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Freddy Ferreira analisa a bateria da Mangueira no desfile

A bateria da Estação Primeira de Mangueira fez um desfile espetacular, na estreia de Mestre Taranta Neto, em dupla com o já experiente Rodrigo Explosão. Um ritmo que apresentou uma conjunção sonora extremamente valiosa e com o mérito de atrelar a cultura baiana à musicalidade da bateria. Uma exibição que evidenciou uma disciplina musical acima da média, junto a uma cadência que permitiu a fluência plena de todos os naipes.

A cozinha da bateria contou com uma afinação particularmente grave, inserida no DNA musical da Mangueira. Os surdos de primeira foram precisos, firmes e seguros durante toda a pista. Já os surdos mor foram responsáveis pelo balanço único e genuíno que possui a bateria mangueirense. Repiques de altíssima qualidade técnica foram notados. Um naipe de caixas de guerra com boa educação musical deu amparo e serviu de base a todos os naipes do ritmo da Mangueira, num trabalho destacado pela limpeza do toque, que inclui a tradicional rufada. Os “timbaques” deram um molho envolvente à parte de trás do ritmo. Utilizar o “Timbaque” foi uma solução encontrada diante de atabaques com alto valor de mercado. Com uma constituição de timbal, adaptado para utilizar pele de atabaque, sua sonoridade impressionante integrou a musicalidade mangueirense de forma bem genuína. Fora as participações privilegiadas em bossas.

A cabeça da bateria apresentou um trabalho rítmico primoroso. Uma ala de cuícas poderosa e coesa foi notada. Xequerês dando um molho peculiar a parte da frente do ritmo auxiliou no preenchimento musical. Os ganzás (como são conhecidos os chocalhos da Mangueira) se exibiram de modo privilegiado, com um toque uníssono. Complementando a sonoridade também haviam agogôs de duas campanas (bocas), adicionando um tom metálico a um ritmo culturalmente mais pesado. Uma ala em questão merece uma exaltação pra lá de especial. O naipe de tamborins mangueirense se apresentou de forma soberba, pontuando a melodia do samba através do desenho rítmico de tamborim mais inspirado desse Carnaval. O toque integrado dos ritmistas da ala, que pela Avenida pareciam um só, dignifica mais do que nunca o apelido da bateria da Estação Primeira de Mangueira: “Tem que Respeitar Meus Tamborins”.

A bossa do refrão do meio foi uma construção musical de intenso valor sonoro e religioso. Nela todos os ritmistas se abaixavam, com exceção dos “timbaques”, que faziam um solo envolvente. Os demais naipes se levantaram enquanto a sonoridade foi sendo produzida por diversas peças. Na primeira parte da bossa, os “timbaques” fazem um toque para Exu, como pede a música. Mais uma vez seguindo o que a belíssima canção mangueirense pedia, aconteceu uma troca para o toque de Ijexá, num movimento rítmico não só bem elaborado, como profundamente integrado à bateria da Mangueira. Um arranjo musical que uniu ritmo virtuoso e movimentos sincronizados, que receberam ovação do público.

Uma paradinha intimamente ligada ao samba-enredo da Estação Primeira foi a da segunda do samba. A partir do verso “Quando a alegria invade o Pelô”, se aproveitando da melodia da obra, foi produzida uma sonoridade com levada baiana. Surdos mor e “timbaques” deram um balanço único, consolidando as frases rítmicas junto com amparo das caixas. Para concluir, surdos mor e “timbaques” chamaram as caixas para um novo diálogo musical. No refrão que antecedeu o principal, o arranjo é complementado por uma batida profundamente valiosa do naipe de caixas de guerra que remete ao belo desenho rítmico dos tamborins, evidenciando o bom trabalho das caixas mangueirenses. Um arranjo musical de alta complexidade, mas nítido e inegável impacto sonoro. Representou um acerto cultural e musical, ao fornecer o que o samba da verde e rosa solicitava.

Algumas vezes na pista, a escolha foi parar o ritmo fazendo um “apagão” no refrão que antecede o principal, sendo cantado maciçamente em coro. A retomada no refrão principal se aproveitou da pressão dos surdos para provocar impacto sonoro. Foi percebida certa ovação popular, transformando a escolha em acerto musical e harmônico.

Todas as apresentações em cabines de julgadores foram soberbas e seguras. A apresentação no último módulo ganhou contornos simplesmente apoteóticos. Nenhum problema foi evidenciado em nenhuma das três cabines da pista de desfile. A exibição da bateria da Mangueira, comandada por Rodrigo Explosão, em dupla com o estreante Taranta Neto, foi fabulosa. Um ritmo que tem tudo para pleitear a nota máxima, quiçá sonhar com premiações, depois de um desfile magistral.

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