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Fantasias em homenagem a Martinho começam a ser entregues na Vila

Os figurinos que a Unidos de Vila Isabel levará para a Marquês de Sapucaí para homenagear Martinho da Vila no próximo dia 22 de abril, um sábado, começaram a ser entregues no último fim de semana na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio. A agremiação foi a primeira do Grupo Especial a iniciar o processo de distribuição de fantasias à comunidade rumo ao Carnaval 2022.

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O foco da distribuição, além do repasse das peças aos componentes, é na valorização dos artistas da “fábrica de sonhos”. Junto com o conteúdo das entregas, as alas estão recebendo uma mensagem impressa que contabiliza o número de profissionais envolvidos naquela cadeia produtiva: 22 ao todo (carnavalesco, historiador, desenhista, comprador, fornecedores, modelista, ferreiro, vimeiro, costureiras, aderecistas, chapeleiro, pintores, batedor de placa e escultores).

A ideia de trazer a equipe aos holofotes, diante dos quadros da agremiação, partiu do diretor de Carnaval Moisés Carvalho.

“É uma mão de obra muito expressiva, que as pessoas não fazem ideia do tamanho e da importância. Especialmente nesse ano que passou, com tantas perdas, é importante a valorização da vida e da mão de obra humana”, conta Moisés.

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Para o dirigente, após a entrega, a responsabilidade pelo sucesso do desfile, o último do Grupo Especial este ano, está agora nas mãos de quem desfilar na Sapucaí:

“Queremos que cada um que vista nossa camisa e nossas fantasias. São centenas de pessoas juntas em cada detalhe daquelas roupas. Esse sentimento é o que nos faz gigantes”, finaliza o diretor.

Neste sábado, as alas 4,12 e 16 serão distribuídas de 9h às 12h. Em seguida, será a voz das alas 15 e 22, entre 13h às 17h. Mais informações estão sendo divulgadas nos canais de comunicação oficiais da Vila.

Acadêmicos de Vigário Geral, União da Ilha e Estácio de Sá ensaiam na Sapucaí neste sábado

O mês de abril chegou e estamos cada vez mais próximos dos desfiles de 2022! Nesse fim de semana vamos dar continuidade a mais uma série de ensaios técnicos na Sapucaí. Neste sábado, 02, vão passar pelo Sambódromo: Acadêmicos de Vigário Geral, União da Ilha e Estácio de Sá, respectivamente. A entrada é gratuita, mas o local está sujeito a lotação. Após a passagem da última agremiação, o Grupo Deita e fará uma roda de samba na Praça do Samba, atrás do Setor 2.

Para participar do evento, será necessário comprovar a vacinação contra Covid-19, de acordo com o calendário da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. A comprovação poderá ser feita através do certificado de vacinação digital – disponível no aplicativo ConecteSUS –, caderneta de vacinação ou comprovante de vacinação.

Confira a seguir a programação deste sábado.

19h – Acadêmicos de Vigário Geral (C)
20h – União da Ilha (B)
21h – Estácio de Sá (C)

Série Barracões SP: Almejando o desfile das campeãs, Barroca Zona Sul aposta na fé de Zé Pilintra

A equipe do site CARNAVALESCO visitou o barracão da Barroca Zona Sul e conheceu o projeto da escola para o desfile de 2022. O enredo que a escola levará para avenida, tem como título: “A evolução está na sua fé… Saravá Seu Zé!”, uma homenagem à entidade da umbanda, Zé Pilintra. O carnavalesco da agremiação, Rodrigo Meiners, contou todo o desenvolvimento do enredo.

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“A gente conta a história da entidade Zé Pilintra, mas não a história de maneira reduzida do que a população conhece sobre Zé Pilintra, que é apenas o setor da malandragem, boemia, samba e da jogatina. Vamos contar a história seguindo uma linha cronológica. A vida dele como pessoa aqui na terra, o que ele passou, viveu, sofreu, suas experiências e conhecimentos, até e porque ele se torna uma entidade da umbanda. Uma linha cronológica contando a importância dele dentro da religião, terminando com os devotos e pessoas que acreditam nele para viver, pois Zé Pilintra é conhecido como o advogado dos pobres e dos menos favorecidos”.

A história do enredo e a religiosidade da escola

“O enredo é uma ideia que partiu de uma promessa da escola. É uma agremiação muito religiosa. Se você parar para pensar, os temas da Barroca Zona Sul, são ligados à religião, mas nem sempre ligados à África ou à africanidade. Esse enredo não é afro. O Zé Pilintra é uma entidade brasileira de uma religião 100% nacional, que é a umbanda e, esse enredo vem da escola, porque quando eles começam essa retomada lá em 2014, eles se apegam muito à figura do Zé Pilintra. E foi meio que uma promessa que se subisse pro Grupo Especial e permanecesse em 2020, no próximo carnaval, o enredo seria uma homenagem ao Zé Pilintra. Um grande agradecimento. Então, a ideia partiu da agremiação. Do nosso presidente e diretor de carnaval”.

É sabido que infelizmente, a figura de Zé Pilintra, é demonizada por parte da sociedade. O carnavalesco prometeu que a ideia é mostrar que não é assim que a entidade deve ser tratada.

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“A gente quer mostrar que não é isso. Não mostramos isso para responder algum tipo de comentário negativo. A gente conta a história dele e, dentro disso, cada um interpreta da sua maneira e tira a sua conclusão sobre o que é Zé Pilintra. Mas, tenho certeza que quem assistir ao desfile de fato e prestar atenção, vai sair com outra ideia. Por tudo que ele passou, viveu e sofreu, não tem como associar ele a uma figura ruim. As coisas de errado que ele possa ter feito, foi pela condição de vida que ele enfrentava do que pela maldade e, a grande mensagem do enredo, é essa: Você acaba fazendo coisa errada, cometendo pecado na vida, mas o que importa no final da trajetória da vida é a fé e seus princípios de bondade, caridade, amor. A evolução está na sua fé e no que você acredita”.

O planejamento de desfile na pista

A Barroca está indo para o seu segundo carnaval consecutivo no Grupo Especial. Em 2019, a agremiação conseguiu o vice-campeonato do Acesso I e, consequentemente, ganhou uma vaga no Grupo Especial, depois de ficar 15 carnavais de fora. É uma escola tradicional de São Paulo, que até então, frequentava a elite regularmente desde o final dos anos 70. Finalmente, para a alegria de sua comunidade, a Barroca voltou e se manteve. E agora, segundo o carnavalesco, está na hora de alçar voos maiores e, para isso, o modelo de desfile deve ser mais ousado.

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“O desfile do Barroca para 2022, é bem maior em todos os sentidos do que 2020 por várias questões. Em 2020, a escola estava voltando pro Especial depois de 15 anos. Querendo ou não, a comunidade sente esse tempo todo longe do Grupo Especial. A maneira de desfilar e competir é bem diferente. Foi uma retomada meteórica da escola chegar no especial e, voltar pro Acesso, seria uma frustração muito grande para todos. Então, a gente estudou o manual do jogador do carnaval de São Paulo e fizemos um desfile mais coeso e mais seguro de todas as maneiras possíveis do que grandioso e ousado. O Barroca 2020, não foi um desfile para o Rodrigo artista carnavalesco, e sim o serviço prestado para a Barroca Zona Sul. Eu não fiz o que achava mais bonito, o que achava melhor e que fosse render mais elogios ou mais aprovação ou da crítica da mídia especializada do carnaval. Eu fiz, junto ao meu diretor de carnaval e comissão artística, o que fosse mais seguro para a escola permanecer no Grupo Especial”.

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Para 2022, o carnavalesco disse que tudo vai mudar. A Barroca desfila em um dia que é a única escola que não ganhou carnaval e, por isso, precisa ainda mais despertar a atenção do público.

“A partir daí, a conversa muda. Quando teve um sorteio onde a gente caiu em um sábado de carnaval, onde a única ‘não campeã’ do carnaval, é a Barroca e desfila depois da atual campeã que vai querer o bicampeonato, a gente entendeu que o ano divisor de águas da escola não era o ano passado. O ano pra gente mostrar nosso trabalho e nossa grandiosidade do que pode fazer pra realmente mudar a história do Barroca em relação à expectativa das pessoas, é 2022. Se a gente conseguir fazer um carnaval imponente, tenho certeza que vão começar a colocar a Barroca Zona Sul como uma escola postulante a alcançar posições lá em cima. Então, é um projeto pensado nisso. Firmar a escola no Especial e mudar essa perspectiva das pessoas. Se a gente conseguir somar a técnica de 2020 com um visual maior, eu tenho certeza que o nosso resultado será melhor. Nosso desafio é trazer um carnaval grande, competitivo, que briga para ir às campeãs ou até mesmo para título, sem esquecer os balizamentos do manual do jogador da temível pasta de jurados do carnaval de São Paulo”.

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Uma abertura de desfile impactante é a aposta

Segundo Rodrigo Meiners, desfilar em um dia que o nível é muito alto, pode ser algo que “prejudique” a escola de alguma forma e, apostar em um desfile com uma abertura que chame a atenção do público, é uma estratégia a ser feita.

O investimento foi tanto, que a agremiação contratou o renomado artista coreógrafo, Carlinhos de Jesus. O bailarino teve passagens importantes por escolas como Mangueira, Vila Isabel e Império Serrano e, agora, estreia em São Paulo com a missão de fazer um ótimo trabalho no Barroca Zona Sul e encher os olhos do público no sambódromo do Anhembi.

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“É um pouco clichê, mas a abertura da escola é um cartão de visitas. Voltando a falar do dia, é um dia muito pegado. Antes de ser carnavalesco, eu era um espectador e, em um dia desse, a primeira brecha que você dá de baixar o nível, é a hora que as pessoas deixam de assistir o seu desfile e vão ao banheiro ou fazer um lanche. A gente não pode dar essa brecha, ainda mais para um final de noite, depois de grandes escolas. Então, se a abertura não pegar e não chamar a atenção, corremos o risco de ter um desfile frio. Então, fizemos alguns investimentos pesados nessa abertura da escola. Para isso, trouxemos o Carlinhos de Jesus, maior coreógrafo de comissões de frente, ganhou vários estandartes de ouro. Nunca havia desfilado em São Paulo, apesar dos inúmeros convites que ele já teve. É um cara completamente querido pelo público do carnaval, sempre está na TV aberta. Também temos um casal que é um segmento que eu gosto muito de criar. Eu não vi o projeto das coirmãs, mas nosso abre-alas tem uma escultura que se não for a maior, é uma das maiores do carnaval de São Paulo de 2022. Então, são várias coisas que nós preparamos estrategicamente para aguçar o público”.

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A comunidade e o carinho com o carnavalesco

Com seus 26 anos, Rodrigo Meiners é o carnavalesco mais jovem entre todos os artistas que assinam o carnaval em São Paulo. Isso contando apenas Grupo Especial e Acesso I. Mas, apesar da pouca idade, Rodrigo vem dando as caras na paulistana. Em 2019, fez um grande trabalho na Mocidade Unida da Mooca e foi contratado pelo Barroca, que subiu para o Grupo Especial naquela oportunidade. Por conseguir manter a agremiação na elite e estar a frente de um projeto ousado, o carnavalesco vem recebendo um carinho muito grande da comunidade da verde e rosa.

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“Eu completo três anos na agremiação agora e vou para o meu segundo carnaval. A comunidade do Barroca Zona Sul, de tudo que eu conheço e vivi de carnaval, era ‘carente’, mas não no sentido ruim da palavra. O Barroca Zona Sul quase enrolou o pavilhão ainda na década passada. Há 10 anos atrás, a escola estava pra acabar. Foi uma comunidade que tomou muita pancada na cabeça, viu o que ela ama, se destruir. Então, quando o presidente Everton Cebolinha, junto com o diretor de carnaval, Marcão, assume a escola para essa retomada, a comunidade volta a ganhar confiança e começa a tratar todo mundo de uma maneira incrível, porque na minha visão, ela vê essas pessoas fazendo o melhor pra entidade que elas amam. Então, quando eu entro em 2019 pra montar o carnaval de 2020 nesse contexto, graças a toda confiança que se tem na direção da escola, eu achei que eu ia sofrer um pouco de desconfiança, até porque eu estava na Mocidade Unida da Mooca, fiquei atrás do Barroca e fui convidado a participar da elaboração e execução do projeto para 2020. Mas, a confiança da comunidade na diretoria é tão grande, que acabou refletindo em mim. Tudo que eu faço, recebo elogios da comunidade, eles sempre estão presentes aqui no trabalho, me sinto muito bem tratado e muito feliz quando vou pra quadra do Barroca Zona Sul. A participação comigo é maravilhosa e, com o trabalho, é mais ainda. A mídia do carnaval tem um papel importante nisso. Quando acaba um evento, como a festa de lançamento do CD, a comunidade vê elogios, isso enche eles de orgulho”.

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Conheça o desfile

Setor 1
“A gente começa mostrando quem é Zé Pilintra, justamente porque as pessoas associam a uma figura ruim. Então, a abertura do desfile é uma abertura de tudo. É a louvação à Zé Pilintra”.

Setor 2
“É a trajetória de vida dele até chegar no Rio de Janeiro. Ele quando criança no sertão de Pernambuco, tudo que ele passou de ruim no interior do nordeste. Perdeu pai e mãe, o que motivou ele a chegar no Rio de Janeiro. Na região central da Lapa, Zona Portuária e tudo que ele aprendeu e viveu ali. A questão da jogatina, mulherada, boemia e malandragem.

Setor 3
“É a parte da religião, da umbanda, que transformou José dos Anjos na entidade Zé Pilintra. A religião umbanda que é 100% brasileira, inspirada em algumas matrizes africanas”.

Setor 4
“A gente encerra com a mensagem de quem cultua Zé Pilintra e o legado e a mensagem que ele deixa nos dias de hoje. É conhecido como a entidade dos pobres, advogado dos menos favorecidos. Então, a mensagem final é essa. São as pessoas que hoje em dia sofre muitas coisas que o Zé Pilintra sofreu quando ele viveu aqui na Terra e que usam a fé em qualquer entidade ou crença, mas também no Zé Pilintra como maneira de levar a vida e enfrentar essas mazelas de formas mais leve, acreditando que tudo vai melhorar futuramente. Essa é a nossa mensagem final do enredo”.

Ficha técnica

Alegorias: Quatro
Componentes: 1750
Alas: 16
Três casais de mestre-sala e porta-bandeira
Diretor de barracão – Wendel Borreli
Chefe de decoração – Uirley Santos

Camarote do King homenageará a Turquia no carnaval de 2022

Completando cinco carnavais como um dos espaços mais cobiçados da Sapucaí, o Camarote do King se prepara para os desfiles das escolas de samba, que acontecerão a partir do dia 20 de abril. O espaço, localizado no setor 8, fica bem próximo ao segundo recuo de bateria e ao lado da cabine de julgadores. * COMPRE AQUI SEU INGRESSO

Durante os ensaios técnicos, realizados aos domingos, o camarote tem aberto as portas para patrocinadores e está dando uma prévia de como será o atendimento nos dias de desfiles. Os convidados, concentrados apenas no primeiro piso, aproveitam a área da frisa degustando alguns dos petiscos que serão servidos no camarote pelos parceiros e patrocinadores, como sanduíche de pão com linguiça do Grupo Landim, kebab do Zé do Churrasco e mini-hambúrguer do Top Burger Gourmet. Tudo com o conforto do open bar de cerveja Petra, gin Beefeater, vodka Absolut, whisky Ballantines, além de drinks diversos da Cachaça Cabaré, refrigerantes e outras bebidas do grupo Coca-Cola.

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Lilian Martins é uma das sócias do Camarote e comenta que esperou durante três anos para abrir o espaço durante os ensaios, que funcionam como um esquenta para o carnaval. “Sempre foi o nosso desejo funcionar nos ensaios, mas a prefeitura anterior ficou alguns anos sem realizar, e a gente esperava com muita ansiedade por esse retorno”.

Neste ano, o Camarote mantém a estrutura de três andares, que somam 1.400 m². No primeiro andar, além da área interna com estações de alimentação e bebida, está a boate, com isolamento acústico, e também a área das frisas. No segundo piso, SPA de massagem, salão de beleza e barbearia. No terceiro, o tradicional varandão, com vista privilegiada para a pista e para o segundo recuo da bateria.

A decoração temática, realizada por Dona Eliane, mãe de Lilian e João King, tem o intuito de criar cenários alegres que proporcionem uma experiência bem carnavalesca. Em 2022 o tema do King será a Turquia.

A alteração da data dos desfiles para abril vai dar um contexto diferenciado para o carnaval deste ano. Lilian acredita que o público será mais carioca e diz que a mudança de mês foi uma dificuldade, porém, comemora a volta à Avenida: “Eu estou muito feliz, porque essa energia aqui não existe em lugar nenhum. Eu fui a vários eventos e não se compara, aqui é outra energia”, ressaltou.

O Camarote do King, embora bastante espaçoso, recebe no máximo 1000 pessoas por noite, a fim de evitar filas e aquela sensação de dificuldade para transitar pelos ambientes. Hoje, faltando 20 dias do início do Carnaval e com 60% dos ingressos já vendidos, oferece ainda condições de pagamento em 6x no cartão de crédito.

Desfiles do Grupo de Acesso II no Anhembi terão arquibancadas gratuitas

O Carnaval da Vida acaba de ganhar uma novidade. Em 2022, os desfiles do grupo de Acesso II terão entrada gratuita em todas as arquibancadas do sambódromo do Anhembi. Para assistir às 12 agremiações que desfilam no dia 16 de abril, sábado, portanto, basta ter em mãos um comprovante do esquema vacinal contra a covid-19 completo.

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Divulgação/Liga-SP

Ingressos já comprados

Os ingressos adquiridos anteriormente para o dia 16 de abril, sábado, podem ser trocados no bar, durante o evento, por três cervejas ou refrigerantes. Quem não quiser fazer a troca, pode solicitar o reembolso através do e-mail [email protected].

Mesas e cadeiras de pista

Os ingressos para mesas e cadeiras de pista no dia 16 de abril, sábado, continuam à venda, com valores a partir de R$ 30. Em todos os setores onde há mesas e cadeiras de pista disponíveis, a entrada é paga. Apenas os lugares nas arquibancadas são gratuitos.

Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo

Os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo acontecem nos dias 16, 21, 22 e 23 de abril, no sambódromo do Anhembi. O ciclo encerra no dia 29 de abril, com o Desfile das Campeãs. Participam da última noite a campeã do grupo de Acesso II, a primeira e a segunda colocada do grupo de Acesso e as cinco escolas com as maiores somas de notas do grupo Especial, incluindo a grande campeã do ano. Os ingressos para as mesas e cadeiras de pista do dia 16 de abril e para todas as modalidades nas outras quatro noites de evento estão à venda pelo site www.clubedoingresso.com/carnavalsp.

Também é possível adquirir ingressos na bilheteria do sambódromo do Anhembi (Portão 1 – Avenida Olavo Fontoura, nº 1.209 – Santana), de segunda a domingo, do meio-dia às 20h; ou no Carioca Club, de segunda a sábado, das 13h às 17h. O endereço é rua Cardeal Arcoverde, nº 2899, em Pinheiros, a 3 minutos do metrô Faria Lima.

Ordem dos desfiles do grupo de Acesso II

20h – Brinco da Marquesa
20h50 – Camisa 12
21h40 – Uirapuru da Mooca
22h30 – Primeira da Cidade Líder
23h20 – Unidos de Santa Bárbara
0h10 – Torcida Jovem
1h – Nenê de Vila Matilde
1h50 – Unidos do Peruche
2h40 – Imperador do Ipiranga
3h30 – Amizade Zona Leste
4h20 – Tradição Albertinense
5h10 – Dom Bosco de Itaquera

Caramba! Ilha têm Ito incorporado, surpresa da bateria e canto forte em último treino antes do ensaio na Sapucaí

A Estrada do Galeão foi palco para o último ensaio de rua da União da Ilha antes de voltar à Marquês de Sapucaí para o treino oficial de preparação para o desfile da Série Ouro. No Grupo de Acesso, depois de 11 carnavais no Grupo Especial, a Azul, Vermelha e Branca insulana reuniu um bom público e um bom número de componentes no Cacuia, apesar de no mesmo horário acontecer a primeira partida da final do Carioca entre Flamengo e Fluminense. Por isso, a escola veio um pouco menor como imaginava o presidente, mas com muita garra e muita vontade de voltar ao Especial cantando muito o samba, impulsionado por Ito Melodia que incorporou, mais uma vez, e animou todo mundo.

A “Baterilha”, dos mestres Keko e Marcelo, trouxe para o ensaio uma surpresa que a dupla pretende apresentar na Sapucaí. Em um enredo religioso como esse, homenageando Nossa Senhora Aparecida, nada mais sonoro e dentro do contexto do que um grandioso sino, igual aqueles de igreja. E, ele era utilizado em uma das bossas. O presidente Ney Filardi era um dos mais empolgados com o artifício, e comentou em entrevista ao site CARNAVALESCO, antes do início do ensaio.

“Olha, a expectativa é muito boa, é evidente que em função do jogo, provavelmente vai tirar alguns componentes. O que não vai acontecer nem no ensaio técnico e nem no desfile oficial. Hoje, prestem atenção na bateria que teremos uma surpresinha hoje”.

Já o diretor de carnaval, Dudu Azevedo colocou o trabalho em equipe da escola como grande destaque do ensaio que terminou no estacionamento da quadra da União da Ilha do Governador.

“Gostei muito do ensaio. Canto da escola muito forte. Escola quase completa, muito bem preparada para ir sábado lá para Marquês de Sapucaí. Como destaque, eu acho que a gente está fazendo um trabalho de equipe tão grande, que é difícil a gente destacar algo. Se eu pegar desde o começo da escola, eu dou destaque para a comissão de frente, contagiando todos que assistiam, Danielle e Marlon, que dança maravilhosa que eles estão fazendo. Bateria toda redondinha e encaixado com o carro de som, com o Ito Melodia, hoje a gente estaríamos preparados para fazer um grande desfile. O samba abraçado por toda a comunidade. O Ito e a bateria inflamam a escola para cantar”.

A comissão de frente, de Priscila Motta e Rodrigo Negri, esteve presente ao ensaio. Antes do samba, Ito e o carro de som cantaram a música “Nossa Senhora” e trocaram o trecho que pede a santa para cuidar da “minha vida”, para “minha Ilha”.

Harmonia e Samba-enredo

O canto da escola foi muito bom. A comunidade da Ilha do Governador cantou com emoção, intensidade, impulsionada por Ito com seus famosos cacos, todos dentro do momento e que eram importantes para trazer aos componentes a responsabilidade de não deixar cair o samba. Talvez, algum ponto mínimo de correção seja nas alas após o segundo casal, algumas coreografadas que cantavam menos, mas nada que possa comprometer, e bastante fácil de corrigir.

A comissão de harmonia da escola é formada pelo quarteto Lucas Martins, Nancy Martins, Marcelo Marques e Vinícius Nogueira. Lucas e Nancy falaram à reportagem do CARNAVALESCO sobre a avaliação do canto da comunidade e o entrosamento com o carro de som.

“Sempre pode melhorar né? A gente teve dois ensaios de rua, a gente tem procurado compactar bastante a escola, puxar o canto do pessoal, a gente está satisfatoriamente bem no canto, mas ainda temos que fazer alguns ajustes. E sábado, com a proteção de Deus e Nossa Senhora Aparecida, nós vamos dar um show na Avenida”, entende Nancy.

“O Ito ajuda muito, ele chama o componente, ele levanta o público, levanta os componentes a fazer a evolução deles, a cantar forte”, completa Lucas Martins.

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Ito Melodia, mais uma vez, se entregou de corpo e de alma no ensaio. Ele avaliou o trabalho realizado com a comunidade e os próximos passos. “Muito feliz por tudo que está acontecendo. Carro de som pesadíssimo. Hoje recebemos também a Gi (Guedes) do Grupo Entre Elas, que vai estar se juntando ao grupo do carro de som, voz fantástica. Então, assim, a comunidade está cantando muito. Os componentes mostrando o amor pela escola, por esse samba e por esse enredo. Eu tenho certeza que as pessoas na Sapucaí vão chorar, vão se emocionar, vão querer descer da arquibancada para desfilar pela Ilha, porque será um ensaio técnico como no desfile oficial. A União da Ilha vai mostrar o porquê ela tem que voltar para o Especial e está preparada para isso”, finaliza Ito.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Com bastante elegância com a roupa predominantemente na cor azul, Marlon Flores e Danielle Nascimento não se pouparam e fizeram um ensaio com bastante intensidade. Em uma bossa que lembrava um Ijexá, os dois realizaram um passo de dança de religião de matriz africana. Marlon também chamou a atenção por um leque vermelho que usava para cortejar Danielle em movimentos suaves e entrosados.

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Marlon comentou sobre a importância do treino na rua para a preparação para o desfile. “Hoje, o nosso segundo ensaio de rua, para nós mestre-sala e porta-bandeira, é muito bom, pois nós podemos estar executando um trabalho para a cabine de jurados, aqui a gente consegue fazer o nosso tempo de desfile, consegue fazer a situação de todas as paradas técnicas e onde a gente consegue ver se tem ainda alguma coisa para ajustar e levar o que tem de melhor para o desfile. É onde a gente consegue sentir o parâmetro, ver se o público está gostando da nossa evolução, ver onde a gente pode trabalhar, onde o público gostou, insistir, e abraçar a proposta da escola e levar para a Sapucaí”, explica.

Danielle falou sobre em que nível está a preparação do casal. “Agora a gente está limpando só alguns movimentos, limpando as finalizações. Ensaiamos com a fantasia já, a fantasia está linda, maravilhosa, boa de se dançar, fiquei muito feliz ontem”, revelou.

Bateria

A “Baterilha” trouxe o sino como grande surpresa, bem marcado dentro do andamento e da bossa, mas não foi o único trunfo dos ritmistas comandados pelos mestres Keko e Marcelo. No trecho do samba que diz “Banhei seu rosário com axé, Na gira de candomblé, com Oxum na cachoeira”, os ritmistas tocavam um Ijexá. E no refrão principal, em alguns momentos, a bateria parava, marcando o tempo só com as baquetas e deixando os componentes cantarem. E, no trecho “Salve Imaculada Conceição”, a bateria prestava uma reverência a Nossa Senhora, com os ritmistas abaixando.

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“Graças a Deus a bateria mais uma vez está em peso, e é muito bom, porque a gente consegue aqui acertar os últimos detalhes, de bossa, de andamento. Hoje, por exemplo, nós vamos ensaiar uma bossa que nós ainda não tínhamos conseguido ensaiar na rua, uma bossa que vai ter um efeito interessante, que tem a ver com o enredo. E, além disso, é bom para o bairro, porque hoje virou uma tradição do bairro, o ensaio de rua movimenta o comércio, e fica todo mundo feliz”, explicou mestre Marcelo alguns minutos antes do ensaio para a reportagem do CARNAVALESCO.

Mestre Keko revelou que foi ao barracão da escola e se surpreendeu com o resultado. O comandante da “Baterilha”, junto com mestre Marcelo, também avaliou como positivo o ensaio. “Hoje mesmo foi o primeiro dia que eu estive no barracão e estou maravilhado com o que eu vi lá dentro. Quando a gente sai do Especial, é uma renovação, é um novo ciclo, mas Graças a Deus a gente sempre teve o pé no chão, a gente é bastante consciente da nossa estabilidade. A bateria vem trabalhando já dos estados de quadra, aqui na escola há bastante tempo, e como a gente tem uma bateria que eu posso dizer de 70 a 80 por cento da galera Insulana, da Ilha, isso já me conforta. É lógico que eu não vou dar nota 10, porque que seria eu para dar isso, mas estou confiante, é sempre que a gente tem que querer mais, a gente só vê de verdade no dia da Avenida, no dia da Avenida a gente incorpora, e acredito que a gente vai fazer um carnaval de uma forma bem positiva”.

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Evolução

O ensaio foi realizado em um dos sentidos da Estrada do Galeão, e apesar de ser um pouco apertado, as alas, comissão de frente e casal conseguiram evoluir bem. O único problema em alguns momentos era a grande quantidade de gente que acompanhava no canteiro e às vezes atravessava um pouco a pista, o que de certa forma é comum em ensaio de rua e difícil de evitar. Quase todas as alas carregavam algo na mão, o que dava um bonito efeito com as cores da escola, em geral muitas vezes era uma espécie de cajado ou lança. Mais para os últimos setores deu para perceber a presença de alas coreografadas se utilizando destes cajados para a realização da coreografia.

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Para o diretor de carnaval, Dudu Azevedo, a escola gabaritou tanto harmonia quanto evolução e está preparada para dar continuidade ao trabalho para o desfile. “A gente treina muito na rua harmonia e evolução e eles têm sido 100 por cento, vamos ver agora sábado, creio que a escola está muito bem preparada e faremos um grande ensaio na Marquês de Sapucaí”, promete o diretor.

A União da Ilha vai realizar seu ensaio oficial na Marquês de Sapucaí no próximo sábado, sendo a segunda escola da noite a desfilar no sambódromo. Com o enredo “o vendedor de orações”, a agremiação insulana será a quinta a desfilar na primeira noite da Série Ouro.

Beija-Flor de Nilópolis se torna patrimônio cultural imaterial do Rio

A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) decidiu transformar, no último dia 22, a Beija-Flor de Nilópolis num patrimônio cultural imaterial do estado do Rio de Janeiro. Proposto pelo deputado estadual Charlles Batista (PSL), o projeto de lei de número 5627/2022 justifica a medida pela “relevante importância (da Beija-Flor) no cenário cultural do Rio de Janeiro, reconhecida nacional e internacionalmente”.

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A iniciativa começou a partir de uma demanda da população nilopolitana, vocalizada pelo presidente da agremiação, Almir Reis, e levada ao conhecimento da classe política por meio do vereador Anderson Campos (Republicanos), de Nilópolis. O parlamentar foi quem levou o pedido à Alerj, com o suporte de Reis.

“A Beija-Flor de Nilópolis tem seguido em sua trajetória vitoriosa, trazendo alegria, cultura e diversão para toda a população de Nilópolis bem como a todo o estado do Rio de Janeiro”, diz trecho do projeto, que já está vigorando.

Entrevistão com mestre Caliquinho: ‘O que eu tenho feito é um trabalho de base. A gente tem que formar ritmistas em casa’

Desde 2011 à frente da Fiel Bateria, quando ainda dividia o comando dos ritmistas com mestre Gil, e de 2018 para cá sozinho, mestre Caliquinho é “cria” e até hoje morador do Santa Marta o que talvez tenha lhe dado um olhar mais apurado para descobrir talentos que surgem não só nesta comunidade, mas nos outros morros da Zona Sul. O ritmista, hoje mestre da bateria da Preta e Amarela, é também coordenador do projeto social Spantinha, que aproxima crianças e jovens do Santa Marta, uma versão para esta faixa etária do Bloco Carnavalesco Spanta Neném.

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Em entrevista ao site CARNAVALESCO, mestre Caliquinho explica como realiza o trabalho de base de percussão com as crianças e adolescentes das áreas carentes da Zona Sul, as dificuldades nas próprias relações com as famílias de alunos, fala de sua relação com a São Clemente e com o presidente Renatinho, além de revelar as preferências dentro do trabalho na Fiel Bateria.

O que representa para você estar à frente da bateria da São Clemente?

Mestre Caliquinho: “Caramba, representa muita coisa, eu não queria ser, mas quando foi ver, não é que caiu no meu colo, eu fiz por onde para chegar ao mérito de ser mestre e dei continuidade àquele trabalho que ‘os coroas’ que a gente fala, o Tião Belo, ‘Vivi’, Renatinho, dei continuidade no trabalho que eles deixaram. Modificou alguma coisa? Modificou de repente, hoje o jurado exige muito na afinação. Então a afinação a gente teve uma mudança, em 2013 nós mudamos a afinação, que a afinação era do agudo para o grave, hoje em dia é do grave para o agudo, e um pouco o que mudou também foi a evolução das paradinhas, que a gente ficou mais chatinho para fazer mais paradinha, isso aí que mudou um pouquinho”.

O seu trabalho é muito elogiado. O que foi feito desde que você assumiu o comando da bateria?

Mestre Caliquinho: “O que eu tenho feito é um trabalho de base. Desde que a gente assumiu temos feito um grande trabalho lá na comunidade do Santa Marta e adjacências, que é o Leme, tem o pessoal lá da Cidade de Deus, lá na descida do Humaitá, que é o Gil, eu e o Tião Belo fazendo um grande trabalho no Santa Marta junto com o Pezão que é meu irmão, tem o Jhonny, garoto bom lá, meu sobrinho Patrick, uma galera que também na São Clemente tem feito bastante aula de percussão aqui, que foi uma das primeiras escolas a começar com aula de percussão, depois que gerou essa parada toda aí das outras escolas fazerem. Quando se fala Grêmio Recreativo Escola de Samba, a gente tem que dar aula para a galera, formar ritmistas em casa. Então, a gente forma muito ritmista em casa e tem dado bastante resultado. Tem dados resultados muito bons, 2015 a gente emplacamos nos 40 quando eram quatro jurados, e de lá pra cá a gente não deixou a peteca cair, continuamos fazendo um grande trabalho. Aí teve um ano que oscilou, tomamos um 9,9 , mas procuramos saber onde a gente errou, e a gente fica ali em cima da galera para a gente não errar mais. E, não tem só aquela coisa de fazer o gosto do jurado, mas a gente faz um grande espetáculo que é para o público, a gente faz bossa para o público, a gente faz paradinha para o público, a gente faz ritmo para o público da Sapucaí, e ritmo também para manter a pulsação da escola”.

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Você trabalha muito com os meninos e meninas da comunidade. Como isso é feito?

Mestre Caliquinho: “O bom das comunidades, de ter um professor da comunidade é que você conhece realmente o fundamento de cada criança. Quando a criança chega um pouco revoltada você já sabe o porquê. O porquê da mãe que de repente é usuária de drogas, ou se não o pai, ou o pai que é revoltado, que bate nas crianças, e a gente abraça essas crianças como se a gente fosse um segundo pai, como se a gente tivesse apadrinhado o menino e a menina. E a gente vai na casa para entender, já que eu sou nascido e criado lá, fica mais fácil de abordar o pai e a mãe, e perguntar o porquê de a criança estar revoltada, ou por estar faltando. E, tem mãe que não deixa porque se faltar ao colégio, a mãe não deixa ir para a percussão. Porque eles são assim, querem faltar ao colégio e ir para a percussão. Não, eu falo que se faltar ao colégio não vai vir para a percussão. Então, de antemão, eu falo que tem que estudar para depois vir aqui para a percussão. E, o trabalho é árduo, porque, conforme eu falei, tem uns garotos revoltados, mas que hoje em dia tem garoto que era revoltado, mas hoje está como meu diretor aqui, e diretor em outros blocos também, porque a gente tem que levar a garotada para todos os blocos para passar um pouco da comunidade, para passear um pouco. Não adianta você também ficar lá o tempo todo só dando aula, e ficar lá. Não, você tem que mostrar o mundo conforme fizeram comigo, o Tião Belo me levou para o ‘Suvaco do Cristo’, para o ‘Espanta’, os blocos da Zona Sul que a gente tem lá, e me levou para outros lugares, para as escolas de samba, para eu reconhecer a batida de cada escola e eu fui aprendendo, ele foi me dando aula e eu fui tendo esse conhecimento de cada batida e também eu absorvi isso tudo e passei para frente para a galera toda. E a galera sabe fazer uma batida da Mocidade, sabe fazer uma batida da Unidos da Tijuca, sabe fazer partido alto, sabe da Mangueira, sabe fazer afinação, sabe montar e desmontar um instrumento, sabe a importância da afinação de cada instrumento, o carinho que a gente tem que guardar o instrumento, e saber como é que é a vida fora de uma comunidade. Nem tudo que está lá que eles pensam que é certo, eles têm que aprender aqui fora também que a gente tem que mostrar a grande sociedade para a garotada da comunidade”.

O que foi mais difícil quando você assumiu e teve que enfrentar o Grupo Especial do Rio de Janeiro?

Mestre Caliquinho: “O maior desafio era não ser conhecido. Tipo assim ‘quem é esse mestre aí?’. Ainda bem que eu vim, não é que na aba do Gil mais o Renato, eu comecei junto com o Gil. O Gil sempre me deu um suporte, tenho o maior carinho por ele, comecei junto com uma galera forte pra caramba, e os caras me deram a oportunidade de botar na frente da bateria. E, era uma coisa que eu não queria, não queria nem ser diretor, minha parada sempre foi ser ritmista e os caras viram o meu tamanho, o meu gesto, a minha dedicação em cada instrumento, o meu carinho pela bateria, então, fui, assumi aí. Quando eu assumi mesmo foi em 2018, mas até então vim no carnaval até 2018 junto com o Gil, depois eu assumi sozinho. Mas eu não estava sozinho, eu não sou sozinho, existe uma diretoria por trás de você, o Pezão, o Maraca, o Jhonny, Rafaelzinho, William que está agora no chocalho, o Lolo, o Léo, uma rapaziada que me dá o maior apoio, me dá a maior força e me dá o maior suporte para a Fiel Bateria tocar do começo ao final da Sapucaí”.

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Quem é sua referência em bateria no carnaval? E por qual motivo?

Mestre Caliquinho: “A minha referência sempre foi o Renatinho. O Renatinho foi mestre de bateria, não sei se todo mundo sabe, durante 19 a 20 anos. Minha maior referência foi ele. Também o Tião Belo pela tranquilidade para comandar a bateria e o mestre Celinho que ficou na Unidos da Tijuca por muitos anos, que montou aquela bateria, a bateria maravilhosa que é a Pura Cadência da Unidos da Tijuca”.

Como você enfrentou esses dois anos sem desfiles?

Mestre Caliquinho: “Foi bravo cara, se a gente não tem amigos, gente que colabora com a gente. Teve muitos amigos que graças a Deus colaborou com cesta básica da comunidade para segurar a onda porque parou foi tudo, não teve show, não teve samba, não teve desfile, não teve evento, e como é que faz isso se a gente depende disso, se a gente é músico? Ficou complicado, mas graças a Deus perante os amigos, a própria São Clemente fez doação de cesta básica. As escolas de samba se moveram, o Ritmo Solidário do China da Sapucaí também ajudou, então deu para segurar a onda devido a essa galera está ajudando, mas também a galera não deixou a peteca cair, foi lá, a galera rodou de bicicleta, trabalhou nos aplicativos para ganhar um dinheirinho. Porque se não fosse isso, a galera estaria meio que ‘ferrada’”.

Incomoda quando você ouve todo ano que a São Clemente é cotada para cair? Qual é a resposta?

Mestre Caliquinho: “Agora eu fico rindo, né? Eu fico rindo! Porque desde 2011 a gente está lá no Especial, quando sempre descia duas era cogitada a São Clemente e mais uma, e nunca foi. A gente fez um carnaval sem dinheiro, a gente não tem grandes patrocinadores, a gente não tem ‘bicheiro’, a gente é na garra. Aqui não é só bateria, a bateria ajuda no carro alegórico, a bateria ajuda na limpeza da quadra, a bateria ajuda trazer componentes, cada um traz dois componentes para desfilar na escola, e aqui a gente vem cantando à vera, não é escola de samba ‘modinha’, mas aqui, a gente vem na garra. A gente é cotada para descer porque falam que a gente é da Zona Sul e é playboy, né? E aqui não é bateria nem de playboy, e nem é escola de samba de playboy. E as comunidades que estão na Zona Sul? As comunidades sofridas que descem para caçar o pão de cada dia e depois vir no ensaio? Mesmo cansado? Estamos aí desde 2011 no Grupo Especial, e acho que vai ter que aturar mais um pouquinho, cara. Pela dedicação das comunidades que descem e vem aqui fortalecer a São Clemente, porque a São Clemente é da Zona Sul sim, mas também é das comunidades que estão na Zona Sul”.

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Como funciona o trabalho de vocês da bateria com o carro de som da São Clemente?

Mestre Caliquinho: “Sempre foi maravilhoso. Eu lembro que em 2004 era o Anderson Paz, ele entrou para fazer o carnaval de 2001, ficou até 2004, depois entrou o Clóvis Pê, depois o Leonardo Bessa, e sempre teve um vínculo com a Fiel Bateria, e sempre batemos um papo tranquilo, nunca teve um querer ser mais do que o outro. Porque não adianta só a bateria tirar 10, e o canto não tirar 10. Harmonia, carro de som. Aqui é um pelo outro. Aqui nós somos escola de samba. Aqui se a gente não receber, a gente vai continuar vindo. Tem escola aí que se o cara não receber, o cara vai fazer corpo mole. Então, quando a São Clemente está bem, pode-se dizer que os componentes vão estar bem, os funcionários vão estar bem. Se está mal, mas está todo mundo ali na hora do ‘osso’. Eu falo para o presidente, ‘presidente, na hora do osso a gente vai chegar junto, mas na hora do filé, a gente também vai estar junto com aqueles que chegaram na hora do osso’. Faltou falar do grande Igor Sorriso, que começou comigo lá no Santa Marta, mas já tinha começado comigo aqui, eu sou fundador da escola de lá, existe uma escolinha lá também, Mocidade Unida do Santa Marta, depois trouxemos o Igor para cá. Aí deu aquele show na Avenida em 2015 e nos outros anos, o Igor Sorriso, pô, hoje em dia está em São Paulo graças a Deus, e graças ao empenho e à dedicação dele. Leozinho é um garoto maravilhoso que também comigo deu o maior suporte, e hoje em dia está o Leozinho e o Maninho, grande garoto lá do Vidigal que está arrebentando aí no carro de som junto com o Leozinho”

Qual a preferência do Caliquinho? Bossas ou passa reto? E por qual motivo?

Mestre Caliquinho: “Uma bossa para apresentar para os jurados e pulsação mantendo o ritmo para a escola se manter cantando, manter mesmo o ritmo para a escola. Eu prefiro isso, eu amo bossas, sou o cara que quando entrou aqui novo pra caramba, só pensava em bossas, mas depois eu fui tendo um freio do presidente, fui tendo um freio da galera, falando ‘não é só bossa, Caliquinho, é ritmo’, então a gente vai aprendendo, né? Não é que a gente sabe tudo, a gente vai aprendendo cada vez mais e, eu prefiro ritmo, uma bossa mais para se apresentar para o público, e também para se apresentar para os jurados”.

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A bateria tem que fazer coreografia ou não?

Mestre Caliquinho: “Depende muito do enredo. Se for um enredo afro, a gente vai fazer a dança afro, se for um enredo alegre, a gente vai parar a bateria, como houve de 2016, a gente fazia uma bossa reverenciando os palhaços, fazia uma palhaçada, tinha uma ala que veio atrás da gente com 200 componentes e fazendo aquele panelaço. E, é tudo de acordo com o enredo que eu penso que tem que fazer, e, até a própria bossa tem que ser de acordo com a melodia do samba”.

Sobre fantasia, como foi até hoje a conversa com os carnavalescos que passaram pela escola e como está sendo agora com o carnavalesco para o desfile de 2022?

Mestre Caliquinho:”Tens uns medalhões que passaram que eles não perguntavam muito não, botavam a fantasia, tanto que teve um ano aí que a fantasia estava pesadíssima, eu expliquei para o presidente, ‘presidente está fantasia além de estar pesada o acústico dela faz segurar o som todinho da bateria ‘, então conforme for com roupa mais leve, mais ritmo sai, e os ritmistas se sentem menos sufocados. Por exemplo, tem que colocar uma fantasia luxuosa, beleza, eu concordo, mas contanto que ela seja leve e dê para o componente da bateria ficar à vontade, e mandar até dancinha ou coreografia dentro da bateria. Para 2022 vai vir leve, vai ser uma coisa engraçada porque quem vai fazer esse carnaval é um grande parceiro, Thiago Martin, ‘parceirão’, tem 10 anos de São Clemente e então a gente fez uma grande amizade, e tudo fica muito mais fácil de se trabalhar, tanto carro de som e carnavalesco, como harmonia, que é o Marquinho Harmonia que está há muito tempo na escola, eu nascido e criado na escola, então fica tudo mais fácil de lidar com essa galera”.

O presidente Renatinho tendo vindo da bateria ele dá muito puxão de orelha?

Mestre Caliquinho:”Ah, ele dá muita apitada. Toda hora ele está ali, ele desfila comigo lá na frente. Ele fala na hora que tem que fazer bossa, tem momento que ele quer a bossa que não está na hora e eu falo ‘calma, que vai chegar’, então a gente ali é como se fosse pai e filho. Vou na casa dele e converso com ele, ele também vai na minha casa na comunidade do Santa Marta, é um cara diferenciado, se está bom ele fala na rede social, se está ruim ele também vai lá reclamar, mas a gente entende a preocupação dele, que é uma escola de samba que veio do falecido Ivo que é o pai dele, e ele tem uma grande paixão por essa escola aqui, que é uma escola de família”.

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O som da Avenida é alvo de reclamação de todos os mestres. Qual sua análise?

Mestre Caliquinho:”Eu também já reclamei muito, fui lá na plenária da Liesa já reclamei bastante porque eu fui penalizado por causa do som da Avenida, o som da Avenida, tipo assim, oscilando, oscilando muito, então não dava para fazer a convenção, tinha que levar reto, o carro de som estava com uma pegada e as caixas da Avenida estavam em outra. Mas, a Fiel Bateria teve como segurar porque nós cantamos pra caramba o samba, e teve como passar, esse último ano de 2020 foi meio que um sufoco, mas deu para passar. Mas, tem como melhorar, eu acho que tem como melhorar”.

Qual foi seu desfile inesquecível na São Clemente? E qual gostaria de esquecer?

Mestre Caliquinho:”Inesquecível foi o 2015, ali, por mais que a nossa fantasia não fosse lá essas coisas, a fantasia não era lá essas coisas, mas o ritmo era impecável. E, o que eu queria esquecer era o de 2017, poderia ser melhor, aquela questão que eu estava falando, a roupa, a roupa atrapalhava muito, então poderia ser melhor”.

Referências no quesito comissão de frente, Rodrigo Negri e Priscilla Motta prometem emocionar os mangueirenses no desfile

No carnaval do Rio de Janeiro, não há como falar de comissão de frente sem citar o casal de coreógrafos Rodrigo Negri e Priscilla Motta, que revolucionaram o quesito, em 2010, no título da Unidos da Tijuca, com “Segredo” e a comissão que fazia diversas trocas de roupa na avenida. Em seu terceiro carnaval na Estação Primeira de Mangueira, a dupla promete emocionar os mangueirenses com a comissão do enredo que homenageia três ícones da escola: Jamelão, Delegado e Cartola.

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Fotos: Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

O enredo Mangueira, “Angenor, José & Laurindo” , desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira, busca homenagear três grandes figuras da Estação Primeira de Mangueira, do morro da Mangueira e do carnaval, retratando-os também como figuras do cotidiano da nossa sociedade, um baleiro, um engraxate e um camelô. Diante de tamanha responsabilidade, ao ter que falar de figuras históricas da verde e rosa, que há tempos eram aguardadas como enredo, Priscilla e Rodrigo dizem se sentirem honrados por estarem vivendo esse momento na Mangueira.

”Honra, privilégio e sorte de estar vivendo neste tempo, neste momento e estar na Mangueira neste momento é muito especial. É um enredo feliz, é um enredo que, depois de dois anos e tudo que a gente viveu, a sociedade brasileira principalmente, a gente vem pra lavar a alma e essa chuva veio realmente pra lavar”, afirmou Priscilla. ”É, como a Pri falou, um privilégio”, completou Rodrigo.

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Mas, apesar de toda honra e emoção de retratar os três baluartes da Estação Primeira de Mangueira, Priscilla e Rodrigo relatam maior dificuldade em projetar um trabalho de comissão de frente em enredos que abordam homenageados. “É mais difícil, mas eu acho que depois que a gente engatou na ideia, é um prazer e uma honra tão grande que o trabalho deslanchou. Então, a gente está muito feliz com o resultado”, garantiu Rodrigo.

Sem querer adiantar muitos detalhes, sobre o que não pode faltar para esse enredo ou se os homenageados estarão já na comissão de frente, “sem spoiler”, Rodrigo e Priscilla falaram sobre o fator que consideram principal no trabalho realizado para o carnaval de 2022: a emoção. Classificado pelos dois como o projeto que mais os emocionou, o casal trata a comissão como um “presente para o mangueirense”.

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”A gente não pode falar, mas assim, vai trazer muita emoção. As pessoas podem esperar que é um dos trabalhos que mais tocou o nosso coração e pode ter certeza que vai ter muita gente emocionada”, disse Rodrigo.

No ensaio técnico na Sapucaí, o casal brindou o público com uma apresentação de comissão de frente formada por 15 homens, vestidos com roupas verde e rosa e chapéu “estilo Delegado” e uma bela dança, com muito samba no pé. O casal garante ter um entrosamento de primeira com o carnavalesco Leandro Vieira, que está em seu sétimo ano na escola.

“A relação é a melhor do mundo. O Leandro é um amigo, um parceiro, a gente se fala todo dia no barracão e depois no telefone em casa, o tempo todo junto, a gente curtindo o que ele faz, ele curtindo o que a gente faz, é sucesso”, comentou Priscilla. ”A gente já tem uma parceria, é o terceiro ano, então assim, o Leandro é um parceiro, está o tempo inteiro conosco nos ensaios”, afirmou Rodrigo.

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Por fim, o casal revelou um único detalhe da apresentação da comissão de frente da Mangueira no carnaval de 2022: a utilização de um elemento cenográfico, tripé, o maior usado por eles na escola, até aqui. Além de estar inserido no contexto do enredo, o elemento cenográfico será usado pelo casal como “backstage”, espaço de bastidor que pode ser usado para trocas de roupa, guardar materiais, esconder integrantes que não estejam participando da cena no momento e dentre outras coisas.

“Vamos utilizar o elemento cenográfico, que é um elemento de apoio para que a gente consiga colocar nossas ideias em prática”, explicou Priscilla. “Eu acho que o elemento bem inserido dentro do enredo é super válido. Ele serve de backstage, então assim, é o primeiro ano na Mangueira, que a gente vem trazendo um elemento cenográfico, nos outros anos nós trouxemos um tripé menor e esse também não é tão grande, mas é um elemento cenográfico que vai servir de backstage pra gente”, completou Rodrigo.

Com o casal de coreógrafos super gabaritados no quesitos e promessa de muita emoção, a Mangueira tem tudo para abrilhantar ainda mais a primeira noite de desfiles, dia 22 de abril, com uma bela comissão de frente e o enredo “Angenor, José & Laurindo”, em homenagem aos mestres Cartola, Jamelão e Delegado.

Série Barracões: Império da Tijuca projeta desfile com muita expectativa da comunidade no enredo e samba

O Império da Tijuca desde o carnaval de 2013, vem arrancando muita expectativa e curiosidades do público quanto aos seus desfiles. Depois da merecida subida ao Grupo Especial com o enredo: “Negra, Pérola Mulher”, a escola vem mostrando um ótimo trabalho e desempenho, que muito se deve também à sua administração e ótima escolha de profissionais. Apesar da chegada triunfal ao Grupo Especial no carnaval de 2014, a escola logo foi rebaixada novamente ao Grupo de Acesso, atual Série Ouro. O rebaixamento foi tão inesperado que repercute comentários até hoje, não só dos componentes da escola, mas sim por todos os sambistas.

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Fotos de Isabelly Luz/Site CARNAVALESCO

O jovem carnavalesco Guilherme Estevão é o responsável pelo desenvolvimento do desfile de 2022. O enredo “Samba de Quilombo – A Resistência pela Raiz” gerou muita expectativa não só na comunidade, mas também no próprio artista. “Eu comecei no carnaval virtual com 13 anos, onde eu ganhei três vezes no Grupo Especial, e isso acabou chamando atenção das pessoas no carnaval real. No carnaval real eu trabalhei da série de avaliação até o Grupo Especial como assistente e como figurinista, e fui fazendo como assistente e projetista alegórico várias outras cidades: Uruguaiana, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, etc. Em 2018, quando eu de fato viro assistente do Jaime Cezário no Porto da Pedra, isso abre uma porta fundamental e então eu chego no Grupo Especial como assistente na União da Ilha, e no mesmo ano faço a Independentes de Olaria como carnavalesco, resultando na vitória da escola e diversos prêmios. A partir desse trabalho o Império da Tijuca me convida e hoje estou há três anos no Império da Tijuca com um desfile só. Eu costumo brincar aqui que eu sou o carnavalesco mais longe da escola com um desfile só. Estamos indo para o segundo ano, o primeiro ano foi um ano também atípico porque eu chego na escola já com tema de enredo definido, tema da Educação, eu tive que desenvolver. Esse ano vai ser o primeiro carnaval com um tema meu apresentado a escola, por isso é um carnaval com muita expectativa”.

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O Império da Tijuca levará para o Avenida, no dia 22 de abril, o enredo sobre “Quilombo”. Durante a entrevista, Guilherme Estevão contou ser um dos enredos favoritos do público, já era uma vontade sua de muito tempo, e que na verdade essa vontade teria sido descoberta através de uma pesquisa por até então outro enredo sobre Solano Trindade.

“Esse enredo já está guardado na minha gaveta tem uns anos. Eu comecei a descobrir a história do Quilombo pesquisando outro tema, que era Solano Trindade, um importante poeta negro, e com isso acabei descobrindo que Solano havia sido enredo em 1982 de uma escola chamada Quilombo, a qual eu ainda não conhecia. Quando fui descobrir que diacho de escola de samba era aquela, eu pensei: Caramba, que história incrível! A partir disso, me abriu um leque enorme. Obviamente eu tinha alguns receios, até porque o Quilombo é uma escola de samba contra esse processo que a gente vive hoje, a disputa. O Quilombo não disputava carnaval, ele era manifesto contra algumas questões do carnaval. Mas ao passo que eu fui pesquisando Quilombo, eu fui encontrando uma série de similaridades com o Império da Tijuca, então isso foi cada vez mais agregando valor e me sinalizando de que eu deveria trazer esse tema que foi logo abraçado pela diretoria da escola e depois pelos componentes, e eu acho que por todo o grupo de sambistas que amam o carnaval e reconhecem a importância de trazer um enredo como quilombo nesse momento em que estamos vivendo”.

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Quando perguntado sobre o que mais o fascinou na pesquisa pelo enredo, o artista do Império da Tijuca citou: “Eu acho que foram esses pontos de encontro com o Império. Primeira questão que eu achei incrível foi um elo espiritual que eu nem conhecia, o Império da Tijuca e o Quilombo são do mesmo dia, 8 de dezembro. Também possuem a mesma padroeira (Nossa Senhora da Conceição- Oxum), então ali já dizia que elas tinham que estar juntas. O Quilombo querendo ou não, não é uma história antiga, a gente está falando de uma história com menos de 50 anos e que muita gente não conhece, além de ter envolvido muito baluartes do carnaval, pessoas que são fundamento e raiz da história do samba e do carnaval e que a história foi omitida e negligenciada durante esse período. Até o conteúdo do Quilombo foi difícil de encontrar, fui buscar através de tese de doutorado e documentários. Quando vamos descortinando os desfiles do Quilombo, porque até mesmo se falar do Quilombo, se lembrava muito do período em que Candeia era vivo. Candeia fundou a escola em 1975 e ficou até 1978. Mas o Quilombo desfila até 1985, então tem uma serie de personagens e de movimentos da cultura afro brasileira de exaltações que o Quilombo fez, que foram muito enriquecedores de descobrir durante essa pesquisa. E mais do que isso, identificar músicas que as pessoas cantam em rodas de samba que elas nem sabem que eram samba enredo do Quilombo. Martinho da Vila, Luiz Carlos da Vila, Nei Lopes. Quando a gente passa a encaixar as peças, as coisas ganham um olhar e uma importância ainda maior”, relatou o carnavalesco.

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Não é de hoje e nem segredo para ninguém a discrepância financeira entre o Grupo Especial para a Série Ouro e o quanto essa diferença implica na qualidade do desfile. Por conta da falta de verba, muitas escolas possuem dificuldade seja para se manter no Acesso ou para se manter no Grupo Especial quando sobem. O que já era difícil em tempos normais, se tornou ainda mais complicado em momentos de pandemia.

“A gente está sempre tendo que se adaptar à realidade que é muito dura aqui na Série Ouro, eu diria até que no último carnaval foi ainda pior, porque a gente não teve subvenção alguma, foi um carnaval de milagre aqui no Império da Tijuca, trouxemos notas e um desfile digno. Esse ano a dificuldade também é enorme, querendo ou não você passa dois anos dentro de um projeto em que você repetidas vezes para e anda. Até janeiro as perspectivas eram uma, depois você muda as perspectivas quando mais uma vez interrompe o ciclo e adia o carnaval. Você tem mudança de regulamento justamente pela realidade em que o país e consequentemente o carnaval enfrenta. Foi um carnaval muito cansativo em todos os sentidos. A realidade financeira nos obriga a criar soluções. Aqui no Império a gente buscou fornecedor de vários lugares diferentes para conseguir dar conta de trazer material bom para esse lugar, porque a gente passa por uma crise de produção muito séria aqui no Rio de Janeiro e no país depois da pandemia. Os valores dos produtos estão muito altos por causa do dólar. A gente já tem uma dificuldade muito grande em relação ao calendário do repasse de verba, é uma indefinição muito grande sobre as coisas, e aí a gente tem toda essa incerteza sobre a realização ou não do carnaval. Acho que no final a gente quer muito que esse carnaval saia não só para mostrar o nosso trabalho, mas também para dar uma pausa na cabeça, porque é um cansaço imenso durante esses dois anos de ciclo. Foi talvez o ciclo mais desgastante para todo mundo, não só para o Império da Tijuca, mas sim para todo o Acesso e Intendente, onde esse processo com certeza foi ainda pior”.

Enredo e samba

Mesmo com todos os empecilhos, a escola promete não só para a comunidade do Morro da Formiga, e sim para todo o público um ótimo espetáculo. No barracão, junto ao carnavalesco Guilherme Estevão, outras figuras importantes lutam apelos últimos ajustes para o desfile da escola, destaque para o diretor de barracão Luan Telles e o chefe dos aderecistas Rafael Furtado. A escola conta com 1500 componentes, 20 alas, 3 carros e 2 tripés, sendo um da comissão de frente.

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O Império da Tijuca é sempre reconhecido por seus belíssimos sambas por consequência de enredos muito bons. O carnavalesco defende a importância social do enredo da escola para a sociedade, além de prometer um desfile trazendo a verdadeira essência cultural do samba, exaltando a personalidade negra e a tornando protagonista da festa.

“Eu acho que o grande trunfo do desfile é ser verdadeiro com aquilo que é a essência do samba. A gente vive um momento que é delicado, é o momento da transformação do carnaval, de desgaste de muitas formas, desgaste do processo que o carnaval vivia em termos de mercado, em termo de gigantismo. A gente passou agora dois anos sem carnaval, estamos vivendo uma nova realidade, que de alguma maneira obrigou as escolas de samba a se reaproximarem do seu próprio público, da sua própria comunidade, nas ações sociais, na ajuda ao enfrentamento da pandemia, nos problemas e nas dificuldades que a gente teve para os trabalhadores do carnaval. Acho que trazer um enredo que fala da essência fundamental do carnaval, que é o samba de verdade, é o reconhecimento e protagonismo negro na festa, a cultura afro brasileira essencialmente eu acho que é um trunfo muito grande para a gente. Estamos falando de raiz e de identidade, todo mundo que estava vivendo ali, sobretudo no Grupo de Acesso que é uma coisa mais povão, mais verdadeira, o caráter emocional da coisa ganha uma proporção muito maior, então eu acho que essa verdade que vai estar inserida tanto no desfile quanto no samba, é o grande trunfo que a gente tem, mais do que um elemento x ou y”.

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Quanto ao impacto social do desfile, Guilherme Estevão afirma: “Esse enredo é importante justamente para a gente passar a se renxergar como escola de samba, como movimento cultural negro, entender o protagonismo do artista negro na festa, se reexergar também não só como objeto de mercado. A gente entende que hoje o carnaval é uma grande cadeia produtiva, gera bilhões para o estado e para a cidade, além de milhares de empregos, mas a gente também precisa entender a lógica fora do mercado do carnaval. É ruim a gente sempre só exaltar a questão financeira para justificar a sociedade que é importante ter desfile de escola de samba. É muito importante exaltar isso, é claro, mas a gente não pode perder de vista o caráter cultural, histórico e ancestral que envolve a escola de samba. Eu acho que esse enredo é justamente olhar para si novamente e entender o que é raiz e fundamento. Foi isso que o Quilombo fez em forma de protesto. Quando se cria a escola de samba é um protesto justamente contra esse novo olhar de mercado, isso lá na década de 70 e a gente segue vivendo isso agora em 2022”.

Entenda o desfile

Setor 1: “O primeiro setor do Império a gente começa apresentando as bases e os fundamentos do Quilombo, o que orienta esse projeto de escola de samba, que é a ancestralidade, a tradição, a resistência do povo preto e a proteção da cultura negra, arte negra. A gente abre com esses fundamentos para mostrar o que o Candeia chamava de nova escola”.

Setor 2: “Passamos para o segundo setor, onde vamos mostrar quais eram as bandeiras de luta desse Quilombo. O Quilombo está inserido no processo da década de 70, que é um momento de ressurgimento do movimento negro, que estava sendo clandestino e oprimido durante a ditadura militar, e aí nesse processo surgem vários núcleos de pensamentos políticos, culturais e sociais da cultura negra e um movimento unificado negro que dentro desse processo estava o Quilombo. Então o Quilombo tinha várias bandeiras de luta, era o reconhecimento da negritude brasileira, do papel político do negro, o processo quanto a essa mercantilização do carnaval e contra esse embranquecimento do carnaval. Ou seja, esse afastamento do protagonismo negro e valorização dos artistas plásticos que não são da comunidade e não vieram da comunidade”.

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Setor 3: “No terceiro setor, a gente mostra que o Quilombo era um centro de artes negras, como diz o próprio nome da escola, então era o lugar onde as práticas folclóricas e culturais negras eram exaltadas, como a capoeira, o jongo, maracatu, afoxé, samba de caboclo e rituais afro religiosos. E a gente encerra o desfile trazendo todos os desfiles do Quilombo, os quais tinham como obrigação homenagear heróis, momentos ou lutas da cultura afro brasileira. Então esses desfiles trouxeram Zumbi dos palmares, Solano Trindade, os 90 anos da abolição, os cinco séculos de resistência”.

Setor 4: “E então encerramos isso tudo unindo essas duas resistências, a resistência negra do Império da Tijuca com a resistência negra do Quilombo, que tem um elo para além de resistência e de cor por se reconhecerem escolas pretas, tem um elo espiritual que é o elo da padroeira Oxum, então as escolas tem algo muito íntimo e muito forte que une as
duas agremiações e em todos os sentidos”.