Início Site Página 977

Fábio Ricardo destrincha desfile da Mocidade na série ‘Barracões Grupo Especial Rio’: ‘Escola precisava de um enredo afro’

A espera foi longa, mas a Mocidade Independente de Padre Miguel, enfim, levará um enredo afro para a Marquês de Sapucaí. Com o ‘Batuque ao Caçador’, a escola vai homenagear o orixá Oxóssi, além de fazer uma reverência à bateria ‘Não Existe Mais Quente’ e aos grandes mestres que a comandaram. À reportagem, o carnavalesco Fábio Ricardo revelou que a temática afro já era um desejo antigo da comunidade e explicou como a ideia do enredo chegou até ele.

barracao mocidade22 7

“Quando eu fui contratado pelo presidente Flávio, já havia a ideia de fazer esse enredo. A escola já queria fazer um enredo afro que há muitos anos não fazia. E aí se uniu essa ideia a fazer uma homenagem ao padroeiro da escola e da bateria. Rolou até aquele boato que ia ser Azeite, mas é papo que surge por aí. A partir daí eu entro, e começo a me reunir com as pessoas da escola para pensar o enredo. Por sempre respeitar onde estou pisando, fui entender o que a escola estava precisando”, disse Fábio, que emendou:

“Um, ela precisava de um enredo afro, com toda uma plástica afro; dois, ela quer fazer essa homenagem ao padroeiro; e três, que é homenagear a bateria. Essas três vontades se uniram e surgiu esse enredo. O presidente me deu toda liberdade para desenvolver o enredo e eu fui montando. Poderia se chamar ‘Oxóssi’, ‘Odé’, ‘Caçador’, mas dentro dessa atmosfera de estudo, a gente optou pelo ‘Batuque ao Caçador’, pela forma como a gente iria montar o enredo”, completou.

fabio ricardo2

O último enredo afro da Mocidade havia sido em 1976, com ‘Mãe menininha do Gantois’, do gênio Arlindo Rodrigues. Candomblecista, Fábio Ricardo explicou que a construção do Carnaval passou por várias pessoas, desde o historiador André Luis Júnior, ao jornalista Fábio Fabato, que escreveu a sinopse do enredo, até o diretor Marino, que trouxe a essência da escola ao tema. O carnavalesco, que demonstrou preocupação em não transformar 2022 em um ‘Vira, Virou’ (enredo campeão em 1990), falou sobre o que lhe chamou mais atenção durante a pesquisa para o desfile.

“O que mais me chamou atenção nessa pesquisa foi conhecer mais sobre a Mocidade. Porque antes, eu só via os grandes carnavais que a escola já tinha feito. Então, eu tive a grande e grata surpresa de logo no meu primeiro ano de escola fazer um enredo que aprendi a história da escola a fundo. Isso que para mim foi o mais legal. É muito bom fazer esse serviço para a Mocidade e ao mesmo tempo aprender sobre ela, porque todo ano o carnavalesco tem uma grande aula de história”, contou Fábio, antes de completar:

barracao mocidade22 8 1

“Eu trabalho tudo dentro do barracão, faço meus horários aqui, crio, desenho, pesquiso na Cidade do Samba. E eu, nessa pandemia, tive a felicidade de fazer isso tudo em um momento único meu. Eu acho que também estava com a essência do orixá vibrando em mim. Foi muito marcante para mim essa montagem de enredo, de um orixá muito respeitado, que tem importância gigante na escola e na vida de qualquer pessoa, além de ser o orixá que eu sou feito”, revelou o artista.

Aos 47 anos, Fábio Ricardo faz seu primeiro ano na Mocidade. Antes, o carnavalesco já havia somado trabalhos por outras grandes escolas, como: Grande Rio, São Clemente, Império Serrano, Rocinha e Unidos de Padre Miguel. Presente no mini desfile na Cidade do Samba, o artista afirmou ter ficado impressionado com a força da comunidade e rasgou elogios ao samba, comissão de frente, e ao casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Ao CARNAVALESCO, Fábio afirmou que o grande trunfo da Mocidade será a retomada da grandiosidade da escola, e os componentes se sentirem parte do enredo.

fabio ricardo

“A palavra campeonato é consequência do que vai acontecer lá na hora, na Sapucaí. Não estou sendo pessimista, pelo contrário, estou muito otimista. Vou tentar fazer o meu melhor com todos os recursos que eu tenho à disposição. Agora, sobre o desfile, independente das fantasias, carros alegóricos, quero respeitar a escola e trazer de volta a imagem de grandeza que é característica da Mocidade, sem desmerecer que passou por aqui. O grande diferencial acho que vai ser a própria escola enxergar o que ela queria e precisava ver na Avenida. A força dos componentes vai levar à Mocidade a um grande desfile”, comentou Fábio.

Em 2020, em um enredo sobre Elza Soares, rodeado de expectativas, a Mocidade não fez grande desfile na questão plástica. No quesito fantasia, a Estrela Guia perdeu três décimos, que lhe renderia o título caso gabaritasse o quesito. A agremiação ainda levou um 9,8 em Alegorias e Adereços, mas a nota foi descartada. Por conta disso, a escola optou por uma troca de carnavalescos e trouxe Fábio Ricardo, que conseguiu nota máxima nos quesitos citados no desfile pela Unidos de Padre Miguel há dois anos.

barracao mocidade22 9

“A escola me contratou exatamente por conta disso, das fantasias e alegorias. Eu desenhei todas as fantasias e fiz todos os pilotos, agora elas estão sendo reproduzidas. As alegorias, a mesma coisa. O meu melhor eu estou dando para conseguir sempre as notas 10, como tem acontecido nos últimos anos. Eu gosto de ser elegante nos meus carros, de ser limpo e de fácil entendimento. Não adianta fazer luxo pelo luxo, ou coreografia por coreografia. Eu faço tudo com base e conhecimento, dentro do que foi proposto, não fazer por fazer”, explicou o carnavalesco.

No desfile, a Mocidade trará Oxóssi com uma anunciação em um primeiro momento, passando por suas origens e orixás relacionados. Na sequência, a Estrela Guia contará histórias e lendas de Oxóssi, seguida da chegada do orixá ao Brasil. Por fim, a escola fará uma grande homenagem à bateria ‘Não Existe Mais Quente’ e seus mestres citados no samba, com a tradicional batida do agueré para o orixá. O último setor terá fantasias de baterias de desfiles históricos da Mocidade. Fábio Ricardo encerrou com uma explicação do desfile setor a setor.

Entenda o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

1° SETOR
“Nosso primeiro setor vai ser uma grande anunciação a esse grande orixá, um tributo a Oxóssi. Nesse setor já vamos abordar a ancestralidade desse grande batuque que surgiu há milhares de anos, com o toque do agueré. Nós vamos pedir permissão a Orum, para que Orunmilá determine o caminho certo que a Mocidade vai tomar para contar essa história. Então, já teremos no início esse toque do agueré com os tambores africanos, com uma grande falange de olodés, que é um conjunto de caçadores”.

barracao mocidade22 6

2° SETOR
“No segundo momento, a escola vem falando sobre a origem desse orixá, onde nasceu, quem está envolvido e qual a família dele, representado pelos idilés. E entre as alas vem toda família dele, Exú, Ogum, Iemanjá. Neste setor, a gente explica porque Oxóssi é o senhor da prosperidade, da caça. Então tudo sobre a forma dele entra nesta parte. Falamos da importância de Ogum, irmão que deu a ferramenta e ensinou ele a caçar. Vamos abordar também Ossain, que é o orixá do plantio, onde Oxóssi aprendeu o poder da cura e feitiços através da planta”.

barracao mocidade22 4

3° SETOR
“No terceiro momento, vamos mostrar os itans, que são as lendas de passagens de Oxóssi por alguns outros orixás, como: Iansã, por qual Oxóssi foi extremamente apaixonado; Otim, que foi uma amiga caçadora inseparável dele; Oxumaré, que foi a cobra que ele não podia matar, como tem na letra do samba; e Oxalá, o deus maior que deu muitas missões para Oxóssi. Então são esses itans, que são contados em casas de candomblé e em rodas de xirê, e a gente transmite isso para a Sapucaí”.

4° SETOR
“O quarto setor é a passagem dessa essência e energia do orixá e chegada dele ao Brasil. E aí, por aqui, já chega de uma forma discriminada, onde entra o sincretismo religioso, no qual Oxóssi é representado por São Sebastião. E nesse setor, os negros chegam ao Brasil como escravos e tem contato com os indígenas que já estavam aqui. E aliados os dois povos, também nasce a Umbanda. E a gente fecha esse quarto momento da escola com uma grande reverência a todas as casas de candomblé por todo o Brasil que tocam esse agueré. E esses tambores, que saem da ancestralidade, passam pela família, dos itans, de guerra e chegam às casas de candomblé, que são os atabaques. E é justamente em uma dessas casa, a da Tia Chica, que nasce e é levado o agueré para dentro da bateria da Mocidade”.

barracao mocidade22 3

5° SETOR
“O último setor vai ser uma grande bateria, homenageando todos esses grandes mestres que fizeram história na Mocidade. E a gente termina o desfile justamente com a ancestralidade, só que dessa vez dos grandes mestres que marcaram a bateria com o toque do agueré aqui dentro. Nessa constelação de estrelas dentro da estrela maior, que é a Mocidade, a gente tem o conjunto de pessoas que são parte da história da escola. A gente retorna, então, à essa ancestralidade não só de Oxóssi, como a da bateria da escola”.

barracao mocidade22 5

Ficha técnica:
Número de alegorias: 5
Número de tripés: 1
Número de alas: 31
Número de componentes: 3500
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Diretores de barracão: Wagner Félix e Alex Furtado
Aderecistas de carros alegóricos: Luciano Furtado e Junior Fontoura (Mineiro)
Projetistas de alegorias: Fernanda Teixeira e Renato Esteves

Entrevistão com Phelipe Lemos e Denadir Garcia: ‘o julgamento do quesito muitas vezes é subjetivo demais’

Casal formado para desfilarem juntos na Unidos da Tijuca no próximo carnaval, Denadir e Phelipe não veem a hora de poderem voltar ao solo sagrado da Sapucaí. Anunciados em 2020, a dupla que já nutre uma amizade de longo tempo, teve que se virar durante a pandemia e Phelipe conta que buscou novas fontes de receita para manter a casa e sustentar a família. Agora, com pouco tempo faltando para o desfile oficial, os preparativos estão a todo vapor para que a estreia do casal possa acontecer de forma maravilhosa.

denadir phelipe

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Phelipe e Denadir comentam o que admiram na dança de cada um, contam as dificuldades de quase dois anos sem pisar na Sapucaí e sobre as consequências de terem ficado muito tempo parados, citam os casais que são referência no carnaval, além de explicarem alguns conceitos que preferem na dança e na caracterização com a fantasia.

Como vocês receberam o convite para dançarem juntos?

Denadir: “Foi o Casagrande que indicou, se eu não me engano, o Phelipe também, mas a mim foi o Casagrande e a Geissa (assessora da Unidos da Tijuca) que me indicaram para a escola, e aí o Casagrande me ligou marcando uma reunião com o seu Fernando Horta no dia seguinte. E eu adorei o convite porque a Tijuca sempre foi uma escola que eu sempre quis desfilar, tem samba exaltação que é maravilhoso, e é uma escola que empolga muito”.

Phelipe:”Depois do rebaixamento da União da Ilha algumas escolas entraram em contato comigo para ver uma possível contratação. E aí o Casagrande, ele falou comigo em uma ligação e perguntou se eu tinha o interesse de vir para a Tijuca, de defender o pavilhão da Tijuca, e eu fiquei muito feliz, principalmente por ser ele um ícone da escola, um mestre muito renomado no carnaval, só que eu não sabia quem seria a porta-bandeira. Daí eu fiquei muito contente em saber na hora que eu fui conversar com o presidente Fernando Horta que a porta-bandeira seria a Denadir, que é minha amiga de mais de 20 anos, que me deu grandes oportunidades também no mundo do samba e isso me deixou mais feliz e mais empenhado para eu poder vir para a Unidos da Tijuca. É claro que também agora é uma responsabilidade muito maior por ela ser uma porta-bandeira experiente, a mais experiente que eu já tive. Adquiri muita experiência também com a Rafaela (Theodoro) e com a Dandara (Ventapane), mas elas eram menos experientes. E agora também me dá muita tranquilidade porque eu tenho uma grande porta-bandeira do meu lado”.

denadir phelipe2

De um para o outro. Citem características que gostam do outro na dança?

Denadir:”Eu gosto do modo como ele se veste, da elegância dele, eu gosto do riscado dele, e assim, o que eu mais gosto na dança do Phelipe é que não tem como dançar com ele sério. Não digo sério de não estar sorrindo, você está sorrindo, mas ele está o tempo todo ali fazendo sempre uma brincadeira, inventando sempre um passo novo, e isso eu gosto muito, é muito legal, o trabalho se torna muito descontraído”.

Phelipe:”A Denadir é muito guerreira, é uma porta-bandeira muito tradicional, uma dança característica de força, aguerrida, também tem seus momentos de leveza, bailarina, mas não é tão bailarina assim, ela uma porta-bandeira mais raiz, que reproduz o que Maria Helena fazia, até mesmo da Lúcia (Lucinha Nobre), que é uma porta-bandeira que tem um pouco do balé na dança, mas é aquilo mais tradicional. Eu acho que essa tradição que ela carrega na dança dela é o que me encanta”.

Ficar dois anos sem desfilar é puxado para todos os casais? Pode impactar no desfile?

Denadir:” Eu espero que não fique, mas eu acredito que não é impactante para gente porque o casal de mestre-sala e porta-bandeira, ele não pára, acabou o carnaval a gente descansa, vamos botar aí um mês, no máximo dois meses, depois estamos ensaiando de novo, tem que colocar o corpo em movimento, teve a pandemia, ficamos um ano e pouco, quase dois, sem desfilar, eu e o Phelipe, a gente estava a todo tempo colocando o corpo em movimento, todo o tempo ensaiando, sempre fazendo funcional, porque o corpo não pode parar”.

tijuca ensaiotecnico2022 28

Phelipe: “Provavelmente vai impactar. Pode ser que positivamente ou negativamente para alguns. Eu fiquei um ano e oito meses sem praticar a dança, mas cuidando da minha saúde física, cuidando do meu psicológico principalmente porque eu acho que o que vai contar muito nesse carnaval é o psicológico. Então, fez uma diferença grande. Nós ficamos sem ensaiar por conta das incertezas, nós tivemos que cada um correr para o seu lado, até por uma questão de prevenção a saúde, e também buscar uma fonte de renda extra. Eu sou funcionário do samba, eu trabalho no carnaval, não tenho outra fonte de renda, então eu tive que achar um meio de sustentar a minha família no meio disso tudo, então a gente deu uma parada e aí após os estudos serem feitos, e com as possibilidades que foram tendo, a gente foi retomando as atividades físicas e o trabalho de dança”.

O que vocês aperfeiçoariam no quesito de vocês?

Denadir: “Eu acredito que o que poderia melhorar, é os jurados não serem tão criteriosos como eles são. Porque já vi dançar muito bem na cabine e na quarta-feira de Cinzas o resultado não ser tão legal como a gente espera. Às vezes a gente olha aquele casal, ‘caraca, com certeza vai dar 10’, aí chega no dia, não é, e aí a gente quer saber o que aconteceu, lógico, que o olhar dos jurados é um, eu que estou ali na pista as vezes acompanhando, que quando é um amigo meu eu acompanho, as vezes eles até pedem, são olhares diferentes, mas a gente que é entendedor da dança, a gente que está ali de perto vendo, a gente acha que está tudo maravilhoso e tudo muito perfeito. Eu acho que o jurado podia olhar com mais carinho todos nós. Falta detalhamento na justificativa, bastante, até para gente não repetir no próximo ano, porque eles às vezes utilizam certos tipos de palavras que você entende de uma forma e não é aquilo que ele quer. Não fica claro”.

tijuca ensaiotecnico2022 25

Phelipe: “É subjetivo demais, não concordo com muita coisa que é imposta pelos jurados, porque muitas vezes eles escrevem uma coisa para um movimento de um colega que eu fiz e ganhei 10 e vice-versa. Então, é muito gosto, esse gosto de julgar teria que ser excluído, eu acho que teria que ter um parâmetro, um grau de dificuldade de coreografia, e desenvolvimento de movimentos, seria bacana para poder incrementar esse julgamento, e não só o gosto pessoal de cada um”

Phelipe quando você decidiu fazer o passo de ficar na ponta do pé?

Phelipe: “Isso foi um presente, eu sempre admirei muito o Chiquinho, eu trabalhei na Alegria da Zona Sul, fui segundo mestre-sala dele e da Maria Helena, assim que eles saíram da Imperatriz, e assim que eu fui contratado para a Imperatriz, eu tinha que achar alguma maneira de me identificar com a comunidade, até porque eu vinha depois de Verônica e Ubirajara, Verônica havia dançando antes com Marcinho Diamante, e a Maria Helena e o Chiquinho ainda continuavam muito vivos ali, e eu tinha que achar uma maneira de ‘linkar’ o meu trabalho, que era jovem, com a história da escola que era de Maria Helena e Chiquinho, e foi onde eu tive a ideia de reproduzir um passo do Chiquinho. Obviamente da minha forma, com o meu tempo, com a minha velocidade, e eu vinha aprimorando durante estes dez anos aí, e agora já consigo ficar mais tempo na ponta e tudo mais. Mas, foi graças ao Chiquinho que eu cheguei aqui”.

Como funciona a produção da fantasia com vocês?

Denadir: “O Jack (Vasconcelos) foi bem legal, nós vamos vir em uma cor que nós pedimos, no setor que a gente pediu, a fantasia está bem bacana, e a gente acompanha tudo, a partir de ele desenhar, ele mostra, esse ano ele fez dois desenhos, mostrou e nós escolhemos o mais bonito, o que ficaria melhor para a gente, e o Fernando Magalhães foi quem a gente perturbou depois, porque é quem produziu a roupa”.

tijuca ensaiotecnico2022 29

Phelipe: “A minha relação com o Jack é muito boa, a gente conversa muito, inclusive ele tem a preocupação de saber como a gente gosta de vir na Avenida. Eu particularmente gosto muito de vir de capa, não gosto muito de colocar peso nas costas porque na aerodinâmica dificulta o movimento, o giro por exemplo da pirueta. Eu acho que a capa dá o movimento que o esplendor tem, talvez até mais bonita porque é maior e dá um movimento melhor. Então, ele teve essa preocupação de perguntar o que cada um queria e colocou dentro da ideia dele o nosso pedido”.

Qual o desfile inesquecível de vocês? E porquê?

Denadir: “Eu tenho vários. Na realidade eu costumo dizer no ponto positivo, eu digo 2015, 2016 e 2019, e em um ponto negativo que eu nunca vou esquecer é 2018, porque era uma roupa que me incomodava muito, era muito pesada, e atrapalhou bastante os meus movimentos. Eu costumo dizer que o desfile é um conjunto, se o samba é bom, se a escola entra empolgada, aquilo tudo entra para dentro de você e você consegue fazer um bom desfile. Eu lembro que 2015 foi um desfile maravilhoso porque quando eu cheguei no Setor 1, que eu gosto muito de me apresentar no Setor 1, ali eu senti uma energia muito boa, na época do público comigo, comigo e com o meu parceiro, o Fabrício Pires, e ali ele olhou para mim, eu olhei para ele, eu chego a me arrepiar quando eu falo disso, eu falei ‘eu acho que esse ano é nosso ‘, ele disse que tinha certeza. E, nos outros anos no decorrer da Avenida sempre tem algo especial, parece, quando você acha ‘ah, tá chovendo ‘, ou eu já desfilei, eu lembro que em 2019 teve uma pessoa da frisa que estourou um champanhe na frente do jurado na primeira cabine, e eu pisei em cima, eu falei agora já era porque é escorregadio, e graças a Deus deu tudo certo, e assim a gente vê que acontece várias coisas e você consegue driblar aquilo tudo e fazer um bom desfile, aí sim se torna especial”.

tijuca ensaiotecnico2022 18

Phelipe: “Foi 2014 com certeza, eu sou flamenguista, apesar de estar dançando agora em uma escola de raiz vascaína. Eu sou flamenguista e eu conheci o maior ídolo da minha vida, o Zico, depois do Zeca Pagodinho é claro, porque o Zeca eu vi, e o Zico não, eu não vi jogar, mas meu pai me contou muitas histórias do Zico e eu consegui apresentar ao meu pai o ídolo dele. Meu pai se emocionou. E, por ter conseguido garantir 40 pontos na Avenida, de ter garantido diversos prêmios”.

Qual porta-bandeira e qual mestre-sala são referências para vocês?

Denadir: “Eu tenho vários. Eu costumo dizer que todos são muito bons, mas alguns se destacam. Gosto muito da Selminha e do Claudinho, incomparável a dança deles, é maravilhosa. Gosto da Rute e do Julinho, gosto muito da Lúcia (Lucinha Nobre) e do Marlon. Os que chamam mais a minha atenção, são esses, gosto dos outros, mas os que me inspiram, cada um com suas características”.

tijuca ensaiotecnico2022 17

Phelipe: “Eu tenho o Julinho como referência, tive o prazer de ser o segundo dele durante dois anos na Vila Isabel. Dele com a Rute. E, eu acho que eu me encontrei, eu acho que eu encontrei o Phelipe juntando a dança do Julinho e a dança do Raphael. Mas o Raphael é jovem que nem eu, e eu não cheguei a trabalhar com ele. E o Julinho eu trabalhei de perto, por isso que eu digo que o Julinho é minha referência. Mas, eu tenho o Claudinho também como referência de tradição, Selminha como referência de tradição também, que eu sempre gosto de enaltecer o trabalho do dois porque é a referência não só para mim, mas para todos os casais de mestre-sala e porta-bandeira de tradição de dança, a Selminha e o Claudinho”.

Como aliar a dança com a coreografia sem impactar a tradição do quesito?

Denadir: “Eu gosto mais do tradicional. Eu costumo dizer que eu gosto de arroz, feijão, bife e batata frita. É um prato que todo mundo gosta. Então, eu gosto do tradicional, mas com uma pitada de ousadia. Não tem um segredo, é durante o ensaio. Tem coisas que a gente quer fazer, acha bonito na coreografia, mas não se encaixa em uma dança de mestre-sala e porta-bandeira para o jurado. Às vezes na quadra a gente pode até colocar aquela coreografia, mas para o jurado não se encaixa, aí a gente tira, limpa de uma forma, vamos trocar, fazer de outra forma, até encaixar tudo”.

Phelipe: “Então aí é o segredo, é o pulo do gato que cada um tem que descobrir o seu. Eu gosto muito de inovar em movimentos principalmente dentro da letra do samba porque isso é o que a dança pede. A gente tem que dançar, diz o ditado, a gente tem que dançar conforme a música. Só que às vezes a música tem um ritmo diferente, uma batida diferente, e a gente não pode mudar a tradição do mestre-sala, por exemplo, para uma dança indígena, mas a gente pode colocar a dança indígena dentro da dança do mestre-sala e da porta-bandeira. É um pouco complicado esse limite entre o tradicional e a ousadia, mas graças a Deus, a parceria que eu tenho com a Denadir e com a nossa coreógrafa também, a Carol Villanova, que é bailarina do Carlinhos de Jesus, já trabalha com carnaval há muito tempo, a gente conseguiu achar o termo certo, nem o meio termo, a gente achou o termo completo para poder chegar na Avenida e poder fazer uma apresentação tradicional, mas também, homenagear a quem está sendo representado neste enredo ‘Waranã’ que é o povo indígena”.

Bandeira grande ou pequena? E por que?

Denadir: “Pequena, eu sou pequena, então tem que ser pequena. Prefiro a pequena. É bem melhor para que eu possa manusear, eu sou miudinha, então se eu ficar com uma bandeira muito grande, vai me atrapalhar bastante, então eu prefiro a bandeira pequena, que é de acordo com a minha estatura. Já senti comentários por conta da bandeira, várias pessoas já perguntaram porque que sua bandeira é pequena, parece de porta-bandeira mirim, eu sou pequena, eu não sou uma porta-bandeira mirim, mas eu sou pequena. Então, eu acho que tudo tem que ser de acordo, não adianta eu colocar um salto muito alto para desfilar se não vai ser legal para a fantasia”.

Phelipe: “Tem preconceito sim, e eu era um desses preconceituosos até começar a trabalhar com ela. Porque na risca, na risca, no regulamento a bandeira ela tem o seu tamanho, só que se for para a Avenida e o jurado ficar lá na concentração medindo a bandeira de todo mundo, a metade dos mestres-salas e porta-bandeiras vão entrar com algum décimo a menos. E assim, existem porta-bandeiras maiores, existem porta-bandeiras menores, mestres-salas também, o Júlio, por exemplo, o braço dele é gigante, e é a aerodinâmica, como eu falei, o esplendor nas minhas costas incomoda porque ele vai tirar a minha movimentação. E, no caso da minha porta-bandeira, ela é uma porta-bandeira que não tem uma estatura muito alta, e eu acho que deve assim acompanhar, e é uma coisa que deve até ser levada para plenária, para não haver mais esse tipo de preconceito. Bandeira tem que ser de conformidade ao tamanho da pessoa”.

O que esperam do desfile de 2022 para Tijuca e todas escolas no geral? O que vão sentir quando pisarem novamente na Sapucaí pra valer?

Denadir: “Eu acho que o próximo desfile vai ser um desfile emocionante para todos. Porque ficamos um carnaval sem desfilar, para Tijuca eu espero campeonato. Mas, eu acho que vai ser um desfile que vai ficar na história porque quem é do samba, quem ama o carnaval, sente falta, então está todo mundo aguardando, está todo mundo esperando esse dia, vai ser um desfile muito emocionante para todos”.

Phelipe: “O que eu vou sentir eu não posso te dizer porque a gente está aguardando isso há muito tempo. A gente está aí, é como você tirar a vida de alguém. Carnaval para mim é a minha vida, até me emociono porque foram longos meses de espera para poder estar de volta e ver muita gente cantando samba, fazendo o que ama. Eu amo carnaval, eu vivo o carnaval 24 horas podia, 32 anos de vida, eu não sei o que te dizer que eu vou sentir, mas eu espero que seja um carnaval mais feliz. O carnaval vem sendo muito batido nessa questão porque é aglomeração e tudo mais, mas eu acho que vai ser o redentor dessa pandemia, vai ser o fim da pandemia. Eu acho que se tivesse acontecido o carnaval antes a pandemia já teria acabado”.

Viradouro tem em bateria sua ‘excelência’; escola perdeu em média 0,6 décimos por ano em todos os quesitos

Escola a ser batida do momento a Unidos do Viradouro é a agremiação a ser abordada na série ‘De olho nos quesitos’. O site CARNAVALESCO se debruçou sobre as notas aplicadas por todos os jurados entre 2016 e 2020 para traçar um perfil dos melhores e piores desempenhos das escolas em cada quesito. Cabe ressaltar que nossa reportagem usou as notas da Viradouro na então Série A, entre 2016 e 2018.

rua viradouro2

Mesmo passando um longo período no acesso, até a reestruturação promovida na escola a partir de 2017, a Viradouro tem uma média de perda de décimos de 0,6 por ano em todos os quesitos. O complicado desfile de 2016 foi o mais frágil em termos de notas (268,3 no total) e desde 2018 a escola vem repetindo o seu desempenho nas notas, 269,7 pontos. Em 2020 foi o suficiente para o título após 23 anos.

Confira o desempenho da Viradouro quesito a quesito:

Alegorias e Adereços

É importante ressaltar que até 2016 a Viradouro não era administrada pela gestão atual e se via às voltas com defeitosidades nos quesitos plásticos. Com nove décimos perdidos em alegorias entre 2016 e 2020, o desfile de 2016 representou 55% de toda a perda no período estudado. Foram cinco décimos perdidos no quesito naquele carnaval. Apesar do campeonato em 2020, alegorias foi o único quesito onde a vermelha e branca não gabaritou, deixando três décimos.

Bateria

No acesso ou no Especial a tônica da Furacão Vermelha e Branca segue a mesma. Seja com Maurão, Paulinho ou Ciça, os últimos mestres, a nota 10 é sempre lida na apuração do quesito. É o único quesito da Viradouro a garantir 150 pontos entre 2016 e 2020, 100% de aproveitamento.

viradouro cidadedosamba 42

Comissão de Frente

Desde a gestão que vem revolucionando a Viradouro, o quesito não perdeu mais pontos. Mas em 2016 foram três décimos perdidos e 2017 mais um, totalizando um total de quatro décimos, média inferior a um décimo perdido por ano.

Enredo

Outro quesito que pode ser dividido em antes e depois da gestão de Marcelinho Calil. Mesmo com o elogiado enredo ‘Alabê de Jerusalém’ apresentado em 2016, os problemas daquele desfile levaram dois décimos no quesito. O que se repetiu em 2017. O total de décimos perdidos em cinco anos também chegou a quatro.

Evolução

Quesito de excelência da Viradouro atualmente, nem sempre foi assim nos carnavais passados. Em 2016 a escola perdeu dois décimos no julgamento da Série A e em 2017 a perda foi de três décimos, o que dá um total de 0,5 ponto perdido ao longo de cinco anos.

viradouro cidadedosamba 35

Fantasias

O desempenho dos figurinos da Viradouro só não é superior ao do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da bateria nos últimos cinco anos. O enredo ‘Alabê de Jerusalém’ foi o último em que a escola foi penalizada no quesito, com dois décimos de perda. A partir de 2017, Jorge Silveira, Edson Pereira, Paulo Barros, Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon garantiram a pontuação máxima de 2017 em diante.

Harmonia

Já fazem três carnavais em que a harmonia da vermelha e branca de Niterói não perde décimos no carnaval. Porém em 2016 a penalização foi de dois décimos e no ano seguinte de mais, totalizando 0,3 ponto de desconto em cinco anos, o que representa quase 10% do total de todos os quesitos.

viradouro cidadedosamba 3

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Não fosse o acidental desfile de 2016, onde a Viradouro gabaritou apenas Bateria e Samba-Enredo, Mestre-Sala e Porta-Bandeira teriam o mesmo desempenho dos ritmistas. Foi apenas o décimo perdido naquele ano que não faz com que este quesito não tenha gabaritado em todos os anos da análise. O que demonstra o nível de excelência da dupla de dançarinos viradourenses.

Samba-Enredo

Com uma das obras mais aclamadas de 2022, a Viradouro possui um desempenho irregular no quesito nos últimos cinco carnavais. Meio ponto perdido, com uma média de um por ano. O quesito, junto de alegorias, afastou a escola do título em 2019. E mesmo campeã da Série A em 2018, perdeu três décimos.

Casagrande faz ensaio com a ‘Pura Cadência’ na Sapucaí e alfineta críticos: ‘Tem muito entendedor de carnaval por aí’

A Unidos da Tijuca desfila na próxima semana, mas ainda encontrou tempo para realizar os últimos ajustes na bateria. Nesta quarta-feira, a “Pura Cadência” fez ensaio no setor 11 da Sapucaí para alinhar os detalhes que restavam para a apresentação no dia 23. Sincero, mestre Casagrande afirmou que não gosta do treino no Sambódromo e prefere os ensaios de rua. O comandante da bateria tijucana também aproveitou para criticar ‘analistas’ e ‘entendedores’ de Carnaval que julgam escolas antes do desfile.

“A gente está tranquilo, estamos ensaiando há muito tempo, nosso ensaio técnico também foi muito bom. Hoje foi um trabalho mais para corrigir pequenos erros. Eu sou muito exigente, então hoje foi mais uma limpeza, pra ter certeza que iria sair daqui 100% pronto para o desfile. Lapidar uma coisa ou outra, alinhar o andamento do carro de som com bateria, formação da bateria e entrada e saída de box. Aqui é legal por ser o ‘local do jogo’, mas vou ser sincero, para mim é ruim, eu não gosto. Acaba não sendo um ensaio fechado só para a bateria, fica muito exposto, aí vem algumas pessoas julgando o que não tem pra julgar. Daqui a pouco tem um monte de gente aí analisando o que não sabe, pré-julgando. Eu, particularmente, prefiro meu ensaio de rua, porque lá eu posso dar meu esporro, minha bronca, corrigir o que é preciso”, explicou Casagrande.

“Eu tenho mais de 40 anos de Unidos da Tijuca. Hoje em dia tem muitos entendidos no Carnaval, analistas, julgadores de internet. Tem gente que passa lá na frente do barracão, vê só a traseira de um dos carros e já determina o campeão de barracão, vice-campeão, rebaixada. Carnaval se decide na Avenida, nem mais na curva final se decide, porque às vezes dá uma zebra, carro quebra, ala atrasa, então para os entendidos de desfile, esperem a Unidos da Tijuca. A escola tem carros, fantasias, bateria, comissão de frente, casal, harmonia, samba e enredo, todos bons. Vamos esperar os desfiles e depois, a abertura dos envelopes. Deixa a escola passar primeiro, depois os analistas podem dar suas opiniões. Antes tem que respeitar a agremiação”, completou o mestre da Pura Cadência.

casagrande

Para o desfile oficial, Casagrande levará 262 ritmistas, com três bossas planejadas. O mestre da Pura Cadência aposta na bossa da segunda do samba que, segundo ele, tem uma retomada de surdo de segunda para surdo de primeira. Tetracampeã do Carnaval, a Tijuca conquistou três títulos na última década, mas nos últimos quatro anos, não conseguiu vaga no desfile das campeãs. Com trabalho abaixo do esperado em 2020, a agremiação quer dar a volta por cima e contratou o carnavalesco Jack Vasconcellos para levar novamente a escola aos bons caminhos.

wic wantuir

“Pra mim essa volta do Carnaval foi mais que especial, porque estava em casa esperando esse momento, pra viver esse sonho e poder estar aqui ao lado do meu pai. Ainda bem que a situação da covid-19 já está controlada e agora podemos voltar pra cá. Estou muito feliz. Para mim, como estreante, qualquer ensaio é super especial. Mas aqui é uma adrenalina diferente, é nosso solo sagrado, então vir para cá e sentir essa energia é incrível. Nosso lema esse ano é o ‘calada vence’. Tenho ido ao barracão com mais frequência agora, e aguardem aí no sábado, a quarta escola, vocês vão ficar emocionados assim como a gente está. Vamos deixar o amor vencer”, disse a estreante do carro de som Wic Tavares.

“Aqui é maravilhoso, é minha casa, um pedacinho desse chão aqui é meu. Voltar para cá, para cantar, brincar, olhar, é importante. É muito bom, mas não mostramos tudo não. É segredo. Voltar para cá e ver que já está quase tudo pronto é muito bom. O único problema é que já poderia estar liberado o som oficial aqui pra gente. Cada vez que a gente vai ao barracão a gente fica mais maravilhado. Nossa expectativa é de um Carnaval muito disputado. Foram quase dois anos se preparando e a Tijuca está acostumada a ser campeã. Vamos para a luta, com humildade. O primeiro passo é voltar para o desfile das campeãs, e quem sabe sendo a última a desfilar no dia 30”, comentou o intérprete Wantuir.

Com a presença da familia de Paulo Gustavo, São Clemente reforça o canto no último ensaio de quadra

Por Eduardo Fróis e Walter Farias

A São Clemente realizou na noite de terça-feira o seu último ensaio antes do desfile oficial. A comunidade encheu a quadra para receber os familiares do ator Paulo Gustavo, o homenageado da escola no enredo “Minha Mãe É Uma Peça”. Destaque para o bom entrosamento entre o carro de som e a Fiel Bateria. A surpresa ficou por conta da mãe do ator, Dona Déa, inspiração para sua personagem “Dona Hermínia”, que com seu carisma e alegria contagiou os componentes da escola. Ela interagiu no microfone com o presidente Renatinho e até cantou trechos do samba-enredo junto com a comunidade. No final da sua fala ainda brincou que viria de passista no carnaval de 2023.

familia paulogustavo

A São Clemente concentrou seu ensaio no canto, realizando várias passadas do samba. Algumas, apenas com o carro de som, outras com a bateria. O que se viu foi um canto alegre e consistente durante cerca de duas horas. Os intérpretes Leozinho Nunes e Maninho souberam conduzir o samba-enredo de modo que incentivasse às pessoas a cantar. Os dois se entenderam bem no microfone e ajudaram a impulsionar o canto da escola. Por conta do belo trabalho do carro de som como um todo, o samba pode ser ouvido claramente na quadra.

renatinho

“Olha, eu estou no carnaval desde os meus oito anos de idade e digo que o momento em que a escola está é diferente, eu sei que 2015 fizemos um grande desfile com a Rosa Magalhães, mas esse ano está diferente, o povo está mais feliz e a família do Paulo está trazendo um astral e um glamour novo para a escola. A Dona Déa não para, sempre muito feliz e está passando indo para todos, eu diria que no ensaio de hoje a escola estava muito feliz e vai entrar na avenida feliz. Eu acredito que a São Clemente vai fazer um grande carnaval. Talvez esse ano seja o maior momento da escola.

A Fiel Bateria, de mestre Caliquinho, também mostrou que está afiada, sustentando o ritmo da escola até o final do ensaio. Foram apresentadas três bossas em diferentes trechos do samba. Destaque para o breque no refrão, quando os ritmistas param e escola toda entoa junto “Paulo Gustavo pra sempre”.

carrodesom saoclemente

“A galera veio em peso, chegou junto… A Fiel Bateria, como sempre. E as bossas aí elaboradas pelos diretores e eu. Saiu tudo certinho e aqui a gente não frisa só bossa. A gente pensa na escola como um todo. Na apresentação do mestre sala e porta-bandeira, na apresentação da comissão do Frente, apresentação da escola em si toda, a gente não só pensa na bateria na bossa. Do começo ao final, no mesmo andamento, pra pulsar a escola e a escola cantar esse samba maravilhoso que é o enredo do Paulo Gustavo. Tu vê a arquibancada cantando, tu vê a escola toda cantando. O Arlindinho e parceiros foram felizes em ter esse samba melodioso. Fica fácil pra bateria fazer bossa e manter o andamento pra escola passar na avenida bonita. A comunidade tá todo mundo cantando e a expectativa é muito grande”, disse mestre Caliquinho.

caliquinho

No começo do ensaio, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jack e Vinícius Pessanha levou o pavilhão da São Clemente até Dona Déa e os familiares de Paulo Gustavo. Foi um momento emocionante. Depois, a dupla realizou um lindo bailado, riscando o chão da quadra. Os dois mostraram que estão em plena sintonia para o desfile. “O ensaio de hoje foi emocionante, muito gratificante receber a família do Paulo Gustavo aqui. Eles trouxeram uma energia diferente, deram um gás a mais e desfilar homenageando o Paulo Gustavo depois de tudo que o mundo passou nos últimos dois anos é uma emoção muito grande. Ansiedade está a mil, mas sendo controlada e estamos prontos para pisar na Marquês de Sapucaí”, disse a porta-bandeira.

“Todos os ensaios são um termômetro para a gente ver como vai ser na avenida. Hoje a escola estava com a energia lá em cima e isso influenciou positivamente na gente, é assim que vamos pisar na avenida e eu espero que se Deus quiser iremos buscar o campeonato. O enredo ajuda muito a escola, porque o Paulo Gustavo é extremamente irreverente e o samba é fácil, é um samba que se canta bem e caiu na boca de todo mundo”, completou o mestre-sala.

casal clemente

A direção de harmonia dividiu a escola em fileiras de alas, com as baianas na frente, seguidas da ala dos passistas. Depois, foi posicionado o restante da escola, preenchendo a quadra praticamente toda. Apesar do forte calor, a comunidade da São Clemente não desanimou, sambando e cantando do samba até o fim, em um clima de emoção e alegria.

componentes saoclemente2

Em outro momento marcante, dona Déa foi até o centro da ala das baianas para cantar junto e receber das senhoras da São Clemente. Arlindinho Cruz, um dos compositores do samba, esteve cantando no palco junto com os intérpretes. O humorista e compositor Marcelo Adnet também marcou presença na quadra clementiana.

componentes saoclemente1

A impressão passada na quadra da São Clemente é que Dona Déa é realmente uma peça. A escola abraçou o enredo aprovado pela família e amigos do Paulo Gustavo, como é dito pelo próprio diretor de carnaval, Thiago Gomes e a agremiação está pronta para fazer rir.

thiago gomes

“O ensaio hoje foi nota 10, a emoção foi nota 10, tivemos muita felicidade. A São Clemente está preparada e a expectativa é a melhor possível, a família e os amigos do Paulo aprovaram tudo, o projeto está incrível, eu particularmente gosto muito do trabalho feito pelo Thiago Martins (carnavalesco), acho ele de uma criatividade e capacidade que são nota 10. Agora estamos preparados para desfilar e transmitir a alegria que o povo brasileiro merece”, disse Thiago Gomes ao fim do ensaio.

Entrevistão com Júlio César Guimarães, coordenador de jurados da Liesa: ‘O jurado julga muito bem, mas justifica a nota mal’

Em meio ao curso de jurados que a Liesa realizou em sua sede na Cidade do Samba, o site CARNAVALESCO conversou com Júlio César Guimarães, coordenador dos 45 julgadores que vão avaliar os nove quesitos que vão decidir a campeã do Carnaval 2022. Júlio é formado em Direito pela PUC, já esteve no cargo em outras gestões da Liesa e retorna depois de 12 anos.

julio guimaraes2

Durante a entrevista, o coordenador ressaltou confiar na capacidade de julgamento dos jurados, falou sobre descarte e justificativa de notas, contou o conteúdo do curso, explicou as mudanças no texto do manual e na logística de transporte e acomodação dos julgadores durante os desfiles, entre outros assuntos.

Qual é o tamanho do desafio de coordenar novamente os julgadores do Grupo Especial?

Júlio César Guimarães: “Eu vejo isso com muita tranquilidade, porque eu encaro essa função diferente do que outros que passaram por aqui. O meu intuito como coordenador de jurados, na verdade, é criar uma transparência total. Jurado não é agente secreto. Criar uma interação dele com os segmentos próprios de cada escola. Essa é a principal função. A partir do jurado escolhido, e do curso feito, eu entrego um corpo de julgadores para 12 escolas de samba. A partir desse momento o jurado é responsabilidade da Liesa, no sentido que é jurado da Liga e não dá coordenação. O jurado não tem mais esse negócio de você esconder, eles conversam. Nós fizemos um simpósio que foi prejudicado pela Covid-19, porque teve poucas pessoas. Ano que vem nós faremos um outro que será muito mais profundo com pesquisadores, historiadores, julgadores e os segmentos próprios. Vamos fazer um quesito por semana para estudar a fundo. Dessa vez só estudamos um pouco de manual de julgador e algumas considerações com imprensa, com outros segmentos, diretor de carnaval. O jurado da Liga hoje é do mais alto nível possível”.

Muita coisa mudou do seu tempo de coordenador para hoje. Quais principais mudanças que você percebeu?

Júlio César Guimarães: “Quando eu recebi o convite do presidente Jorge Perlingeiro para ser coordenador de jurados, meu primeiro emprego foi na Liga das escolas de samba, quanto eu tinha 20 anos de idade, e me formei em Direito na PUC trabalhando aqui. Foi uma honra para mim. Fui coordenador de jurados por mais de 12 anos seguidos. A fórmula lá atrás inicial, quem sou eu para dizer que eu criei, mas eu participei do desenvolvimento. Esse manual do julgador me causou uma certa estranheza quando cheguei aqui e tantos anos depois, ele estava igual. Não evoluíram nada no julgamento, na concepção, na ideia. Resolvi fazer um simpósio para melhorar o manual. Mexemos em três quesitos, sutilmente, não é que o manual seja ruim, mas o manual tem que se tirar certas palavras que já estavam até no passado. Palavras que não cabem hoje nem se falar. Nós mudamos levemente o manual, mas mudamos o conceito”.

O que você passou de forma geral para os julgadores?

Júlio César Guimarães: “Como é feito o curso de jurados hoje? São três quesitos. Hoje nós vamos ter fantasia, comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira, por exemplo. Na hora de mestre-sala e porta-bandeira, os 12 casais estarão ali. Quando eu apresentar cada jurado, as pessoas vão falar como julgam o quesito. Depois que ele expõe a visão dele, eu leio o quesito e depois o mestre-sala e a porta-bandeira podem fazer as perguntas que quiserem. Ou seja, antes, o curso de jurados, contam que era uma leitura de manual. Ora, para ler manual, eu não preciso fazer curso. Todo mundo é letrado, manda para a casa do cara o manual e todo mundo lê. Mas, não é o caso. A gente está aqui fazendo uma interação. Outra coisa que eu mostrei que é fundamental para um bom julgamento: falei que o jurado foi convidado para julgar o carnaval de 2022. Somente. Ele tem a liberdade. Ele não tem que se preocupar em dar nota e agradar, porque ele não sabe se em 2023, mesmo que ele julgue bem, ele não sabe se estará aqui, porque agora eu tenho um banco de julgadores. Eu fiz mais de 80 entrevistas. Dessas, eu selecionei 20, dos 20, sete se acomodavam nos quesitos que faltavam, dois morreram, dois pediram para sair. Tinham sete vagas. Mas, eu tenho 13 muito bons e que eu posso dar oportunidade para eles. Eu acho que juiz, julgador, não pode se perpetuar no cargo. Isso atrapalha o julgamento”.

O metrônomo ficará com o julgador de bateria, como será essa análise dele?

Júlio César Guimarães: “O metrônomo sempre existiu, isso aí está uma coisa que todos os diretores de bateria quase morreram. O metrônomo era visto no telefone celular. Hoje, essa coordenação proibiu tablete, qualquer aparelho eletrônico no desfile. Anotação faz na mão. O julgador de bateria que sempre usou o metrônomo, vai continuar usando. Não é que isso vai influir. Mas, ele precisa se nortear com isso. Vai continuar usando como sempre usou, mas agora divulgaram porque a liga comprou o equipamento, só isso”.

Sobre as justificativas, você fez algum pedido especial, já que muitas vezes as escolas questionam que o texto do julgador não é tão claro sobre falhas?

Júlio César Guimarães: “O jurado julga muito bem, mas justifica a nota muito mal. Estou pedindo a eles incessantemente, fiz uma pauta que converso só com eles antes de entrar diretor de carnaval, diretor de harmonia, coreógrafo da comissão de frente, o que eu desejo deles. Transparência já existe, mas tem que ser sucinto, explicar. O que é o mapa de notas depois do carnaval? Não é você ver a nota, é você ver onde você errou, para você melhorar para o ano seguinte. Ora, se eu digo para você, maravilhoso, belo, esplendoroso, 9,8, o que que eu te ajudei? Agora se eu digo tirei dois décimos, um décimo por isso e isso, você está satisfeito. Você pode até não concordar, mas você sabe onde foi punido. É isso que eu estou dando uma nova dinâmica e mostrando aos jurados o seguinte, o universo de notas é de 9 a 10. São 11 notas com o décimo. Não é 10 e 9,9, só que existem para dar nota. Tem medo de julgar?”.

julio guimaraes 1

Houve algumas mudanças nos textos do Manual do Julgador em alguns quesitos. Qual foi a ideia especificamente?

Júlio César Guimarães: “Por exemplo no quesito harmonia, o quesito harmonia era muito vago. Então, outra coisa que eu pedi para todo mundo. O que que eu fiz? Reuni os julgadores de harmonia, ‘vocês querem idealizar um texto’, veio deles, no simpósio, chegaram à conclusão que era fraco o texto. Manda para mim. Mandaram. Maravilhas Enredo, precisava mudar um pouquinho. Muita coisa repetida. Enxugamos, inserimos mais coisas, junto com os julgadores. Foi uma participação. Como eu pedi à imprensa, como eu pedi aos diretores, aos carnavalescos, que mandassem sugestões. Eu dei o manual para todo mundo e pedi sugestão de texto. Hoje, o manual mudou pouco, mas eu te digo que tem a chancela de todo o samba, porque jornalista, todo mundo que veio ao simpósio teve oportunidade de opinar. Então, basicamente, foram Harmonia, Enredo e mais alguma coisa de Alegorias e Adereços, que também fez umas mudanças que ficou um pouco melhor, nada muito significativo, mas uma redação que o meu filho e o teu filho de 10 anos vão entender”.

Agora, os julgadores vão ficar em um hotel, como isso funcionará e por que será feito isso?

Júlio César Guimarães: “O julgador chegava aqui na Liga cinco da tarde. Ia para o sambódromo em ônibus grandes. Aí julgava o primeiro dia, olha que loucura, quando ele acabava, tinha que esperar os cinco módulos acabarem, por roteiro passava na Lagoa e tal, e você veio no ônibus e vai voltar no teu roteiro, o cara de Niterói chegava meio dia em casa. Morto! Para no outro dia voltar para julgar. Isso é um crime com a pessoa. Então, o que que eu fiz? São cinco módulos. Cinco micro-ônibus. Cada assistente é responsável por um micro-ônibus. Eles vão chegar no hotel meio dia, fazem o seu check-in, almoçam, podem descansar, levar o acompanhante se quiser, porque já está pago com acompanhante, e aí, eles vão para o sambódromo em micro-ônibus. Quando aquele módulo 1 acabou, passou a última escola, eu já pego eles e levo para o ônibus e o módulo um vem para o hotel com batedor. Olha o que esse cara economizou para descansar para o dia seguinte. E no dia seguinte, na hora dos módulos, tinha que esperar todo mundo lacrar os envelopes para eles irem para os ônibus. Esquece isso. Quando entregou, o módulo vai para o seu micro-ônibus e vai embora. Eu estou dando uma qualidade para o cara. Imagina você ter que ficar rodando, Zona Sul e Lagoa, Ipanema, Leblon, o cara ficava três horas dentro do ônibus. Coisa sem sentido”.

Se puder falar sobre cada quesito, o que poderá especificar para termos no julgamento de cada um dos 9 quesitos em julgamento do que foi comentado no curso?

Júlio César Guimarães: “Eu acho que o que mais o jurado passou foi o preparo que vou lhe ser sincero, até eu fiquei abismado, no simpósio, porque os diretores de carnaval chegaram com muitas dúvidas, de harmonia, rapaz, os caras tiraram as dúvidas com uma facilidade, então, eu acho que o que houve no quesito por quesito, o cara que está sendo julgado, estar sendo julgado por gente competente. Acabou essa mística. Porque às vezes bota lá, a pessoa quando aparece a fotinho, jornalista, ‘ah, esse aí julgando bateria’, mas você não sabe o currículo do cara. Às vezes o cara é um estudioso, é formado em música e jornalista. ‘Ih, arquiteto, o que que arquiteto sabe?’, no curso, o rapaz de Minas deu uma aula de proporção, me arrependi de não chamar os carnavalescos para Alegorias e Adereços. Porque esse rapaz deu uma aula, Válber, que nesses anos todos que eu estou aqui, nunca vi, tinha que ser gravado. Isso tem que ficar gravado para a posteridade. Porque amanhã quando vier um carnavalesco novo eu mostro para ele. Tanto que no curso falou um julgador, falou assim,’ estamos aqui, mas os gênios são os carnavalescos ‘. Aí, eu falei assim, eu vou discordar de você. Eu fiz reunião com carnavalesco, e não vi ninguém gênio ali, são pessoas competentes, capazes, mas que tem que evoluir muito’. Foi a coisa que mais me surpreendeu. Eles não conhecem o regulamento da Liesa. Acho que nenhum tinha lido o manual de julgadores. Hoje, eu vou te falar, mas nós temos um corpo de julgadores sólido. Agora, Júlio, vão julgar bem? Aí você me complicou. Juiz é difícil, sempre cito o futebol, né. Às vezes o cara deu pênalti e não foi, mas é um senhor árbitro, da Fifa, apitou final de Copa do Mundo. Errar, todo mundo erra. Eu erro todo dia que eu saio de casa. Você não erra? Espero que o cara não erre lá. Agora, quanto à honestidade, todo mundo tem um currículo a zelar. Ser julgador de escola de samba é melhor para nós que ele seja do que o contrário. Eu não estou divulgando ninguém. Eles ganham um valor irrisório, que justifique a ida, a vinda, a gasolina, o pedágio. Esse que veio de Minas, veio de avião, veio só para o curso, esse paga para ser jurado. Só na vinda para o curso já gastou o que a gente deu para ele de pró-labore. Ele paga para ser jurado e vem no carnaval, isso é amor. É isso que passei para o diretor de carnaval, para o diretor de Harmonia, para os diretores de bateria. O corpo de jurados é muito bom”.

A Liga propôs mudanças para 2022 e que não foram aprovadas em plenária. Elas podem voltar para a plenária e entrarem em 2023?

Júlio César Guimarães: “Eu acho que a mudança fundamental que eu defendo, as outras não eram mudanças, eram opiniões, mas a mudança que as escolas de samba, isso aqui é uma democracia, o plenário é soberano, os presidentes das escolas dão a última palavra, e eu não tenho nenhuma vaidade pessoal que a pessoa acate ou não acate a minha sugestão. Eu vejo o bem da escola. Eu entendo que valendo as cinco notas, o julgamento é melhor. Eu não acho correto, você passar com a sua escola, eu te dou 9,7, justo, você errou, e aí na hora das cinco notas, a menor sai, e a maior. Quer dizer, você foi julgado por mim, eu perdi um tempo, e não valeu. Isso o julgador acaba não querendo dar nota muito baixa, porque o cara é julgador, ficou dois dias ali, e todos os amigos dele estão vendo o rostinho dele na TV, mas as notas dele quase não valeram, valeu só duas. Não entra na cabeça. Agora, as escolas de samba não conseguiram acompanhar esse raciocínio, de que o julgamento é muito melhor quando vale todas as notas. Já foi assim, na época do Capitão Guimarães que eu tive a honra de ser coordenador de jurados dele. Nunca tivemos problema de desonestidade, aliás, comigo coordenador, nunca tive uma conversa atravessada sobre esse problema. Então, eu não entendo. Mas, você ficou chateado? De forma alguma! O plenário é soberano. Inclusive, todo o texto modificado foi aprovado em plenário. Foi uma pena porque eu acho que se aprovado teria um nível melhor. Agora eu tenho colocado na cabeça do jurado, esqueça descarte. Você é julgador. Dê a sua nota. Vou ser sincero com você: não colocarei de imediato em plenário (sobre tentar as mudanças de novo no próximo ano). Conversarei com as escolas informalmente, e se eu achar, não que tenha a maioria, porque eu não quero polêmica, e eles entendam que realmente chegamos a essa maturidade, ok, se não, não coloco”.

Existe a ideia de aprofundar mais o curso de julgadores, sendo ainda mais técnico, e fazer reuniões sobre os quesitos e o Manual de Julgador durante o ano ouvindo diversos setores do carnaval?

Júlio César Guimarães: “O que que nós vamos fazer para o ano que vem quando não termos mais Covid-19. Eu vou fazer reuniões dos nove quesitos individuais. Vou chamar, por exemplo, os julgadores de bateria, vou chamar estudiosos em música e bateria, vou chamar os diretores de bateria, e vamos discutir o carnaval que passou. Se bateria foi bem julgada, temos algo a acrescentar, podemos melhorar o texto? A visão ou a cabine, aí é para a gente viajar, tem que mudar a cabine? Você julga alto demais ou baixo demais? Temos tempo para fazer mudanças. Discutir quesito a quesito. Mestre-sala e porta-bandeira, vou chamar uns professores de dança das maiores escolas, bailarinos, Theatro Municipal, eu quero botar, saber quem quer ser jurado, tirar do meu banco de jurados e convidar essas pessoas, para interagir, para participar. A gente tem que movimentar isso, porque essa questão dessa discussão, é a parte cultural do carnaval. No curso, os julgadores de enredo falando, deram uma aula. A visão que a escola de samba tinha, é que o julgador, você escolheu qualquer pessoa. No curso depois que o julgador explica como julga, a plateia pode fazer perguntas, quando eu abro ninguém faz pergunta, porque dirimiu a dúvida toda na apresentação do jurado. Em 2022, está no manual a 30 anos, o cara é diretor de bateria e ainda acha que se ele não parar a bateria em frente do módulo ele não ganha 10, olha a mística doida em volta. Então, hoje, o pessoal está saindo daqui e está dizendo para o presidente da escola dele que o corpo de jurados é muito preparado. O corpo de jurados efetivamente é muito bom. Ah, Júlio, vai julgar bem? Aí eu só posso dizer na hora. Quantos craques da bola que a gente vê que tem jogo que o cara fica apagado? Joga mal, é expulso, são seres humanos. São 45 pessoas, para o julgamento o cara tem que estar bem, bem-disposto, tudo isso influi. Se o cara estiver gripado, interfere no julgamento. Agora que o corpo, eu boto a mão no fogo pelo preparo deles, não tenha dúvida”.

Os julgadores vão visitar os barracões na semana do carnaval ou não? Se sim qual importância disso?

Júlio César Guimarães: “Não, não. Vê se você concorda comigo: vamos ter um jogo importante, Flamengo e Fluminense. O árbitro da partida visita a concentração? Gabigol, como está a perna, melhorou? Mete dois golaços lá para a plateia. Aí vai no Fluminense, Abel, como é que é, vai jogar na retranca ou não? Eu nunca vi isso. O juiz de direito, ele vai na casa do réu? Não existe isso. Carnaval é na Marquês de Sapucaí e no dia. O jurado é maior de idade, ele pode ir, não a barracão, barracão é restrito e você precisa se identificar para entrar. Eles podem ir a qualquer quadra de escola de samba, a qualquer show anonimamente. Como você vai, como eu vou. Eu vou na quadra da escola de samba, nunca avisei um presidente que ia. Vou com a minha família, compro a minha mesa, ou se tiver um camarote, vou lá, pago a minha bebida, não quero nada de graça, e curte o samba como um cidadão comum. Não posso impedir um apaixonado por carnaval de curtir. Agora, visitas oficiais, só quem pode falar com jurado na Liesa é a Elaine, o Thiago, que são da coordenação, o presidente ou eu. Fora isso, eles têm que me comunicar. Isso não é tirar o direito, é porque isso não soma. Eu era coordenador de jurados na época que começou a visita a barracão, não somou em nada. De fretar ônibus pela Liga e levar eles para quadra de escola de samba. O que que acontece? A quadra da Zona Sul, na Tijuca, todo mundo quer ir. Em Padre Miguel ninguém quer ir, é longe. Aí você faz uma festa na quadra da Tijuca, vão os 45 julgadores. Aí você faz no Tuiuti e não vai ninguém, você acha que o presidente do Tuiuti ficou feliz? Na cabeça dele, já era o carnaval dele. Porque tem muito isso na cabeça de presidente. Então, para que eu vou criar polêmica? ‘Tô’ certo? Vai no barracão, sabe como era a visita? Eles acendiam os carros todos, uma mesa enorme, lagosta, camarão, o que você imaginar, um banquete de rei. Aí o outro barracão, ‘Meu Deus eu não tenho dinheiro para isso, e agora? Eu ia fazer coxinha, e croquete, e cerveja. Lá teve champanhe e whisky ‘. Vai influir no julgamento? Nada! Mas na cabeça do cara que serviu croquete, na hora que ele tirar um 9,8, vai ser o croquete. Entendeu? A minha vantagem, eu não sou melhor coordenador que ninguém. Na história da Liga, eu sou a pessoa que mais tempo foi coordenador de jurados e quando saí, deixei equipes montadas. Então, eu participei disso tudo. Eu era a favor de visita a barracão, eu era a favor a visita à quadra de escola de samba. Mas eu fui vendo ao longo do tempo que isso atrapalhava, talvez se chegasse um novo coordenador aqui, que nunca foi coordenador de jurados, ele ia dizer, esse cara está errado. É normal a divergência. Mas eu vivi todas as fases”.

Homenageada no enredo, ‘Não Existe Mais Quente’ dá show em último ensaio de rua da Mocidade

A Praça Guilherme da Silveira foi “areretizada” pela última nesta terça- antes do carnaval, quando a Mocidade realizou seu último treino em preparação para o desfile de 2022. A bateria comandada por mestre Dudu, ambos citados no enredo, foi o grande destaque da noite com bossas e coreografia. Os “ogãs” da Verde e Branca de Padre Miguel mostraram garra e o ritmo que só a Mocidade tem. Quem também fez bonito foi o carro de som de Wander Pires com suas vozes de apoio cantando o festejado samba que manteve se bem mais uma vez em relação ao canto da comunidade. Os coreógrafos Saulo e Jorge da comissão de frente também estiveram presentes com sua equipe de bailarinos que empolgaram a torcida dos Independentes de Padre Miguel que acompanhavam em massa nos arredores da Rua Coronel Tamarindo. Já a evolução da escola, que havia apresentado problemas no ensaio técnico, parece ter sido corrigida ao não se notar falhas durante a cerca de 1h20 de ensaio.

Uma das grandes estrelas da noite, mestre Dudu avaliou o ensaio e a preparação como positivos e mostrou ainda estar mordido pelas notas do último carnaval com vontade de dar uma resposta a todo o mundo do samba.

“Eu já estou preparado desde que o carnaval ia ser em fevereiro na verdade. Eu sou o tipo de mestre que trabalha em cima de erros para poder acertar. Todos nós sabemos que a nossa bateria no último desfile foi garfada, eu não tive erros neste desfile, e agora eu vou provar que a nossa bateria é realmente a Não Existe Mais Quente. Agora é esperar o nosso desfile e entregar nas mãos de Deus, esperar e fazer um belo carnaval, e que venha tudo dez”.

Samba

O samba terminou a preparação para o carnaval como começou, aclamado e festejado como um dos melhores, se não o melhor, da safra deste ano. A composição de Carlinhos Brown, Diego Nicolau e Cia foi iniciada no ensaio desta noite de novo com a primeira passada só com o agogô de duas bocas e os timbales acompanhando as vozes e as cordas, dando efeito até mais espiritual para a obra e explodindo na segunda passada quando a bateria de mestre Dudu entrava. Wander Pires está com o samba moldado ao seu jeito para cantar e ajudar a impulsionar a comunidade com cacos e com vocalizações dentro da melodia, realizados de uma forma não exagerada. Também foi importante mais uma vez observar o trabalho do carro de som com as vozes femininas de apoio com mais ganho que as masculinas, uma estratégia da Mocidade para valorizar o samba.

“O meu carro de som, minha ala musical, eu sou apaixonado por essa ala. O André, meu diretor musical, montou essa ala de acordo com tudo que eu precisava. Ele sabe que eu sou uma pessoa exigente, gosto de tentar atingir a perfeição, e de desafios. Três meninas, que são maravilhosas cantando, Débora, Milena e Viviane, são três tipos de vocês diferentes. Se você perceber a levada desse samba é uma levada feminina, e elas estão fazendo isso. A gente está deixando a voz delas um pouco mais na frente, e a masculina um pouco mais atrás, prevalecendo a feminina, e minha voz, claro como intérprete”, esclareceu Wander Pires.

wander pires

Harmonia

O canto da escola segue muito bom em um samba que mais uma vez tem a cara da Mocidade e que é valorizado pela sintonia com a bateria de Mestre Dudu, falando do padroeiro e da própria história da Verde e Branca de Padre Miguel, dessa forma, foi fácil cair na boca dos independentes. Desde as primeiras alas que vinham logo atrás da comissão de frente e do casal, o canto era muito forte e se intensificava em trechos como “Quem é de Oxóssi, é de São Sebastião”, ou no “Arerê” e refrão principal completo, e também nos versos que começavam com o “Oh Juremê, Oh Juremá”. Mas, no geral, não se viu ninguém enrolando, ou só movendo os lábios para fingir. A comunidade estava cantando a obra de forma completa.

componentes mocidade6

“O canto, eu sou suspeito de falar porque essa é a minha função, é fazer a escola cantar, o público cantar, o coração Mocidade cantar. O canto da escola foi maravilhoso, foi lindo, a Mocidade está com o samba na ponta da língua, o povo está com o samba na ponta da língua. E tem a bateria, o Dudu tem vindo bem todos os anos, mas esse ano ele está abusando, ele está brincando, parabéns Não Existe Mais Quente”, avaliou o intérprete Wander Pires.

componentes mocidade5

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal da Mocidade, como de praxe, veio no verde da escola, com Bruna Santos portando um cinto brilhante dourado e Diogo Jesus, em um terno completo. Já antes do início do ensaio, ainda no esquenta, a dupla já arrancava aplausos do público realizando um pouco de uma coreografia mais usada para quadra. Depois, durante o treino já com o samba para 2022, o que se pode perceber foi um casal bastante aguerrido, com movimentos intensos e introduzindo um pouco de coreografia em alguns trechos da letra do samba, como em “todo ogã da Mocidade é cria de mestre André”, em que ajoelhava apontando para o pavilhão. Na “flecha certeira” faziam o movimento do arco e flecha, e no “quem rege meu Orí”, apontavam para a cabeça. Importante destacar que a dupla também arranjava fôlego para cantar a obra em diversos momentos.

diogo bruna

Bateria

Uma das grandes homenageadas no desfile de 2022, a “Não Existe Mais Quente” foi aclamada na Praça Guilherme da Silveira desde o início ainda no aquecimento. O trabalho focado em valorizar a métrica do samba, trouxe bossas mais dentro da melodia da obra, principalmente em alguns trechos como “Oh Juremê, Oh Juremá”. Também aconteceram paradinhas como no verso “Quem é de Oxóssi, é de São Sebastião, em que os instrumentos secavam completamente, e o canto da comunidade era valorizado.

mestre dudu

“”A gente está há muito tempo ensaiando a bateria, e eu sempre comento que a gente está fazendo um trabalho um pouco diferenciado agora trabalhando as bossas em cima de melodia, para que tenham uma leitura melhor da nossa bateria, os jurados. A proposta é essa”, explicou mestre Dudu.

A ala de chocalhos executou uma coreografia saindo da formação da bateria, indo um pouco mais a frente e tendo a participação da rainha Giovana Angélica que veio de dourado. Em outra coreografia, desta vez realizada por toda a bateria, os ritmistas paravam de tocar os instrumentos e viravam para o público dos dois lados da pista. Também ao fazer o “Arerê Komorodé” estendiam os braços para o alto.

giovana mocidade

“O trabalho foi feito não somente nas paradinhas e bossas, mas também trabalho feito em casa, limpando um pouco mais as nossas bossas, aquele trabalho ‘naipeado’, de colocar cada naipe tocando em um dia diferente e isso resultou em um trabalho muito bom, como foi feito lá no ensaio técnico”, completou o comandante.

castorzinho

Um único momento de susto na passagem da Não Existe Mais Quente aconteceu quando por alguns problemas do carro de som, a bateria perdeu um pouco da referência e quase se desencontrou do samba, mas os diretores agiram rápido dando a marcação para os ritmistas e mantendo o andamento do samba dentro do que se estava cantando. O problema do carro foi bem pontual e resolvido rapidamente.

componentes mocidade3

Evolução

Problemática no último ensaio técnico, quando a escola evoluiu de forma acelerada no início e no final da passagem pela Sapucaí, e com a formação de buracos, no ensaio iniciado na Praça Guilherme da Silveira em direção a quadra tradicional da Mocidade, a agremiação evoluiu de forma compacta, não apresentando grande espaços, com um deslocamento fluído, sem grandes pausas e sem correrias. Os “harmonias” a todo momento se comunicavam, focados e foram simuladas todas as apresentações nos módulos de julgadores. Destaque para a evolução das alas, algumas com bastões iluminados e uma em especial, uma teatralização que acontecia logo depois da alegoria de número 3, com um componente fantasiado de papa, e a alas que vinha logo depois com velas na mão com iluminação elétrica e fazendo coreografia. Para o diretor de carnaval Marquinho Marino, os problemas do ensaio técnico foram corrigidos para este último treino na rua e para o desfile, é claro.

componentes mocidade2

“O ensaio foi muito proveitoso para acertar todas as questões, falhas do ensaio técnico e dar mais confiança a diretores e componentes. Estamos tão condicionados a esse tipo de trabalho, que a ansiedade é o menor dos problemas. O importante é aproveitar esses dias para aprimorar as coisas e ir mais forte ainda para a disputa. Estamos fortes, mas com pé no chão e humildade”.

componentes mocidade

Outros destaques

Antes do ensaio o vice-presidente Luiz Claudio Ribeiro reuniu representantes dos quesitos como Wander, Dudu, Marino, Capoeira, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, coreógrafos da comissão de frente, ao lado do carro de som, e agradeceu a toda escola pelo empenho durante a pandemia e durante os momentos de dificuldade imposta por ela. O esquenta contou com o samba de 1976 que falava sobre Mãe Menininha do Gantois, e com o tradicional “Vira Virou” de 1990. O “castorzinho”, mascote da Mocidade, roubou a cena, marcando presença, esbanjando simpatia, e sendo bastante disputado por crianças e adultos para fotos.

componentes mocidade7

Com o enredo “Batuque ao Caçador”, a Mocidade Independente de Padre Miguel será a terceira agremiação a desfilar na segunda noite do Grupo Especial.

Olívia Nobre estreia como musa do Camarote Lapa na Sapucaí

A cantora Olívia Nobre, mais conhecida como Lily Nobre, faz sua estreia no carnaval carioca como musa do novíssimo Camarote Lapa. A beldade, que completou recentemente 20 anos, é filha mais velha do cantor e compositor Dudu Nobre e da dançarina Adriana Bombom. Ela se lançou como cantora pop e aguarda para este ano, com ansiedade, o início da sua maratona de shows.

lilly

Lily Nobre esteve pela primeira vez na Sapucaí para conhecer o camarote que vai representar, onde foi recebida com todas as honras pelos sócios do Camarote Lapa, e também teve a benção de um ícone da Avenida e do carnaval carioca, Selminha Sorriso, que é porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, e Embaixadora do Camarote Lapa.

lapa970

Desde pequena, a cantora se depara com o universo do samba através dos pais. Adriana Bombom possui história como rainha de bateria e Dudu Nobre é um dos compositores do samba campeão da Vila Isabel para 2022. “Eu tenho um laço muito forte com o carnaval. Eu comecei a curtir a festa desde novinha por conta dos meus pais. Eu via a minha mãe se arrumando, meu pai saindo para cantar e sempre achei isso fascinante, ficava encantada. Por isso, sempre tive o carnaval muito aflorado em mim. De todas as festas que acontecem durante o ano, o carnaval é a que eu mais amo”, comentou a artista.

lilly2

Musa do estreante Camarote Lapa, que levará à Sapucaí uma proposta diferente, como a boêmia, a diversidade do público e as tribos do bairro, situado na região central da cidade, para Lily, a originalidade da Lapa será o ponto forte do camarote. “Eu achei a proposta incrível. A Lapa é um dos locais mais diversos e queridinhos do Rio. É muito inovador levar toda originalidade da Lapa para a dentro da Sapucaí”.

Zé Paulo é destaque do prêmio Guaracamp e site CARNAVALESCO

“Carnaval, te amo, na vida és tudo para mim!” Esse foi o grito mais ouvido na Sapucaí durante o teste de som e luz, realizado na noite do último domingo. A Viradouro, atual campeã do carnaval, passou com uma super produção. Componentes maquiados e fantasiados, telões de led, pratos na bateria e a voz inconfundível de Zé Paulo Sierra, que foi o grande vencedor do prêmio de destaque Guaracamp e site CARNAVALESCO. O intérprete levou o ensaio por mais de uma hora e dez minutos, já com a estrutura oficial que será usada nos desfiles.

ze guaracamp

“O site CARNAVALESCO sempre que pode está ajudando a gente, então dedico o prêmio ao carnaval e a todas as pessoas que amam o samba. Quero mandar um beijo especial e dedicar esse prêmio ao Diego Tavares, Joel Lopes, Seu Anidio, ao meu pai, Mailson (pai da Vivi) Almir de Araujo, à Renata, irmã do Guilherme Ayupp e também ao Guilherme, e a todos aqueles que de alguma forma, ou pela pandemia, ou porque Deus fez o chamado. Esse prêmio que ganho hoje é dedicado ao sambista. Hoje eu deixei tudo aqui dentro. É emocionante demais estar aqui, não sei até onde vai a maldade das pessoas de criminalizar o carnaval. Dedico o prêmio a todas pessoas que amam o carnaval”, ressaltou.

O intérprete, com toda razão, fez críticas importantes ao som da Sapucaí, que mais uma vez apresentou falhas ao longo da passagem da escola pela avenida. “Sabemos que hoje foi um teste, mas a gente trabalha com isso e temos responsabilidade enorme, a gente vem fazer o ensaio e é ruim encontrar o som dessa maneira. Para e volta para e volta. A gente pede mais seriedade nisso, mas para o espetáculo ficar bonito, tudo tem que funcionar. Sabemos que dia 20 vai estar tudo direitinho”, pontuou.