Penúltima escola a desfilar na noite de quinta-feira da Série Ouro do carnaval carioca, o Império da Tijuca apresentou o enredo “Samba Quilombo – A resistência pela raiz”. A agremiação exaltou o valor ancestral da sua própria comunidade do Morro da Formiga, na intenção de valorizar as memórias do povo tradicional de matriz africana.
Toda essa ancestralidade esteve presente na ala das baianas, as matriarcas do samba, que desfilaram com a fantasia “O bloco Quilombo dos Palmares”. A referência principal é o núcleo de organização negra formado no período escravista na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas, que serviu de inspiração para o surgimento do bloco com o mesmo nome, em 1975. O bloco foi semente da criação do G.R.A.N.E.S. Quilombo.
A indumentária das baianas do primeiro Império do samba reuniu bom gosto e opulência. As saias das senhoras eram feitas de tecido branco com detalhes em dourado nas pontas. Por cima da saia, uma bata preta e dourada condicionava ainda mais elegância à ala. O figurino foi inspirado nos trajes tradicionais das baianas dos anos 1970, carregando os grafismos e composições inspiradas na arte afro-brasileira.
Simone Aparecida, 54 anos, aposentada, revelou como estava o seu sentimento momentos antes de desfilar: É uma emoção muito forte porque somos negras, somos as mães do samba, negras. Então é uma representatividade maravilhosa”.
Rita Sampaio, 50 anos, diarista, disse estar muito satisfeita com o peso da sua fantasia. “Está ótima, levinha! Vai dar pra gente brincar bastante”.
Cléia Assis, 65 anos, agente dos correios, confirmou o conforto da fantasia de baianas do Império da Tijuca: “Tudo certo, não tem nada incomodando. Nós vamos brincar mesmo”.
Regina Gomes, 58 anos, dona de casa, confessou que sempre desfila no Império porque “é uma escola que a gente brinca à vontade, todo mundo respeita”.
O Império da Tijuca desfilou na madrugada desta sexta-feira no Sambódromo e contou, de forma brilhante, a história da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo. O carnavalesco Guilherme Estevão trouxe para a Avenida a agremiação criada pelo intérprete Candeia, e fez várias referências ao baluarte da Portela na apresentação. Além do destaque para o enredo, o casal de Mestre Sala e Porta Bandeira também teve ótima exibição, assim como a Comissão de Frente. Fantasias sem grande impacto visual e pequenos erros de acabamento nos carros foram os pontos negativos. A escola passou na Avenida de forma correta, sem erros de evolução, em 54 minutos de desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
Comissão de Frente
A Comissão de Frente da Império da Tijuca, coreografada por Lucas Maciel somou 14 componentes, sendo sete homens e sete mulheres. Batizados de ‘Ancestralidade e raiz’, o segmento trouxe, como diz o nome a raiz negra das escolas de samba. A Comissão de Frente também fez uma homenagem a Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, agremiação criada por Candeia para ressaltar a história preta. A dança foi dividida em três momentos: ritos africanos, cultura afro brasileira e a tradição do samba atual, com baianas e baluartes negros. A Comissão também utilizou um tripé que representou um trono, como altar para uma rainha africana, além de trazer a bandeira original da G.R.A.N.E.S Quilombo. A força e sincronia da dança, além da transformação da Rainha em uma Porta-Bandeira merece elogios. A apresentação durou cerca de 2m40s.
O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Império da Tijuca representaram alguns pilares da formação do G.R.A.N.E.S Quilombo, como a resistência e a proteção. Renan Oliveira trouxe fantasia em alusão à resistência do Quilombo, enquanto Laís Ramos representou a proteção espiritual do mesmo. O Mestre-Sala foi, no desfile, um guerreiro do quilombo dos Palmares, com referências no figurino a Ganga Zumba no filme ‘Quilombo’, de 1984. A Porta-Bandeira vestia figurino com representação ao orixá Oxum, com cores branco, ouro e amarelo, trazendo a ideia da proteção religiosa à escola e ao Quilombo. Os dois foram impecáveis em todos os módulos, mostraram entrosamento, envolvimento nos olhares e gestos, além de ótima dança.
As primeiras alas da escola, além dos segmentos e casal, cantaram demais o samba. Composições do primeiro carro alegórico também não poupou a voz. No entanto, o canto caiu de ritmo a partir da ala 15, ‘Ao Povo Em Forma de Arte’. A ala passou praticamente muda pelo segundo módulo, seguida da 16, ‘Noventa Anos de Abolição’, que também decepcionou na voz. A última ala, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’, contudo, soltou a voz e gritou o samba no final.
O Império da Tijuca começou o desfile contando a história da criação da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo e seu principal fundador, Candeia. Neste primeiro momento, a escola também abordou o Quilombo dos Palmares, o mais famoso do país, e contou também a origem dos batuques afrodescendentes que se transformam no samba como conhecemos hoje. No segundo setor, a agremiação trouxe a resistência do povo preto em suas várias vertentes, como a música, arte e religião. Na sequência, a escola focou ainda mais na música e na arte oriunda do povo preto. Por fim, a escola relembrou os carnavais da G.R.A.N.E.S Quilombo, que desfilava como um bloco, sem competição, nos bairros do subúrbio carioca, e ainda promoveu um ‘encontro’ entra a escola de Candeia e o Império da Tijuca. Com alas e carros organizados, a escola conseguiu contar a história e manter a linearidade do enredo.
Evolução
O Império da Tijuca conseguiu passar fluidez e cadência durante todo desfile. Sem correr, a escola apresentou seus quesitos em todos os módulos de forma completa. As alas passaram com bastante organização, animadas e brincando durante a apresentação, como a ala 20, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’. A bateria também não teve problemas para entrar e sair dos boxes.
Samba
O samba foi conduzido de forma magistral por Daniel Silva e tem vários momentos de ápice no canto, como o refrão e o refrão do meio. Os versos ‘Sou a poesia sem mordaça’ até ‘Heróis e heroínas da abolição’ merecem destaque. ‘Vem de Maracatu do caboclo lanceiro’ até ‘No rabo de arraia não leva rasteira’ também foi bastante cantado.
Fantasias
Logo no primeiro setor, se destacou visualmente a ala das baianas, que teve inspiração não só na G.R.A.N.E.S Quilombo, mas como nas tradicionais fantasias das matriarcas da década de 1970, que tinham figurinos com traços de arte afro brasileira, com cores em preto, branco e dourado. A ala 4, ‘Pela Identidade do Preto Brasileiro’, também se destacou na beleza, com cores da bandeira brasileira somadas ao vermelho e uma homenagem a Candeia presente no figurino. Outra ala que que mereceu elogios pelo figurino foi a 15, ‘Ao Povo em Forma de Arte’, onde a escola rememora o samba de 1977 do G.R.A.N.E.S Quilombo e faz alusão a ‘Sankofa’, símbolo de grande valia para o povo da África Ocidental. Representações tribais, pintura e o preto e branco se destacaram a ala. Apesar de não terem muito luxo e brilho, e não causaram grande impacto visual, todas as fantasias correspondiam ao proposto com enredo.
Alegorias
A primeira alegoria do Império da Tijuca, ‘Nova Escola’ trouxe as cores da G.R.A.N.E.S Quilombo, em amarelo, roxo e branco, com painéis inspirados em artistas pretos da cultura afro-brasileira, e homenageando grandes nomes da escola fundada por Candeia, como Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Nei Lopes, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Com luzes todas, o carro teve as cores ainda mais ressaltadas e abriu muito bem o desfile da escola.
O segundo carro alegórico, ‘Resistência Pela Raiz’, como o nome diz, trouxe como pilar a ideia da resistência preta, principalmente vindo das escolas de samba e da G.R.A.N.E.S Quilombo. Heróis da liberdade do povo preto foram representados na alegoria, como Zumbi, Dandara, Gangazumba e Manuel Congo. O carro, contudo, não causou o mesmo impacto visual do primeiro e teve leve defeitos de acabamento. No último setor, um quadripé chamou atenção para homenagem a escola criada por Candeia.
A terceira alegoria, ‘Sob a Proteção da Padroeira, a Resistência em Dia de Graça’, encerrou o desfila da escola com um grande encontro do G.R.A.N.E.S Quilombo com o Império da Tijuca. Ambas têm o orixá Oxum, sincretizada no Catolicismo como Nossa Senhora Aparecida, como padroeira. Por conta disso, as cores douradas e brancas no carro. A coroa superior teve o destaque ‘Bençãos da padroeira’, além de outros destaques como a ‘Resistência Imperial’ e ‘Oxum’. A Velha Guarda do Império da Tijuca desfilou neste último carro como a ‘Ancestralidade Imperial’. Assim como o segundo carro, a última alegoria também apresentou erros de acabamento, principalmente na parte traseira.
Outros Destaques
Desfilaram na escola Selma Candeia (filha de Candeia), Vera de Jesus (Neta de Clementina de Jesus), Nilcemar Nogueira (neta de Cartola) e Geisa Ketti (Filha de Zé Keti), a cantora Tereza Cristina e músico Tunico, filho de Martinho da Vila. Fundador da G.R.A.N.E.S Quilombo junto a Candeia, Rubem Confete também desfilou na escola. As atrizes negras Cinnara Lea, Karen Mota, Aline Borges, Aline Wirley, Dandara Albuquerque, Jeniffer Nascimento, Katiuscia Ribeiro, Isa Black, Juliana Alves também se apresentaram com a agremiação. Adriana Salles, a catadora que viralizou na internet sambando no ensaio técnico da escola, também veio à frente do Império da Tijuca.
O Império da Tijuca se inspirou em sua ancestralidade negra para levar à Marquês de Sapucaí o enredo intitulado “Samba Quilombo – A resistência”. A verde e branco homenageou o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, fundada pelos compositores Candeia, Neizinho, Wilson Moreira e Mestre Darcy do Jongo em 8 de dezembro de 1975.
O G.R.A.N.E.S. Quilombo surgiu como uma importante manifestação cultural contra as dinâmicas mercadológicas , políticas e de afastamento do protagonismo negro nas agremiações carnavalescas. A ideia era contribuir para a valorização da história e dos preceitos da luta, tanto do Quilombo dos Palmares, quanto das bases tradicionais do samba brasileiro.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Império da Tijuca representou na avenida do samba a resistência e a proteção espiritual do Quilombo. Juntos, Renan Oliveira e Laís Ramos simbolizaram os fundamentos e conceitos essenciais da criação do G.R.A.N.E.S. Quilombo.
Laís vestia uma luxuosa fantasia repleta de brilho e espelhos, inspirada em Oxum. “É de uma responsabilidade gigantesca, porque a gente está representando um dos maiores pilares da época do quilombo”, revelou a primeira porta-bandeira da escola.
As penas da saia de Laís eram da cor laranja, assim como a capa e as penas da cabeça de Renan, que representava a resistência dos guerreiros. “A gente está feliz demais pelo carnavalesco ter nos dado esse presente, um dos pontos altos do desfile, ter deixado sob nossa responsabilidade”, disse o primeiro mestre-sala do Império da Tijuca.
“A responsabilidade se carrega de muito trabalho, e a gente fez jus a isso, trabalhou bem pra estar vestindo esse figurino, representando tanto o Quilombo, quanto Oxum, da melhor maneira possível. A gente trabalha pra fazer a melhor apresentação possível. A nota, claro, é o que a gente almeja. Mas agradar também o público, quem paga pra assistir esse espetáculo, é um dos nossos principais objetivos”, ressaltou Renan Oliveira, momentos antes de adentrar à avenida.
A última escola a se apresentar pela Série Ouro em 2022, trouxe à Sapucaí suas baianas representando a sabedoria e os segredos das pretas mirongueiras, aquelas que guardam os saberes mágicos que são capazes de fechar os corpos e abrir caminhos. Iris Pinhares, baiana há 7 anos, em entrevista ao site, relatou a praticidade da fantasia desse ano.
“A fantasia parece que foi feita pensada para cada componente da ala, caiu como uma luva e isso é o mais importante.”
A história do capoerista apelidada de de Besouro Mangagá é um enredo que conta com muitos mistérios e mandingas. Mandingas estas que são guardadas pela sabedoria popular de mulheres que sabiam os segredos oriundos da cultura africana e foi isso que veio trazer a ala das baianas à Sapucaí.
Utilizando cores chamativas e traços de características africanas a Verde e Branca de Madureira trouxe para a personificar a sabedoria e os segredos das pretas mirongueiras a ala das baianas. Mara Cristina que desfila desde os 13 anos, contou como foi desfilar com essa fantasia.
“A fantasia está ótima, posso dizer que está ate gostosa de vestir. Nós viemos representando as mirongueiras, então as cores fortes, os traços da fantasia, encaixaram perfeitamente com o que propôs”, elogiou.
A bateria Sinfonia Imperial de mestre Jordan fez uma ótima apresentação. Uma afinação acima de média de surdos foi notada, dando sustentação e permitindo a fluência rítmica entre os diversos naipes. O balanço das terceiras adicionou valor sonoro a bateria do Império da Tijuca. O complemento das peças leves preencheu a musicalidade do ritmo com eficácia.
A ala de tamborins passou firme e coesa, acrescentando na sonoridade da cabeça da bateria. Tudo sincronizado com um naipe de chocalhos também de qualidade e precisão, além da bela ala de cuícas. As paradinhas possuem um apurado grau de dificuldade, tendo sido realizadas de modo satisfatório em todos os jurados.
A bossa que começa no final da segunda foi utilizada junta com outra que inicia no refrão principal, só terminando na primeira do samba. Isso construiu uma narrativa rítmica extensa na apresentação da bateria, evidenciando o bom ritmo da bateria do Império da Tijuca.
A bateria Swing Puro de Mestre Luygui fez uma boa apresentação. A afinação de surdos merece menção musical positiva, pois amparou um balanço dos surdos de terceira diferenciado. Tudo isso aliado a um bom trabalho dos repiques, além uma batida de caixas com volume, ressonante e demonstrando coesão rítmica.
O acompanhamento das peças leves foi correto. Um naipe de chocalhos tocando com firmeza e uma ala de tamborins com bom volume. Uma ala de agogôs acima da média foi notada, bem como um naipe consistente de cuícas. O arranjo musical envolvendo virada com os surdos deram swing ao ritmo, tanto na primeira quanto na segunda do samba, acrescentando valor sonoro a bateria da Vigário Geral.
As paradinhas uniram complexidade musical a um grau de dificuldade alto. As bossas foram realizadas de maneira correta nos módulos de jurados. O destaque musical ficou com a paradinha com solo de atabaques junto dos agogôs, produzindo uma inegável qualidade sonora.
Um desfile que começou promissor e terminou de forma caótica, assim pode ser definida a passagem da Acadêmicos de Vigário Geral, a comissão de frente emocionou e trouxe uma mensagem muito forte logo no início, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira também merece destaque, visualmente a escola cometeu alguns erros, porém, o quesito mais problemático da escola foi a evolução, devido uma grande dificuldade de locomoção do segundo carro ocasionou vários buracos ao longo da avenida. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Apresentando o enredo “Pequena África – Da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro” assinado pelos carnavalescos, Alexandre Costa, Lino Sales e Marcus do Val, a Vigário Geral foi sexta a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles da Série Ouro. A escola terminou sua apresentação com 52 minutos.
Comissão de Frente
Coreografada por Handerson Big, a comissão de frente era intitulada “Histórias Negras Importam”, foi um dos grandes destaques da escola neste desfile, os 15 componentes representavam os negros trazidos da África para o Brasil, a apresentação focou em mostrar como o Cais do Valongo foi a porta de entrada para que inúmeras histórias negras chegassem e se incorporassem a sociedade. As fantasias estavam bem acabadas, destaque para uma espécie de máscara que os integrantes usavam, durante a apresentação eles carregam uma espécie de saco, na frente dos jurados, cada componente retirada de dentro um instrumento musical, porém, o ápice acontecia no final, quando eles abriam esse saco e revelavam o rosto de crianças negras mortas em confronto nas comunidades Cariocas, a frase “Vidas Negras Importam” finalizava a apresentação, o público nas frisas e arquibancadas se emocionaram e aplaudiram com muito vigor.
Mestre-sala e Porta-bandeira
A fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkis e Thainá Teixeira, representou a relação entre o Brasil e o Continente Africano, marcada pelo comércio de escravos, a roupa de Diego tinha as cores da bandeira do Brasil, e a porta-bandeira representava a África. Apresentando uma dança de ritmo cadenciado, sincronizada e com gestos graciosos, a dupla não cometeu falhas expressivas nos módulos de julgamento, durante toda a dança, eles pareciam muito à vontade com o trabalho que estavam realizando, pode-se destacar os movimentos em referência a dança de matriz africana.
Harmonia
O samba da agremiação foi um dos grandes destaques da escola e ocasionou um canto satisfatório por parte dos componentes, o carro de som conduziu com maestria a obra e ao lado da bateria impulsionou o coro da escola, porém, devido a alguns problemas de evolução, a escola ficou parada em alguns momentos, acarretando em um certa preocupação dos integrantes das alas. No geral, a escola cantou com bastante vontade, mas sem um grande momento de explosão, como destaque pode-se citar a ala 10, que representava os filhos de santo, a ala de passistas, que sambou e esbanjou carisma por toda a avenida, a ala 18, “Onde há um negro, há uma pequena África”, também apresentou um bom desempenho harmonico.
Enredo
O enredo da escola foi apresentado de forma linear pelo carnavalescos, o primeiro setor representou a chegada dos escravos ao Rio de Janeiro, mostrando toda a saga que enfrentaram, o segundo setor retratou a ocupação deles em novos territórios, mostrou a constituição da Pequena África e finalizou no carro da celebração das religiões de matizes africanas, o último setor da escola falou sobre o legado e as instituições negras presentes na atualidade. As alegorias e as fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada, mesmo com a simplicidade, foi possível identificar a história que estava sendo contada sem dificuldade.
Evolução
A escola apresentou graves problemas de evolução ao longo do desfile, em um primeiro momento, na primeira cabine de julgamento, a bateria se apresentou e a ala da frente seguiu, porém, o momento mais crítico ocorreu em função da quebra do segundo carro no meio da avenida, desde o primeiro módulo o carro apresentou problemas para se locomover, os empurradores tiveram muita dificuldade pra fazer o carro andar, na altura do setor seis, um grande buraco se estendeu até o início do setor 10. Com certeza foi o quesito mais crítico da escola e que vai ocasionar em perdas de pontos preciosos.
Samba-Enredo
Um dos pontos altos do desfile foi o samba, de autoria de Júnior Fionda, a obra rendeu muito bem na avenida, impulsionado por uma interpretação muito boa de Tem-Tem Jr, juntamente de todo o carro de som. Foi possível observar um canto satisfatório por parte da comunidade, uma das partes de maior destaque foi o refrão principal, o início do samba, apesar de bastante melodioso, proporcionou um canto muito bonito. Foi possível observar o público nas frisas e arquibancadas cantando junto.
Alegorias e Adereços
O conjunto alegórico da escola apresentou altos e baixos, a dificuldades financeira da escola ficou evidente em alguns momentos, porém, o primeiro carro, que representava a travessia dos negros da África para o Brasil, na parte de trás do carro foi representado um casarão antigo, feito com pintura de arte. A segunda alegoria, mostrou a celebração às religiões de matriz africana, o carro teve uma grande escultura de um preto, porém, era possível observar problemas de acabamento na cabeça da escultura, esse carro ainda apresentou problemas de locomoção durante toda a avenida. O último carro fez uma crítica a situação atual dos negros no Brasil, uma comunidade foi representada, na traseira do carro algumas roupas penduradas deram um aspecto pobre ao carro.
Fantasias
O conjunto de fantasias da escola apresentou altos e baixos, algumas fantasias tinham soluções muito simples, foi observado que uma componente da segunda ala estava sem costeiro, na ala 11 algumas penas artificiais estavam com as hastes quebradas, outro problema foi observado na ala 12 uma componente estava segurando o costeiro. No último carro, alguns componentes que estavam empinando pipas estavam apenas com a camisa do enredo, o que não configura fantasia. O destaque positivo fica para a primeira ala, “Africanos”, a ala quatro, que representava um cemitério, causou impacto, a ala de baianas estava com uma fantasia muito bonita e que proporcionou uma evolução boa das matriarcas.
Outros Destaques
A bateria do Mestre Luygui representou os Filhos de Gandhi, a fantasia tinha uma leitura muito fácil e proporcionou que os 219 se apresentassem sem dificuldades, as bossas realizadas empolgaram as frisas e arquibancadas. A rainha Egili Oliveira se destacou à frente da bateria, com uma fantasia predominantemente branca, ela representou uma saudação a Oxalá.
A bateria Guerreiros de Mestre Dinho fez um bom desfile. A boa afinação de surdos foi notada, com timbre mais grave. O swing proporcionado pelos surdos de terceira contribuíram com a musicalidade da bateria da Unidos de Padre Miguel (UPM). O acompanhamento acima da média das peças leves ajudou na equalização da bateria, além de propiciar equilíbrio ao ritmo. A ala de tamborins tocou de modo coeso, alcançando uma sonoridade uníssona, além de um volume sublime, acrescentando valor musical a bateria da UPM. O naipe de chocalhos obteve uma produção sonora que auxiliou no preenchimento musical da cabeça bateria, assim como agogôs e cuícas ajudaram de forma precisa. As paradinhas possuem elevado grau de complexidade, tendo sido executadas corretamente nos módulos de julgadores.
A bossa de destaque reúne atabaques fazendo solo remetendo ao toque da Vamunha, além de executarem a batida com duas baquetas, representando o aspecto de valor sagrado envolvendo o Aguidavi, espécie de vareta de percussão para atabaques nos rituais de Candomblé. Com o valor cultural atrelado à sua musicalidade, o desempenho da bateria de Mestre Dinho ocorreu sem eventuais transtornos sonoros diante dos jurados.
A nota musical negativa fica para o som da Avenida logo após a bateria Guerreiros sair do segundo recuo, chegando a faltar retorno sonoro de dentro da pista, além de ter sido evidenciado certo atraso. Entretanto, o problema mencionado não prejudicou a bateria na exibição do último módulo, que se apresentou cantando o samba da escola e produzindo seu ritmo mesmo diante da dificuldade.