Estreante na Mocidade Independente de Padre Miguel, o carnavalesco Marcus Ferreira possui uma trajetória campeã. Vindo da Intendente Magalhães até a chegada no Grupo Especial com a Viradouro. O artista se tornou campeão junto com Tarcísio Zanon com quem formava uma dupla na vermelho e branco de Niterói. Para 2023, ele irá fazer um trabalho solo com a Mocidade Independente de Padre Miguel. O artista desenvolveu o enredo “Terra de meu céu, Estrelas de meu chão”. A temática aborda a história dos artistas do Alto do Moura, que são discípulos de mestre Vitalino, pertencentes ao Centro de Artes Figurativas das Américas. O samba campeão foi da parceria de Diego Nicolau, Richard Valença, Orlando Ambrosio, Gigi da Estiva, W. Correa, Leandro Budegas e Cabeça do Ajax.
O site CARNAVALESCO conversou com Diego Nicolau que explicou detalhes da letra do samba. É a continuidade da série“Samba Didático” entrevistando os compositores para que eles possam detalhar os significados e representações por trás do versos e expressões presentes nos sambas para o carnaval de 2023.
Senhor que fez da arte mundaréu Em suas mãos Padre Miguel Concebeu a criação Plantou sua missão Fez do sertão, barro tauá
“O enredo começa com a criação do mundo. Vamos fazer algo inspirado no título de 1996 que com aquele abre alas com as mãos construindo o mundo. Só que dessa vez em barro. ‘As mãos dos filhos do barro’. A gente faz esse contraponto no samba. É o barro utilizado lá, que utilizavam para fazer os trabalhos deles. A arte dele”.
Jardim no agreste floresceu Regado ao firmamento de meu Deus A lida pra viver, da lama renascer Marias e Josés no céu que moram pés, raiz! Fiel retrato desse meu país
“Passamos para a parte rural, da natureza. São todas essas situações, todas essas imagens que ele retratou dos nordestinos. Dos retirantes que iam passando e parando para fazer seu destino. E ele retratava através da sua arte. É a parte dos retirantes, da natureza do sertão nordestino. E terminamos falando “fiel retrato desse meu país”. É justamente isso que ele fazia, retratava a realidade do país, do povo e do nordeste”.
Segue o carro de boi O peão no barreiro Ô rainha bonita Sou teu rei cangaceiro É a vida um xadrez Pra honrar o legado Quem foi que fez? Foi Deus do barro
“No terceiro setor da escola, vamos falar do surreal. Através de um tabuleiro de xadrez, dos personagens do nordeste. O lampião, Maria Bonita. Todos esses personagens que permeiam o nordeste e o sertão. E a escola vem com alegoria também falando do surrealismo, da arte figurativa”.
Molha Pedro minha terra Chão de estrelas de João Traz Antônio minha amada Padim Cícero Romão Alumia o teu povo em procissão
“Depois vem a parte da religiosidade também. Dos três santos nordestinos. É quando ele fala sobre essa construção que é muito importante e conhecida fora de lá. Sabemos que ele tem muito esses aspectos culturais e as procissões. Que é pedido as santidades muita chuva, que tragam o amor. Os nordestinos tem suas mazelas que pedem sempre aos seus santos de devoção”.
Chega folia, chega cavalo marinho Lindas flores no caminho O nordeste coloriu E de repente essa gente independente Faz da greda seu batente Molda um pouco de Brasil
“Finalizando é o Alto do Moura, a festa que tem lá. Com várias manifestações culturais e a gente brinca. Colocamos o “independente” dentro do enredo sem deixar de perder o sentido. Porque o povo nordestino é arretado e independente”.
Amassa, deixa arder o massapé Lá no meu Alto do Moura Um pedacinho de fé A massa, força de Mandacaru Lá do meu Alto do Moura Fiz brilhar Caruaru
“Reafirmamos, colocando o amassa. É assim que ele molda, amassando o barro. E depois a massa é do povo, força. E falamos de Caruaru, que é a cidade que fica o baile do Alto do Moura”.
Ê meu cardeá! Sou a chama do braseiro Nordestino, retirante da saudade Mais um filho desse solo pioneiro Um artista esculpindo a Mocidade
“O refrão é algo que colocamos um duplo sentido com a Mocidade. Com a nossa parceria, e fomos brincando com o forno. Que eles colocam na obra para secar o barro. Após disso vem a chama do braseiro e falamos também do nordestino. ‘O pioneiro’ é da Mocidade, pois ela tem um samba muito marcante, campeã do carnaval de 1985, em que ela fala que quer ser a pioneira. Colocamos isso em um verso para sintetizar o que o componente da Mocidade quando entrar na Sapucaí estará representando. É um artista esculpindo a Mocidade”.
Após uma breve pausa para as festas de final de ano, a Unidos de Vila Isabel recomeça nesta quarta-feira os ensaios de rua no Boulevard 28 de Setembro. A concentração acontece a partir das 20h, em frente à Basílica Nossa Senhora de Lourdes, onde os componentes se reunirão para iniciar a apresentação, que segue em direção à quadra da agremiação, no sentido da Praça Barão de Drummond.
Foto: Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
Com a retomada dos ensaios, o público que estiver presente poderá acompanhar de perto como está a preparação dos principais segmentos para o desfile, além de curtir o ritmo da bateria Swingueira de Noel, o canto da comunidade, a interpretação musical do carro de som, a dança dos casais de mestre-sala e porta-bandeira e a apresentação da comissão de frente, além de prestigiar passistas, musas e a velha-guarda.
Neste ano, a Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na Marquês de Sapucaí, na segunda-feira de Carnaval, com o enredo “Nessa festa, eu levo fé!”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.
Confira o calendário de ensaios da Vila Isabel:
11/1 – Ensaio de rua no Boulevard 28 de Setembro – 20h
18/1 – Ensaio de rua no Boulevard 28 de Setembro – 20h
25/1 – Ensaio de rua no Boulevard 28 de Setembro – 20h
1º/2 – Ensaio de rua no Boulevard 28 de Setembro – 20h
8/2 – Ensaio de rua no Boulevard 28 de Setembro – 20h
11/2 – Ensaio técnico no Sambódromo – 20h30
A Associação dos Passistas de Samba do Brasil (APASB) e o carnavalesco Milton Cunha organizaram no domingo o IV Baile de Passistas e o II Encontro APASB Nacional na Cidade do Samba. O homenageado do evento foi o histórico passista Arandi Cardoso dos Santos, o Careca do Império Serrano, pioneiro na criação das escolas mirins ao fundar o Império do Futuro. Estavam presentes no encontro 57 alas de passistas de diversas partes do Brasil, representando o sonho, a tradição e a força da dança de passistas no carnaval.
Os primeiros momentos do baile foram dedicados a valorizar a trajetória de dedicação ao samba de Careca. Milton Cunha acredita que um evento desse porte tem um um importante caráter educador e, por isso, se torna relevante trazer uma figura como Arandi Cardoso dos Santos. Segundo Nilce Fran, presidenta da APASB, a escolha do homenageado partiu da vontade de falar de um representante do rabiscado que pudesse ser reverenciado ainda em vida com uma trilha de muitas conquistas.
“Mestre Careca representa com todo garbo o samba no pé, o rabiscado, a dedicação ao samba. Esse ano, nós estamos trazendo um estandarte de ouro, criador da primeira escolinha mirim, Império do Futuro. Então o foco foi trazer um homem que tivesse força no segmento passista e se dedicasse ao Carnaval”, explicou a presidenta ao CARNAVALESCO.
A professora Raquel Valença do Império Serrano discursou em homenagem ao pioneirismo de Arandi Cardoso dos Santos. Reforçou a responsabilidade social que o homenageado incutiu nas escolas de samba e evidenciou como o Careca foi importante para a construção da relevância dos passistas dentro do Carnaval. O professor Hélio Rainho complementa considerando o homenageado do dia um “Pelé” do samba e afirma que as escolas de samba se tornam grandes pelas figuras lendárias que ela possui, portanto, Império Serrano um dos gigantes por ter Careca entre seus integrantes ilustres.
A abertura do II Encontro APASB Nacional foi com a Escola Carioca de Danças Negras do Andaraí. Um grupo de cinco dançarinos interpretando malandros saudaram o ilustre convidado da noite. As reverências se seguiram quando o mestre Careca dançou com as escolas mirins do Rio de Janeiro e, posteriormente, foi cumprimentado pelos coordenadores de todas as alas de passistas presentes.
Sobre a fundação de escolas mirins, Careca descreveu: “Em 1979, o Ano Internacional da Criança, eu era vice-presidente do Império Serrano. Falei para a diretoria que queria botar uma ala de criança na frente do Império, mas não deixaram. Anos depois, com ajuda de uma série de pessoas, mas o primeiro a abraçar a ideia foi Martinho da Vila que assinou comigo o estatuto da fundação da escola”.
O IV Baile de Passistas e II Encontro APASB evidenciaram a diversidade de pessoas que a dança e o samba são capazes de abarcar. Como o evento tinha um caráter nacional, passistas de Brasília, Belo Horizonte, Manaus e São Luís do Maranhão estiveram presentes representando as sucursais da associação espalhadas pelo país.
Além disso, o samba abriu passagem para a diversidade de corpos, deixando claro que qualquer um pode ser passista. A ala de passista Plus no Rio de Janeiro levou um cartaz dizendo “O samba pede passagem e não o nosso manequim”, uma manifestação contra a gordofobia. Em outro momento, o apresentador Milton Cunha convidou ao palco a musa Vivi da Viradouro, uma passista com nanismo que protestou e conseguiu a mudança de regra do concurso de rainha do Carnaval carioca que exigia uma altura mínima e agora não mais. Por fim, os organizadores do evento selecionaram a musa do baile deste ano: a passista Shayene Pão Doce, uma mulher transsexual. A musa sambou com a Corte do Carnaval Carioca.
As escolas de samba do Rio de Janeiro de diversas séries e ligas marcaram presença. Escolas da Grupo de Avaliação, da Livres e Séries Bronze, Prata e Ouro fizeram apresentações marcantes. Um dos destaques do dia foi a Flor da Mina do Andaraí e a Arrastão de Cascadura pela Série Prata e a Estácio de Sá pela Série Ouro que apresentou um lirismo, segundo Milton Cunha, ao trazer Luís Melodia e sambas clássicos.
As escolas do Grupo Especial fizeram um show à parte. A primeira a subir no palco foi Mocidade Independente de Padre Miguel que se apresentou com a Unidos de Padre Miguel e a Engenho da Rainha todas coordenadas por George Louzada, um dos apresentadores do IV Baile de Passistas. Também antes de cair a noite, a Portela fez sua apresentação. Todos os integrantes da azul e branco de Oswaldo Cruz vieram do projeto “Samba para Sempre” da escola.
Para a abertura do bloco de escolas de samba do Grupo Especial, a vice-campeã Beija-Flor fez seu show com direito à presença da rainha de bateria Lorena Raíssa. Lorena havia ido como passista no baile de 2022 e hoje representa esse sonho de muitas passistas das agremiações.
As representações aos orixás marcaram apresentações do Paraíso do Tuiuti, da Unidos da Tijuca e do Salgueiro. Elas trouxeram mensagem de paz e força, sem deixar de lado a ginga e o rabiscado dos passistas. Não só a Tijuca trouxe baianidade, como a Mangueira fez sua apresentação referenciando Bahia e os clássicos da escola.
Outras escolas marcaram pelo modo como levantaram a plateia. Vila Isabel trouxe a gafieira e botou na frente a princesa mirim de 2023, firmando que o talento vem de berço. Império Serrano veio com forte samba no pé ao som da ‘Aquarela brasileira’. Já a Imperatriz Leopoldinense fez uma coreografia marcante com referência ao cangaço que será retratado pelo enredo da escola em 2023. A campeã Grande Rio fechou a noite de baile com o samba enredo deste e distribuiu pirulitos para a plateia.
Ao final do evento, Milton Cunha comenta o saldo positivo do evento: “Me impressiona como cada dança de um jeito, como cada se veste de um jeito, como cada ala cria sua própria pegada. É um povo muito criativo, muito artístico. Tem trilha sonora, cenário. São sete horas de arte profunda! Eu estou satisfeitíssimo”.
A realização desse evento só foi possível porque pessoas como Milton Cunha e os fundadores da APASB, Nilce Fran, Aldiona Sena, Dhu Costa e Bruno Tete. sonharam com sua criação. A presidenta Nilce Fran reflete que “o propósito é a união do segmento e a parceria”. E o trabalho da Associação de Passistas não se restringe ao encontro.
“Nós estamos no decorrer desses realizando coisas como lives, encontro para bate-papo, o ‘Passista Enem’ – reunimos passistas professores formados ou formandos para ajudar – fizemos workshops”, comentou Nilce sobre a importância da associação.
Em 2022, os passistas de samba foram considerados Patrimônio Cultural Imaterial do estado do Rio de Janeiro, uma conquista da APASB e de todo povo do samba. Eventos como IV Baile de Passistas e II Encontro APASB Nacional reforçam a potência cultural, de resistência e de tradição do samba.
O Baródromo recebeu a Grande Rio, na tarde/noite de domingo, para o encerramento de sua primeira roda de sambas-enredo do ano. Mesmo na garoa, a atual campeã do Grupo Especial do Rio contagiou centenas de pessoas que cantaram desde os sambas mais antigos ao novo sucesso popular que homenageia Zeca Pagodinho. Não era de se esperar menos. O local já é conhecido como um espaço para os mais diferentes sambistas se unirem em prol da folia. Por lá, ela dura o ano inteiro, atraindo turistas e desempenhando o papel de vitrine para desfiles históricos, mas seu auge sempre ocorre entre novembro e fevereiro.
“Quanto mais próximo do carnaval, mais a energia e a emoção da galera aumentam. Hoje foi uma explosão de amor!”, comentou Felipe Trotta, 42 anos, empresário que mantém o Baródromo desde 2015.
Felipe Trotta, empresário responsável pelo Baródromo
Horas antes da bateria da tricolor de Caxias iniciar suas batucadas, o clima era de alegria e altas expectativas. Uma lona foi estendida na rua para proteger o público da eventual chuva, mas, em meio ao churrasco e danças, ninguém parecia se importar. Sandro Assis, mangueirense, de 43 anos, afirmou aguardar por uma bela apresentação: “É uma escola que está evoluindo, bateu na trave várias vezes até o campeonato”. Ele logo se apressou para exibir sua camisa com estampas de todas as agremiações.
Mangueirese, Sandro Assis foi curtir a Grande Rio no Baródromo
Glaucio Coser, de 47 anos, também frisou a importância da irmandade e apoio entre as escolas de samba. “Estamos num evento da Grande Rio, eu sou Mocidade, tem o cara da Portela, da Imperatriz… isso que faz o carnaval ser pra todo mundo”. Essa pluralidade de bons sentimentos também o fez percorrer 27km para aproveitar o evento em família.
Glaucio Coser, torcedor da Mocidade, ressaltou pluralidade de sentimentos no carnaval
Enquanto anoitecia, um coro se formou para cantar diversos sambas que marcaram a última década. A animação deixou a tarefa de caminhar pela multidão difícil e novos abadás da Grande Rio não paravam de surgir. Quando o mestre Fafá conduziu a bateria para o centro das mesas, todos se espremeram para conseguir a melhor visão possível.
Foi inevitável não associar o momento com a fala que, minutos antes, concedeu ao site CARNAVALESCO. Tudo se intensificou quando o intérprete Evandro Malandro e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, apareceram sorridentes. O cantor festejou o encontro da escola de Caxias com o povo.
“É no bar que tem o calor humano e quem acompanha as escolas. E é nesse momento que essa energia acompanha a Grande Rio. O Baródromo é onde justamente o sambista vai, que quer cantar todos os sambas, muitas vezes pode não ser o torcedor da Grande Rio, mas que simpatizou com o samba. Isso é uma das coisas mais importantes do carnaval, de torcedores e sambistas de outras escolas. É o que leva a gente pra outros lugares, a alegria e o trabalho. A Grande Rio tem muito mais por aí, muita coisa bacana preparada e soltando de pouquinho a pouquinho”.
Durante as duas horas seguintes, o público vibrou com a escola envolvendo ambos em uma só melodia. Assim que a agitação parecesse diminuir, era necessário apenas levar ao microfone o samba-enredo de 2023 novamente. Nas paradas musicais do Baródromo, certamente está em primeiro lugar.
A satisfação que pairou sobre o ambiente no fim da noite foi coletiva. A ideia do evento foi da própria Grande Rio, que busca divulgar o enredo numa série de apresentações que vão percorrer o Rio de Janeiro e tiveram início neste domingo. Portanto, não há previsão de outras agremiações realizarem apresentações similares, apesar do claro interesse e solicitações dos frequentadores.
Thiago Monteiro, diretor de carnaval da Grande Rio, demonstrou satisfação ao citar o cenário que a escola vive: “Esse ambiente é plural, todo mundo conversa, consome o carnaval e não o faria se fosse somente na quadra. Estar tão perto de um público que não necessariamente torceria para a escola é democracia. É mostrarmos como ela pode ir além da bolha. Esse é o momento para fazermos o nosso nome com um enredo popular, que fala de uma personalidade que todos amam”.
Comandante da bateria da Grande Rio, mestre Fafá enalteceu a ideia de sair da quadra e procurar o povo nos bares. “O Carnaval vai muito além da quadra, além do barracão, e você ve num dia atípico do Rio de Janeiro um bar cheio de sambista, de samba, e aqui do lado tem a feijoada do Salgueiro… na rua tem sempre samba e a Grande Rio quer mostrar que ela é do povo. A gente gosta desse calor do povo, que mesmo que não torce pra Grande Rio, está aqui se divertindo. Eu acredito que a Grande Rio está vivendo um momento único. Com muita sabedoria estamos sabendo como disfrutar disso. Sabemos que tem escolas que estão lutando fortemente pra conseguir esse título, mas trabalho é trabalho e o carnaval é decidido na pista. Espero que todas escolas passem bem e os jurados decidam”.
A proximidade com as pessoas funcionou. Levaram para o Baródromo não apenas o samba, mas também figuras emblemáticas como o ator Demerson D’alvaro, que interpretou Exu na aclamada comissão de frente da campeã, e até mesmo o mascote do Zeca Pagodinho em tamanho real.
Para o ano de 2023, se espera um desfile que represente a jornada próspera que a Grande Rio vem trilhando. A luta pelo bicampeonato parece ser a prioridade da agremiação. Por enquanto, já deixa um exemplo de divulgação que deve inspirar as outras.
Chegou o dia da Mocidade estrear de vez os preparativos para o Carnaval 2023. O primeiro ensaio de rua aconteceu no domingo e deixou a impressão de que a escola continua organizada e cantando forte. Para seguir a tradição, a animada concentração e a arrancada aconteceram na Praça Guilherme da Silveira. De lá, os Independentes ensaiaram até a estação de trem que leva o nome da escola, em Padre Miguel, bem perto da quadra da Vintém. Com a participação da comissão de frente, do primeiro casal, da rainha Giovana Angélica e de uma chuva persistente, o público reencontrou uma Mocidade disposta a recuperar a vaga nas campeãs.
O cantor Nino do Milênio disse, durante a semana e repetiu antes do esquenta, que o ensaio da Vintém tinha um clima diferente. Ele não tava errado, mas certamente não estava se referindo ao clima de montanha. Quem achou que sentiria a “chama do braseiro”, vai ter que aguardar mais um pouco. Era um domingo atípico para janeiro, temperatura – quem diria – de 22 graus em Padre Miguel, às 17h, e a chuva não queria parar. Mas, o que faz o ensaio da Mocidade ser diferente, é justamente que ele é uma solenidade. Não tem tempo ruim na Guilherme. Quem estava com frio, colocou casaco, quem não queria se molhar usou capa, e quem queria sentir a “chama”, tava com trajes de verão mesmo. E o “braseiro acendeu”. A calçada encheu.
“A melhor retribuição desse carinho do público é resultado, fazer ensaios como foi hoje, brindar o público com sambas antigos também, para eles matarem a saudade da escola. A gente busca fazer um ensaio que não seja uma coisa muito rápida, fazer um bom desfile e estar no sábado das campeãs”, disse o diretor de carnaval, Marquinho Marino, sobre o comparecimento dos independentes, ainda que esteja frio e chovendo.
A verde e branca de Padre Miguel levará para avenida o enredo “Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão’’, desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira, em uma abordagem sobre o legado dos artistas do Alto do Moura, discípulos de mestre Vitalino. No primeiro ensaio de rua se viu uma comunidade entrosada com o samba e, como sempre, se divertindo. Ao avaliar o treino, o diretor de carnaval explicou que foi um ensaio normal e a metodologia utilizada.
“Minha avaliação é muito positiva. Os primeiros ensaios, principalmente este, eu não me preocupo com marcação de tempo de desfile e coisas mais técnicas. O que a gente ensaia de verdade mesmo são as marcações de cabine de comissão, casal e bateria, e não ter nenhum tipo de espaçamento entre as alas. Se eu fizer um ensaio simulando um desfile, ele acaba em 30 minutos. E eu preciso aproveitar o carro de som, pra ver o canto da comunidade, a bateria… Para que ela tenha condições de fazer as paradinhas e eles julgarem o que é melhor para o quesito”, comentou Marino.
Harmonia
Os Independentes cantam e sempre com força. O destaque ficou para os componentes que estavam atrás da bateria, cantaram com mais força e incansáveis até o fim. Todos têm o samba na ponta da língua e são bem conduzidos pelo carro de som de talento já conhecido, com a diferença de que, agora, o cantor é Nino do Milênio, e mostrou que já está bem à vontade com o microfone novo.
Comissão de frente
Os bailarinos liderados por Paulo Pina apresentaram uma coreografia contagiante, que remeteu a passos de dança que comissões fazem quando o assunto é o nordeste. O público interagiu e aplaudiu bastante cada ato do número apresentado. Para o ensaio de rua, uma apresentação satisfatória, sob a assídua regência do coreógrafo. Para o grupo, que está chegando agora, um ótimo momento para ganhar apreço e confiança dos independentes. Carisma para isso, eles mostraram.
Mestre-sala e Porta-bandeira
A Bruna parece aquelas bailarinas que dançam com graça em caixas de música e Diogo tem seu brilho próprio. O casal apresentou uma simpática coreografia que, com inteligência, soube preencher todo o espaço. Em meio a giros vigorosos, a cena foi encantadora.
Para o próximo desfile, o casal que mescla a tradição da danca de mestre-sala e porta-bandeira com coreografias em cima do enredo, não se preocupa com a avaliação dos julgadores na questão de ter passos além do tradicional.
“E acho que a dança representa uma coreografia e a coreografia representa uma dança, é tudo um contexto. É um caminho junto e os jurados estão ali para nos julgar. É importante que tenha todos eles ali bem atentos, mas isso a gente não tem medo. Principalmente, quando a gente tá fazendo um trabalho bacana e a escola vem fazendo um bom trabalho há muitos anos”, disse Diogo Jesus.
Bruna Santos completou dizendo que os jurados sempre pedem para se manter a dança tradicional, mas para inovar, eles colocam a coreografia do enredo, sem deixar a tradição de lado. E, ainda bem. É muito bom ver o casal da Mocidade dançar.
Samba-Enredo
Samba que amassa e se canta até arder a garganta. A chama do braseiro já está na boca do povo e teve bom rendimento no ensaio. A melodia do samba ajuda a escola a ter um canto linear e no decorrer das passadas, as pessoas ainda cantam na mesma alegria da primeira.
“Uma boa obra ajuda nós cantores, nessa escola gigante. Eu precisava de um bom samba pra eu poder fazer um bom trabalho na minha estreia na Mocidade. E graças a Deus o samba veio crescendo bastante, a gente veio trabalhando ele. E pode esperar um grande desfile porque a meta é essa”. Foi o que disse o cantor Nino do Milênio, estreante no carro de som independente.
Bateria
Mestre Dudu e suas bossas foram um show à parte. Marquinho Marino disse que parou a escola para que a bateria se testasse, mas o que aconteceu mesmo foi um presente ao público, que viu e ouviu mais uma bela exibição da “Não Existe Mais Quente”.
O mestre avisou que todas as bossas do ensaio estará no desfile, então pode-se esperar uma bateria que tende a levantar a Sapucaí. Ele avaliou o ensaio, no final. “Primeiro ensaio com o carro de som na rua. Ocorreu tudo bem. Aconteceu alguns probleminhas, mas foi bom”.
Evolução
Problema que a Mocidade não tem é com o quesito evolução. Nenhum incidente, zero buraco e alas compactas. Do início ao fim, deu tudo certo no primeiro ensaio. Mais uma escola a ir ensaiar na rua, agora a Mocidade parte para o próximo desfile virando a página do último carnaval, quando viu seu imponente abre-alas travar na pista e precisar ser desacoplado. Marino garante que este erro é passado e que a escola já resolveu o problema.
“A comunidade sempre nos dá o máximo que a gente precisa. Não é hipocrisia. A comunidade e os quesitos sempre dão o máximo. Agora, é mais uma questão estrutural que está sendo resolvida e uma mais de soltar (a escola) e esquecer o aconteceu (no último desfile). Não adianta se prender ao passado, senão a gente não conserta nunca. A Mocidade foi campeã em 2017 e, nos outros anos, voltou no desfile das campeãs. E, mesmo com o erro do último carnaval, ficamos apenas 1 décimo da última escola que entrou nas campeãs”, contou o diretor de carnaval.
Terceira escola a desfilar no domingo de carnaval, a Estrela-Guia sonha com mais um troféu do Grupo Especial. Até hoje, já foram seis. O sétimo, começou a ser lapidado neste domingo cinzento, onde os pingos de chuva foram detalhes de mais um dia raiz na Vintém: dia de ver a Mocidade passar.
A Unidos do Viradouro fez seu primeiro ensaio de rua em 2023 e nem a chuva fina que caiu durante o treino desanimou seus componentes que cantaram em plenos pulmões por um pouco mais de 1 hora e 15 minutos pela Avenida Amaral Peixoto. O destaque foi para a bateria de mestre Ciça que, mais uma vez, deu o tom para o conduzir o espetáculo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, mostrou grande entrosamento e a perfeição na dança. A Viradouro será a escola que fechará os desfiles de 2023, sendo a sexta escola a desfilar na madrugada de segunda para terça feira, com enredo “Rosa Maria Egipcíaca”, do carnavalesco Tarcísio Zanon.
O ensaio começou por volta das 19h contando em peso com a comunidade de Niterói. As alas estavam empolgadas com o samba na ponta da língua e cantando forte cada verso. Destaque ficou por conta das alas coreografadas que prometem muitas surpresas durante o desfile oficial. Por terem a oportunidade de ensaiar em uma avenida bem parecida com a Sapucaí os componentes aproveitaram bem para desenvolver tudo que foi ensaiado até o dia de hoje. Eles estão bem ensaiados e sincronizados. A evolução também mostrou estar afiada, com todas as alas fazendo seu trabalho, a bateria entrando no recuo com maestria e as alas não deixando espaço.
Bateria
A “Furacão Vermelho” foi o ápice da noite de ensaio da Viradouro. Mestre Ciça e seus ritmistas trouxeram uma cadência sensacional, com uma sinfonia de timbaus e agogôs. O comandante conduziu perfeitamente o ensaio, com paradinhas tanto no primeiro quanto no segundo refrão, e com toques de religiões matrizes africanas. Toda comunidade dançou na ginga dos ancestrais.
Na primeira parte do samba “Rosa Maria menina flor, rainha espelho mar, na pele do tambor”, quando chega nesta última frase mestre Ciça fez várias paradinhas e uma paradona, deixando os timbaus fazendo o trabalho de conduzir o momento, fazendo quem assistia o desfile ir aos gritos de emoção. Ele ainda citou que tem alguns arranjos para fazer e contou uma novidade que vai fazer na avenida.
“Gostei muito do ensaio de hoje. Bateria, carro de som, tudo aquilo que a gente está planejando fazer na avenida acho que deu certo no nosso ensaio. Ficamos 15 dias parados por causa das festas de fim de ano, mas foi muito positivo, ainda faltam 40 dias pra gente acertar uns detalhezinhos. O timbau será um dos nossos diferenciais. Terá mais agogôs também, inclusive, eu vou tocar. Vai ser bacana”, promete mestre Ciça.
Harmonia e Samba-Enredo
Resultado dos ensaios e maturação do samba, a obra é consistente e cheia de versos fortes. Em um momento, todos colocam a mão pra cima e ficam de punho cerrado. O intérprete Zé Paulo elogiou a fluidez do samba. Ele também pontuou a importância do ensaio na rua e citou sua parte preferida da composição que foi considerada uma das melhores do ano.
“A expectativa é muito grande porque a gente ensaia muito e acaba maturando o samba. Quanto mais a gente ensaia, quanto mais tempo a gente treina, o samba vai ganhando mais consistência, a expectativa é sempre a melhor. Fomos eleitos o melhor samba do ano. Ele tem diversas partes bonitas”, garantiu o intérprete Zé Paulo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Julinho e Rute mostrou uma sintonia perfeita no ensaio, exibindo a elegância da dança e o entrosamento das coreografias. Eles comentaram a importância do ensaio de rua e como ajuda no dia a dia com a comunidade, ainda falaram sobre o andamento do desfile e a diferença do ensaio da quadra.
“Além da gente fazer as três cabines de jurados, realizamos na rua a coreografia original. Claro que de um domingo para o outro a gente muda um movimento. Estamos sempre ensaiando. O ensaio aqui também ajuda no condicionamento físico. Na quadra é um trabalho mais artístico”, disse Rute.
“Aqui é o mais próximo do desfile. Apresentação em linha reta. A escola procura colocar o andamento como é o desfile”, completou Julinho.
Evolução
A Vermelho e Branco de Niterói mostrou que está afiada na evolução, não deixando buracos ou espaços durante o ensaio. As alas estão conscientes de cada passo a ser dado na avenida. A entrada e saída da bateria foi destaque, a organização e o ritmo não se alteraram durante o movimento. A escola estava se divertindo na avenida com sorrisos, choros e o samba cantado a todo vapor. A parte que mais entusiasmava os integrantes foi o refrão principal.
Segundo o diretor de carnaval, Dudu Falcão, a Viradouro desfilará com 2500 integrantes. Ele comentou sobre as alas da comunidade, além de exaltar o trabalho e dizer que falta poucos detalhes para o desfile.
“É uma contagem regressiva, faltam 40 dias para o carnaval. A cada ensaio a gente tem que buscar melhorar sempre. A ideia de chegar em um grau de excelência agora não vai dar certo, a gente vai buscar melhorar sempre em cada ensaio. Hoje foi um baita de um ensaio, primeiro do ano, agora é hora de olhar ala a ala, movimento por movimento, canto por canto, e ter a certeza que vamos chegar na avenida no ápice do nosso desfile”, explicou Dudu Falcão.
Outros destaques
A ala das baianas deu show de elegância. Os giros exibiam o brilho das damas da Viradouro. A ala de passistas também caprichou, principalmente, quando interagiram com Erika Januza, já no fim do ensaio, para alegria da comunidade.
Nem a fina chuva que teimou a voltar a cair em Madureira tirou a alegria do portelense que retomou a sua preparação para o próximo carnaval e realizou o primeiro ensaio de rua do ano em que vai comemorar o centenário da escola. O treino que teve duração de 1 hora e 8 minutos, aconteceu na Estrada do Portela, contemplando o trecho entre a Rua Clara Nunes e a Praça Paulo da Portela. O destaque ficou para o canto forte da comunidade que se mostrou bastante intenso durante todo o desfile, além da bateria de mestre Nilo Sérgio e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Lucinha Nobre. Em 2023, a Majestade do Samba será a segunda escola a pisar na Sapucaí na segunda noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “O Azul que vem do infinito”, que está sendo produzido pela dupla de carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage.
O ensaio começou por volta das 19h30 e a chuva fina que começava a cair no bairro da Zona Norte permaneceu por todo o treino, em alguns momentos mais forte e em outros mais fraca. O trecho compreendido entre a rua Clara Nunes, via da quadra da Portela e a Praça Paulo da Portela, é uma subida, mas isso não impediu a alegria dos foliões e o canto do samba pela comunidade, que se manteve forte até o fim. Marlon Lamar e Lucinha Nobre brindaram o público apresentando já trechos da coreografia que vão levar para a Sapucaí e a bateria do mestre Nilo Sérgio trouxe um andamento bastante agradável para o samba que ajudou na boa evolução da escola.
O vice-presidente Júnior Escafura avaliou positivamente o ensaio deste domingo e a preparação que a Portela vem realizando para o próximo carnaval.
“Acho que a avaliação é muito positiva, a gente tem uma escola feliz que canta muito o samba, evoluí, brinca, acho que esse é o espírito da Portela. A gente vai fazer um desfile pautado na emoção que é a cara do portelense, ainda mais com todo o simbolismo dos 100 anos da escola. Todo mundo está vendo nos ensaios, os componentes se entregam de verdade, cantam, brincam, se divertem, porque isso é ser Portela, é ser Portela e tanto mais”, avaliou o dirigente.
Júnior revelou que a escola levará cerca de 2800 componentes para a Sapucaí e que as alas comerciais serão apenas seis, todo o restante será formado pela comunidade. Escafura também comentou a importância do ensaio de rua para a agremiação.
“A gente tenta fazer da melhor maneira possível, a gente tem as nuances do ensaio de rua, um monte de vendedores ambulantes, mas a gente também tem a parte muito positiva que é essa energia de estar aqui fazendo ensaio na Estrada do Portela, a raiz da escola está aqui. É muito importante a gente fazer esse ensaio porque a gente pega essa energia. São centenas, milhares de pessoas as vezes que vem para as ruas ou ficam em suas casas, nos prédios, nas varandas passando essa energia, soltam fogos, agitam bandeiras, isso para nós é muito importante, contagia a escola de uma certa maneira, a gente dribla as dificuldades que existem. Acho que de uma maneira geral a escola está cantando muito e evoluindo bastante, a ideia é a gente chegar no nosso ensaio técnico com a melhor preparação possível para que no dia do desfile a gente faça um grande carnaval”, finalizou o vice-presidente.
Harmonia e samba-enredo
Gilsinho iniciou o samba da Portela 2023 fazendo a primeira passada, antes mesmo do grito de guerra, bem melódica e tranquila deixando a comunidade mostrar que estava com o samba na ponta da língua e já criando um clima de emoção que chegou a todos os componentes. Depois, já com a bateria, e com mais energia, a escola seguiu cantando o samba e desviando das adversidades como a chuva e a subida que compreendia boa parte do percurso escolhido para o treino.
Em cima do carro de som, por conta da chuva, a equipe de voz da Portela em nenhum momento deixou o samba cair e Gilsinho chamava os desfilantes a entoar o samba com emoção, sem esquecer de imprimir a sua já conhecida potência vocal na obra. Nas laterais da rua, o público que acompanhava o ensaio também respondeu bem ao samba com muitos dos espectadores cantando junto com a escola. O trecho cantado com mais emoção era o refrão principal “Cavaco e viola…” em que a maioria da comunidade levantava as mãos para o céu, como que pedindo bênçãos aos seus ancestrais e aos fundadores da Majestade do Samba. O canto foi o ponto alto da noite portelense.
Ao CARNAVALESCO, o intérprete Gilsinho disse o que espera do samba de 2023 e explicou a diferença do ensaio de rua para quadra. “Espero que ele (samba) funcione muito bem, assim como tem acontecido nos ensaios. Samba bom, bem construído, com todas as partes muito boas de cantar. Sobre os ensaios, na quadra tem muita reverberação, ao ar livre é bem melhor. E a expectativa para o centenário, é minha sorte, meu nome vai ficar para sempre na história da Portela”.
Bateria
A “Tabajara do Samba”, comandada por mestre Nilo Sérgio, apresentou o samba em de cerca de 144 variando apra 145 BPM (batidas por minuto), segundo o próprio mestre, um andamento confortável, dentro das característica da bateria da Portela que possibilitou que os componentes evoluíssem e cantassem a obra de forma bastante agradável. Destaque para os desenhos de tamborim e agogô bastante encaixados a métrica do hino da Portela para o desfile em seu centenário. Nilo Sérgio trouxe duas bossas que irão para a Sapucaí para serem trabalhadas no ensaio, uma delas no refrão do meio, como o agogô chamando no último verso “Deixa a Portela passar” e a outra no trecho “Nas mãos de quem sabe o valor do passado” na segunda do samba indo em preparação para o refrão principal. Mestre Nilo, em entrevista ao site CARNAVALESCO após o ensaio, avaliou o rendimento da “Tabajara do Samba” em mais um treino ao ar livre.
“O andamento do samba está confortável para o portelense cantar, desfilar. Estamos trabalhando com duas bossas, porque eu tinha até outra bossa para colocar, mas a cabeça do samba não pede. É o Paulo falando com a Portela. Eu não posso botar na cabeça do samba uma bossa porque é o Paulo vindo e falando com a Portela nos 100 anos. Se eu botar uma bossa ali eu estou agredindo a palavra do Paulo, nosso professor. Essa é a parte mais gostosa do samba. Nós pegamos uma parte da bossa de 2012, estamos pegando os desenhos sem agredir o samba, nos desenhos de Tamborim , uma parte é do ‘Lendas e mistérios da Amazônia’, nós fizemos uma colcha de retalhos para poder fazer o samba, e onde pede samba estaremos fazendo a parte de samba, estamos valorizando a história, é o centenário da escola. Algum ajuste sempre vai ter que ter, porque o ensaio é para isso. Eu gosto de ensaiar segunda, quarta e sexta, e agora domingo na rua. Cada momento a gente vai limpando uma coisa para poder chegar no dia do desfile bem. E o ensaio de rua ajuda na nossa avaliação, porque a quadra é muito fechada. Eu prefiro mais na rua que na quadra”, entende o comandante da Tabajara do Samba.
Nilo Sérgio também revelou que a bateria da Portela vai levar para a Sapucaí 280 ritmistas e comentou sobre o nível de excelência que as baterias chegaram, que impressiona inclusive pelo número de notas 10 que o quesito tem recebido nos últimos anos.
“Eu acho que a tendência é continuar essa excelência porque hoje as baterias tem vários mestres de qualidade, os antigos, os novos que estão chegando aí, e estão dando atenção ao andamento, e estão colocando em prática. E a gente da antiga, se a gente der mole, os novos estão vindo. E cada um vem com a sua característica, com a sua afinação, com as suas bossas. Cada um tem o seu modo de ver do carnaval. A rapaziada nova está vindo bem”, avalia o mestre de bateria.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Desde 2018 juntos na Águia de Madureira, Marlon Lamar e Lucinha Nobre, que fizeram uma grande apresentação em 2022, parecem querer repetir a dose e conquistar mais premiações em 2023. Mesmo com os cuidados e dificuldades imprimidas pela chuva, a dupla mostrou bastante intensidade e trouxe um pouco da coreografia que vai levar para a Sapucaí, além de brindar o público com muita simpatia e atenção durante os deslocamentos entre um módulo e outro.
O casal mostrou o entrosamento e a intensidade de sempre. Lucinha impressionava com seus giros e força ao empunhar a bandeira, sempre com precisão nos movimentos. Marlon carregava um leque na mão que ajudava a cortejar a bandeira, em determinado momento por alguns segundos na coreografia apresentada ele passava para a mão de Lucinha. Outro momento de bastante beleza aconteceu no trecho “Deixa a Portela passar” em que o casal jogava beijos para o público. A dupla também fez um movimento de roda em um trecho da coreografia.
O casal explicou a diferença de ensaiar na rua. “Na rua tem a energia das pessoas passando, as coisas vão acontecendo e hoje teve chuva, atrapalha um pouco, mas como a prioridade é o desfile, precisa ser tudo com cuidado”, disse Lucinha. “Como a Lucinha bem falou, na rua tem suas dificuldades, como buraco, por exemplo, aí vai com muito cuidado, mas é uma energia como na Sapucaí, muito gratificante”, completou Marlon.
Lucinha e Marlon também responderam sobre o perfil do julgamento para 2023, se será mais focado na dança ou na coreografia. “A Portela tem uma responsabilidade a mais por seu centenário, o jurado tem um olhar clínico, vai ficar de olho em tudo só pra tirar ponto, mas não será diferente dos outros anos, vão avaliar tudo”, afirmou a porta-bandeira, que também falou da fantasia: “Está em fase de finalização. Plena confiança no trabalho do Fernando Magalhães, com quem nós trabalhamos há anos. Com certeza será bonita e diferente de tudo usado até aqui”.
Evolução
A Portela evoluiu de uma forma satisfatória. Levando-se em conta as dificuldades de uma subida e de uma rua que é bastante apertada, ainda mais pelo número expressivo de pessoas acompanhando o ensaio nas calçadas, a escola conseguiu superar algumas invadidas de pista e o aperto em alguns trechos, até por conta das barraquinhas de vendedores ambulantes, para passar bem. Alguma atenção deve ser dada para se evitar buracos, principalmente, após a apresentação do primeiro casal, que em determinado momento a ala que vinha na frente deixou um pequeno espaço que não chegou a se configurar um buraco, mas gerou uma atenção maior e comentários da própria equipe de harmonia.
No mais a escola fez muito bem os movimentos, de forma organizada. Outro fator a se atentar é o ritmo, no início, a evolução dos componentes se deu de uma forma mais rápida, talvez pelo fato de o ensaio não ter contado com a participação da comissão de frente que ajudaria na percepção de deslocamento. Depois, ao longo do treino, a evolução se deu de forma mais espontânea e cadenciada. Pode-se observar também algumas alas coreografadas que geravam bastante curiosidade do público. A ala “os impossíveis” traziam bastões e faziam uma bonita dança, cada componente bailando de mão dadas com um par.
Outros destaques
Antes do ensaio, a agremiação lembrou a morte do ex-jogador Roberto Dinamite que faleceu neste domingo, através de um minuto de salva de palmas. O jogador era amante do carnaval e chegou a desfilar pela Azul e Branca de Madureira algumas vezes, entre outras agremiações. As calçadas da Estrada do Portela traduziam a participação expressiva do público mesmo em uma noite chuvosa. Era bastante difícil transitar pelos espaços, tamanho o contingente de espectadores que cantavam e dançavam enquanto a Portela passava. A rainha Bianca Monteiro, mais uma vez, mostrou muito samba no pé e interagiu bastante com a comunidade. No esquenta, Gilsinho cantou duas passadas de “Portela na Avenida” deixando em diversos momentos a condução do samba apenas com os componentes sendo correspondido na força do canto da comunidade.
Recém-promovida como campeã da UESP, a Imperatriz da Paulicéia pisou no Sambódromo do Anhembi, na noite de domingo, para fazer seu ensaio técnico. A escola desfila no Grupo de Acesso II. Neste primeiro contato com o principal palco do samba, a Paulicéia fez um ensaio bem interativo, a comunidade cantou, a bateria da mestra Rafa teve destaque, mas o casal sofreu muito com o vento e precisa se adaptar contra esta adversidade. A escola vai cantar “Bem-vindos à Vila Esperança – O Berço do Carnaval paulistano”, e será a primeira a desfilar no sábado, dia 11 de fevereiro, antes tem mais um ensaio técnico no dia 28 de janeiro.
Fotos de Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
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Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
Comissão de Frente
Com novo coreógrafo, Diego Albornoz assumiu o quesito, e no primeiro ensaio com a escola, já mostrou um pouco das suas características. Uma dança bem chamativa, interativa entre os dançarinos, destaque para um deles que estava à frente e carregava uma barra com duas bolinhas nas pontas e rodava ela. O grupo estava bem colorido na vestimenta, com camisas de vários tons fluorescentes. Em um momento da apresentação formavam duplas, olhando um para o outro, só que em um círculo e ao centro, o componente com o elemento cenográfico em mãos. Outro momento chamativo era quando juntava um trio na frente da comissão e levantavam uma componente em um momento lembrando a ginástica artística.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal teve problema com o vento no primeiro setor, bem em frente aos Setores A e B, Leila Cruz sofreu para manter o pavilhão durante a dança, enrolando em alguns momentos e o vento puxando para trás. O mestre-sala Ronaldo Ferreira foi dando força para sua companheira, pedindo para manter a calma e ao longo da pista, o casal foi ajustando. É um percalço no Sambódromo do Anhembi, afinal, está muita ventania e chuva em janeiro, mas é preciso corrigir no quesito nos próximos ensaios. Em volta do casal, os componentes formavam um círculo de ‘proteção’ ao casal, todas vestidas de amarelo e calça preta.
Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
Harmonia
A animação e empolgação da comunidade era nítida. O retorno foi com a escola cantando o samba-enredo, que é leve, fluiu bem com auxílio do intérprete Fabiano Melodia, interagindo bastante com a comunidade junto com seu time de canto. Uma ala bem alegre foi logo a primeira ala de componentes da escola, com camisa ‘Comunidade da Imperatriz’, mas componentes de outras alas também vestiam.
Outra ala bem animada era uma que andava na lateral do espaço destinado para o primeiro carro, dançavam e faziam coreografia, terá surpresa por ali. Inclusive nos cordões que eram destinados para as alegorias, bandeiras da Imperatriz da Paulicéia despertaram atenção. Assim como a escola usou bastões, brilhos, bexigas, interessante visualmente. As baianas vieram comandadas por uma baiana mirim, que deu um show à parte.
Evolução
A escola vivia uma realidade diferente do que era desfilar na UESP, e neste primeiro ensaio não vieram tão grandes. Portanto, a evolução foi bem tranquila, desfilaram sem correr, e de certa forma leves. Ou seja, a escola soube desenvolver o ensaio e terminar com a comemoração dos diretores de harmonia. Fechando o ensaio vinha uma ala das passistas bem alegres e sambaram bastante, atrás ainda a velha guarda, e uma alegoria com muitas crianças, ou seja, contrastes, mas bem interativo.
Samba
O samba-enredo foi bem conduzido pelo Fabiano Melodia que gosta de se conectar com a comunidade, vai para o meio do povo. Um trecho que explodia na comunidade é “Samba é nossa paixão, um reinado azul e branco coroando a multidão. Meu pavilhão vem da matriz, com a Vila Esperança, tá chegando Imperatriz”.
É um samba leve, gostoso, e com trechos que contam a poesia do carnaval paulistano, citando o grande mestre Adoniran. Portanto, funcionou neste primeiro ensaio. O destaque foi quando a bateria ficou mais solta e levantou refrão já na segunda parte do Anhembi, após passagem pelo recuo.
Outros destaques
A bateria “Swing da Paulicéia”, comandada pela primeira mulher mestra de bateria a pisar no Anhembi, deu um show a parte com suas bossas e afinação. O começo foi tranquilo da bateria, mas depois que saíram do recuo e caminharam para a reta final, a bateria se soltou e fez um ensaio destacado. Na frente da bateria, Ariê Suyane é um show, samba no pé, sorriso no rosto e interage com a comunidade, em momentos do desfile entra pelas alas e sambando muito.
A presidente Mara Lazarini mostrou muita felicidade em estar presente no Anhembi, citando que era o sonho da escola e agora era o momento de a Paulicéia mostrar ao que veio. O retorno da comunidade foi claro de quem está muito feliz com o momento vivido pela agremiação.
Por fim, vale ressaltar a presença de membros de outras escolas auxiliando a bateria da Paulicéia, os mestres Klemen Gioz da Dragões da Real e Zoinho, Império, saíram como componentes na bateria. O diretor da Império da Casa Verde, Tiguês e o mestre Serginho, da Tucuruvi, auxiliaram na evolução ao lado da bateria.
A Unidos da Tijuca festejou na noite de sábado, com a quadra lotada, seus 91 anos de história em sua quadra. A escola organizou um show com os seus segmentos e as outras 11 agremiações do Grupo Especial. A apresentação iniciou com a “Pura Cadência” e os intérpretes Wantuir e Wic, além da equipe do carro de som, relembrando sambas-enredo históricos da agremiação do Borel. Em seguida, houve uma participação do bloco afro Òrúnmilá.
Após a participação do grupo, os outros segmentos da escola começaram a se apresentar. O show continuou com a ala das baianas, a velha-guarda e as passistas. O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rafael Gomes e Lohane Lemos, dançou ao som de “Waranã, a reexistência vermelha”, samba-enredo do ano passado.
A festa da Unidos da Tijuca encerrou com o samba-enredo desse carnaval “É onda que vai… é onda que vem… serei a baía de todos os santos a se mirar no samba da minha terra” junto com a dança do primeiro casal, Matheus André e Denadir Garcia, e a comissão de frente.
Matheus e Denadir comentaram, em entrevista ao CARNAVALESCO, o sentimento de estarem presentes no aniversário de 91 anos da Unidos da Tijuca. “Estar aqui podendo mostrar o melhor do meu trabalho e comemorar junto com a Unidos da Tijuca. Isso é sem explicação. Eu estou muito feliz e muito grato”, disse o mestre-sala.
“É uma felicidade enorme, 91 anos da Unidos da Tijuca. É o meu terceiro ano na escola, mas somente com dois carnavais. Então estou muito feliz, a festa está linda demais”, complementou a porta-bandeira.
O mestre Casagrande esteve no comando da “Pura Cadência” nos três dos quatro títulos da escola. Em clima de aniversário da Unidos da Tijuca, ele relembrou o desfile mais marcante. “Foi 1983. “Brasil devagar com o andor”. Eu acho que é um desfile que marca, porque foi o meu primeiro desfile dentro da bateria da Unidos da Tijuca”.
O intérprete Wantuir, também campeão pela escola, comentou sobre sua relação com a Unidos da Tijuca. “Apesar de eu ter passado em outras escolas de samba do Rio de Janeiro, a Tijuca é minha casa. Eu ir para a casa e ir para a quadra da Tijuca é a mesma coisa”.
Jack Vasconcelos falou sobre a honra de ser carnavalesco da escola e citou nomes históricos que já estiveram à frente do carnaval da Unidos da Tijuca. “É uma honra muito grande estar nesse momento como carnavalesco da escola e estar presente nessa festa. Eu me lembro do Oswaldo Jardim, do Milton Cunha, Paulo Barros, Sylvio Cunha, uma galera que eu admiro tanto. Para mim vem a lembrança dos carnavais incríveis que eu vi quando eu comecei a me apaixonar por carnaval”.
Perguntado sobre qual palavra definiria a Unidos da Tijuca, o carnavalesco e comentarista da TV Globo, Milton Cunha, definiu a escola com a palavra “resistência”. “Porque ela se reinventa. Resiste aos modismos (…)”, afirmou.
A expectativa da escola para esse carnaval é a melhor possível. O diretor de carnaval Fernando Costa garantiu que a escola vem forte para a disputa do carnaval de 2023. “Esse ano eles (os jurados) se preparem que a gente está bem melhor que ano passado. Mas muito melhor”.
As agremiações do Grupo Especial fizeram grandes apresentações. O público presente se esbaldou com os sambas histórias e as obras para o Carnaval 2023. A alegria tomou conta da quadra tijucana. Houve “gritos radiantes” para o presidente Lula e a Mangueira abriu o espaço e os sambistas tomaram conta da exibição da Verde e Rosa. Encerramento apoteótico para o evento que merece estar no calendário anual do carnaval. Parabéns, Tijuca!