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Valorização à ancestralidade das baianas está presente na fantasia da ala para 2023 na Bangu

Bangu01 1As baianas da Unidos de Bangu no desfile que conta a história da qualidade do Xangô menino, apresentando os festejos de Aganju, reservou para as baianas, matriarcas do samba e bastiões das religiões de matriz africana, uma parte central. Em “Awá Dupé… a roda de Xangô”, nome do figurino produzido para as guardiões do samba e religião, nos ritos Nagô, Ketu, Efon, Awá Dupé é um agradecimento a presença do rei de Oyó, o orixá Xangô.

A presidente da alas de baianas da Unidos de Bangu, Teresa Cristina, esclareceu mais sobre a fantasia, seu valor dentro do enredo e da religiosidade do tema, além de contar como as componentes ficaram felizes com o figurino.

“Fiquei muito feliz com a fantasia, com a escolha do tema do figurino e com o enredo. As baianas estão adorando, estão amando, vamos arrebentar na Avenida, mostrar a força que Xangô tem. Elas vem representando o Xirê de Xangô. É a força da escola, o orixá traz essa força. Todas adoraram porque todas adoram Xangô. Vai trazer uma grande energia, ainda mais que dessa vez não viemos abrindo a escola, deixando uma surpresa”, contou com alegria a presidente da ala.

Bangu03 1Componentes da ala das baianas da Bangu, Maria Inês e sua irmã Maria Nazaré, falaram um pouco sobre a importância do figurino das matriarcas do samba apresentarem uma temática ligada ao afro e sua ancestralidade.

“Eu acho muito importante a gente não perder as nossas raízes,, as baianas em cada escola representam realmente a ancestralidade , na realidade partiu de Tia Ciata, então eu acho muito importante essa ala nunca acabar e a gente ter essa representação para os mais novos e que eles saibam contar a nossa história. Os novos não sabem mais , a gente se sente muito importante dentro dessa roupa, ainda mais com esse enredo”, conta Maria Inês.

A médica Maria Nazaré, irmã de Maria Inês, além de exaltar a fantasia e todo o seu significado, fez questão de ressaltar a valorização da cultura africana e das religiões de matriz dentro das escolas como um brado contra a intolerância.

“Em um momento que a gente vive tanta polarização religiosa, a demonização da cultura africana. Para as religiões de matriz africana, as escolas resgatam essa história da nossa ancestralidade, do povo preto que veio para ser escravizado e passa sua religiosidade de maneira bonita, alegre e não de forma como se fosse demoníaca. Respeito. As escolas de samba estão aqui representando uma religião que tem muita ancestralidade. É um brado contra intolerância, a gente tem que lutar até que todos nos ouçam. Temos terreiros de umbanda sendo destruídos e as pessoas que professam essa fé tem sido impedidas até de falar alguma coisa. Eu acho que isso tem que acabar”, acredita a baiana.

A baiana Valdemira Sacramento, aproveitou a importância da fantasia e do tema para lembrar de como as baians são importantes para as agremiações.

“É um resgate também do valor que as baianas tem. Tem muita gente que não valoriza a gente, mas na escola de samba a baiana não dá ponto, mas tira. Temos nossa importância no desfile porque somos ancestralidade das escolas, temos que ser valorizadas. Mas tem muita gente que não repara nisso. E além do desfile somos as pessoas que sempre ajudam nas escolas, na comida, barracão, fantasias”, completou a componente.

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Bateria da Bangu traz ritmo e religião em sua fantasia e reforça luta contra a intolerância e valorização das religiões de matriz afro

Bangu05A Unidos de Bangu levou para a Sapucaí em 2023 o enredo “Aganjú: a visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”. O desfile contou a história de uma qualidade de Xangô, apresentando os festejos de Aganju, o Xangô menino, na cultura afro-brasileira. Para quem não o conhece é o orixá ainda criança, diferente da sua qualidade mais conhecida, até sua data de comemoração é diferente, no sincretismo religioso Aganjú é São João e não São Jerônimo

A bateria Caldeirão da Zona Oeste comandada pelo estreante mestre Laion virá com um figurino representando uma parte que além de ser importante para o enredo faz referência a religiosidade que os ritmistas ancestralmente derivam. A fantasia “O toque de Alujá” representa como citado no nome o alujá, que é o toque dos atabaques, que invoca Xangô nos terreiros de candomblé. O modelito era bastante leve permitindo que os ritmistas pudessem desempenhar bem o seu papel, sendo predominante o branco, mas com traços em vermelho com detalhes em signos das religiões de matriz africana.

Bangu06O site CARNAVALESCO conversou com alguns dos integrantes da “Caldeirão Vermelho e Branco” para saber mais sobre a relação que tiveram com a roupa e como está conectada também com o ritmo que produziram. Bruno Bangu, que toca surdo de segunda na bateria, além de ser intérprete da Vila Carioca que desfila na Intendente, falou da importância da bateria retratar uma parte tão importante para o enredo e para a musicalidade de Xangô em geral.

” A gente se enquadra no que o enredo está falando, tanto na batida afro, na batida de Xangô e também a caipira, porque veio falando também das linhas de Xangô e também vai no Santo Antônio da caipira, a gente vai representando toda essa característica da batida. Quando a Bangu se reencontra com esses temas afros é uma facilidade a mais para bateria que também se junta a religião com o carnaval, na batida afro, e fica impossível não colocar aquele valor legal da batida afro. Sempre se enquadra junto”, explicou o ritmista.

Bangu04Na linha de Bruno, Gustavo Oliveira, que toca surdo de primeira na Unidos de Bangu comentou a importância de a escola principalmente retomar a apresentação de um tema afro, o que em sua opinião facilita o trabalho dos ritmistas.

” A bateria toda a vez que traz um tema afro, consegue desenvolver melhor o trabalho, a gente consegue fazer umas bossas um pouco mais complexas, soa melhor. Acho que essa é a vantagem de estar fazendo um enredo sobre o Aganjú, Pai Xangô da justiça”, entende o ritmista.

Bangu03Gustavo, nascido e criado na umbanda, também ressalta que a temática escolhida pela escola é importante para que a cultura possa ser grande artifício para vencer a intolerância contra as religiões de matriz africana.

” A gente nasceu em um país que seria laico, mas na verdade ele pé cristão, então a gente cresce com intolerância desde sempre, desde que o Brasil se tornou Brasil. Mas, é extremamente importante a gente fazer um enredo sobre isso, porque cada vez mais vai batendo nesta tecla e as pessoas vão entendendo que não é qualquer coisa, é uma religião extremamente importante, extremamente brasileira que traz a nossa cultura e mistura a nossa cultura”, afirmou o músico.

Bangu02Da ala de cuíca, Ralf Dias e Jairo Carvalho, falaram um pouco sobre como a energia de trazer um toque importante não só para o ritmo, mas para a religiosidade, interferiu até mesmo no astral da agremiação.

” Foi muito importante trazer uma fantasia completamente ligada ao enredo. E a nossa fantasia trouxe um toque de religiosidade, uma energia positiva não só para gente, mas para escola, ainda mais porque a bateria é o coração da escola. Não tenha dúvida. Fizemos alguns toques na parte da bateria que faz alusão ao Machado de Xangô”, explicou Jairo.

Bangu01” Acho que o tema trouxe uma energia que é sempre positiva para escola, uma fantasia leve, boa para tocar, e Xangô ajudou para que o desempenho fosse satisfatório. E o alujá que é um toque importante para Xangô não podia faltar no desfile”, ressaltou Ralf.

A Unidos de Bangu foi a terceira escola a desfilar na segunda noite de desfiles da Série Ouro 2023.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos da Ponte no desfile

A bateria da Unidos da Ponte de mestre Branco Ribeiro fez um desfile correto, que poderia ter sido melhor com um andamento mais cadenciado. Tocando de forma acelerada, os arranjos musicais complexos perderam parte da fluidez musical, que permite a integração plena com o samba-enredo da agremiação. A conjunção sonora da “Ritmo Meritiense” exibiu um nível satisfatório, com um casamento musical com certo refino entre as peças leves (tamborins e chocalhos), sem contar uma afinação de surdos acima da média.

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A cozinha da bateria da Ponte apresentou uma afinação de surdos de extrema qualidade. Marcadores de primeira e segunda tocaram de forma consistente, enquanto as terceiras auxiliaram dando um balanço envolvente para preencher a sonoridade, tanto no ritmo, quanto em bossa. As caixas de guerra se exibiram com solidez, enquanto repiques foram coesos ao longo do cortejo.

A cabeça da bateria da “Ritmo Meritiense” exibiu um trabalho acima da média. Uma ala de cuícas tocaram com segurança, junto de agogôs que faziam convenção pautada pela melodia. Um naipe de chocalhos de alta qualidade musical tocou de forma atrelada a uma ala de tamborins de técnica apurada. Esse casamento sonoro de tamborins e chocalhos foi o ponto alto entre as peças leves.

Na primeira do samba houve uma virada que permitiu a plena fluência dos naipes, sem contar que o balanço dos surdos adicionou um molho peculiar a bateria da Unidos da Ponte. Assim como o arranjo envolvendo o naipe de caixas na virada para a segunda do samba propiciou um swing envolvente após ser realizado o movimento rítmico ousado.

A paradinha do refrão principal mostrou valor sonoro, além de estar intimamente vinculada ao tema de matriz africana. Inicia
com solo de atabaques no estribilho. Seguindo para uma elaboração musical sofisticada já na cabeça do samba, onde um toque de Candomblé foi percebido em homenagem ao Orixá Omulu, conforme pede o samba da escola de São João de Meriti. Um arranjo musical vinculado ao tema da agremiação, que se aproveitou da pressão dos surdos junto com as batidas de qualidade das caixas.

A bossa do final da segunda tinha um grau de dificuldade de execução considerável, num arranjo marcado pelo impacto sonoro da pressão provocada pelos surdos, que se aproveitavam da variação da melodia da obra para consolidar o ritmo.

A paradinha do refrão do meio tinha um alto grau de complexidade, numa elaboração que indicou bom gosto musical. Nos versos finais da primeira houve um corte seco na palavra “Resistir”, para posteriormente iniciar o arranjo pautado pela pressão dos surdos, junto dos demais naipes numa batida de vertente africana. O vínculo cultural com o enredo e samba da escola foi o ponto alto da constituição da convenção. A “Ritmo Meritiense” aproveitou a bossa para realizar um movimento sincronizado pela pista, sendo bem recebido pelo público. O desafio foi tocar andando enquanto os ritmistas trocavam de posição pela pista, mantendo o ritmo da Ponte inalterado, o que pareceu ter transcorrido de modo correto.

As apresentações nos três módulos ocorreram de forma sólida e segura. As exibições contaram, nas três cabines, com a bossa do refrão do meio que fazia os ritmistas trocarem de lugar com o ritmo acontecendo. Tal movimento causou frisson no público presente na Sapucaí em todas as vezes que foi feito e visualmente parece ter agradado os jurados. Pela pista não houveram problemas a serem relatados nas apresentações para o júri, num desfile qu evidenciou o acerto cultural de atrelar a sonoridade da bateria da Ponte de mestre Branco Ribeiro ao tema africano da escola.

Parte musical se destaca, mas problemas na parte visual, no casal e em enredo comprometem desfile da Unidos da Ponte

Segunda escola a entrar na avenida no Sábado de carnaval da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou o enredo “Liberte Nosso Sagrado – O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, desenvolvido pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz. Em 54 minutos de desfile, a Azul e Branca de São João de Meriti realizou um desfile com destaque para o bom desempenho de sua parte musical, com o funcionamento do samba-enredo, o excelente desempenho do intérprete Kleber Simpatia e espetáculo da bateria “Ritmo Meritiense”. Problemas apresentados em enredo, na apresentação do primeiro casal, Thainara Matias e Emanuel Lima, e na parte visual, no entanto, comprometeram a apresentação da escola. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

Comandada pela coreógrafa Alessandra Oliveira, a Comissão de Frente da Unidos da Ponte representou “Okutá – A Pedra Sagrada que encanta Orixá”. No enredo, o Okutá é um pedra sagrada associada a Oxum, orixá de cabeça da homenageada da escola. Na coreografia, 12 bailarinas vestiam uma roupa branca com saias de palha, 2 bailarinas portavam um recipiente na mão e 1 vestiam roupas douradas, nas cores da orixá Oxum. A apresentação possuía dois pontos tidos como altos, um no qual a dançarina de dourado aparecia com a pedra sagrada, Okutá e no outro, logos após os demais componentes terem deitado no chão, como no processo de iniciação nas religiões de matriz africana, a bailarina de dourado ia para trás das palhas e saia como a própria orixá Oxum.

VEJA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS
Parte musical se destaca, mas problemas na parte visual, no casal e em enredo comprometem desfile da Unidos da Ponte
Intolerância contra religiões afros são denunciadas em desfile da Unidos da Ponte
Baianas da Unidos da Ponte comentam sobre ancestralidade e conexão com a escola
Unidos da Ponte encerra desfile com o enaltecimento do legado de Meninazinha de Oxum

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Unidos da Ponte, Emanuel Lima e Thainara Marias, vestiram uma fantasia em tons terrosos, representando “O Culto dos Alufás”, uma prática religiosa baseada nas tradições das religiões de matriz africana, sobretudo o candomblé e a umbanda. Os Alufás são considerados como os representantes dos Orixás e são vistos como os porta-vozes dos deuses africanos no mundo humano.

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A coreografia do casal apostou em uma dança de muita garra e algumas alusões à letra do samba, como passos afro. Em sua apresentação na avenida, no entanto, o casal apresentou alguns problemas em frente às cabines de julgadores. O primeiro deles se deu na fantasia da porta-bandeira, que soltava penas ao longo da avenida, o que ocorreu nos julgadores dos módulos 1 e 2. Com o forte vento que acometeu a Sapucaí durante o desfile da escola, a porta-bandeira enrolou a bandeira na primeira cabine dos julgadores. De positivo, o fato de o casal cantar com muita força a letra do samba da escola durante suas apresentações.

Harmonia

A Harmonia da Unidos da Ponte também foi outro ponto que desejou a desejar em alguns momentos do desfile da escola. O desempenho do canto da comunidade de São João de Meriti foi irregular e não-uniforme entre as alas. As alas 5, “Tenda dos Milagres” e 11, “Mulheres de Axé”, por exemplo, passaram com diversos componentes sem cantar a letra do samba-enredo da escola. As alas 3, “Procópio D’Ogum” e 17, “ Liberte nosso Sagrado”, foram as que mais cantaram a obra. O refrão principal do samba-enredo da escola, “Eu vi a coroa de Oxum… Deixe em paz meu terreiro de Candomblé”, foi bem cantado pela comunidade de São João de Meriti.

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Evolução

A evolução da Unidos da Ponte em seu desfile foi, de maneira geral, fluida e sem grandes sustos, como buracos ou clarões. Ao longo de 54 minutos, a Azul e Branca de São João de Meriti conseguiu avançar ao longo da Marquês de Sapucaí de maneira leve, solta e organizada, com as alas bem compactas. O único ponto de preocupação no quesito foi o tempo que a escola permaneceu parada na altura do segundo módulo, um pouco maior que o normal. A se destacar no quesito a animação e leveza apresentada pelas últimas alas da escola, 16, “Respeito o meu terreiro”, 17, “Liberte nosso sagrado” e a dos compositores.

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Enredo

O enredo da Unidos da Ponte, “Liberte Nosso Sagrado – O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, tem como ponto de partida Acervo Nosso Sagrado, coleção de objetos de religiões de matriz africana que estavam sob poder da Polícia Civil até poucos anos atrás, para homenagear a Mãe Meninazinha de Oxum, ialorixá que tem seu terreiro no bairro São Mateus, em São João de Meriti.

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A história desenvolvida pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz foi contada por meio de três carros, 18 alas e dividida em três setores. No primeiro setor, “Os Ancestrais de Mãe Meninazinha de Oxum”, foi retratada as raízes e a ancestralidade da homenageada do enredo, desde Marcolina de Oxum, que veio jovem ao Brasil escravizada. No segundo setor, “Da repressão à repatriação”, a escola abordou a coleção ‘Nosso Sagrado’ e toda história de luta pela libertação dos objetos apreendidos pela polícia. No terceiro e último setor, “Liberte Nosso Sagrado”, a escola retratou a luta da homenageada, junto com outros religiosos, para reaver os objetos apreendidos e terminou com uma mensagem de paz e tolerância religiosa.

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A execução do enredo da escola, no entanto, apresentou graves problemas que afastaram a leitura da história a ser contada da boa proposta inicial dos carnavalescos. Algumas fantasias e alegorias da escola possuíam dificuldade de leitura, sem fazer referências tão claras ao que representavam, como na ala 5, “Tenda dos Milagres”, que contrastava com alas de entendimento mais claro, como a ala 8, “Documentação Fílmica e Iconográfica”, que possuía um elemento de mão com uma câmera colada.

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Outro grave problema da Unidos da Ponte no quesito enredo se deu na inversão de elementos do desfile da escola, como a ala de Baianas, que estava vestida de “Ioruba à Ifá” e, segundo o Roteiro dos Desfiles, deviam estar logo após o primeiro casal da escola, mas no entanto, vieram após o tripé “Oriki”. Outro erro ocorreu no terceiro setor do desfile, onde o muso Bruno Fernandes, representando “A Magia do Candomblé”, deveria vir após o segundo casal da Azul e Branca e não estava. A ala de passistas da escola, prevista para desfilar após a bateria de “Mandingueiros e Feiticeiras”, não entrou na avenida por falta de fantasias.

Alegorias e Adereços

O abre-alas da escola, “A cidade da palha de Iyá Marcolina”, trouxe diversos elementos estéticos da cultura afro e apresentou uma bela escultura do orixá Omulu. A alegoria, no entanto, passou na avenida com óculos solto em cima, ao lado de um dos balaios com pipoca e integrantes descalços. A segunda alegoria, “Invasões, prisões e confiscos”, apostou em tons mais escuros e uma escultura com “Magia Negra” escrita em cima para representar a prisão dos objetos do Acervo Nosso Sagrado. A terceira alegoria, “ O legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”, teve o predomínio da cor dourada da orixá Oxum, esculturas de mulheres negras na frente e a coroa na parte de cima do carro. A alegoria, no entanto, passou apagada pelos três módulos de julgadores.

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Fantasias

O conjunto de fantasias da Unidos da Ponte na homenagem à Mãe Meninazinha de Oxum apresentou irregularidades, alternando bons e maus momentos nos figurinos. Algumas alas da escola possuíam soluções mais simples, passando apenas com calças brancas e algumas até sem sapatos, como a ala 2, “Eleguns”, e alguns componentes da primeira e da última alegoria da escola. Outro ponto baixo no quesito fantasias foi a pouca leitura do enredo em alguns figurinos elaborados pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, com alas, como a “Tenda dos Milagres”, sem referências tão claras à mensagem passada. Porém, essas alas se contrastavam com outras com leituras mais claras e boas soluções, como a ala 8, “Documentação Fílmica e Iconográfica” e 12, “Cantigas e Toques”, como elementos que passaram com maestria a ideia do figurino. A ala das Baianas da Azul e Branca, representando “Saberes Silenciados no Culto Iorubá à Ifá” em um belo figurino branco, também foi destaque positivo.

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Samba-Enredo

Composto por Bruno Castro, Carlos Kind, Junior Fionda, Léo Freire, Marcelinho Santos, Marcelo Adnet, Tem-Tem Jr, Tião Pinheiro e Vitor Hugo, o samba-enredo da Unidos da Ponte confirmou na avenida sua qualidade e funcionou perfeitamente para o andamento do desfile da escola. A se destacar o ótimo desempenho do estreante da noite na Sapucaí, o intérprete Kleber Simpatia, que apesar de um problema no som no início do desfile, desempenhou com maestria a função de conduzir o microfone principal da escola. A bateria “Ritmo Meritiense”, de Mestre Branco Ribeiro, também teve contribuição fundamental para o desempenho da obra. O refrão principal do samba-enredo, sobretudo a parte do “Deixe em paz meu terreiro de candomblé”, foi o principal destaque da obra e a mais cantada pelos componentes da Azul e Branca.

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Outros Destaques

Comandados pelo segundo consecutivo pelo Mestre Branco Ribeiro, os ritmistas da bateria “Ritmo Meritiense” vieram vestidos de “Vagabundos, Vadios e Malandros”. A rainha de bateria da escola, Lili Tudão, vestiu uma fantasia de “Magia Negra”, enquanto a princesa, Denise Kaya, se vestiu de “Pombagira”.

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Show à parte, os ritmistas da escola de São João de Meriti foram o ponto alto da apresentação da escola no carnaval 2023. Ao longo da avenida, a bateria executou paradinhas que levou o público ao delírio, sobretudo a do refrão do meio, na qual os ritmistas se movimentavam para o lado e se misturavam entre si. A “Ritmo Meritiense” provocou aplausos ao longo dos setores da Marquês de Sapucaí. A se destacar, também, a presença de Mestre Lolo, da Imperatriz Leopoldinense, a frente da bateria.

Roteiro dos desfiles é essencial para o trabalho da imprensa na Marquês de Sapucaí

O Rio Carnaval e Cia Multiplicar oferecem não só para imprensa, como para todo o público, o “Roteiro dos Desfiles”. Trata-se de um pequeno roteiro com todas as informações sobre os desfiles das escolas de samba, da comissão de frente, passando por todas as alas, alegorias e até a bateria. Esse conteúdo está ajudando muito o trabalho da imprensa na Marquês de Sapucaí, justamente por fazer um raio X das agremiações.

Paulinho Carioca, locutor da Rádio Ação, ressaltou a utilidade do Roteiro dos Desfiles em sua transmissão.

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“É indispensável. Estou na cabine transmitindo com o meu comentarista, a escola está passando e você precisa de uma leitura do que está acontecendo na Avenida, saber qual é a proposta. É muito importante , bacana, um trabalho minucioso e nós trabalhamos em cima disso. Para passar a melhor informação aos nossos ouvintes”, explicou Paulinho.

Pedro Miranda, jornalista do portal Balanço do Samba, confessou que o roteiro ajuda muito em seu trabalho.

“Eu acho muito bom, importante, porque a gente tem todos os dados das escolas. É tipo um ‘livro abre-alas’ que vai para Avenida, para os jurados que temos para consultar. Isso é muito bom”, disse Pedro.

Roteiro02Renato Araújo, repórter da Rádio ABC que é da região metropolitana de Porto Alegre, admitiu que sem o “livrinho”, ele ficaria perdido.

“A importância dele (Roteiro dos Desfiles) é enorme, com base em todas as informações, a gente consegue desempenhar com mais clareza o nosso trabalho e , ao mesmo tempo, passar com objetividade tudo que está acontecendo aqui, para o público ter toda a noção do que está acontecendo aqui”, revelou Renato.

Roteiro01Alexandre Moreira, comentarista da Rádio Roquette-Pinto, também falou da importância do roteiro em suas análises.

“Para a gente é importante o roteiro das escolas de samba, porque nós ficamos informados de tudo que as escolas de samba estão trazendo. O roteiro nos deixa a par de tudo que está acontecendo. Quando a gente vai abrir a boca para falar com o ouvinte, nós estamos embasados, é sensacional esse livrinho”, Alexandre.

Comissão de frente da Estrela do Terceiro Milênio conquista o Anhembi e inaugura belo desfile da Coruja

Com cerca de 25 minutos de atraso por conta de um problema com destaques de carros alegóricos, a Estrela do Terceiro Milênio inaugurou os desfiles do Grupo Especial do carnaval de São Paulo neste sábado. Cantando o enredo “Me dê sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir”, a escola do Grajaú teve atuação bastante segura, mesmo com a insistente chuva que perdurou durante toda a apresentação. Se alguns quesitos tiveram dificuldades por conta das condições climáticas, além da comissão de frente, a Harmonia e as alegorias agradaram a todos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Enredo

O momento histórico no qual está inserida a Estrela do Terceiro Milênio e, também, o contexto mundial são utilizados como explicações para a escolha do enredo. Completando 25 anos de existência, a agremiação, pela primeira vez, desfilará no Grupo Especial de São Paulo. O planeta, ainda se recuperando dos efeitos de uma pandemia que vitimou milhões de pessoas, precisa de um desafogo. E a escolha de muitos ao redor da Terra para ter algo de bom em um período tão triste foi, justamente, o humor – e o riso como consequência.

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Com tal justificativa, a Coruja abordou justamente a arte do riso em uma cronologia histórico para o Anhembi. Primeiro, nas antigas civilizações, indo à Idade Média, ao Renascimento e aos tempos contemporâneos. E é claro que personagens e nomes específicos tiveram mais destaque – como Charles Chaplin e o semanário O Pasquim.

Samba-Enredo

Tal qual o enredo, o samba traça uma história do humor, começando com os homens pré-cambrianos passando pela Grécia Antiga, Idade Média, Renascimento, Revolução Francesa e a chegada ao Brasil. Depois, com novos meios de comunicação, a história da vida na Terra também passou por elas: filmes de comédia, ditadura militar, televisão e musicais.

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Na avenida, a canção tinha uma difícil missão: abrir a segunda noite de desfiles do Grupo Especial de São Paulo. Pior: sob uma insistente chuva – que, se não era tão forte quanto a da noite anterior, era regular e de pressão considerável. Mesmo assim, a canção empolgou todos os componentes e boa parte da arquibancada – nos três primeiros setores do Anhembi, por sinal, o público cantava e pulava bastante com a música.

Cada vez mais inserida no cotidiano da escola, Grazzi Brasil, mais uma vez, teve grande atuação – ao lado de Bruno Ribas, experiente intérprete com quem já dividiu o comando do carro de som em algumas oportunidades. Se não aplicou bossas com tanta frequência como nos ensaios técnicos, a Pegada da Coruja sustentou muito bem tudo que foi visto (e ouvido, no caso) por todos.

Harmonia

Inaugurar uma noite de desfiles é sempre um desafio, sobretudo para uma escola que nunca disputou o Grupo Especial. Com uma comunidade bastante volumosa (o Grajaú é o distrito mais populoso de toda a cidade de São Paulo, de acordo com o Censo 2010), o canto forte para representar todo o Extremo Sul de São Paulo foi constante. Não apenas na passarela, por sinal: até o Setor C, absolutamente todas as arquibancadas interagiram muito bem com a canção, cantando forte a obra.

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No corredor do Anhembi, os staffs estavam bem tranquilos – o que indicava bom volume de canto dos componentes. Mais do que isso: poucas vezes foi necessário chamar atenção de alas para que elas se realinhassem. Mais que tranquila, a Harmonia da Estrela do Terceiro Milênio foi forte e tocante no primeiro ano em que a agremiação desfilou entre a elite.

Vale destacar que até mesmo os merendeiros estavam cantando e interagindo com o samba – algo que, por vezes, não é tão comum.

Evolução

As fantasias, embora tenham iniciado o desfile com boa dose de luxo, eram facilmente movimentadas – o que ajudava os componentes a dançar, brincar e pular ao longo do desfile. Os primeiros setores tiveram ainda mais mérito no quesito por conta da famigerada chuva, que muitas vezes desmobiliza componentes.

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Um ponto importante para o desfile da escola em mais de um quesito foi a Ala 11, intitulada “O Humor Nas Revistas Na MAD Verde e Amarela”. A partir dela, no quesito Evolução, os desfilantes passaram a se movimentar menos – claramente sentindo a intensidade da chuva e, também, o posicionamento dos componentes no desfile, mais para trás, com mais tendência a se cansarem.

A Pegada da Coruja entrou no recuo da já com o carro abre-alas quase que inteiro no Setor C, garantindo um raio bastante grande para o movimento. Ao invés de entrar inteira e deixar um espaço para ser preenchido, primeiro eles se viraram e, após um giro de noventa graus, entraram no espaço. Enquanto a corte da bateria sambava para ocupar o espaço, o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, de movimentação livre, não hesitou em assumir o posto que era dos ritmistas. Toda a movimentação durou cerca de 110 segundos, tempo abaixo da média das coirmãs.

Fantasias

Como dito anteriormente, a Ala 11 foi um ponto importante para a exibição da Estrela do Terceiro Milênio. No caso das vestimentas, o que mais impactou foi o tipo de tecido que começou a ser utilizado. Se, antes, os materiais eram luxuosos, a partir do referido momento foram utilizados tecidos mais em conta, com bastante capricho nos adornos de cada componente. A própria fantasia, por sinal, teve um costeiro que começou a ficar com acabamento irregular em diversos componentes: enquanto a de alguns sustentava-se tranquilamente, em outros o material utilizado começava a desprender-se das tiras de sustentação.

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Antes disso, porém, foi notada a queda de um pompom amarelo das fantasias dos Destaques de Chão que vieram imediatamente antes do abre-alas. Embora pouco perceptíveis após o ato, caso o jurado da segunda cabine, que estava próxima, tenha percebida a ação, a escola pode ser penalizada.

Alegorias

Seguindo a ordem cronológica do enredo, o abre-alas da Estrela do Terceiro Milênio foi intitulado “A Corte Medieval” representou uma corte medieval – com os “bobos da corte”, responsáveis pela arte do riso da época. Também aparecem grandes nomes do humor brasileiro (como Costinha e Tião Macalé) em um conjunto com 38 metros de extensão. A segunda alegoria trouxe o riso em formatos de comunicação brasileiro no século XX – como o próprio nome deixa claro: “O Humor No Teatro de Revista, No Rádio e Na TV”. Como ao menos duas das plataformas utilizadas são universais, artistas estrangeiros, como Cantinflas e Eddie Murphy, marcarão presença.

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Chega o terceiro carro, também com título que o explica: “O Humor Na TV”. Com destaque para personagens e cenários que remetem a Chico Anysio, também há espaço para outros nomes como Jô Soares e Os Trapalhões. Por fim, uma justa homenagem às novas mídias: chamado de “O Mundo Na Palma da Mão”, a referência é clara aos aplicativos que transformaram, novamente, a forma de fazer rir em todo o planeta por meio de vídeos virais e aplicativos diversos.

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Em todas elas, não foi notada deslizes em acabamentos. Chamou atenção, também, a altura dos carros, todos bastante elevados. Por fim, é importante pontuar um detalhe que foi aplaudido e emocionou muitos: na parte de trás do último carro, uma escultura do Cristo Redentor com o ator Paulo Gustavo, vítima do coronavírus em 2021. Na representação, a escultura ainda tinha um balão de fala com os dizeres “Filho… você é mesmo uma peça!”.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Vindo logo na “cabeça” (começo, no jargão carnavalesco) da escola, Daniel de Vitro e Edilaine Campos passaram no Anhembi representando a histórica Comédia Dell’Arte, vertente do teatro renascentista que também teve bastante espaço na França nos séculos seguintes.

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O clima desfavorável fez com que o casal tivesse uma atuação irregular nos primeiros setores. Na primeira cabine de jurados, ambos tiveram atuação buscando a segurança, sem grandes brilhantismos técnicos – e, no geral, conseguiram executar os balizamentos obrigatórios. Na frente da Arquibancada Monumental, além da chuva, as rajadas de vento tornaram-se ainda mais fortes, prejudicando a exibição. O momento de reação, entretanto, veio na segunda cabine de jurados, quando ambos se mostraram mais soltos e executaram mais giros. Ao longo de toda a noite, por sinal, os giros foram mais cadenciados, para impedir problemas com escorregões e quedas. Nada, entretanto, tirou o sorriso e a graça da dupla.

Comissão de Frente

Destaque nos ensaios técnicos da agremiação, a comissão de frente revelou alguns segredos que acompanhavam os que observaram a agremiação do Grajaú. Os protagonistas são uma família afrodescendente, que sai de um elemento alegórico com cara triste e é animada por bailarinos fantasiados de palhaço. Em dado momento, um policial tenta atazaná-los e é brecado por tais palhaços, por sinal.

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Com coreografia pouco maior em relação ao que foi visto no ensaio técnico, algumas novidades empolgantes foram apresentadas. Uma delas foi o ato em que, de maneira bastante graciosa, o policial perde a cabeça – um palhaço a arranca e faz com que a família se divirta.

Depois, a família perde as roupas de coloração escura variando entre preto e branco e ganha trajes coloridos – em um movimento muito rápido, similar ao que marcou época no desfile “É Segredo!”, da Unidos da Tijuca, campeão do carnaval carioca em 2010. O grande destaque é o filho, que troca de roupa duas vezes em poucos segundos e, depois, vai sambar em um destaque centralizado. Sem integrantes caírem e com samba no pé em alta, o segmento teve grande destaque ao longo da noite.

Outros destaques

O desfile da escola, previsto para começar às 22h30, teve atraso de cerca de 25 minutos. Com o aval da Liga-SP, a agremiação teve direito a um esquenta de quinze minutos – e aproveitou muito bem o tempo, cantando sambas alusivos e o samba campeão do Grupo de Acesso I em 2022. Também vale destacar o agradecimento do presidente da instituição, Silvão Leite, à organização que comanda os principais desfiles paulistanos – mostrando que tudo foi resolvido em concordância.

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Das grandes celebridades do carnaval paulistano em 2023, Carla Diaz esteve bastante à vontade no papel de madrinha de bateria, chamando os torcedores para vibrar com a Pegada da Coruja – as arquibancadas, por sinal, corresponderam aos acenos da atriz. Quem não deixou muitos à vontade durante a exibição da escola foram alguns apoios que vieram já no final do desfile da agremiação. Em número bastante elevado, pessoas com a camisa amarela lotaram o corredor e dificultaram o deslocamento de jornalistas e até mesmo de Harmonias e chefes de ala da instituição.

Intolerância contra religiões afros são denunciadas em desfile da Unidos da Ponte

Ponte05 1Com o nome “Invasões, prisões e confiscos”, o segundo carro da Unidos da Ponte abordou a histórica intolerância religiosa contra as religiões afro-brasileiras que ocorre até hoje. A alegoria falou sobre as apreensões das religiosidades de matriz africana feitas pela polícia, em casas de santo, no começo do Brasil republicano, contando com acervos de objetos da época. Mesmo falando de uma época muito antiga, a alegoria levou a reflexão aos dias atuais, marcados por ataques a terreiros e pela discriminação religiosa.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, o destaque do carro, Rodrigo Reinald, que representou Xangô, falou sobre a importância de levar este enredo para a Passarela do Samba. Além dele, os demais componentes também comentaram sobre a fantasia e a importância do combate à intolerância religiosa.

Lorena Alves, estudante de 18 anos que desfilou em cima do segundo carro, representou Pomba Gira. Ela explicou a mensagem que a alegoria e a roupa planejaram passar na Marquês de Sapucaí.

Ponte01 2“A minha fantasia representa Pomba Gira, que é um Exu mulher. Ela serve para desmistificar a maneira como somos conhecidos. Muita gente vê Exu como algo ruim, sendo que não é. Exu é luz, caminho e as pessoas precisam se conscientizar disso. Esse é o papel deste carro”, explicou Lorena.

Invasões e depredações em terreiros vem sendo noticiado cotidianamente. Lorena falou sobre a importância de falar sobre a intolerância religiosa na tentativa de combater pensamentos ultrapassados e preconceituosos e também lembrou que o país é laico.

“Esses ataques são até complicados de se explicar porque são pensamentos antigos. Nós sempre evoluímos e isso é preciso. O que precisamos é de respeito – sempre em primeiro lugar. Esse enredo reflete muito os ataques. Recentemente teve um que ocorreu em uma comunidade daqui do Rio, onde um centro espírita foi depredado. Precisamos abordar isso para conscientizar a todos que o terreiro não é algo maligno. Inclusive, quem quiser conhecer algum terreiro, vá com a mente limpa, com o pensamento de conhecer e não de jogar pedras. Toda religião deve ser muito bem vinda, porque o Brasil é um país laico. Isso precisa ser relembrado e está na hora de parar com isso (intolerância religiosa)”, enfatizou a componente do segundo carro.

Lorena também lembrou o papel que o carnaval, como a maior festa popular do mundo, tem para quebrar paradigmas e desmentir preconceitos.

“O carnaval é uma festa popular – todo mundo conhece e assiste. Ele tem esse papel de conscientizar as pessoas e desmentir qualquer tipo de fantasia ou teoria que as pessoas criam sobre a nossa religião. Hoje este carnaval tem o papel de mostrar o que é, verdadeiramente, o candomblé”, disse.

Destaque do carro, Rodrigo Reinald, de 44 anos, representou Xangô. Para ele, que está em seu terceiro ano na Unidos da Ponte e há vinte anos desfilando na Sapucaí, falar sobre o respeito à religião é muito grande.

“É uma importância muito grande. Eu venho representando Xangô neste segundo carro. Na Avenida, esse carro irá representar tudo de bom. As pessoas precisam ter mais respeito com a nossa religião. Eu sou umbandista e gosto muito. Esse enredo é maravilhoso e muito importante para ajudar as pessoas a se relacionar e entender a umbanda”, comentou o destaque do segundo carro.

Paula Luna, agente de turismo de 35 anos, desfilou na Unidos da Ponte pela primeira vez. Católica, Paula entende bem a importância e a mensagem do enredo para a sociedade no combate à intolerância religiosa.

“Acho que é muito importante a gente aproveitar o carnaval, que é uma das maiores festas do mundo, para abordar esse tema tão importante que é falar sobre a intolerância religiosa que ocorre, principalmente, com as religiões de matriz africana. Eu sou católica, mas tenho consciência que é muito importante essa luta. A gente tem que respeitar todas as religiões. Qualquer religião que chegue a Deus, é valida. Temos que enfatizar muito o tema da intolerância religiosa e também punir quem comete”, declarou a componente.

Ponte02 3Paula chegou a ver parte do carro alegórico antes do desfile. Ela lembrou o papel que ele teve no enredo de representar as apreensões feitas na época.

“Eu cheguei a ver uma parte do carro no barracão, quando o carnavalesco me mostrou. É um carro muito importante, porque representa tudo que foi confiscado na época, um dos pontos principais do enredo da escola”, falou.

Com o enredo “Liberte nosso sagrado”, a agremiação de São João de Meriti foi a segunda escola a entrar na Avenida neste sábado de carnaval.

Baianas da Unidos da Ponte comentam sobre ancestralidade e conexão com a escola

Ponte01 1Segunda escola a desfilar neste sábado de carnaval a Unidos da Ponte apresentou-se com o enredo “Liberte Nosso Sagrado: O Legado Ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”. Em um enredo que homenageia uma mãe de santo é claro que a ala de baianas seria um dos pontos alyos da apresentação. As senhoras de São João de Meriti enalteceram o figurino.

“Sou bisneta de uma africana e neta de uma indígena, então é uma mistura de culturas. Não poderia me sentir mais conectada e orgulhosa das minhas origens”, afirmou Alda Melo, de 65 anos. Ela desfilou como baiana na Unidos da Ponte.

A ala, intitulada “Saberes Silenciados no Culto de Iorubá À Ifá”, além de apresentar o culto de Ifá, saudou Orunmilá, o Deus da adivinhação e da sabedoria.

Ponte02 1Suas fantasias, repletas das cores branco e dourado, formavam um belo conjunto na Sapucaí. “As fantasias estão belíssimas e esplendorosas”, comentou Alda.

Já Lucy Souza, de 66 anos, aproveitou a oportunidade para demonstrar sua gratidão por fazer parte do desfile. “Meu coração é inteiro da Unidos da Ponte. Sou doada para a comunidade”, abordou.

Freddy Ferreira analisa a bateria da União de Jacarepaguá no desfile

A bateria da União de Jacarepaguá fez um bom desfile, sob o comando de mestre Marquinhos, na abertura da noite de sábado do grupo de Acesso da Série Ouro. A “Ritmo União” exibiu boa conjunção sonora, além de arranjos musicais bem elaborados, sempre pautado pelo samba da escola. Uma apresentação em alto estilo da bateria da União.

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A cozinha da bateria contou com uma afinação privilegiada, com timbres bem definidos. Um naipe de caixas deu sustentação rítmica com virtude musical, aliado a uma ala de repiques com nítido talento. Marcadores de primeira e segunda foram precisos e firmes, na medida exata, durante todo o cortejo. Os surdos de terceira deram um balanço inegável à “Ritmo União”, sem contar as participações luxuosas nos arranjos musicais.

A cabeça da bateria exibiu uma ala de cuícas tocando de modo sólido, com agogôs que pontuavam a melodia do samba através das nuances. Uma ala de tamborins consistente e equilibrada se aliou a um naipe de chocalhos de qualidade, auxiliando com leveza a parte da frente da bateria da União. Chocalhos e tamborins executaram desenhos rítmicos baseados nas variações melódicas.

Foi possível notar uma subida de três mais elaborada, constituída através do balanço envolvente das terceiras, com ritmistas solistas de repique mor contribuindo no movimento rítmico.

Vale mencionar a virada para a segunda do samba, onde foi percebida uma nuance rítmica dos surdos de terceira, que é posteriormente repetida por caixas, repiques, chocalhos e tamborins, dando dinamismo sonoro à bateria “Ritmo União”.

A paradinha de maior destaque musical foi a da segunda. Numa constituição musical lapidada pelo refino, uniu ritmo e pressão, junto de uma retomada pautada pelo toque dos agogôs, desafiadora e genuína no primeiro verso do refrão, “Firma ponto, eu quero ver, vai ter batuquejê”. Numa concepção criativa que fugiu do lugar comum, a integração com o que solicitava a música merece exaltação. Um contratempo envolvendo médios (caixas e repiques) e agudos (chocalhos e tamborins) ainda serve como finalização, do requintado arranjo musical da bateria da União.

A bossa da cabeça utilizou a pressão das marcações graves, para gerar impacto sonoro ao ritmo. O swing envolvente irrepreensível das terceiras auxiliam no arranjo, bem como os repiques finalizam o movimento com uma subida muito bem pontuada. Uma convenção simples, mas fluída e principalmente funcional.

As apresentações nas três cabines foram consistentes. As duas melhores exibições foram no segundo e no terceiro módulo de jurados. A “Ritmo União” de mestre Marquinhos fez um desfile sólido, apresentando uma boa equalização. Um desfile que aliou segurança e equilíbrio da tradicional bateria da União de Jacarepaguá.