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Unidos de Padre Miguel apresenta desfile grandioso com abertura arrebatadora, mas erros de evolução podem custar o título

A Unidos de Padre Miguel apresentava pelo menos a melhor abertura de uma escola na Série Ouro de 2022, juntando elemento alegórico da comissão de frente, pede passagem com a cabeça do boi vermelho, e o abre-alas trazendo a grande árvore sagrada. Mas justamente o abre-alas que compunha o conjunto que mexeu com o público desde os primeiros minutos, apresentou problemas que geraram consequências negativas para a evolução da escola. A presença de um enorme buraco entre os setores 6 e 8 deve custar preciosos décimos. O canto da escola, a comissão de frente e o casal também se destacaram na Vermelha e Branca de Padre Miguel. Com o enredo “Iroko – É tempo de Xirê”, a Unidos foi a quinta escola a desfilar na segunda noite da Série Ouro, encerrando sua apresentação com 52 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

O coreógrafo David Lima trouxe para a Avenida a comissão “Guardiões do tempo” que significavam o fruto de uma árvore cheia de histórias, dando continuidade ao legado como guardião das marcas do tempo. O grupo trouxe o elemento cenográfico “Poderoso Dono dos Caminhos”, um enorme ser orgânico, mistura de raiz, árvore com humano, que impressionava pelos movimentos que lhe concediam tamanha realidade. A fantasia dos bailarinos também se destacava com leds verdes no peito acendendo durante a coreografia e com capas que imitavam de forma perfeita folhagens. Na mão um bastão, e na ponta dele uma ampulheta remetendo ao orixá homenageado no enredo. Durante a apresentação na primeira e na terceira cabine em um dos momentos que os bailarinos interagiam com o elemento cenográfico, uma das capas penduradas caiu no chão. Também na terceira cabine, um dos LEDS da roupa acendeu antes da hora.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal, Vinicius Antunes e Jéssica Ferreira, estavam fantasiados de “sopro da criação “, significando a centelha divina de Olorum, que ganha forma e gira no compasso que se eterniza no momento da criação do universo. O casal apresentou uma coreografia irretocável com muita intensidade de movimentos. Em alguns trechos do samba, a dupla realizava terminações correlacionadas com os versos do samba, como em “Bato cabeça”, com uma reverência de cabeça e no “o vento sopra” em que eles reproduziam com os braços movimentos que remetiam a rajadas de ar. O único ponto de correção a ser citado é que no segundo módulo a bandeira poderia ter ficado mais desfraldada em alguns momentos.

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Harmonia

A comunidade da Unidos de Padre Miguel abraçou o samba e cantou do início ao fim, mesmo com os problemas em evolução e os momentos em que foi preciso se deslocar mais rapidamente. Até os componentes da comissão de frente vieram cantando os trechos do samba, principalmente durante a coreografia de avanço. Destaque para as alas ” a água” e “o fogo” no primeiro setor, “no chamado de Iroko” e “Obaluayê”, no terceiro setor. Na abertura do desfile o carro de som apresentou um canto para o Orixá, antes de entrar no samba propriamente dito.

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Enredo

O enredo “Iroko – é tempo de xirê”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira e comissão artística, apresentou na Avenida as crenças em torno do Orixá Iroko, a Árvore-Orixá de raízes fortes, que representa a dimensão do tempo e através da qual todos os demais Orixás desceram à Terra. A história se iniciou no poder da criação, na semente sagrada que deu origem à vida. Em um segundo momento deu-se destaque aos elementos vitais de transformação: a terra, o fogo, a água e o ar. Por fim, no terceiro setor, a Unidos trouxe a comunhão entre os Orixás. Ainda que um pouco denso na sua essência, a homenagem a Iroko foi entendível em sua maioria para o público, principalmente na questão visual e na presença de alguns elementos que remetiam ao tempo como as ampulhetas. Apenas algumas fantasias, tinham menos leitura.

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Evolução

Grande decepção do desfile, a evolução da escola começou a dar errado quando o abre-alas apresentou dificuldades já para entrar na Avenida, ameaçando a formação dos primeiros buracos. Mas, o ponto crucial se deu quando a alegoria se aproximava da segunda cabine, após a apresentação de comissão de frente, casal e pede passagem. O abre-alas gerou dificuldades para se movimentar, a escola teve que empurrar com muita dificuldade e os elementos da escola que estavam na frente seguiram em evolução abrindo um enorme buraco entre os setores 6 e 8. O problema ainda gerou uma evolução no decorrer do desfile bastante irregular e corrida em alguns momentos, até melhorar um pouco após a saída da bateria do segundo recuo. A se destacar de positivo apenas a espontaneidade de algumas alas como a “Ibís”, ala das crianças que evoluíram de forma leve.

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Samba

O samba foi comandado pela dupla de intérpretes oficiais Diego Nicolau e Guto. Com bom entrosamento e sem vaidade, em alguns momentos Guto segurava mais o samba e Diego ficava livre para a realização de alguns cacos oportunos que chamavam os componentes ao canto. A bateria ” Guerreiros da Unidos”de mestre Dinho deu ao samba um andamento mais direto que equilibrou a parte melódica gerando força, impacto e intensidade na obra. Entre os trechos mais cantados estavam a cabeça com o “Tempo Misterioso tempo”, e os refrãos do meio e principal.

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Fantasias

A escola trouxe um conjunto de fantasias muito luxuoso e com bom acabamento. Fantasias grandes com capricho tanto nas cabeças e esplendores como na parte de baixo, no corpo. Difícil destacar apenas algumas, mas trazendo por setores, no primeiro setor, as baianas “Iamis, grandes mães semeadoras” representavam as guardiãs do ventre do mundo e da ancestralidade feminina, relacionando tons em palha com azul escuro, se utilizando de leds. No segundo setor, as alas “Ibís”, das crianças e “A água” traziam os componentes também maquiados, apresentando um bonito efeito. Já no terceiro setor, o destaque fica para as alas “Oxumaré”,”Ossain” e “Oxalufã”, com vestimenta homenageando as religiões de matriz africana.

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Alegorias

Outro ponto de destaque, o conjunto alegórico da Unidos de Padre Miguel trouxe beleza, grandiosidade, detalhismo e luxo. No “pede passagem”, o boi, símbolo da escola, bufando fumaça e trazendo elementos sonoros. O carro abre-alas “A Grande Árvore Sagrada – Orixá-Árvore, Árvore-Orixá” representou o princípio, a eternidade, a dança antiga da criação. A árvore inclusive fazia o movimento do vento. A segunda alegoria “Iroko-Árvore: Guardião da Natureza, Morada dos Orixás”, trazia roldanas no final que produziam um bonito efeito de ciclo. E por fim, no último carro “O Branco da Paz de Iroko em Comunhão com Obatalá”, uma pomba realizava movimentos com as asas em uma grande altura. Todos os carros possuíam uma iluminação de destaque.

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Outros Destaques

O intérprete Guto estreou como voz oficial da escola ao lado de Diego Nicolau que já está no seu terceiro desfile. A bateria de mestre Dinho vestia “no ritmo do tempo”, apresentando a marcação do compasso do tempo, roupa de gala para o Xirê. A rainha de bateria Karine Costa era “A Beleza da Dança da Avania”. A alas de passistas “o brilho dos minerais” apresentou Iroko dos ciclos da vida e também da vida sem vida do brilho dos minerais que brotam das profundidades da terra. A velha-guarda veio como “a ancestralidade da Unidos de Padre Miguel”. O carnavalesco Edson Pereira foi muito aplaudido no final do desfile e ouviu até alguns gritos de “É campeã”.

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Vigário Geral: ala das baianas faz referência a obra “O Vendedor de Flores”

Vigario02aTituladas como “Visão Europeia”, as baianas da Acadêmicos de Vigário Geral desfilaram a obra ‘O Vendedor de Flores”, de Jean-Baptiste Debret. Em entrevista ao CARNAVALESCO, a fantasia de cor predominantemente vermelha com alguns detalhes em dourado, foi bastante elogiada pelas próprias baianas da escola.

A costureira de 70 anos também baiana, Tânia Mara, não pensou duas vezes em ceder elogios. “Nossa fantasia está ótima, muito leve e muito gostosa. Foi bom demais dançar com ela”, afirmou.

Telma das Graças, de 69 anos, partilha da mesma opinião da colega. Quando questionada quanto ao gosto sobre a fantasia, respondeu: “Achei essa fantasia linda demais, estou muito emocionada. Representar os nossos antepassados é sempre maravilhoso e necessário. É de extrema importância estar sempre reverenciando nossas raízes”, concluiu a enfermeira.

A baiana Fabíola Alves, costureira de 48 anos, aproveitou para opinar não só quanto a sua fantasia, mas também sobre todo o enredo e proposta da escola.

“A fantasia está muito bonita, mas o que mais me chamou atenção foi essa referência estar muito retratada. O enredo da escola tenta passar uma mensagem de cultura, estou muito feliz. Nosso enredo é atual, é a nossa luta de sempre. Considerando os momentos que a gente tem vivido, quanto mais algo é falado, melhor será entendido”, conclui.

Relação entre Brasil e África é representada pelo casal de Vigário Geral em desfile

Vigario01aPara o Carnaval 2022, a Acadêmicos de Vigário Geral escolheu o enredo sobre a “Pequena África”, enaltecendo seus valores urbanos e artísticos ao pertencimento histórico-cultural da cidade carioca.

A partir desse enredo, o primeiro casal de mestre sala e porta-bandeira da escola, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, representaram justamente a relação entre o Brasil e o continente africano. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o casal contou detalhes quanto a representação e significado de suas respectivas fantasias.

“Eu e o Diego viemos representando não só a África e o Brasil, como também toda essa relação que foi construída através dos séculos, especificamente aqui no Brasil. Nosso país tem muito dessa questão do amor e do ódio, além de toda essa questão de resistência negra que se fundou através da nossa colonização”.

Estreando não só com a Thainá, mas também como primeiro mestre sala da escola após 6 anos sonhando em alcançar o primeiro pavilhão da agremiação, Diego visivelmente emocionado, também falou sobre sua fantasia, alegando estar muito empolgado com o desfile.

“Eu desfilei representando o Brasil, dentro da relação entre Brasil e o continente africano, representado pela Thainá. Ainda sim, sem desconsiderar toda a passagem com ligação ao amor e a dor que havia naquela época entre os dois.”

Fotos: desfile da Unidos de Padre Miguel no Carnaval 2022

Santa Cruz apresenta belo conjunto alegórico, mas peca em evolução

A Acadêmicos de Santa Cruz realizou uma justa homenagem ao ator, cantor e diretor Milton Gonçalves. A Verde e Branco apresentou na avenida o enredo “Axé, Milton Gonçalves! No catupé da Santa Cruz”. A agremiação da Zona Oeste se destacou com uma bela apresentação da bateria de mestre Riquinho, da sua comissão de frente e de seu conjunto alegórico. Porém, a escola pecou em evolução e harmonia, abrindo um buraco no setor 6, em frente a última alegoria. O desfile durou 53 minutos. * VEJA FOTOS 

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

A comissão de frente da Santa Cruz representou a dança do catupé e a coroação dos reis negros. O grupo foi composto por 15 integrantes, sendo um casal e 13 bailarinos, coreografados pela dupla Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas. O bailado foi dinâmico, expressivo e vigoroso. Em certos momentos do desfile, o casal, que vestia uma roupa colorida e luxuosa, era erguido nos braços de outros componentes da comissão. Em outro trecho da dança, alguns bailarinos retiravam rapidamente um tecido de suas capas para vesti-lo do avesso no casal de reis negros, provocando um belo efeito.

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No fim da apresentação, o casal se ajoelhava para receber uma coroa dos bailarinos, que se abaixavam em reverência à realeza. Nesse instante, com os integrantes de cabeça baixa, a parte superior dos chapéus formava a frase: Preto é rei. A coreografia recordou as poucas lembranças que Milton Gonçalves guardou da infância vivida em Monte Santo, cidade do interior mineiro onde ele nasceu. O catupé e a coroação dos reis é uma festa que acontecia na matriz, sob as bênçãos de Nossa Senhora do Rosário. A apresentação da comissão durou cerca de 1m55seg em frente ao módulo de julgamento dos quesitos.

Mestre-Sala e Porta Bandeira

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira da Santa Cruz, Muskito e Roberta Freitas, desfilou com a fantasia de “Nobres africanos: Raízes ancestrais”. A família de Milton Gonçalves, por parte de pai e mãe, era descendente de negros escravizados. A roupa de Roberta era bem volumosa, com a saia toda revestida de penas de cor verde escuro, máscaras africanas, além de detalhes em laranja, marrom claro e preto.

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A fantasia de Muskito veio na mesma tonalidade que a de Roberta, e contava ainda com uma capa laranja com losangos preto. Ambos traziam no costeiro um conjunto de penas marrom claro com pontas pretas.

O casal executou um bailado seguro e sem contratempos durante a passagem da escola pela avenida, apresentando com elegância o pavilhão da Santa Cruz. Sempre sorrindo, a dupla trocava olhares e se entendia a cada movimento. No trecho “Um santo, a cruz da liberdade/ A Santa Cruz é liberdade” ambos abriam os braços para enfatizar o sentimento de libertação descrito no enredo. A apresentação do casal em frente à cabine de jurados durou por volta de 1min50seg.

Harmonia

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A Santa Cruz não conseguiu manter a mesma intensidade de canto em todas as suas alas. Tiveram um canto forte na passarela as alas: “A descoberta do cinema”, “Irmãos Coragem” e “O bem amado”. Já a segunda ala, “Um trem para São Paulo: Estação”, desfilou com vários componentes sem cantar a letra do samba por completo. As alas “Arena conta Zumbi” e “Paixão pelo Flamengo” também deixaram a desejar em termos de harmonia.

Enredo

A Santa Cruz abriu o desfile ressaltando a ancestralidade de seu homenageado, mostrando elementos da cultura mineira, estado de origem do ator. Antes da primeira ala de enredo, desfilaram alguns componentes de camisetas, em uma ala não prevista no livro “Abre-alas”. O segundo setor da escola abordou a infância e juventude de Milton Gonçalves, quando ele foi buscar melhores condições de vida em São Paulo. Em terras paulistanas Milton chegou a fazer vários “bicos”, como guardador de frutas, por exemplo, antes de iniciar sua carreira artística.

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O fascínio de Milton com os palcos foi mostrado no terceiro setor da escola. Sua estreia nos palcos de teatro, em 1956, foi lembrada pela ala “Soldado de Chocolate”. Os ritmistas da bateria estavam vestidos de metalúrgicos, em alusão a peça “Eles não usam black-tie”. O último setor da Verde e Branco fez referência à boêmia carioca. As alas deste setor retrataram o amor de Milton pela Mangueira e pelo Flamengo. A defesa pela liberdade artística diante da censura da ditadura também foi lembrada em uma ala da escola. As novelas de sucesso que Milton atuou, como “O bem amado” e “Irmãos coragem” vieram representando os personagens vividos pelo ator.

Alegorias

O carro abre-alas da Santa Cruz veio lembrando das origens mineiras de Milton Gonçalves, trazendo além das cores da escola, verde e branco, um trabalho de acabamento em laranja e dourado. A coroa, símbolo da escola, foi toda entalhada em ébano. Uma escultura de Nossa Senhora do Rosário, junto a igreja matriz de Monte Santo, onde Milton, quando criança, assistia a coroação dos reis negros. Na parte frontal da alegoria, mães de santo e pretos-velho faziam parte da composição.

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A segunda alegoria, toda em lilás, simbolizou o período em que Milton trabalhou em uma livraria em São Paulo, ainda adolescente. Uma espécie de coroação do ator pela soberana do conhecimento, a energia anciã de Nanã, retratada como guardiã dos livros em uma escultura frontal. A terceira e última alegoria da escola foi denominada “Oxalá e o bem amado Milton Gonçalves”, em referência ao personagem Zelão das Asas, que tinha o desejo de voar e, no final da trama, consegue realizar. Oxalá veio como símbolo da própria liberdade buscada por Milton ao longo da vida, coroando-o como rei e celebrando a liberdade de seu povo.

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Fantasias

A primeira ala da Santa Cruz trouxe para a avenida os “Catadores de café em Monte Santo”. A segunda representou a ida de Milton à cidade de São Paulo, com seus integrantes vestidos de locomotiva. A ala “A descoberta do cinema” trazia estrelas prateadas nos costeiros dos componentes, provocando um belo efeito visual. A ala relembrou o encantamento do ator pela sétima arte. Mesmo sendo constante barrado nas sessões por nao estar “vestido adequadamente”, Milton cultivou sua paixão pelos filmes.

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A ala das baianas veio simbolizando a sabedoria de Nanã, com uma elegante fantasia nas cores lilás, rosa e branco. As “Senhoras do Conhecimento” remetem ao período em que o homenageado desenvolveu o hábito da leitura ao trabalhar em uma livraria. A ala de passistas deu show na avenida trajada de “A corte de Zumbi”, em referência ao Quilombo dos Palmares.

Samba-Enredo

O samba-enredo composto por Samir Trindade, Junior Fionda, Elson Ramires e Rildo Seixas teve um belo rendimento na avenida. Apesar do canto não ter sido uniforme durante todo o desfile, os componentes entoavam os refrões com bastante empolgação. “Preto é rei!” e “Obá obá, Obara ôôô” foram os trechos da letra do samba que eram cantados com mais vigor pela comunidade de Santa Cruz. O carro de som liderado pelo intérprete Roninho enfrentou um pequeno apagão no sistema de som da Sapucaí, mas não comprometeu a harmonia da escola.

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Bateria

A bateria comandada por mestre Riquinho sustentou o desfile da Santa Cruz, sem deixar de lado a criatividade. As bossas do samba foram executadas com perfeição e precisão. Em uma delas, no trecho “Obá obá, Obara ôôô”, os ritmistas reverenciavam o público enquanto os repiques seguravam o ritmo e voltavam na virada de dois, dando continuidade a bossa. Sem dúvidas, a Tabajara da Zona Oeste foi um dos pontos altos do desfile da Acadêmicos. A frente dos ritmistas veio a rainha da bateria Larissa Nicolau.

Evolução

A Santa Cruz começou seu desfile evoluindo bem, com a maioria de suas alas passando compactas. Porém, quando a bateria entrou no recuo, a escola acelerou o passo para cobrir o espaço deixado na avenida e o último carro não conseguiu acompanhar. Na passagem da alegoria pelo segundo módulo, acabou abrindo um buraco, que só foi corrigido no setor seguinte. As alas “A Paixão pelo Flamengo” e “O amor pela Mangueira” embolaram em alguns momentos do desfile.

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Outros destaques

A musa Paula Lacer, com a fantasia “Sacerdotisa da rainha diaba”, conquistou o público com sua simpatia e samba no pé. Ela veio a frente da ala “A rainha diaba – uma revolução”, que remete ao personagem homossexual interpretado por Milton em filme homônimo, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura. Com este trabalho, Milton Gonçalves é definitivamente reconhecido por seu talento e capacidade de debater temas de relevância estrutural e cultural.

Responsável por dar vida a escola, bateria da UPM representa as raízes da Iroko e mostra que recomeçar é um dos segredos para o sucesso

UPM04bA Unidos de Padre Miguel passou na avenida nesta última quinta-feira, 21 de abril com o enredo ‘Iroko-É TEMPO de Xirê’. Iroko é a própria existência dos ciclos da vida, seus surgimento, fim e recomeço. Responsável por fazer a escola pulsar na avenida e trazer vida ao público, a bateria da escola vinda de Padre Miguel passou na Sapucaí simbolizando as raízes de Iroko.

“Tô muito contente em estar nesse enredo que traz a ideia do coletivo e inspira a superar as coisas. Vindos desses dois anos difíceis, nos conversamos muito sobre superação esse ano. Com o trabalho do mestre Dinho e uma fantasia leve, bonita e que representa força, nós estamos na briga pelo título”, disse Luvique Viana, o Beethoven da UPM ao site CARNAVALESCO.

Com bateria de mestre Dinho afinada e entrosada com o carro de som, a UPM entregou vida ao público que conferiu seu desfile, mas nem só de trabalho dos ritmistas se faz o sucesso. A fantasia estava impecável e linda.

Simples e de cor vermelha, a fantasia continha desenhos de vermelho sobre vermelho fazendo uma analogia a terra Iorubá e a ligação com as raízes da árvore sagrada. Ainda contou com detalhes dourados que significavam a riqueza da vida e os famosos búzios utilizados na religiosidade Iorubá com funções diversas.

A fantasia aparentemente não atrapalhou o desempenho dos ritmistas, pelo contrário, como dito acima ela contribuiu para o sucesso do quesito. Tal sucesso foi acompanhado de perto pelo mestre Dinho.

“Nesse país com racismo tão forte, é muito importante a escola trazer um enredo que mostra aspectos da Negritude, valoriza o preto e sua essência. Acompanhei todo o processo com muito orgulho e felicidade, inclusive a criação da fantasia da bateria, porque nosso carnavalesco mostrou todos os protótipos e gostei de tudo” disse mestre Dinho ao site CARNAVALESCO.

Mães semeadoras, baianas da Unidos de Padre Miguel encantam Marquês de Sapucaí

UPM03dQuinta escola a desfilar na segunda noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos de Padre Miguel resgatou suas raízes, com sobre o orixá Iroko, na Marquês de Sapucaí. Representando as Iamas, guardiãs do ventre do mundo e da ancestralidade feminina, a fantasia da ala de baianas do Boi Vermelho da Zona Oeste encantou o público com sua beleza.

De volta à escola após 3 carnavais afastado, o carnavalesco Edson Pereira presenteou as senhoras da Vila Vintém com uma bela fantasia que misturava tons de bege, lilás e branco e tinha direito a led nas saias. Além disso, a roupa contava com uma bela asa nas costas e uma coruja rosa nas cabeças das componentes.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, as baianas da Unidos de Padre Miguel teceram muitos elogios à roupa desenvolvida pelo carnavalesco da escola. A maioria considerou a fantasia pesada, mas o amor pela escola e a confiança no retorno ao Grupo Especial, após anos, as fizeram esquecer o peso da roupa.

UPM03aA professora de história Renata Mota, com anos de experiência na avenida, colocou a fantasia na lista das mais bonitas com as quais já desfilou. A carioca de Padre Miguel confia que, após bater na trave nos últimos anos, a UPM, dessa vez, conquistará o tão sonhado título, que garante o retorno à elite do carnaval carioca.

“A fantasia está linda, é uma das mais bonitas que eu já vesti em todos os muitos anos que sou e essa é uma das mais bonitas. Estou muito emocionada. Ela é um pouco pesada, principalmente as asas. Mas, estou muito confiante, agora a gente vai, tenho certeza.”, afirmou a professora.

Também de Padre Miguel, a cuidadora de idosos Dinorá também elogiou a fantasia da ala das baianas. Confiante no campeonato, a baiana supera o peso da roupa, pelo amor ao Boi Vermelho da Zona Oeste.

“A fantasia é muito linda, eu adorei e não esperava que esse que a Unidos de Padre Miguel esse ano viesse ainda mais bonita do que nos últimos carnavais. Ela é um pouco pesada, mas dá para levar tranquilo e vamos ganhar esse campeonato”, contou.

UPM03gNilopolitana, Cássia Dornelles foi parar na Unidos de Padre Miguel por amor ao samba e em solidariedade à escola. “Amizades, uma escola precisa de baiana aí me chamam. Uma escola sempre precisa ajudar a outra. Estamos aqui para somar.” Apesar de não ser torcedora da escola, Cássia garante estar sempre confiante no bom desempenho da Unidos.

“Eu amei a fantasia, não está pesada, está confortável, melhor que nos últimos anos. Como baiana, estou aprovando demais a fantasia. Estou muito confiante no título, a gente sempre acha que vai ganhar, não podemos entrar achando que vamos perder. Nós só queremos ganhar, mais nada.”, disse.

Tem sulista no samba? Diretamente de Curitiba, capital do estado do Paraná, Débora Bonfim desembarcou na Marquês de Sapucaí para desfilar pela Unidos de Padre Miguel. Estreante na avenida, a curitibana se apaixonou pelo Boi Vermelho ao vê-lo, de longe, desfilar.

Torço pela Unidos de Padre Miguel, sempre acompanho a escola. Vim de Curitiba para desfilar, pela primeira vez. A fantasia é linda e ela ainda tem led, nós vamos brilhar na avenida, é bem legal. Ela é pesada, mas é confortável, não é um peso extremo. Baiana tem bastante peças mesmo. Estou muito confiante no título, contou Débora.

Resgatado pela escola, Boi Vermelho brilha em belo pede-passagem da Unidos de Padre Miguel

UPM02dQuinta escola a pisar no solo sagrado da Marquês de Sapucaí, a Unidos de Padre Miguel encantou o público com o enredo “Iroko-É Tempo de Xirê”. Na frente da escola, em um tradicional “pede-passagem”, o boi vermelho, símbolo resgatado pela UPM nos últimos anos, abriu os caminhos para o desfile da escola.

Com a sigla da escola à frente, “UPM”, o pede-passagem, de nome “O Boi Vermelho da Vintém pede passagem, trazia, além do boi, com movimentos, as matas de Iroko, orixá homenageado, estamparias africanas e uma destaque central, representando Oduduá. Com galinhas da angola nas laterais, o elemento alegórico anunciava o “tempo de xirê”, que é a festa dos orixás, realizada pela escola para exaltar arvoré-orixá”.

Apesar de popularmente a escola ser conhecida como Boi Vermelho, o animal durante muitos anos ficou fora do símbolo da escola. Após muitos carnavais com as “duas mãos” como emblema, a Unidos de Padre Miguel resgatou o animal, que se difundiu rapidamente no mundo do samba

UPM02aEm entrevista ao Site CARNAVALESCO, o diretor de alegorias da Unidos de Padre Miguel, Flávio Coelho , responsável pelo pede-passagem, falou sobre a questão da importância do resgate do símbolo e da representação do elemento alegórico.

“Esse pede-passagem traz o nosso símbolo, que foi reinventado pela escola porque o Boi Vermelho é o símbolo original da escola, desde a fundação, sempre foi o boi e durante muitos anos, foram as duas mãos e, de uns anos pra cá, a Unidos de Padre Miguel voltou com o boi vermelho, que é o símbolo da nossa escola”, contou.

De volta à escola depois de três carnavais, o carnavalesco Edson Pereira resgatou as características de desfile da UPM, plasticamente grande e com a pegada africana do povo da Vila Vintém. Confiante, o diretor Flávio acredita no título da escola e no retorno ao Grupo Especial.

“A gente espera a vitória esse ano. Estamos com carros belíssimos, ótimas fantasias e a forte comunidade da Unidos, que é muito forte, como todos sabem, está muito empenhada em busca de ganhar o título e retornar ao Grupo Especial”, concluiu.

Na terceira alegoria da Unidos de Padre Miguel, o encontro de Iroko com Obatalá

UPM01dNo segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí, a Unidos de Padre Miguel marcou presença com o enredo ‘Iroko – É tempo de Xirê’. Sendo Iroko a árvore da vida, a provedora dos alimentos da vida e é representação dos ciclos, a escola apresentou na sua terceira alegoria o encontro de Iroko com Obatalá, o mais velho dos orixás.

Como o primeiro orixá criado por Olodumarê, Obatalá, contração de Oba-ti-ala, o rei em vestes brancas, é a raiz de todos os orixás. Na terceira alegoria da UPM, Obatalá e Iroko foram apresentados como uma combinação harmônica e necessária.

O carro levou para avenida muita luz, mas sem abusar do branco. Investiu nas cores amarelo, dourado, verde e laranja. Na parte inferior foram vistos animais tradicionais do território Iorubá, como grandes felinos e borboletas. Entre eles encontravam-se as composições de alegoria vestidas numa roupa predominantemente branca e detalhadas em tons que remetiam à terra, nas fantasias também foram vistas sementes que fazem analogia a alimentação promovida por Iroko.

UPM01aAcima dos seres da terra, estava uma leitura do globo terrestre pela perspectiva Iorubá. Ao redor deste globo, a roda dos orixás que moldam, abençoam o reino da matéria e formam o exército de Orúm. Toda essa beleza vista sob as asas da pomba branca vinculada a imagem de Obatalá e significando o equilibro da paz no mundo da matéria.

Essa paz na matéria é o que precisa o povo carioca e brasileiro. Contou ao site CARNAVALESCO a Cintia Zacone, uma das componentes que desfilou em cima da alegoria da UPM

“Estou animada em estar nesse carro, é muita responsabilidade. O carro traz o significado da paz e é isso que o povo carioca, brasileiro e do mundo todo quer. Nesse 2022 já vimos tanta gente fazendo o mal, vimos surgir guerras… a gente precisa de paz e a UPM traz isso nesse carro” disse Cintia Zacone

Outra componente do carro também falou com a equipe do site CARNAVALESCO e ressaltou o simbolismo da paz carregado por ele.

“Muito bom estar com essa roupa que ajuda a montar esse carro que traz a paz. Ela é tudo que o brasileiro precisa agora.”, contou Kelly Prado.

Análise da bateria da Santa Cruz no desfile de 2022

A bateria Tabajara da Zona Oeste de Mestre Riquinho fez uma apresentação próxima de correta. Algumas imprecisões e oscilações foram percebidas por parte dos marcadores, mas nenhuma delas de forma destacada em frente a jurado. A batida das caixas de guerra não apresentou uniformidade em sua batida, mas sem gerar consequência à unidade rítmica, devido a qualidade dos ritmistas do naipe.

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No acompanhamento de peças leves uma ala de tamborim com bom volume ajudou a preencher a musicalidade, assim como o naipe de agogôs executou seu toque pautado nas variações melódicas do samba da escola. O breque de subida foi executado de modo constante, trazendo bom valor sonoro ao ritmo, com tamborins efetuando tapas no contratempo no final do mesmo. O destaque musical ficou a cargo da complexa paradinha do refrão do meio.

Já a bossa do refrão do meio iniciou com ritmo de afoxé no toque dos surdos, terminando com solo de timbal com agogô. A apresentação da bateria da Santa Cruz no último módulo de julgadores acabou sendo prejudicada pela harmonia da escola, que pediu para os ritmistas acelerarem o passo sem necessidade, já que haviam cinco minutos para o fim do desfile com tempo hábil suficiente para isso.