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Na terceira alegoria da Unidos de Padre Miguel, o encontro de Iroko com Obatalá

UPM01dNo segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí, a Unidos de Padre Miguel marcou presença com o enredo ‘Iroko – É tempo de Xirê’. Sendo Iroko a árvore da vida, a provedora dos alimentos da vida e é representação dos ciclos, a escola apresentou na sua terceira alegoria o encontro de Iroko com Obatalá, o mais velho dos orixás.

Como o primeiro orixá criado por Olodumarê, Obatalá, contração de Oba-ti-ala, o rei em vestes brancas, é a raiz de todos os orixás. Na terceira alegoria da UPM, Obatalá e Iroko foram apresentados como uma combinação harmônica e necessária.

O carro levou para avenida muita luz, mas sem abusar do branco. Investiu nas cores amarelo, dourado, verde e laranja. Na parte inferior foram vistos animais tradicionais do território Iorubá, como grandes felinos e borboletas. Entre eles encontravam-se as composições de alegoria vestidas numa roupa predominantemente branca e detalhadas em tons que remetiam à terra, nas fantasias também foram vistas sementes que fazem analogia a alimentação promovida por Iroko.

UPM01aAcima dos seres da terra, estava uma leitura do globo terrestre pela perspectiva Iorubá. Ao redor deste globo, a roda dos orixás que moldam, abençoam o reino da matéria e formam o exército de Orúm. Toda essa beleza vista sob as asas da pomba branca vinculada a imagem de Obatalá e significando o equilibro da paz no mundo da matéria.

Essa paz na matéria é o que precisa o povo carioca e brasileiro. Contou ao site CARNAVALESCO a Cintia Zacone, uma das componentes que desfilou em cima da alegoria da UPM

“Estou animada em estar nesse carro, é muita responsabilidade. O carro traz o significado da paz e é isso que o povo carioca, brasileiro e do mundo todo quer. Nesse 2022 já vimos tanta gente fazendo o mal, vimos surgir guerras… a gente precisa de paz e a UPM traz isso nesse carro” disse Cintia Zacone

Outra componente do carro também falou com a equipe do site CARNAVALESCO e ressaltou o simbolismo da paz carregado por ele.

“Muito bom estar com essa roupa que ajuda a montar esse carro que traz a paz. Ela é tudo que o brasileiro precisa agora.”, contou Kelly Prado.

Análise da bateria da Santa Cruz no desfile de 2022

A bateria Tabajara da Zona Oeste de Mestre Riquinho fez uma apresentação próxima de correta. Algumas imprecisões e oscilações foram percebidas por parte dos marcadores, mas nenhuma delas de forma destacada em frente a jurado. A batida das caixas de guerra não apresentou uniformidade em sua batida, mas sem gerar consequência à unidade rítmica, devido a qualidade dos ritmistas do naipe.

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No acompanhamento de peças leves uma ala de tamborim com bom volume ajudou a preencher a musicalidade, assim como o naipe de agogôs executou seu toque pautado nas variações melódicas do samba da escola. O breque de subida foi executado de modo constante, trazendo bom valor sonoro ao ritmo, com tamborins efetuando tapas no contratempo no final do mesmo. O destaque musical ficou a cargo da complexa paradinha do refrão do meio.

Já a bossa do refrão do meio iniciou com ritmo de afoxé no toque dos surdos, terminando com solo de timbal com agogô. A apresentação da bateria da Santa Cruz no último módulo de julgadores acabou sendo prejudicada pela harmonia da escola, que pediu para os ritmistas acelerarem o passo sem necessidade, já que haviam cinco minutos para o fim do desfile com tempo hábil suficiente para isso.

Estrela do Terceiro Milênio une luxo a técnica e mostra que está pronta para o Grupo Especial

A quinta escola do Acesso I a entrar na avenida foi a Estrela do Terceiro Milênio. Com o enredo “Ô abre-alas que elas vão passar”, a agremiação iniciou seu desfile às 0h04min. Ao longo dos 57 minutos que esteve na passarela, se viu uma escola organizada, luxuosa e aguerrida. As paradinhas e coreografias da bateria chamaram bastante atenção do público, gerando uma grande interação com quem estava no Anhembi. Outro ponto positivo na parte musical foi o ótimo entrosamento entre a intérprete Grazzi Brasil e Pitty de Menezes. Ambos conduziram o samba mediano da agremiação com bastante qualidade e entusiasmo. Nos quesitos plásticos, a Milênio fez seu dever de casa durante os dois anos de preparação e trouxe em seu desfile alegorias luxuosas, bem-acabadas e de muito bom gosto. Sem erros grosseiros, somando plástica e harmonia impecáveis, a entidade se credencia como uma das favoritas a conquistar uma vaga no grupo de elite do carnaval paulista.

Comissão de frente

Responsável por sintetizar coreograficamente o que o enredo da escola se propõe, a comissão de frente da Terceiro Milênio, coreografada por Paula Gasparini, dividia-se na apresentação de três personagens. Eva, que possuía dois figurinos diferentes. Apesar de ambos serem vestidos, um era mais despojado, na cor prata, remetendo à dançarinas de shows. Já o figurino dois era um avental acoplado. Uma versão carnavalizada de donas de casa nos anos 50. O segundo personagem da comissão era o homem, trajado de social, porém também carnavalizado, o terno tinha alguns traços de pintura pop art. A terceira personagem era Lilith, nas cores em degradê, iniciando pelo barro, passando pelo vermelho, alternando para o pink até chegar no rosa. Essa indumentária é uma alusão à primeira mulher que foi criada. Feita do mesmo barro que o homem, e que depois se distingue, formando o espectro feminino.

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Essa fantasia se destacava pelas cores e também pelo mosaico artesanal que foi construído em espelhos por cima do macacão que cobria da cabeça aos pés. Compondo alegoricamente a comissão, a escola levou um gigantesco elemento alegórico em formato de gaiola, com adereços que lembravam as cozinhas dos anos 50. A coreografia se da principalmente com as Liliths cravando uma briga com os personagens do sexo masculino. Quando as Liliths venciam a batalha, a dama aprisionada também se libertava da gaiola, arrancando suas roupas de cozinheira e indo de encontro as Liliths que estavam a frente da gaiola. Tal feito garantiu a comissão aplausos dos espectadores.

Mestre-sala e porta-bandeira

Formado pela dupla Daniel de Vitro e Edilaine Campos, ele representava o samba e ele o carnaval. Trajado com uma roupa nas cores preto e branco, com costeiro circular de faisões pretos com outras pequenas penas contrastando nas pontas. O mestre-sala esbanjava carisma e segurança na condução da sua dama. A porta-bandeira vestia uma indumentária recheada de faisões e plumas na mesma cor de seu companheiro. Acima da saia e das penas, detalhes de notas musicais e pandeiros chamavam bastante atenção pelo brilho e forma com que foi bem-acabado.

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Harmonia

Abertura da escola iniciou canto muito forte e esse canto permaneceu durante o tempo que a escola esteve na avenida. As alas cantavam com bastante garra o samba-enredo. Nos refrões, principalmente no trecho “lugar de mulher é onde ela quiser” as mulheres batiam no peito e esbravejavam. Gerando mais uma vez conexão positiva com arquibancadas e camarotes. Outro trecho que foi muito exaltado é “será mulher, que lhe deram o real valor?”. Nessa parte a bateria parava e fazia a pergunta apontando para as arquibancadas dos dois lados. Todas as vezes que essa paradinha foi executada os componentes da escola corresponderam.

Enredo

O enredo “Ô abre-alas que elas vão passar”, desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo, apresentava uma grande homenagem com intuito de reverenciar as corajosas mulheres que se destacaram na história do samba. Recordando que elas romperam as fronteiras do lar, da cozinha, e adentraram no terreno musical. Dividida em três setores, a agremiação levou em 14 alas mulheres que fizeram história. Três alegorias nomeadas de Tia Ciata, Clementina de Jesus e Mulheres do Carnaval costuravam o enredo. O primeiro setor apresentava o samba e o carnaval, com a pioneira Chiquinha Gonzaga, mulher responsável por compor a primeira marchinha de carnaval. Em seguida, prestou-se uma homenagem às damas do rádio. Nomes como Carmem Miranda – baianas -, Aracy de Almeida e Elizeth Cardoso estavam presentes nas alas desse setor. Fechando o carnaval da escola, o terceiro setor homenageou mulheres da própria folia momesca: Elza Soares, Alcione e Jovelina Pérola Negra foram algumas das mencionadas. Destaque para primeira ala que além de ser coreografada estava com samba inteiro na ponta da língua.

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Evolução

De ponta a ponta a Milênio se desenvolveu de forma leve e muito bem organizada. Seus componentes estavam atentos aos possíveis buracos e tratavam de preenche-los. Mesmo com paradinhas e coreografias que podiam desconcentrar, a comunidade da escola desfilou de maneira linear cumprindo o objetivo que é proposto pelo desfile de escola de samba. Não foi parecido com um desfile cívico, porém, também não foi apenas oba-oba.

Samba

A condução de Grazzi Brasil é Pitty Menezes foi a grata surpresa musical da noite. O samba, que não é o mais rico em poesia do grupo, foi muito bem conduzido pelos dois cantores. Dava a impressão de que ambos cantam juntos há bastante tempo. Um soube respeitar o tempo do outro, tanto na condução quanto na inserção de cacos. No retorno das paradonas o samba voltava no tempo certo, sem atravessar o ritmo e “conversava” corretamente com a bateria da entidade.

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Fantasias

Homenagens não faltaram nas fantasias da agremiação. Nomes populares do próprio carnaval e da música fizeram parte do desfile. O carnavalesco soube mesclar muito bem sua paleta de cores. Ora a escola estava mais clara, ora por escura. Mas sempre mantendo uma coesão.

Alegorias

Seguindo a mesma proposta das fantasias – e do enredo – de ser homenagem para determinadas mulheres, as alegorias se destacavam pelo tamanho e riqueza de detalhes. No abre-alas, que tinha o intuito de consagrar tia Ciata e sua participação na criação do samba, via-se na frente o letreiro com o nome da agremiação. Nas laterais da primeira parte do carro, os adereços faziam uma espécie de fonte de água, já apresentando a grande escultura de Oxum que viria centralizada. Interligando o acoplado dos carros, havia uma escadaria onde um grupo coreográfico ficava posicionado, representando os filhos de santo de tia Ciata. Esses estavam vestidos de iaos e a segunda pele nas cores da galinha de angola. Na cabeça uma pena vermelha de ecodidé chamava atenção. Esses itens são muito importantes para o culto do candomblé. Concluindo a segunda acoplagem desse carro, uma grande escultura da matriarca vinha segurando um tabuleiro.

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A segunda alegoria apresentava a ancestralidade negra presente em toda vida e obra de Clementina de Jesus, incluindo sua luta contra o preconceito racial. O carro continha em toda sua extensão elementos culturais do continente africano, como dentes de marfim, escudos e tecidos. Uma escultura de uma mulher negra de boca aberta e punho cerrado estendido chamava atenção nesse carro. O carro se destacava pelo trabalho artesanal em toda sua extensão. Na parte de trás, a escola trouxe uma escultura em tons marrons de Nossa Senhora da Glória, santa de devoção de Clementina. Ao redor da imagem, borboletas africanas representavam a transformação que ocorreu na vida da cantora.

Encerrando o desfile, a terceira alegoria trazia as mulheres do carnaval para receber os aplausos do público. Porta bandeiras, musas, presidentes, intérpretes, baianas, assistentes sociais, destaques, velha guarda, embaixatrizes, figuras importantes do carnaval estiveram presentes. Nessa alegoria também veio a mascote da escola, uma coruja, que apesar de não ser das maiores, estava muito bem acabada. Essa última alegoria toda em tons de rosa e roxo fechava a paleta de cores da escola de maneira agradável.

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Outros destaques

Os paradões da bateria no refrão principal eram ovacionados pelas arquibancadas e camarotes que correspondiam cantando a letra por inteiro. O Anhembi ia delírio em uma só voz cantando forte. Bateria leve com fantasia agradável de malandro, porém o vermelho tradicional deu lugar ao rosa. Baianas de Carmem Miranda giravam nos refrões e na segunda do samba, onde são mencionadas de forma literal na letra do samba.

Independente Tricolor traz os males encarados pelos brasileiros na história em desfile de protesto

Quarta escola a pisar na avenida, a Independente Tricolor levou para a avenida o enredo “Brava gente, é hora de acordar!” com a proposta de mostrar os problemas que o povo brasileiro sofre desde os tempos da colonização. Com destaque para a dança vibrante do casal de mestre-sala e porta-bandeira, o bom desempenho da bateria e a sinergia entre todos os componentes, a agremiação terminou sua apresentação com 57 minutos sem demonstrar nem um pouco de preocupação.

Comissão de frente

A comissão de frente da tricolor, de nome “Brava Gente” e liderada pelo coreógrafo Arthur Rozas, fez uma apresentação segura, com duas encenações diferentes que ocorreram ao longo de uma passagem do samba cada. A coreografia, porém, foi engessada e de interpretação confusa na pista, acabou não animando o público. Pode garantir os pontos na hora da apuração, mas não mais do que isso.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Em compensação, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Independente, Jefferson Antônio e Thais Paraguassu, foi um dos grandes destaques do desfile. Felizes com sua dança, o casal se soltou e bailou de forma animada e com grande sincronia, bem de acordo com o esperado dos representantes do quesito. Vieram representando indígenas junto de um conjunto de guardiões, todos com suas fantasias de nome “Os donos da terra”.

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Harmonia

O canto da escola começou em alto nível, com destaque para a grande animação da segunda ala, que vieram vestidos da ave mitológica Fênix. Outro momento de grande destaque foram os apagões da bateria, onde ficou visível o canto vibrante e elevado de toda a comunidade. As crianças do terceiro carro também chamaram atenção por estarem com o samba na ponta da língua. O quesito pode ser um diferencial no dia da apuração.

Enredo

A Independente apresentou um enredo de leitura fácil. Os setores vieram representando desde o período da colonização até os tempos atuais, passando por todos os problemas que os brasileiros encaram desde a chegada dos europeus. Da invasão dos colonizadores à injustiça social, a apresentação e encerrando com uma mensagem de esperança por uma nação de fato independente, tal qual o nome da escola.

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Evolução

A evolução da escola foi impecável. Todo o desfile transcorreu com grande tranquilidade e não foi observado nenhum momento de tensão. Muitas alas estavam animadas e brincaram ao som dos ritmistas da tricolor. Tecnicamente, nada a contestar do desempenho técnico da escola.

Samba-enredo

A animação dos componentes, porém, encontrou uma barreira na hora de se transmitir ao público presente no Anhembi. O samba da escola, burocrático e sem nenhum ponto de grande destaque, não empolgou e apenas chamou atenção nos momentos de apagões e bossas. Os refrões possuem versos pouco harmoniosos, o que prejudicou na hora da transmissão da mensagem, por mais que tenha sido bem interpretado por Rafael Pinah.

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Fantasias

Em geral belas, as fantasias da Independente oscilaram entre momentos de fácil e difícil interpretação. As alas do terceiro setor conseguiram transmitir bem suas mensagens, porém no segundo, alas como a das baianas, que representaram a intolerância religiosa, foi difícil de compreender. Alguns adereços foram comprometidos, como as correntes de algumas fantasias da ala Correntes da Opressão.

Alegorias

Com um abre-alas grande e de acabamento impecável, o conjunto alegórico da Tricolor conseguiu transmitir com grande facilidade suas mensagens, iniciando com o tema “O monstro do terceiro mundo”. O segundo carro, “O circo da injustiça social”, veio com a frente na forma de um picadeiro com artistas coreografando, enquanto a parte de trás exibia uma grande favela bem caracterizada. Encerrou com o carro da Nação Independente, repleto de crianças muito bem inseridas dentro da comunidade como já citado anteriormente.

Outros destaques

A Independente Tricolor chamou atenção por conta do grande comprometimento de sua comunidade. Dentro da pista, a correspondência ficou explícita nas variadas bossas da bateria, e foi bonito de ver. As alas coreografadas, em especial a ala 15, “Manifestação: O despertar do povo”, fez uma apresentação fantástica e ajudou a dar uma animada na parte final do desfile da escola.

Mocidade Unida da Mooca apresenta ‘Aruanda’ com belo conjunto de fantasias

A Mocidade Unida da Mooca foi a terceira escola a passar no Sambódromo do Anhembi, em desfile válido pelo Grupo de Acesso 1. Com um enredo afro, a agremiação fez um desfile correto, buscando se manter dentro do esperado pelo regulamento. Destaques para a cabeça da escola, onde a comissão de frente fez grande apresentação e contou com um gigantesco carro Abre-alas, e presença do intérprete consagrado Ito Melodia no carro de som. A apresentação do enredo “Aruanda – O Eterno Retorno” foi finalizada em 55 minutos, com grande tranquilidade.

Comissão de Frente

Um ritual de invocação marcou apresentação da comissão de frente. A coreografia contou com o apoio de um tripé que servia de templo, onde Exu, protegido por anjos guardiões, observava a todos e adentrava na pista para liderar as incorporações de filhos de santo por Zé Pilintra e Preto Velho. Nesse momento, os personagens eram vestidos rapidamente e assumiam um estilo único, sempre um de cada vez, e eram seguidos em uma apresentação pelos demais componentes. A interpretação durava exatas duas passagens do samba, e foi uma bela maneira de iniciar um desfile com essa temática, que foi assinada pelo coreógrafo Nildo Jaffer.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jefferson Gomes e Monalisa Bueno defenderam o pavilhão principal da Mocidade com uma apresentação segura e bem sincronizada. O casal, que representou Exu Mensageiro e o Poder da Fé, eram protegidos por guardiões vestidos de “A Nobreza da Noite” e compuseram belo conjunto. A dança foi bem executada em frente a diferentes módulos, o que pode ser um bom sinal nas pretensões da escola.

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Harmonia

Esperava-se mais do canto da escola com base no visto nos ensaios. Foram percebidos clarões em diferentes momentos, e não houve grande destaque de alguma ala no quesito. O samba foi bem interpretado pelo carro de som, mas a comunidade aparentou não corresponder à altura, o que acabou fazendo a bateria fazer uma apresentação mais conservadora. Pode ser um quesito problemático na hora da apuração.

Enredo

De leitura fácil, o desfile começou apresentando Luanda antes da chegada dos europeus, cuja invasão foi representada pelo carro Abre-alas. A partir desse momento, o público é apresentado a diferentes figuras que compõem a falange de Aruanda, que é o nome que foi dado pelos escravos ao local sagrado onde as entidades se localizam e tem origem no desejo de retornarem a sua terra natal. Por fim, diferentes manifestações culturais das religiões de matriz africana são representadas, no desfecho de um desfile linear e didático.

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Evolução

A Mocidade não precisou correr para finalizar seu desfile e passou com tranquilidade, mas alguns erros básicos em diferentes pontos foram observados. A ala Boiadeiros perdeu-se na organização em frente ao segundo carro da escola, e ficou visivelmente disforme na região do segundo módulo, a ponto de os chefes de ala repreenderem severamente os componentes. Logo após a saída do primeiro recuo, a bateria arriscou uma bossa, mas para isso parou de andar, enquanto a ala da Congada acabou avançando por um trecho considerável.

Samba-Enredo

O samba da escola da Mooca conseguiu contar com clareza os diferentes momentos do desfile. O rendimento na pista, porém, ficou abaixo do esperado e transmitiu uma frieza inesperada para o nível da obra. O carro de som ficou devendo e não apresentou nenhum momento de grande destaque, tendo atuação muito protocolar.

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Fantasias

Ponto forte da escola na apresentação, o público foi agraciado com um belo conjunto de fantasias. O desfile começou muito bem, com a ala das baianas representando as águas das praias de Luanda, a espuma branca e nzimbos, conchas que eram utilizadas como moeda de troca pelos povos da região. Com grande volume, as roupas dos componentes formaram um belo tapete colorido por toda a avenida e eram de fácil leitura, todas dentro da proposta do enredo.

Alegorias

A Mocidade iniciou seu desfile com um carro Abre-alas imponente, que retratava a chegada dos invasores nas praias de Luanda. Composto por dois eixos, retratou com qualidade a proposta do enredo e serviu para dar um gás inicial no desfile da escola. Os demais, porém, ficaram em um nível abaixo do primeiro e foram de difícil leitura, além de acabamento explicitamente mais simples.

Outros destaques

O discurso do presidente da agremiação, Rafael Falanga, marcou o início da apresentação da escola ao fazer uma crítica velada ao julgamento do carnaval de 2020, onde na visão dele a Mocidade fez um carnaval “campeão”. À frente da bateria, a rainha Camila Silva interagiu com o público e fez a sua parte para levantar o astral da apresentação, no geral, segura da Mocidade.

Fotos: desfile da Santa Cruz no Carnaval 2022

Análise da bateria da Estácio no desfile de 2022

A apresentação da Bateria Medalha de Ouro de Mestre Chuvisco foi muito boa. A boa afinação de surdos foi notada. As caixas de guerra tradicionalmente carregadas pelo braço, sem uso de talabarte, serviram de base rítmica para as demais peças com seu toque característico. O acompanhamento acima da média das peças leves preencheu o conteúdo rítmico com exatidão e qualidade. Os agogôs pontuaram melodicamente o samba.

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O toque do naipe de chocalhos casou com a ala de tamborins, que executou a convenção rítmica repaginada do Carnaval de 1995, contribuindo de modo efetivo com a sonoridade da bateria da Estácio. As paradinhas estacianas uniram complexidade de execução, ótima concepção musical, bem como movimentos interativos que receberam ovação popular durante o desfile.

O destaque como arranjo musical ficou com a paradinha do refrão do meio, que no início da segunda fez as caixas tocarem no ritmo da tradicional Charanga Rubro Negra, adequando sua proposta sonora ao enredo da Estácio. As bossas foram bem executadas nos julgadores, ampliando a sensação de grande trabalho efetuado por Mestre Chuvisco e os ritmistas da escola do morro do São Carlos. Um autêntico sacode da bateria da Estácio de Sá.

Emoção e conexão com a matriz africana marcam a homenagem da Santa Cruz ao ator Milton Gonçalves

Santa Cruz04cA Acadêmicos de Santa Cruz uniu toda a força da comunidade da Zona Oeste para homenagear a vida e obra do ator Milton Gonçalves, no enredo “Axé, Milton Gonçalves! No catupé da Santa Cruz”, desenvolvido pelo carnavalesco Cid Carvalho. Além da indiscutível relevância da estrela na história do teatro e do audiovisual brasileiro, a Santa Cruz procurou mostrar a origem do ator, das lembranças de sua cidade natal Monte Santo, em Minas Gerais, além dos personagens e trabalhos marcantes.

Por estar em recuperação de um AVC, ocorrido em fevereiro de 2020, o ator não conseguiu estar presente na homenagem. A família fez questão de pisar na Marquês de Sapucaí e explicou que nesse momento pós AVC, o ator precisa se poupar de esforços físicos excessivos. A designer Aida Gonçalves, filha do meio do ator ressaltou as características do ator que mais admira e que gostaria que estivessem presentes no desfile, como o gosto pelo conhecimento e a simplicidade.

“Existe um aspectos que a gente recebeu na nossa educação que é a simplicidade que ele levava a vida. Ele era o cara que estava desde a feijoada do Salgueiro até fazendo compras para casa. Esse aspecto é muito bonito. Fomos criados sobre essa égide da simplicidade. Nós tínhamos todas as enciclopédias, os livros e discos viviam espalhados pela casa. Estamos muito felizes. Hoje meu coração é metade Mangueira e metade Santa Cruz”, relatou a mangueirense.

Santa Cruz04bLigado a religião de matriz africana, os orixás e mitos aspectos da cultura de matriz africana são traços transversais da homenagem da Santa Cruz. A família acredita que esta abordagem do enredo se conecta muito com a personalidade de Milton, na perspectiva de transmitir um conhecimento novo para o público que desconhece a Umbanda e o Candomblé.

“Meu pai foi fazer segundo grau já com filhos e depois foi fazer faculdade. Meu Pai sempre transmitiu para gente a importância do conhecimento acima e tudo. E acho que um conhecimento que o público vai ter acesso hoje. A escola vem com um recorte afrodescendente muito bonito. Talvez as pessoas não entendam alguma palavra, alguma coisinha, mas a emoção que a gente está sentindo, esse legado, mais que a palavra em si vai ser transmitida”, explicou Maurício Gonçalves, filho de Milton, ator e roteirista.

Sem a presença do grande homenageado, os familiares optaram por desfilar na cabeça da escola, no setor que ilustra justamente as raízes ancestrais e da infância do ator.

Comissão de Frente e Casal vão bem, mas Estácio peca na plástica das fantasias, que impactaram na leitura do enredo

Terceira escola a desfilar no segundo dia de apresentações da Série Ouro, a Estácio de Sá se destacou com a Comissão de Frente e o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Contudo, apesar do bom início, a escola perdeu força estética, cometeu erros em fantasia, que acabaram impactando na leitura do enredo. O último carro da escola também destoou dos dois primeiros pela simplicidade e acabamento ruim. A agremiação reeditou o enredo de 1995 em homenagem ao Flamengo, com título ‘Cobra Coral, Papagaio Vintém, Vestir Rubro-Negro, Não Tem Pra Ninguém’, e passou pela Sapucaí em 54 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

Coreografada por Ariadne Lax, a Comissão de Frente da Estácio de Sá trouxe o ‘Vestiário’ para a Avenida, com 15 componentes, sendo duas mulheres e 13 homens. A intenção dada pelo segmento foi de trazer o clima pré-jogo, de resenha e fé dos atletas antes de subir ao gramado. A coreografia pontuou o ato de vestir a camisa do Flamengo e o Rubro-Negro. O tempo todo de apresentação levou cerca de 1m45s.

Os componentes chegaram os com rostos pintados em Rubro-Negro e com roupas das mais diversas cores. O grupo teve coreografia bem sincronizada e com passos modernos virais das redes sociais. Em determinado momento, dão as costas rapidamente aos jurados e voltam vestindo as cores do Flamengo. Ao mesmo tempo, sobrevoa uma camisa vermelha e preta levada por um drone, na representação do ‘Manto Sagrado’. Ao fim, jogam bolas de futebol para as arquibancadas.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Feliciano Junior e Alcione Carvalho, vieram vestidos com a fantasia ‘Cobra Coral’, em alusão ao primeiro uniforme da história do Clube de Regatas do Flamengo. O nome do figurino também faz parte do enredo e do samba da escola. As roupas da dupla estavam mesmos tons, com vermelho, preto, laranja e prata. Em cerca de 1m50s, os dois apresentaram grande dança, com sincronia e sintonia nos olhares e gestos. O casal passou sem problemas nos módulos e levantou o público. Ao fim, Feliciano ainda fez o ‘Vapo’, gesto em ‘X’, no pescoço que foi popularizado pelo meia Gerson, ex-jogador do Flamengo.

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Harmonia

A harmonia também foi um dos pontos fortes da passagem da escola pela Sapucaí. Todas as alas cantavam o samba, que já é entoado nas arquibancadas do Maracanã pela torcida há mais de duas décadas. As primeiras alas, como a ‘Grupo de Regatas’ e ‘Papagaio Vintém’ se destacaram muita força na voz. As arquibancadas também foram inflamadas pela escola e cantaram o samba.

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Enredo

Os carnavalescos trouxeram uma releitura do enredo, sob a ótica de um torcedor que estava na barriga da mãe no desfile de 1995. O personagem criado conta a história do desfile e representa a torcida, que é a principal homenageada na apresentação. Em um primeiro momento, a Estácio traz as origens do clube, desde o grupo de regatas, passando pelos esportes olímpicos do clube, até chegar ao futebol. No terceiro momento, a escola relembra os grandes títulos conquistados pelo Flamengo, principalmente no âmbito internacional. O desfile foi encerrado com uma grande ‘festa na favela’, como a torcida do Rubro-Negro canta após as vitórias no Maracanã.

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Foi percebida a linha temporal proposta pelos carnavalescos, mas em determinado momento ficou confusa, principalmente por conta das fantasias, a diversidade de povos. Estes representavam os países onde o Flamengo conquistou título. O tripé ‘E Agora Seu Povo Pede o Mundo’, que tinham alguns ‘funko pops’ também ficou de difícil compreensão. Uma das alas, a ‘Os Rivais’, de número 17, deveria vir antes do segundo casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, porém no desfile, veio depois.

Evolução

A Estácio apresentou seus primeiros segmentos no primeiro módulo julgador, mas logo após o fim da apresentação, o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira avançou bastante e a ala das Baianas não conseguiu acompanhar, formando-se um pequeno buraco. Na sequência, porém, a escola manteve bom fluxo. Após a passagem pelo segundo módulo, a escola acelerou um pouco o passo sem necessidade e gastou um pouco mais de tempo no final e encerrou sem sustos.

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Samba

Conhecido já há 27 anos, o samba já estava na ponta da língua de todos os componentes e arquibancada. O refrão foi bastante cantado, assim como o refrão do meio que tinha uma bossa do mestre Chuvisco e a parte ‘Encantou Estácio (Ó paixão), Paixão que Arde Sem Parar’. Do verso ‘O Céu Rasgou’ até ‘Enfeitada de luar’ a força do canto diminuiu, mas sem afetar o desenvolvimento da obra. O intérprete Serginho do Porto também fez grande trabalho no carro de som.

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Fantasias

Como esperado, a Estácio trouxe em grande parte das alas, fantasias com foco no vermelho e preto. Já no primeiro setor, a ala das baianas veio, além das cores do clube, com tecidos diferentes em retalhos coloridos em alusão à costureira mãe do personagem principal. A segunda e terceira (Ourazul) ala contrastaram com o Rubro-Negro ao relembrar as primeiras cores do ‘Grupo de Regatas’, que era o amarelo e o azul. A partir da quarta ala, o vermelho e preto é predominante. A Estácio também levou para a Avenida fantasias com referências a continentes e países nos quais o Rubro-Negro conquistou títulos.

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No entanto, apesar das primeiras alas se destacarem, problemas de figurino começaram a aparecer a partir da Ala 7, ‘Esportes Aquáticos’, onde faltaram partes da fantasia. As alas tinham bastante simplicidade nos materiais, principalmente do meio para o fim do desfile, com a ala ‘Os Rivais’, ‘Conquista da África’ e ‘A Favela Venceu’. As fantasias da composição do segundo carro também deixaram a desejar. Plasticamente, as alas iniciaram com muita beleza, mas a sequência da escola teve alguns problemas.

Alegorias

‘Paixão que Arde Sem Parar’, a primeira alegoria da Estácio de Sá levou as cores do Flamengo e da Escola, com bastante vermelho, preto e branco. O símbolo do clube apareceu logo na frente, e um urubu, mascote do clube, fechava a parte traseira do carro. O tradicional leão da escola também estava no abre-alas, que tinha o nome da agremiação perto do ‘CRF’ do Flamengo. Entre os destaques, se fez presente o ‘Urubu-Rei’, além de outras representações, como ‘A Grande Vitória’ e ‘Nação Rubro-Negra’. Imponente, o Leão tinha a bola de futebol nos pés e as cores e acabamento do carro chamaram atenção.

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O segundo carro alegórico, ‘Campeão de Terra e Mar’ cortou um pouco do vermelho e preto trazendo o azul dos mares, onde o Flamengo teve as primeiras conquistas como grupo de regatas. E não nó nos oceanos, como também em outros esportes aquáticos. Contudo, referências ao Flamengo e suas cores também foram vistas, mas principalmente na parte traseira do carro. Fantasias de Netuno e Poseidon, seres mitológicos dos oceanos, foram vistas, além de alusões às conquistas aquáticas com figurinos de medalha de ouro, prata e bronze. Assim como a primeira, essa segunda alegoria também tinha imponência, bom acabamento e bonita plástica.

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A última alegoria da Estácio de Sá é uma grande reverência à torcida, principalmente a da grande massa pertencente às favelas do Rio de Janeiro. Na alegoria estão presentes alguns grafites com versos do samba e gritos da torcida do Flamengo. Pinturas de torcedores também foram vistas. A alegoria trouxe variedade nas cores e a representação de uma grande comunidade. Fantasias como Camelôs, Motoboys e Funkeiras foram presentes para corroborar a ideia central do carro. Diferente dos dois primeiros carros, a última alegoria teve menor investimento, foi pouco carnavalizada, teve um acabamento deficitário e destoou visualmente.

Outros Destaques

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Alguns ex-jogadores desfilaram pela escola, como Athirson, Nélio e Adílio, que era o destaque do tripé da agremiação. Personagens icônicos da torcida do Flamengo, como ‘Chapolin’ e o ‘Anjo Rubro-Negro’ desfilaram no último carro. Os músicos Xande de Pilares e Dj Marlboro também passaram na Avenida. Jack Maia esbanjou luxo e simpatia à frente da bateria, que veio com os rostos pintados e roupas nipônicas em referência ao título mundial do Flamengo em 1981, no Japão.

Saluba! Destaque Elaine ty Nanã comenta a emoção de representar orixá Nanã em enredo da Santa Cruz

Santa Cruz03bBanhada na ancestralidade negra, a Acadêmicos de Santa Cruz abusou do axé da cultura de matriz africana para estruturar a homenagem ao ator Milton Gonçalves no enredo: “Axé, Milton Gonçalves! No catupé da Santa Cruz”, de autoria do carnavalesco Cid Carvalho.

Inaugurando o segundo setor da escola, a alegoria de númeo 2, ” Nos livros, o conhecimento que liberta” impressionava não só pela beleza, mas também pelo simbolismo e significado. A Alegoria faz um link da paixão do homenageado pelo universo do conhecimento e dos livros e a grande senhora da sabedoria da cultura yorubá, o orixá Nanã.

Santa Cruz03aToda composta por tons de roxo e variações, a alegoria trazia uma grande escultura de Nanã e trechos com escritos de livros nas laterais. No entanto, além da bem acabada escultura, o destaque principal da alegoria fazia uma menção ainda maior à senhora do barro, uma legítima filha de Nanã na alegoria. Elaine ty Nanã comentou a satisfação de dar vida a representação da grande Mãe na avenida.

“É uma emoção tão grande que não tem explicação. Só sabe quem sente. Estou realizando o sonho de pisar na avenida. É sentir, vibrar e amar”, declarou a emocionada desfilante.

O convite para homenagem foi intermediado pelo mestre-sala da escola Mosquito e autorizado pela zeladora espiritual de Elaine. Extremamente importante em diversos cultos dentro do Candomblé, Elaine aproveitou o ensejo e ainda esclareceu algumas particularidades e características dessa yabá para os que não são tão familiarizados.

“Nanã é o orixá mais velho de todas as yabás. É ela quem moldou partir o barro o ser humano. é uma senhora muita velha que quase ninguém gosta de falar. Nós nascemos do barro e para o barro retornaremos”, pontuou.