Início Site Página 57

Freddy Ferreira analisa a bateria da Portela no Carnaval 2025

Um desfile muito bom da bateria “Tabajara do Samba” da Portela, comandada por mestre Nilo Sérgio. Um ritmo consistente, equilibrado e com pressão sonora dos surdos foi exibido. Uma bateria portelense com condução rítmica bem integrada à obra da Majestade do Samba foi notado.

Na parte de trás do ritmo da Águia, uma boa afinação de surdos foi percebida. Marcadores de primeira e segunda tocaram com firmeza, mas segurança. O balanço envolvente das terceiras portelenses foi admirável em ritmo e também nas execuções de bossas. Repiques tocaram com coesão junto de um naipe de caixas ressonante, com sua tradicional batida rufada ecoando com qualidade.

Na cabeça da bateria “Tabajara”, cuícas com virtude sonora fizeram um trabalho sólido. Um naipe de chocalhos com trabalho coletivo louvável fez bom ritmo, sem firulas. Uma ala de tamborins funcional executou seu desenho rítmico com eficiência. Agogôs corretos fizeram uma convenção bem musical, pautada pelas nuances melódicas do samba da azul e branca de Oswaldo Cruz.

Bossas baseadas nas variações do samba portelense foram percebidas. Bom nível de exigência musical envolvendo o naipe de caixas e terceiras, que cumpriram a risca as execuções, exibindo qualidade rítmica nos arranjos. O impacto sonoro das paradinhas era proporcionado pela afinação mais pesada. Com isso foi possível notar uma impactante pressão dos surdos, acrescentando profundidade musical às bossas.

Muito bom o desfile da “Tabajara do Samba” da Portela, dirigida por mestre Nilo Sérgio. Uma bateria portelense com impacto musical da pressão sonora dos surdos deixou as execuções de bossas e suas retomadas potentes. Uma bateria da Portela com equilíbrio entre os naipes e boa consistência musical coletiva. Um desfile que tem tudo para mostrar que a “Tabajara” segue sendo um dos quesitos fortes e de segurança da majestosa Portela.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Grande Rio no Carnaval 2025

Um desfile excelente da bateria do Acadêmicos do Grande Rio, regida por mestre Fafá. Um ritmo profundamente equilibrado e com uma equalização de timbres bem diferenciada foi apresentado. Simplesmente impressionante a ótima fluência musical dos mais diversos naipes dentro do ritmo. Isso tudo graças a uma educação musical privilegiada dos ritmistas da tricolor de Duque de Caxias, que tocavam com leveza, tirando som das peças sem excesso de força.

Na parte de trás do ritmo caxiense, uma equalização de timbres preciosa foi exibida, junto de uma afinação de surdos de qualidade, que ajudou na fluidez entre as peças. Marcadores de primeira e segunda tocaram com leveza e precisão. Surdos de terceira contribuíram com um swing diferenciado tanto fazendo ritmo, quanto executando de forma caprichada as bossas. Repiques coesos e retos tocaram juntos de um naipe de caixas de guerra sólido, complementando a sonoridade dos médios com um ressoar de qualidade.

Na cabeça da bateria da Grande Rio, um naipe de cuícas correto executou seu toque com eficácia. Agogôs de imensa virtude sonora fizeram um trabalho esplêndido, seja fazendo ritmo ou nos arranjos em que participa dando brilho musical. Uma ala de chocalhos de alto potencial técnico tocou entrelaçada a um naipe de tamborins consistente. Ambos executaram seu desenho rítmico com precisão, comprovando o casamento musical coletivo poderoso.

Bossas profundamente conectadas ao belíssimo samba-enredo da agremiação de Caxias foram exibidas. Os arranjos aproveitavam as variações do melodioso samba da Grande Rio para consolidar seu ritmo. De muito bom gosto a participação de todas as peças nas paradinhas, dando profundidade musical às bossas, além de deixar claro o belo trabalho de conjugação sonora nas paradinhas. As bossas eram dançantes e ótimas para impulsionar a comunidade visando boa evolução. O poderoso trabalho metálico dos agogôs foi evidenciado durante a execução das bossas, contribuindo com uma musicalidade sublime nas paradinhas.

Um desfile excelente da bateria da Grande Rio, sob comando de mestre Fafá. Um ritmo com uma conjugação sonora valiosa, dos mais diversos instrumentos. Equilibrado, bem equalizado e bastante educado. Ritmistas esbanjaram classe musical e ponderação rítmica, sem ninguém precisar dar pancada em peça para fazer ritmo. Isso proporcionou uma fluência entre os naipes fascinante. Na última cabine de jurados, uma grande apresentação deve ser suficiente pra garantir a nota máxima, no que foi um desfile simplesmente exemplar da bateria da Grande Rio de mestre Fafá.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Tuiuti no Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Super Som” do Paraíso do Tuiuti, comandada por mestre Marcão. Um ritmo equilibrado, muito bem equalizado e com uma destacada fluência entre as diversas peças. Bossas que se aproveitavam das nuances do melodioso samba da escola de São Cristóvão foram exibidas com precisão e segurança.

Na cozinha da bateria do Tuiuti, um trabalho equilibrado e bem entrosado foi exibido. Uma grande afinação de surdos ajudou na boa equalização de timbres da bateria. Marcadores de primeira e segunda foram precisos. Surdos de terceira deram um balanço envolvente ao ritmo da agremiação de São Cristóvão, inclusive nas musicais bossas. Repiques técnicos tocaram junto de caixas sólidas e ressonantes.

Na parte da frente da bateria do Paraíso, um naipe de chocalhos extremamente diferenciado executou bem um desenho complexo. Tocando interligados aos chocalhos, tamborins seguros e eficientes também fizeram sua convenção com segurança e de forma precisa. Cuícas de alta virtude sonora ajudaram no preenchimento da sonoridade das peças leves.

Bossas altamente musicais foram exibidas. O leque de paradinhas levou em conta as variações melódicas do samba-enredo do Tuiuti para consolidar seu ritmo. A bela construção musical da bossa do refrão do meio com levada de Reggae merece menção musical. Arranjos dançantes foram executados com eficiência. Uma apresentação mais enxuta e rápida foi realizada no último módulo, devido ao tempo de limite próximo de estourar. Mesmo assim, foi possível apresentar bossas e garantir que a sonoridade fosse julgada em sua totalidade, mesmo com arranjos executados em movimento.

Um ótimo desfile da bateria “Super Som” do Tuiuti. Um ritmo profundamente conectado a bela canção da escola foi apresentado. Bossas dançantes e com boa musicalidade foram bem exibidas. Muito equilíbrio musical foi apresentado, numa apresentação repleta de segurança rítmica. Mestre Marcão, seus ritmistas e diretores voltarão para São Cristóvão com os instrumentos felizes com o resultado musical depois de um grande desfile da “Super Som”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Mocidade no Carnaval 2025

Um grande desfile da bateria “Não Existe Mais Quente” (NEMQ) da Mocidade Independente de Padre Miguel, sob o comando de mestre Dudu. Um ritmo equilibrado, cadenciado e com ótima fluência entre os naipes foi exibido. Impressionante a adesão popular ao conjunto de bossas musicais da bateria da Estrela Guia. Uma sonoridade bastante identitária foi produzida, com características inegavelmente genuínas.

Na cozinha da bateria da verde e branca da zona oeste, uma tradicional afinação invertida de surdos foi percebida. Marcadores de primeira e segunda tocaram de forma segura. O balanço inconfundível dos surdos de terceira teve destaque entre os graves. Repiques de imensa técnica musical tocaram juntos de um naipe de caixas de guerra ressonante, com sua autêntica batida com acentuação na mão fraca, com sua levada clássica.

Na cabeça da bateria “NEMQ”, uma ala de tamborins de imensa virtude musical executou uma convenção bem construída, seguindo as acentuações do melodioso samba independente. Um naipe de chocalhos cascavel bastante técnico deu brilho à sonoridade das peças leves. Assim como cuícas seguras auxiliaram na musicalidade da parte da frente do ritmo. Agogôs de duas campanas (bocas) deram bom balanço com seu toque contínuo, adicionando um tilintar metálico a uma bateria com emissão de frequência sonora mais puxada para o timbre grave.

Um conjunto de bossas bastante musical e dançante foi apresentado. Todas levando em conta as variações melódicas da obra para consolidar o ritmo. A construção bem elaborada da cabeça do samba exibiu uma musicalidade destacada, sendo bem recebida pela plateia. Levando o público ao delírio, antes desse arranjo mestre Dudu zerava a bateria deixando o estribilho sendo cantado em coro por desfilantes e presentes. Um leque de bossas que de tão eficiente, simplesmente levantou a Avenida por onde passou.

Um desfile grandioso da bateria “NEMQ” da Mocidade Independente, dirigida por mestre Dudu. Um ritmo autêntico, tradicional e com bossas que caíram no gosto popular foi exibido. Muito bonita a recepção calorosa do público a histórica bateria da Mocidade nos setores finais da Sapucaí. A apresentação do último módulo ganhou contornos apoteóticos, com direito a aplausos sincopados dos presentes, além de uma ovação popular tocante após um desfile certamente capaz de lavar a alma de diretores e ritmistas.

Portela Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Grande Rio Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Paraíso do Tuiuti Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Maria, Maria… É preciso ter sonho sempre: a força feminina e a ancestralidade na Ala das Baianas da Portela

A Portela trouxe um enredo emocionante, homenageando Milton Nascimento e sua icônica canção Maria, Maria, que celebra a força e a resiliência das mulheres. A ala das baianas, um dos pilares da escola, traduziu essa homenagem em cores, símbolos e histórias que reforçam a ancestralidade, a coletividade e a espiritualidade feminina.

Giane Carla, de 59 anos, presidente da ala há 25 anos, nasceu e cresceu dentro da Portela. Para ela, a ala das baianas é a materialização da força da mulher cantada por Milton. “A fantasia carrega elementos religiosos como véus, ostensórios e estandartes, que representam a fé e a espiritualidade das mulheres. O catolicismo, o espiritismo, a crença em algo maior está presente em cada detalhe”, explicou. As saias das baianas estamparam fotos das mulheres que compõem a ala. “É uma forma de honrar aquelas que vieram antes de nós e mostrar que somos parte de uma grande família”, disse Giane, emocionada ao falar do legado familiar que carrega. Sua madrinha foi cunhada de Paulo da Portela, e sua mãe era passista. “A [ala da] baiana é minha história, minha vida”, completou.

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.32.10

Luciana Divina, 52 anos, desfila há 40 anos como baiana e há 5 na Portela, compartilha da mesma emoção. Para ela, a música Maria, Maria é um retrato das mulheres da ala. “Somos mães, filhas, tias, sobrinhas, cada uma com sua história de luta e superação. Renascemos todos os dias, nos reinventamos, e isso é o que nos torna fortes”, afirmou. Os elementos religiosos nas fantasias, como os véus e estandartes, simbolizam a fé e a esperança que movem essas mulheres. “Acreditamos que sempre vai melhorar, que o amor vai vencer. Maria, da Bíblia, foi uma mulher simples, mas fez a diferença. Assim somos nós, as Marias da Portela”, disse Luciana.

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.31.03

A presença das fotos das mulheres nas fantasias é um dos pontos mais marcantes da homenagem. Luciana foi uma das baianas homenageadas na fantasia. “Desfilar com a minha foto na fantasia é uma honra. Minhas colegas também carregam as fotos de outras mulheres da ala. É uma representatividade pura, um reconhecimento da nossa luta e da nossa história”, comentou Luciana. Essa conexão com o enredo de Milton Nascimento é ainda mais profunda pela gestão da ala, que passa de geração em geração. Giane Carla, que herdou o cargo de sua madrinha, já pensa no futuro: “Quando eu não puder mais, minha filha ou neta estará aqui. A Portela é uma escola família, uma escola de mulheres fortes”.

A ala das baianas da Portela é um símbolo de resistência, fé e união. Neste Carnaval, elas mostraram ao mundo que, como na canção de Milton, é preciso ter sonho sempre. E, para as Marias da Portela, o sonho é manter viva a chama da ancestralidade, da coletividade e da força feminina.

Mocidade Independente Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Força, Magia e Santa Maldita Euforia, Ala dos Passistas da Portela retrata a chegada da exuberância negra à romaria em desfile que homenageia Milton Nascimento

A ala dos passistas da Portela, sob a supervisão de Nilce Fran, é um exemplo claro de como a dança vai além do entretenimento. Ela carrega consigo um significado profundo, refletindo a força ancestral dos negros, a resiliência dos passistas e a celebração da cultura afro-brasileira. O trabalho de Nilce Fran é, sem dúvida, fundamental para a construção dessa narrativa que se reflete nas coreografias e nos movimentos dos passistas. A conexão com as origens da cultura negra e a homenagem a artistas que representam esse universo tornam a ala um verdadeiro ato de resistência e afirmação cultural.

‘’Esse enredo de Milton Nascimento, ele  funcionou desde que ele foi apresentado. Nós estamos falando aqui do povo preto, do povo de luta, de um homem próspero, que lutou e que conseguiu. A proposta da Portela em 2025 é realmente fortalecer a nossa fé, fortalecer a nossa luta, mostrar essa trajetória e que como diz o samba, quem acredita na vida, não deixa de amar, só o amor constrói e que nós podemos com força, com energia positiva, espiritualidade, nós podemos’’, declara Nilce.

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.17.46

No contexto da Portela, a ala é mais do que um espetáculo visual, é uma forma de exaltar a ancestralidade negra, resgatar suas origens e, ao mesmo tempo, celebrar a modernidade do samba com movimento que faz referência a uma luta contínua e transformadora.

‘’Os negros eles dançavam para expressar alegria e a dança do samba é isso. A dança do samba é um ato de amor, de expressão, de energia e força. É muito importante. Eu sou passista e coordeno há 25 anos a ala de passista da Portela, mas sempre fui passista, sambista, mulata e a energia do samba fortalece a nossa alma. E o orgulho da cultura negra nessa folia, o carnaval, os desfiles de escola de samba, nesse cenário grandioso no maior espetáculo a céu aberto do Planeta, nós somos o que queremos’’, diz a coordenadora da ala de passistas da Portela.

Nilce Fran, que é responsável pela coordenação da ala, tem se dedicado a transmitir aos passistas a importância dessa conexão com a cultura negra. Para ela, a dança vai muito além da técnica: é um resgate de uma memória histórica e um compromisso com a preservação da herança cultural dos negros no Brasil.

‘’A ala de passista na Portela se conecta com o enredo o ano todo, a gente tem uma coordenadora que faz a gente estudar sobre o enredo, faz a gente cantar o samba porque é muito bom. Nós, não só sambamos, mas também sabemos aquilo que a escola está falando e eu acho que essa conexão da escola com o enredo, do passista com o enredo vai ser muito bom para trazer o nosso título para a Madureira e o Oswaldo Cruz’’ diz João, mais conhecido como João Sorriso, passista da Portela há 6 anos

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.18.52

‘’O segmento passista é de resistência que até hoje a gente luta por tanta coisa e raça também porque a gente luta bastante, a gente ensaia muitos compromissos com a Portela e eu acho que se junta mesmo, a raça com a resistência e cabe muito com o que nós viemos representar hoje com a nossa fantasia. E quando a emoção de desfilar levando a euforia, o orgulho da cultura negra na Sapucaí. A emoção é muito grande, falar de Milton tem sido muito importante e muito significativo, vai ser um desfile belíssimo, a gente vai chegar trazendo a euforia, trazendo a raça, trazendo a samba no pé e trazer esse título’’, afirma Juliana Antunes, de 32 anos, auxiliar administrativo passista da ala da Portela há 7 anos.

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.19.10

A ala dos passistas prestou uma homenagem emocionante a dois ícones da cultura negra brasileira: Clementina de Jesus e Grande Otelo. Clementina, com sua voz inconfundível, é uma referência do samba e da música popular brasileira, e sua história é um exemplo de resistência no cenário musical, dominado por homens e brancos. Grande Otelo, foi um dos maiores artistas do cinema nacional, um negro talentoso que quebrou barreiras e se fez presente no imaginário popular, trazendo um protagonismo muitas vezes negado aos negros na história do Brasil.

‘’Nós estamos aqui para isso, para através de Milton Nascimento, esse gênio, esse mago da arte e da cultura. Através dele, nós estamos mostrando ao mundo essa força e como não trazer nomes como Grande Otelo, Clementina, Ivone Lara e tantos outros nomes? Eu que sou dessa geração, cresci e vi as coisas acontecerem e tenho certeza de que quando se trouxe todos esses nomes, foi para dizer que, estamos de mãos dadas, construímos essa história e vamos sempre fazer parte dela de sermos reverenciados’’, relata a coordenadora Nilce.

Os passistas, com seus passos marcantes, não apenas recriaram os ritmos e a energia do samba, mas também trouxeram para o sambódromo o espírito e a luta desses artistas. Clementina e Grande Otelo, através da homenagem na dança, se tornaram símbolos da resistência negra no palco da Portela, sendo lembrados por sua contribuição para o fortalecimento da cultura afro-brasileira.

A passista Mara Oliveira,  que desfila na escola há 6 anos e também é professora de samba, diz que ‘’é mais um grande nome, mais um ano que a gente está levando uma grande história e sempre parece que é o primeiro desfile, é sempre a mesma emoção. Eu costumo dizer que eu estou vivendo meu sonho, ainda nos tempos de hoje, apesar de ter bastante tempo de ala, eu ainda estou vivendo o meu sonho e  parece sempre que é a primeira vez’’.

WhatsApp Image 2025 03 05 at 05.19.29

O figurino dos passistas é em referência a elementos africanos para simbolizar os corpos negros que começavam a se juntar à procissão. Palhas, búzios, contas e outros materiais fazem parte da fantasia.

A ala dos passistas da Portela, sob a liderança de Nilce Fran, segue firmemente com a missão de transmitir, através da dança, a força e a beleza da cultura negra. Eles são, em sua essência, a personificação da resistência e da celebração da negritude, honrando suas raízes e mantendo viva a chama da ancestralidade.