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Torcedores de Tuiuti, Vila Isabel e Mangueira comentam sobre identificação com enredos desse ano

As escolas de samba, desde suas origens, constituíram-se em importantes espaços sociais e de inclusão para uma parte significativa da população carioca, marcadamente preta, pobre e excluída. Constantemente representados na mídia como ambientes marcados pelo tráfico de drogas, pela violência e pela pobreza, os bairros cariocas, em que a maioria das escolas de samba se situam, encontram no carnaval um dos raros momentos em que podem promover o orgulho e a autoestima de seus moradores. Por isso, enredos que colocam o negro como protagonista da festa, resgata o orgulho e eleva a autoestima de seus componentes.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O Paraíso do Tuiuti abre a segunda noite de desfiles no Grupo Especial com o enredo “Ka ríba tí ÿe – Que nossos caminhos se abram”, do carnavalesco Paulo Barros. A escola vai cantar na avenida histórias de luta, sabedoria e resistência negra. Em seu último desfile com temática africana, a escola emocionou público e crítica, alcançando um inédito segundo lugar no final da apuração, para esse ano a expectativa dos torcedores é de vôos ainda maiores.

“Eu acho que o enredo do Tuiuti resgata a memória do nosso povo, resgata uma estética, politicamente é importante a gente poder construir e resgatar essas memórias que por muito tempo foram esquecidas, foram sofrendo e eu acho que enredo com essa estética, com essas escolhas, resgatam essas memórias e potencializam o nosso povo”, conta o torcedor da escola Alisson Reis, de 25 anos.

Unidos de Vila Isabel terá a missão de encerrar o carnaval carioca neste ano, a escola promete emocionar a todos com uma belíssima e justa homenagem ao seu maior baluarte, Martinho José Ferreira, ou simplesmente, Martinho da Vila. Com o enredo “Canta, Canta, Minha Gente! a Vila é de Martinho!”, do carnavalesco Edson Pereira.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“O Martinho da Vila é um ícone, ele representa a Vila Isabel, ele leva no nome como uma forma de identidade, ele já deu muitas alegrias pra gente, agora a escola tem a oportunidade de estar retribuindo tudo que ele fez por nós”, destaca Luana Machado, torcedora da Vila, de 36 anos.

A Mangueira promete honrar a história de três dos seus maiores ícones da história, com o enredo “Angenor, José e Laurindo”, do carnavalesco Leandro Vieira, a verde e rosa levará para a avenida a vida de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre sala da escola. São potências negras que marcaram época na escola e fizeram a alegria de várias gerações de apaixonados pela Mangueira.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Esse enredo é pra gente retornar às nossas origens, em 2011 viemos falando de Nelson Cavaquinho e foi um ano que a gente se reconectou com nossa história, acredito que esse ano o sentimento é o mesmo. Depois de dois anos parados, sem carnaval, vir falando de Cartola, Jamelão e Delegado é se reconectar com as origens da Mangueira”, conta a historiadora e moradora da Mangueira, Layla Silva.

Enredos desse gênero servem como importante espaço para celebrar a história e a cultura de muitos desfilantes que convivem com uma realidade marcada pelo preconceito e um contexto econômico desvantajoso, dar o protagonismo para essas pessoas é mais do que justo, é um dever.

X-9 Paulistana desfila com vontade de ‘retomar o seu lugar’, mas esbarra em problemas nos quesitos plásticos

A sexta agremiação a passar pela passarela do samba do Anhembi foi a X9-Paulistana. Com o enredo “Arapuca tupi – a reconquista de uma terra” a escola busca seu retorno ao especial após ter sido rebaixada em 2020. O destaque da agremiação foi o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Marquinhos e Lyssandra Grooters além de estarem com uma belíssima fantasia em tons vermelhos, bailavam de maneira muito entrosada, com movimentos leves e com bastante confiança. A X-9 Paulistana concluiu seu desfile no tempo regulamentar, com portões se fechando aos 54 minutos.

Comissão de frente

Coreografada por Jaime Aroxa, a comissão de frente da X-9 Paulistana apresentou uma tribo em ritual. A representação antecede a reconquista indígena no Brasil. 17 personagens faziam parte da coreografia. Sendo eles divididos em dez índios, um cacique, um pajé e um curupira. Os demais membros vestiam-se de “ganância”, “queimada” e fome. Para o figurino, a proposta foi de buscar uma aproximação fidedigna com vestimentas de grupos indígenas, mas sem deixar de lado a licença poética que o desfile de carnaval permite. Chamou a atenção durante a passagem da comissão a figura do pajé, que se assemelhava bastante a imagem do orixá da cultura africana, Omolu. O mesmo está associado a saúde e cura, assim como o pajé. Um elemento cênico também fazia parte do projeto. Intitulado de “A maloca”, servia para que o curupira surgisse de dentro e participasse da apresentação. Porém essa participação do elemento poderia ter sido repensada, já que funcionava apenas para que os personagens ficassem escondidos. Não havia um grande momento na hora do aparecimento, deixando a apresentação bem monótona. As fantasias dos componentes da comissão não possuíam um bom acabamento e algumas aparentavam estar incompletas, principalmente a do dançarino que representava o Curupira.

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Mestre-sala e porta-bandeira

Marquinhos e Lyssandra Grooters estavam representando a mensagem de Tupã. Vestidos numa fantasia em tons vermelhos, com faisões apontando para cima e para baixo. A saia da porta-bandeira era de extremo bom gosto. Raios em tons prateados estavam na sua saia e formavam também seu costeiro. Seu parceiro veio na mesma tonalidade, com uma segunda pele na parte de baixo. Vestido numa espécie de sobretudo até a coxa, o mestre conseguiu se desenvolver bem com sua dama. A maquiagem remetendo a cultura indígena e as pedrarias que compunham ambas as roupas traziam um luxo a mais para o casal que bailou com bastante categoria.

Harmonia

Via-se muita força de vontade no cantor Léo do Cavaco e sua equipe musical em cativar o chão da escola, porém não eram correspondidos. O canto da X-9 foi fraco, com componentes que não demonstravam força de vontade sequer em cantar o refrão do samba-enredo. Com isso, a harmonia da agremiação pode ser bastante prejudicada na leitura das notas.

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Enredo

Intitulado de “Arapuca tupi – a reconquista de uma terra”, o enredo foi desenvolvido pelo carnavalesco Eduardo Félix da seguinte forma: iniciou-se com “O ritual e a arapuca”. Nesse setor, os povos se reuniram para ouvir a previsão do pajé. E a partir da revelação de que é chegado o momento da reconquista, se unem a fim de salvar sua nação através dos ensinamentos. O segundo setor eram os “Ensinamentos e a purificação”. Onde a partir da vitória indígena, os ensinamentos, lições antigas e visões nativas dos tupis eram compartilhadas. A força das matas e a essência de um país bonito por natureza foram retratados no decorrer das alas. Encerrando o desfile, o setor “O despertar da humanidade” retrata o momento onde uma nova sociedade é erguida, livre das antigas tiranias. Aqui pode-se observar um tom crítico às mazelas da sociedade. Nessa nova terra, há alimento para todos, a fome não atinge ninguém e o povo de barriga cheia também se nutre de prosperidade para sua existência.

Evolução

A escola se desenvolveu bem durante metade do tempo regulamentar de seu desfile. Até o box da bateria, as alas desfilavam de maneira compacta e bem regular, sem ter que dar grandes passos para preencher buracos ou coisa parecida. Porém, quando o último carro ultrapassou o box, a evolução da escola passou a ser um pouco arrastada pois ainda havia bastante tempo para concluir seu desfile e pouca escola para terminar de passar pela passarela.

Samba-enredo

Composto por poetas renomados, entre eles André Diniz, Claudio Russo e Arlindinho, o samba não teve um bom rendimento no Anhembi. Mesmo com uma letra rica em detalhes e trechos que são pensados para que o componente tenha uma reação positiva, isso não aconteceu. Um destaque para a letra, é a mistura que os compositores fizeram para citar tupã, que está presente na cultura indígena e consequentemente no enredo, com o padroeiro da escola. Ogum.

Fantasias

A escola compensou a ausência de brilho e materiais que dão maior impacto visual com volume nos costeiros e ombreiras. A fantasia da ala das baianas, que representavam “O paraíso exuberante”, chamou atenção pela saia verde em sua totalidade e parte de cima vermelha e laranja formando as penas de uma ave. Na intenção de economizar em alguns produtos caros no mercado do carnaval, a agremiação optou por utilizar fita amarela e preta de segurança em uma das alas, dando um eveito visual bastante negativo que pode ser repensado para os próximos anos. A ala a frente dos passistas da escola possuíam costeiro em EVA cru, sem nenhum acabamento, prejudicando o quesito da escola.

Alegorias

O abre-alas da agremiação, chamado de “A arapuca e a invasão” estava em tons alaranjados, com grandes canoas nas pontas. Povos indígenas estavam compondo a parte da frente dessa alegoria. Apesar de grande, poucas coisas se destacavam nesse primeiro carro. Faltou um pouco de capricho no letreiro que vinha a frente com o nome da agremiação. Ao optar por materiais mais baratos, a escola se prejudica na qualidade do acabamento desse quesito. As peças que compunham o restante da acoplagem do abre-alas não causavam um grande impacto visual e gerava dúvida do que se tratava para quem estava assistindo.

Segundo carro, a “Purificação” predominava o verde, possuía detalhes bonitos principalmente no acabamento e na saia. Grandes faces indígenas em escultura chamavam atenção nas laterais e na parte de trás. O último carro representava “O despertar de um novo Brasil”, se destacou por trazer a velha-guarda da agremiação muito bem vestida e em cima da alegoria. As cores predominantes eram as da bandeira do Brasil, nas laterais havia uma bandeira do país com traços que remetem à cultura indígena.

A representatividade afro na comissão de frente do Império da Tijuca

Com o enredo “Samba Quilombo: a resistência pela raiz”, o Império da Tijuca entrou na avenida com direito a um dos melhores sambas da safra pela Série Ouro do carnaval de 2022. A temática afro é baseada na história do Grêmio Recreativo de Artes Negras e Samba Quilombo.

Essa escola de samba é um manifesto negro que teve como uns dos criadores o grande cantor e compositor Candeia. Pensada em função da atuação de sambistas e intelectuais negros, ela teve a sua fundação em 1975.

Sendo assim, abrindo o desfile do Império da Tijuca, a comissão de frente veio prestando uma homenagem a história do G.R.A.N.E.S Quilombo criada pelos compositores Candeia, Neizinho, Wilson Moreira e Mestre Darcy do Jongo. Valorizando as memórias ancestrais do povo tradicional de matriz africana e as entidades vivas da cultura negra.

Imperio da Tijuca04a 1Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o coreógrafo da comissão de frente Lucas Maciel explicou como foi a concepção da coreografia: “Foi uma parceria minha e do carnavalesco Guilherme Estevão. Estudamos isso por dois anos e a comissão resumiu o enredo. Falamos desde a ancestralidade da parte afro, a inspiração de Candeia para criar o quilombo até a criação da escola”

A comissão veio com um elemento cenográfico que representava a memória de Candeia e ao G.R.A.N.E.S Quilombo. Para a integrante da comissão de frente, Priscila Lima, desfilar na Sapucaí e no Império da Tijuca é muito importante, pois ela considera o enredo como algo enriquecedor, ainda mais sobre a ancestralidade.

“Foi muito gratificante estar novamente nesse templo sagrado. É importante trazer a nossa arte com enredos enriquecedores sobre a ancestralidade e temas que precisam ser cantados, verbalizados e reproduzidos em forma de arte”, conta a bailarina.

Além disso, ela também considera integrar uma comissão de frente como um desafio. Mesmo fazendo isso por 12 anos, é como se fosse algo novo. Representando “a noite”, ela revelou que sua função foi retratar a ancestralidade que é presente no enredo.

O coreógrafo, Lucas Maciel também deu detalhes da representação da comissão de frente. “A apresentação foi dividida em dois momentos: o primeiro é a parte afro e o segundo é o grande ápice, pois temos uma transformação que leva a escola de samba do quilombo para avenida. Temos baianas, porta-bandeira e a comissão de frente antiga de fraque e cartola”.

Fotos: desfile do Império Serrano no Carnaval 2022

Política Preta: Estreante como muso, Raphael Oliveira fala sobre a representatividade negra e as políticas raciais

Imperio da Tijuca03aÉ notório que os temas afros das escolas de samba estão dominando o carnaval de 2022. No Império da Tijuca não foi diferente, mas fazendo questão de enaltecer também as questões sociais e raciais. Desde de alas que falam sobre resistência e a luta do quilombo e também sobre a negra arte de fazer política preta.

Por falar em “política preta”, foi isso que o muso Raphael Oliveira veio representando na frente da ala 5. Em entrevista ao site CARNAVALESCO ele falou o que a fantasia simboliza: “É a política preta, pois é algo muito forte e presente no quilombo. É um super orgulho e de tremenda responsabilidade estar aqui e representar isso é muito importante”.

Políticas raciais é algo que deveria ser debatido constantemente e ter mais visibilidade. É importante a representação na luta e discussão do papel do negro na construção do Brasil e Raphael fez isso evidenciando o Quilombo.

Para Raphael, é de extrema necessidade as políticas raciais estarem em alta nos debates. Ele evidencia isso ao falar que é necessário fazer algumas reparações nos principais temas:

“Temos a política de cotas que conseguiu fazer com que a gente tenha um número grande de pessoas pretas que ingressaram na universidade. Entretanto, ao mesmo tempo, temos uma evasão enorme, o que se torna pouco por causa do gap histórico”, relata.

Ele também considera esse enredo da escola, o “Samba Quilombo: a resistência pela raiz” de muita importância. “Esse enredo é muito importante, pois fala da relevância do negro. O carnaval é um momento que o povo preto têm muita visibilidade, porque o mundo inteiro para pra ver a gente”, diz. O muso também completa o quão grandioso é ter esse tema em relevância: “E é de uma grandiosidade absurda e é super relevante termos temas como este, já que isso aqui é muito mais que entretenimento. Carnaval é algo sério e sempre vou dizer isso”.

Vigário Geral apresentou as celebrações Africanas com os principais Orixás

Vigario04aA Acadêmicos de Vigário Gerl, sexta escola a entrar na Sapucaí em mais uma noite de desfile, apresentou o enredo Pequena África – da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro. O enredo contou a história da região que ficou conhecida como a “Pequena África”, além de enaltecer a população, valores urbanos e artísticos. O segundo carro representou a celebração às religiões de Matrizes Africana.

Nele, é retratado o Exu abrindo os caminhos para mostrar o legado que a região da Pequena África produziu para os negros: a essência africana. Um local onde os negros pudessem praticar a fé e a crença de origem, cultuando divindades do panteão africana e evocar toda sua ancestralidade. A alegoria traz à frente uma representação do Orixá Exu como o Senhor dos caminhos e de Oxalá em escultura principal. A escultura ainda traz imagens dos principais Orixás: Xangô, Omolu, Ogum, Oxossi, Iemanjá, Oxum, Iansã.

Para a secretária Letícia Antonelli, 37 anos, a oportunidade de desfilar pela escola é um presente. E a vivência na religião de matriz africana, reforçou ainda mais esse laço de amor e cultura. “Sou umbandista e esse carro representa muita coisa na minha história. Sinto um orgulho! É a minha primeira vez desfilando e tenho a oportunidade de realizar esse sonho. Esse carro vem representando todos os Orixás. Isso é um sincretismo entre o candomblé e a umbanda”, ressaltou Letícia Antonelli.

Quem também concorda com essa opinião é a estudante Juliene Vitória, 20, que é católica e defende a liberdade religiosa na sociedade. “Esse enredo é muito importante. Nós aprendemos a ter o respeito com a religião. Estou feliz com a Vigário e esse ano a escola vem com muita força. Esse é o meu primeiro ano e estou muito feliz de poder desfilar em um carro que representa pontos importantes sobre o enredo, além de reforçar a identidade cultural. Mesmo sendo católica ou de outra religião, devemos respeitar a todos. Acredito que a Vigário vai reforçar o respeito às diferenças”, finaliza Juliene.

Matheus Machado enaltece Leandro Vieira em desfile do Império Serrano: ‘Roupa excelente’

desfile imperio serranoi 2022 012O primeiro casal do Império Serrano Matheus Machado e Verônica Lima trouxeram à Sapucaí uma fantasia toda trabalhada em branco para retratar Exu Lalu. O mestre-sala, em entrevista ao site CARNAVALESCO, detalhou a fantasia.

A entidade é quem faz a ponte como mensageiro e é considerado o responsável pela entrega das oferendas destinadas ao orixá do branco com contornos claramente africanizados. Matheus Machado, em entrevista ao site carnavalesco, detalhou a fantasia.

“A gente veio representando o Exu Lalu que é uma qualidade de Exu de Oxalá, é uma entidade que veste branco que vem com seis cabaças aqui na cintura. O Leandro fez um desenho excelente, o João Vitor que fez nossa roupa, entregou tudo que o Leandro pediu, a roupa tá excelente”, detalhou.

Após dois anos sem carnaval, a Verde e Branca de Madureira pôde comemorar bravamente a volta dos desfiles na Marquês. Verônica Lima conta, em entrevista ao site carnavalesco, qual era a expectativa para essa volta.

“É uma emoção muito grande poder pisar na Sapucaí de novo, depois de dois anos sem carnaval, poder desfilar foi emocionante demais, poder estar aqui, estar vivo, ser grato, ser honrado em representar esse orixá”, comentou.

Patrick Carvalho celebra grande desfile se derrete: ‘O povo da Serrinha é apaixonado por essa escola’

desfile imperio serranoi 2022 003Para o carnaval de 2020, após os problemas apresentados no último carnaval antes da pandemia, o Império Serrano, sob nova direção, deu uma repaginada nos seus segmentos. Com o enredo “Mangagá”, que aborda a vida de Besouro, a escola de Serrinha apostou no consagrado coreógrafo Patrick Carvalho, que também é responsável pelo quesito no Salgueiro, para comandar a Comissão de Frente.

Em entrevista ao Site Carnavalesco, Patrick se mostrou encantado pelo Império Serrano, o qual chamou de “baita escola”. Além disso, o coreógrafo também enalteceu a comunidade do Menino de 47.

“O Império é uma baita escola de Samba. Eu já sinto a energia antes de entrar, o povo da Serrinha é apaixonado por essa escola. Foi uma responsabilidade muito grande montar uma comissão de frente para essa escola, que ano passado teve tantos problemas, mas esse ano vem com tudo para ganhar o carnaval.”

No projeto montado para este ano, representando “Besouro e Império da Patente de Ogum”, o Império Serrano traz componentes vestidos com uma bela roupa brilhosa prateada e outros, bastante carregados na maquiagem, com roupas brancas. A escola também utiliza um elemento coreográfico, montado com materiais que remetem à palha.

Segundo o coreógrafo Patrick, o processo criativo da comissão se deu de maneira muito rápida, após um papo com o carnavalesco Leandro Vieira.

“Todo o processo de criação dessa comissão aconteceu em dez minutos com o Leandro Vieira. Eu falei tudo que eu queria, ele também falou tudo que queria e a gente fez essa comissão de frente.”

Por falar no carnavalesco Leandro Vieira, que também é responsável pelo carnaval da Estação Primeira de Mangueira, Patrick Carvalho afirmou ter tido ansiedade de trabalhar com o carnavalesco, que ele considera uma “teta de arte”.

“Eu estava muito ansioso para trabalhar com Leandro e como a gente estava na pandemia, eu falava pra a gente se encontrar e o Leandro falava ‘Agora não, depois’ e eu falava pra ele que não era possível que agora que vou trabalhar junto dele, não vou mamar nessa teta de arte? Pelo amor de Deus, eu preciso aprender contigo. Aí, a partir disso, a gente trocou uma ideia e nasceu a comissão de frente do Império Serrano”, disse.

Senhoras da sabedoria do Império Serrano, velha-guarda acredita no título da escola da Serrinha

Imperio Serrano02cÚltima escola a desfilar na segunda noite de desfiles da Série Ouro, o Império Serrano, com o enredo “Mangagá”, encantou o público presente na Marquês de Sapucaí. A tradicional Velha-Guarda da escola, representando os griôs, brilhou em um bonito terno estampado nas cores do pavilhão.

Na África, os griôs são as figuras responsáveis por guardar, preservar e transmitir, através da oralidade, histórias, canções e mitos de seu povo. Nas escolas de samba, esse papel fica por conta das velhas-guardas. Até por isso, o Império Serrano deu esse papel à sua ala “de cabelos brancos”, como eles mesmo se chamam.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, integrantes da ala falaram sobre a ansiedade e expectativa para o desfile da escola e o possível título. Apesar de confiantes, demonstraram muitos pés no chão e crença no bom trabalho feito pela escola. É o caso da faxineira Janeta Nascimento, que afirma ter gostado do desfile da coirmã União da Ilha.

“Eu acho que, pelo o que eu vi aqui, dá para o Império ganhar, não sei. A Ilha ontem passou bem, a gente tem que fazer melhor do que a Ilha. Desfilei ontem e hoje e acho que a Ilha passou linda. A campeã de ontem foi a Ilha e hoje, não sei. Espero que ganhe o Império. Se der tudo certo, a gente consegue. A expectativa é enorme, estamos todos ansiosos, mas a gente vem pra brigar e vamos ser campeões, se Deus quiser.”, afirmou.

Imperio Serrano02aJá a cuidadora de idosos Maria de Lourdes, apesar de também respeitar as coirmãs, acredita muito no trabalho feito pela escola, na busca pelo retorno ao Grupo Especial.

Respeitando as coirmãs porque todo mundo quer chegar ao primeiro lugar, nós vamos fazer a nossa parte para chegar ao título. Acho que dá para brigar pelo título, o acabamento tá perfeito, os carros também, os componentes estão com garra, agora os jurados que vão dar o veredito final. Temos que ter muito controle na ansiedade porque nós estamos vindo de uma temporada sem carnaval e agora voltando, estamos com muito expectativa.

Há 40 anos desfilando pelo Império Serrano, escola da comunidade em que nasceu, o taxista Edinho, além de afirmar acreditar no título da escola, se declarou ao Menino de 47 e o chamou de “minha vida”. Além disso, versou sobre a troca de comando da escola.

Imperio Serrano02b“É difícil até de falar, eu tenho quarenta anos desfilando, o Império faz parte da minha vida. A vida me fez Império e eu fiz do Império minha vida. Sou nascido e criado na Serrinha. A gente desfila pelo coração e hoje, estou vendo a escola com uma estrutura melhor, a diretoria é totalmente diferente da anterior e vamos ver na Avenida. Ver a escola bonita assim é lindo, há muito tempo que a gente não vê. Vamos vir com muita garra, emoção e muita evolução. Esse é o Império Serrano, de 82, 83, da década de 80 pra 90. Depois, devido a algumas administrações da escola, teve aquela queda. Todo mundo fala que a escola não tem dinheiro, tem dívida e todo mundo quer ser presidente. Hoje, você vê a escola, eles assumiram no meio de uma pandemia e olha como está. É muita satisfação. Império Serrano é coração.”, concluiu.

Simone Monigo, rainha de Vigário Geral: “Voltamos e podemos celebrar a festa Diáspora, a festa dos nossos ancestrais”

Vigario03aCom o enredo Pequena África – da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro, a Acadêmicos de Vigário Geral contou a história da região que ficou conhecida como a “Pequena África”, além de enaltecer a população, os valores urbanos e artísticos ao pertencimento histórico-cultural da cidade carioca. A rainha da escola Simone Monigo representou o “Malungo”, ou seja, os laços de amizade formados entre os escravos durante a travessia.

A rainha da azul e branco conversou com o Site CARNAVALESCO e explicou a relação da sua alegoria com os povos africanos, o que ressalta a importância de conhecer a história. “A minha roupa foi criada para mostrar a celebração que a Vigário Geral vai apresentar. Ela se chama a Pequena África, porque o Rio de Janeiro, na região do Cais do Valongo, um lugar de desembarque dos negros escravizados. E o Rio mantém essa espiritualidade até hoje”, destacou Simone Monigo.

Após dois anos longe do solo sagrado, o retorno foi marcado pela emoção e o sentimento de vitória. “Me sinto muito feliz! É um momento de felicidade e liberdade. Voltamos e hoje podemos celebrar a festa Diáspora, a festa dos nossos ancestrais. Além de ser advogada, sou artista, porque o samba é a minha vida. Amo o que eu faço aqui na avenida e a cultura brasileira faz parte do meu dia a dia, não vivo sem o carnaval”, declarou Simone.

Com apenas dois anos de desfile pela comunidade, Simone, revelou se sentir em casa com o apoio e carinho da família de sambistas. “A comunidade é muito carinhosa, abraça as pessoas que desejam conhecer as quadras cariocas e o carnaval. A escola honra a presença da Pequena África, quero representar a Vigário Geral porque ela valoriza esse tema”, concluiu Simone.