Samba Didático: Mangueira apresenta as Áfricas presentes na Bahia através de musicalidade, ancestralidade e religiosidade
O enredo da Estação Primeira de Mangueira em 2023 vai retomar um casamento há muito tempo esperado pelos torcedores da agremiação, a união da Verde e Rosa com uma temática afro e com toda a musicalidade e religiosidade do estado da Bahia. Campeã do carnaval carioca pela última vez em 2019, a escola promoveu mudanças em diversos segmentos para o próximo carnaval, logo após a posse da nova presidente Guanayra Firmino em maio deste ano. Uma das principais medidas tomadas pela mandatária e sua diretoria foi a escolha da dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão para substituir Leandro Vieira, que estava na escola desde o carnaval 2016 e pediu para sair. Da nova dupla de carnavalescos surgiu a ideia do enredo “As Áfricas que a Bahia canta”, amplamente aprovado pela direção da escola.
O samba escolhido para embalar este enredo é de autoria de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. O compositor Lequinho explicou sobre o que na opinião do artista é o fio condutor da obra produzida pelo grupo para o próximo carnaval da Estação Primeira de Mangueira, além de apresentar a relação entre letra e melodia pensada pelos compositores.
“O nosso samba aborda a ancestralidade, a religiosidade e a musicalidade baiana. Sempre buscando fazer um casamento perfeito entre a letra e a melodia, o nosso samba inicia em tom menor, faz a passagem para o tom relativo em alguns momentos e termina em tom maior, dando ao nosso refrão principal a característica melódica dos grandes sambas de Mangueira”, esclarece Lequinho.
Dando continuidade a série Samba Didático, o site CARNAVALESCO convidou o compositor Lequinho a explicar mais do significado por trás dos versos e expressões do samba-enredo 2023 da Mangueira:
OYÁ, OYÁ, OYÁ EÔ!
Ê MATAMBA, DONA DA MINHA NAÇÃO
FILHA DO AMANHECER, CARREGADA NO DENDÊ
SOU EU A FLECHA DA EVOLUÇÃO
SOU EU MANGUEIRA, FLECHA DA EVOLUÇÃO
“Iniciamos o samba com uma saudação a Oyá, que também é chamada de Matamba. A narradora da obra se identifica como sua filha ao citar o amanhecer e o dendê, expressões que são ligadas diretamente a Oyá. Em seguida inserimos uma frase que está em destaque na sede do primeiro bloco afro do Brasil , o Ilê Aiyê, ‘toda mulher é flecha da evolução’. E finalizamos o trecho com a afirmação de que a Mangueira também é flecha da evolução, tendo em vista que a Mangueira é, notadamente em sua história, uma escola de alma feminina”.
LEVO A COR, MEU ILÚ É O TAMBOR
QUE TREMEU SALVADOR, BAHIA
ÁFRICAS QUE RECRIEI
RESISTIR É LEI, ARTE É REBELDIA
“Nesse segundo momento, afirmamos que o Ilú de Iansã é o nosso tambor que por tantas vezes rufou para homenagear a Bahia. Destacamos também a chegada do povo preto a Salvador com suas crenças, costumes e musicalidade. Para manter viva a sua memória ancestral, eles recriam na Bahia a sua africanidade, resistem e fazem de sua arte uma forma de se rebelar contra todo o tipo de opressão”.
COROADA PELOS CUCUMBIS
DO QUILOMBO ÀS EMBAIXADAS
COM GANZÁS E XEQUERÊS FUNDEI O MEU PAÍS
PELO SOM DOS ATABAQUES CANTA MEU PAÍS
“Nesse trecho o nosso samba faz referência aos Cucumbis, cortejos dramáticos em que uma mulher preta é coroada. Citamos também a resistência dos quilombos na época da escravidão e os cortejos das embaixadas africanas, também conhecidas como Clubes Negros. Finalizamos afirmando que a Bahia é um país que canta e dança, um país que foi fundado ao som de ganzás, xequerês e atabaques”.
TRAZ O PADÊ DE EXU
PRA MAMÃE OXUM TOCA O IJEXÁ
RUA DOS AFOXÉS
VOZ DOS CANDOMBLÉS, XIRÊ DE ORIXÁ
“No refrão do meio destacamos a religiosidade, a preparação do padê de Exu, o ritmo do ijexá para Oxum e os Afoxés. Os rituais que são iniciados dentro do terreiros de candomblé vão ganhando as ruas da Bahia”.
DEUSA DO ILÊ AIYE, DO GUETO
MEU CABELO BLACK, NEGÃO, COROA DE PRETO
NAO FOI EM VÃO A LUTA DE CATENDÊ
SONHO BADAUÊ, REVOLUÇÃO DIDÁ
CANDACE DE OLODUM, SOU DEBALÊ DE OGUM
FILHOS DE GANDHY, PAZ DE OXALÁ
“No início da segunda do samba mergulhamos nos blocos afros. Exaltamos a coroação da mulher preta como deusa do Ilê Ayiê, rainha do gueto. Exaltamos também a explosão do orgulho preto através do Black Power. A luta de Moa do Catendê, fundador do Bloco Badauê, que foi assassinado de forma cruel por uma discussão política. A revolução feminina que deu origem ao Bloco Didá, composto só por mulheres instrumentistas, e a africanidade do Olodum Debalê e dos filhos de Gandhy”.
QUANDO A ALEGRIA INVADE O PELÔ
É CARNAVAL, NA PELE O SWING DA COR
O MEU TIMBAU É FORÇA E PODER
POR CADA MULHER DE ARERÊ
LIBERTA O BATUQUE DO CANJERÊ
“Na parte final destacamos a alegria do carnaval baiano, o Pelourinho, o Axé contemporâneo, a Timbalada, a força e o poder das cantoras pretas da Bahia que cantam e libertam o batuque dos rituais afros pelo Brasil e pelo mundo”.
EPARREY OYA! EPARREY MAINHA!
QUANDO O VERDE ENCONTRA O ROSA TODA PRETA É RAINHA
“No bis que antecede o refrão principal, a narradora faz outra saudação a Oyá para agradecer por toda a sua trajetória. Ela reafirma a importância da mulher preta para a história da Estação Primeira de Mangueira e mantém aceso o sonho de toda menina que sobe e desce as ladeiras do morro de Mangueira, de ter suas vozes ouvidas e o seu talento admirado por todos”.
O SAMBA FOI MORAR ONDE O RIO É MAIS BAIANO
REINA A GINGA DE IAIÁ NA LADEIRA
NO ILÊ DE TIA FÉ, AXÉ MANGUEIRA
“Inspirado na música ‘Onde o Rio é mais baiano’ de Caetano Veloso e com uma divisão de samba de roda, o nosso refrão principal exalta a figura de Tia Fé, ela que veio da África, desembarcou na Bahia, poderia perfeitamente ter sido a matriarca de um dos grandes blocos afros que citamos em nosso samba-enredo. Mas, quis o destino, que ela viesse para o Rio de Janeiro e que aqui no morro de Mangueira fundasse um terreiro onde viu nascer blocos que vieram a formar anos depois a maior escola de samba do planeta”.
Amizade Zona Leste faz ensaio seguro no Anhembi
A Amizade Zona Leste fez seu primeiro ensaio técnico para o carnaval de 2023. A agremiação vermelha, azul, branco e verde foi a segunda a entrar na pista do Sambódromo do Anhembi. O ponto a destacar foi a parte do refrão ‘Canta forte Amizade’ que a escola vinha junto. Pois no geral fez uma ensaio com poucos componentes, seguro, e o destaque negativo foi que no primeiro setor da escola faltou o poderio do canto. Para 2023 terá o enredo “Do Zé Pelintra ao Zé Ninguém. Qual Zé Você É?”, e trouxe referências ao Zé.
Comissão de Frente
Comandado por Márcio Akira, a comissão de frente aproveitava parte da ‘irreverência de quem faz o bem’ e tirava o chapéu azul simbolizando uma reverência. O grupo comandado contava com uma mulher ao centro que será a destaque no meio dos outros componentes, todos homens. Um momento de destaque é quando sambavam e iam sempre movimentando para o lado ou para frente, era bem interativo, agradando o público. Claramente terá referências ao Zé Pilintra, tanto na dança, quanto na vestimenta, já foi visto isso no primeiro contato.
Mestre-Sala e Porta-bandeira
O casal João Lucas e Angélica Paiva vieram de amarelo mostarda e dourado. Na dança, um momento interessante foi quando fizeram sinais quando o samba cantava ‘Saravá’, como estivesse incorporado, outra clara referência ao Zé Pilintra. Na parte ‘Eu sou Zé do Brasil, a cara do povo’, faziam referências ao rosto. Trocaram olhares, beijo na mão e muita sinergia ao mesmo tempo que apresentava o pavilhão para delírio do Setor B. O casal passou com uma dança muito forte e claramente trabalhada em cima do Zé Pilintra. Mostraram um entrosamento neste primeiro ensaio técnico geral, e acaba gerando curiosidade para o que está por vir.
Harmonia
São dois pontos dentro da harmonia. O primeiro é que no refrão ‘Canta forte Amizade’, a escola realmente explodiu e cantou forte. Mas no primeiro setor senti falta do canto, alas que tinha passo marcado, seguiam ele, mas no canto deixaram a desejar. Como uma das primeiras alas, vestidos de kimono de Karate, fizeram apresentação da arte marcial, interativa, mas pouco cantou. Outra ala no primeiro setor, a Quilombolas, 25 anos do Amizade, trouxe um elemento que foi uma bandeira vermelha e verde, coloriu a pista. Por outro lado, a última ala coreografada deu um ar animado, sincronizado de um lado para o outro. Vale destacar ainda uma ala Roda Viva Social com componentes de cadeira de rodas e acompanhantes, todos bem alegres, o presidente Camilo passou por eles dando muito carinho a todos.
Evolução
A agremiação da Zona Leste não veio muito grande e desfilou com muita tranquilidade. Alguns ajustes na evolução de uma ala para outra no começo da agremiação. Afinal as alas vieram com passos marcados, certas, mas por momentos faltou um ritmo mais coeso entre as alas principalmente no primeiro setor, é um ponto a corrigir na escola. Outro detalhe é ter um pouco mais de leveza no ensaio e consequentemente no desfile. É legal a sincronização dos passos, mas em determinado momento senti as alas todas ‘coreografadas’. Vale finalizar que o ensaio foi bem tranquilo, dentro do cronograma de tempo, a bateria passou pela linha amarela leve.
Samba
Conduzido pela dupla Adauto Jr e Eliezer PQP, olhando através da ala musical, o samba flui com leveza e é muito claro interpreta-lo. Ou seja, a ala musical e a bateria estão alinhadas neste ponto. Mas ao mesmo tempo, o samba em si não foi tão cantado pela escola, explode no trecho do ‘Canta Forte Amizade’, quando inclusive a bateria fazia apagões estratégicos para escutar esse momento. Precisa ser trabalhado para a comunidade cantar alto nos outros trechos do samba-enredo, e fluir para a comunidade com a mesma leveza assim como foi para a ala musical.
Outro destaques
A Batucada do Amizade foi um dos destaques pelo ritmo do Mestre Vinicius Nagy, cadenciou bem a passagem da escola, e soube explorar a melhor parte do samba, quando paravam e deixavam o canto na comunidade. Ao mesmo tempo, voltavam sem problemas, o que é importante. Foram algumas vezes aplicada a estratégia dentro da pista. Trouxeram um elemento pirotécnico que era um sinalizador entre a bateria e ala musical, que por vezes lançavam, principalmente na hora que tinha a paradona e o ‘Canta forte Amizade’.
Na corte da bateria com madrinha de bateria Vanessa Alves com o look vermelho e brilhante, sambou bastante, foi destaque. A Rainha Katharina foi bem interativa com o público e de branco com destaques vermelho no chapéu e no salto, uma verdadeira malandra. Ainda a princesa Nathália Ferreira com destaque para adesivo colado ‘Não é Não’, o presidente Camilo e outras alas também fizeram campanha. Também um passista destaque, todo de azul, que é um sambista nato e veio a frente a bateria junto na corte. Por fim, o principal destaque foi uma mini-rainha, com o vestido da bandeira do Brasil, esbanjando simpatia e samba no pé.
O presidente Camilo Augusto é muito conectado com a comunidade, passa por cada ala, setor, cumprimentando todos. Animando, pulando, ajudando na harmonia e evolução da escola, ditando o ritmo junto com os diretores.
Porto da Pedra canta forte a faz bonito em seu primeiro ensaio de rua
A Unidos do Porto da Pedra realizou na noite de sábado, no Centro de São Gonçalo, o seu primeiro ensaio de rua para o Carnaval 2023. O Tigre mostrou a sua força e toda a potência de sua comunidade, que está com o samba na ponta da língua. A escola, que será a quinta a desfilar na noite de sábado apresentará o enredo ‘A Invenção da Amazônia: Um delírio do imaginário de Júlio Verne’, desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes, e tem um dos grandes sambas da Série Ouro.

A vermelho e branco de São Gonçalo mostrou que está fazendo um belo trabalho de harmonia. O que se viu foi uma comunidade que abraçou o samba-enredo e cantou a obra durante todo o ensaio. Em certos momentos, a bateria Ritmo Feroz de mestre Pablo realizou um breque de “apagão” durante o refrão principal, quando se pode ouvir nitidamente a empolgação dos componentes.
O diretor de carnaval Aloísio Mendonça reconheceu que o ensaio superou as expectativas da escola: “Foi excelente, você viu que a bateria parou e a comunidade mantendo o samba em alto… A gente tá super satisfeito”.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo França e Laryssa Victória, exibiu uma sincronizada e graciosa coreografia durante o treino de rua da Porto da Pedra. Os dois apresentaram o pavilhão da escola e executaram um bailado muito seguro e confiante, além de manterem o sorriso no rosto ao longo de todo o percurso.
O samba-enredo da parceria de Vadinho foi, sem dúvida, um dos pontos altos do ensaio do Tigre de São Gonçalo, sendo cantado com empolgação por grande parte dos integrantes da escola. Mérito do carro de som que, liderado pelo intérprete Nêgo, juntamente com os cantores de apoio e o time de cordas, seguraram a energia do samba lá no alto. Destaque para o refrão principal, que mesmo com palavras de um idioma indígena foi entoado intensamente pela comunidade.
A bateria Ritmo Feroz, comandada por mestre Pablo e seus diretores, foi outro destaque da noite. As bossas foram executadas diversas vezes pelos ritmistas durante todo o ensaio de rua da Porto da Pedra, sempre com muita precisão. Em uma delas, no refrão principal, parece haver até uma referência aos toques dos tambores indígenas. A rainha Tati Minerato veio saudando o público e sambando à frente da bateria.
“O que eu vi aqui foi uma escola que realmente abraçou o samba. Muita gente tinha dúvida em relação a isso. Hoje a gente conseguiu deixar claro que o samba foi muito bem escolhido. Um samba que parecia difícil já está na boca da escola, está todo mundo cantando o refrão. O Nêgo também foi impecável, com um fôlego impressionante, segurou até o final. E a escola está animada. Parece que a escola está sentindo novos ares, sentindo que existe a possibilidade de voltar ao Grupo Especial. Acho que quando você motiva o componente tudo flui melhor. Essa é a nossa ideia com relação a esse desfile, tanto plasticamente, quanto tecnicamente falando”, disse o carnavalesco Mauro Quintaes.
A escola evoluiu de maneira coesa e compacta por toda a avenida, sem correrias ou excesso de lentidão. Os integrantes das alas desfilaram leves, soltos, preenchendo toda a pista de ensaio. A única ressalva foi uma certa demora da bateria em deixar o local onde realizou o seu esquenta. A rainha Tati Minerato estava atenta e logo ocupou o espaço deixado pela ala de passistas, que depois também foi ocupado pelos ritmistas.
Pode-se ver no rosto do componente da Unidos do Porto da Pedra a alegria por ter um grande samba. A comunidade aparenta estar muito satisfeita com o trabalho que vem sendo desenvolvido pela diretoria da escola, que busca colocar o Tigre de volta entre as escolas do Grupo Especial do carnaval carioca. Sem dúvida, é uma das candidatas a beliscar essa vaga tão sonhada.
Canto da comunidade é o destaque do ensaio técnico da Independente
A pouca intensidade do cantor no primeiro setor da Independente assustou no começo do ensaio técnico da Tricolor, iniciado já nos primeiros minutos do sábado, no Anhembi. O que parecia ser um problema, entretanto, tornou-se um destaque tão logo o abre-alas chegava. Ouvida do Largo do Paissandu para o mundo, como canta o carro de som da agremiação, a escola também teve uma grata surpresa vinda da Ritmo Forte, bateria da escola que apresentará o enredo “Samba no Pé, Lança na Mão, Isso é uma Invasão!” logo no primeiro horário da sexta-feira de carnaval.
Comissão de Frente
Entrando na passarela já com três minutos de ensaio técnico, a coreografia da comissão de frente foi mais rápida que o normal, o que permitiu à agremiação recuperar tal tempo. Os componentes vieram fantasiados, com uma fantasia composta por uma roupa marrom e chifres. Sempre com cara séria, eles pareciam ser os artífices da invasão proposta pelo enredo. Em dado momento, os componentes davam um berro que chegou a assustar uma integrante do staff da escola – o que também está de acordo com o tema proposto.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Jeff Antony, mestre-sala da escola, dançava claramente no máximo, com o pé deslizando bastante. Girando no sentido anti-horário e com uma indumentária (e não fantasia) que remetia à Grécia Antiga, em dado momento, Jeff jogou um coroa de louros que estava na nuca dele ao chão. Na visão dele, nada que preocupe: “Era algo esperado. Ela foi improvisada, só para hoje. Mas, no desfile, temos um ateliê bastante maravilhosa. Nem contamos com essa hipótese. É mais fácil eu cair inteiro que cair só o adereço da cabeça”, pontuou.
Na dança, tanto ele quanto Thais Paraguassu traziam dinamismo e força para um setor que parecia não estar animado quanto o restante da escola. Nem mesmo os famosos ventos do Anhembi causaram erros na coreografia. A porta-bandeira foi direta ao falar sobre o desempenho do casal da Independente e falou do desgaste que o vento impõe a quem carrega o pavilhão das agremiações. “Foi bom, mas nunca está 100%. Até no dia do desfile a gente ensaia, então ainda tem bastante coisa para acrescentar na dança para trabalharmos. O vento prejudica muito, porque, no nosso regulamento, o pavilhão tem que estar desfraldado. Querendo ou não, tem algumas rajadas de vento em alguns locais da avenida. Aí tem que segurar no braço”, confessou. Jeff aproveitou para se solidarizar: “O vento é algo que prejudica mais a porta-bandeira, sempre tento passar força e vibração para ela”, destacou.
Jeff também aproveitou para exaltar as condições climáticas do primeiro ensaio técnico, sem grandes percalços por conta de chuvas: “É sempre válido ter margem para erro no primeiro ensaio, temos mais dois para corrigir além dos específicos. Nem sempre vamos sair satisfeitos e isso é bom: no dia que sairmos satisfeitos, vamos direto para a avenida. Nós nos cobramos muito, gravamos, sentamos e analisamos. Sempre tentamos inovar e sempre vamos encontrar defeitos. Foi maravilhoso por ser o primeiro, a noite esteve linda e São Pedro colaborou. Aguarde no dia 17, a escola está linda e maravilhosa”, afirmou.
Harmonia
O primeiro setor da escola preocupou. Com a comissão de frente focada na coreografia e a ala das baianas cantando em tom baixo, a harmonia parecia ser um quesito bastante desafiador para a agremiação. Tudo mudou a partir do carro abre-alas. Com componentes bastante animados, a Independente teve um desempenho bem acima da média. Os segundo e terceiro setores passaram longe de ter os erros do começo da escola no quesito, sem pontos de preocupação – e deixando os torcedores bastante animados.

Para Pica-Pau, um dos diretores, uma das surpresas da Ritmo Forte teve destaque. “Por ser o primeiro o ensaio, acho que foi satisfatório, tanto o canto como a evolução, mas com a consciência de que há coisas para melhorar e chegar bem no dia do desfile. Vamos ensaiar o apagão para surtir o efeito que a gente quer junto com a arquibancada que vem junto com a escola”, destacou.
Outro diretor de harmonia, Douglas Neto, complementou: “Mais um pouquinho de treino, o primeiro deu para sentir um pouquinho da comunidade e agora vamos trabalhar o próximo dia para fazer um grande desfile”.
Samba-Enredo
Se a obra não é um dos sambas mais populares no pré-carnaval paulistano, a Pê Santana, intérprete da escola, chamou os tricolores para cantar o samba com diversos cacos e teve um resultado muitíssimo satisfatório: os integrantes mostraram bastante garra. A invasão citada no enredo foi forte na passarela. A Ritmo Forte também ajudou no quesito graças à força dos ritmistas, que batucaram muito forte os respectivos instrumentos.
O próprio intérprete elogiou o desempenho da escola no ensaio. “O ensaio a gente tira como positivo. Foi o primeiro ensaio técnico, a gente vem de uma série de ensaios bem forte em nossa quadra. Domingo passado fizemos um ensaio bem forte de rua e tínhamos expectativa de chegar com um contingente legal. Conquistamos esse objetivo e agora é analisar e ver o que tem de ser consertado, mas a grosso modo foi um belíssimo ensaio”, destacou.
Evolução
Já com três minutos de ensaio técnico, a escola permanecia sem sair da concentração – fato que foi percebido até por um dos diretores de Harmonia da agremiação. Logo no primeiro setor, chamava atenção o espaço entre comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira e a ala das baianas – que veio à frente do carro abre-alas. Após os primeiros componentes, a escola usou diversas bexigas, trazendo dinamismo para o ensaio. Vale destacar que, ao contrário de outras escolas, as alas sem coreografia são maioria. Em movimento sempre desafiador, a entrada da bateria no recuo foi bastante rápida e com o espaço sendo preenchido de maneira igualmente célere – o melhor movimento no recuo da noite.
Outros Destaques
– Com 210 ritmistas, a Ritmo Forte chamou atenção pelos “apagões” – momento em que todos os ritmistas param de tocar e deixam a escola e o carro de som cantar. Mestre Cassiano afirmou que elas se farão presentes na noite do desfile: “Com toda a certeza os apagões vão acontecer para todo mundo evoluir nos refrões, que são bem fortes. A gente joga junto com o time, a bateria tem que estar pronta para tudo”, destacou.
– O diretor de bateria, por sinal, não se deixou levar pelos elogios da atuação dos comandados: “Sempre dá para melhorar. Graças a todos os ensaios, a gente vem com muito mais certeza. A gente vem para acertar e, no seguinte, acertar ainda mais. Estamos bem confiantes, com um trabalho bem sério e ensaios toda terça-feira. Na bateria, temos que trabalhar todos juntos e evoluir junto com a escola”, afirmou.
– Por fim, Cassiano elencou o principal ponto de preocupação. “A equalização da bateria está tranquila. Precisamos, agora, ver os pontos de jurados, o campo de visão dele. Os diretores estão lá no meio para isso e eles vão me dar o feedback nesse primeiro ensaio. Eles que seguram a bronca”, finalizou.
– Ao contrário de todas as outras escolas da noite, todas as cuícas tinham revestimento – muitos ritmistas utilizavam o instrumento apenas com as bases.
– O abre-alas da escola veio com um tripé com o símbolo da escola à frente e chamou atenção pela largura.
Colaborou Will Ferreira
Ensaio? Peruche dá aula de chão em apresentação quase sem erros no Anhembi
Terceira escola a desfilar no ensaio técnico do último sábado, a Unidos do Peruche teve pouquíssimos erros no Anhembi. Com a comunidade verde e amarela cantando forte e com a agremiação inteira afiada, a Filial do Samba impressionou em diversos aspectos quem assistiu à apresentação. Com o enredo “A Essência Que Me Seduz”, a instituição será a oitava a desfilar no Grupo de Acesso II, no dia 11 de fevereiro.
Harmonia
O samba-enredo, elogiado pela crítica carnavalesca, rendeu muito bem no ensaio técnico. Muito bem cantado, ele colaborou para a empolgação de boa parte dos componentes. Se houve irregularidade no canto, ela se deve nos níveis “ótimo” e “muito bom”, já que as alas cantavam com efusividade. Até mesmo as destaques da bateria cantavam com força a canção. O chão da Filial do Samba foi um dos grandes destaques do ensaio técnico. Mesmo no último setor os componentes mostravam-se bastante animados.
Samba
Simples e facilmente decorável, a canção caiu nas graças do componente – que, como dito acima, corresponderam com bastante força. A torcida da escola presente no Anhembi também apoiou, e diversos torcedores cantaram nas arquibancadas. Alex Soares, intérprete da agremiação da Zona Norte e de atuação segura, sequer precisou de muitos cacos para animar componentes e torcedores.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Girando no sentido horário, Kawe Lacorte e Nathalia Bete seguem evoluindo na escola. Promovidos à primeiro casal a partir do desfile de 2020 advindos do terceiro posto entre os casais da verde-e-amarelo da Zona Norte, foi possível notar bastante sincronia, interação com o samba, comunicação entre os integrantes, leveza, sorrisos e muitos giros – mais que a média dos casais. Ambos olhavam fixamente para a cabine de jurados não apenas ao se apresentes para as torres, mostrando confiança. Foi notado um único (e sutil) erro: ao abrir o pavilhão em frente à Arquibancada Monumental, uma rajada de vento bateu e Kawe (de dança bastante firme, deslizando bastante o pé e indo até o limite no bailado) tomou um tempo extra para exibi-la.
Comissão de Frente
Sem fantasias, mas com uniformidade na parte superior do corpo (com uma roupa dourada com detalhes pretos idêntica a todos) e com vestimentas pretas na parte de baixo, a comissão de frente perucheana teve majoritariamente mulheres de aparência jovem. Uma dela, por vezes, se distanciava para fazer uma coreografia solo. Atrás dos integrantes, três pessoas carregavam um pano – provavelmente identificando um tripé. Não foram identificados erros em uma exibição bastante segura, mas que não chamou atenção como o canto da escola, por exemplo – o que ajuda a ganhar pontos no quesito.
Evolução
Quando a sirene para o começo do desfile foi soada, a escola ainda estava executando um samba de quadra – o que a faria perder pontos no dia do desfile. Como citado anterior, a evolução da Comissão de Frente pareceu um pouco morosa, o que foi ajustado conforme o ensaio técnico evoluía. A saída dos primeiros componentes da passarela, porém, não afetou o ritmo da evolução perucheana. Alas com pompons (como a posicionada atrás da Velha Guarda) ajudavam no quesito. Ao contrário de outras escolas, havia equilíbrio entre alas coreografadas e mais soltas.
Outros Destaques
– Mauro Xuxa, carnavalesco da escola, borrifava perfume na avenida (em virtude do enredo)
– Bateria Rolo Compressor começou o desfile executando poucas bossas, mas fez três convenções no final do ensaio – talvez comemorando a grande exibição dos ritmistas de Mestre Acerola.
– Na bateria, havia equilíbrio entre cuícas com e sem revestimento – as anteriores tinham predominância de instrumentos sem revestimento.
– Chamou atenção o alto número de ritmistas na Rolo Compressor.
– Ao contrário do que é muito comum no carnaval paulistano, os ritmistas não encerraram o desfile. Até mesmo um carro alegórico e um casal de mestre-sala e porta-bandeira veio depois da bateria.
– A ala das baianas veio fantasiada e girando bastante