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Freddy Ferreira analisa a bateria da Mangueira no desfile

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A bateria da Estação Primeira de Mangueira fez um desfile espetacular, na estreia de Mestre Taranta Neto, em dupla com o já experiente Rodrigo Explosão. Um ritmo que apresentou uma conjunção sonora extremamente valiosa e com o mérito de atrelar a cultura baiana à musicalidade da bateria. Uma exibição que evidenciou uma disciplina musical acima da média, junto a uma cadência que permitiu a fluência plena de todos os naipes.

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A cozinha da bateria contou com uma afinação particularmente grave, inserida no DNA musical da Mangueira. Os surdos de primeira foram precisos, firmes e seguros durante toda a pista. Já os surdos mor foram responsáveis pelo balanço único e genuíno que possui a bateria mangueirense. Repiques de altíssima qualidade técnica foram notados. Um naipe de caixas de guerra com boa educação musical deu amparo e serviu de base a todos os naipes do ritmo da Mangueira, num trabalho destacado pela limpeza do toque, que inclui a tradicional rufada. Os “timbaques” deram um molho envolvente à parte de trás do ritmo. Utilizar o “Timbaque” foi uma solução encontrada diante de atabaques com alto valor de mercado. Com uma constituição de timbal, adaptado para utilizar pele de atabaque, sua sonoridade impressionante integrou a musicalidade mangueirense de forma bem genuína. Fora as participações privilegiadas em bossas.

A cabeça da bateria apresentou um trabalho rítmico primoroso. Uma ala de cuícas poderosa e coesa foi notada. Xequerês dando um molho peculiar a parte da frente do ritmo auxiliou no preenchimento musical. Os ganzás (como são conhecidos os chocalhos da Mangueira) se exibiram de modo privilegiado, com um toque uníssono. Complementando a sonoridade também haviam agogôs de duas campanas (bocas), adicionando um tom metálico a um ritmo culturalmente mais pesado. Uma ala em questão merece uma exaltação pra lá de especial. O naipe de tamborins mangueirense se apresentou de forma soberba, pontuando a melodia do samba através do desenho rítmico de tamborim mais inspirado desse Carnaval. O toque integrado dos ritmistas da ala, que pela Avenida pareciam um só, dignifica mais do que nunca o apelido da bateria da Estação Primeira de Mangueira: “Tem que Respeitar Meus Tamborins”.

A bossa do refrão do meio foi uma construção musical de intenso valor sonoro e religioso. Nela todos os ritmistas se abaixavam, com exceção dos “timbaques”, que faziam um solo envolvente. Os demais naipes se levantaram enquanto a sonoridade foi sendo produzida por diversas peças. Na primeira parte da bossa, os “timbaques” fazem um toque para Exu, como pede a música. Mais uma vez seguindo o que a belíssima canção mangueirense pedia, aconteceu uma troca para o toque de Ijexá, num movimento rítmico não só bem elaborado, como profundamente integrado à bateria da Mangueira. Um arranjo musical que uniu ritmo virtuoso e movimentos sincronizados, que receberam ovação do público.

Uma paradinha intimamente ligada ao samba-enredo da Estação Primeira foi a da segunda do samba. A partir do verso “Quando a alegria invade o Pelô”, se aproveitando da melodia da obra, foi produzida uma sonoridade com levada baiana. Surdos mor e “timbaques” deram um balanço único, consolidando as frases rítmicas junto com amparo das caixas. Para concluir, surdos mor e “timbaques” chamaram as caixas para um novo diálogo musical. No refrão que antecedeu o principal, o arranjo é complementado por uma batida profundamente valiosa do naipe de caixas de guerra que remete ao belo desenho rítmico dos tamborins, evidenciando o bom trabalho das caixas mangueirenses. Um arranjo musical de alta complexidade, mas nítido e inegável impacto sonoro. Representou um acerto cultural e musical, ao fornecer o que o samba da verde e rosa solicitava.

Algumas vezes na pista, a escolha foi parar o ritmo fazendo um “apagão” no refrão que antecede o principal, sendo cantado maciçamente em coro. A retomada no refrão principal se aproveitou da pressão dos surdos para provocar impacto sonoro. Foi percebida certa ovação popular, transformando a escolha em acerto musical e harmônico.

Todas as apresentações em cabines de julgadores foram soberbas e seguras. A apresentação no último módulo ganhou contornos simplesmente apoteóticos. Nenhum problema foi evidenciado em nenhuma das três cabines da pista de desfile. A exibição da bateria da Mangueira, comandada por Rodrigo Explosão, em dupla com o estreante Taranta Neto, foi fabulosa. Um ritmo que tem tudo para pleitear a nota máxima, quiçá sonhar com premiações, depois de um desfile magistral.

Plástica do Salgueiro se destaca por beleza, mas gigantismo das alegorias gera problemas de evolução

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Na estreia do carnavalesco Edson Pereira, a Academia do Samba trouxe carros enormes, com ótimo apuro visual, fantasias com a mesma excelência estética e com grande acabamento e volume, mas o gigantismo das alegorias causando problemas de evolução como a constituição de clarões na pista e uma escola por muito tempo parada. A comissão de frente coreografada por Patrick Carvalho foi um ponto alto da noite, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei Santos e Marcella Alves. A leitura do enredo nas fantasias e alegorias e seu desenvolvimento lógico gerou dificuldades para o público. Quinta escola da primeira noite do Grupo Especial, o Salgueiro apresentou o enredo” Delírios de um paraíso vermelho”, encerrando seus desfile com 1 hora e 10 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

O coreógrafo Patrick Carvalho trouxe para a Sapucaí a comissão de frente intitulada “o julgamento” . Na apresentação, uma cidade de sombras se levanta e vivos enterrados em seus próprios corpos, soterrados pela censura e culpa, vagueiam inertes , manipulados por uma figura assombrosa, um grande juiz a sentenciar aos túmulos, representada por uma figura encapuzada a frente do enorme elemento cênico que representava um cemitério. Arlequins, pierrots, colombinas sem as cores, apareceram solitários no meio de uma multidão apática. Um ator representando João Trinta foi quem enfrentava as ameaças da morte. No elemento cênico, as tumbas se abriam e os corpos levitavam em um grande truque que levantou a Sapucaí.

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No final, no embate entre a morte e João Trinta, o carnavalesco parece ser engolido pela figura nefasta, mas se libera e em outro truque, o personagem saí de dentro da capa vazia do monstro encerrando a comissão que fez uso da iluminação cênica da Sapucaí, valorizando bastante a iluminação do próprio elemento alegórico. A comissão apresentou uma concepção próxima com a forma que Edson retratou em todo o desfile, esse embate com a intolerância, com os pré-julgamentos. De uma forma que trazia bastante o sobrenatural e as referências do terror como a própria morte. O efeito foi um ponto alto da comissão e o apuro visual das fantasias e do elenco cenográfico foram destaques também.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Juntos na Academia desde 2014, Sidclei Santos e Marcella Alves vieram representando ” O Jardim das delícias celestes”. O figurino indicou a profusão tropical que floresceu no paraíso, um jardim de delícias, de flora extravagante. A fantasia de ambos possuía um vermelho vibrante, contrastado ainda em cores cítricas no amarelo e laranja. A apresentação foi marcada pela sincronia e entrosamento de sempre, entendimento no olhar. Rodopios muito intensos de Marcella e passos bastante eficientes e também intensos de Sidclei. Em alguns momentos a dupla pontuava alguns trechos do samba como o “basta”, “chega” e “aviso”. No momento da apresentação do segundo modulo havia muito vento, mas a porta-bandeira usou a experiência e dominou a bandeira de forma eficiente, mantendo a excelência da apresentação. Uma apresentação irretocável.

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Harmonia

A comunidade do Salgueiro mais uma vez mostrou que comprou a briga pelo samba, muitas vezes criticado no carnaval. Se o canto não foi tão arrebatador como no ensaio técnico, muito menos foi problemático. No geral as alas cantaram o samba o tempo todo, com mais de intensidade nos refrões principais. Uma ou outra pessoa nas ala passava sem cantar, o que não se configura em problema.

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Destaque para a alas do segundo setor como as alas “te devoro” e “noites de magia e luxúria”. No quarto setor o destaque foi para ” todes a bordo” e no encerramento a ala de compositores. Comissão e casal também cantaram. Sobre o carro de som, o time de vozes de apoio da Academia garante a tranquilidade para que o Emerson possa se soltar e ser o intérprete que motiva bastante a escola, sem perder a correção musical.

Enredo

O Salgueiro investiu em uma fábula sobre um novo paraíso para discutir igualdade. A escolha do enredo teve como proposta a retomada de um lirismo artístico narrativo estético. O conceito do projeto foi transportar o espectador ao campo dos sonhos, onde será orientado para encontrar o seu desejo particular de paraíso, a partir de suas vivências. Através da divisão de setores, inicialmente a escola trouxe o paraíso original, o jardim do Éden. Em seguida, foi representado a luta do bem contra o mal se intensificando a partir das provações que é submetido o ser humano, daí os sete pecados originais.

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Seguindo, o enredo apresentou as escolhas dos homens tendo por consequência o início do juízo final. A partir do quatro setor, a escola propôs o fim dos tempos como um recomeço, louvando aqueles que foram os excluídos. O quinto ato deste desfile levou a chegada a um delirante paraíso vermelho em ritmo de festa. A proposta é interessante, e a mensagem contra intolerância e pré -julgamentos é importante. Mas em alguns momentos faltou um pouco de leitura das fantasias. Algumas propostas de fazer a comparação entre os problemas reais e o lúdico, acabaram de limitando ao lúdico. Como por exemplo o carro número quatro que era barca do renascimento, que visava trazer a luta por direitos e inclusão, mas a alegoria apresentava muito mais a fábula do Caronte, e pouco esta mensagem.

Evolução

A evolução da escola foi bastante conturbado devido ao gigantismo dos carros que tiveram dificuldades de entrar na Sapucaí. Logo no início, a ala a frente do abre-alas se deslocou próximo ao segundo módulo de julgamento e o carro continuou parado, gerando buraco. No terceiro módulo aconteceu o mesmo. Outro problema, mas no primeiro módulo, na entrada do segundo carro na Sapucaí, a ala logo a frente também andou e gerou buraco porque a alegoria teve dificuldade para evoluir em seu início de desfile.

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Por conta dos problemas de carro e por uma apresentação mais demorada da comissão de frente, a agremiação ficou muito tempo parada. Problemas com a saída nos carros na dispersão também contribuíram para a lentidão. Já no final, a evolução chegou a ficar um pouco mais corrida, normalizada no momento que a bateria saiu do segundo recuo com uma 1h03 de desfile.

Samba-Enredo

A obra de Moisés Santiago e companhia possui uma melodia que foi de fácil assimilação pelos componentes e por quem estava ouvindo no geral, por possuir uma linha melódica bem evidente. O samba claramente trabalha muito para concentrar o ápice, ou a “explosão” em seus refrões, tanto o principal “Vermelha Paixão Salgueirense” que concentra mais sua temática na valorização da própria escola, quanto o “No meu sonho de rei” , que introduz um tom mais dramático e de súplica, desejo.

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A música teve um bom rendimento pelos componentes no geral, mas não interagiu muito com o público e o canto não chegou a a se expandir para fora da pista. Destaque também para o trecho do “basta! De violência e opressão/ chega de intolerância” , cantado com bastante vitalidade pelos desfilantes. Mas para uma obra que foi muito criticada no pré -carnaval, seu desempenho foi satisfatório com a força da comunidade.

Fantasias

O conjunto estético do Salgueiro teve muito apuro visual por parte do carnavalesco Edson Pereira, com a utilização de matérias de qualidade, criatividade, bom uso de cores e produzindo na pista bastante volume. A paleta de cores variou em alguns momentos mais dramáticos do enredo quando a temática falava dos sete pecados capitais e do quarto setor “louvados sejam os excluídos” que trabalhavam com tons mais escuros.

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No quinto Setor que valorizava a escola, o colorido voltou. Um dos destaques no uso de cor foi a ala “todes a bordo”, ainda no quarto setor que valorizava a comunidade LGBTQIA+. O problema das fantasias no desfile foi a leitura, algumas alas não era tão fácil a identificação do que elas representavam.

Alegorias

O conjunto alegórico do Salgueiro foi composto de 5 carros. O carro abre-alas da Academia chamava bastante atenção pelo tamanho, quase 100 metros, três chassis, o maior que deve passar por este carnaval. A alegoria apresentou a representação do Jardim do Éden, inicialmente destacando sua exuberância tropical colossal, mas também narrando a partir do primeiro homem e da primeira mulher a jornada da humanidade. A alegoria também apresentou uma intensa guerra entre o Reino dos céus e os anjos caídos e trouxe uma enorme serpente, tendo três maçãs enormes a sua frente. Apesar de muito bonito o carro teve problemas de deslocamento e tinha algumas questões de acabamento, nada que prejudicasse seu bom aspecto visual.

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A segunda alegoria “a batalha épica do bem contra o mal” apresentou a eterna disputa entre os anjos fiéis aos preceitos divinos e a horda de anjos caídos. A alegoria foi representada em forma de catedral. O quarto carro trouxe “a barca do renascimento” com um enorme Caronte, apresentando uma grande festa das almas onde os descartados pela sociedade irão desfrutar da plena igualdade de direitos.

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A última alegoria da Academia “Vermelha paixão em uma paraíso delirante” fecha o desfile recebendo as almas do firmamento ao toque de marchinhas. Está alegoria teve problemas de iluminação já no último módulo de julgamento. No geral um desfile com alegorias bem trabalhadas, enormes, no conceito do carnavalesco Edson Pereira, mas que geraram dificuldades em sua entrada, passagem e saída da pista.

Outros destaques

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As baianas, primeira ala da escola, representaram as raízes que cortam o solo como veias profundas que sustentam a força, a resistência, e a beleza da flora que se espalha pelos campos. Os passistas “linha de frente da infantaria” era a linha de combate que abre o campo de batalhas com a responsabilidade de conduzir as tropas ao confronto direto. A furiosa dos mestres Guilherme e Gustavo vieram de “marechal do exército vermelho”, representando a mais alta patente das forças armadas. E a rainha Viviane Araújo “a gladiadora” reinou absoluta na linha de frente dos ritmistas. O intérprete Quinho, que esse ano não pode estar a frente do carro de som oficialmente por conta de problemas de saúde, deu o grito de Guerra e foi ovacionado pela Sapucaí. O mascote Sabiá veio a frente da escola, antes do desfile.

Alegoria da Unidos da Tijuca trouxe a procissão de Bom Jesus dos Navegantes para a Marquês de Sapucaí

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Tijuca02 3O segundo carro alegórico da Unidos da Tijuca, “Beira de baía que deságua minha fé” representa a procissão de Senhor Bom Jesus dos Navegantes. O carro tem detalhes da relação entre os terreiros e a Igreja Católica na Bahia. Os componentes do carro são pessoas de fé e ficaram empolgados em sair na alegoria.

O carro apresenta esculturas representando os terreiros, fitinhas do Senhor do Bonfim, detalhes amadeirados e dourados, além do azul da Unidos da Tijuca. Os desfilantes vieram com três fantasias: altar baiano, senhor dos navegantes e fogueira de Xangô. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os componentes ressaltaram a importância de sair na alegoria e o lugar da fé em suas vidas.

Tijuca06Destaque do carro, Luciana Lemos é bailarina e professora. Luciana mora na Europa há mais de 30 anos e desfilou como destaque pela primeira vez hoje. A fé tem um lugar especial na vida da bailarina.

“Tem tudo a ver comigo esse carro. Fiquei muito emocionada ao entrar no barracão e ver o que esse carro representa. É o nosso senhor que cada um chama de um nome. É a diversidade, é a cultura”, disse Luciana.

Alexandre Alberto, professor de 47 anos, desfila na Unidos da Tijuca há 15 anos. Para ele, a alegoria entrou na Avenida com uma mensagem de esperança para o público.

Tijuca04 3“Que o carro possa representar saúde, esperança, prosperidade para todos nós. Que as fitinhas do Senhor do Bonfim tragam esperança para o Brasil (…) Sem fé nós não sobrevivemos, é ela que faz com que a nossa esperança se renove”, afirmou Alexandre.

Ângela Alves, confeiteira de 58 anos, desfilou pela primeira vez hoje. Ângela é espírita e se considera uma pessoa de muita fé.

“Esse carro representa toda a extensão de fé que a gente possa ter e crer que as coisas vão mudar, que as coisas vão melhorar (…) Eu rezo muito, agradeço muito pelas coisas que Deus me dá no dia a dia”, expressou Ângela.

Com o objetivo de mostrar um enredo alegre, Pérola Negra cantou Jair Rodrigues em desfile regular

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Penúltima escola a desfilar, a Pérola Negra desfilou cantando uma homenagem ao artista Jair Rodrigues. A ‘Joia Rara’ do samba teve como destaque a bateria ‘Swing da Mada’, que executou bossas remetendo a sucessos e vida do homenageado. A segunda alegoria causou um impacto imenso na pista com suas cores e esculturas realistas. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kadu e Camila, mostraram agilidade na dança e foram os únicos a pegarem um tempo mais ameno. Porém, ao todo, a apresentação da Pérola se marcou por ser regular.

Comissão de frente

Cada componente da ala vestia uma fantasia de cada cor, deixando a comissão de frente bem colorida. A coreografia era um misto de tudo, como o samba, a saudação ao público e, principalmente, a dança dos integrantes conforme a letra do samba. A ala quis mostrar alegria, devido à história de Jair Rodrigues. Por isso optaram por algo irreverente e colorido.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Kadu Andrade e Camila Moreira, realizou uma apresentação segura. Em análise na cabine de frente ao recuo, deu para notar movimentos intensos e rápidos no bailado e, na hora de estender o pavilhão para a cabine de jurados, fizeram de forma correta.

Vale destacar que entre todos os casais do Grupo Especial, Kadu e Camila foram os que menos sofreram pela questão do tempo. A pista estava seca, não estava sequer garoando e o vento já tinha diminuído sua potência. Vale ressaltar que isso não é parâmetro, mas o clima é determinante para uma performance satisfatória.

Harmonia

Em termos de volume, o canto da escola foi forte em apenas alguns momentos do samba, como o refrão principal e os últimos versos. Porém, se tratando de uniformidade com a ala musical e bateria, a comunidade da Pérola Negra respondeu muito bem.

Enredo

Como dito anteriormente, a Pérola Negra quis levar um enredo alegre para o Anhembi neste ano e encontrou isso na figura de Jair Rodrigues. Tudo isso deu certo e começou pela comissão de frente, esbanjando um colorido e um impacto de simpatia logo de cara. Após, mostrou suas origens musicais através de uma alegoria com grandes notas musicais e, dentro do setor, alas coreografadas continuavam passando a mensagem para o enredo. Depois mostrou sua fé, religiosidade e, no final, Jair foi coroado com honra pelo carnaval nas cores de Salgueiro e Mangueira, que são as escolas que o artista tinha ligação.

Evolução

A ‘Jóia Rara’ do samba evoluiu de forma correta. Analisando a escola perto do recuo da bateria, deu para ver uma grande organização. Tanto em compactação dos componentes por inteiro, como das alas em si. O alinhamento das fileiras foi feito de maneira correta. Vale destacar que o samba não pedia uma coreografia padrão, então os desfilantes tiveram a estratégia de evoluir de um lado para o outro. Porém vale destacar apenas o refrão do meio: “Vou me banhar na cachoeira… Lavar a alma na fé… Salve o rei da mata meu santo protetor… Oxóssi caçador”. Neste momento os componentes faziam o arco e flecha característico do orixá Oxóssi.

Samba-Enredo

É uma obra que em sua maior parte tem uma melodia lenta. Porém a letra é rica e conta a história de Jair Rodrigues de forma correta. A parte que mais se destaca é quando se fala dos sucessos de Jair e as escolas de samba que ele teve ligação, que foram Salgueiro e Mangueira. O intérprete Daniel Collete fez a sua parte e colocou a comunidade para cima. Foi o tempero do hino e deu um gás gigante.

Fantasias

As vestimentas da Pérola Negra foram padrão da noite. Algumas alas se destacam mais que as outras por ter costeiros maiores e de um requinte maior. Um exemplo é a ala 1, onde a fantasia foi mostrada de extrema simplicidade, mas tinha uma leitura simples e permitia o componente desfilar melhor. Além disso, deu para notar bastante colorido nas fantasias entre os setores. Essa era a proposta Pérola Negra.

Alegorias

A primeira alegoria veio em uma espécie de boiadeiros e onça na frente. Atrás, com notas musicais, remetendo à vida musical do artista. O segundo carro alegórico foi o principal esteticamente. Todo verde com um pássaro amarelo na frente. Logo atrás uma monumental escultura de uma espécie de índio. Por fim, o terceiro era Jair, coroado no carnaval com as cores de Salgueiro e Mangueira. As alegorias mostraram uma bela estética e ideia de história real.

Outros destaques

A bateria ‘Swing da Mada’, regida pelo mestre Neninho, teve um desempenho satisfatório e remeteu a vida do artista. Isso se mostra nas bossas. Nos últimos versos onde se canta Salgueiro e Mangueira, a batucada faz a bossa para ficar somente no surdo de primeira, que é característica da verde e rosa. Outro breque foi feito no ritmo do sucesso “Deixa isso pra lá”. Neninho mostrou criatividade nesses aspectos.

Fotos: desfile do Salgueiro no Carnaval 2023

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Casagrande, o ‘capitão da marujada’, celebra uma década de notas 10 pela Tijuca

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Tijuca01 2Uma bateria que praticamente gabaritou, desde 2010, o julgamento do segmento. Com a fantasia “Capitão patrão da marujada”, o mestre Casagrande entrou na Marquês de Sapucaí comandando os ritmistas da Unidos da Tijuca. O segmento representou a marujada e suas cantorias, que retratavam as travessias marítimas da luta contra os invasores.

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Casagrande, um dos mestres de bateria mais renomados do carnaval carioca, falou sobre a mensagem que a bateria representou, opinou sobre o enredo, além de contar qual o segredo para manter o alto nível e desempenho apresentados nos carnavais da Azul e Dourado.

Para o mestre de bateria, a fantasia estava leve e era bem tranquila, facilitando o trabalho dos ritmistas na Marquês de Sapucaí. Ele destacou que esse é um pedido que sempre faz aos carnavalescos.

“Está tudo dentro do enredo. A fantasia está realmente muito prática e muito boa. Ela também é muito funcional para a gente – é um pedido que eu sempre faço para os carnavalescos. Fomos atendidos e nós estamos muito satisfeitos. A marujada estava pronta para tocar para a escola e fazer um bom desempenho – o que é o mais importante”, disse Casagrande.

Tijuca04 2O mestre destacou que fazia tempo que a Unidos da Tijuca não trazia para a Passarela do Samba um enredo afro. Para Casagrande, um enredo desse tipo, além de falar da Bahia, é sempre muito bom.

“Esse é um enredo realmente muito bom. Falar de Bahia e um enredo afro é sempre bom. A gente tinha uma expectativa muito grande, até porque fazia muito tempo que a Tijuca não colocava um enredo afro na Avenida. O importante é fazer valer a escolha do enredo. A escola canta muito, a bateria sempre muito bem ensaiada”, comentou o mestre de bateria da Unidos da Tijuca.

De acordo com as notas ao longo da última década, uma das melhores baterias do carnaval carioca. O mestre Casagrande revelou que o segredo é ter foco e fazer o simples, atuando de acordo com o regulamento.

“O segredo é muito ensaio, foco e bastante disciplina em questão de ritmo – muito bem ensaiada e focada. Nós acreditamos que sempre o menos é mais, então nós procuramos sempre não ficar inventando muito. A gente já parte da nota dez, então só basta manter. Tentamos manter hoje. A gente não tem o costume de fazer muita coisa especial não. A gente joga pelo regulamento e colocamos ele debaixo do braço. Eu não faço bossa, eu faço convenção musical. São três convenções musicais dentro da melodia do samba e muito bem encaixadas. Uma fácil leitura para o julgador entender bem. A ideia é facilitar o julgamento do jurado.”, explicou o mestre.

Ala ‘Orixantos’ celebrou a ligação entre os orixás e os santos católicos no desfile da Tijuca

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Tijuca03 1A ala coreografada “Orixantos” da Unidos da Tijuca celebrou a relação entre os terreiros baianos e a igreja católica. As fantasias dos desfilantes homenagearam quatro orixás (Oxóssi, Ogum, Oxum e Xangô) e os santos que os representam na Igreja Católica (São Jorge, Santo Antônio, Nossa Senhora das Candeias e São Jerônimo). Os componentes se sentiram muito felizes e importantes com a participação na ala.

A fantasia era diferente para cada orixá: Oxóssi era verde com detalhes e seu característico arco e flecha, Ogum era Azul brilhante com sua imponente espada, Oxum era toda dourada com seu belo espelho, Xangô era vermelho com seu tradicional machado. Nas costas, os componentes carregavam a imagem do santo católico que representa cada orixá. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os desfilantes falaram da importância e da responsabilidade de representar as entidades.

Jaqueline Silva, ambulante de 33 anos, estreou na Marquês de Sapucaí hoje. Como seu orixá é Ogum, Jaqueline se sentiu realizada ao representá-lo na Marquês de Sapucaí.

Tijuca01 1“Para mim a importância é total. É a primeira vez que eu desfilo, e estou representando o meu orixá que é Ogum. Está sendo maravilhoso, muita emoção. É muito grande a responsabilidade, mas eu sei que vou dar conta. Tudo vai dar certo”, disse Jaqueline.

Luzia Rocha, professora de 41 anos, desfila na Unidos da Tijuca há dez anos. A fartura e a prosperidade de Oxum encanta Luzia.

“Eu venho representando Oxum que é uma orixá da fartura, da prosperidade, da beleza (…) Ter uma ala dessa em uma escola é importante, que é minha escola do coração. É importante também por causa da intolerância religiosa (…) É muito importante falar a respeito dos orixás”, falou Luzia

Tijuca04 1Victor da Silva, designer de interiores de 34 anos, desfilava na Azul e Amarela do Borel há alguns anos e retornou em 2023 por causa do enredo. Victor se identifica muito com Xangô por se considerar justo em seu dia a dia.

“Hoje eu estou representando Xangô que é o Orixá da justiça. Eu estou aqui para representar a justiça e a Tijuca ganhar o campeonato esse ano (…) A representatividade de Xangô é muita coisa na minha vida. Eu sou muito justo, é sobre isso”, explicou Victor.

Elizabeth Maceió, comerciária de 57 anos, saiu em seu segundo desfile na Unidos da Tijuca. Aniversariante do dia, Elizabeth espera que Oxóssi abra caminhos em sua vida.

“É o santo que eu gosto. Eu acho que veio em uma hora boa para abrir caminhos. É muita responsabilidade, mas estou pronta para representar Oxóssi na Avenida. Todo orixá tem seu peso, mas acho que Oxóssi tem um peso maior”, expressou Elizabeth.

Matheus André estreia na avenida como primeiro mestre-sala da Unidos da Tijuca

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tijuca desfile 2023 47Estreante como primeiro mestre-sala da Unidos da Tijuca, o jovem Matheus André é uma das promessas da nova geração da Unidos da Tijuca. Matheus usou uma fantasia branca e azul, repleta de detalhes brilhantes. Antes de entrar na Passarela do Samba para o desfile da Azul e Dourado, o primeiro casal da agremiação, em entrevista ao site CARNAVALESCO, contou um pouco do que foram os preparativos para esta estreia, além da expectativa para a apresentação na Marquês de Sapucaí.

Denadir Garcia, um dos nomes mais técnicos e experientes no pavilhão, contou como se deu esse trabalho de preparação para o primeiro desfile do casal. Ela ressaltou que apesar de nunca ter sido primeiro mestre-sala, Matheus tem bagagem e competência.

“Foi um trabalho muito interessante. Apesar do Matheus nunca ter sido primeiro mestre-sala nem no acesso, ele é um moleque com muita experiência na Avenida. Eu pude passar para ele muita coisa, assim como ele também me passou bastante coisa. O trabalho está bem bonito e muito legal”, contou a primeira porta-bandeira da Unidos da Tijuca.

tijuca desfile 2023 09Ela também exaltou o que considera as principais qualidades de Matheus André. Segundo Denadir, o jovem é ouvinte, sempre dando atenção aos conselhos da porta-bandeira e buscando se aprimorar cada vez mais.

“O Matheus é muito ouvinte. Ele ouve muito e isso foi bem legal, porque por ele ouvir muito, começou a estudar tudo que eu falava e mostrava para ele. Isso foi bem legal e muito ‘adiantador’(sic)” , revelou Denadir.

Já sobre a estreia do casal na Marquês de Sapucaí, a experiente porta-bandeira disse que o casal daria o seu melhor para ajudar a escola de samba.

“Está tudo certo para o desfile, Graças a Deus. A expectativa é muito grande para entrar na Avenida e dar o nosso melhor para que na quarta-feira de cinzas a Tijuca consiga se consagrar”, comentou.

tijuca desfile 2023 46Segundo mestre-sala da Azul e Dourado por sete anos, o mestre-sala disse já ter noção da responsabilidade que é representar um dos principais pavilhões no carnaval. Rapidamente, antes de entrar na Passarela do Samba, ele comentou sobre a experiência que estava prestes a viver.

“Eu já sentia um pouco desse peso de ser mestre-sala. Eu fui, por sete anos, segundo mestre-sala da escola. Hoje estou tendo a oportunidade de estar estreando como o primeiro. Este ano quero fazer arrasar, fazer o melhor desfile para a Tijuca e dar um banho de axé”, disse Matheus André.

Com o enredo “É onda que vai… É onda que vem… Serei a baía de todos os santos a se mirar no samba da minha terra”, a Unidos da Tijuca foi a quinta escola a desfilar na Passarela do Samba neste domingo de carnaval.

Comissão e bateria se destacam, mas erros de evolução e falha nas alegorias prejudicam o desfile da Unidos da Tijuca

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Quarta escola a entrar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Unidos da Tijuca apresentou o enredo “É onda que vai, é onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Em 1 hora e 10 minutos, o desfile da escola do Borel foi prejudicado pelos erros apresentados em evolução e os problemas de acabamento nas alegorias. A exuberante Comissão de Frente de Sérgio Lobato e a bateria “Pura Cadência” de Mestre Casagrande foram os destaques da escola. O valente desempenho do carro de som da escola, apesar dos problemas no som da pista, foi notório e o enredo da Amarela e Azul teve fácil leitura. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Comissão de Frente

A Comissão de Frente da Unidos da Tijuca no carnaval de 2023 pode ser definida como histórica, ao ser a primeira da história do carnaval a apagar as luzes da pista e utilizar a iluminação cênica da pista para destacar sua apresentação. Comandada pelo experiente coreógrafo Sérgio Lobato e intitulada “Um Banho de Axé”, como na letra do samba-enredo da escola, se propunha mostrar as águas do Atlântico e as influências culturais africanas na Baía de Todos os Santos. Toda dança era regida por Iemanjá, orixá das águas salgadas nas religiões afro-brasileiras, que foi representada na avenida pela atriz Juliana Alves, ex-rainha de bateria da escola.

LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* Comissão e bateria se destacam, mas erros de evolução e falha nas alegorias prejudicam o desfile da Unidos da Tijuca
* Ala “Holandeses” da Unidos da Tijuca representou a conquista de Salvador

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Além da utilização da iluminação cênica, a dança elaborada por Sérgio Lobato foi bem fundamentada e sincronizada. A coreografia, em seu primeiro momento realizado no chão da pista, utilizava muito do movimento conferido pelas saias dos bailarinos e na excelente interpretação de Juliana Alves. Quando subiam para o tripé, os bailarinos de azul e saia formavam as ondas e mexiam um pano azul e branco dando movimento às mesmas ondas, enquanto a Iemanjá ficava como figura central do tripé. Logo após, surgiam gradativamente novos personagens na cena, com referências a cultura baiana, como um sambista e adeptos de religiões de matriz africana. O ponto alto da coreografia se dava quando a Iemanjá ganhava seus elementos tradicionais e era levantada a metros do chão do tripé, com uma longa saia azul. A Comissão arrancou aplausos em todos os módulos.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

No carnaval de 2023, a Unidos da Tijuca promoveu a estreia de uma nova parceira no quesito Mestre-Sala e Porta-Bandeira, ao mesclar a experiência de Denadir Garcia com o estreante Matheus André. Representando a “Visão Aquática de Kirimurê”, Denadir e Matheus vestiam uma roupa em tons de azul e branco, que remete a elementos marinhos. A ausência do chapéu da porta-bandeira foi o único problema no quesito e pode resultar em descontos. Em volta do casal, a escola trouxe guardiões vestidos de “Ancestrais Tupinambás”.

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Na execução da coreografia ao longo dos módulos de julgadores, o casal se apresentou com maestria e sincronia, sem o mestre-sala sequer parecer estreante. A dança apresentada foi excelente e se destacou no desfile da escola. A coreografia do casal foi bem forte, com bastante referências a elementos da letra do samba, como nas referências aos orixás Oxum e Xangô e no trecho do “cadinho de pimenta”. O movimento dado pelo costeiro azul do mestre-sala contribuiu demais para seus movimentos e conferiu beleza à dança da dupla.

Harmonia

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A Harmonia da Unidos da Tijuca apresentou bom desempenho na avenida e foi um dos pontos fortes da escola no desfile de 2023. Apesar dos diversos problemas apresentados no som da Marquês da Sapucaí que prejudicou diretamente o carro de som da escola comandado por Wantuir e Wic, o canto da comunidade da escola se manteve firme e coesa durante o desfile. A aceleração feita no samba-enredo da escola contribuiu para a valentia no canto do povo do Borel. Além do refrão principal da Amarela e Azul, com o famoso e chiclete “Banho de Axé”, o trecho final do samba da escola, do “Ó pai ó” até “viver será só festejar” foram cantados a plenos pulmões pelos componentes da Tijuca. As alas 2, “Português com um padrão”, 16, “Rendas de Bilro” e 28, “Baianas do samba de roda”, foram destaques no quesito.

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Evolução

O quesito evolução foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais problemáticos da escola no desfile. O mais grave deles ocorreu na apresentação da bateria nos dois primeiros módulos, dos setores três e seis, quando a ala de passistas avançava e se abriu clarões na avenida. Outra dificuldade foi apresentada quando o primeiro tripé, “Navegando sobre as águas de todos os santos”, travou e a ala 4, “Pelo mar do porto da barra”, que a acompanhava avançou, na frente do segundo módulo. No último módulo, as alas 15, “Cana-Brava” e 16, “Renda de Birlo”, deram uma embolada na frente dos julgadores. Por fim, para fechar os portões dentro do tempo permitido, as alas da escola precisaram acelerar.

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Enredo

Com o enredo “É onda que vai, é onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, o carnavalesco Jack Vasconcelos e a Unidos da Tijuca renderam homenagem a Baía de Todos os Santos, através das histórias, culturas e a relação do povo baiano com a segunda maior baía do mundo, desde que era chamada de “Kirimurê” até os dias de hoje. A narrativa da escola foi dividida em seis setores, ou “capitulos, sendo esses: “Do Mar”; “Da Terra”; “Dos Santos”; “Do povo”; “Do Reino” e “Da Festa”.

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Ao longo de 28 alas, 5 alegorias e 2 tripés, o enredo da Unidos da Tijuca foi apresentado com coerência pela facilidade da leitura da história da Baía de Todos os Santos, em todas as suas vertentes, sobretudo no conjunto de fantasias. O carnavalesco Jack Vasconcelos se provou mais uma vez como um grande contador de histórias e maestral enredista. As fantasias das alas 16, “Rendas de Bilro”, 18, “Náufragos” e 24, “Blocos Afros”, podem ser citadas como exemplo de facilidade na leitura do significado.

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Alegorias e Adereços

Para homenagear a Baía de Todos os Santos e contar sua história, a Unidos da Tijuca apresentou 5 alegorias e 2 tripés em seu desfile. O quesito alegorias da Unidos da Tijuca foi um dos seus principais problemas no desfile de 2023. Além de algumas questões na concepção, a execução dos carros alegóricos da escola apresentou diversos erros no acabamento, com a última passando com a traseira tombada. A primeira alegoria, representando “Kirimurê”, foi uma das melhores da escola no quesito, com predomínio das cores azul e laranja cítrico, com uma grande escultura de uma sereia e peixes à frente. O segundo carro, “Beira de Bahia que deságua minha fé”, apresentou aparentes problemas de acabamento desde sua entrada na avenida. As colunas da Igreja apresentaram falhas e estavam com partes descoladas. Na terceira alegoria, “No mercado e na feira, meus cheiros, meus sabores e meu povo”, a escola apresentou a Feira de São Joaquim e o Mercado Modelo. Com o piso de madeira e revestido por caixotes, componentes da escola no entorno da alegoria jogavam frutas para o público. As colunas que formavam o mercado modelo também apresentaram falhas evidentes.

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A quarta alegoria da Tijuca, “No encontro dessas águas, reluzem meus tesouros”, representou a união das águas do Atlântico com a dos rios Paraguaçu, Jaguaripe e Subaé, que dentro do enredo escondiam tesouros ao fundo das águas. A alegoria passou bem na avenida. O quinto e último carro, “Minhas águas são de festa onde a fantasia é eterna”, foi o mais problemático da agremiação. Apesar da bonita e colorida frente, o fundo da alegoria, que tinha uma escultura de um farol, tombou completamente para trás desde o início e passou assim por todos os módulos de julgadores. O primeiro tripé da escola, “Navegando sobre as águas da Baía de Todos os Santos”, juntamente com o segundo tripé, “Terra que banho é de luta”, cumpriram bem seu papel e ajudaram na leitura do enredo.

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Fantasias

O conjunto de fantasias da Unidos da Tijuca se apresentaram de maneira regular na avenida, com alguns figurinos com maior destaque e detalhamento que outros. No entanto, as fantasias idealizadas por Jack Vasconcelos foram bem no papel de contar a história do enredo apresentando, sendo a leitura fácil aos olhares de quem as via. Ao longo da avenida, as cores escolhidas pelo carnavalesco foram bem variadas, o que era uma necessidade do enredo. A alas 1, “Lenda do pássaro encantado”, 2, “Português com um padrão”, 9, “Orixantos” e 21, “ Fonte da Bica”, além da 16, “Rendas de Bilro”, apresentaram bons figurinos com primor estético e fácil leitura. Algumas alas da escola não conseguiram igualar o primor estético dessas, contribuíram para uma certa irregularidade no quesito.

Samba-Enredo

Composto por Cláudio Russo, Julio Alves e Tinga, o Samba-Enredo da Unidos da Tijuca cumpriu seu papel na avenida, contribuindo para o desempenho do canto da comunidade da escola. Na avenida, a obra ganhou um andamento mais acelerado do que o notado nos ensaios da Amarela e Azul. O refrão principal da escola do Borel, sobretudo o trecho do “Banho de Axé”, foi sucesso entres os componentes da escola e nas arquibancadas, que o cantaram bem.

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Outros destaques

Um dos grandes pontos fortes da Unidos da Tijuca há muitos anos, a “Pura Cadência” se provou mais uma vez na avenida. Vestidos de “Marujada”, os ritmistas seguem sendo um dos quesitos de segurança da escola do Borel. Ao longo do desfile, a bateria contribuiu imensamente para o desempenho musical da escola, tanto ao sustentar o ritmo durante todos os momentos, quanto com bossas que levantaram o público. A rainha Lexa, com um figurino dourado representando uma “Sereia”, foi aplaudida por todos os setores da Sapucaí.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no desfile

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A bateria do Acadêmicos do Salgueiro fez um bom desfile, sob o comando dos mestres Guilherme e Gustavo. Uma musicalidade baseada no que solicitava a melodia do samba-enredo foi produzida. Todas as execuções de bossas pela pista foram efetuadas de forma satisfatória, exibindo consistência durante as exibições nos módulos.

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A cozinha da bateria contou com uma afinação de surdos bem grave, plenamente inserida nas características musicais da escola . Os marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos durante todo o cortejo. Surdos de terceira deram um balanço irrepreensível a bateria “Furiosa”, no ritmo e principalmente em paradinhas, onde praticamente funcionou como espinha dorsal musical. Repiques coesos também foram notados, assim como repiques mor auxiliaram tanto na sonoridade como em paradinhas. Caixas de guerra com bom volume se uniram aos taróis salgueirenses, com seu toque genuíno, para preencher a musicalidade da bateria da Academia.

A cabeça da bateria ficou marcada pela qualidade musical elevada das peças leves. Um belo naipe de chocalhos tocou de modo ressonante, adicionando valor sonoro à cabeça da bateria. Uma ala de cuícas de alta técnica foi percebida. Um naipe de tamborins que tocou com firmeza uma convenção rítmica simples, mas extremamente funcional, preenchendo a musicalidade da bateria do Salgueiro de forma substancial.

Um breque na primeira do samba se aproveitou do próprio desenho rítmico do naipe de tamborins, para consolidar o ritmo. O arranjo musical exibiu impacto sonoro, aliado a uma integração considerável com a música.

Já outro breque na segunda do samba se aproveitou da pressão dos surdos de primeira e segunda, que param de tocar por um momento, voltando em seguida após uma nuance rítmica das terceiras, provocando impacto sonoro, devido ao peso das marcações devido a afinação de timbre grave.

A bossa mais complexa e de grau de dificuldade elevado foi a do refrão principal. Uma conversa rítmica intimamente conectada à música, dando ao samba o que a melodia pede. Com surdos de primeira e segunda parando de tocar, numa levada clássica que permite apreciar o aspecto furioso do ritmo salgueirense, com as terceiras fazendo papel de centrador na primeira passada do estribilho. Depois disso, solistas do repique mor chamam os demais naipes para um diálogo musical, repetido pelas peças. A paradinha é concluída com a pressão provocada pelos surdos, além de toques ritmados de diversas peças. Um arranjo eficiente e musicalmente corrente.

A elaborada bossa na segunda do samba também se aproveitou da pressão sonora proporcionada pelo aspecto grave da “Furiosa”. Essa paradinha deixou evidente o trabalho musical profundamente acima da média das terceiras salgueirenses. As frases rítmicas dos surdos de terceira estavam plenamente encaixadas e conectadas ao que a musicalidade pedia. O detalhe musical fica por conta da ousadia envolvendo a finalização. Uma conclusão fabulosa no início do refrão de baixo, quando as terceiras executam desenho rítmico semelhante ao dos tamborins no final do estribilho, colocando a concepção musical num nível que merece exaltação. Uma construção moderna, com sonoridade sofisticada, sendo bem executada ao longo de todo o cortejo.

As apresentações da bateria do Salgueiro nas cabines de julgadores foram corretas e seguras. Já que o enredo do Salgueiro era abstrato, não houve necessidade de atrelar a sonoridade da “Furiosa” à qualquer cultura musical que não fosse fornecer à própria variação melódica da obra salgueirense as frases rítmicas consolidadas através de suas nuances. Isso resultou numa concepção bastante alinhada à música, impactando positivamente no bom desfile da bateria “Furiosa” do Salgueiro, comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo.