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Tuiuti faz desfile com apresentação emocionante da comissão de frente e fácil leitura do enredo, mas esbarra em Evolução perto do fim

Por Lucas Santos e fotos de Nelson Malfacini

Em seu sétimo carnaval seguido no Grupo Especial, o Tuiuti sempre gera muitas expectativas de repetir o histórico ano de 2018, quando conquistou o vice-campeonato. E contando com Jack Vasconcelos de volta, carnavalesco daquele importante desfile, as perspectivas da comunidade eram maiores para uma nova apoteose, ainda mais trazendo um tema com forte apelo político e emocional, utilizando a homenagem a João Cândido para falar também da luta por direitos humanos. Com um início arrebatador e muito tocante em uma comissão de frente que achou soluções simples para apresentar o tema no tom que ele pedia, e com um abre-alas bem produzido, enorme em três chassis e mais um conjunto bem pesado de cavalos que puxava a alegoria, o Tuiuti deu a entender que faria outro desfile inesquecível. A facilidade com a transmissão do enredo, bastante peculiar a Jack, esteve presente, mas já na parte final do desfile, a dificuldade para colocar o último carro na Sapucaí gerou um buraco em frente ao segundo módulo e correria no último módulo, no final do desfile para não estourar o tempo. Com 1H08, o Paraíso do Tuiuti foi a quinta escola a desfilar na segunda noite do Grupo Especial apresentando o enredo “Glória ao Almirante Negro”.

Comissão de Frente

Coreografada por Claudia Mota e Edifranc Alves, a comissão “Heróis do mar, heróis brasileiros, herói da pátria” apresentou uma coreografia mais desenvolvida tanto no alto do elemento cenográfico que inicialmente simbolizava um baú, quanto no chão, com os bailarinos vestidos de pescadores e pescadoras, representando a pesca artesanal e as tradições passadas por gerações. Em baixo, os componentes apresentavam para o módulo julgador, inicialmente o movimento da pesca e o manuseio das redes. Em seguida, o primeiro truque, os homens uniam as saias da mulheres na dança e formavam o balanço do mar com a vestimentas interligadas.

Depois, o elemento tampava o primeiro elenco, e já em cima do baú os marinheiros desenvolviam primeiro a marcha própria dos marujos e depois uma dança. O elemento então aos poucos vai se transformando em um barco com as redes em baixo tomando o formato da proa do navio, e em cima subiam as velas. No último módulo, uma das velas até apresenta um rasgo que é possível notar mas não interfere na apresentação como um todo. No momento mais forte da comissão, no uniforme de marinheiro começavam a brotar amanchas de sangue nas costas e quando os marujos tiravam a casaca, as costas estavam marcadas pela chibata. No final o Almirante negro era elevado no barco e apresentando como herói.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane apresentou o figurino “Calunga grande, o mar”, que representa o mar como um portal onde nasce a vida, lugar onde ondulam memórias, sonhos e também batalhas. João Cândido tinha o Mar em si, seu habitar mais desejado e que nunca, mesmo com os percalços sofridos, o deixou desamparado. A roupa era toda trabalhada no azul clarinho, completada pelo branco, tipo espuma, com a vestimenta de Dandara revestida de conchas e pedras preciosas. Na coreografia a dupla apresentou uma coreografia marcada pelos traços tradicionais da dança de um casal de mestre-sala e porta-bandeira, como vem sendo o estilo dos dois. Mas, teve uma pitadinha mais coreografada seguindo o refrão do meio do samba “Lerê Lerê mais um preto lutando pelo irmão”, quando Raphael e Dandara apresentavam passos mais ligados às religiões de matriz africana, muito bem sincronizados e bem cravados.

No último módulo, Dandara teve que enfrentar um vento um pouco mais forte, mas com grande experiência e talento, a porta-bandeira manteve o pavilhão bem desfraldado como fez nos demais módulos. Apresentação muito correta, sem erros aparentes e com um algo diferente que sempre acaba levantando o público e atender os anseios dos jurados.Os guardiões “Falange dos marinheiros” representavam o mar como ponto de força da linha de Marinheiros, fazendo a ronda na Calunga Grande no Reino de Iemanjá. Os Guias Marinheiros, na Umbanda, surgem para levarem ao mar tudo que causa dor e sofrimento, ajudando aqueles que os procuram, auxiliando os desencarnados e os encarnados.

Harmonia

O canto do Tuiuti começou muito bem no primeiro módulo, e se manteve até o segundo, no terceiro, já com os problemas de evolução da escola, e com a correria no final, o componente sentiu mais dificuldade de evoluir e manter a intensidade do canto. A partir daí foi mais perceptível encontrar componentes que não estavam cantando. De qualquer forma a situação não fica tão difícil no quesito já que seria apenas um módulo. Resta entender como o jurado vai ver nos demais, foi um rendimento satisfatório, não foi um sacode, até porque a obra não é voltada tanto para esse aspecto, mas um rendimento bom.

Em relação ao Pixulé, voltando ao Grupo Especial depois de 10 anos, o cantor, experiente, de anos de Sério Ouro e no Especial de São Paulo, moldou a ona a sua forma peculiar de condução musical. Alternando potência vocal com apuro musical e harmônico. A equipe vocal, que tinha entre outros, Hudson e Leonardo Bessa, além de vozes femininas, deixaram o intérprete à vontade para convocar o componente ao canto. A princípio nenhum problema neste sentido.

Enredo

O enredo “Glória ao Almirante Negro!” foi desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos e teve como missão glorificar João Cândido como um herói brasileiro, mostrando que ele enfrentou forças superiores como nunca antes havia acontecido e virou referência na luta por direitos humanos. O carnavalesco se utilizou de uma linguagem épica e de heróis de quadrinhos para transmitir o tema. No primeiro setor “Navegando entre correntes e contracorrentes”, o Tuiuti apresentou os elementos que ajudam a compor o cenário de introdução da história: o mar e a promessa republicana no período pós escravidão.

Em seguida em “Veio dos Pampas para as águas da Guanabara” Jack apresentou um pouco da infância do menino João Cândido no interior do Rio Grande do Sul, seu encaminhamento para a Marinha e a chegada ao Rio de Janeiro. Do sonho em navegar pelo mundo ao pesadelo da fome e da chibata. No terceiro setor “O tempo e o vento do marujo”, a escola mostrou que João Cândido se tornou um marinheiro de primeira classe, destacando algumas das mais importantes missões nas quais embarcou e o crescimento de sua consciência e liderança entre a marujada. Em “Revolta Vermelha” o vermelho da revolta tomou conta do desfile após o castigo extremamente cruel a um companheiro da marujada.

No quinto setor “Nascia um herói libertador”, fez-se um relato e uma critica aos altos oficiais da Marinha daquela época que alimentados por teorias racistas, duvidavam que pessoas pretas tivessem tamanha competência para sustentar uma insolência como aquela. Em “Foram traídos, mas não traíram jamais” acompanhou-se a traição do Palácio do Catete, sua trama diabólica para burlar a opinião pública e pôr em prática suas intenções de apagamento da revolta e da existência dos revoltosos. No último setor “O cais da luta ancestral”, a luta por dignidade é reconhecida nesse setor final. O clima e os tons visíveis no setor final são mais acolhedores e festivos para saudar o herói, o Almirante Negro João Cândido. Como característico de Jack, o carnavalesco dominou muito bem a narrativa do enredo e trouxe fantasias e alegorias de fácil leitura e entendimento. A proposta, que se fez presente na plástica, também deve ser elogiada pela criatividade e a homenagem fora do lugar comum.

Evolução

O quesito é aquele que o Tuiuti deve ser preocupar mais. Devido a problemas com a alegoria cinco que teve dificuldades para entrar, a escola abriu um buraco no segundo módulo de julgamento. Módulo que não é duplo. Porém, a demora na situação do carro e pela cadência da apresentação, e uma escola mais parada no início , em uma apresentação que demorou mais de uma passada do samba da comissão, tudo isso causou uma correria no final devido ao receio de estourar o relógio. A evolução também foi um quesito problemático no último módulo. A bateria, inclusive, teve que fazer uma apresentação mais rápida diante dos jurados.

Samba-enredo

A obra produzida a partir do modelo de encomenda teve como autores, velhos conhecidos da casa, são eles: Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia. Seguindo com a proposta de manter mais ou menos o time de poetas, o Paraíso do Tuiuti trouxe para este ano uma obra com características melódicas similares ao que vinha apresentando nos últimos anos, mas com uma letra seguindo um caminho diferente.

Focada na simplicidade, a letra dialoga bem com os anseios da proposta e consegue apresentar bem um herói que emergiu do povo. A melodia é de fácil assimilação e se a composição não é a melhor apresentada pela escola nos últimos anos, principalmente após os excelentes sambas de 2022 e 2023, conseguiu ter seus momentos de destaque e ser bastante funcional, principalmente no que tange os dois refrãos. O do meio com o “lerê, lerê mais um preto lutando pelo irmão…” com a sua simplicidade nas palavras, tem melodia forte e dá o recado e passa a mensagem de forma clara. O samba encontrou mais ressonância no componente do que no público.

Fantasias

O Tuiuti apresentou um conjunto de fantasias de fácil assimilação pelo público, explicando bem o enredo e se utilizando da paleta de cores para demonstrar qual o clima da passagem do enredo. No primeiro setor, por exemplo, o dourado teve bastante destaque para retratar o início ainda da República, tempo em que aconteceu a história do desfile. É bem perceptível na ala “liberdade, abre as asas sobre nós”. Depois o azul, apresentando o início da relação do homenageado com o mar, como na ala das baianas “águas da Guanabara”.

Outros setores como “revolta vermelha” e “foram traídos mas não traíram” há a predominância do espectro do vermelho. No fim, a redenção de João Cândido é traduzido em tons mais claros como nas alas “o mar é um amigo” e “glória aos humildes pescadores”. No geral, as fantasias de Jack trouxeram matérias de qualidade, e primaram pela informação de forma criativa que é característica do carnavalesco. A fácil leitura presente e também a intenção de que o público se identifique com aquilo que vê.

Alegorias e adereços

O conjunto alegórico do Paraíso do Tuiuti foi composto por cinco carros e mais dois tripés. Mais tímido na qualidade que as fantasias, as alegorias também foram de fácil assimilação. Destaque para o carro abre-alas “República, abre as asas sobre nós: um novo velho porvir”, formado por três chassis e mais um conjunto de cavalos, trazendo a contextualização do tempo em que vivia João Candido, a recém criada república que possuía ainda a herança de um período escravista de horror e as consequências de uma abolição que não foi feita de forma correta.

O pensamento elitista de exclusão apareceu a partir do galope de um soldado fiel do país. Por isso as esculturas e algumas partes do cortejo do abre-alas tinham um aspecto envelhecido. A coroa, símbolo da agremiação, estava presente contextualizando que vários conceitos e símbolos da época colonial e monárquica foram preservados, como, por exemplo, a cor verde presente nas bandeiras laterais. Na base do cortejo, as composições que representam o povo, dispostas na parte mais baixa da alegoria, e as fantasias mais ricas nas partes superiores dão a leitura de divisão social e econômica.

Outra alegoria de mais apuro estético e criativo, “o “dragão do mar” reapareceu na figura de um bravo marinheiro”. O jangadeiro cearense Chico da Matilde” (que liderou um movimento que se recusou a transportar escravizados), inspira a alegoria como exemplo de luta e resistência. O espírito de revolução e o sangue derramado avermelham a embarcação. O quinto carro “monumento ao mestre sala dos mares” é inspirado na em uma das homenagens mais contundentes ao marinheiro, a música “o mestre-sala dos mares”, de Aldir Blanc e João Bosco, composta nos anos 70 e que imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata no imaginário popular.

A alegoria traz na proa do barco o filho mais novo de João Cândido, Alberto Cândido, conhecido como Seu Candinho, no comando dessa nau-homenagem que celebra o legado de seu pai. Nas velas dos barquinhos dos pescadores, nas laterais da alegoria, reproduções de algumas manchetes de notícias que expõem o racismo latente nas relações sociais ainda atualmente. Conjunto alegórico que trouxe com fácil leitura do enredo, ainda que no geral tenha sido irregular em qualidade, alguns com bem mais apuro estético do que outros.

Outros destaques

A fantasia das baianas “Aguas da guanabara” trouxe elementos marinhos e tons azuis, com ornamentos em ouro e prata para trazer a sensação de reflexo cintilante que as águas da baía de Guanabara tem ao entardecer. O figurino trouxe um encantamento de figura mitológica ao personificar a baía de Guanabara como uma espécie de deusa marinha, musa da cidade do Rio de Janeiro, e como a visão extraordinária da Guanabara impactou o jovem João Cândido. Um amor à primeira vista.

A fantasia da rainha da Super Som, Mayara Lima, representou o fogo que sobe pelo corpo dos marinheiros e faz o sangue ferver para lutar por justiça e que será o combustível que inflamará a revolta que se iniciará. “Sangue de marujo”, a fantasia da Super Som tem a predominância da cor vermelha para simbolizar o sangue que jorrou das costas não só do marinheiro Marcelino, mas também de todos os marinheiros através da história. A última alegoria trouxe na proa do barco o filho mais novo de João Cândido, Alberto Cândido, conhecido como Seu Candinho.

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