No próximo carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis levará para avenida o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”, a escola abordará a contribuição intelectual do negro em todas as esferas da sociedade e prepara uma série de homenagens a grandes figuras negras da sua história. Falecido no ano passado, em decorrência de complicações da Covid-19, Laíla será um desses homenageados. Afinal, toda comunidade de Nilópolis o enxerga como um grande Griô, afinal, foram 24 desfiles consecutivos no comando do carnaval da escola, sem contar as outras passagens do diretor pela azul e branca. A relação que se rompeu em 2018 não foi capaz de apagar os anos de dedicação e amor que dedicou a escola, agora, o reconhecimento virá em forma de homenagem.
O site CARNAVALESCO ouviu os componentes da escola sobre o que eles esperam da homenagem ao Laíla. Alguns contaram um pouco da relação que tiveram com ele e da importância dele dentro da história da agremiação. Uma certeza: Laíla faz falta e seus ensinamentos sempre estarão vivos na memória de todos que conviveram com ele.
Na escola há 35 anos, a coreógrafa Valéria Brito, chegou na agremiação no mesmo período que Laíla e diz que conviveu diretamente com o diretor, para ela, todos os anos juntos serviram como um enorme aprendizado.
“Conheci o Laíla quando ele tava chegando na equipe do Joãozinho Trinta, desde o início ele sempre teve esse dom de liderança, sempre foi uma pessoa que demonstrou um profissionalismo incrível dentro do carnaval, com a experiência dele, não só na harmonia, mas também na bateria e em outros segmentos, ele era um cara incrível na visão ampla do que é o carnaval, de como é fazer um carnaval dentro de uma escola de comunidade. O Laíla sempre valorizou a comunidade, sempre brigou pela gente, sempre defendeu a gente, em questões simples ou mais complicadas. Lembro que ele sempre brigou pela ampliação da quantidade de alas da comunidade, focava muito em quem era Beija-Flor”, conta Valéria
Apesar da fama de ter temperamento explosivo, Valéria conta que Laíla agia como um verdadeiro líder e tratava todos com muito respeito: “Era um pessoa que muita gente temia, pelo fato dele ser um grande líder ele tinha que ter pulso forte, brigar com a gente, cobrar e chamar atenção, mas fora do palco ele era um ser humano maravilhoso, tenho lindas lembranças dele, agradeço as oportunidades que ele me deu, graças a ele eu já coreografei um show da Beija-Flor na Suíça, ele me puxou pra frente da escola com a minha ala, então eu tenho toda gratidão e respeito por ele. Eu acho muito bacana essa homenagem da escola, dentro da quadra tem a imagem dele e ele fica no coração de cada um”, destaca a coreógrafa.
“O Laíla foi um grande mestre para toda escola, não só para a Beija-Flor, mas para todo o mundo do samba, os ensinamentos dele é algo que com certeza a comunidade vai levar pra vida, a questão da dança, da garra, da força e da energia é algo que vem muito dele, por mais que ele não esteja aqui hoje, ele sempre vai existir na Beija-Flor, sempre vai estar com cada componente, toda vez que a gente entrar na avenida vamos carregar um pouquinho de Laíla. Todo mundo que conheceu ele, que teve a oportunidade de conviver um pouco com ele vai levar isso, é isso que faz com que o samba resista, então o Laíla sem dúvidas é um dos grandes nomes do samba e merece todas as homenagens possíveis”, conta Shayana Baptista.
Além da perda de Laíla, durante o pré-carnaval, grandes personalidades do samba nos deixaram, dentro da Beija-Flor algumas perdas foram sentidas por toda a comunidade, como a do intérprete Bakaninha e de Léo Mídia, integrante da comissão de carnaval.
Sobre essas perdas, Shayana comenta: “As perdas foram grandes e foram num espaço muito curto de tempo, a gente vem de um período da pandemia em que tudo é muito conturbado, acho que tudo isso influencia, mas acredito que vamos entrar na avenida com muita garra, essas perdas vão fortalecer ainda mais a comunidade”, comenta a bailarina.
“O Laíla pra mim foi a melhor pessoa que passou pela escola nesses anos todos, na época que ele tava lá ele comandava tudo, então ele faz muita falta, inclusive pra mim que não aceitei a saída dele até hoje. Ele tinha o jeito rude, mas tinha o maior amor pela comunidade, ele sempre falou que gostava muito da comunidade de Nilópolis. Nós vamos para a avenida com bastante garra, buscar homenagear os que partiram da melhor forma possível, vamos pensar positivo nos que se foram, a comunidade vai dar tudo de si, somos uma escola guerreira e as pessoas que se foram fazem muita falta”, comenta a componente Solange Baltazar.
Com o enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada, a agremiação de Nilópolis será a última a desfilar no primeiro dia do Grupo Especial, na sexta-feira, 22 de abril.