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União de Jacarepaguá sofre com problemas em alegorias que afetam a evolução e podem comprometer a permanência na Série Ouro

Após sete anos longe da grupo de acesso do carnaval carioca, a comunidade da União de Jacarepaguá voltou a pisar forte na Marquês de Sapucaí. A verde e branco do Campinho foi a primeira escola a desfilar neste sábado, com enredo “Manoel Congo, Mariana Crioula – Heróis da liberdade no Vale do Café”. A União exibiu um conjunto plástico de muito bom gosto e fácil leitura, porém as duas primeiras alegorias tiveram dificuldades em percorrer a passarela, formando dois buracos consideráveis na pista. O portão da dispersão foi fechado com 56 minutos, estourando em 1 minuto o tempo máximo de desfile. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

A comissão de frente, coreografada por Márcio Vieira e Fabrício Ligiero, desfilou fantasiada de “Coroação dos heróis da liberdade – Por um povo e sua bravura”. Ao todo eram 17 componentes, sendo 11 homens e 6 mulheres, representando a força de um povo junto a bravura de dois líderes: Manoel Congo, interpretado pelo ator Cridemar Aquino, e Mariana Crioula, vivida pela atriz Isabel Fillardis. Eles estavam vestidos com roupas de época e um tecido verde nos ombros que imitava folhagens. Nos pés, pequenas sapatilhas davam a impressão de pés descalços. Um belo elemento alegórico em formato de quadro foi usado pela escola para esconder alguns integrantes, como Manoel e Mariana, que surgiam ao longo da apresentação.

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LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* União de Jacarepaguá representou o quilombo em sua segunda alegoria
* Desfilantes da União de Jacarepaguá se orgulham na volta para a Marquês de Sapucaí
* Baianas da União de Jacarepaguá representaram a ancestralidade africana em sua fantasia
* Componentes de alegoria da União de Jacarepaguá enaltecem representatividade de Mariana Crioula e Manoel Congo

A coreografia do grupo foi bastante vigorosa e teatral, expressando toda a potência dos personagens retratados pelo enredo da escola. Uma grande corrente verde era utilizada no início da exibição, como se eles estivessem rompendo os grilhões da escravidão. Ao final, Manoel Congo e Mariana Crioula eram coroados como heróis da liberdade da região do Vale do Café. Infelizmente, um dos integrantes do segmento acabou escorrendo na pista molhada momentos antes da finalização. A comissão de frente levou cerca de 2 minutos em frente a cabine de jurados.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rogério Júnior e Natália Monteiro, simbolizava as “Riquezas Africanas” que tanto foram exploradas pelos europeus colonizadores. A luxuosa fantasia dos dois era repleta de búzios, pedrarias, penas e plumas; misturando diferentes tons de verde, preto, marrom e dourado. Ambos estavam bem seguros em seus movimentos, mostrando uma bela sintonia ao apresentar o pavilhão da escola para os jurados. Rogério e Natália esbanjaram simpatia, cantando o samba-enredo à todo momento A apresentação do casal em frente aos módulos de julgamento durou cerca de 1’50”.

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Samba-Enredo

O samba-enredo da União de Jacarepaguá foi todo construído em primeira pessoa, como se um escravizado contasse a história dos heróis Manoel Congo e Mariana Crioula. O carro de som, comandando por Leléu e Zé Paulo, segurou o canto da comunidade até final do apresentação. A obra tem autoria de Beto Aquino, Diego Nicolau, Cláudio Mattos, Douglas Ribeiro, Genaro Du Banjo, João do Gelo, Marcelino Santos, Phabblo Salvatt, Temtem Jr., Thiago Bahiano, Valtinho Botafogo e Victor Rangel.

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Harmonia

O trecho do samba-enredo cantado com mais intensidade pelos componentes foi o refrão principal: “Firma o ponto eu quero ver, vai ter batuquejê / Chama o povo do samba, ê samborê! / Jacarepaguá, eu respeito a sua história / Resistência é a marca da nossa vitória”. Destaque para a harmnoia das alas “Invasores do Velho Mundo”, “Barões do Café”, “Capoeira” e “Maculelê”. Porém, as alas “Oceano de preces e lamentos” e “A dor da escravidão” apresentaram certa inconstância no canto do samba.

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Evolução

A evolução da União de Jacarepaguá foi o maior problema do desfile e deve custar alguns décimos na apuração. O carro abre-alas enfrentou sérias dificuldades para se locomover na passarela do samba, o que resultou em um grande clarão, logo nos setores iniciais, onde existe um módulo duplo de jurados. A escola foi melhorando a evolução de seu desfile ao longo da pista, no entanto, o problema voltou a se repetir com o segundo carro no setor 10. Tudo isso fez com que a União evoluísse com certa lentidão, obrigando os componentes a acelerar o passo no final. A bateria não utilizou o segundo box de recuo, passando direto rumo à dispersão. Ainda assim a escola ainda atrasou em 1 minuto.

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Fantasias

A ala “Guerreiros Africanos” e a ala das baianas “Ancestralidade dos Antepassados” vieram logo depois do primeiro casal com belas fantasias tribais nas cores verde e branco, que são as cores da própria União de Jacarepaguá, causando um efeito muito interessante na avenida. Eles representavam as técnicas e saberes ancestrais das civilizações africanas. Entretanto, alguns componentes da Vale destacar também o belo figurino da ala “Manifestação e Herança: Maculelê”, que tinha as cores verde, perto e marrom; e utilizava palhas e penas.

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Alegorias

O carro abre-alas fazia alusão aos “Reinos Suntuosos de África” antes da colonização europeia, tendo como destaque principal “Ogum – Senhor das Guerras”. O belo acabamento da primeira alegoria poderia ter sido ainda melhor aproveitado, mas a parte frontal do carro passou toda apagada. As composições fizeram o papel de “Herdeiros do Reino”. A escola trouxe um tripé batizado de “Aporta a Negra Mercadoria”, com esculturas de peixes e caveiras, em referência ao tráfico dos navios negreiros.

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A segunda alegoria era “O Quilombo de Manoel Congo e Mariana Crioula”, que trazia uma forte encenação em que escravizados se revoltavam contra o seu senhor. Uma parte da lateral do segundo carro acabou sendo danificado por conta dos problemas de direção da alegoria e foi arrancada por integrantes da escola. O último carro da União trouxe a velha guarda como “Raízes Ancestrais” e fazia uma “Coroação dos Heróis da Liberdade”. Na parte traseira, negros punhos cerrados representavam a resistência.

Enredo

O enredo “Manoel Congo, Mariana Crioula – Heróis da liberdade no Vale do Café” é de autoria de Rodrigo Meiners e Thiago Meiners e conta um pouco da história desses líderes do povo negro africano, que foram escravizado em terras brasileiras, resistiu com bravura e foi em busca da própria liberdade. Manoel Congo e Mariana Crioula fizeram parte de um quilombo onde puderam cultuar suas tradições em pleno Vale do Café, entre as cidades de Paty do Alferes e Vassouras. As fantasias e alegorias apresentadas foram de fácil leitura e grande identificação com a comunidade.

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Outros destaques

A ala de passistas da Verde e Branco do Campinho veio simbolizando as “Mucamas e Escravos do Feitor”. Eles deram um verdadeiro show na Marquês de Sapucaí, mostrando muita desenvoltura, malemolência e samba no pé ao evoluir. A corte da bateria Ritmo União teve rei, rainha e madrinha, que vieram com belas fantasias representando a “Força e Bravura Herdadas de África”.

Unidos da Ponte encerra desfile com o enaltecimento do legado de Meninazinha de Oxum

Ponte02A Unidos da Ponte, segunda escola da Série Ouro a desfilar neste sábado, 18 de fevereiro, levou para a Avenida uma homenagem a Mãe Meninazinha de Oxum, uma das mais importantes Ialorixá do Brasil. A escola celebrou a ligação da mãe de santo com a cidade de Sala João de Meriti, lugar de origem da agremiação.

A terceira alegoria da escola, entitulada “O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, enaltecia o museu Ilê Omolu Oxum, criado pela mãe de santo em 1968. Atualmente o espaço é um exemplo de projetos contra a intolerância religiosa e desigualdades de gênero e raça. Com muitos detalhes em dourado, o carro apresentava a figura da mulher negra em posição dominante.

Ponte05A homenageada compareceu e foi o destaque da alegoria. Extremamente emocionada, Mãe Meninazinha de Oxum transmitiu bençãos a todos que fizeram questão de conhecê-la.

Além de Meninazinha, seus convidados desfilaram no carro. Helena Theodoro, de 79 anos, afirmou que escolas de samba são representações da luta de resistência dos escravizados, de visibilidade e do exercício de sua fé e cultura. “Cultivo a minha fé com todos os aprendizados que recebo da minha ancestralidade. A vida religiosa africana está ligada a uma filosofia de vida”, comentou.

Ponte01Helena também se mostrou honrada por fazer parte de um enredo tão relevante. “O carnaval conta histórias para o povo aprender sobre si mesmo. Note que as escolas fazem enredos sobre personalidades que a história oficial não mostra. Estamos trazendo de volta para que o povo se descubra e se identifique”, completou.

Sandra Gonçalves, de 55 anos, compreende o sentimento de Helena. “O nosso legado costuma ser esquecido ou renegado”, abordou. Assim como a Unidos da Ponte, Sandra afirma que o amor e a união definem sua religião.

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Componentes de alegoria da União de Jacarepaguá enaltecem representatividade de Mariana Crioula e Manoel Congo

UniaoJPA02 3A coroação de Mariana Crioula e Manoel Congo como heróis da liberdade marcou o final do desfile da União de Jacarepaguá. Os componentes que participaram do carro ‘Coroação de Manoel e Mariana’ se sentiram orgulhosos pela carga de representatividade do casal. Para eles, o carnaval tem o papel de trazer histórias esquecidas pelos livros para o público.

Ciça Ferreira, professora de dança de 64 anos, se emocionou com o convite para compor a alegoria.

“É uma emoção muito grande (…) A gente se sente valorizando a cultura (…) Todos nós somos decendentes deles (negro) de alguma maneira (…) O carnaval ajuda muito a contar a história do Brasil e do mundo”, disse Ciça.

UniaoJPA04 2Jorge José, ator de 31 anos, participou das encenações presentes na alegoria. Para ele, é uma honra representar seus ancestrais.

“Eu já trabalho com turismo pedagógico com foco neles (Mariana Criola e Manoel Congo). É muito importante, porque eu estou representando os meus ancestrais. É uma gratificação muito grande. A gente passa uma mensagem também de igualdade, ainda mais que nós estamos precisando. A gente também pode inspirar outras pessoas, isso é importante”, disse Jorge.

Maria Portela, atriz de 17 anos, trabalhou como diretora da cena do carro alegórico. Esse é o seu primeiro grande trabalho como diretora.

UniaoJPA03 3“É uma experiência muito boa (…) Eu nunca cheguei a dirigir algo tão grande quanto uma cena em um carro alegórico. Eu confesso que é um pouco desesperador. Mas tirando isso, é uma experiência muito boa, me diverti muito (…) É muito importante para mim, não para mim, mas principalmente para todos os atores que estão aqui. É muito bom ver que eles se sentem representados e felizes por estarem aqui”, expressou Maria.

Baianas da União de Jacarepaguá representaram a ancestralidade africana em sua fantasia

UniaoJPA02 2As baianas da União de Jacarepaguá trouxeram, no segundo dia de desfile do Grupo de Acesso, a ancestralidade dos seus antepassados. As mães do samba representaram em sua fantasia, neste sábado, os símbolos de seus antepassados. “Estamos trazendo nossos passados, com muito brilho e uma grande festa” Explica Naci Mendes, presidente da ala de baianas.

A fantasia é repleta de símbolos mostrando a ancestralidade africana. As baianas vestem uma fantasia verde, com desenhos africanos e detalhes de zebras, conchas de búzios grandes são distribuídas pela fantasia. Em sua cabeça, argolas douradas grandes e chapéus enormes com penas e detalhes dourados.

Para Sônia Melo, coordenadora da ala de Baianas da verde e branca, a fantasia representa a África com detalhes de ancestralidade. “Os búzios, os tecidos, essa fantasia é a África, tudo representa a ancestralidade africana”, explica Sônia.

UniaoJPA04 1“Estamos trazendo nossos antepassados e nossos antigos. […] Nossa fantasia trás a alegria e o brilho que alguém lá de trás. As cores da África, os búzios e o brilho remetem a esse passado”, explica Nanci.

As baianas estavam tranquilas e animadas para entrar na avenida esta noite. Elas entraram em um consenso sobre a fantasia, de acordo com elas, é confortável e leve. “Eu desfilo há 70 anos, e essa fantasia é uma fantasia leve, confortável e bonita. E olha, eu desfilei em 24 escolas meu amor”, disse Regina Antunes, Baiana da Jacarepaguá.

A escola foi a primeira a desfilar neste sábado de desfiles, apresentando a vida dos homenageados desde a escravização, mostrando os atos de resistência e representando-os como heróis da liberdade.

Desfilantes da União de Jacarepaguá se orgulham na volta para a Marquês de Sapucaí

UniaoJPA03 1Após oito anos na Intendente de Magalhães, a União de Jacarepaguá está de volta à Marquês de Sapucaí. Devido a esse retorno, a escola atraiu muitos componentes novos, até de fora da cidade, para conhecer a Avenida. Novos ou veteranos, o fato é que os desfilantes estão muito honrados em representar o pavilhão na Avenida.

Cátia Alves, corretora de imóveis de 50 anos, mora em Vila Valqueire, região de Jacarepaguá. Apesar de ser o primeiro ano de Cátia desfilando na escola, para ela foi muito difícil ver a agremiação do seu bairro tantos anos longe da Passarela do Samba.

UniaoJPA04“Acho que representa não só para a União, como para o nosso carnaval, que é a coisa mais linda do mundo. Representa o nosso país, é a nossa essência. É a escola do meu bairro (…) Foi muito difícil (ver a União de Jacarepaguá anos longe da Avenida). É uma escola muito simpática, com pessoas que são unidas como uma família. Eles merecem estar aqui hoje”, disse Cátia.

Margareth Paulo Cruz, recepcionista de 58 anos, já desfilava na União de Jacarepaguá na Intendente de Magalhães. Depois desses anos todos distante da Passarela do Samba, Margareth sonha em ver a escola no Grupo Especial.

UniaoJPA02 1“É um grande prazer ter a União de volta ao grupo que ela merece estar (…) Ano que vem vamos para o Grupo Especial (…) Nós conseguimos, com muita luta e vitória, voltar para a Série Ouro”, expressou Margareth.

Luiz Carlos Lima, vulgo “Boneco”, trabalha com construção civil e tem 66 anos, além disso tem uma ala no Cacique de Ramos. Boneco também está estreando na União de Jacarepaguá. Mesmo sendo a primeira vez desfilando na escola, Luiz Carlos nutria uma simpatia pela agremiação.

UniaoJPA01 1“É uma honra muito grande, ela (União de Jacarepaguá) vem nessa luta há vários anos. É o momento certo para ela brigar e se manter na Marquês de Sapucaí (…) É uma luta. Não só ela, como outras grandes escolas que já participaram da Marquês de Sapucaí, estão na briga para voltar também”, explicou Boneco.

Maria de Fátima, professora de história de 65 anos, mora em Vassouras e está desfilando pela primeira vez na Marquês de Sapucaí. Como a União de Jacarepaguá costuma produzir enredos sobre a história da sua cidade, Maria se identificou com o pavilhão.

“Passamos por uma pandemia, e agora estar na Avenida com um enredo bonito, falando sobre os nossos ancestrais (…) Para mim está sendo maravilhoso, é a nossa resistência”, disse Maria de Fátima.

União de Jacarepaguá representou o quilombo em sua segunda alegoria

UniaoJPA01A União de Jacarepaguá trouxe a ancestralidade do povo negro, neste sábado, no segundo dia de desfiles do grupo de acesso. A verde e branco contou a história de Manuel Congo e Mariana Crioula, os maiores líderes da luta racial no Brasil. Em sua segunda alegoria, a escola trouxe a representação do quilombo, e a sua importância, mostrando ser uma escola de resistência.

O carro é vermelho com detalhes roxos, com peixes em suas laterais e caveiras ao redor. No topo, mulheres pretas usando turbante e rostos de quilombos na traseira. Carlos Pereira, passista apaixonado pela escola, diz que o quilombo é muito importante e precisa ser representado na avenida. “Hoje os quilombos sofrem grandes dificuldades, é preciso valorizar mais esses povos e contar sua história”, explicou Carlos.

Luciano Santos é um dos responsáveis pelo carro na Sapucaí. Ele afirma que a comunidade de Jacarepaguá é uma comunidade com resistência e força, que a verde e branco veio com tudo para contar sua história. “O quilombo é a força e a raiz, a escola tá vindo com tudo para contar a história e trazer ancestralidade. Esse carro vem pra mostrar que a gente vai ganhar o carnaval”, disse Luciano.

UniaoJPA03Pela primeira vez desfilando pela escola, Samuel está fantasiado de força e bravura em frente ao carro. Ele está ansioso e feliz por desfilar pela primeira vez na escola representando o quilombo. “Eu estou muito feliz, […] é o primeiro desfile da minha vida. É uma escola de bastante resistência” afirmou Samuel.

A escola foi a primeira a desfilar neste sábado de desfiles, apresentando a vida dos homenageados desde a escravização, mostrando os atos de resistência e representando-os como heróis da liberdade.

Fotos: desfile da União de Jacarepaguá no Carnaval 2023

Diogo Jesus e Bruna Santos: ‘Temos que continuar pensando de onde nós viemos para continuarmos focados aonde a gente quer ir’

Após um início em 2020 com uma certa desconfiança do público, Diogo Jesus e Bruna Santos tiraram de letra as críticas e estão representando o pavilhão da Mocidade Independente de Padre Miguel com um bailado de alto nível. Em entrevista ao site CARNAVALESCO para a Série Entrevistões, o casal contou sobre a superação no início, o trabalho com a coreógrafa Vânia Reis, os rumos da dança do mestre-sala e da porta-bandeira, suas inspirações e as expectativas para esse carnaval.

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Fotos de Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Qual balanço da carreira de vocês?

Bruna Santos: “Eu venho desde 2020 como primeira porta-bandeira da Mocidade Independente de Padre Miguel. É uma honra defender esse pavilhão ao lado do meu mestre-sala Diogo Jesus. Ele tem bastante experiência, me ajuda bastante. Assim como minha coreógrafa também, que com sua experiência na dança me ajuda bastante”.

Diogo Jesus: “Um balanço muito positivo. Por mais que eu tenha passado por altos e baixos na minha carreira. Agora, ao lado da Bruna eu venho me consolidando com essa parceria gigantesca junto com a Vânia. A Mocidade tem me dado uma estrutura genial (…) Destaco uma importância maior de estar ao lado dessa porta-bandeira incrível. É uma troca muito positiva, uma energia muito boa que a gente troca. Um balanço muito positivo de 2017 para cá”.

Diogo, quem é sua referência como mestre-sala? E por qual motivo?

Diogo Jesus: “Minha referência como mestre-sala é o Julinho, não escondo (risos). Ele sabe também o quanto eu o admiro, o quanto eu o tenho como parceiro, como amigo. Ele é uma pessoa genial dentro e fora das escolas de samba. Eu destaco mais a vida dele fora da dança, é um cara íntegro. A postura dele me encanta muito. Mas dentro da dança é aquilo: é um fenômeno”.

Bruna, quem é sua referência como porta-bandeira? E por qual motivo?

Bruna Santos: “Não é segredo para ninguém. Minha referência é a Marcella Alves do Salgueiro. A dança dela me encantou. Eu me tornei porta-bandeira pela primeira vez vendo ela dançar, quando ela era da Mocidade Independente de Padre Miguel. Para mim a dança dela é encantadora. Ela tem uma bailado leve, tranquilo, suave, aquela coisa bem clássica mesmo”.

O mestre-sala vem sempre sendo muito cobrado em cortejar mais a porta-bandeira do que dançar sozinho. Acha que falta mais esse ‘olhar’ do mestre-sala para a porta-bandeira?

Diogo Jesus: “Dentro da minha dança não está faltando. Porque estou o tempo todo olhando para a minha porta-bandeira. A minha dança é em torno da porta-bandeira e do pavilhão. Acho que eu não tenho que fazer mais ‘firula’ quem tem que fazer é a porta-bandeira. ‘Firula’ no sentido de dança, quem tem que fazer é a porta-bandeira junto com o pavilhão, e eu só tenho que proteger. O menos para mim é mais, e a gente bem trabalhando isso. A minha coreógrafa Vânia Reis desde quando começou a ensaiar a gente, vem trabalhando isso. Está nítido que a minha dança é em torno da porta-bandeira. Graças a Deus eu tenho sido pouco visado, no bom sentido, porque eu só estou ali para proteger. Na nossa dança isso não é preocupação”.

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Acreditam que o julgamento do quesito nos próximos anos voltará a ser mais focado na dança ou a coreografia chegou para ficar e ganhar mais protagonismo?

Bruna Santos: “Eu acredito que os julgadores são bem preparados, eles vão julgar o tradicional mesmo. Como tudo vem mudando no carnaval, eles também gostam de ver um pouco de coreografia. Mas acredito que eles têm o julgamento deles, a forma correta de julgar. Eles vão julgar o certo”.

Diogo Santos: “Meu olhar é técnico. Novamente vou destacar a Vânia, porque é uma bailarina, já tem uma escola de dança, já está no ramo há muitos anos, forma muitas bailarinas e bailarinos. Ela traz esse olhar técnico para a gente. Eu não entendia nada disso, se você me pergunta isso há três anos atrás, eu não ia saber responder. Mas hoje, eu tenho esse gabarito para responder, porque ela passa para a gente. Ele (o jurado) vai julgar a dança e a coreografia. Porque uma coisa leva a outra. Não tem como a gente destacar um do outro. A nossa dança é baseada na nossa coreografia, e vice e versa. Não tem como fugir disso”.

Vocês foram muito cobrados quando foram anunciados e venceram na Avenida. Foi duro encarar aquele momento? Como conseguiram superá-lo?

Bruna Santos: “Foi bem difícil naquele momento. Até porque eu estava na minha escola. Não esperava receber esses ataques (…) Tivemos a nossa coreógrafa que foi coreógrafa, mãe , psicóloga, que estava todo o tempo ali com a gente. Toda a diretoria estava também dando suporte. A gente se blindou. Eles nos fortaleceram, mas não foi fácil. Começou a se tornar fácil, porque estávamos com pessoas ao nosso redor que nos abraçaram para não ficarmos com essa loucura na cabeça”.

Diogo Jesus: “Ainda está sendo um processo. Porque, a gente nunca pode esquecer o que a gente passou lá atrás. A gente tem que sempre lembrar da nossa base, de onde nós começamos. Eu acho que a nossa parceria começou com uma desconfiança. Hoje se a gente tira notas boas, é porque lá atrás deram um suporte para a gente. A escola deu suporte para a gente. Nós tivemos a coreógrafa que trabalhou incansavelmente para que a gente pudesse dar as notas. É um trabalho de trio, em conjunto. Não posso esquecer tudo que nós passamos, foi um processo muito difícil. Com todas as notas que a gente vem ganhando, com todos os prêmios que a Bruna ganhou (…) Temos que continuar pensando de onde nós viemos para continuarmos focados aonde a gente quer ir”.

O que você sente quando já é apontada como uma das maiores portas-bandeira da escola e que terá muito futuro pela frente?

Bruna Santos: “É uma honra estar como uma porta-bandeira para o futuro. Fico com aquele friozinho na barriga. Porque é uma responsabilidade, até mesmo pelas próximas que estão vindo. Temos também o nosso projeto de mestre-sala e porta-bandeira lá da Mocidade Independente de Padre Miguel. Ser essa porta-bandeira do futuro para o carnaval me deixa mais nervosa pelas crianças que estão vindo”.

Dançar com uma porta-bandeira que é muito elogiada traz um impulso para a sua dança como mestre-sala?

Diogo Jesus: “Com certeza. A Bruna desde o início foi uma troca. Até um pouco antes da Vânia chegar, a Bruna apontava meus erros nos ensaios, eu apontava os erros dela também. Hoje, vendo esses elogios todos em torno da Bruna, só me dá mais carinho, mais amor por ela, amor ao pavilhão. É igual ao Messi, o Neymar quer jogar ao lado do Messi. Eu quero jogar do lado da melhor. Eu estou do lado da melhor.”

Como é a troca de vocês com o carnavalesco? O que podemos esperar da fantasia de 2023?

Diogo Jesus: “A troca é muito boa. Graças a Deus ele nos ouviu. Antes de desenhar as fantasias, ele quis ouvir a gente. Ele tem deixado a gente livre para apontar os nossos defeitos quanto a fantasia. O que a gente pode melhorar, o que ele pode também melhorar na fantasia. São profissionais maduros que sabem o que vão fazer. A troca é positiva demais”.

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Bruna Santos: “O Marcos é maravilhoso. Foi como o Diogo falou, ele deixou a gente bem à vontade para opinar sobre a fantasia. O que vai nos atrapalhar, ele dá um jeitinho para melhorar. O Marcos tem sido extraordinário com a gente. Ele é um carnavalesco maravilhoso”.

O que não pode faltar em uma porta-bandeira perfeita?

Bruna Santos: “Essa pergunta é meio difícil de responder. Acho que a humildade, o carinho e a simpatia. Isso não pode faltar em nenhuma porta-bandeira”.

O que não pode faltar em um mestre-sala perfeito?

Diogo Jesus: “O mestre-sala só tem que defender o seu pavilhão com muita galhardia e cortejar sua porta-bandeira. Para mim, esses são os dois pontos de um mestre-sala perfeito.

Qual é a declaração que o Diogo faz olhando para a Bruna? E qual a declaração que a Bruna fala para o Diogo?

Diogo Jesus: “Minha bonequinha (risos). Ela sabe que eu tenho um carinho imenso por ela. Ela sabe que tudo que a gente passa é para o nosso crescimento. A gente tem mais momentos bons do que ruins. Quando os momentos ruins chegam, nós sentamos para conversar. É difícil, mas a gente chega, senta e conversa. Porque são duas pessoas com personalidade muito forte. Mas mesmo assim a gente não deixa isso afetar nossa parceria. Nós temos, mais uma vez ressaltando, a nossa coreógrafa do nosso lado. A pessoa que fica ali ditando os dois lados. Porque chega, conversa (…) Minha porta-bandeira é meu orgulho, tem feito um trabalho genial”.

Bruna Santos: “Só tenho a agradecer a ele por todo trabalho que tem feito ao meu lado. Se hoje eu estou chegando a esse nível, é graças a ele, a experiência dele. A experiência dele naquele início foi primordial. Ele sabia tudo que a gente tinha que fazer naquele momento, era a minha primeira vez passando ali. Ele é, com todo respeito, f* para caramba. Ele é essencial para a minha dança, assim como a nossa coreógrafa que nos ajuda bastante. O Diogo, como eu falei em outras entrevistas, foi um príncipe naquele momento, e está sendo uma grande parceria ao lado dele”.