranta Neto são exemplos dessa valorização. Os componentes da escola atribuíram a chegada da presidente Guanayra Firmino como fator determinante para que mudanças ocorressem dentro da verde e rosa.

O estudante de jornalismo Gibson Romão contou que a expectativa em torno do desfile foi construída por conta do pré-carnaval de aproximação da comunidade com suas origens, ele exaltou as escolhas da presidente Guanayra Firmino em dar oportunidade para figuras que se destacaram na Série Ouro e também dentro da própria Mangueira.

“A expectativa é alta, acho que a gente vai se surpreender bastante, tanto pelos dois carnavalescos que estão agora na escola, quanto pelo casal. A Cintya, que veio de uma outra escola, acho que a Guanayra também foi uma presença que ajudou muito a gente, hoje estamos com uma expectativa muito grande, acho que vai ser um enredo muito bonito, um samba que encanta, foi legal, que tá bacana, estou muito ansioso, é meu primeiro ano desfilando e tenho certeza que vai ser muito legal, eu moro morro da Mangueira, então acho que tem muita coisa conectada aí, a galera gostou do enredo, fala sobre África e Bahia, é sempre bom e importante”, disse Gibson.

Mangueira03 4A diarista Rejane Batista, de 55 anos, contou que não se lembra mais do número de vezes que desfilou pela sua escola, porém, ela destaca que esse ano tem um diferencial, o enredo. Para a diarista, o retorno da africanidade na escola foi fundamental para reacender a vontade de defender novamente as cores verde e rosa na avenida, a fantasia ”

“Como sempre, estou desfilando novamente pela minha escola do coração, vamos brigar por esse título, tenho certeza. Estou com uma expectativa maravilhosa, que a gente vai conseguir, esse campeonato, a chegada da presidente Guanayra mudou tudo, ela passou a olhar pra comunidade com mais respeito, olhar pra dentro da comunidade mesmo, respeitar, pra gente é legal ver figuras de dentro do morro ganhando destaque, o cantor, os mestres de bateria, a gente olha e se enxerga. Eu pensei em não desfilar, mas depois da divulgação do enredo tive a certeza que precisaria estar com a minha escola”, contou Rejane.

Viviane Martins, pedagoga, de 32 anos desfilou na segunda ala da escola, denominada “Cortejo de Rotins”, a ala foi coreografada e mostrou a construção dos cortejos negros na Bahia, referenciando aos préstitos originais das Áfricas. A pedagoga também ressaltou a importância da escola olhar pra dentro e valorizar os novos talentos, além de destacar que o enredo é um resgate das raízes ancestrais.

Mangueira01 4“Eu venho na ala coreografada pelo Fábio Batista, sou mangueirense desde que eu me entendo por gente, minha mãe e meu pai já desfilavam na Mangueira, e esse ano a Mangueira vem de novo mais uma vez com o enredo muito forte e que tem tudo pra levar o título. Quando a gente fala sobre as Áfricas que a Bahia canta, a gente volta o olhar para nossa ancestralidade, para as raízes, para toda a questão do próprio movimento preto dentro do Rio de Janeiro que tá totalmente entrelaçado à cultura baiana mesmo, minha mãe é baiana e a gente sabe bem como é isso. Então, esse enredo me pegou desde o início assim e bate justamente com o fato da escola estar retornando às suas origens, voltando a olhar pra própria comunidade, valorizando quem é de dentro da escola, a escola é uma família. Quando você olha pra baixo, você consegue ir mais longe, vai dar certo”, disse Viviane.

Quarta alegoria da Mangueira enaltece os blocos afro do carnaval da Bahia

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Mangueira01 3Com o enredo “As Áfricas que a Bahia Canta”, desenvolvido pela dupla de carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, a Estação Primeira de Mangueira pisou forte na passarela do samba para exaltar toda a negritude e ancestralidade baiana. A quarta alegoria da Verde e Rosa de São Cristóvão foi batizada de “Blocos Afros – A África que a Bahia Criou”, encerrando o quarto setor: “O Florescer da Reafricanização do Carnaval de Rua”.

A alegoria enalteceu a revolução estética, política e racial dos blocos afro do carnaval baiano. Uma grande escultura de uma mulher negra com o rosto pintado e uma roupa de estamparia de zebra ocupava o centro da alegoria, que trazia muitos búzios e referências aos orixás. A parte inferior do carro veio em estilo tribal, com as cores do bloco Olodum: preto, vermelho, amarelo e verde.

Mangueira05 2Thayneise, de 33 anos, é gerente de projetos e desfilou como composição do carro, juntamente com outras mulheres negras que representaram as ‘Deusas de Ébano’ do bloco Ilê Ayê. “Nós somos um grupo que regularmente sai em blocos afro do Rio de Janeiro como o Òrúnmilá e o Lemi Ayò. E aqui a gente tem a oportunidade de unir os dois melhores mundos, que é o bloco afro e o carnaval da avenida”.

Laiza Bastos, de 37 anos, foi outra mulher negra que desfilou de composição no quarto carro, com a fantasia denominada ‘Resistir é Lei, Arte é Rebeldia’. “Esse é um carro de muita representatividade para exaltar a beleza da mulher preta, que os traços negróides são bonitos, o cabelo crespo, a pele retinta, o nariz mais largo”. Elas vieram reproduzindo na avenida os passos do Ilê Ayê.

Mangueira02 3O destaque central Cristiano Morato, de 50 anos, é designer e desfilou na parte frontal da alegoria com a fantasia ‘Muzenza: O Leão Indomável’. “Na verdade esse carro vem representando vários blocos afro do carnaval da Bahia, e um dos blocos mais importantes que tem em Salvador é bloco Muzenza do Reggae”.

Há mais de dez anos desfilando na Mangueira, Roberto dos Santos, de 55 anos, confessou que estava ansioso para entrar na avenida. “Mesmo depois de dez anos é sempre uma coisa nova, é sempre uma magia, é como se fosse a primeira vez”. Ele veio como destaque da parte traseira da alegoria, vestindo uma fantasia inspirada em Oxalá.

Velha-guarda brilhou como a “Realeza Negra” ao deixar de lado o traje tradicional

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Mangueira05 1Acostumados a desfilar o traje tradicional, a velha-guarda, neste ano, desfilou representando a “Realeza Negra” e toda sua ancestralidade. A fantasia era de um verde imponente e luxuosa, com uma capa, simbolizando a realeza da festa de Cucumbis. A ideia da inovação foi bem recepcionada pelos integrantes da ala.

A presidente da ala, dona Gilda Moreira, comentou que a vestimenta habitual é mais confortável que a usada para o desfile, mas tinha que ser desse novo jeito para este enredo.

“Eu me sinto com o meu pézinho na África, porque eu vim de lá. A bisavó, a Tia Fé, é fundadora da Mangueira e veio da África. Tem tudo a ver. Inclusive, o samba fala disso. ‘No ilê da Tia Fé’.

Mangueira07‘Ilê’ é casa, quer dizer casa da Tia Fé. É minha cor, é o cabelo black, coroa de preto. A velha-guarda está legal, muito linda. Saiu da mesmice, só terno e cartola, taê, luva e bolsa. Vamos variar”, comentou a presidente que está no segmento desde 1979.
Marilda Florentino, de 70 anos, completou 50 anos de Mangueira neste ano e, há 10, faz parte da velha-guarda. Segundo ela, a fantasia escolhida é muito quente, mas “lindíssima”. A integrante comentou que a roupa era leve e amou vir como realeza.

“Faz mais de 50 anos que eu desfilo na Mangueira. Estou aqui desde criança. É a primeira vez que a gente vem de fantasia, já que viemos sempre de blazerzinho. Eu estou me sentindo uma rainha, me sentindo a princesa”, brincou Maria Helena, de 69 anos.

Mangueira08Acreditando no impacto dessa inovação, o mangueirense Antônio Nemeczyk está curtindo muito a roupa da velha-guarda. O que o deixa mais confiante é a integração com o enredo que velha-guarda teve desta vez.

“Mangueira e Bahia têm tudo a ver. Eu comecei a desfilar em 1984, mas eu sou nascido e criado em Mangueira há 60 anos. Quando Mangueira fala de Bahia, com certeza a escola vem na frente. Mangueira e Bahia são uma coisa só”, contou o componente.

A velha-guarda sentiu uma conexão profunda com a proposta da ala. Como disse a integrante do segmento Mara Lúcia de Paula, de 68 anos, o conceito tinha tudo a ver com a raça. A realeza negra da Mangueira veio se divertindo e brincando muito no Sambódromo.

Baianas da Mangueira se inspiram na força das Yabás para exaltar a negritude

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Mangueira03 1 A Estação Primeira de Mangueira encerrou a primeira noite de desfiles de domingo do carnaval carioca trazendo para a Sapucaí o enredo “As Áfricas que a Bahia Canta”. O primeiro setor da Verde e Rosa era “A Semente do Recriar D’África em Cortejo”, contando um pouco das Áfricas que a Bahia recebeu por conta da diáspora.

“O Carnaval Preto Pós-Abolição” foi o tema do segundo setor do desfile da Mangueira, falando do início da ancestralidade negra no carnaval da Bahia. É nesse contexto que a ala das baianas está inserida no enredo, denominada de “Pândegos D’África – O Préstito da Rainha Negra”.

Mangueira05A roupa mesclava tons de lilás, roxo, prata, dourado e azul piscina; fazenda uma homenagem ao clube negro chamado Pândego da África, criado no ano de 1897. Toda a feminilidade e a força das yabás serviram de inspiração para a confecção do exuberante figurino das baianas.

“Meu grande sonho era ser baiana, quando veio a chance eu fiquei doida. Enlouqueci. Eu sempre quis ser baiana, porque as fantasias são lindas”, revelou Maria Nazaré, de 65 anos, que é médica pediatra e tem 34 anos de Mangueira, sendo 5 anos desfilando na ala das baianas. Ela ainda valoriza o samba-enredo da escola que diz que ‘quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha’: “Eu acho maravilhoso, porque isso empodera a mulher preta, a mulher pobre. A Mangueira tem essa ação social de fazer com que as pessoas se sintam bem. A escola tem vários trabalhos sociais…”.

Mangueira01 1Aos 71 anos de idade, sendo 22 de Mangueira, Regina ‘Sereia’ é costureira e enalteceu a fantasia que ela mesma ajudou a produzir. “Está gostosa, leve, confortável… Eu gostei muito. Está muito linda!”. Ela ainda comenta sobre a importância do enredo: “Vem falando de muita coisa, de muitas mulheres guerreiras, da nossa raça negra… Precisamos disso para as pessoas saberem. Esse enredo traz uma informação que algumas pessoas não têm. É muito importante e eu acho muito válido”.

Maria Ignês, de 60 anos, é arquiteta e ficou encantada quando viu a fantasia de baiana pela primeira vez. “Nós somos as pretas rainhas. Olha só como estamos lindíssimas!”. Ela completa, “Estou me sentindo a própria Tia Fé. Foi no terreiro dela aonde a Mangueira começou, lá atrás… Estou muito feliz e me sentindo empoderada!”.

Denise Gomes, de 67 anos, hoje é aposentada e desfila de baiana por conta da herança de sua mãe. “Minha mãe foi baiana e eu sempre falei para ela que quando ela fosse embora eu iria seguir o caminho dela. Então, enquanto eu tiver vida eu serei baiana”. Ela ainda exaltou a fantasia da ala: “Linda demais, confortável. Tudo de bom! Quando a gente entrar eles vão ver o que que é a Mangueira”.

Elza Gomes, de 63 anos, é doméstica e desfila como baiana na Mangueira há 25 anos . Ela foi outra baiana que declarou estar bem satisfeita com a roupa deste carnaval: “Leve e muito linda, super confortável… Está maravilhosa!”.