Após a escolha de samba que chegou a surpreender muita gente do mundo do carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis só pensa agora em tirar o máximo da obra que foi desenvolvida pela parceria de Kirraizinho e Cia, compositores criados na comunidade nilopolitana. Os outros poetas que compõem o time responsável pela composição que vai embalar o carnaval da Deusa da Passarela são Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério, com as participações especiais de Chacal do Sax, Ramon Quintanilha e Naldinho. Na gravação da Liesa realizada na Cidade das Artes, o intérprete Neguinho falou sobre a música escolhida e o potencial que ele acredita que a obra tem para brilhar na Sapucaí.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

“Esse é o samba que o povo escolheu, a Beija-Flor deixou a escola a vontade. Foi o samba do povo, do pé no chão, do pé rapado, sabe? É o samba do povo preto. Esse o povo escolheu, a comunidade escolheu. Foram as baianas, a comissão de carnaval, a bateria, o mestre-sala e a porta-bandeira, foi o povo que escolheu. Nós escolhemos, eu também estava nesta parada. Esse samba vai acontecer na Avenida, eu mudo meu nome se não acontecer. O samba da Beija-Flor vai dar o que falar, se Deus quiser será nota 10. Quando o jurado ver toda a arquibancada e a força que a escola vai vir cantando esse samba, não tem menos de 10”, garante o cantor.

Também presente nas gravações oficiais da Liesa na Barra da Tijuca, o diretor de carnaval da Azul e Branca de Nilópolis, Dudu Azevedo, foi outro a enfatizar a identidade nilopolitana, que na opinião do dirigente, a obra escolhida traz.

“Em termos de harmonia musical, para mim, foi um dos melhores sambas que a gente já gravou, tem muita identidade nossa. Quem fez tudo é o Allan( Vinícius, departamento musical) que é nascido e criado dentro da escola. O Betinho (cavaco) que o Neguinho fala que não entra na Avenida sem aquela palhetada do Netinho. Está tudo muito dentro do que é a nossa essência. Está todo mundo muito feliz. Foi um trabalho muito coletivo. Claro que o Neguinho e o Rodney sempre fazem um trabalho excelente e isso ajuda” definiu Dudu.

Em 2024, a Beija-Flor vai ser a segunda escola a desfilar no domingo, horário inédito na história da agremiação. Sobre a posição de desfile, Neguinho admite que inicialmente a ordem assustou um pouco a diretoria e os segmentos, por ser uma colocação que usualmente não tem levado a grandes resultados, mas o cantor garantiu que a agremiação já entendeu como reverter a situação e o próprio artista encontrou perspectivas positivas para a situação.

“Apesar de ter essa coisa do dia e da hora que a escola desfila, para a Beija-Flor isso vai passar batido. Nós somos a segunda escola de domingo e você vai ver o bicho que vai dar. Nós nunca desfilamos nesta posição, eu vou fazer 50 anos de desfile. A princípio ficamos assustados, mas o povo vai estar todo na Marquês de Sapucaí, porque é a segunda escola, ali por volta de 23 horas, o povo vai estar com a cabeça fresquinha, prestando a atenção na letra do samba e vai ser o desfile em que a Beija-Flor vai ser mais vista em todo o Brasil, porque vai estar todo mundo acordado ainda. Segura que vem coisa boa por aí “, promete Neguinho.

Bateria projeta trabalho valorizando a melodia

A quarta colocada do carnaval 2023 levará para a avenida o enredo “Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. O tema está sendo desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que estreia na Deusa da Passarela e volta a propor delírio em um desfile. O desfile irá explorar a cultura popular da capital alagoana e terá como ponto central a história de Benedito dos Santos, um homem analfabeto, que ganhava a vida como engraxate, mas que se tornou um famoso folião soberano. Dividindo o comando da bateria Soberana, mestre Rodney e mestre Plínio, estavam bastante plenos na gravação da faixa e demonstravam bastante tranquilidade enquanto os ritmistas exalavam precisão e uma afinação de excelência dos instrumentos. A parte musical e de bossas também vai trazer um pouquinho da região em que se passa o enredo. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Rodney explicou que procurou focar em prestigiar a melodia, que para o mestre é o grande destaque da obra que a Beija-Flor levará para a Sapucaí.

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“A gente deu uma passada no que planejamos para a gravação alguns dias antes, e antes de vir no próprio dia. A bateria está bem preparada, o samba é muito rico em melodia, e deu para explorar bem esse lance cultural de Maceió, acho que a galera vai gostar do que vai ouvir e ver. O samba nos permite muitas variações de convenções e a gente, mesmo com pouco tempo de preparação, acho que soubemos explorar. Quando chegar nas plataformas digitais vocês verão que é de muito bom gosto. Acho que acertaram na organização e o trabalho da produção está de parabéns”, elogia o mestre.

Desde 2017, gabaritando pelo menos os 30 pontos na apuração, observando os descartes, a bateria Soberana segue em intenso trabalho para manter a excelência nas notas. No geral, Rodney avaliou o processo desenvolvido para a gravação como eficiente. O comandante da bateria Soberana projeta não só um grande rendimento dos ritmistas no desfile, mas espera uma escola brigando por grandes objetivos.

“A gente vai apresentar algumas surpresas que a gente não vai revelar agora, mas é um samba muito alegre, para se brincar carnaval como antigamente. A gente não para, gravamos a faixa e terminamos esse processo todo que nós começamos em agosto, terminado em outubro, foi satisfatório, temos um grande samba, um grande arranjo, teremos um grande desfile e seremos campeões. Vamos fazer o de sempre, muito trabalho, muita dedicação, a bateria sempre muito bem equilibrada, os arranjos específicos aproveitando o ponto alto que é a melodia, um samba muito rico, pode ter certeza que faremos um grande desfile”, assegura o profissional.

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Com o samba escolhido e agora gravado, a escola vai direcionar o foco para o desfile. Durante a disputa de samba-enredo, em mais um ano, a agremiação decidiu gravar as 10 melhores obras já na voz de Neguinho. O que facilitou os arranjos para a quadra e a própria avaliação da Beija-Flor durante o certame. Com a música escolhida, tão logo o desafio para os profissionais musicais da escola era não seguir o óbvio do que havia sido feito para o concurso e traçar novos rumos para a gravação oficial da Liesa. Para o diretor de carnaval, Dudu Azevedo, o departamento musical foi muito feliz naquilo que projetou para as gravações na Cidade das Artes.

“Escolhemos o samba em uma quinta e na sexta-feira a noite o mestre Rodney já estava na quadra ensaiando. O ensaio se repetiu nos outros dias e foi uma semana inteira ensaiando. O mais legal de tudo é o trabalho coletivo da minha galera do departamento musical, Betinho(Santos, cavaco), Jonathan(Calim, cavaco), Alan(Vinicius, violão de sete), e Júlio (Assis), se reuniram em casa, fizeram o churrasquinho, trouxeram para a gente o trabalho, o Rodney bolou uma introdução e quando todo mundo sentou, cada um se dedicando para fazer o melhor, a gente juntou todas as ideias e saiu uma grande introdução para o samba”, conta o diretor.

Participação da comunidade nas eliminatórias é trunfo na preparação de canto

“Aqui é Beija-flor doa a quem doer/ Do gênio sonhador a gana de vencer”, versos fortes que com certeza vão convocar a comunidade nesta parte a cantar com toda a energia. A pretensão da diretoria é que o nilopolitano cante dessa forma, não só essa parte, mas todo o samba, e em todo o desfile. A diretora geral de harmonia da Beija-Flor, Simone Santana, ressaltou o fato de o samba já estar na ponta da língua da comunidade desde as eliminatórias.

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“O nosso trabalho começou logo após a gravação, mas a comunidade toda participou dessa escolha de samba e foi uma obra que toda a comunidade queria. Acho que está na boca da nossa comunidade e todo mundo sabe cantar o samba, até o carnaval vamos trabalhar com o canto, com a evolução e com muita empolgação e com a força para trazer esse título para Nilópolis. Fizemos ensaios, a gente tem essa preparação para vir gravar e para e para levar para o desfile tudo aquilo que a gente ensaiou e vamos ensaiar mais ainda”, promete a diretora.

E a escola está a todo vapor projetando passar bem na Avenida e superar todo o estigma que carrega a ordem de apresentação e o dia. Quem está muito feliz são os compositores da obra, pois, para vários, foi a primeira vitória na escola e aconteceu em um disputa bastante acirrada contra parcerias multicampeões. Presentes na Cidade das Artes, vendo a gravação com pegada de ao vivo e toda a produção do vídeo, foi um momento até mesmo da “ficha cair” mais uma vez para os poetas.

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“A gente está muito feliz de gravar aqui hoje, ver essa gravação toda ao vivo dá um estímulo, uma energia bem maior para a gente do que a tradicional em estúdio. Ganhar um samba na Beija-Flor é indiscutivelmente a melhor coisa dos mundos, ainda mais para a gente que é escola, o forte do nosso samba é o refrão, de fato é um refrão que mexe com a escola, que mexe com a comunidade, que mexe com a gente compositor, o grande ponto auge da nossa obra, e tenho certeza que vai sacudir a Avenida”, espera o compositor Kirraizinho, que encabeça a parceira.

A Deusa da Passarela será a segunda agremiação a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí no domingo, dia 11 de fevereiro, pelo Grupo Especial.