InícioGrupo EspecialSamba-enredo brilha em desfile avassalador da Estação Primeira de Mangueira

Samba-enredo brilha em desfile avassalador da Estação Primeira de Mangueira

Verde e rosa levantou o público presente da Sapucaí com o canto forte das alas e uma bateria ousada

Por Diogo Sampaio

Desde que os primeiros versos do samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira ecoaram na Marquês de Sapucaí, sem nem mesmo a escola ter saído da armação, se tornou nítida a força da obra. Nas arquibancadas e frisas, o público presente no Sambódromo cantava junto do carro de som a composição escrita por Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. Era um início de um desfile arrebatador. Com o enredo “As Áfricas Que a Bahia Canta”, a verde e rosa fez uma apresentação sem grandes erros, baseada também no desempenho inspirado da bateria e na harmonia impecável, despontando na briga pelas primeiras posições. A escola foi a última agremiação do primeiro dia do Grupo Especial e deixou a pista de desfiles já com dia claro, aos 70 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Comissão de Frente

Intitulada “O Cortejo Negro de Magueira”, a comissão de frente assinada pela coreógrafa Cláudia Motta, estreante na agremiação, trouxe para Avenida a reunião de todos os símbolos estéticos, musicais e personalísticos baianos que são frutos de recriações de áfricas promovidas pelos negros. Manifestações como os Cucumbis, Afroxés e Blocos Afros foram retratados ao longo da coreografia, que tinha seu ápice quando a parte de cima do tripé que acompanhava os integrantes se abria e revelava a figura de Oyá Onira, uma qualidade de Iansã responsável por conduzir o enredo da Estação Primeiras.

LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS SOBRE O DESFILE
* Componentes da Mangueira aprovam renovação dos segmentos da escola e se mostram confiantes
* Quarta alegoria da Mangueira enaltece os blocos afro do carnaval da Bahia
* Velha-guarda brilhou como a “Realeza Negra” ao deixar de lado o traje tradicional
* Baianas da Mangueira se inspiram na força das Yabás para exaltar a negritude
* Cucumbis: festa dos escravizados é homenageada no abre-alas da Mangueira
* Em enredo com forte presença musical, ala de compositores da Mangueira representou um dos redutos do samba na Bahia no século passado

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Pela primeira vez dançando juntos, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus Olivério e Cintya Santos fez uma apresentação marcada pela velocidade e intensidade, que mesclou o bailado tradicional com passos coreógrafos, com direito a muitos giros e rodopios. Os dois vieram simbolizando a orixá Oyá Onira em um figurino rosa e prateado.

Harmonia

O canto forte da comunidade mangueirense que já era visto nos ensaios de rua e de quadra, durante o período de pré-Carnaval, se confirmou na Avenida. Do início ao fim da apresentação, os componentes entraram o samba composto por Lequinho e companhia com garra e intensidade. Até mesmo alas coreografadas, que costumam apresentar um canto mais fraco, berraram a obra na Avenida, como foi o caso do grupo performático “A Estética Timbaleira”.

Enredo

Desenvolvido pelos carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão, o enredo “As Áfricas Que a Bahia Canta” trouxe para Marquês de Sapucaí a construção das visões da África no território baiano, por meio da musicalidade e das instituições carnavalescas negras, com destaque para o protagonismo feminino e questões como o racismo. Essa proposta foi bem contada ao longo da apresentação, graças a fácil leitura das alegorias e fantasias, somadas a letra do samba que soube sintetizar bem o que era mostrado na Avenida.

Evolução

Ao longo dos 70 minutos de desfile, a Estação Primeira de Mangueira realizou uma evolução solta e alegre, sem erros. Apesar dos componentes estarem mais livres dentro das alas não houve embolamento ou abertura de clarões em nenhum momento. Além disso, a escola manteve um ritmo mais intenso, porém sem correr.

Samba-Enredo

Celebrado por muitos desde a disputa de samba, o hino oficial da Estação Primeira de Mangueira mostrou no desfile oficial o tamanho de sua força. Rendendo um canto forte de alas e das arquibancadas, a obra embalou a apresentação avassaladora da escola, sendo o seu principal combustivel. A boa performance da dupla de intérpretes Marquinhos Art’ Samba e Dowglas Diniz no carro de som, aliada a ousadia da bateria em bossas e paradinhas, foram fundamentais para o sucesso do samba na Marquês de Sapucaí.

Alegorias e Adereços

Após seis carnavais e dois títulos de campeã do Grupo Especial, o casamento entre Mangueira e o carnavalesco Leandro Vieira chegou ao fim após o desfile do ano passado. Com isso, a escola foi ao mercado e trouxe da Série Ouro Annik Salmon, que estava na Porto da Pedra, e Guilherme Estevão, que havia assinado por dois anos o Império da Tijuca. A dupla, que nunca havia trabalhado junto, assumiu a missão e deu uma nova cara estética para verde e rosa.

O abre-alas, intitulado “Cucumbis: Festa Para a Rainha”, já refletiu esta mudança no visual. Volumoso, com cores mais fechadas e um aspecto rústico, a alegoria retratou a festa baseada nas recordações que os negros escravizados tinham de seu continente de origem: a África.

O segundo carro, de nome “Embaixada Africana – Manifesto em Forma de Arte”, manteve o nível estético da primeira, mas com um visual um pouco mais barroco. Todo em dourado e com esculturas movimentadas, a alegoria homenageou o clube negro e seu desfile de 1897, inspirado na “Revolta dos Malês” e na resistência da Etiópia frente ao imperialismo do continente europeu. Apesar da beleza, a ausência de uma composição em um queijo da lateral esquerda pode causar a perda de décimos.

Já terceira e quarta alegorias, chamadas “Afroxés – Pro Santos Pelas Mãos das Mães” e “Blocos Afros – A África que a Bahia Criou”, retomaram o aspecto rústico. Em ambas, o trabalho caprichado de esculturas e uso de figuras geométricas chamou a atenção. Fechando o conjunto e o quesito, o quinto carro, intitulado “Axés”, veio saudando os ventos de Oyá que sopraram em direção a Cidade Maravilhosa e fizeram dela o lugar do samba.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Estação Primeira de Mangueira seguiu a mesma linha estética das alegorias, apresentando figurinos bem acabados e com soluções criativas. Materiais considerados baratos como a palha foram bem empregados em indumentárias como as das alas “A Fala Que Faz – Preceitos Em Arte” e “Ilê Aiyê – A Liberdade da Arte Negra”. Além disso, recursos poucos usuais no Carnaval foram empregados na confecção de figurinos e surtiram efeito, caso do uso das espadas de São Jorge nas roupas da ala “Cortejo de Rotins”.

Outros Destaques

Reinando há quase uma década à frente dos ritmistas da “Tem Que Respeitar o Meu Tamborim”, Evelyn Bastos é sempre um acontecimento à parte durante o desfile da Estação Primeira de Mangueira e este ano não foi diferente. Homenageando Oxum, a beldade incorporou a personagem, sem abandonar o samba no pé, e esbanjou toda a beleza da mãe das águas doces.

Mas não foi só Evelyn que arrebatou o público não. A bateria da Estação Primeira levantou a galera das arquibancadas e proporcionou um verdadeiro espetáculo na Marquês de Sapucaí. Pratas da casa e estreando no comando dos ritmistas, os mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto foram responsáveis pelo melhor desempenho da “Tem Que Respeitar o Meu Tamborim” dos últimos anos, com diversas bossas e paradinhas ousadas, todas elas bem executadas.

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