Nesta tarde, uma forte chuva acompanhada de ventania derrubou duas alegorias da Mocidade Unida da Mooca e outra da Pérola Negra no espaço de alegorias da Olavo Fontoura. O local, que fica ao lado do sambódromo do Anhembi, serve para a concentração dos carros alegóricos das escolas que desfilam nos dias posteriores. No caso, ambas as agremiações irão desfilar no domingo pelo Grupo de Acesso I.
Foto: Reprodução/redes sociais
A Mocidade Unida da Mooca soltou uma nota dizendo que tudo será restaurado a tempo do desfile: “Por conta da força da chuva e da intensidade do vento, tivemos duas alegorias, carro 01 e carro 02, danificados na tarde de hoje. Tudo será restaurado a tempo do desfile”. E em seguida postou um mutirão a partir das 21 horas no terreno das alegorias.
A agremiação da Vila Madalena também soltou uma nota: “Devido à chuva e aos fortes ventos desta tarde na cidade de São Paulo, nossas alegorias sofreram danos em algumas peças e composições para o Carnaval 2023. Já estamos trabalhando nos reparos e restaurações das peças danificadas”.
Outra escola prejudicada foi o Morro da Casa Verde que soltou: “Graças ao axé dos nossos orixás, vai ficar tudo bem! Como é de conhecimento público, as fortes chuvas que aconteceram hoje na cidade de São Paulo no fim do dia danificaram alegorias do Morro e de outras co-irmãs. Os reparos estão sendo calculados e o plano de ação para o nosso desfile já está em prática. O nosso bem maior que são as PESSOAS e os profissionais que ali trabalhavam , nada sofreram. O trabalho continua incessantemente até o momento do nosso desfile oficial, nos solidarizamos com as escolas afetadas e a luta continua! Contamos com a nação Verde e Rosa para continuarmos firmes , falta pouco”!
O melhor companheiro dos sambistas na Marquês de Sapucaí o “Roteiro dos Desfiles” é fundamental para acompanhar os desfiles das escolas de samba da Série Ouro e do Grupo Especial. Para a edição do Carnaval 2023 a festa é maior com o aniversário de 14 anos. A cada ano que passa o projeto ganha mais novidades.
Luciana Lima é a produtora executiva do ‘Roteiro dos Desfiles’. Foto: Divulgação
“O Roteiro passou por diversos processos de atualização. Desde a implantação de novos quadros, colunas, a edição especial de 12 anos (2021) à reestruturação da marca. Reestruturar a identidade visual e a editoração dos roteiros marcam os aperfeiçoamentos do projeto. A cada ano, entendemos um pouco mais qual é a melhor forma de adaptar as informações inéditas das escolas aos libretos. Tudo, para que os leitores tenham um acesso rápido à informação e identifique imediatamente o que representa aquela fantasia ou aquele carro, o nome dos sambistas durante os desfiles”, disse Luciana Lima, produtora executiva e diretora executiva da Cia Multiplicar.
A Cia Multiplicar, responsável pelo “Roteiro dos Desfiles”, é formada por Luciana Lima, diretora executiva da Cia Multiplicar, além das produtoras Gabriela Catarino e Natália Leotério, o professor João Gonzales, responsável pelos textos, o designer Luis Felipe Campos e o gestor de mídia Thadeu Vianna.
O libreto é editado em português e inglês, com distribuição gratuita em todos os setores da Sapucaí. São cinco revistas, uma para cada dia de desfile, que circulam nas mãos de milhares de pessoas, durante as cinco noites de apresentação no Sambódromo.
“O esforço é justamente chegar ao mínimo de 100 mil exemplares por ano. Somado à produção digital, que visa alcançar pessoas do mundo inteiro”, comenta Luciana.
Segundo Luís Felipe Campos, responsável pelo design da publicação desde a primeira edição, para desenvolver uma nova edição dos roteiros é necessário dedicar cerca de 15 horas por dia, com todos os núcleos atuando, em conjunto, para dar conta do tempo, que sempre é curto, até o dia dos desfiles.
Através da transformação digital, o “Roteiro dos Desfiles” avançou para o novo mercado. O “novo figurino” trouxe mais força e inovação.
“Humanizar o nosso conteúdo significa transcender dos espaços da Sapucaí e chegar a um número muito maior de pessoas. Produzir conteúdo informativo, num formato leve, dinâmico e interativo, resume esta ação. A busca não é somente por engajamento, mas por ampliar o diálogo e fortalecer nossos ambientes digitais: site e redes sociais”, explica Luciana.
Através dos canais do “Roteiro dos Desfiles”, você pode acessar todas as versões digitais das edições anteriores, participar do canal do leitor-sambista, deixando suas perguntas e sugestões de pautas ligadas à cultura do samba e do carnaval, para o quadro “Editor por um dia”.
Está chegando a hora! As 12 escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro desfilam domingo e segunda pelo Carnaval 2023. Abaixo, você pode votar e apontar qual é a agremiação mais aguardada. Vamos divulgar o resultado na sexta-feira.
Rumo ao quinto ano de parceria, Taciana Couto e Daniel Werneck, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Grande Rio, mostram entusiasmo para lutar pelo bicampeonato da agremiação. Embora já repletos de elogios de desfiles anteriores, o recebimento da nota máxima de todos os jurados foi essencial para a primeira vitória da tricolor de Caxias, em 2022. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, antes de um ensaio na quadra, os dois falaram sobre a construção de seu passado profissional, o respeito que sentem um pelo outro e as expectativas para 2023.
Fotos: Luisa Alves/Site CARNAVALESCO
Qual foi o segredo para vocês atingirem esse grau de excelência em tão pouco tempo?
Taciana: “Acredito que muita dedicação, trabalho duro, balé, uma preparação física específica e a nossa rotina de ensaios, tanto particulares quanto com a comunidade. Tudo isso é um somatório pra gente chegar numa apresentação bonita. Também tem muito estudo em torno da fantasia, do enredo e da coreografia”.
Daniel: “Tem dias que brincamos de dividir em rounds. Primeiro round: musculação. Depois o treino funcional com o Bruno Germano, o ensaio com a Beth… Essa cobrança que temos com nós mesmos, de nunca cair numa zona de conforto e trazer algo diferente que as pessoas gostem”.
Daniel, quando anunciaram que Taciana viria de terceira para primeira porta-bandeira, qual foi sua reação inicial?
Daniel: “Fiquei feliz por um lado e triste por outro. Triste porque já estava há três anos com a mesma parceira, tínhamos uma sintonia, mas quando soube que a Taci seria minha porta-bandeira fiquei feliz por ser nova. Acho que o mundo do samba precisa dessas apostas e constante inovação. Mais ainda por ser alguém da casa. Eu vim de fora, mas fui muito abraçado aqui dentro. Hoje digo que se dependesse de mim encerraria a minha carreira na Grande Rio. Acho que isso é gratificante e, quando surgiu a responsabilidade, pensei ‘cara, vamos lá!’. É um novo desafio porque no passado apostaram em mim e preciso confiar nas outras apostas da escola também. Graças a Deus foi um sucesso. No primeiro ano estávamos nos conhecendo, no segundo já tínhamos confiança e conseguimos alcançar o objetivo de trazer a nota máxima pra escola. Tempos depois repetimos a nota, o que é difícil de fazer”.
Taciana, quando soube que seria a primeira porta-bandeira da escola, o que sentiu?
Taciana: “Foi um susto porque era uma situação inesperada. Eu estava dormindo quando tudo aconteceu. Pela madrugada, começaram a comentar que a terceira bailarina assumiria o primeiro pavilhão da escola e, durante o dia, todo mundo me perguntou o que estava acontecendo e eu nem sabia responder. Só soube no fim do dia, quando o presidente pediu que fosse ao barracão pra comunicar isso. Foi uma grande surpresa e demorou meses pra ficha cair, mas a escola me deu todo o suporto necessário e tive o Daniel, que é excelente, ao meu lado. Eu pude e ainda posso contar com a experiência dele. Se evoluí muito nesses anos foi também graças a ele, graças a Beth, graças ao Bruno, graças a Paula do Theatro Municipal”.
Qual é ou foi a importância do trabalho da Beth Bejani com vocês na lapidação da dança e no patamar que o casal já chegou?
Daniel: “Quando temos uma coreógrafa, no caso a Beth, é importante porque precisamos desse olhar de fora. Muitas vezes a gente faz um movimento e acha que está bonito, mas não está tão amplo. Acho que o trabalho da Beth chega nessa questão de limpeza corporal e de dizer ‘olha, esse braço pode ficar mais esticado’, ‘falta finalização aqui’… Ela traz essa cobrança pra gente. Ela diz ‘poxa, Dani, Taci, é melhor ir por esse caminho’, mas nunca impôs nada. Nunca chegou com a coreografia pronta só pra aprendermos. Pelo contrário, ela pede pra levarmos ideias”.
Quais são suas referências como mestre-sala e porta-bandeira, e por quê?
Daniel: “Minha referência foi o Ronaldinho, um dos grandes mestres-salas. Eu tive a oportunidade de ter sido o terceiro e o segundo mestre-sala dele. Foi uma pessoa que lapidou muito a minha dança. Na verdade, digo que tive duas referências. Quando comecei, o meu professor Jorge Edson, que já faleceu, e aí quando vi o Ronaldinho dançando, na época com a Marcella (Alves), fiquei encantado. Pensei que era a dança e a técnica que eu gostaria de levar pra vida. Acho que o que me encantou nele foi justamente a leveza e a elegância que ele trazia pra dança, a forma de manusear o leque e o lenço. Normalmente você encontra um mestre-sala dançando com um leque, um lenço ou um bastão, mas não o Ronaldinho. Ele dançava com o leque e com o lenço. Trouxe isso pra mim e sempre vou enaltecer a figura dele”.
Taciana: “Caramba, que pergunta difícil! Acho que sempre há algo pra se ressaltar em cada uma. Apesar de termos funções básicas a seguir, a nossa dança é de particularidades. Todas têm o seu encanto e beleza. Sou muito fã da Cris Caldas, pela técnica e postura exemplar, e da Marcella Alves do Salgueiro”.
Para vocês, qual é o desfile mais inesquecível, 2020 ou 2022? Por qual motivo?
Daniel: “Os dois, porque, assim… 2020 foi um desfile que entramos com uma energia surreal, quase não nos reconhecíamos. Realmente vestimos um personagem, até por conta do enredo, e isso é algo que sempre cobro da Taci. Tinha momentos em 2020 que o samba falava de Oxóssi e fazíamos movimentos pra Oxóssi, embora viéssemos representando Exu, fazíamos movimentos de Pombajira, de Iansã… também tinha o momento só do Daniel e da Taciana. Foi um desfile muito marcante. Nunca nesses nove anos que farei na escola vi um tão emocionante. Então, quando chega 2022, nossa! A gente vê a galera gritando quando a comissão de frente entra na Avenida, se apresenta e o Exu está no topo borrifando. Aquele foi um sentimento único. Acho que é um momento que entra para história da escola e nos marca muito, ainda mais por termos entrado sabendo que estávamos brigando pelo título e que ele foi incontestável. Todos bateram palmas pra Grande Rio”.
Acreditam que o julgamento do quesito nos próximos anos voltará a ser mais focado na dança ou a coreografia chegou para ficar e ganhar mais protagonismo?
Daniel: “É muito importante a gente enaltecer isso quando entramos no argumento da dança e da coreografia: a dança do mestre-sala e da porta-bandeira não muda. É o cortejo, o riscado… Afinal, o que é a coreografia pra gente? A organização de movimentos que faremos durante o desfile. No primeiro momento vou cortejar, no segundo vou fazer o riscado, no terceiro vou apresentar a bandeira, no quarto vou riscar mais um pouco e no último agradecer. Esse é o papel da coreografia. Hoje as pessoas surgem pensando que a dança do mestre-sala e da porta-bandeira está muito coreografada, mas não é isso. Estamos organizando o que fazer. Lógico que existem os detalhes diferentes porque, por exemplo, você tem um samba que fala sobre frevo e vai querer colocar um movimento de frevo ali. São pequenos detalhes que não modificam a dança”.
Falando em coreografia, vocês têm uma especial na hora do “quitandinha”. Ela vai para Avenida também?
Daniel: “Vamos aproveitar algumas coisas. Acho que esse ano a ideia do carnaval da Grande Rio é um carnaval muito mais leve e mais alegre. Eu e Taci entendemos como uma dança brincante e descontraída, bem de Erê mesmo. Aquilo de criança implicar, brincar, beijar… então a gente vai ter esse movimento. Faremos um pouco do que mostramos na quadra, mas também vamos levar umas surpresinhas”.
Vocês trabalham com dois artistas que atualmente estão no topo do carnaval. Como é a conversa com os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora na elaboração das suas fantasias?
Taciana: “É bem bacana porque vai além de uma relação profissional e surge uma amizade fora do barracão. Temos uma ótima relação com eles, então conseguimos conversar sobre tudo. Desde que chegaram na escola nos perguntaram o que gostávamos de vestir, quais cores… sempre estão dispostos a nos ouvir. Tanto que em 2020 tivemos três desenhos até chegarmos no quarto e último, baseado num conjunto de opiniões deles, nossas e da Beth. A gente não interfere no trabalho deles, mas temos a liberdade de expor o que nos deixa favoráveis, mais soltos na Avenida, e que combine mais com o enredo. Esse ano a gente não precisou mexer em nada. A proposta já nos emocionou de primeira e estamos muito felizes com o que vamos levar pro desfile”.
Para o Daniel, qual é a principal virtude da Taciana na dança?
Daniel: “Nunca ouvi essa pergunta antes! Pra mim, a virtude dela é saber ouvir. É muito difícil lidar com o ser humano porque existem egos e, graças a Deus, entre a gente não tem nada disso. Ela sabe ouvir, temos sempre conversas, debatemos e discordamos. Acho que a maior virtude dela é essa capacidade de ser compreensiva na dupla”.
Para a Taciana, qual é a principal virtude do Daniel na dança?
Taciana: “Sempre estar disposto a me ensinar. Acho que desde o instante em que ele me acolheu. Imagino que não tenha sido fácil vir de uma parceria em caminho de consagração e pegar a responsabilidade de uma menina mais nova e com pouca experiencia porque você praticamente tem que recomeçar todo um trabalho. Mesmo assim, já no início ele me abraçou com muito carinho e até hoje tem a paciência de me ensinar, está sempre trazendo alegria para os nossos dias. Às vezes eu estou triste e ele me alegra, e cobra que o momento da nossa dança seja também de descontração. O Daniel é isso. Ele é alegre, divertido e traz isso pra minha vida, muito além da dança”.
O que não pode faltar em um mestre-sala perfeito, Daniel?
Daniel: “O entendimento da função. Ele compreender que o papel do mestre-sala é ser o guardião e defensor do pavilhão e da porta-bandeira. Acho que o mestre-sala deve estar o tempo todo pra ela, pra dama… ser realmente um protetor e pensar ‘essa flor é minha, não posso perder e deixar que peguem’”.
O que não pode faltar em uma porta-bandeira perfeita, Taciana?
Taciana: “Acredito que a elegância de uma defensora de um pavilhão, o respeito pelo sagrado e a alegria de estar ali representando uma comunidade”.
A Águia de Ouro contará o enredo ‘Um pedaço do céu’ em 2023 e busca o seu segundo título, já que conquistou o primeiro em 2020, antes da pandemia. Um enredo patrocinado pela forte marca de doces, mas que tomou forma nas mãos do carnavalesco Sidnei França e mira uma aventura curiosa para qualquer pessoa. Afinal, quais emoções te levam ao céu em vida? Contando sobre o enredo, a escolha, o carnavalesco Sidnei França contou em duas partes sobre o surgimento, e toda construção até chegar no produto final que irá para o Sambódromo do Anhembi no sábado, dia 18 de fevereiro.
Fotos de Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
“Esse enredo se chama ‘Um pedaço do Céu’, é uma criação minha, porém uma criação que surgiu depois da agremiação ser procurada pela Sodiê Doces, quando acabou o carnaval de 2022. A escola foi procurada pela marca, que faziam uma pesquisa de mercado, pois queriam popularizar a marca e achavam que escola de samba teria uma densidade cultural e ao mesmo tempo associada a questão da população de baixa renda, até pela característica do samba e carnaval, por ter sido criado e mantido pelo povo. Então fomos procurados pela Sodiê para desenvolver um carnaval que tivesse a linguagem da marca, falar sobre a questão lúdica, de uma vida açucarada, não no trocadilho, mas no sentido de uma vida feliz, suave, livre. Mas que também tinha mensagens da história da fundadora da marca, que é a Cleusa, uma mulher empreendedora, que já batalhou muito na vida, inclusive ela foi inspiração para novela da Globo, que se chamou A Dona do Pedaço com Juliana Paes. Daí vem a questão do pedaço, pois o diferencial da Sodiê é comercializar pedaços de bolo, e não bolo inteiro. Para ficar mais barato e acessível para a população, então daí a novela ser a Dona do Pedaço e o desfile do Águia ser ‘Um pedaço do céu’, a questão de o pedaço ser muito forte. Porém, apesar do enredo ser uma parceria com a Sodiê, ela não se ocupa de falar da história da Cleuza, que é a dona da marca, e muito menos sobre os segmentos dos bolos e doces. Sempre digo que é uma parceria em que a empresa entendeu que a vantagem é apostar na cultura e não transformar um desfile de escola de samba em um folhetim e panfleto comercial”.
Complementando sobre o trabalho junto com a marca parceria no processo de construção do que seria o enredo para 2023, o carnavalesco do Águia de Ouro contou com exclusividade para o site CARNAVALESCO e refletiu bastante para chegar no produto final.
“Assim foi, fizemos um trabalho muito forte de criação e contextualização para o parceiro, eles entenderam que a marca não seria homenageada no carnaval, apenas seria um apoiador para que toda a positividade do enredo repercutisse como positividade da marca também. De forma resumida é isso, a escola foi procurada pela Sodiê e aceitou, eu também como carnavalesco, tivemos um carnaval difícil em 2022. A escola como atual campeã sofreu muito para terminar, sem patrocínio, sem parceria, pagar salários de funcionários e ainda desenvolver um desfile para o carnaval de 2022. Então eu e o presidente juntos, nos unimos em busca de solução que tornasse o carnaval de 2023 mais fácil, mas nem por isso um carnaval sem cultura, magia, a força que uma agremiação tem que ter para cruzar a pista ciente do seu papel de guardião popular”.
Processo de pesquisa
Sem deixar o parceiro de lado, mas transformando o produto em um enredo de escola de samba, Sidnei França teve surpresas positivas durante toda a sua pesquisa, e abordará nos setores da escola que serão contados com pequenos spoilers em breve. Pelo momento, o carnavalesco contou sobre algumas descobertas no processo de pesquisa.
“Muita coisa, aliás esse desfile, não falo só na parte final do sambista, começou obviamente como uma ideia que conseguisse abarcar a proposta da Sodiê. Precisamos ser muito claros, não é um enredo que tinha guardado ou sonhado. Foi circunstancial que surgiu, agora que estamos na reta final, vejo que consegue traduzir muito dos valores humanos, filosóficos de existencialismo, o que estou fazendo aqui depois que tudo acabar e será que está valendo a pena tudo que estou fazendo nesta vida. O enredo ganhou densidade que no começo não tinha, e o que me surpreendeu foi isso. O quanto cada um de nós temos uma busca, construímos momentos de prazer, celebrações, vai ser um desfile que tocará muito as pessoas sobre sua experimentação individual. Cada pessoa tem sua religião, tem algo que a preenche e leva ao céu. Cada pessoa tem uma conquista e luta na vida, todo mundo já foi criança e enxergou no mundo da imaginação um ambiente favorável para chamar de céu. Então em vários momentos as pessoas irão se reconhecer e vão falar ‘nossa eu já vi aquilo, senti aquilo, sonhei com isso’, gosto de enredo abstratos por isso, desde lá de trás quando comecei na Mocidade Alegre, sempre fui fã. Fiz lá o riso, coração, ilusão, espelho, a fé, depois enfim, aqui na Águia de Ouro, o saber”.
“Gosto de enredos que vamos nos desdobrando e as pessoas vão falando, eu já vivi isso, entendi, foi minha verdade, sonho, dentro disso tudo é gostoso ver que vai dialogando. Por exemplo, para construir esse desfile agora, conversei com crianças e perguntei ‘o que é o céu para você’? E você ouve cada coisa bacana, ‘minha mãe falou que meu cachorrinho virou estrelinha no céu’, e tudo isso vou solidificando que vire um desfile de escola de samba. As pesquisas dos sambistas que se foram, foi muito prazeroso no sentido do paladar viver com todos os bolos da Sodiê. Como corintiano vou linkando com o futebol, gosto muito, vou muito para o futebol de ir no estádio, gosto, sempre que posso, não agora, quando acaba o carnaval vou para Itaquera, na Arena, é gostoso ver que traz um pouco de você, cada parte da sua vida para dentro de uma obra e ela transcende, fica maior do que você. Esse é o bonito do carnaval, o carnavalesco tem que ter humildade que isso fica maior que a gente, no começo tudo está comigo, eu que defino porque é amarelo, vermelho, azul, mas chega um momento que isso cresce tanto, vira samba, conquista comunidade, ganha o Anhembi e vira maior que a gente. Mas isso é muito gostoso, ver que a mensagem extrapola. E essa mensagem da Águia de Ouro, tenho certeza que as pessoas estão enxergando muito Sodiê, bolo, mas vão se surpreender o que iremos apresentar no dia 18”.
Ponto chave
Toda vez que falamos com carnavalesco e perguntamos um momento que tocará os corações da comunidade ou do público presente, em casa, é sempre alvo de reflexão de quem construiu todo o projeto. Mas para Sidnei França, tem momentos que gosta e destacou com alguns detalhes do que está por vir em ‘Um Pedaço do Céu’.
“Vejo vários momentos, é como falou, é difícil para o carnavalesco, criador, destacar apenas um momento. Mas dá para destacar alguns, a comissão de frente será um momento muito bacana, não só pela alegoria, ou qualidade estética, o visual. Mas pela mensagem, vai ser um momento bonito do desfile, pois a escola tem proposta desenvolvida por muito e o coreografo, Ruy, que está estreando neste carnaval aqui na Águia. Momento especial na carreira, e para mim, pois é muito meu amigo. Daí vamos ter uma brincadeira na comissão de frente que tem tudo a ver com céu. Ala das baianas que vem de boneca de pano, cinco cores diferentes, vai colorir a passarela com cinco cores, lúdicas, tons pastéis, chamamos de cores baixas, pastéis, bem clarinhas, tons bebês. Destacaria o carro 3, gosto muito, que é o céu das delícias e prazeres, que é uma espécie de uma Fábrica de Chocolate, climão Willie Wonka, chocolate, morango, chantilly, gosto muito. E o momento que vai emocionar é o último carro, pois vamos homenagear quinze bambas que já morreram e deixaram saudades, momento nostalgia do desfile, última imagem, o carro indo embora, cores do céu, estou dando spoiler, cores bem clarinhas para lembrar o céu. Vai ser um desfile bem bacana, o famoso tirar leite de pedra, consegui junto com a escola transformar o que tinha que ser algo mais comercial em algo lúdico, as pessoas durante desfile vão até esquecer de Sodiê, bolo, tudo isso e vai se entregar”.
Cores trabalhadas no desfile
Em relação ao trabalho do que virá em fantasias e alegorias para 2023, o carnavalesco refletiu e falou sobre o horário de desfile ter sido crucial para colocar tons que busquem ligar o público já na reta final da sequência de desfiles no Anhembi.
“A escola vai desfilar muito colorida, muito mesmo. Toda entrada da escola, da comissão de frente até abre alas são em tons pastéis, escolhi cinco tons de cores, todas pastéis, suaves, bebês, para dar essa inocência, clima lúdico e encantador do início. Mas depois que o abre-alas passar, explodimos em cores muito cítricas, muito vivas, até porque Águia de Ouro é a sexta escola da noite, quando escola estiver na pista vai estar amanhecendo, então aposto nas cores cítricas fluorescentes, para acender, até porque o público não pode cansar. Você imagina que as pessoas já viram outras cinco escolas e não pode ser mais uma. A escola precisa trazer uma vibração estética, contraste de cores que prenda o olhar, a partir do momento que está entregue, ela sente a música, bateria, enfim, tudo que tem a acontecer”.
Como é o carnavalesco Sidnei França
O trabalho de um carnavalesco é sempre bem intenso durante os meses que precedem o carnaval, muitas vezes discretos ao longo dos períodos, pouco é percebido pelos amantes do samba. Mas dentro da comunidade, é sempre bem intenso, e cada um tem seu estilo de conduzir, no caso do Sidnei França contou um pouco do que exige no dia a dia no barracão da Águia de Ouro.
“Sou uma pessoa meio bipolar, tem momentos que sou muito chato, bravo, ranzinza, se não agrada, eu peço para mudar. Se não é aquilo que imaginei, fico perturbado, até que fique como imaginei. Mas ao mesmo tempo sou muito acolhedor com as equipes, gosto de trabalhar com harmonia, energia boa, então assim, estou sempre na corda bamba. Eles sempre acham que hoje vou explodir, cobrar, xingar, mas ao mesmo tempo vejo que se tem carinho pelo trabalho, retribuo com carinho também. Se tem uma coisa que eu não dispenso é carinho, então a costureira, o pintor, todo mundo tem que por muito carinho. Não porque estou assinando, mas o carnaval merece, a escola merece. O Carnaval de São Paulo cresceu demais, o alcance é para o mundo através do YouTube e GloboPlay. Precisa ter respeito pelo público, o público sambista primeiramente, mas também o público mais amplo que enxerga hoje no carnaval um produto cultural que apresenta também para o mundo inteiro, temos muita responsabilidade, sobre tudo isso, acabamento, requinte na apresentação do desfile. Tenho essa consciência, eficiência e carinho. Eficiência para fazer bem feito, e carinho para ter o toque de encanto e o trabalho primoroso”.
Encontros na pesquisa
Referência no enredo, mas sem ser homenageada diretamente, Cleusa foi quem começou o império que virou a empresa de bolos que patrocina o carnaval. Mas ela e nem a empresa serão alvos, apenas são bases para o trabalho que foi construído no enredo.
“A escola não vai contar a história da Cleusa, apenas pegamos características dela. De uma pessoa vencedora, de batalha, luta, superação e tudo isso virou ingrediente para que eu conseguisse desenvolver o enredo. Mas não vamos homenageá-la, não terá foto, imagem, nada sobre ela, ou sobre a Sodiê diretamente. O que existe são momentos do enredo que contam sobre o céu, e utilizo de valores dela, então uma maneira de chegar no céu é através da vitória, batalha, luta, da conquista melhor dizendo. Dentro do contexto todo, ela se encontra diluída, mas não vai homenagear diretamente”.
Conheça o desfile do Águia de Ouro
“Dividi o enredo em cinco setores, primeiro setor é a comissão de frente, que chamo de setor de abertura, que é a comissão de frente, fala sobre a história de uma menina, e essa menina convida amiguinhos para brincar. E dentro da brincadeira ela é desafiada, dentro deste desafio ela vê que com determinação, perseverança é possível vencer qualquer obstáculo da vida e triunfar. Então todo esse setor de abertura, tem esse contexto, de convidar as pessoas para uma aventura lúdica, em que a vida precisa ser enxergada com leveza, mas também seriedade, preservação, determinação em busca dos nossos objetivos. De uma forma geral é isso, a abertura, a menina convidando para o universo lúdico, conhecer pedaço do céu”.
Setor 1: “O primeiro setor que vai desde a primeira ala até o abre-alas, ele apresenta o universo infantil que constrói o céu, primeiro pedaço de céu é o da criança. Que mostra a criança de uma maneira inocente, lúdica, pura, e para ela, o céu é a extensão de sua imaginação. É aí que iremos mostrar que a criança entra em um clima, no universo do faz de conta e dentro desse universo, tudo para ela tem sentido. A partir da construção de um céu muito particular, lúdico, puro, inocente”.
Setor 2: “Saímos do processo infantil e vamos para o segundo setor, que conta sobre o céu das conquistas, o que é o céu das conquistas? São exemplos de luta, perseverança, de batalha, superação, que faz com que qualquer pessoa tenha objetivos na vida, e ultrapasse limites impostos pelo dia a dia, da sociedade, impostos até pela sua própria vida pessoal. Como limitador, a partir do momento que não vê obstáculos na sua frente e resolve perseverar, você vence, e vencendo chega no seu céu. Cada um tenha o seu céu, por exemplo, para uma mulher dona de casa, mãe de família, muitas vezes uma trabalhadora doméstica, o que é o céu? É conseguir sustentar sua família, e conseguir vencer os desafios, formar os filhos, também tem vários exemplos, o esporte, quando a pessoa se dedica, treina, treina, vai para as Olímpiadas e ganha medalha de ouro, o lugar mais alto do pódio é o seu céu. Vamos mostrar neste segundo setor, o céu como conquista, objetivo ao ser alcançado e quando você se dispõe a sacrificar por ele, tudo vale a pena, esse é o segundo setor”.
Setor 3: “O terceiro setor é o céu dos prazeres, sensações e celebrações, neste setor eu mostro o futebol, a pessoa apaixonada pelo futebol, no grito de gol, é campeão, aquele momento, aquela fracção de segundos do êxtase, te leva ao céu. Também a arte, as pessoas que amam arte, a questão de se envolver com a cultura, arte, a pessoa quando se vê dentro de uma ópera, uma peça de teatro, no museu. Enfim, qualquer local que a arte e a cultura, ela também se sente tão preenchida, tão em êxtase, que ela vai ao céu. No amor, paixão, sedução, e obviamente as guloseimas, salgadas e doces, também vamos mostrar as pessoas que se entregam às delícias do paladar também encontram o seu céu. Cada um constrói uma ideia de céu através dos prazeres, sensações, conquistas e celebrações da vida. É o Céu dos Prazeres”.
Setor 4: “O último céu do desfile que é o céu da paz e da saudade. Primeiro vamos mostrar como as religiões tratam o céu. Primeiro vou mostrar o estado zen do budista, o Nirvana para o hinduísta, Aruanda para o umbandista, o Orum para o candomblecista, judeus com o Seol e o próprio paraíso cristão, Jardim do Éden, com as chaves do céu. Então vamos mostrar várias alas no último setor, que apresentam o céu como lugar de paz, conquista, de um bem estar físico e espiritual. Mas também, no último carro da escola, que encerra toda essa aventura por aí do céu, nós vamos fazer uma menção ao céu da saudade. O que é isso? Nós vamos homenagear quinze sambistas de diversas épocas e agremiações, que já foram embora desse plano, que já morreram. Que encontraram um pedaço do céu, mas que deixaram aqui lições de como defender e amar o samba. E aí, esse é o desfecho do desfile da Águia de Ouro, mostrando sambistas que já se foram e hoje estamos aqui para manter o legado dessas pessoas, com muita alegria, honra, enfim, desta maneira. O desfile se dispõe a contar sobre pedaços do céu, segundo crenças, valores, culturas, religiões, e mostrar o legado do sambista como algo maior do que necessariamente um local. Ser sambista é transcender e transcender após a morte é não se restringir a um momento ou só um local, só um pavilhão, é assim que terminamos esse desfile. Fazemos essa homenagem às escolas, principalmente aos sambistas que se foram, deixando exemplos de muitos sambas, batucada e carnaval”.
Relação fortalecida com a Águia de Ouro
Sidnei França assumiu como carnavalesco da Águia de Ouro em 2020 e foi campeão no primeiro ano na comunidade. O primeiro título do Grupo Especial da agremiação, e logo criou um grande carinho. Em 2022, a comunidade da Pompeia ficou em sexto lugar. Pois foi marcante por um enredo diferente que foi abordado na azul e branco. O carnavalesco contou um pouco da sua relação fortalecida no último carnaval por um motivo…
“Só tenho agradecer o Águia de Ouro, escola que me acolheu com muito carinho, respeito, essa palavra é muito forte, a comunidade também. Do presidente a cozinheira do barracão, o respeito pelo meu trabalho, pessoa, são irretocáveis, não tenho o que falar. Águia de Ouro tem marcado minha história mesmo, de verdade, pela sua assimilação a tudo que tenho a propor. Estávamos na pandemia e quando propus um enredo afro que a escola nunca fez, ‘Afoxé de Oxalá’, a escola se abriu para o novo, uma nova realidade e acolheu uma ideia minha, então isso não tem preço, não tem salário que pague isso. Quando você se sente valorizado, acolhido e parte de uma comunidade. Então só tenho gratidão pela Águia de Ouro, é uma escola que vem marcando minha história mesmo e vem se propondo ao novo comigo, venho propondo leituras de carnaval muito minha, muito particulares, o jeito de desenvolver, a maneira de ilustrar, crescer as alegorias e desenvolver os figurinos. E tudo isso eu vou sentindo a resposta da escola, me acompanhando e apoiando, em tudo que proponho, só tenho gratidão, que reflete o momento muito especial na minha trajetória. Me sinto mais maduro de quando comecei lá na Mocidade em 2009, e é gostoso sentir isso, que chegamos em uma fase em que você se estabelece, e não é no sentido de resultado, maturidade mesmo, do que propõe, quer, e é isso, Águia de Ouro virou terreno fértil das minhas ideias”.
Recado para a comunidade
“O recado que deixo é no final da apuração, que o Águia de Ouro encontre o seu pedaço de céu. O lugar mais alto do pódio, é para isso que estamos trabalhando, é claro que são 14 escolas com nível altíssimo. Percebe que ninguém está brincando, as escolas chegaram em um padrão de construção, e quando falo não digo só estética e visual, não só visual por si, mas da construção mesmo. O show que dão com suas baterias, casais, é um misto de profissionalismo, encantamento, magia, sentimento, arrebatamento. As escolas querem encantar, arrancar suspiros com cada carro, ala, comissão de frente. Então vejo que chegamos em um nível de crescimento e temos muita responsabilidade, fazemos com muito amor. Meu recado é esse, que a comunidade da Pompeia encontre o seu pedaço de céu mais uma vez com essa estrela brilhando sobre o seu escudo. E que o público do samba tenha um carnaval extraordinário, estou vendo os carros saindo, é nítido que são projetos maravilhosos e estamos aqui também, com muita humildade, são 14 escolas disputando e Águia de Ouro vai em busca do pedaço de céu”.
Ficha técnica:
Alegorias: 4
Componentes: 2400
Alas: 20
Diretor Artístico do Barracão: Marcio Gonçalves
Diretor Técnico do Barracão: Rai Silva (Bitoca)
Supervisor de Fantasias e Atelier: Fernanda Mendes
Desde 2020 sem desfilar no Grupo Especial, a Estácio de Sá para esse carnaval vem com o enredo ‘São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração’, com o objetivo de retornar às glórias do passado. A intenção do carnavalesco Mauro Leite é explorar a religiosidade dentro do festejo junino de São Luís do Maranhão. Com bastante experiência na Marquês de Sapucaí, Mauro se inspira principalmente em Rosa Magalhães, de quem foi assistente durante muitos anos.
Enredo
A ideia de produzir um enredo sobre São Luís partiu da direção da escola. Mauro ainda não conhecia profundamente a história e a cultura da cidade. A partir da demanda pela construção do enredo, o carnavalesco começou a pesquisar em livros, vídeos e artigos na internet.
Nessa imersão pela cultura do Maranhão, o carnavalesco se interessou na origem do nome de São Luís e na Festa de São João. Segundo Mauro, a riqueza cultural maranhense é muito grande para caber em um desfile. Com isso, a Estácio de Sá irá fazer a homenagem no olhar de São João e São Luís.
“Todo mundo que fala em São Luís pensa em Bumba Meu Boi. É uma coisa muito rica que a gente aqui no sudeste não conhece. Tem vários tipos de Bumba Meu Boi, ritmos (…) Quando eu me deparei com isso, vi que era um mundo muito grande, não tinha nem como colocar tudo isso dentro de uma escola de samba (…) Então eu parti para essa homenagem que é uma visão do alto de toda festa lá embaixo”, disse Mauro.
Religiosidade na Festa de São João
A mistura entre religiosidade e festa será o ponto alto do desfile. Os santos serão representados vendo os festejos juninos do céu. No último setor, São João e São Luís chegarão para festejar ao lado do povo.
“Eu gosto dessa ideia da presença forte da religiosidade misturada com a festa. A gente vai trazer muita coisa de santo misturado com festa. Espero que seja interessante para o público ver os dois santos como se estivessem de corpo presente na Terra”, explicou Mauro.
Inspiração em Rosa Magalhães
No ano de 2022, Mauro teve seu primeiro desfile assinado sem a presença de Rosa Magalhães. Como trabalhou em vários carnavais ao lado de Rosa, o atual carnavalesco da Estácio de Sá se inspira muito nela. Apesar disso, também destacou virtudes em outros carnavalescos.
“Eu trabalhei anos com Rosa, não tem como não ter ela como referência. Mas eu gosto de vários carnavalescos. Acho que todos têm alguma característica que podemos nos influenciar”, falou Mauro.
Conheça o desfile da Estácio
A Estácio de Sá será o quarto desfile no sábado, dia 17 de fevereiro. A escola virá com cerca de 3000 componentes divididos em 20 alas, além de três carros alegóricos, um tripé e mais um elemento cenográfico.
Setor 1: “Eu fiz uma espécie de introdução onde eu dei uma pincelada geral em tudo que o pessoal vai ver no desfile.”
Setor 2: “A história começa a ser contada no segundo setor (…) A gente tem o encontro dos santos no céu.”
Setor 3: “A chegada dos santos na Festa de São João na cidade de São Luís.”
Em sua estreia na Série Ouro e na Unidos de Bangu o tricampeão pelo carnaval do Espírito Santo, Robson Goulart promete um grande desfile para agremiação, que este ano trará para a avenida o enredo “Aganjú: a visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”. Contando a história de uma das qualidades do orixá da justiça. Ele, que é carioca e está se dividindo entre Rio e Vitória, sendo que, a maior parte do tempo passa no barracão da Bangu, onde recebeu o site CARNAVALESCO e deu detalhes e contou curiosidades sobre o desfile que pretende levar para da Sapucaí.
Fotos de Emerson Pereira/Divulgação
“Como eu moro aqui no Rio, e tem outro carnavalesco lá me ajudando está dando para conciliar os dois trabalhos, ficando um pouco lá, e aqui, mais aqui do que em Vitória, me dedicando mais na Unidos de Bangu”, disse.
Robson falou da grandiosidade do carnaval da Série Ouro carioca em comparação ao carnaval capixaba. Destacou o luxo e o desafio de pela primeira vez comandar um desfile.
“O carnaval capixaba é muito bom, gosto muito de lá, mas o acesso aqui é minha estreia e assim, estou sentindo essa grandiosidade que lá ainda não tem. Essa grandeza de alegorias e fantasias está sendo um diferencial, mas estou conseguindo fazer meu papel. Eu já imaginava essa grandeza toda, entrei preparado, confiante do trabalho que ia fazer, foi muita pesquisa e me dediquei ao máximo para escola fazer um desfile legal”.
O enredo da escola foi decidido pela direção da escola antes mesmo da chegada do Robson. Assim que o carnavalesco foi contratado, ele se debruçou em pesquisas e construiu a sinopse e fez todo o desenvolvimento do mesmo.
“A pesquisa foi através de vários sites e livros sobre o tema, mas o que mais ajudou no desenvolvimento do enredo foram os depoimentos. Visitei vários terreiros de candomblé para saber um pouco mais da história de Xangô Aganjú. Conversei sobre lendas, costumes, histórias e rituais então isso me ajudou muito mais que as pesquisas pela internet”.
Surpresas com o enredo
Como o enredo se trata de uma qualidade de Xangô que é Aganjú, para quem não o conhece é o orixá ainda criança, diferente da sua qualidade mais conhecida, até sua data de comemoração é diferente, no sincretismo religioso Aganjú é São João e não São Jerônimo.
“Nos depoimentos dos babalorixás o que mais me deixou surpreso foi saber que apesar de falar de Xangô, eles têm costumes e manias diferentes. É um xangô menino. Tudo que é relacionado a ele tem doces, como ele é sincretizado com São João as festas dele tem balões, pipas e bandeirinhas e isso está fazendo uma grande diferença no enredo”.
Proposta visual
A cor vermelha vai ser o destaque da abertura do desfile da Unidos de Bangu, a cor da vida, o fogo de xangô. O desfile vai passar também por partes de oferenda de animais e sacrifício, terminando pelas festas juninas. Robson Goulart explicou como vai aplicar essa plástica durante o desfile, destacou ainda a comissão de frente que virá com algumas surpresas.
“Eu quis abrir o carnaval com a cor da vida para xangô, o vermelho. Vai ser nesse tom de vermelho, laranja e amarelo. No decorrer dos setores a gente parte para partes de oferendas, agrados a comida que o orixá come, o animal que é sacrificado. E no final vamos fazer a parte do sincretismo onde começamos a partir para São João e São Pedro e fazemos uma grande festa junina. Já a comissão de frente vai vir com algo diferente e vai chamar muita atenção na avenida. A indumentária deles está bem diferente, vai chamar muita atenção de quem estiver assistindo ao desfile. ”A gente vai mostrar a questão da justiça, porque Xangô é justo para quem merece a justiça, por isso um dos símbolos dele é a balança. Então quando ele vai te julgar e colocar seus feitos na balança. A tartaruga simboliza isso, ele demora a resolver a questão porque ele quer ser justo e não injusto”.
Leão no lugar do pandeiro
O pandeiro símbolo da escola não virá em um tripé como no último desfile, segundo Robson não foi possível colocá-lo no enredo em si, então virá na bandeira do casal e no brasão da velha guarda.
“A gente vai abrir o desfile com um leão, um animal feroz que simboliza Xangô, a garra, força e coragem abrindo os caminhos para a Unidos de Bangu fazer um grande carnaval”.
Conheça o desfile da Unidos de Bangu
A Unidos de Bangu será a 3° escola a desfilar no sábado de carnaval com o enredo Aganjú: a visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó. A agremiação virá com 3 alegorias e 2 tripés (um para comissão de frente), 20 alas e aproximadamente 1500 a 1700 componentes.
Primeiro setor: “Começa no reino de Xangô o reino de Oyó, onde ele faz a sua morada, o reino e o templo de fogo. Onde teremos vulcões, lavas tudo relacionado ao fogo. Onde ele nasceu e foi coroado rei de Oyó, onde ele faz sua morada. A gente conta toda a história da aldeia que ele vive, dos ministros que o cercam”.
Segundo setor: “Aqui a gente já parte para o lado de agrado. Vamos começar a agradar o orixá com as comidas que ele come que é o amalá (é um ritual devotado a Xangô, uma celebração específica para o orixá do fogo, e a realização da ação assume um caráter festivo, no qual a divindade e os filhos de santo se confraternizam), a fogueira de xangô que é um ritual feito nesse amalá. E os animais que são sacrificados a tartaruga, o carneiro e leão que são os animais que convivem com ele”.
Terceiro setor: “Vamos finalizar com uma grande festa para esse orixá, começaremos a falar do sincretismo religioso, como ele é sincretizado como São João em alguns estados e São Pedro em outros, mas todos eles relacionados a festa junina. Então fazemos uma grande festa junina em devoção a eles que representam o xangô”.
A Unidos da Ponte vai reverenciar na Marquês de Sapucaí a luta de Mãe Meninazinha de Oxum, uma personalidade do candomblé que tem seu terreiro no bairro São Mateus, em São João de Meriti. Os carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz desenvolveram o enredo intitulado “Liberte Nosso Sagrado: o legado ancestral de Mãe Meninazinha de Oxum”. A construção desse carnaval partiu da proposta de Rodrigo de falar do Acervo Nosso Sagrado, coleção de objetos de religiões de matriz africana apreendidos pelas forças policiais entre os anos de 1891 e 1946 e que estavam sob poder da Polícia Civil até poucos anos atrás.
Fotos: Matheus Vinícius/Site CARNAVALESCO
“[Esse enredo] é uma construção desde o Carnaval de 2022. Eu já tinha uma pré-pesquisa sobre o Acervo Nosso Sagrado. Até então eu pensava de alguma maneira que algum dia eu poderia colocar isso no papel e traçar um meio de ter um desfile com essa temática. Para este Carnaval, eu tinha esse plano com plano A. Para minha felicidade, eu cheguei na Mãe Meninazinha”, contou Rodrigo.
O carnavalesco não pode colocar o plano em prática no último carnaval pois passou 14 dias internado com Covid-19 e não conseguiu participar tão ativamente da construção do enredo e do desfile da Unidos da Ponte. A escola ficou em 11º lugar ao apresentar “Santa Dulce dos Pobres – O anjo bom da Bahia”. Seguindo a linha das homenagens, a dupla transformou a pré-pesquisa sobre o movimento “Liberte Nosso Sagrado” em uma celebração da atuação religiosa e política de Mãe Meninazinha de Oxum.
“Nesse processo, existem diversas lideranças tanto religiosas quanto políticas. Eu já a conhecia como uma dessas expressões, mas existem outras. A partir do momento que eu descobri que o terreiro dela ficava em São João de Meriti, em São Mateus, a origem da Unidos da Ponte, eu consegui o que eu precisava. É o fio condutor que eu precisava sem grandes esforços de criar uma sinergia com a Unidos da Ponte. No nosso entendimento, aliada a outras lideranças, ela é a personificação desse movimento todo e dessa construção coletiva, tanto que ela está em todas as matérias [sobre o assunto]”, explicou Marques.
Ao abordar a vida da homenageada e o movimento político e religioso, os carnavalescos fizeram o exercício de se deparar com um um acervo diverso de objetos que foram apreendidos nos terreiros durante seis décadas da História do Brasil. Legalmente, o Estado já pôde interditar terreiros, prender fiéis e tomar posse dos pertences em nome de uma repressão à bruxaria. Sendo assim, falar de Mãe Meninazinha é falar de um combate ao racismo religioso.
“Uma coisa que mexeu muito comigo foi a documentação que eu consegui elaborar no início sobre o Acervo. São décadas da polícia invadindo os espaços sem autorização nenhuma e prendendo pessoas e levando qualquer coisa. Tem desde cachimbo até porta, assentamentos, crucifixo. Eles simplesmente faziam a operação e levavam o que eles achavam que era de direito deles. Eu fiquei muito assustado nessa documentação que eu levantei, como publicações em periódicos. Jornais à época noticiaram isso: ‘Fechado um candomblé’, ‘Um grupo de vadios foram presos em um candomblé’, as pessoas eram tratadas como bruxas. Eu fiquei assustado em como as eram tratadas na época vendo da contemporaneidade”, revelou Rodrigo Marques.
Antes de receber o nome de “Acervo Nosso Sagrado”, os objetos eram nomeados e expostos com o título de “Coleção Museu Magia Negra” no Museu da Polícia Civil. Eles ficaram em exibição até 1999, quando o museu mudou de lugar e os 519 materiais foram encaixotados e nunca mais apresentados. Essa história muda quando Mãe Meninazinha lidera o movimento de recuperação desses itens e o acervo é enviado para o Museu da República em 2020, onde estão disponíveis para visitação.
“Por mais que tenha a questão do Acervo sendo trazido para o Museu da República, o nosso tema é uma construção diária. Estamos falando sobre racismo religioso que ainda existe e existe de uma maneira muito grande e enraizada na nossa sociedade estruturalmente falando”, disse o carnavalesco.
Para Rodrigo Marques, o forte do desfile é o enredo e a narrativa a ser contada ao longo do Sambódromo. Ele acredita que a história contada vai ficar evidente e pode até sobrepor a plástica apresentada no dia 18.
“Eu tentei fazer uma pesquisa relevante utilizando pessoas que já desenvolveram essa pesquisa na academia, que vivenciaram esse processo. É uma pesquisa densa, tem embasamento. Não é simplesmente, desculpa a expressão, um retalho de informações que eu reuni. É uma coisa que está em evidência Eu acho que essa narrativa fala por si só. Eu poderia muito bem falar que a plástica vai ser o forte, mas acho que a narrativa já seria um grande trunfo nosso”, comentou Rodrigo.
Rodrigo Marques e Guilherme Diniz já estão acostumados a trabalhar um com o outro. Consolidados enquanto dupla, os carnavalescos começaram a carreira juntos e pretendem fazer dela uma parceria duradoura. Os dois já passaram por escolas como Difícil é o Nome, Engenho da Rainha, Independentes de Olaria. Chegaram a ser campeões da Série Prata com a Unidos de Bangu, em 2017, e vão para o terceiro carnaval pela Ponte.
“O dificultador de trabalhar em dupla é o fato de dividir quem faz o quê, mas, antes de trabalhar com Carnaval, nós já éramos amigos. Nós começamos juntos. Não estamos dupla, somos uma dupla. Eu complemento o trabalho dele e ele complementa o meu. Flui naturalmente. Nós trabalhamos há 7 ou 8 anos em dupla. Lógico que temos divergências, mas a gente se resolve e um dá o braço para o outro na hora”, garante Marques.
Conheça o desfile da Unidos da Ponte
A comunidade de São João de Meriti vai narrar a luta de Mãe Meninazinha de Oxum por meio de três carros, um pede-passagem e 18 alas. O carnavalesco Rodrigo Marques destrinchou o desfile que será o segundo a passar pela Avenida no sábado.
Setor 1: “Começamos narrando os ancestrais, traçando uma linha cronológica dos ancestrais da nossa homenageada. Começa com a Marcolina de Oxum ou Marcolina da Cidade de Palha, que veio para o Brasil como escrava aos 16 anos de idade da região da atual Nigéria. Ao chegar em Salvador, Bahia, desempenhou um papel muito importante, se tornou uma importante sacerdotisa de relevância por diversos fatores. Um dos fatores de sinergia com o nosso enredo é o fator pelo qual trouxe consigo o okutá de Oxum que é como se fosse um objeto religioso, uma esfera uma pedra, que simbolizava duas coisas para ela: primeiro, algo da sua terra e, segundo, era o objeto de seu orixá. Ela escondia isso em seu busto. O que a gente quer demonstrar com isso? Desde seu ancestral mais longínquo, da Mãe Meninazinha de Oxum, já existia um cuidado muito grande com a questão dos objetos, que para uns pode ser só um simbolismo, mas para outros é um algo muito relevante. Então nesse primeiro setor, a gente faz essa apresentação dos ancestrais começando com ela e indo até o Pai Procópio de Ogum, que é uma pessoa que foi o primeiro homem não iniciado como ogã – até então homem só podia ser ogã -, chegando até a avó sanguínea da homenageada, a Iá Davina”.
Setor 2: “Apresentamos o que era conhecido como ‘Coleção Magia Negra’, um conjunto com mais de 500 objetos que foram confiscados pela polícia desde o Código Penal de 1891 que proibia a prática desses cultos e não só prendiam as pessoas como os objetos. Isso perdurou até a década de 1940, quando esses objetos foram confiscados e jogados nos porões da Polícia Civil. Para se ter ciência, isso ficou tanto tempo que, durante a época da Ditadura Militar, estava jogado nos porões do Dops [Departamento de Ordem Política e Social]. Nós apresentamos que coleção é essa, por quê é chamado de ‘Magia Negra’, que é um preconceito muito grande, a ponto de hoje se chamar de ‘Nosso Sagrado’. Esse setor a gente traz essa explanação dessas pejorações, desses preconceitos que os praticantes dessa religião sofriam à época”.
Setor 3: “É a luta que a nossa homenageada teve com outras entidades religiosas e políticas para reaver esses objetos. O terceiro setor é uma homenagem direta a ela. Quando se personifica essa luta nela, está se falando do coletivo. Não é à toa que, no carro que ela vem, vem grandes lideranças religiosas e políticas que participaram desse processo. Os objetos foram recuperados, então é como se o episódio foi bem sucedido, mas o racismo religioso é uma prática recorrente que acontece até nos dias atuais. A gente quer simbolizar isso e mostrar a importância dessa construção e luta diária que é algo muito importante”.
O Instituto Mangueira do Futuro, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, no bairro São Francisco Xavier, está oferecendo novas oportunidades de vagas gratuitas para a prática de esportes na Vila Olímpica Mangueira. São 1.500 vagas, para crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, atendendo às famílias da comunidade da região e dos demais bairros.
A Vila Olímpica proporciona, neste ano, as modalidades: judô, jiu jitsu, atletismo, levantamento de peso, basquete feminino e masculino, futebol, futsal, ginástica rítmica e dança, ballet, natação e natação para pessoas com deficiência.
O Instituto conta com a parceria da Petrobras, através do Programa Socioambiental, atendendo crianças, adolescentes, jovens e pessoas com deficiência, garantindo a democratização do acesso ao esporte e o exercício na formação da cidadania.
Os responsáveis interessados em matricular os futuros atletas necessitam comparecer na sala de incrições do centro de referência esportiva, aberto de segunda à sexta, das 8h às 18h, com os devidos documentos: cópia do comprovante escolar, cópia do atestado médico ou preenchimento do parq na secretaria, cópia do RG e CPF do responsável, cópia do RG e CPF do aluno ou certidão de nascimento e cópia do comprovante de residência.
Além disso, os alunos com deficiência precisam trazer além dos documentos listados, o laudo médico. Já para a prática da natação dos bebês de 6 meses a 4 anos e 11 meses, é obrigatório a entrega do atestado médico do responsável que for entrar na água com o aluno.
A Vila Olímpica da Mangueira fica à Rua Santos Melo, 73, São Francisco Xavier, sendo uma realização do Instituto Mangueira com o patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Petrobras.