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‘Foi um desfile para entrar para história da Grande Rio’, declara mestre Fafá

Por: Juliana Henrik, Rhyan de Meira e Raphael Lacerda

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A Grande Rio levou o Pará para a Sapucaí com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós” e terminou o desfile com uma das grandes candidatas ao título. As fantasias, conjuntos alegóricos, comissão de frente, bateria e carro de som estavam impecáveis. A escola de Caxias saiu da avenida ovacionada pelo público, que entoou gritos de “é campeã!”.

Começando pela comissão de frente coreografada por Hélio Bejani e Beth Bejani, que intitulada Quatro Contas, foi inspirada na música de Dona Onete e na tradição do Tambor de Mina, trazendo para a avenida a história das princesas Mariana, Jarina e Herondina. A apresentação contou com um belíssimo tripé, mas, diferentemente da maioria das comissões de frente, o ato principal da narrativa ocorreu no chão, o que trouxe um charme adicional à encenação.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Nós tentamos inovar e fazendo todo o andamento da avenida em cima do tripé, o jurado no chão e ainda desacoplamos o carro na frente da cabine. Foram muitos riscos, mas estamos felizes por ter entregue o nosso melhor”, disse Beth.

“Saiu tudo como planejamos. Estamos com a mesma equipe há 16 anos. O segredo é fazer uma equipe que todo mundo se escute, aceite as ideias do outro e todos querendo que a coisa dê certo”, completou Hélio.

O desempenho musical da Grande Rio é destaque ano após ano, a sintonia entre mestre Fafá e o intérprete Evandro Malandro segue evoluindo. A dupla executou com maestria o elogiado samba da escola, a bateria destacou pela cadência precisa e pelo equilíbrio entre os instrumentos.

“A Grande Rio precisava pisar nessa avenida com todo mundo cantando muito. A Grande Rio está te parabéns por todo caminho que percorreu e entregamos o que imaginávamos. A Sapucaí explodiu. Sobre a parceira com o Fafá, eu e ele temos uma conexão muito grande. Nós estamos sempre juntos nos shows, ensaios, reuniões e essa conexão se dá por conta de toda parceira que nós temos”, disse Evandro Malandro.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Foi mais um desfile para entrar para a história da Grande Rio. Não tenho palavras para descrever tudo o que a bateria fez na avenida. Eu amo o Evandro e nossa conexão é maravilhosa”, declarou Fafá.

O andamento da escola foi perfeito. A Grande Rio estava leve e feliz na avenida, o que facilita para que o trabalho da harmonia saia perfeito. “Foi um desfile ímpar. Um trabalho de meses, onde conseguimos trazer para avenida a ideia que nos propusemos a fazer. É um trabalho em conjunto, não é um trabalho individual. O trabalho da harmonia foi incansável. Fizemos um trabalho primoroso”, falou Jefferson da direção de carnaval.

‘Não teve correria’, afirma diretor de carnaval do Tuiuti

Por: Rhyan de Meira e Juliana Henrik

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

Com o enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, o Paraíso do Tuiuti trouxe uma importante história ignorada pelos livros e um manifesto contra a transfobia e o preconceito. Sob a responsabilidade do carnavalesco Jack Vasconcelos, a escola trouxe um belo conjunto de fantasias e alegorias, mas precisou apertar o passo na reta final para não ultrapassar os 80 minutos permitidos de desfile. Segundo o diretor de carnaval André Gonçalves, a agremiação tinha tudo sob controle e que o importante foi passar no tempo.

“O Tuiuti fez um trabalho sensacional. Durante o ano viemos lapidando, ajustando as coisas e conseguimos abrilhantar essa avenida. Vimos a Sapucaí toda cantando e interagindo. Sobre a evolução, não tivemos problemas. Não teve correria. Passamos no tempo e isso que é o importante. No final sempre dá aquele nervosismo, mas foi tudo correto”, disse André ao CARNAVALESCO.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

Na parte musical, o samba foi muito bem recebido pelo público. “Tinha certeza que a Sapucaí ia corresponder essa entrega da escola, essa entrega do carro de som e da bateria. A Sapucaí abraçou o Tuiuti e isso é gratificante, não tem dinheiro que pague”, afirmou Pixulé, intérprete da escola.

Cláudia Motta e Edifranc Alves, coreógrafos da comissão de frente levaram para avenida um balé formado exclusivamente por mulheres transexuais. Essa é a primeira vez que algo assim acontece na história do Carnaval carioca. O ponto alto da coreografia foi quando Érica Hilton aparece com a faixa presidencial, momento de maior animação do público que ovaciona a comissão.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“O Jack Vasconcellos nos ajudou em toda a pesquisa. Nada mais justo que a comissão fosse formada por trans porque o enredo é para elas. Falamos sobre o direito humano essencial, o direito a vida. A gente precisa de muito amor para trazer esse enredo para a venida, ouvir sobre a história de vida das meninas onde todas elas puderam trazer sua essência para esse trabalho”, declarou os coreógrafos.

HudBurkc, destaque do Tuiuti falou sobre a emoção e o carinho que recebeu da escola. “Estou muito grata. Foi um dia de vitória. Desde quando fui convidada para representar Xica no abre-alas, fui muito bem recebida pelo presidente Thor e por toda comissão de carnaval. Sou muito grata pela oportunidade de representar essa mulher que abriu todo os caminhos para que eu estivesse aqui”, declarou.

 

‘Mocidade enverga, mas não quebra’, afirma diretor de carnaval

Por: Rhyan de Meira e Raphael Lacerda

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a última noite de desfiles do Grupo Especial com um carnaval que resgatou sua própria essência. Sob a assinatura de Renato Lage, a escola da Zona Oeste afastou as desconfianças e entregou uma apresentação que reconectou a agremiação com sua identidade.

“É sensacional sentir um pouco daquele emoção que sentíamos nos anos 80. Falei que íamos resgatar um pouco daquela atmosfera. A Márcia está sempre do meu lado. Ela era minha bússola”, disse Renato Lage para o CARNAVALESCO.

Mauro Amorim, diretor de carnaval da escola, destacou a felicidade da comunidade com o orgulho e respeito resgatado. Além disso, deixou um recado para quem acha que a Mocidade havia perdido sua essência.

“A gente precisava trazer uma Mocidade com cara e coração de Mocidade. A Mocidade passou sendo a Mocidade, com seu povo cantando e sendo feliz.  O maior elogio que recebemos no período pré-carnavalesco foi que a comunidade estava feliz. O carnaval tem que ser alegria, tem que ser prazeroso para todo mundo. A Mocidade enverga, mas não quebra. Enquanto tiver um coração independente nesse mundo, a Mocidade vai resistir,” declarou o diretor.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

O samba já anunciava: “O Mago vai recriar a Mocidade”, e, de fato, o Independente se reconheceu na Avenida. O brilho de Márcia Lage, que nos deixou neste ano, esteve presente na paleta de cores vibrante e bem trabalhada da escola, como fez questão de lembrar a porta-bandeira Bruna Santos.

“Conseguimos realizar tudo o que foi ensaiado perfeitamente. Mesmo ventando muito, conseguimos manter o pavilhão firme. Essa fantasia é um presente da Márcia Lage. Ela desenhou essa fantasia com muito carinho e amo”, afirmou a porta-bandeira.

A Mocidade fez um desfile que deixou a comunidade e o torcedor feliz como não se havia a alguns anos. Além do belo trabalho de Renato Lage, a comissão de frente coreografada por Marcelo Misailidis, trouxe a apresentação “IA.venida Matrix do Samba, o futuro é aqui…”, e um robô articulado que levou o público ao delírio.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“Acima de tudo foi um ato de ousadia trazer uma comissão com características retrô para falar de modernidade. Esse era o nosso grande desafio. Nós queríamos mostrar que o carnaval em algumas características profissionais ainda tem muitas possibilidades, basta as pessoas acreditaram e apostarem para que a gente não fique tendo que ficar limitado a uma alegoria. A alegoria na comissão pode ser um apoio necessário, mas não pode ser uma totalidade porque se não o quesito desaparece”, declarou Misailidis.

Voz da escola, Zé Paulo Sierra falou da emoção de ver a Sapucaí cantar o samba e falou sobre as críticas que recebe. “Vê a Sapucaí cantar o samba da Mocidade depois do Caju é sensacional porque ninguém dava nada por esse samba e, arrisco a dizer que foi o samba que mais se comunicou com a Sapucaí, das pessoas cantarem. Falaram muita coisa. O Renato provou que é o Renato, teve o resgate da Mocidade, muita gente se encontrou novamente com a Mocidade, aquela Mocidade dos anos 90 com muita leitura de carnaval.”

“Amo o que eu faço. Muita gente critica, eu respeito, mas eu amo o que eu faço. Faço do meu jeito e se eu tiver que perder vai ser dessa forma, se tiver que ganhar vai ser dessa forma. Estou muito feliz de ver o que a Mocidade fez”, finalizou Zé Paulo.

BEIJA-FLOR CONQUISTA O ESTRELA DO CARNAVAL GUANABARA DE DESFILE DO ANO

Com a homenagem para Laíla, a Beija-Flor de Nilópolis conquistou o prêmio Estrela do Carnaval Guanabara 2025 na principal categoria “Desfile do Ano“. A escola ainda fatura mais duas categorias: “Harmonia” e João Vitor Araújo em “Carnavalesco“. Em breve, vamos divulgar o local e data da festa de premiação. A divulgação dos vencedores da Série Ouro será na manhã de quinta-feira.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A dupla Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, da Imperatriz Leopoldinense, como casal de “Mestre-sala e Porta-bandeira“. A Mocidade Independente venceu como melhor “Bateria“. A Verde e Branco da Zona Oeste ganhou como melhor ala de “Passistas“.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A Grande Rio conquistou o prêmio em “Samba-Enredo“. A escola de Caxias receberá também em “Conjunto de Alegorias” e “Conjunto de Fantasias“. Evandro Malandro venceu como “Intérprete“.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

A melhor “Comissão de Frente” foi para Viradouro. A escola de Niterói também ganhou “Originalidae” pelo holograma na alegoria.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

Evelyn Bastos, da Mangueira, foi eleita a “Rainha de Bateria de 2025“. A Unidos da Tijuca faturou o prêmio em melhor “Ala de Baianas“. O Paraíso do Tuiuti foi premiado em “Enredo“.

Veja abaixo todos os vencedores do Grupo Especial do Rio

Desfile do Ano: Beija-Flor
Samba-Enredo: Grande Rio
Mestre-sala e Porta-bandeira: Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro (Imperatriz)
Comissão de Frente: Viradouro
Bateria: Mocidade
Baianas: Unidos da Tijuca
Passistas: Mocidade
Alegorias: Grande Rio
Fantasias: Grande Rio
Harmonia: Beija-Flor
Rainha: Evelyn Bastos (Mangueira)
Intérprete: Evandro Malandro (Grande Rio)
Enredo: Paraíso do Tuiuti
Carnavalesco: João Vitor (Beija-Flor)
Originalidade: Holograma em alegoria da Viradouro
Revelação 2025: carnavalescos da Vigário Geral

Portela tem destaque na parte musical, mas peca em evolução e no conjunto alegórico

A Portela conseguiu realizar já na madrugada da quarta-feira de cinzas o grande ato de proporcionar a Milton Nascimento a glória de ser aclamado na Sapucaí. Para um artista com tamanha história e importância para a cultura brasileira, estar na Sapucaí é certamente uma bênção para quem aplaude e para quem é aclamado. Mas a sensação que ficou é que poderia ter sido muito melhor. Ainda que a parte musical da Portela tenha se destacado, conseguindo tirar o máximo do samba, com canto forte da comunidade portelense, a escola errou muito em evolução devido à dificuldade de manobras com o abre-alas, abriu buracos e foi irregular, tanto na forma como apresentou a homenagem a Milton na Sapucaí, quanto no acabamento e apuro estético de algumas fantasias. O casal passou bem, mas a comissão de frente teve problemas na execução por questões com um drone. Já as fantasias tiveram bom acabamento e qualidade visual. Com o enredo “Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”, a Portela encerrou o seu desfile com 76 minutos.

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Comissão de Frente

Comandada por Leo Senna e Kelly Siqueira, a Comissão de Frente “Vou partir em procissão” se apresentou dividida em três cenas baseadas em música, amizade, liberdade e responsabilidade. A música foi o fio condutor de uma cena para outra. Os bailarinos “filhos do sol” representaram pessoas iluminadas e transformadas pelas canções de Milton Nascimento. A primeira cena é um encontro em uma procissão festiva, com o grupo celebrando a amizade. Na segunda cena, tem-se outros grupos chegando para a celebração e os tambores de Minas trazendo a regionalidade.

A escolha coreográfica foi reverberar cada toque do tambor de Minas nos corpos dos bailarinos, com as trombetas chegando para avisar o nascer de um novo tempo. A última cena da apresentação tem duas crianças nascendo nas flores das Torres do Tripé, que representavam um relicário, no sentido de guardar as preciosidades encontradas pelo caminho.

* LEIA AQUI: Maria, Maria… É preciso ter sonho sempre: a força feminina e a ancestralidade na Ala das Baianas da Portela

A comissão dançou no chão e fez interação com o tripé. Bem montada, mas sem um grande ápice. E teve um problema com o drone, que só subiu no primeiro módulo. Na última cabine, a falta desse elemento comprometeu o sentido da parte final da apresentação. O figurino tinha na cabeça asas da imaginação e, nas costas, pinturas com o estandarte.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Marlon Lamar e Squel Jorgea apresentaram a fantasia “É feito uma reza, um ritual”, trazendo o guerreiro santificado e a sagrada rainha, mostrando o amor do portelense pelo seu símbolo maior e pela luz do Sol, como fiéis da festa do divino. Fantasia na tonalidade do branco e da prata, que terminava muito bem com uma coroa na cabeça de cada um. Na dança, buscaram um bailado mais tradicional, com boa intensidade de movimentos e duração de giros da Squel, sempre com a dupla fechando de maneira limpa e em sincronia.

Enredo

“Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol – Uma homenagem a Milton Nascimento” passou na Sapucaí dividido em cinco setores, tratando cada parte como uma metáfora de um período do dia. A ideia foi muito criativa, mas acabou embaralhando a própria homenagem a Milton, não destacando muito de sua vida e tirando o foco da obra do cantor, que passou a ser pano de fundo para uma narrativa que focava mais na amizade e na vida de um homem do interior de Minas.

* LEIA AQUI: Ala dos Passistas da Portela retrata a chegada da exuberância negra à romaria em desfile que homenageia Milton Nascimento

A primeira parte do desfile, denominada “Aquela manhã”, foi justamente a Majestade do Samba saindo em procissão. Trouxe alguns aspectos do subúrbio, a Portela se enfeitando para sair nessa grande procissão, grande travessia para encontrar o homenageado.

No segundo setor, “Sol a pino”, entre a manhã e a tarde, foi uma parte que tratou sobre emoções à flor da pele, sobre esses momentos, sobre a emoção de ouvir e de relacionar as canções de Milton Nascimento com as próprias vidas, com as baianas fazendo referência a “Maria Maria”, os encontros, por exemplo, em “Duas Sanfonas”, “Vendedores de Sonhos”.

Depois, em “Entardecer”, a Portela falou da relação com a Terra de maneira geral – nos diversos sentidos: tanto como matéria física, território, pertencimento, identidades, povos originários, ribeirinhos, quilombolas –, terminando o setor com a alegoria que faz referência à relação de Milton com Oxalá e com a própria Terra.

* LEIA AQUI: A águia da Portela: símbolo de fé, paixão e identidade no Carnaval Carioca

O quarto setor, “Noite”, representou os períodos mais difíceis, de repressão, explicando como a música de Milton Nascimento ajudou as pessoas a passarem por esses momentos, trazendo canções que foram trilhas dessa resistência. A noite foi usada como metáfora para os momentos difíceis, e o setor terminou com a alegoria sobre o milagre dos peixes e a esperança de encontrar o sol após essa noite.

No ato “Amanhecer”, a Portela fechou o desfile com a procissão chegando a Minas Gerais, sendo recebida pelos festejos locais: de Três Pontas, da Folia de Reis, tambores, as memórias do próprio Milton e ele sendo encontrado em um grande altar dourado, o sol.

Alegorias e Adereços

Em seu conjunto alegórico, a Portela trouxe cinco carros e dois tripés. Pode-se dizer que este conjunto foi bastante irregular em termos de qualidade, com algumas alegorias de ótimo nível, como a que trazia o homenageado (“O altar do sol”), e outras nem tanto, como o segundo carro, que trazia o setor da noite. Algumas alegorias também demonstraram problemas de acabamento, como o carro “Ser farol e continuar”. Trabalho irregular e inferior às fantasias.

Em um tripé no início do desfile, a águia veio no azul da Portela com tons de dourado e, no contexto do enredo, colocou-se à frente da procissão. O abre-alas “A procissão do samba” representou o cortejo da Portela saindo em procissão para encontrar Milton. Majesticamente, a alegoria trouxe um grande andor, com o chão de caquinhos e azulejos, ostentando estandartes que se destacavam entre fitas e iluminações de “gambiarra”, destacando personagens importantes da Majestade do Samba. Com quatro cavalos (dois na frente e dois atrás), além do chassi, a alegoria teve dificuldades no deslocamento pela Marquês de Sapucaí.

No segundo carro, apareceu a crença das pessoas na força dos sentimentos que cada uma trazia, de um povo feliz e brincante que exibia, orgulhoso, os discos de Milton e as marcas que letras e melodias deixaram em cada um daqueles peregrinos. No carro, a imagem de um andor carregado por diferentes tipos de pessoas, representadas por figuras como reis, ciganas, trabalhadores, crianças etc. Todos estavam liricamente carregando seus sentimentos até Milton. Carro colorido e com muita altura, ainda que boa parte de baixo fosse o pano azul com girassóis. Na parte de cima, era bem detalhado, mas com excesso de informação visual.

A terceira alegoria fez referência à relação de Milton com Oxalá e com a própria Terra, trazendo em sua base os igbin (caramujos) de Oxalá. Já o quarto carro falava da noite, das dores que vinham nos versos de Milton como acalento de esperança. Nesta alegoria, o andor era erguido pelo povo e conduzido por sete anjos, que traziam as sete chaves citadas em “Canção da América”.

O último carro, “O altar dourado sol”, encerrou o desfile da Portela trazendo o homenageado sentado em um grande trono como santo preto e solar, encantado, magistral. O milagre da música brasileira, o radioso herói. Na alegoria, as referências se misturavam entre o barroco mineiro, as fitas e as bandeiras dos folguedos do interior. No altar, também foi revelada a figura do sol, ícone da narrativa do desfile. Como merecia o homenageado, foi o melhor carro do desfile: de muita qualidade e apuro estético.

Fantasias

O trabalho de André Rodrigues e Antônio Gonzaga buscou um formato parecido com o do ano passado, gerando colorido e leveza com signos que pudessem despertar a emoção a partir do olhar dos figurinos. E, no geral, a dupla conseguiu, com os primeiros setores trazendo muito colorido, tentando mostrar na paleta de cores a proposta do enredo, da parte do sol da manhã. Porém, como único ponto a ser citado, alguns figurinos deste setor tiveram pouca consonância e dialogavam quase nada com aquilo que vinha depois, criando alguns conflitos visuais.

Mas, a partir do terceiro setor, há uma melhora considerável, com boas fantasias como “Cavaleiro negro que viveu mistérios”. E, a partir deste setor, há uma utilização das cores de forma bem interessante, principalmente no setor “A Noite”, com tons de roxo contrastando. No final, “Amanhecer”, os tons pastel contrastaram com outras cores, e o dourado se fez presente. Foi um trabalho de fantasias elogiável, com boa leitura e acabamento.

Harmonia

Impulsionada pelo intérprete Gilsinho, a Portela, que já vinha cantando muito nos ensaios, voltou a dar um banho na pista, muito graças ao excelente trabalho do carro de som. O intérprete é capaz de levar sozinho, pelo vozeirão que tem, a energia e o controle do trabalho harmônico. Mas, apoiado por vozes de apoio também de qualidade, conseguiram espremer tudo que o samba poderia render, aliás, até mais. O quesito, talvez, tenha sido o que melhor a Portela apresentou na avenida, ajudando a manter um clima positivo para a homenagem até o final do desfile.

Samba-Enredo

A obra de Samir Trindade, Fabrício Sena, Brian Ramos, Paulo Lopita 77, Deiny Leite, Felipe Sena e JP Figueira tem uma característica mais melodiosa, uma vibe de nostalgia, também presente nas músicas de “Bituca”, bastante ilustrativa, fazendo algumas referências ao repertório do artista. A obra também se adequou à proposta dos carnavalescos de usar os momentos do dia como metáfora para marcar a parte temporal do enredo e a vida e obra do homenageado. Isso é visto em trechos como “Manhã, alvorada das nossas lembranças”, “noite apaga o rebolado” e “dorme a maldade”.

Com um andamento um pouco para trás, o samba permitiu um ritmo muito “gostoso” para a “Tabajara do Samba”. Como pontos altos, podemos destacar as fortes palavras do refrão principal “Iyá chamou Oxalá, preto rei pra sambar…”, ainda que um pouco repetitivas, mas dentro da homenagem. Outro ponto forte está no “Quem acredita na vida”, bis presente na segunda parte do samba, que é cantado com grande vigor pelos componentes. Passou bem, ainda que não deva gabaritar, e se apresentou melhor do que o esperado, muito graças ao carro de som e à comunidade.

Evolução

O quesito também foi problemático. A Portela teve uma evolução irregular pela pista: no início, com muita dificuldade para colocar o enorme abre-alas na pista, que, além de extenso, tinha composições como os cavalos, visivelmente pesados e difíceis de manobrar. Com isso, já no primeiro módulo de julgamento, a ala logo à frente andou, e o carro não acompanhou, gerando um buraco. O fato se repetiu na segunda cabine de julgamento. Depois que a primeira alegoria saiu da pista, a escola tentou imprimir maior ritmo, mas voltou a ter problemas de buraco, desta vez no quarto setor, entre a ala 21 e a quarta alegoria “Ser Farol e Continuar”, na primeira cabine. Fora esses momentos mais complicados, diversas vezes o que se viu foram espaçamentos um pouco maiores entre as alas, não demonstrando uma escola compacta. Já próximo à terceira cabine de julgamento, as duas últimas alas do desfile quase se embolaram, com alguns integrantes da última ala entrando no grupo da frente. Evolução bem fraca da Majestade do Samba, que pode custar alguns décimos.

Outros Destaques

A bateria “Tabajara do Samba”, comandada por Mestre Nilo Sérgio, veio com figurinos que faziam referência àqueles que batucavam e incorporavam o Cristo Negro. A rainha Bianca Monteiro veio como a “Santa Preta de Palmares”. As baianas trouxeram um figurino que homenageava a força feminina presente na música “Maria, Maria”, com véu, ostensório e estandartes, colares e babados das mães do samba. No esquenta, o intérprete Gilsinho cantou “Portela na Avenida”, mexendo com o público, além do excelente samba de 2024. No alusivo, o canto de “Maria, Maria” de Milton trouxe alegria para a plateia.

Grande Rio faz desfile brilhante, encanta a Sapucaí com visual esplêndido e entra na briga pelo título

A Acadêmicos do Grande Rio foi a penúltima escola a pisar na avenida na última noite de desfiles do Grupo Especial. A tricolor de Caxias encantou o público com um conjunto visual deslumbrante, evidenciando o talento da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora em cada detalhe apresentado. O apuro estético se destacou em todas as alegorias, com uma riqueza de detalhes impressionante. Cada carro possuía uma composição visual tão minuciosa que era impossível desviar o olhar sem perder algum elemento. Além disso, a grandiosidade e a volumetria das alegorias ampliaram o impacto cênico do desfile, tornando-o ainda mais imponente.

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No aspecto musical, a escola também brilhou, com um desempenho excepcional da dupla Evandro Malandro e Mestre Fafá. O desfile da Grande Rio foi sólido, vibrante e visualmente esplêndido, garantindo uma forte comunicação com o público. Os quesitos foram defendidos com maestria, com destaque para o bailado do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, que mais uma vez brilharam na avenida.

O único senão ficou por conta da evolução, que apresentou momentos de irregularidade ao longo do desfile.

A Grande Rio levou o Pará para a Sapucaí com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, encerrando sua apresentação aos 76 minutos e saindo ovacionada pelo público, que entoou gritos de “é campeã!”.

Comissão de Frente

A comissão de frente da Acadêmicos do Grande Rio em 2025 foi coreografada por Hélio Bejani e Beth Bejani. A apresentação, intitulada Quatro Contas, foi inspirada na música de Dona Onete e na tradição do Tambor de Mina, trazendo para a avenida a história das princesas Mariana, Jarina e Herondina.

* LEIA AQUI: Segundo carro da Grande Rio explora a fertilidade e a potência criadora dos igapós

A narrativa mostrou as três “Belas Turcas” embarcando em um navio para fugir das guerras santas. No mar, elas enfrentam uma tempestade, mas são guiadas pelo Encantado Tói Averequete, uma entidade ligada às águas, que as conduz ao Mundo do Encante. Assim, as princesas não experimentam a morte, mas se transformam: encontram Jurema e tornam-se caboclas, enquanto os turcos da embarcação se convertem em “mineiros” e entram em um transe espiritual. Essa transição foi representada de forma orgânica, sem grandes truques cenográficos, mas executada com extrema precisão e impacto visual.

* LEIA AQUI: A Magia da Pororoca: baianas da Grande Rio celebram o encontro das águas

A apresentação contou com um belíssimo tripé, mas, diferentemente da maioria das comissões de frente, o ato principal da narrativa ocorreu no chão, o que trouxe um charme adicional à encenação. A iluminação cênica da Sapucaí foi utilizada para compor a atmosfera do espetáculo, com grande parte da coreografia realizada sob luzes baixas. Embora esse recurso tenha criado um efeito dramático, em alguns momentos comprometeu a visibilidade. O grande ápice ocorreu quando a parte de trás do tripé se virou para o júri, revelando uma mandala que simbolizava os rios e igarapés do Pará, inspirada no desenho presente no piso do Theatro da Paz.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto, representou a força e a magia das águas encantadas com a fantasia As Águas dos Meus Encantos. O figurino, em tons de verde-água, esmeralda, tiffany e turquesa, remetia às profundezas dos rios e mares encantados, com detalhes que imitavam pérolas, conchas e escamas.

* LEIA AQUI: A Nobreza Submersa: A Lenda das Princesas no Abre-Alas da Grande Rio

Inspirados na fluidez das águas, Daniel e Taciana bailaram com leveza, encantando o público com uma apresentação marcada pela elegância e pela sincronia. A dupla incorporou passos de carimbó à coreografia, agregando ainda mais autenticidade à dança. Além do refinamento técnico, demonstraram grande segurança ao longo de toda a avenida, mesmo quando um imprevisto ocorreu.

Ao avançarem para a apresentação na cabine três dos jurados, a parte de trás da fantasia de Taciana se abriu inesperadamente. Rapidamente, a equipe de apoio entrou em ação, resolvendo a situação com eficiência. O público, que acompanhou o momento com apreensão, celebrou aliviado quando tudo foi solucionado sem comprometer o desempenho do casal.

Enredo

O enredo da Acadêmicos do Grande Rio em 2025 foi “Pororocas Parawaras – As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A escola propôs um mergulho em águas encantadas, narrando uma saga que entrelaça a mitologia amazônica e a tradição da Tambor de Mina, religião de matriz afro-indígena presente no Pará e no Maranhão.

A história foi conduzida pela lenda das Princesas Mariana, Herondina e Jarina, conhecidas como “Belas Turcas”, que fugiram das guerras santas na Turquia e encontraram nas águas amazônicas o caminho para o Mundo do Encante. No percurso, passaram por um processo de transformação espiritual, conectando-se com o universo das caboclas e dos encantados.

A narrativa do enredo foi fortemente influenciada pelas músicas de Dona Onete, principalmente a canção “Quatro Contas”, e explorou a fusão entre elementos islâmicos e a cultura amazônica. A estética do desfile misturou a sofisticação dos mosaicos turcos e a arte islâmica com a vibrante identidade visual do Norte do Brasil, trazendo referências a palácios otomanos, ao carimbó e às tradições ribeirinhas. O enredo foi traduzido com clareza nas fantasias e alegorias, sem grandes dificuldades de entendimento do mesmo.

Alegorias e Adereços

A Grande Rio apresentou um conjunto visual impressionante, composto por três tripés e cinco carros alegóricos, alinhados ao enredo. As alegorias refletiram o que há de melhor no trabalho da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A fusão entre a cultura amazônica, o Tambor de Mina e as influências islâmicas, resultando em um desfile de forte apelo simbólico.

O apuro estético se destacou em todas as alegorias, com um nível de riqueza de detalhes impressionante. Cada carro trazia uma composição visual tão rica que era impossível desviar o olhar sem perder algum elemento. Além disso, a grandiosidade e volumetria das alegorias reforçaram o impacto cênico do desfile, tornando-o ainda mais imponente.

No entanto, um problema pontual comprometeu a execução perfeita do conjunto alegórico. Um dos balões do carro abre-alas, que fazia parte da cenografia, apresentou instabilidade desde o início do desfile. Ele já estava mais baixo do que os demais e, ao se aproximar da cabine três, acabou despencando. Apesar desse contratempo, o impacto visual do desfile da Grande Rio permaneceu marcante, consolidando a força plástica da escola na Avenida.

A escola iniciou sua apresentação com o tripé “A Mesma Lua da Turquia”, representando a conexão entre a cultura islâmica e a tradição amazônica. O elemento cênico trazia uma imponente lua crescente sobre um mar simbólico, remetendo à jornada das Princesas Turcas e seu destino no Mundo do Encante. Logo depois, o abre-alas “Travessia e Realeza Submersa”, dividido em dois chassis, simbolizou o naufrágio das princesas e sua transformação no reino encantado. O carro misturava criaturas marinhas e mosaicos islâmicos, criando um cenário de transição entre dois mundos.

Dando sequência à narrativa, o segundo tripé, “Portais da Encantaria”, marcou a passagem definitiva das princesas para o universo mítico do Tambor de Mina, com referências a ritos e símbolos desse culto afro-indígena. Em seguida, veio o segundo carro, “Quem é de Barro, no Igapó, é Caruana”, que exaltou a cerâmica marajoara e tapajônica, representando a ancestralidade amazônica e a conexão espiritual dos Caruanas com as águas e a natureza.

No meio do desfile, a escola trouxe o terceiro carro, “Tambor de Mina: O Sultanato Caboclo”, uma representação grandiosa do palácio encantado, onde as entidades espirituais transitam entre diferentes culturas, unindo influências africanas, indígenas e islâmicas. Logo depois, o terceiro tripé, “Venham Ver as Três Princesas Baiando no Curimbó”, celebrou a fusão da dança e dos ritos do carimbó com o universo encantado, reforçando o sincretismo presente no enredo.

O desfile se encaminhou para o fim com o quarto carro, “Aparelhagem Astral”, que destacou a relação entre espiritualidade e musicalidade paraense, trazendo elementos das festas ribeirinhas, aparelhagens e a energia dos batuques do Tambor de Mina. Para fechar a apresentação, a escola trouxe o quinto e último carro, “Noite de Festa: A Felicidade Está Me Esperando, A Felicidade Mandou Me Buscar”, exaltando os grandes festejos populares do Pará e a devoção às águas sagradas, encerrando o desfile em clima de celebração.

Com esse conjunto alegórico, a Grande Rio construiu um desfile visualmente rico, marcado por forte identidade cultural.

Fantasias

O conjunto de fantasias da Grande Rio esteve à altura do que se viu nas alegorias, refletindo o apuro estético característico da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A identidade visual dos artistas foi evidente, mantendo sua assinatura sem cair na repetição, trazendo novidades dentro de suas características marcantes.

As cores foram muito bem aplicadas ao longo do desfile. O início, dominado por diferentes tons de azul, chamou atenção e criou um efeito visual impactante. Conforme os setores avançavam, a escola se transformava em um espetáculo vibrante e multicolorido, reforçando a presença dos elementos do Pará e da estética amazônica.

O único ponto negativo foi o peso de algumas fantasias, que comprometeu o desempenho de alguns componentes. Vários desfilantes precisaram ser carregados por paramédicos, evidenciando o desgaste causado pelo figurino. Um caso mais crítico ocorreu na ala 7, “Aguaguaras”, onde um componente passou mal em frente à cabine três e teve sua fantasia arrastada.

Apesar dessas dificuldades, o conjunto visual foi belíssimo, com destaque para as alas iniciais e para as baianas, que brilharam com a fantasia “Joias d’Água”, um verdadeiro espetáculo de riqueza e acabamento.

Harmonia

O desempenho musical da Grande Rio é destaque ano após ano, a sintonia entre mestre Fafá e o intérprete Evandro segue evoluindo. A dupla executou com maestria o elogiado samba da escola, a bateria destacou pela cadência precisa e pelo equilíbrio entre os instrumentos, também foram inseridos tambores de Mina, curimbós e maracas para valorizar ainda mais o trabalho dos ritmistas, foi um show. O canto da comunidade foi uniforme, apesar de não ser explosivo, os componentes cantaram de forma exemplar, isso ficou evidente durante uma falha do som da avenida em que o canto foi perceptível.

Samba-Enredo

O samba, composto por Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes, foi apontado no pré-carnaval como um dos grandes destaques da safra. Na Avenida, a obra confirmou seu valor, mostrando-se envolvente e musicalmente exemplar. A combinação de uma letra forte com uma melodia cativante garantiu um belo desempenho, impulsionando o canto da comunidade de Caxias, que se manteve firme e uniforme ao longo de todo o desfile.

Sem dúvida, o verso que antecede o refrão principal e o próprio refrão foram os momentos de maior destaque, conquistando o público e ajudando a sustentar a força do desfile.

Evolução

A evolução da Grande Rio teve alguns contratempos ao longo do desfile. Nenhum deles foi grave, mas comprometeram a plena fluidez da apresentação. Os principais problemas ocorreram durante as apresentações da bateria nas cabines de julgamento.

Na primeira cabine, o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira e um grupo cênico avançaram antes do tempo, enquanto os ritmistas demoraram um pouco para acompanhar. O desencontro foi breve, mas perceptível. Já na segunda cabine, o erro ficou mais evidente, pois o espaçamento entre a bateria e os demais segmentos foi maior, comprometendo momentaneamente a harmonia do desfile.

Nas demais cabines, não houve registros de problemas similares. No entanto, ao longo da apresentação, a escola alternou momentos de fluidez com outros mais travados, o que impediu um deslocamento completamente uniforme. Por outro lado, um ponto positivo foi a organização dos componentes dentro das alas, garantindo um visual coeso e bem distribuído na Avenida.

Outros Destaques

Um dos momentos mais marcantes do desfile foi a passagem de Paolla Oliveira à frente da bateria Invocada. Em sua última apresentação como rainha, a atriz desfilou com emoção visível e foi ovacionada pela Sapucaí inteira, reforçando a forte conexão que construiu com a escola e o público ao longo dos anos.

Além disso, a Grande Rio manteve sua tradicional aposta em um time estrelado de musas, trazendo para a avenida diversas personalidades famosas que abrilhantaram ainda mais o desfile.

Casal brilha, enredo é bem desenvolvido, samba funciona, mas evolução ruim atrapalha o Paraíso do Tuiuti

Ao passar pela Sapucaí para apresentar uma importante história ignorada pelos livros e um manifesto contra a transfobia e o preconceito, o Tuiuti consegui entregar a partir do olhar de Jack Vasconcelos um bom conjunto estético, um enredo com boa leitura e bem desenvolvido. Mas os problemas de evolução que incluíram deslocamento pela pista muito lento no início, correria do meio para o final, carro se chocando com as grades e até mesmo buraco podem comprometer a situação do Paraíso do Tuiuti. A evolução ruim impactou inclusive em um canto ruim da comunidade, apesar de um excelente trabalho do carro de som. Casal passou bem, assim como a comissão, apesar de uma falha pirotécnica em um dos módulos de julgamento. Samba e Pixulé também fizeram desfile muito correto e tranquilo. Com o enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, o Paraíso do Tuiuti encerrou seu desfile com 80 minutos cravados.

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Comissão de Frente

Comandada por Claudia Motta e Edifranc Alves, a Comissão de Frente do Paraiso do Tuiuti “Transpassado e Transfuturo” trouxe uma mensagem de otimismo, frente à realidade histórica de perseguição. Nela, Xica Manicongo e seus Ngangas (antepassados cultuados na quimbanda) acompanham a evolução de um grupo de travestis que, marginalizadas pela sociedade, trabalham nas ruas para sobreviver e são alvos dos “perseguidores” que desejam suprimir suas existências. Estes representam a intolerância, o preconceito e a violência que a comunidade trans e travesti sofre há gerações.

* LEIA AQUI: Ala de Passistas do Paraíso do Tuiuti adota figurino agênero e celebra a inclusão no Carnaval

Em seguida houve uma investida desses personagens contra Xica Manicongo para anular sua feminilidade, controlar seu corpo. Mas as travestis vencem os opressores e eles que na verdade são queimados em um efeito pirotécnico. No momento seguinte, travestis sobem a partir de um elevador e Érica Hilton aparece com a faixa presidencial, momento de maior animação do público que ovaciona a comissão e em seguida elas dançaram vogue, como na cultura ballroom. Único porém foi o efeito de fogo quando as componentes eram açoitados que não funcionou na primeira cabine. Comissão sem um investimento astronômico, mas que sintetizou o enredo e mais uma vez a dupla apostou em chocar o público pela emoção e menos pela pirotecnia.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane vieram de “Kimbandas”, curandeiros, sacerdotes feiticeiros que se comunicavam com o além, detentores de poderes xamânicos com os quais curavam. Fantasia muito bonita em tons de palha, marrom, contrastando com o alaranjado e preto. Na coreografia, a dupla, mais uma vez, apostou em um dança mais tradicional, confortável ao seus estilo, mas muito bonita.

* LEIA AQUI: Ala Rainha das Rainhas – representatividade e resistência trans no desfile da Paraíso do Tuiuti

Dandara fez giros com muita graça, com postura muito bonita e sempre em consonância com Raphael. A proximidade do casal nas mesuras e a doçura nestes momentos também chamou atenção. Não se identificou nenhuma falha nas apresentações nos módulos. Passaram muito bem.

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Enredo

“Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, homenageou a primeira travesti não indígena do Brasil, Xica, que foi escravizada no Congo e trazida para Salvador na Bahia. Segundo o carnavalesco colocou na justificativa do enredo o desfile veio ser um manifesto político- espiritual da ancestralidade travesti, em sua importância para a consciência de pertencimento e construção de memória para a comunidade trans. E, mais uma vez Jack Vasconcelos conseguiu entregar um enredo com início meio e fim, com uma mensagem importante no final com maior leitura nos carros, e nas fantasias, na maioria, satisfatória.

Dividido em seis setores e uma abertura, o Tuiuti começou o seu desfile introduzindo na comissão de frente o tema e contextualizando o recorte do enredo. No primeiro setor a escola trouxe a busca pela transcestralidade de Xica Manicongo, ainda em terras bantus com o culto aos ancestrais.

Em seguida, o Tuiuti apresentou o cenário no qual Xica seria inserida em sua terra natal antes da escravização e anulação de sua identidade imposta pelos portugueses. No terceiro setor o desfile mostrou a escravização pelo homem branco até a chegada ao Brasil, na capital da colônia portuguesa, Salvador, onde Xica foi vendida como Francisco Manicongo. Logo depois, a narrativa trouxe o contato com a mata brasileira e com os tupinambás, que mostraram a Xica, o acolhimento, dividiram com ela os segredos do catimbó indígena, transformando sua vivência nas terras brasileiras.

No penúltimo setor, o Paraíso do Tuiuti trouxe que a demonização da cultura africana, e dos povos submetidos, no geral, é um reflexo do regime escravocrata e da catequização cristã colonial que abarca heranças de moralidades e temores europeus criados desde a Idade Média. Neste setor, Xica Manicongo foi perseguida por esse juízo preconceituoso.

Jack Vasconcelos encerrou o desfile mostrando a resistência, com o cenário de intolerância, preconceito e perseguição prossegue, mas com a luta continuando. Neste setor foi lembrado as perseguições do mundo moderno à comunidade trans, mas também foi enaltecido as que lutaram, e lutam, por dignidade e justiça. Ótima mensagem no final e um enredo que passou correto e coerente com o que foi prometido.

Alegorias e Adereços

O conjunto alegórico do Paraíso do Tuiuti era formado por cinco carros e dois tripés. Ainda que com alguns problemas de acabamento, a estética serviu muito bem ao enredo, com criatividade e leitura. E, o principal, foram diferentes de tudo que passou pela Sapucaí nestes dias, com personalidade própria. Trabalho muito superior plasticamente ao do ano passado.

Antes do Abre-Alas, o tripé “O Maioral” representando o Exu Maioral”, um ser andrógeno, chamou atenção pelo tamanho e porque a escultura levantava e fica de pé erguendo o tridente. O único detalhe negativo foi o acabamento da escultura que tinha problemas como nas asas e na cintura da escultura.

No Abre-Alas, Jack significou “curandeiro(a)” e a expressão Mwene Kongo, senhor(a) do Congo. As duas, respectivamente, originaram os termos Quimbanda e Manicongo. A alegoria trouxe à sua frente uma escultura do exu de duas cabeças com Xica Manicongo em seu ventre. Crânios e ossos representam o culto aos antepassados, aos desencarnados, unidos à vitalidade oferecida dos animais divinizados. A segunda parte da alegoria ilustrou poeticamente Xica como uma sacerdotisa kimbanda invocando Nkisi Ngo, a força e o poder do leopardo do Reino do Kongo. Alegoria com boa qualidade visual e com estilo visual bem diferente do que passou pela Sapucaí, estilo próprio e legal, isso, apesar de ter apresentado problemas com uma parte da alegoria caindo ainda no Setor 1.

O segundo carro mostrou Xica Manicongo na Bahia. A alegoria apresentou uma visão lúdica de como seria essa mistura cultural que moldou o caráter social da cidade, porém, dominada e influenciada pela Igreja Católica. Na frente o marco de fundação de Salvador. Duas grandes esculturas representando Exu, protetor dos mercados, finalizam a alegoria. O papagaio pousado na escultura de Exu simbolizou o encontro da natureza brasileira com a cultura africana. Alegoria de boa qualidade estética.

A terceira alegoria representou a transcendência da alma feminina de Xica Manicongo proporcionada pelo encontro das suas raízes africanas com a espiritualidade indígena tupinambá através do catimbó. A escultura do rosto de Xica Manicongo veio com pintura facial afro-indígena ostentando um cocar de folhas representando a absorção da espiritualidade indígena brasileira pela ancestralidade africana de Xica. Na alegoria, a presença de cerâmicas ritualísticas reproduzindo corujas, simbolizando sabedoria e o vaso redondo, a mãe terra. Boa utilização de cores e contraste.

Em seguida, o quarto carro do Paraiso do Tuiuti, trouxe Xica Manicongo desencarnada, acolhida pela agregora e pomba-giras. A alegoria fez uma ilustração lúdica com exemplos do uso do pajubá no cotidiano e em objetos, como as garrafas de “Marafo” (aguardente) e os maços de “Xanã” (cigarro).

A última alegoria do Paraiso do Tuiuti encerrou o desfile com a era do Traviarcado buscando um futuro mais inclusivo e acolhedor com todas as existências, corpos e vivências. Na frente da alegoria a representação escultórica de Xica como uma NGanga de estética “queer”, “assentada” na frente do movimento traviarcal. Distribuídas pelo centro da alegoria, vieram vinte e nove personalidades trans e travestis de diversas áreas da sociedade brasileira. Apesar do colorido, a alegoria teve um pequeno problema de iluminação em um das coroas vazadas da lateral. Problemas de acabamento também estiveram presentes na parte de trás.

Fantasias

Jack conseguiu aproveitar bastante aquilo que o enredo lhe permitia em relação a paleta de cores e aquilo que o carnavalesco mais gosta de produzir para carnavais, mais colorido e cores quentes. O carnavalesco soube usar as nuances a partir do que cada setor pedia. No primeiro mais ancestral, a presença maior do marrom, vermelho e palha. No terceiro setor, mais indígena, o verde bem utilizado. O acabamento também foi de boa qualidade e a utilização dos materiais, foi igual. Destaque para as primeiras alas “Exu Marioral”, “Exus primordiais” que usaram de forma bastante interessante a combinação entre o preto, alaranjado e o vermelho. Outros destaques foram as baianas, vieram com a fantasia “pombagirada”, fazendo alusão aos momento em que Xica desencarnou e se viu livre finalmente para rodar a sua saia e gargalhar ativamente. Excelente uso do vermelho.

Harmonia

Pelo segundo ano consecutivo defendendo o samba do Paraíso do Tuiuti em desfile, o intérprete Pixulé mostrou novamente estar bem a vontade a frente dos microfones da Amarela e Azul de São Cristóvão. E , neste desfile, Pixulé, inclusive, mais do que no ano passado, conseguiu ter o termômetro certo para fazer as suas vocalizações e cacos e a parte em que gosta de empossar mais a voz, até pela potência vocal que tem. Foi bem, inclusive, quando a escola já vinha com problemas de evolução na pista, mantendo o clima. No carro de som, excelente trabalho das vozes femininas que ajudaram bastante o canto, dando um contraste legal ao grave do Pixulé. Em relação ao canto da comunidade, já era tímido no início ainda que não tão problemático, mas diminuiu consideravelmente depois que a escola precisou correr.

Samba-Enredo

O refrão principal tem um colocação de palavras que ainda torne a letra um pouco simples, tem musicalidade. A cabeça do samba é valente, para frente e na musicalidade consegue dar o tom da profundidade da letra que toca em temas sensíveis e tem muita força de enfrentamento à transfobia, ao preconceito. “Faz tempo que eu digo não, ao velho discurso cristão“ tem um balanço melódico bem interessante que permitiu a bateria fazer algumas convenções. A grande virada melódica vem “Eu travesti” e é o momento melódico, desse verso até o final da segunda estrofe, que possui maior riqueza melódica. A obra passou de forma tranquila na Sapucaí, em um andamento que nem deixava o samba acelerado e nem corria risco de arrastar. Passou bem pela pista.

Evolução

O quesito foi o ponto mais preocupante do Tuiuti neste desfile. Os problemas aconteceram em todos os módulos, já que após uma evolução extremamente lenta no início do desfile, com a comissão encerrando a sua última apresentação com cerca de 45 minutos, a atuação do meio para o final foi extremamente corrido e problemático. A quarta alegoria ainda se chocou com a grade próximo ao módulo de jurados entre os setores 6 e 7. E, para terminar, a escola ainda abriu buraco no campo de visão da segunda cabine de jurados entre o quarto carro e a alegoria que estava logo a frente. No final, a entrada da bateria também foi complicada com indecisões entre a harmonia da escola e a ala, se iriam entrar ou não, visto que a escola já estava enrolada com o tempo na pista. Situações que devem trazer dificuldade na apuração.

Outros destaques

A rainha Mayara Lima foi ovacionada quando o apresentador Vanderlei Borges citou seu nome na ficha e veio como “Luz da lua” representando o conhecimento que Xica teve sobre a importância dos astro para a cultura tupinambá com um led acima da cabeça. Já a bateria Supersom, de mestre Marcão, veio de “curupira”, elemento protetor das matas e dos animais que Xica conheceu em seu transe alucinógeno. A deputada Erika Hilton, que veio na comissão de frente da escola, em seu discurso antes do desfile lembrou que o número expressivo de mortes em uma sociedade racista e transfóbica e foi ovacionada pelo público quando mandou um salve para os travestis e as mulheres trans. No esquenta, Pixulé cantou o samba de exaltação em honra ao padroeiro da escola junto com a obra que embalou o vice campeonato de 2018.

Mocidade resgata sua identidade em retorno de Renato Lage, brilha na comissão de frente, mas peca na clareza do enredo

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a última noite de desfiles do Grupo Especial com um carnaval que resgatou sua própria essência. Sob a assinatura de Renato Lage, a escola da Zona Oeste afastou as desconfianças e entregou uma apresentação que reconectou a agremiação com sua identidade. Foi um desfile nos moldes que consagraram o carnavalesco nos anos 1990, repleto de referências estéticas que remetiam a momentos marcantes da história da Mocidade. O samba já anunciava: “O Mago vai recriar a Mocidade”, e, de fato, o Independente se reconheceu na Avenida. O brilho de Márcia Lage, que nos deixou neste ano, esteve presente na paleta de cores vibrante e bem trabalhada da escola.

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O grande destaque do desfile foi a comissão de frente, assinada por Marcelo Misailidis, que fugiu dos formatos convencionais e entregou uma concepção inovadora. Com um trabalho criativo e bem executado, a comissão mexeu com o público e reforçou o impacto cênico da apresentação. Outro ponto alto foi o desempenho da comunidade de Padre Miguel, que fez a diferença com um canto forte e uma evolução vibrante, sustentando a energia do desfile.

No entanto, a Mocidade pecou no desenvolvimento do enredo, que não foi bem amarrado, resultando em uma narrativa confusa e de difícil compreensão. Embora o conjunto visual tenha causado impacto, faltou capricho e refinamento. Alegorias e fantasias, apesar de conceitualmente interessantes, apresentaram um nível de acabamento simples, o que comprometeu o brilho da apresentação. Com o enredo “Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar”, a escola encerrou sua apresentação com 77 minutos na Avenida.

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Comissão de Frente

A comissão de frente da Mocidade Independente de Padre Miguel em 2025, coreografada por Marcelo Misailidis, trouxe a apresentação “IA.venida Matrix do Samba, o futuro é aqui…”, explorando um tema futurista e provocando reflexões sobre a influência da Inteligência Artificial e o impacto da tecnologia na humanidade. A performance questionava a linha tênue entre realidade e ilusão em um mundo saturado de informações e fake news, destacando a incerteza e a crescente dependência tecnológica.

* LEIA AQUI: Entre Homens e Máquinas: o futuro em debate no desfile da Mocidade

Em um ano marcado por diversas comissões de frente com conceitos semelhantes, a Mocidade se destacou justamente por sua abordagem diferenciada. Ao contrário da tendência de utilizar um grande tripé fixo, a escola apostou em elementos cenográficos menores, mas essenciais para a construção coreográfica. Esses elementos, integrados à performance dos bailarinos, formavam diferentes cenas ao longo da apresentação. No início, telões exibiam uma mensagem enigmática, que logo davam lugar a uma estrutura dinâmica: os elementos se uniam e formavam uma grande parede, da qual emergia um robô articulado, manipulado pelos próprios dançarinos. O efeito visual impactante capturou a atenção do público, potencializado pela iluminação cênica da Sapucaí, que realçou ainda mais a dramaticidade do momento.

No desfecho da apresentação, a tecnologia assumia de vez o protagonismo: três robôs reais surgiam na cena, entre eles dois cães robóticos, simbolizando a síntese da narrativa da comissão de frente, a substituição gradual da vida real pela artificial.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade Independente de Padre Miguel em 2025, Diogo Jesus e Bruna Santos, representou o fenômeno astronômico da Supernova, que ocorre quando estrelas massivas explodem e espalham poeira cósmica pelo universo, criando novos corpos celestes. A fantasia do casal foi concebida para traduzir essa explosão de luz e energia, simbolizando o ciclo eterno de renovação do cosmos. Diogo e Bruna ora se afastavam, ora se aproximavam, em uma dança que remetia à movimentação dessas estrelas em seu processo de transformação.

* LEIA AQUI: Renato Lage e a Mocidade: a magia está de Volta

O casal se apresentou bem em todas as cabines, demonstrando segurança e sintonia na defesa do pavilhão. A dança foi forte e vigorosa, com destaque para a energia de Bruna, que se entregou intensamente à performance. No entanto, em alguns momentos, esse excesso de vigor comprometeu a clareza dos movimentos, deixando dúvidas sobre a coesão na manutenção do pavilhão esticado. A intensidade da execução, embora impressionante, por vezes resultou em gestos menos definidos, o que pode ter afetado a percepção do conjunto coreográfico. Ainda assim, a dupla manteve um desempenho consistente e alinhado.

Enredo

O enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel para 2025, “Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar”, propôs uma viagem intergaláctica que explorou a relação do homem com o cosmos, a tecnologia e o futuro da humanidade. Inspirado na frase de Carl Sagan, “Somos todos poeira de estrelas”, o desfile refletiu sobre a origem do ser humano e os impactos do avanço tecnológico, além de resgatar a identidade futurista da escola e homenagear a carnavalesca Márcia Lage, que faleceu em 2024, deixando esse projeto como seu último trabalho ao lado de Renato Lage.

No entanto, apesar da grandiosidade da proposta, a narrativa do enredo se mostrou confusa e pouco clara. Em diversos momentos, a abordagem repetitiva dificultou a compreensão da mensagem central, tornando o entendimento quase nulo para o público. A tentativa de unir conceitos científicos, tecnológicos e reflexões filosóficas resultou em um discurso denso, mas sem uma linha condutora bem definida, o que comprometeu o impacto esperado na Avenida.

O desfile se dividiu em três eixos principais. O primeiro abordou a conexão do homem com o universo, trazendo o carro “Cosmos”, inspirado na obra de Carl Sagan. O segundo refletiu sobre o impacto da tecnologia na humanidade, representado na alegoria “A Inteligência Artificial Desafia o Pensador”, baseada no conceito de Homo Deus, de Yuval Noah Harari. O terceiro explorou a obsessão humana com Marte e a ficção científica, com o carro “Marte Está Entre Nós”, além de referências a Os Jetsons e Os Flintstones, questionando o que se imaginava sobre o futuro e o que se tornou realidade.

Alegorias e Adereços

A Mocidade Independente de Padre Miguel desfilou em 2025 com cinco carros alegóricos e dois tripés, todos alinhados ao enredo “Voltando para o Futuro – Não Há Limites para Sonhar”, desenvolvido por Renato Lage e Márcia Lage (in memoriam).

O conjunto alegórico da escola transportou o público para os anos 90, período de maior auge da Mocidade e da consolidação de uma identidade visual marcada pela genialidade de Renato Lage. O grande destaque dos carros foi o uso da iluminação, que se mostrou essencial para a composição cênica das alegorias. Para quem imaginava que a iluminação cênica da Sapucaí seria um recurso indispensável, o carnavalesco provou que é possível valorizar os carros sem depender de elementos externos. Foi um verdadeiro reencontro da escola com seus melhores momentos visuais.

No entanto, apesar do impacto estético, o conjunto alegórico apresentou acabamentos simplórios. Não houve grandes falhas, mas em alguns elementos faltaram esmero e refinamento, comprometendo, em parte, o nível de requinte esperado.

As alegorias exploraram temas como a relação da humanidade com a ciência e a tecnologia. O abre-alas, “Sobre o Céu, a Estrela-Guia”, trouxe um grande cometa, celebrou a ciência e referência à Estrela de Belém, relacionando-a ao conceito de Homo Deus, o homem que acredita ser uma divindade por meio do avanço tecnológico. O segundo carro, “Cosmos”, inspirado na obra de Carl Sagan, destacou a imensidão do universo e o papel do ser humano dentro dessa vastidão. Já o terceiro, “Marte está entre nós”, trouxe reflexões sobre a exploração espacial e o desejo de conquista de outros planetas. O quarto carro, “O Dono da Razão”, criticou a arrogância humana e a crença no domínio absoluto sobre o conhecimento. Por fim, “O Pulso Ainda Pulsa”, a última alegoria, retratou um cenário caótico, alertando para os impactos da tecnologia, das mudanças climáticas e da manipulação social .

Os tripés serviram para complementar a narrativa visual da escola, reforçando a estética futurista e científica proposta pelos carnavalescos, porém, o nível deles em relação aos carros conseguiu ser ainda mais simples.

Fantasias

A Mocidade Independente de Padre Miguel acertou em cheio no uso das cores, entregando um desfile vibrante e harmonioso. A escolha por tons cítricos, especialidade de Márcia Lage, foi um dos grandes destaques do visual da escola. Mesmo com combinações ousadas, nada feriu a estética do desfile – pelo contrário, a cartela cromática trouxe unidade e reforçou a proposta futurista e intergaláctica da apresentação.

No entanto, a mesma qualidade não pode ser atribuída à riqueza das fantasias. A escola optou por materiais simples e alternativos, o que, em muitos casos, resultou em um acabamento que deixou a desejar. Individualmente, várias fantasias não impressionavam e careciam de impacto visual, ainda que a leitura dos figurinos fosse clara na maior parte do desfile. O conjunto funcionou pela coesão das cores e da identidade da escola, mas faltou um refinamento maior nos detalhes, algo que poderia ter elevado ainda mais o nível da apresentação.

Harmonia

O desempenho musical da Mocidade foi excelente. O carro de som, comandado por Zé Paulo Sierra, atravessou a avenida com muita sintonia. Um destaque especial foi a presença de vozes femininas, com Milena Wainer se sobressaindo como a mais potente e participativa.

Os elogios também se estendem à bateria “Não Existe Mais Quente”, sob a regência de mestre Dudu. Os ritmistas deram uma sustentação impecável ao samba e impulsionaram o canto da comunidade. Desde o início do desfile, inúmeras paradinhas foram executadas com precisão e capricho, sendo o paradão durante o refrão do samba o mais emblemático, realçando ainda mais a força do canto dos independentes.

Samba-Enredo

O samba, composto por Paulo Cesar Feital, Cláudio Russo, Alex Saraiça, Denilson Rozario, Carlinhos da Chácara, Marcelo Casanossa, Rogerinho, Nito de Souza, Dr. Castilho e Léo Peres, foi um dos grandes destaques do desfile. A obra conseguiu captar aspectos do enredo que não estavam totalmente claros e os transformou em poesia, dando forma e emoção ao que poderia ser difícil de explicar.

Além disso, a letra explorou a conexão emocional dos componentes ao fazer referências a sambas históricos da escola e ao destacar Renato Lage, uma figura emblemática da verde e branca. O samba ganhou força na avenida e contribuiu para um desfile de conjunto harmônico impecável. Os dois refrões foram cantados com intensidade, e a preparação para o refrão principal — nos versos “naveguei, no afã de me encontrar, eu me emocionei” — proporcionou um dos momentos mais marcantes da noite.

Evolução

O Independente deslizou pela Avenida com leveza, e a fluidez do desfile impressionou pela tranquilidade com que a escola avançou pelo Sambódromo. As alas evoluíram de forma solta e natural, sem perder a técnica, garantindo um equilíbrio entre espontaneidade e organização. Do alto, era possível notar o alinhamento preciso dos componentes, que desfilaram compactos, mantendo a harmonia visual e a coesão do conjunto.

Outros Destaques

Antes mesmo de cruzar a linha que marca o início oficial do desfile, a Mocidade Independente de Padre Miguel já emocionava o público com um esquenta repleto de nostalgia e tradição. A escola preparou uma sequência de sambas antológicos, relembrando momentos marcantes de sua trajetória e elevando a energia na concentração.

Outro ponto que chamou atenção foi a ala de passistas, uma das maiores do carnaval deste ano. Com um grupo numeroso e sincronizado, os passistas deram um verdadeiro show de gingado e técnica, mostrando por que são referência no quesito samba no pé.

À frente da “Não Existe Mais Quente”, a rainha de bateria Fabíola de Andrade brilhou com carisma e elegância.

No fim do desfile, a emoção tomou conta da Avenida com a homenagem a Márcia Lage, carnavalesca da escola e esposa de Renato Lage, que faleceu neste ano. Grandes bandeirões com sua imagem foram erguidos, enquanto Renato desfilava vestindo uma camisa estampada com o rosto de Márcia, simbolizando sua presença na construção do carnaval da Mocidade. Foi um momento de reconhecimento e reverência a uma das grandes artistas da folia, coroando um desfile carregado de identidade e sentimento.