InícioGrupo EspecialSérie Barracões: Um enredo reeditado, mas atual; Vila Isabel aposta na emoção...

Série Barracões: Um enredo reeditado, mas atual; Vila Isabel aposta na emoção de Gbalá para buscar o título

Na briga pelo tão sonhado quarto título do Grupo Especial, a Unidos de Vila Isabel levará para a Marquês de Sapucaí a reedição de “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, idealizado pelo carnavalesco Oswaldo Jardim em 1993. A obra, que possui um espaço especial no coração do torcedor da agremiação, tem o samba-enredo assinado por Martinho da Vila. À época, a escola teve que desfilar debaixo de forte chuva e ficou em oitavo lugar. No entanto, a canção até hoje é considerada uma das mais bonitas de Martinho. Agora, o enredo está sob o olhar do carnavalesco Paulo Barros.

Fotos: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO

Baseado na mitologia iorubá, a obra retrata a importância das crianças para um mundo melhor. Com os males causados pelo homem ao planeta, o criador – Oxalá – adoece junto com a sua própria criação. A esperança para um mundo melhor surge justamente através dos pequeninos. Apesar de ser um desfile feito há mais de três décadas, Gbalá é um enredo com temática atual, já que aborda problemas que persistiram ao passar das décadas e se tornaram ainda piores, como afirma o enredista Vinícius Natal.

“Um dos motivos que fizeram a gente sacramentar o Gbalá é exatamente porque os problemas que motivaram Oswaldo Jardim a criar o enredo ainda são atuais e até mesmo piores. Vivemos em 2023, por exemplo, o ano mais quente da história do planeta Terra. Não só isso, como também a pobreza, a poluição dos rios e a caça desenfreada de animais. Se a gente pegar os motivos que levaram o Oswaldo a criá-lo, basicamente são os mesmos de hoje. Tudo isso são os motivos que adoecem o criador – em 1990 e hoje”, explica o pesquisador.

Além de ser um enredo atual, Vinícius explica que a ideia de escolher a reedição surgiu por conta da identificação criada pela comunidade e por ter o perfil do carnavalesco Paulo Barros.

“Já conversávamos com o presidente sobre muitas propostas de enredo. Dentro dessas várias possibilidades, entendemos que esse era o momento ideal para a Vila Isabel reeditar Gbalá, porque foi um enredo maravilhoso e que marcou muito a escola – que na época tinha outra estrutura. É um enredo que tem muito a ver com o Paulo Barros, então decidimos fazer a reedição. Tudo isso faz parte de alguns dos motivos que nos impulsionam a escolher esse enredo, além da memória afetiva que os torcedores e o mundo do samba têm por esse desfile”, detalha Vinícius.

Para a pesquisa de enredo, Vinícius contou com o jovem João Vitor Silveira, além de Isabela Azevedo e Simone Martins. Juntos, os quatro realizaram um trabalho baseado no samba-enredo. O enredista revela que durante todo o processo de pesquisa, a emoção foi o que mais chamou atenção. Para ele, esse é, inclusive, um dos grandes trunfos da Azul e Branca para a Passarela do Samba: “O Gbalá toca muito no interior das pessoas”.

“Acredito que o mais interessante é a memória que os torcedores da Vila Isabel tem com Gbalá. Já sabíamos que era um enredo que marcou muito a história da escola, mas durante o processo de regravar o samba e apresentação da logomarca, a emoção das pessoas foi algo muito marcante. Por isso esse enredo tem a tônica da emoção, porque toca diretamente a memória do torcedor. A emoção, com certeza, será um trunfo muito bom. Durante o documentário ‘Kizomba’ – que fizemos no departamento cultural – o Martinho da Vila falou algo que me marcou muito. Ele disse que as pessoas acreditam que o samba-enredo deve necessariamente fazer as pessoas pularem de alegria. E também deve. Mas, às vezes, emociona”, conta.

A reedição de um enredo ainda é um certo tabu para algumas pessoas do mundo do samba. Há quem tente evitar repetições por acreditar que não dá certo. Mas afinal, um carnaval reeditado facilita ou dificulta a preparação do trabalho que será apresentado na Avenida? Para Vinícius, o grande segredo para o sucesso é ter a consciência do que a escola precisa no momento. É o caso de Gbalá.

“Tem sido feito um debate muito grande sobre uma reedição ser válida ou não. Acredito que depende. Criou-se um mito de que ela não dá certo, e acho que não é verdade. A Estácio já subiu do Grupo B para o Grupo A com reedição, a Imperatriz recentemente também subiu para o Grupo Especial. A Viradouro já foi terceira colocada reeditando um samba. A reedição é fruto do momento presente da escola. Gratuita talvez não dê certo, mas uma reedição em que a escola abraça e faz com bastante consciência do que quer e precisa, pode dar certo. Como todo enredo, tem seus facilitadores e complicadores”, comenta o enredista.

Vinícius é cria da Vila e retornou para a agremiação neste Carnaval. Ele ficou entre 2020 e 2023 na Grande Rio, e foi o pesquisador do enredo que levou a primeira estrela para Duque de Caxias, em 2022. Sentindo-se em casa e com a responsabilidade de representar a escola do coração, ele revelou que acompanhou as disputas de samba de 1993. A avó, que é compositora, ficou em segundo lugar na disputa daquele ano.

A relação com o enredo vai além da família. Ele trabalhou com o carnavalesco Edu Gonçalves, que foi assistente de Oswaldo Jardim e contava detalhes de como Gbalá surgiu.

“Eu tenho uma certa lembrança afetiva com esse enredo, porque é uma das primeiras memórias que tenho com a Vila Isabel. Muito pequeno, lembro que ficava brincando durante a disputa de samba. Esse enredo estava na minha cabeça há algum tempo. O Eduardo Gonçalves – que foi um dos caras que me ensinou o que era uma escola de samba pelo ‘lado de dentro’ – era assistente do Oswaldo e sempre contava que viu os primeiros rabiscos do Gbalá. O Oswaldo pegou um pedaço de pão e começou a rabiscar o abre-alas. Ele queria fazer um enredo iorubá, mas que não era uma África com o visual usual. Quando decidimos fazer a reedição, trouxe essas memórias junto com o processo de pesquisa”, revela.

Principais personagens da história, as crianças vão estar inseridas ao longo de todo o desfile. “Quando depositamos a esperança na criança – lá no início da década de 1990 – estávamos no contexto da constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Hoje, quais são esses direitos que devem ser assegurados para as elas? Quando olhamos para o hoje, os mesmos problemas daquela época são encontrados também. Esse foco na criança misturado com a narrativa ficcional é fundamental”.

Sob o comando de Paulo Barros, a Vila promete levar para a Passarela do Samba uma releitura bastante autoral, com a essência da escola e de fácil compreensão. O recado para o torcedor é a promessa é de um desfile imponente e que brigará pelo título do Carnaval carioca.

“O Paulo está trazendo uma releitura muito autoral e muito dentro do artista genial que ele é. Acredito que o grande trunfo será a fácil leitura. As pessoas vão bater o olho e entender o que queremos dizer, sem perder o fundamento religioso, a característica visual que o carnavalesco possui e, principalmente, sem perder a característica do que é a Vila Isabel. Podem esperar uma Vila que vai brigar pelo campeonato. Acredito que todo mundo está muito confiante e imbuído em fazer o melhor. Com todo o respeito às nossas coirmãs, acredito que vamos vir para brigar”, afirma o enredista da agremiação.

Conheça o desfile da Vila Isabel

A Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval. A agremiação vai levar para a Avenida seis alegorias e dois tripés. Ao todo, serão 28 alas e cerca de 2800 componentes, divididos em cinco setores – além da abertura.

Setor 1: “Meu Deus! O grande criador adoeceu!”: “O primeiro setor, intitulado “Meu Deus! O grande criador adoeceu!”, apresenta, de fato, o início de nossa “estória”, onde são representados alguns dos males do mundo causados pelo homem, e, dessa forma, Oxalá adoece junto com a sua própria criação. São apresentados alguns dos motivos que levam o mundo ao seu atual estado de degradação. O setor finaliza quando Exu, orixá da comunicação entre o mundo espiritual e o mundo terreno – Orum e Ayê, na terminologia yorubá –, atendendo a um pedido de Olorum e de todos os outros orixás, desce à Terra e leva crianças de diferentes partes do mundo ao Templo da Criação, para que conheçam como o mundo foi concebido”.

Setor 2: “Se encantaram com a mãe natureza”. “No segundo setor, já no Templo da Criação, as crianças são levadas pelos orixás para conhecer a natureza, contemplando as águas, os animais, as flores e os frutos. Compreendem a criação do mundo natural como fundamental para a harmonia do planeta e observam, atentamente, como tudo foi concebido.”

Setor 3: “Descobrindo o próprio corpo”. “No terceiro setor, as crianças entendem a importância do corpo humano e algumas de suas partes mais importantes. Veem que cada órgão do ser humano é criado para compor um complexo sistema – o mais perfeito! – e que, do barro, muitos homens são esculpidos e criados”.

Setor 4: “Conheceram os valores…”. “No quarto setor, de acordo com suas essências, os orixás ensinam alguns dos seus principais valores às crianças. Explicam o que deve ser seguido pelos seres humanos para que o mundo não se corrompa com maldade e ganância. Justiça para todos os seres, amor para curar as feridas, trabalho para o progresso e para o bem da Terra, entre outros. Assim, a humanidade entrará em equilíbrio. Esses são alguns dos valores que importam para o bem viver”.

Setor 5: “Gbalá é regastar, salvar!”. “Depois de conhecer o Templo da Criação, as crianças se preparam para retornar à Terra e, então, entendem a sua real missão: voltar e ensinar aos adultos o que aprenderam. Preservar o meio ambiente, lutar pela paz universal e proteger a natureza, os animais e as águas da Terra. Oxalá se levanta e se enche de esperança: as crianças salvarão o planeta. Rebatizadas nas águas sagradas, antes de seu retorno, demonstram que aprenderam a lição. Oxalá está salvo! Viva as crianças! Viva a Unidos de Vila Isabel”.

- ads-

Em balanço após o desfile de 2024, casal da Vila Isabel quer o tradicional em 2025

No Carnaval de 2024, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, Marcinho Siqueira e Cris Caldas, não alcançou o gabarito desejado. Receberam...

Os 8 principais festivais de música do Brasil para participar em 2024

Aqueles que procuram uma experiência transformadora podem participar de um dos principais festivais de música do Brasil. Artistas internacionais, grandes produções e performances inesquecíveis são apenas...

Conheça o enredo da Independente Tricolor para o Carnaval 2025

A Independente Tricolor anunciou na noite desta quarta-feira o enredo para 2025: "Gritos de resistência", que será desenvolvido pelo carnavalesco André Marins. Veja abaixo...