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Ensaio da Grande Rio mostra excelência nos quesitos, com forte canto da comunidade e casal bastante inspirado

Por Lucas Santos, Luan Costa, Maria Clara Marcelo, Raphael Lacerda, Rafael Soares e fotos de Allan Duffes

Como tem sido nos ensaios de rua na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, em Duque de Caxias, a Grande Rio mostrou um conjunto muito forte de quesitos, fruto de um trabalho que vem desde a renovação realizada na agremiação nos anos de 2019 e 2020 na equipe e sua manutenção nos anos seguintes. Desde cedo, na Marquês de Sapucaí muita gente vestia estampa de onça, temática do enredo, mostrando por parte da torcida que as garras estão afiadas para buscar um bicampeonato. E como tem sido ao longo desses meses de preparação, a comunidade tem ignorado as críticas de que a obra tenha partes difíceis e está mostrando muita força no canto do samba em sua totalidade. E, quem, também, vinha sendo destaque e mais uma vez brindou o público com uma apresentação muito correta, bonita e inserida no contexto do enredo, foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto.

Outros pontos fortes se repetiram, como o bom entrosamento entre mestre Fafá e Evandro Malandro. O único ponto negativo foi uma receptividade morna por parte da arquibancada que não se viu nas outras escolas da noite, pois fora da torcida o samba não causou grande interesse. Mas, na comunidade, que é o mais importante, a escola mostrou, junto com os demais quesitos, que está muito forte para tentar ganhar o caneco pela segunda vez. No geral, um ensaio para consolidar a força dos quesitos de Caxias.

“Bom, eu fico dentro do ensaio, o que eu vi, eu gostei bastante, muito mesmo, vamos analisar vídeo, eu botei um pessoal pra filmar alguns pontos aí e tem essa semana pra analisar e se for o caso até chamar a comunidade pra bater o papo. Mas acho que não vai ser necessário porque eu saio muito satisfeito. Eu vejo a comunidade feliz, comunidade comprou a ideia, nosso destino é ser onça, é o enredo de guerra é um enredo beligerante, é o espírito que a história tem que trazer, espírito aguerrido. O ano passado era comemoração, era levantar copo, era uma coisa mais leve. Esse ano, o personagem exige isso. Acho que a gente tentou esses meses todos passar pra escola essa filosofia e eu acho que está dando certo”, explicou Thiago Monteiro, diretor de carnaval, que também falou sobre a possível dificuldade na segunda parte do samba.

“Eu sempre falo que pra gente essa parte é fácil, porque a gente sabe o intérprete que a gente tem, a gente sabe o material humano de comunidade que nós temos e como ela é trabalhada não só pelo Thiago, mas é trabalhada pela harmonia, trabalhada pelo carro de som, é trabalhada pela bateria, pela diretoria da escola e a comunidade que tá junto há muito tempo consegue corresponder. Se para os outros é difícil, pra gente é fácil, ninguém é doido de escolher um samba achando que vai ser um tiro no pé, ninguém vai escolher um samba suicida, fizemos uma escolha consciente que chegaria nesse momento”.

Comissão de frente

Trajados com um roupa que imitava a pele de onça, acompanhada de um colete verde com folhas e algumas marcas mais indígenas, os bailarinos comandados pelo casal Hélio e Beth Bejani usaram duas passadas do samba para realizar as suas apresentações nos módulos de julgamento. Os componentes utilizavam duas flechas em cada mão que produziam um interesse efeito quando unidas as demais. Quando unidos, os componentes, através daquele colete, quase imitavam a vegetação. Em diversos momentos apresentavam os trejeitos da onça, no deslocamento e na caracterização facial.Um dos bailarinos, que possuía uma ligeira diferença na vestimenta, com a estampa de pele de onça mais a mostra, se destacava representando a onça do mito Tupinambá em meio a floresta representada pelos demais integrantes.

A exibição utilizou o jogo de luzes cênicas da Sapucaí e no final da apresentação, outros componentes que seguravam uma espécie de tambores que soltavam faíscas. Tudo correu bem no geral, a não ser uma das faíscas que falhou a segunda cabine de julgamento. Outro ponto a ser elogiado foi a atenção dada à coreografia de deslocamento que era muito bonita. Os bailarinos, em alguns momentos, formavam um corredor para a passagem da onça e pelos componentes que levavam os tambores.

“Tem algumas diferenças (para o desfile) e elementos a mais, como os carros alegóricos. Com isso, a gente deve fazer um pouquinho menos de samba do que foi feito hoje. Saímos com um tempo bom – aos 37 minutos. Acredito que estamos bem e tivemos um ensaio proveitoso e positivo. Podem esperar todo o nosso empenho. É um trabalho grandioso e um grande delírio, como é a proposta da cosmovisão dos tupinambás em relação à criação do mundo. Viremos ‘linkados’ com o abre-alas – como sempre é a nossa característica de trabalho -, e entregando o nosso melhor. Nós não trabalhamos para ser os melhores, apenas fazemos o nosso melhor sempre. O resto é consequência. Ainda falta uma semana – é bastante tempo – e ainda há ajustes para fazer. Mas o que foi proposto para hoje, aconteceu. É um primeiro impacto com a Avenida lotada”, analisou o coreógrafo Hélio Bejani.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Mantendo o nível muito alto dos ensaios de rua, o casal Daniel Werneck e Taciana Couto veio vestido nas cores da escola com o verde em um tom diferente, fizeram uma apresentação que não fugiu às características do casal, mas que mostrou um entrosamento ainda maior, com uma singeleza e delicadeza em alguns movimentos, mas também, com aquilo que dominam muito bem, nos gestos mais coreografados como os passos do “Kio, Kio, Kio, kio, Kiera…” em que com muito sincronismos, apresentam movimentos que remetem ao indígena, ao místico.

A intensidade da dança, mais uma vez, esteve bem adequada ao samba, ao estilo dos dois, e com aquilo que hoje o julgador pede. A dupla entrou em sua apresentação, no “trovejou , escureceu”, quando as luzes da Sapucaí diminuem, iniciando os movimentos quando a luz volta para o máximo do branco. Não se observou nenhum movimento brusco ou que pudesse sugerir alguma quebra de equilíbrio da dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira.

“Se a gente fosse avaliar, daríamos 10, porque a gente sempre quer o melhor para gente mesmo. Mas lógico que existem coisas para serem corrigidas, a gente fez um pedacinho da coreografia, já deu para sentir, vamos fazer algumas modificações, mas nada que seja tão exorbitante que atrapalhe o nosso desenvolvimento aqui. Nossa fantasia está impactante. Vem combinando com o primeiro setor que é uma pura magia”, disse o mestre-sala.

“A gente conseguiu cumprir com o que foi proposto, com o que a gente planejou até aqui. A gente mostrou um pouco do que a gente vai trazer para a Avenida e agora essa semaninha até o dia do desfile é ajustar, corrigir e trabalhar para trazer a nota máxima para a escola. Uma fantasia linda, acho que uma das mais bonitas que a gente vestiu até agora”, completou a porta-bandeira.

Harmonia

A Grande Rio contou mais uma vez com uma presença muito forte da comunidade. Os componentes sustentaram o canto durante todo o tempo, mantiveram a intensidade, puxando a obra sem correria, em um andamento agradável que facilitou com que os desfilantes mantivessem o nível. Ainda que a resposta do público não tenha sido tão forte quanto ao samba, a comunidade não se importou e na pista foi muito quente o desfile. O carro de som, como falado, apostou em um andamento cadenciado, sem correria, mas nem um pouco arrastado. Este andamento facilitou o trabalho para os componentes, e fez com que o samba fosse mais perceptível, nas letras, na melodia, e até as cordas tiveram seu destaque, participando inclusive na bossa de mestre Fafá.

“Achei maravilhoso o desempenho da comunidade, do samba-enredo, da bateria, o carro de som, graças a Deus, irretocável. Muito bem afinado, muito obrigado ao meu professor, Pedro Lima. Estou muito feliz com o rendimento da bateria. Foi maravilhoso, a gente conseguiu trazer tudo o que a gente bem mostrou em Caxias. Eu acho que é manter o bom rendimento que a gente fez em Caxias e o bom rendimento que teve aqui. Mas aí, vocês de casa, os internautas, que vão falar melhor, pois vocês assistiram, a gente desfilou. E nós fomos tentando mostrar o máximo. Espero em Deus e nos orixás que a gente consiga mostrar. É maravilhoso o entrosamento do carro de som e da bateria. Como eu sempre digo, o Fafá é muito musical. É muito fácil a conversa com ele sobre o samba-enredo, sobre os arranjos. Tanto os arranjos musicais do samba enredo, quanto da bateria, então é muito fácil trabalhar com ele. Eu fico muito feliz em ter essa família chamada Grande Rio, me abraçando e eu abraçando todos”, comentou o intérprete Evandro Malandro.

Evolução

A Grande Rio apresentou uma evolução com bastante fluidez, ainda que a comissão de frente tenha se apresentado utilizando duas passagens do tempo. Com 1h09 de desfile, a Grande Rio em nenhum momento correu, e ficou muito tempo parada. Algumas alas apresentaram coreografia, mas no geral a escola atravessou a Sapucaí de forma muito espontânea. As alas vieram volumosas, com um bom contingente de componentes e não se observou buracos pela via de desfile. O único ponto negativo foi na lateral das alas em que havia um excesso de pessoas com a camisa da escola que estava em alguns momentos gerando um incômodo aos componentes pelo espaço que ocupavam na pista.

Samba-enredo

O samba teve um bom rendimento pela escola que tem mostrado desde os ensaios de rua em Caxias que conseguiu absorver bem a letra e a melodia. Até o ponto de maior dificuldade, no começo da segunda do samba “Yawalapiti, Pankararu, Apinajé
O ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá/ No tempo que pinta a pedra, pajelança encantada /Onça-loba coroada na memória popular” passa claramente sem problemas pela boca do componente. Um dos trechos que mais chama atenção é também na segunda do samba, o “Kio Kio Kio Kiera”, que representa um momento da obra que sugere uma parte mais mística, mais fora do contexto que a melodia vem apresentando, mas ainda assim pertinente ao enredo. A interação com o público nas arquibancadas, como citado acima, realmente foi mais fria, não teve uma grande recepção como as outras escolas da noite, mas, importante enfatizar que não comunidade ele está completamente dominado.

Outros destaques

O intérprete Evandro Malandro cantou o samba vencedor de 2022, “Fala Majeté” e mexeu com o público logo após a tradicional lavagem do sambódromo. Já durante o desfile com o samba de 2024, nos momentos em que se cantava “Trovejou, escureceu”, as luzes cênicas da Sapucaí diminuem até se apagar por alguns segundos e retomando logo em seguida. Este jogo de luz também marcava o início das apresentações da comissão e casal nos módulos após uma rápida penumbra trazia paradas exibições um tom de suspense.

Muitos dos componentes que participaram do ensaio da Grande Rio usavam ou máscara ou maquiagem de onça, em outro setor havia muitos que carregavam algum traço indígena no rosto. Bastões de luz, guarda-chuvas como do frevo, leques, eram alguns dos itens que a comunidade de Caxias levavam na mão. O adereço de mão, inclusive, nos últimos desfiles tem marcado presença em larga escala. No trecho do samba “no sertão” , a bateria comandada por mestre Fafá fez uma bossa de xaxado muito bem acompanhada pelo violão de sete cordas, evidenciando pela disciplina musical da Grande Rio. Fafá também chamou atenção pelos gestos de comando com as mãos que apresentou aos jurados nas apresentações nos módulos. A rainha Paolla Oliveira trajava uma fantasia prateada com asas de anjo no costeiro. A bela mostrou o samba no pé de sempre e foi muito tietada pelo público. Outra que também chamou a atenção, foi a musa Deolane Bezerra com uma fantasia toda preta com traços de onça no chapéu, além de estampa e cauda do felino.

“Tudo o que foi proposto, foi feito na avenida. A bateria teve um rendimento perfeito pelo carinho que recebemos do público e tudo que aconteceu, acredito que mostramos a que viemos. Trabalhamos muito, tivemos um ano difícil e perdemos um grande amigo; um cara que era a energia dessa bateria, mas infelizmente veio a falecer, o nosso querido Vancleiton. O nosso ensaio de hoje foi para ele. Tenho a certeza de que, lá de cima, ele estava olhando pela gente. Eu espero que, no desfile, a nossa bateria repita esse desempenho. Que seja incrível! A Grande Rio está preparando algo mágico e eu tenho a certeza de que vamos brigar pelo título. Serão 260 ritmistas. Eu não tenho nada a pedir a eles. Eu só tenho a agradecer tudo o que eles fazem. Todo o esforço, todo o carinho. Ontem (sexta, 03/02), entregamos todas as fantasias. Então, só tenho a agradecer tudo o que eles fazem e nos proporcionam. Só peço uma coisa: que venham com a mesma garra, com a mesma educação e com a mesma precisão, para que a gente consiga obter os 40 pontos. Eu sou muito chato. Sou muito perfeccionista, mas hoje a bateria merece parabéns. Ali na frente, onde eu estava, foi tudo perfeito. Eu espero que todo mundo tenha gostado também. Nossa fantasia é extremamente leve, pensada em todos os detalhes para o ritmista”, garantiu mestre Fafá.

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