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Grande Rio e Mocidade apostam na juventude dos casais de mestre-sala e porta-bandeira e colhem frutos

Todos sabem que defender o pavilhão de uma escola de samba não é tarefa fácil, a pressão e responsabilidade são enormes, afinal, é um quesito inteiro nas mãos de duas pessoas, agora imaginem quando essa missão é dada para casais jovens? Esse é o caso dos casais de mestre-sala e porta-bandeira da Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto, e da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos. Em entrevista ao site CARNAVALESCO falaram um pouco sobre a aposta das diretorias neles, rotina de ensaios e o que esperam para o futuro.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Taciana fez sua estreia como primeira porta-bandeira da Grande Rio no desfile de 2019, ao lado de Daniel Werneck, que defende o pavilhão da tricolor de Caxias desde 2015. No primeiro ano eles receberam apenas uma nota 10 dos jurados, mesmo assim contaram com todo apoio e confiança da escola, o resultado veio no desfile de 2020, o casal se destacou, encantou a todos e recebeu nota máxima.

“Pra gente é sempre gratificante saber que a escola está apostando em novos talentos e confiando no nosso trabalho. A gente vem junto com a escola e com as condições que ela nos permite para trabalhar bem, nos dar toda condição que a gente precisa ter pra conseguir trazer a nota. Então é só agradecer e curtir esse momento”, pontua Daniel.

Cria da comunidade, Taciana passou pela Pimpolhos da Grande Rio e projeto Escola de Mestre Manoel Dionísio, ela se diz feliz por estar na escola que tanto ama, agradeceu a aposta da diretoria e reforçou a importância da comunidade para colher bons frutos.

“Feliz e grata por ser a primeira porta-bandeira da minha escola do coração, por eles terem confiado no meu trabalho eu só tenho a agradecer, ao meu presidente e a minha comunidade, que sempre me receberam com muito carinho e continuam dando todo suporte e amor que a gente precisa pra poder trabalhar”, destaca Taciana.

Saindo da Baixada Fluminense e indo direto para a Zona Oeste, temos outro exemplo de casal jovem sendo aposta de uma grande agremiação, como defensores do pavilhão da Mocidade Independente de Padre Miguel, Diogo Jesus e Bruna Santos estão indo para o segundo ano juntos.

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Foto: site CARNAVALESCO

Ele já é mais experiente e dançou de 2015 até 2017 na escola, quando sagrou-se campeão. Bruna começou na Estrelinha da Mocidade e era a segunda porta-bandeira da agremiação. Em 2019 dançou no Acadêmicos do Sossego.

Em 2020, Bruna estreou como primeira porta-bandeira da Mocidade e ao ser anunciada pegou muita gente de surpresa, por conta da pouca experiência, o que era desconfiança virou admiração assim que ela pisou na avenida, bastante elogiada, Bruna comenta como foi chegar até esse lugar.

“Foi uma responsabilidade muito grande, mas graças a Deus papai do céu colocou pessoas maravilhosas no meu caminho, meu mestre-sala com a experiência dele me ajudou bastante, a minha coreógrafa Vânia Reis, que eu conheço desde pequena, eu faço balé na academia dela então foram pessoas de confiança que estavam ali comigo. A diretoria da escola nos deu total apoio, total segurança, então isso ajudou bastante para que possamos fazer um belo desfile”, destaca Bruna.

“Ser jovem em muitos aspectos faz a diferença, mas aqui na Mocidade nós temos uma base muito boa, é muito bom ver como a escola prestigia os seus, a Bruna é cria e eu chego pra somar, somos jovens, mas temos pessoas empenhadas para fazer a gente brilhar nessa avenida”, conta Diogo.

Dança tradicional x Modernidade

Arte, bailado e muita tradição, assim pode ser definida a dança de mestre-sala e porta-bandeira. A dança surgiu com os ranchos carnavalescos, com o objetivo de defender o símbolo maior do grupo. Na dança o mestre-sala corteja a porta-bandeira e passa a sensação de proteção do símbolo maior da escola de samba: o pavilhão. Ela, por sua vez, é responsável por conduzir e ostentar o elemento que carrega a história do grupo. Não se curva diante de ninguém e mantém desfraldada a bandeira da agremiação.

Nos últimos anos os julgadores pedem que os casais tragam um toque de modernidade para suas danças, a discussão sobre um bailado mais livre ou com passos mais coreografados se tornou frequente no carnaval, sobre isso, os casais falam a respeito.

“A dança clássica ajuda muito na postura, em alinhamento de braços, nas finalizações, que é algo que os jurados vem muito em cima, então eu acho que é uma junção dos dois, da dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira que é o primordial pra gente, é o principal, da tradição dessa arte, unindo fica tudo maravilhoso, sempre buscando somar pra levar o melhor pra Mocidade”, pontua Bruna.

Diogo vem de uma base mais tradicional e destaca a importância da coreógrafa Vânia Reis para conseguir mesclar a melhor dança e trazer bons frutos para a Mocidade.

“Eu venho dessa coisa mais sambistica, do malandro, o chão mesmo do samba, apesar de ser novo eu tive que modernizar minha dança, com a chegada da Vânia eu acho que isso aconteceu de fato, eu consegui imprimir uma dança boa, com uma finalização bacana e hoje eu consigo trazer o tradicional e juntar com a modernidade para fazer a nossa dança ficar muito bonita”, conta Diogo.

“A gente mantém a nossa base tradicional com a dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira, isso a gente nunca vai perder, mas a gente gosta de trazer sim um pouquinho da inovação, a gente vai procurando uma coisa aqui e outra ali que não agrida a nossa tradição”, pontua Taciana.

Preparação para o desfile e Futuro

Para chegar na avenida e aguentar o peso da roupa, aliado a emoção do momento, são meses de preparo e trabalho. Treinamentos exaustivos, criação de coreografia e repetições, tudo para beirar chegar a perfeição e alcançar a nota máxima. Hoje em dia os casais são considerados atletas, profissionais dão todo o suporte para ajudá-los em pontos importantes para o desenvolvimento na avenida: resistência física, coreografia e movimentos obrigatórios da dança.

Daniel Werneck fala sobre a importância desse treinamento e diz que é fundamental para que o casal realize um bom desempenho na avenida.

“É muito importante, hoje a gente se tornou atleta, até pela questão da evolução da dança do mestre-sala e da porta-bandeira, os treinos ajudam bastante na questão do condicionamento, da respiração, então acho que é muito válido sim o trabalho do preparador físico”, destaca Daniel.

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Já coreógrafa do casal da Mocidade, Vânia Reis destaca a importância de se treinar com a roupa oficial do desfile e diz que nos ensaios incentiva a dupla a se preparar para todas as adversidades que possam surgir no dia do desfile.

“Já tivemos dois ensaios com a fantasia e isso faz toda diferença, o bailado assim é uma coisa, mas com 25 kg é diferente, embora eu coloque colete com peso pra eles, caneleira no Diogo, pra já quando a fantasia chegar eles já estarem bem preparados, então o ensaio com a fantasia e unido a preparação física é tudo de bom”, comenta a coreógrafa.

Para o futuro, a resposta dos quatro é unânime, todos querem construir bons resultados em suas escolas, marcar o nome na história e ficar por muitos anos juntos.

“O meu sonho é continuar na escola até ficar velhinho, espero que a escola queira o mesmo, enquanto a gente tiver vamos aproveitar muito esse momento, é muito bom, é muito importante, se Deus quiser a gente vai ficar até na velha guarda da Grande Rio”, disse Daniel.

Taciana corrobora o desejo de seu parceiro e deseja ficar por muitos anos defendendo o pavilhão da Grande Rio.

‘Foi lindo ver a Sapucaí lotada e celebrando a vida’, declara Porta-Bandeira da Inocentes

A Inocentes de Belford Roxo foi a segunda a pisar na Sapucaí e deu o nome. A Escola apresentou uma estética muito bonita, com cores vivas. Pecou um pouco na evolução por conta do abre-alas que apresentou certa dificuldade de locomoção e acabou abrindo dois buracos, um no setor três e outro no último módulo de julgadores. Ainda assim, em entrevista para o site CARNAVALESCO, o diretor de carnaval, Saulo e afirmou ter ficado satisfeito com a apresentação.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Fiquei muito satisfeito. Acho que a escola cantou bem, evoluiu, veio compacta. Acho que foi o carnaval da superação e a escola se comportou muito bem. Tudo aquilo que nós fizemos nos ensaios, conseguimos fazer. eu falei que a escola ia chegar no ápice no dia do desfile e acredito que chegou”.

O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira brilhou. Douglas Valle e Jaçanã Ribeiro estavam com uma fantasia que representava “A penumbra da meia-noite”. A dupla mostrou sincronia, muito bailado e uma linda coreografia.

“A noite foi linda. Executamos tudo que ensaiamos, estamos com a sensação de dever cumprido e foi lindo ver a Sapucaí lotada e celebrando a vida. A gente representou “A penumbra da meia-noite”, declarou Jaçanã.

“Foi maravilhoso. Depois de dois anos pudemos passar pela Marquês de Sapucaí. Agora vamos aguardar o resultado porque tenho certeza que Belford Roxo vai estar de volta para o Grupo Especial”, comentou Douglas.

Mestre Julinho estreou no solo sagrado do carnaval como Mestre de bateria e disse estar sem palavras para descrever o momento vivido. O segmento veio com 250 ritmistas e levantou o público com as bossas bem realizadas.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Sem palavras. Não tem como explicar a emoção de passar pela primeira vez na avenida como Mestre de bateria. A gente espera fazer tudo que ensaiou e quando dá certo, é maravilhoso”, declarou o estreante.

O carnavalesco Lucas Milato também ficou feliz com o trabalho apresentando: “Agora estou aliviado. Estava muito apreensivo porque é a realização de um sonho, mas graças a Deus deu tudo certo. Espero que todo mundo tenha gostado”.

Beija-Flor promete homenagear Laíla em desfile e comunidade fala do amor pelo seu grande Griô

No próximo carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis levará para avenida o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”, a escola abordará a contribuição intelectual do negro em todas as esferas da sociedade e prepara uma série de homenagens a grandes figuras negras da sua história. Falecido no ano passado, em decorrência de complicações da Covid-19, Laíla será um desses homenageados. Afinal, toda comunidade de Nilópolis o enxerga como um grande Griô, afinal, foram 24 desfiles consecutivos no comando do carnaval da escola, sem contar as outras passagens do diretor pela azul e branca. A relação que se rompeu em 2018 não foi capaz de apagar os anos de dedicação e amor que dedicou a escola, agora, o reconhecimento virá em forma de homenagem.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O site CARNAVALESCO ouviu os componentes da escola sobre o que eles esperam da homenagem ao Laíla. Alguns contaram um pouco da relação que tiveram com ele e da importância dele dentro da história da agremiação. Uma certeza: Laíla faz falta e seus ensinamentos sempre estarão vivos na memória de todos que conviveram com ele.

Na escola há 35 anos, a coreógrafa Valéria Brito, chegou na agremiação no mesmo período que Laíla e diz que conviveu diretamente com o diretor, para ela, todos os anos juntos serviram como um enorme aprendizado.

“Conheci o Laíla quando ele tava chegando na equipe do Joãozinho Trinta, desde o início ele sempre teve esse dom de liderança, sempre foi uma pessoa que demonstrou um profissionalismo incrível dentro do carnaval, com a experiência dele, não só na harmonia, mas também na bateria e em outros segmentos, ele era um cara incrível na visão ampla do que é o carnaval, de como é fazer um carnaval dentro de uma escola de comunidade. O Laíla sempre valorizou a comunidade, sempre brigou pela gente, sempre defendeu a gente, em questões simples ou mais complicadas. Lembro que ele sempre brigou pela ampliação da quantidade de alas da comunidade, focava muito em quem era Beija-Flor”, conta Valéria

Apesar da fama de ter temperamento explosivo, Valéria conta que Laíla agia como um verdadeiro líder e tratava todos com muito respeito: “Era um pessoa que muita gente temia, pelo fato dele ser um grande líder ele tinha que ter pulso forte, brigar com a gente, cobrar e chamar atenção, mas fora do palco ele era um ser humano maravilhoso, tenho lindas lembranças dele, agradeço as oportunidades que ele me deu, graças a ele eu já coreografei um show da Beija-Flor na Suíça, ele me puxou pra frente da escola com a minha ala, então eu tenho toda gratidão e respeito por ele. Eu acho muito bacana essa homenagem da escola, dentro da quadra tem a imagem dele e ele fica no coração de cada um”, destaca a coreógrafa.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“O Laíla foi um grande mestre para toda escola, não só para a Beija-Flor, mas para todo o mundo do samba, os ensinamentos dele é algo que com certeza a comunidade vai levar pra vida, a questão da dança, da garra, da força e da energia é algo que vem muito dele, por mais que ele não esteja aqui hoje, ele sempre vai existir na Beija-Flor, sempre vai estar com cada componente, toda vez que a gente entrar na avenida vamos carregar um pouquinho de Laíla. Todo mundo que conheceu ele, que teve a oportunidade de conviver um pouco com ele vai levar isso, é isso que faz com que o samba resista, então o Laíla sem dúvidas é um dos grandes nomes do samba e merece todas as homenagens possíveis”, conta Shayana Baptista.

Além da perda de Laíla, durante o pré-carnaval, grandes personalidades do samba nos deixaram, dentro da Beija-Flor algumas perdas foram sentidas por toda a comunidade, como a do intérprete Bakaninha e de Léo Mídia, integrante da comissão de carnaval.

Sobre essas perdas, Shayana comenta: “As perdas foram grandes e foram num espaço muito curto de tempo, a gente vem de um período da pandemia em que tudo é muito conturbado, acho que tudo isso influencia, mas acredito que vamos entrar na avenida com muita garra, essas perdas vão fortalecer ainda mais a comunidade”, comenta a bailarina.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“O Laíla pra mim foi a melhor pessoa que passou pela escola nesses anos todos, na época que ele tava lá ele comandava tudo, então ele faz muita falta, inclusive pra mim que não aceitei a saída dele até hoje. Ele tinha o jeito rude, mas tinha o maior amor pela comunidade, ele sempre falou que gostava muito da comunidade de Nilópolis. Nós vamos para a avenida com bastante garra, buscar homenagear os que partiram da melhor forma possível, vamos pensar positivo nos que se foram, a comunidade vai dar tudo de si, somos uma escola guerreira e as pessoas que se foram fazem muita falta”, comenta a componente Solange Baltazar.

Com o enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada, a agremiação de Nilópolis será a última a desfilar no primeiro dia do Grupo Especial, na sexta-feira, 22 de abril.

‘Uma emoção poder estar de voltar à Sapucaí’, declara presidente da Lins Imperial

A Lins Imperial voltou à Sapucaí e foi a responsável por abrir a segunda noite de desfiles da Série Ouro. Com o enredo “Mussum pra sempris. Traga o ‘mé’ que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé”, a escola fez uma boa apresentação, com destaque para fantasias e comissão de frente, que retratava diferentes “Mussuns” e foi coreografada por Carlos Bolacha. A semelhança do sósia Rildo Martins com o ator chamou bastante atenção.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Desde que recebi esse presente foi maravilhoso falar do Mussum, que era um cara muito contagiante, onde ele chegava passava alegria”, declarou o coreógrafo, em entrevista para o site CARNAVALESCO.

Mesmo com a dura missão de ser a primeira agremiação da noite a passar pela Sapucaí, o presidente Flávio Mello acredita que a escola fez um bonito desfile e falou da emoção de poder voltar ao solo sagrado do carnaval.

“Missão cumprida. Depois de tantos anos estamos de volta para Sapucaí. É muita emoção. Fizemos um lindo desfile. Sempre tem que ter uma adrenalina no final, mas o importante é que a Lins passou compacta, cantando, brincando, colorida e feliz como era o Mussum”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O samba também agradou. Puxado por Lucas Donato e Rafael Tinguinha, a composição de Matheus Pranto foi cantada pelos componentes. Um dos trechos que mais foi ouvido foi o refrão principal. O público também curtiu utilização de expressões do contexto do humorista homenageado como “mé” e “pra sempris”.

“A escola passou linda na avenida com esse samba que remete ao Mussum, Antônio Carlos Bernardes Gomes, e remete as várias faces que esse grande artista da cultura popular brasileira. É uma alegria ver a Lins desfilar contente, alegre, com um samba contagiante”.

Explosão Mayara Lima: O sucesso da princesa de bateria do Paraíso do Tuiuti

Mayara Lima, princesa de bateria do Paraíso do Tuiuti, teve um vídeo viralizado por fazer uma coreografia com muito samba no pé em sincronia com os ritmistas da “SuperSom”. Antes passista da escola, a princesa abriu portas para que mais talentos da comunidade fossem revelados. A repercussão do vídeo foi grande e veio fama repentina.

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Foto: Reprodução / Instagram

“As pessoas de outras personalidades estão se interessando pelo mundo do samba, graças a viralização. Pela arte de sambar, pelo samba de passista, querendo fazer aula e saber um pouco mais do que é o samba pra gente que ama e que faz parte da cultura”.

Sem dúvidas o que mais chamou a atenção dos espectadores que assistiram o vídeo foi a sincronização perfeita da princesa com os ritmistas do chocalho. Os passos marcados em sintonia e o samba no pé de Mayara. Ela afirmou que nada foi combinado e sim que surgiu de maneira espontânea juntamente com o diretor do chocalho. “O passinho foi algo muito espontâneo. O Marquinhos (diretor do chocalho) que cria as coreografias do Tuiuti, ele começou a fazer e eu embarquei. Saiu a dança e o vídeo viralizou”.

Com todo esse estouro do vídeo durante o pré-carnaval, o público ficou cada vez mais curioso para saber se teria alguma coreografia nova para os últimos ensaios e até mesmo no dia do desfile oficial. Porém, não deu 100% de certeza se terá algum passo novo.

“Acredito que não terá. Estamos ensaiando há tanto tempo que não tem mais o que fazer. Algo que é um diferencial em mim é que nunca consigo fazer os mesmos passos, pois acabo esquecendo. Sempre estou mudando e tentando fazer algo diferente nos ensaios”.

Reconhecimento foi o que Mayara ganhou demais depois da viralização do vídeo. Recebeu convites para ir ao programa “Encontro com Fátima Bernardes”, “Domingão com Huck”, dando entrevistas para Band, Record e entre outros veículos. A princesa está muito feliz por esse reconhecimento e conta como é isso pra ela: “Estou muito feliz por isso tudo, pelo reconhecimento. Sempre busquei ganhar por meio do mundo do samba, pela arte de sambar e estou muito feliz de verdade”.

Mayara abriu portas para que passistas do próprio Paraíso do Tuiuti, como de outras escolas de samba também, pudessem sonhar com o reconhecimento. Há muitos talentos dentro das comunidades do samba e algumas acabam se destacando mais. Com a repercussão do vídeo isso fez com que essas mulheres que fazem parte da cultura do samba fossem mais enxergadas por quem está de fora.

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Foto: Reprodução / Instagram

A representatividade para essas meninas é algo muito importante. Mayara diz como se sente em estar fazendo esse papel: “Fico muito feliz de poder representá-las. Estou aqui por elas, parece que vim para esse mundo para estar por elas mesmo”. Claro que toda passista e musas que são da própria comunidade tem um sonho de se tornar rainha de bateria da sua escola de samba de coração, e isso não é diferente para a princesa de bateria do Tuiuti. “Toda menina de comunidade sonha em virar rainha futuramente, e isso está nos meus planos”, afirma

Por último, deixou um spoiler do que a fantasia dela representa para o desfile oficial do Paraíso do Tuiuti, que tem como enredo “Ka ríba tí ÿe – Que nossos caminhos se abram”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros. Mayara irá representar as deusas africanas, o que já está relacionado a temática do enredo.

 

ESPECIAL: Leonardo Bessa e a voz da cultura popular em tempos sombrios

Já terá passado das 11 horas da noite do Dia do Descobrimento do Brasil quando a sirene do Sambódromo do Anhembi tocar para dar início ao primeiro desfile de uma escola de samba do Grupo Especial de São Paulo em mais de dois anos. Empunhando o microfone principal do carro de som da Acadêmicos do Tucuruvi, o intérprete Leonardo Bessa será o principal responsável por contar para o público mais uma história a adentrar o palco iluminado do Grande Otelo.

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Foto: reprodução / Instagram

Leonardo, o que representa para você cantar em São Paulo?

“Em primeiro lugar, a realização de um sonho. Eu sempre tive vontade, desde quando comecei a cantar profissionalmente, de conhecer o carnaval de São Paulo. Eu via que vários amigos que cantavam no Rio também vinham para cá, e eu tinha esse desejo, essa vontade de crescer e participar. Foi um processo de anos, de convites que não deram certo, algumas propostas que não evoluíram. Até chegar a Tucuruvi, que em 2015 eu vim como diretor musical, e anos depois vim ser o cantor da escola, onde estou muito feliz e realizado. É uma escola que me abraçou muito, e eu abracei a escola com o mesmo carinho e respeito que eles têm por mim”.

“O carnaval da vida”. A voz da cultura popular em tempos sombrios

Leonardo Rodrigues Bessa, que apesar do seu grito de guerra dar a entender que não para alguns, de fato tem esse sobrenome, é cantor, compositor e produtor musical. Além de tantos outros talentos, durante a pandemia da Covid-19 precisou também dedicar parte do tempo para fazer do carnaval também uma causa a ser defendida. Foi uma das vozes mais ativas no debate público a defender não só o carnaval como cultura, mas também os direitos e necessidades dos trabalhadores que dependem direta ou indiretamente da festa.

“A princípio a gente estava com muito medo. Não sabíamos de fato o que estava acontecendo no mundo. E a gente sabia que o carnaval não tinha uma importância na vida de muita gente. Nós ficamos dois anos sem poder trabalhar, sem poder fazer shows. E ninguém como o povo do carnaval sofreu tanto para poder trabalhar, fazer shows. E a gente defendia o carnaval através de lives. Quando começaram a voltar os shows, por que o carnaval não podia voltar? Mesmo que fosse em um modelo mais enxuto, para que as pessoas pudessem voltar e levar o seu sustento para casa. Então a minha briga sempre foi essa. E eu via até pessoas do carnaval remando contra, e isso é que me chateava um pouco. Mas dessa vez agora nós estamos voltando a nossa normalidade. Se Deus quiser será um grande carnaval, o carnaval da vida! E em 2023 a gente retoma tudo como era antes no Castelo de Abrantes”.

Muitas lágrimas. Do xeque ao mate em um retorno triunfal

Bessa é intérprete oficial há quase 20 anos. Iniciou sua carreira na São Clemente e já teve passagens por grandes escolas, como Estácio de Sá, Salgueiro e Império Serrano. Mas se para um cantor do carnaval todo desfile é como se fosse o primeiro, voltar a um Sambódromo depois de dois anos sem poder fazer o que mais ama tem um peso ainda maior.

“Cara, no primeiro ensaio eu chorei muito no início ali. Eu comecei a conversar com o pessoal do carro de som, eu chorava. Porque chegou num momento que a gente não acreditava que pudesse ser possível a volta do carnaval. Chegou até a se colocar em xeque a importância do carnaval. Então quando a gente pôde pisar aqui, quando a gente teve a certeza de que o carnaval de fato iria acontecer, e a gente pôde estar em contato com o público, as pessoas, a comunidade da escola. Com todos os apaixonados pelo carnaval. Então para mim foi um momento de muita emoção, e a expectativa agora é o desfile. A gente chegar aqui, ver essa passarela lotada de gente, e poder levar alegria para o povo, que é o que a gente sabe fazer”.

O que representa para a sociedade o enredo da Tucuruvi?

A Tucuruvi levará para a avenida o enredo “Carnavais… De lá pra cá, o que mudou? Daqui pra lá, o que será?”, que fará uma viagem no tempo para relembrar os carnavais do passado de São Paulo, para refletir sobre o que o futuro reserva para a festa. O público será estimulado a debater sobre o tema, e o intérprete está preparado para transmitir a mensagem.

“É um grito de alerta. A gente conta como foi a origem do carnaval de São Paulo. Como era, como as pessoas tinham liberdade de brincar, de cantar, assim como foi na Tiradentes, nos Cordões, nos Blocos de rua, aquelas coisas todas. E a gente faz um paralelo com os dias de hoje. O que mudou? O que a gente esqueceu lá atrás de essência, e hoje a gente não consegue repetir? Ter a mesma magia que tinha lá trás? E a pergunta fica: E daqui para a frente? Que carnaval a gente quer? O que era antes ou o que é hoje?”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O que muda em cantar no Rio para São Paulo?

Leonardo Bessa já cantou por escolas de samba de cinco estados do Brasil, e se depender dele não irá parar por aí. Várias cidades já tiveram a oportunidade de presenciar desfiles defendidos pelo sambista. Em sua opinião, não há diferenças entre cantar em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Para ele, o que importa é ser porta-voz da cultura popular.

“Não, não. Diferença nenhuma. A diferença é só a Dutra! Porque a emoção e a alegria é a mesma. E eu sou um defensor de todos os carnavais do Brasil. Nenhum carnaval é melhor do que o outro. Cada cidade tem sua particularidade, sua raiz, sua história, e tem que ser respeitada. Manaus, Belém, Uruguaiana, Porto Alegre, Vitória, Florianópolis, Minas Gerais. Todos os lugares desse Brasil. E de São Paulo, com desfile de escolas de samba em Santos, Guaratinguetá… Tem a sua magia e tem que ser respeitada. O importante é que a gente leva a nossa cultura para o povo. O carnaval é isso: É inclusão, é alegria, é oportunidade, é a gente poder levar a história para as pessoas, conhecimento. Isso é muito importante”.

De lá para cá, o que é igual? E daqui para lá, o que é diferente?

“O povo aqui é muito apaixonado pelas escolas de samba, assim como o Rio de Janeiro também é, e nas outras cidades também acontece. O povo do carnaval é muito apaixonado. Acho que São Paulo tem uma união muito grande, um respeito muito grande, especialmente pelo pavilhão. Tem todo um processo quase religioso de saudação ao pavilhão, e isso sempre me impressionou muito. Todo esse respeito que tem pelo pavilhão me tocou muito”.

Falando de samba, qual foi o mais marcante da sua carreira?

“Ah, com certeza foi o Malandro Batuqueiro do Salgueiro (‘A Ópera dos Malandros’, de 2016). É um samba que marcou minha passagem pelo Salgueiro e sou lembrado até hoje por esse desfile e por esse samba”.

Se pudesse ter cantado na avenida algum samba de São Paulo, quais em especial?

“Da Rosas de Ouro, o ‘Mar de Rosas’ (de 2005), que acho um samba lindíssimo. Mancha Verde 2012 (‘Pelas Mãos do Mensageiro do Axé a Lição de Odú Obará: A Humildade’), que toda vez eu falo com o Freddy que é um samba fantástico. E tem o do Vai-Vai, do Maestro de 2011 (‘A Música Venceu’), lindíssimo aquele samba. São Paulo tem muito samba bom”.

Entrevistão com o intérprete Evandro Malandro: ‘Me sinto muito feliz de estar no melhor momento da minha carreira’

Integrante do carro de som da tricolor de Caxias desde 2014, Evandro assumiu o posto de primeiro intérprete em 2019, com a saída do cantor Emerson Dias, hoje intérprete do Acadêmicos do Salgueiro. Logo no ano seguinte de sua estreia, Evandro protagonizou um dos melhores sambas daquele ano, juntamente com um dos melhores desfiles da Acadêmicos do Grande Rio de todos os tempos. Tendo enredo, desfile e samba altamente elogiados pelo público, a expectativa para 2022 eram grandes, e foram atendidas com sucesso. Depois do vice-campeonato conquistado no último carnaval com o enredo “Tatalondirá: O Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”, a Grande Rio traz para esse ano enredo ‘Fala, Majeté! As sete chaves de Exu’.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Sem dúvidas hoje eu estou no melhor momento da minha carreira, e o desfile de 2020 faz parte disso. Foi uma mudança maravilhosa, principalmente porque em 2019 a Grande Rio fez um desfile que não foi muito bem entendido pelos jurados. Mas graças a Deus, 2020 veio para colocar a nossa escola no lugar certo, que é brigando pelo campeonato. Eu estou muito feliz e posso dizer que aquele desfile foi um grande trampolim na vida do Evandro Malandro. Estou potencializando esse meu melhor momento com os meus profissionais, professor de canto, fonoaudióloga e meu carro de som. Então graças a Deus eu estou tendo a chance de evidenciar isso cada vez mais para todo mundo”, afirmou o intérprete.

Evandro aproveitou para contar seus cuidados vocais agora nessa reta final e não deixou de ressaltar a importância do bom andamento desse processo para todo seu carro de som.

“Um cantor não consegue fazer trabalho nenhum se ele não tiver um carro de som que esteja tão bom quanto ele estiver. Eu sou muito chato em me preocupar com o cuidado em relação aos meninos. Estou sempre perguntando se dormiu bem, falo para não beber nada gelado, comer maçã. Me preocupo muito com eles porque eu vim de um time de cordas, e sei que se eles estiverem bem, eu também estou bem, caso contrário, nada feito. Eu tenho o meu professor de canto, o Pedro Lima, e a minha fonoaudióloga, Bianca Paz. Minhas aulas são todas as terças e quintas-feiras, e também tenho aula com meu carro de som na quadra. Não fico tão à vontade como eu gostaria porque eles não me permitem”, brinca Evandro, mas garante lidar muito bem com tudo isso.

Por falar em voz, Evandro também ficou muito conhecido no mundo do Samba, em razão de seu famoso grito de guerra “É isso que beleza, que beleeeeeza”. O que quase ninguém sabe, é que o grito saiu da junção de uma simples e inocente mania com o toque final de seu parceiro também intérprete Diego Nicolau.

“Eu tenho muito a mania de falar “beleza”. Antigamente eu tinha um grupo de pagode, e antes de passar o som, eu sempre olhava para os meus amigos e ficava falando: Beleza som, beleza gente? Eu sempre fui um cara muito extrovertido e que brinca muito, e daí a junção da minha risada com esse “beleza” ajudou muito. E o “é isso”, foi colocado pelo meu irmão Diego Nicolau. Ele falou que eu era um cara muito caricato, e na Renascer de Jacarepaguá quando eu ia passar som eu falava “É isso rapaziada, tudo certo”, e assim pegou”, revelou.

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Foto: Reprodução/redes sociais da Grande Rio

Evandro também é sempre muito elogiado por seus figurinos exóticos para os desfiles. Ao contrário da grande maioria dos intérpretes, ele afirma ser da opinião sobre ser muito mais interessante para o espetáculo, entrar no enredo. “O terno é bonito, mas fazer parte do enredo marca mais”.

Quando questionado sobre sua relação com o mestre de bateria Fafá, foram só elogios. Evandro relatou que eles conversam bastante, além de se darem dicas quanto ao que acham que ficaria melhor no desempenho do outro. A “invocada”, é conhecida por ter um andamento mais cadenciado, mas o cantor garantiu que isso só contribui para o desfile.

“A minha relação com o Fafá é maravilhosa. Ele é um irmão que a vida, o samba e a Grande Rio me deram. Ele é um cara extraordinariamente musical, e juntou com a minha formação musical, que eu também tenho desde os meus nove anos de idade. Então eu fiquei muito feliz de encontrar como mestre de bateria, um cara como eu, que tem muita vontade de trabalhar. A gente combina arranjos conversando no reservado, ele me pergunta o que eu acho interessante para a bateria, eu pergunto o que ele acha interessante para o carro de som, arranjos de cordas junto com a escola. O menos é mais, então nós gostamos de trabalhar com menos coisas, mas coisas essas que possam surtir um efeito muito maior na Sapucaí”.

Um completo apaixonado por samba enredo, Evandro também contou alguns de seus sambas e vozes preferidas do carnaval. Fã declarado dos sambas da década de 70, também se assumiu fã de Jamelão e um admirador dos sambas cantados por ele.

“Gosto de alguns do Império Serrano. Fora alguns da própria Grande Rio que eu gostaria de ter cantado, como “Os Santos que a África não viu” (1994), “Madeira-mármore, a volta dos que não foram, lá no Guaporé” (1997), sem contar os que a gente já canta, em especial os sambas de 2020 e agora o Fala, Majeté! Sete chaves de Exú.

Análise da bateria do Império Serrano no desfile de 2022

A estreia de Mestre Vitinho na Sinfônica do Samba foi excelente. Uma bateria do Império Serrano com privilegiada afinação de surdos, fora o balanço envolvente das terceiras, dando molho para que as caixas rufadas tocadas tradicionalmente embaixo pudessem brilhar. Tudo isso atrelado musicalmente a um complemento de peças leves sólido e com sonoridade exemplar.

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Os agogôs da Serrinha foram um espetáculo à parte em ritmo, condução melódica, bem como no luxuoso auxílio na paradinha da capoeira. A ala de tamborins executou sua convenção rítmica baseada na melodia do samba de modo eficiente, chapado e sincronizado com um naipe de chocalhos que tocou firme, propagando boa sonoridade. As paradinhas possuem concepção criativa de grau elevado e alta complexidade relativa à execução.

A bossa musical de maior destaque uniu o peculiar ritmo da bateria do Império Serrano e uma interação que garantiu uma apresentação de capoeiristas, além de solo de berimbaus com os agogôs imperianos. O público presente ovacionou a referida paradinha.
As apresentações diante de todos os módulos foram ótimas, com paradinhas bem executadas, garantindo a boa receptividade dos julgadores.

Império Serrano faz desfile tecnicamente perfeito, vê samba render e se coloca como favorito na briga pelo título

O presidente Sandro Avelar falou mais de uma vez que o desfile de 2020 era o pior da história do Império Serrano em sua história. Se é verdade, a escola então se redimiu com um desfile sem erros, perfeito em evolução, com destaque também para o canto da escola, bateria do estreante mestre Vitinho e a comissão de Patrick Carvalho, que ainda que um efeito não tenha funcionado no segundo módulo, resumiu de forma clara o enredo. A Verde e Branco da Serrinha esteve menor do que algumas outras agremiações, mas entregou alegorias e fantasias de bom gosto. Com o enredo “Mangangá”, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, a agremiação encerrou a última noite dos desfiles da Série Ouro com 53 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de Frente

A comissão de frente de Patrick Carvalho “Besouro e Império da patente de Ogum” representou a crença de que Manuel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, era um homem de corpo fechado que lutava com a força protetiva de seu orixá. Para isso, a comissão trouxe um bailarino representando o “Besouro Mangangá”, e outros representando as entidades do orixá, estes vestidos em uma roupa prateada que colocava um tom futurista para a apresentação. A coreografia de avanço trazia bastante sincronia entre os orixás e o capoeirista. Atrás, um elemento cenográfico representando o engenho foi palco primeiro para a emboscada armada para o assassinato do “Besouro”, quando outros capoeiristas e um coronel aparecia para realizar o ato. O elemento cenográfico apresentava o truque usado por Patrick Carvalho em outras comissões em que a alegoria passava e se realizava uma transformação, neste caso, o componente era trocado por um drone caracterizado do inseto besouro que voava e levantava o público. Como ponto importante a ser citado, o drone não realizou o voo no segundo módulo de julgamento, sendo retirado por um componente e guardado novamente na cenografia.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Serrinha, Matheus Machado e Verônica Lima, tinham como fantasia “Exu de Oxalá”, representando o mensageiro de um orixá supremo, o exu que veste branco. A dupla realizou uma apresentação de cerca de dois minutos e meio pontuando bastante algumas terminações dentro do samba que traziam elemento das religiões africanas como “firma o ponto no Juremá”, “Sou eu Império da patente de Ogum” com algum tipo de passo afro, principalmente quando a bateria fazia uma bossa mais voltada para o jongo. No “sou Exu de Oxalá”, a dupla realizava uma referência afro com o ombro. No geral, a dança mostrou bastante intensidade nos passos, principalmente de Matheus, que alguns momentos parecia flutuar. Já Verônica girava com bastante elegância. Um ou outro momento que a bandeira poderia estar mais desfraldada, mas nada que comprometa a boa apresentação.

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Harmonia

Desde os primeiros versos quando Igor Vianna e Nêgo iniciaram o “Bate Marimba”, não só os componentes da Serrinha como boa parte da Sapucaí nas arquibancadas e nas frisas entoaram o samba com vigor, intensidade e correção da letra que poderia aspirar alguma dificuldades pela letra e métrica bonita, mas de não tão fácil aprendizado. Do início ao fim da escola, as alas cantaram e não se via componentes fingindo ou conversando. Destaque para as alas “mestre Alípio”, no primeiro setor, ala “Ogum”, do segundo setor e “samba de roda”, do último. Algumas alas mais clássicas como baianas, velha guarda e passistas também passaram cantando muito, assim como a bateria de mestre Vitinho e a comissão de frente.

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Enredo

O enredo “Mangangá” de autoria do carnavalesco Leandro Vieira transformou em narrativa carnavalesca a história de Manuel Henrique Pereira, capoeirista baiano que tornou-se uma forte liderança na luta contra a insubordinação de homens e mulheres negros. Seu nome mais popular, Besouro Mangangá. Dividido em três setores, na abertura “ Firma ponto pro corpo fechar”, a escola mergulhou em um ambiente que evoca a ancestralidade negra. Em seguida “Negro feito na cabaça não se rende a coronel”, a abordagem foi direcionada ao aspecto religioso, segundo mitos, o orixá fecha o corpo do homenageado para adiar a sua morte. Por fim, “Serrinha canta o justiceiro vingador”, o Império abordou a vida de trabalho do capoeirista e apresentou seus algozes. Um enredo de fácil leitura que trouxe de forma cronológica os fatos que o carnavalesco escolheu como mais relevantes da vida do capoeirista. A escolha por um recorte mais específico da vida do homenageado acabou por trazer um desfile menor em comparação com outros escolas.

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Evolução

A escola foi perfeita no quesito e se coloca muito forte na briga pelo título em comparação a escolas que erraram bastante. A opção por um desfile mais enxuto foi inteligente, focando em mostrar qualidade e não quantidade, o que impactou em uma evolução no geral fluida, sem buracos, espontânea, sem alas emboladas.Destaque para alas de passistas “trabalhadores negros” que além de trazer uma fantasia colorida mostrou bastante samba no pé. Destaque também para a ala “Xangô” do segundo setor que passou na Avenida com muita alegria, canto e sem se colocar em fileiras rígidas. A ala “Exu” do início realizava uma coreografia muito bonita e espiritualizada.

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Samba

O samba escolhido ainda em 2020 que poderia preocupar por algumas questões de métrica mais difícil nos dois refrãos passou de forma bastante tranquila pela Sapucaí principalmente pelo andamento mais cadenciado gerado pela Sinfónica de mestre Vitinho. O samba facilitou o canto e deixou a evolução mais espontânea. A letra foi cantada não só pelos componentes do Império, mas pelo público em geral nas frisas e arquibancadas, fato raro. Destaque para o refrão “Bate Marimba Camará”, o trecho antes do refrão do meio “Filho de faísca é fogo”. A integração no carro de som entre os intérpretes oficiais Nêgo e Igor Vianna, que finalmente fez sua estreia depois de quase dois anos anunciado, foi um ponto alto, sem vaidade, com cada um deixando o outro profissional brilhar e os dois impulsionando o canto do imperiano.

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Fantasias

A escola trouxe fantasias de muito bom gosto com a cara do carnavalesco Leandro Vieira, com boas soluções estéticas.Em diversas alas, a escola também investiu em uma maquiagem que contribuia para a caracterização de cada fantasia. A bateria “besouro:sangue real”, que evocava a ancestralidade real do capoeirista, os ritmistas estavam com o rosto pintado de branco. O mesmo se viu nas alas seguintes Destaque para as alas seguintes “Jagunço”, representando os homens violentos, guarda-costas de pessoas influentes, e ” Coronel”, representando inúmeros senhores que queriam a morte do capoeirista, e “força policial”, apresentando brigas entre o Besouro e os supostos defensores da lei. A ala das baianas “mirongueiras”, muito coloridas, vestindo a sabedoria e os segredos das pretas mirongueiras. Outro destaque foi para a ala das crianças “ogun”, representando os corpos fechados que na tradição afro-brasileira.

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Alegorias

Com três alegorias, a escola trouxe no abre-alas “Besouro, saravá, Serrinha”, o Besouro Mangangá, capoeirista homenageado do enredo. A alegoria trazia a coroa do Império sendo resguardada por Orixás, destaque para a utilização de materiais como ferro retorcido que apresentava um efeito interessante, assim como a diferente estética das esculturas de frente, mais voltado para o afro.

Na segunda alegoria ““Se quebrar pra São Caetano”, o Império representou um ambiente rural, típico do recôncavo baiano, um carnavalesco engenho de cana de contorno africanizado, pois Besouro foi trabalhador de engenhos da região, criativo pela utilização de bambus.

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Por fim, a terceira alegoria “Império, da patente de Ogum”, mostrou Besouro morrendo e virando lenda. Seu corpo, consagrado a Ogum, transforma-se em sinônimo de luta negra. Uma escultura de São Jorge figurava no centro da alegoria, a iluminação se destacou principalmente pela coloração prateada do carro. Em geral, a escola trouxe alegorias de muito bom gosto, assim como as fantasias, ainda que menores que outras escolas e não tendo o melhor acabamento da Série Ouro, ainda que estando entre as melhores.

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Outros Destaques

A bateria do mestre Vitinho trouxe berimbaus que participavam das bossas. Uma de grande destaque remontava ao toque da cavalaria e o fechamento com o agogô. A rainha Darlin Ferrattry, com a fantasia “realeza imperiana”, chorava de emoção quando a bateria saiu do segundo recuo. Além dela, muitos imperianos no final do desfile estavam emocionados tanto dentro da escola como nas arquibancadas. O setor trouxe o grito de campeão. Quitéria Chagas levantou a arquibancada do setor 3 sambando antes do início do desfile. Arlindinho e sua esposa marcaram presença também na Sapucaí na apresentação da Serrinha.

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Torcedores de Tuiuti, Vila Isabel e Mangueira comentam sobre identificação com enredos desse ano

As escolas de samba, desde suas origens, constituíram-se em importantes espaços sociais e de inclusão para uma parte significativa da população carioca, marcadamente preta, pobre e excluída. Constantemente representados na mídia como ambientes marcados pelo tráfico de drogas, pela violência e pela pobreza, os bairros cariocas, em que a maioria das escolas de samba se situam, encontram no carnaval um dos raros momentos em que podem promover o orgulho e a autoestima de seus moradores. Por isso, enredos que colocam o negro como protagonista da festa, resgata o orgulho e eleva a autoestima de seus componentes.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O Paraíso do Tuiuti abre a segunda noite de desfiles no Grupo Especial com o enredo “Ka ríba tí ÿe – Que nossos caminhos se abram”, do carnavalesco Paulo Barros. A escola vai cantar na avenida histórias de luta, sabedoria e resistência negra. Em seu último desfile com temática africana, a escola emocionou público e crítica, alcançando um inédito segundo lugar no final da apuração, para esse ano a expectativa dos torcedores é de vôos ainda maiores.

“Eu acho que o enredo do Tuiuti resgata a memória do nosso povo, resgata uma estética, politicamente é importante a gente poder construir e resgatar essas memórias que por muito tempo foram esquecidas, foram sofrendo e eu acho que enredo com essa estética, com essas escolhas, resgatam essas memórias e potencializam o nosso povo”, conta o torcedor da escola Alisson Reis, de 25 anos.

Unidos de Vila Isabel terá a missão de encerrar o carnaval carioca neste ano, a escola promete emocionar a todos com uma belíssima e justa homenagem ao seu maior baluarte, Martinho José Ferreira, ou simplesmente, Martinho da Vila. Com o enredo “Canta, Canta, Minha Gente! a Vila é de Martinho!”, do carnavalesco Edson Pereira.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“O Martinho da Vila é um ícone, ele representa a Vila Isabel, ele leva no nome como uma forma de identidade, ele já deu muitas alegrias pra gente, agora a escola tem a oportunidade de estar retribuindo tudo que ele fez por nós”, destaca Luana Machado, torcedora da Vila, de 36 anos.

A Mangueira promete honrar a história de três dos seus maiores ícones da história, com o enredo “Angenor, José e Laurindo”, do carnavalesco Leandro Vieira, a verde e rosa levará para a avenida a vida de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre sala da escola. São potências negras que marcaram época na escola e fizeram a alegria de várias gerações de apaixonados pela Mangueira.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Esse enredo é pra gente retornar às nossas origens, em 2011 viemos falando de Nelson Cavaquinho e foi um ano que a gente se reconectou com nossa história, acredito que esse ano o sentimento é o mesmo. Depois de dois anos parados, sem carnaval, vir falando de Cartola, Jamelão e Delegado é se reconectar com as origens da Mangueira”, conta a historiadora e moradora da Mangueira, Layla Silva.

Enredos desse gênero servem como importante espaço para celebrar a história e a cultura de muitos desfilantes que convivem com uma realidade marcada pelo preconceito e um contexto econômico desvantajoso, dar o protagonismo para essas pessoas é mais do que justo, é um dever.