Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos do Viradouro foi a última escola a passar pela avenida na segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A vermelha e branca de Niterói correspondeu às expectativas do público e encerrou o carnaval de maneira avassaladora, se credenciando ao título na quarta-feira de cinzas. De ponta a ponta foi uma desfile com todas as características de campeão, os nove quesito foram defendidos com brilhantismo por toda a escola, desde a comissão de frente, que mais uma vez se destacou, até a comunidade que entrou na avenida disposta a guerrear e teve um canto impressionante, acima de tudo, a garra de cada desfilante merece todos os elogios. O apuro estético foi outro ponto de destaque, o conjunto de fantasias e alegorias mostrou todo o talento de Tarcísio Zanon. Assim a estética, a Viradouro também passou pela avenida com um belíssimo trabalho harmônico, a bateria de mestre Ciça levantou o público e o intérprete Wander Pires retornou para agremiação em grande estilo. O alvorecer do dia contribuiu para que a energia em torno do desfile deixasse o ambiente ainda mais favorável à escola.

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A Viradouro levou para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodun serpente, o tema foi criado e desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A agremiação de Niterói terminou sua apresentação com 67 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pelos consagrados Priscilla Mota e Rodrigo Negri foi intitulada “Alafiá”. No total, foram 24 componentes que produziram um espetáculo visual, artístico, dançante e com muitos efeitos. A comissão trouxe uma grande sacerdotisa como pivô inicial, em volta dela, guerreiras Agojies com lâminas nas mãos dançaram e mostraram extremo vigor e sincronia.

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Na sequência, uma grande serpente saiu do tripé que representava justamente um ninho, ela deslizou pelo chão da avenida e o efeito deixou o público espantado. Os integrantes subiram na alegoria e deu continuidade a apresentação, houve uma troca de componentes, dessa vez a fantasia representou o ritual de preparação das guerreiras, uma mulher serpente foi a pivô nesse momento, a coreografia, aliada a fantasia, causou outro efeito esplêndido. Ao final, surgiu uma serpente mordendo o próprio rabo, símbolo do infinito. A luz cênica da Sapucaí foi utilizada durante toda a apresentação, ao final, um grande arco íris surgiu.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Representando o espírito infinito da serpente, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, passou pela avenida de forma encantadora, a experiente dupla protagonizou na avenida incontáveis momentos marcantes, a porta-bandeira iniciou sua apresentação com uma sequência de giros de tirar o fôlego, já Julinho, durante sua dança formou um círculo fechado, os movimentos podem parecer comuns, mas uma passagem da sinopse da Viradouro diz: “É Dangbé, o vodum da proteção, do equilíbrio e do movimento. Nele, nada principia nem finda, tudo avança, tudo retorna. É o constante rodopio do universo, o círculo fechado, sentido materializado pela imagem da cobra engolindo a própria cauda”.

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Enredo

Desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon e com sinopse de João Gustavo Melo, a Unidos do Viradouro levou para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, nele, a escola saudou as energias do culto Vodum serpente. Unindo a força dos cultos Voduns aos saberes ancestrais, a escola percorreu o caminho que amplia nosso horizonte rumo a um Brasil mais africano, verdadeiramente livre, religiosamente diverso e socialmente igualitário. A narrativa do enredo foi seguida segundo o culto ofídico ligado ao de matriz Jeje. Ao longo do desfile, a figura da serpente apareceu representada de diversas maneiras: encantada, guerreira, cultuada, camuflada e manifestada por meio das cores do arco-íris.

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LEIA MAIS

* Um mestre fantasiado de outro mestre, Ciça traz a Viradouro com uma bateria cadenciada no ritmo da macumba
* Terceira alegoria da Viradouro representou as guerreiras Mino
* Ala de baianas da Viradouro representou as ‘Sacerdotisas da serpente divina’
* Viradouro trouxe para a avenida uma alegoria em forma de oferenda à fundadora do candomblé Jeje no Brasil

O enredo foi dividido em cinco setores, sendo eles: “Dangbé – O Culto À Serpente”, nele, Dangbé, o vodum da proteção, do equilíbrio e do movimento foi retratado. Nada principia nem finda, tudo avança, tudo retorna. É o constante rodopio do universo, o círculo fechado, sentido materializado pela imagem da cobra engolindo a própria cauda. O segundo setor, “O Pacto Místico Das Guerreiras Mino”, trouxe as guerreiras Mino, as mulheres mais temidas do mundo. Na sequência, o setor “Ludovina Pessoa E A Herança Vodum Na Bahia”, mostrou a perpetuação através de Ludovina Pessoa, pilar de terreiros consagrados aos voduns. O quarto setor, “Entre A Cruz E A Serpente: Templos Sincréticos”, trouxe as senhoras da cura, da fortuna, da fertilidade, das adivinhações, dos conselhos e do destino. O último setor, “Terra, terreiro cósmico”, fechou o desfile mostrando que a energia que renasce no culto aos Voduns, se espalhou pelo Brasil em diversas casas consagradas às entidades.

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Alegorias e Adereços

A Viradouro levou para a avenida seis alegoria e dois tripés, o apuro estético produzido por Tarcísio Zanon foi de extremo bom gosto, cada alegoria teve uma concepção diferente, o artista fugiu da repetição e também do óbvio, quem esperou uma Viradouro soturna pode ter se surpreendido com uma escola colorida e solar. O cuidado em cada alegoria foi peça fundamental para que todo o conjunto se destacasse.

A serpente esteve presente por toda a abertura da escola, primeiro no tripé “Dangbé: Energia Da Vitória”, tendo continuidade no abre-alas “A Força Do Vodum Do Infinito” e também no segundo carro, “Predição Oracular: Caminhos Abertos”. Ambos fizeram parte de um grande conjunto de abertura, a predominância de cores mais chamativas foi o ponto alto desse conjunto.

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O segundo carro, “As Guerreiras Mino: Proteção Mística E Lealdade”, representou as guerreiras Minos em treinamento entre os espinhos reproduzidos na base do chassi. Na sequência, o carro “Ludovina De Gu Rainha E A Formação Dos Terreiros Jeje Na Bahia” apresentou uma estética diferente e arrojada, ele foi tramado em ferro, ornado com elementos de culto Vodum. A representação do metal permeou toda a base e a decoração da alegoria trouxe uma imponente sacerdotisa no topo. O tripé “A Santa Ceia Negra” mesclou as tradições católicas às celebrações ritualísticas do candomblé Jeje. O penúltimo carro, “Templos Sincréticos”, trouxe uma grande escadaria inspirada na arte do Daomé e remeteu aos espaços sagrados onde ocorrem cerimônias e rituais. Na parte de trás, os degraus com ornamentação barroca representaram a inserção das celebrações católicas em templos. O carro que fechou o desfile da Viradouro foi denominado “Sagrado Terreiro Cósmico”, a natureza foi representada e um grande arco íris se formou na escultura traseira, foi um encerramento em alto nível.

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Fantasias

Assim como feito nas alegoria, o trabalho de Tarcísio Zanon merece todo o reconhecimento, o carnavalesco usou e abusou do bom gosto ao pensar e produzir as fantasias da Viradouro, o artista se esmerou nos mínimos detalhes e entregou um dos conjuntos mais interessantes da história da escola. O uso de cores se mostrou um dos pontos altos, solar, a escola passou pela avenida com boa parte da luz natural e mesmo assim as alas brilharam. Destacar uma só ala seria falho, visto que todo o conjunto se destacou.

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Harmonia

O conjunto harmônico foi trabalhado de maneira exemplar pela escola, a comunidade da Viradouro entrou na avenida disposta a levar o título para Niterói e nada seria capaz de tirar essa conquista deles, o canto foi avassalador do início ao fim, destacar uma só ala seria injusto, a escola gritou o seu samba de forma contínua por toda a avenida. Durante o desfile, a bateria Furacão Vermelho e Branco comandada por mestre Ciça abusou das bossas, foi uma mais esplêndida que a outra, a de maior destaque foi feita no refrão principal que dizia: “Derrama nesse chão, a sua proteção, pra vitória da Viradouro”, o paradão evidenciou o canto acima da média realizado pela comunidade e também pelo público presente do Sambódromo. Vale destacar também a ótima estreia de Wander Pires à frente do carro de som da vermelha e branca.

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Samba-Enredo

Um dos grandes destaques da noite foi o samba composto por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno. O hino da escola passou de forma avassaladora e permaneceu assim durante todo o desfile, em nenhum momento o samba diminuiu seu ritmo ou cansou quem acompanhava, vários são os momentos que causaram catarse junto ao público, o principal deles durante o refrão principal. A letra, apesar de algumas palavras mais complexas, conseguiu passar todo sentimento que o enredo pede, por exemplo, no verso “Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar” boa parte da sinopse é sintetizada.

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Evolução

Uma verdadeira aula de evolução, assim pode ser definido o desfile da Viradouro na manhã desta terça-feira, de forma fluída, organizada e vibrante, os componentes entraram na avenida sabendo exatamente o que fazer, fruto de muito ensaio, eles engrandeceram o espetáculo de forma orgânica, espontânea e natural. Durante todo o cortejo a escola apresentou segurança em cada movimento.

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Outros Destaques

O público esperou até o fim para acompanhar o desfile da Viradouro, mesmo sendo a última escola a desfilar, as arquibancadas permaneceram lotadas, quem esperou foi presenteado com um desfile de encher os olhos com inúmeras imagens foram marcantes. A rainha Erika Januza veio representando um instrumento ritualístico pontiagudo utilizado pelos iniciados da família das cobras no processo de transe, com muito carisma e samba no pé, a rainha foi aplaudida do início ao fim.

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