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Fala, Ciça! ‘Ritmista não quer dinheiro para desfilar, ele quer ser bem tratado’, diz o mestre de bateria da Viradouro

Figura já eternizada na história do carnaval carioca, mestre Ciça coleciona mais de 25 passagens a frente de baterias na Sapucaí. Responsável por momentos marcantes de inovação, ele também compreende a disciplina como parte indispensável do seu trabalho. Atualmente, aos 66 anos de idade, ele sente a mesma paixão e ânimo de seu início de carreira. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, não poupou comentários sobre seu passado, presente e futuro na Viradouro.

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Fotos: Luisa Alves/Site CARNAVALESCO

Após tanto tempo no comando da bateria, qual é o balanço que faz de sua carreira?

Ciça: “Nunca pensei em chegar aonde cheguei, sabe? Isso lá atrás surgiu como uma brincadeira. Era um sonho que eu tinha, influenciado pelo meu irmão músico. Eu dizia que um dia dirigiria uma bateria na Sapucaí e ele entendia como loucura. Tenho uma sensação de dever cumprido. Tudo que eu realizei por onde passei… na Estácio, Tijuca, Grande Rio, Ilha e até mesmo na Viradouro. É prazeroso ter trinta e poucos anos de carreira ininterruptos. Eu só faltei dois ensaios na vida, um por estar viajando e outro por questões de saúde. Aprendi muito nesse período, realizei um bom trabalho, tive erros e acertos… Acredito que mais acertos, porque ainda estou aqui”.

Em termos de ritmo, qual foi seu melhor desfile?

Ciça: “Não posso citar apenas um porque estaria cometendo injustiça comigo mesmo e com as pessoas que vão ler a matéria. Tem alguns desfiles que eu destaco, não necessariamente na ordem. O ‘É de Arrepiar’ da Viradouro, o da Grande Rio em 2010, o da União da Ilha em 2018 que, por sinal, nem foi o ano em que ganhamos prêmios. Em 1997, o meu último ano na Estácio, também. Estamos falando sobre ritmo, certo? Acho que fiz um ótimo trabalho quando a Viradouro cantou sobre a Bibi Ferreira. Falo isso porque normalmente os julgadores não precisam escrever uma justificativa quando dão nota máxima, mas um julgador específico, que era muito exigente, nos deu nota dez e justificou. Isso me marcou. Também achei a bateria excepcional no carnaval de 2020 da Viradouro. São tantas baterias que posso acabar esquecendo, mas tive anos maravilhosos”.

E qual foi o desfile que você se decepcionou ou não gostou da bateria?

Ciça: “Já me decepcionei não com o resultado, mas porque percebi que não fomos bem. Teve um carnaval na Grande Rio, acho que estávamos falando sobre Maricá, em que eu saí dali sabendo que não trabalhei da forma que gostaria. Em alguns carnavais, a gente passa bem pela Avenida, acha que vai dar certo, e… vou citar um exemplo. Quando a Viradouro reeditou o samba sobre o Círio de Nazaré, peguei uma chuva com água até o joelho, mas a bateria passou firme. Mesmo assim, teve um julgador que me penalizou. Fiquei muito triste na apuração. Se bem que, quando algo assim acontece, recebemos uma nota ruim, procuramos corrigir, certo? Temos essa obrigação”.

Você é muito querido por seus ritmistas e até ritmistas de outras escolas. Qual é o segredo?

Ciça: “Falando no nosso linguajar, eu não faço sacanagem com ninguém. Eu olho no olho do ritmista, sou verdadeiro com ele. Não esculacho um ritmista, ainda mais na frente dos outros. Quando vou cortar alguém, e essa palavra nem é legal, eu chamo num canto e converso. Aqueles que me acompanham sabem disso. E eu brigo muito por ritmista e sempre vou brigar. Os presidentes das escolas de samba falam ‘você pede muito, Ciça’ e eu peço mesmo, mas não é para mim, peço para a bateria. Costumo dizer que o ritmista não quer dinheiro para desfilar, ele quer ser bem tratado na quadra. Lógico que precisa ser respeitoso para ser respeitado, mas ele quer uma condição legal, um espacinho para levar a namorada ou namorado. Claro que não vamos atender todos, mas eu tento proporcionar um lanche a mais, um refrigerante, uma água, uma cerveja… É a obrigação do mestre brigar por isso, porque as pessoas falam muito sobre a bateria. Acham que tudo de ruim acontece na bateria e isso mudou. Hoje é um nível completamente diferente. Por isso, sempre busco ajudar da melhor maneira, com dinheiro de passagem, transporte… às vezes eu nem tenho, mas peço ao presidente. Alguns presidentes não gostam disso, mas vou continuar pedindo. Sou um sambista das antigas e sei como funciona. O carnaval é o lazer dos ritmistas. Como eu digo, vou até a página dois com eles, da três em diante não é mais comigo. Garanto que vou até onde a escola me atende. A Viradouro é uma escola que me atende sempre na medida do possível porque eles entendem. Não tem como ajudar todo mundo, mas as pessoas que mais precisam recebem assistência e carinho. Eu sou um agregador, quero as pessoas perto de mim. Tenho ciúme de ritmista que desfile em outra escola, não nego. A gente não pode falar, mas tenho ciúme. A maioria dos mestres não assumem, mas eles têm. Temos que tratar os ritmistas muito bem porque eles são os primeiros a entrar na Avenida e os últimos a sair. Na Sapucaí e na concentração, sei que todos os segmentos merecem, como as baianas, e todos brigam por seus segmentos. Vou brigar pelo meu segmento, sim. Esse tratamento do ritmista motiva ele a ficar na escola e é isso que eu quero. Por isso tenho esse carinho por eles. Não só por eles, mas também por muitos mestres de bateria que estão por aí agora e já foram meus ritmistas. Saber que eu posso cuidar deles não tem preço. Apesar de não ter estudado, até fazemos um pouquinho de psicologia, sabe? Entendemos os problemas. Tem uns que são abusados, mas desses a gente prefere se afastar. Respeito sempre. Acabou aquilo que tinha quando comecei, décadas atrás. Hoje tem um pessoal que estuda, trabalha e entende melhor tudo. A gente procura entender também e assim vamos levando”.

Gosta do apelido de caveira?

Ciça: “Caramba, esse apelido ficou. Na realidade, quem me apelidou assim foi o Eurico Miranda. Pouca gente sabe, mas quando fui da Unidos da Tijuca, o Eurico gostava muito de mim. Um dia falou assim: ‘esse caveira é brabo’, e começou. Nunca me incomodei e isso nem se espalhou. Aí quando cheguei na União da Ilha, por coincidência já que eles nem sabiam disso, também começaram a me chamar assim. Quando vim para a Viradouro o patrono fez uma camisa para mim com uma caveira nas costas. Vou brigar contra isso? Não vou, aceito na boa”.

Você sempre fala que não vai para a Avenida fazer feijão com arroz. O que representa pisar todo ano na Sapucaí?

Ciça: “É um desafio para mim. Eu fiquei rotulado, e isso não é bom, nem ruim, mas pela obrigação de fazer alguma coisa diferente. Aí quando você não faz… ‘Poxa, ele está muito preocupado com o ritmo’. Eu gosto muito de interagir com o público, tenho consciência disso, gosto de fazer coisas diferentes, mas como falei, é sempre um desafio. ‘Ah, o que eu vou fazer ano que vem?’. Às vezes você não consegue porque depende muito do enredo e da situação do desfile, mas se me perguntarem se ainda tenho ideias… olha, tenho ideias maravilhosas, mas preciso que tenha coerência com o enredo. Cada ideia é uma novidade. Fico feliz porque hoje mais pessoas estão fazendo isso, outras escolas indo por esse caminho. Já subi em cima de instrumento, de carro alegórico, já me deitei na avenida, fiz cambalhota… então sim, tenho várias ideias, mas sei que fico rotulado. Só peço que não me cobrem caso um dia não faça porque em certas situações realmente não tem como. Também temos que focar na nota e no ritmo. Mesmo assim, se der para criar algo, sempre tenho o que tirar da cartola. Nem que seja uma coisa pequena”.

Você já colocou a bateria em cima de carro alegórico. Gostou daquilo e faria novamente?

Ciça: “No carro alegórico nunca mais! Foi um aprendizado. Essa foi uma ideia que eu tive na Estácio e guardei desde 1994. Na época eu perguntei ao presidente da escola, que era o Acyr Pereira Alves. Primeiro comentei com o diretor de carnaval, Ricardo, que ainda está vivo e a gente comenta sobre isso até hoje quando se encontra. ‘Cara, eu queria colocar a bateria num carro alegórico’, ‘a ideia é legal, Ciça, vamos falar com o presidente’. Aí começou, fui chamado de maluco porque fazer uma coisa dessas não é financeiramente barato. De qualquer forma, a ideia surgiu. Já na Viradouro, quando o Paulo Barros foi contratado, logo nos encontramos numa feijoada. O Paulo viaja muito, sabe? Ele estava sentado numa mesa, a gente já se conhecia e eu fui falar com ele. ‘Paulo, tenho uma ideia’, quero colocar a bateria numa alegoria’. Ele não falou nada, só me puxou pelo braço e fomos na sala da presidência. Era o Marco Lira. Aí o Paulo, do jeito dele, falou ‘o Ciça me deu uma ideia e vou comprar essa briga’, colocar a bateria num carro alegórico’. Ele parou, olhou muito para nós dois e disse ‘eu sou mais louco que vocês porque vou aceitar esse negócio’. Só que me assustou muito. A minha ideia era colocar um carro alegórico da altura de uma mesa, a bateria subir, mas surgiu um monstro na minha frente com três carros acoplados. Ensaiávamos sempre de madrugada, eu fiquei praticamente no último andar do carro, no topo, no mesmo nível que os julgadores ficariam. Falando mais tecnicamente, eu entendi que o que os julgadores ouviriam lá, eu também ouviria de onde estava. Eu colocava a mão para o lado de fora e me comunicava com os ritmistas, tipo ‘dá uma segurada aí’. Mas eu passei muito rápido pela Avenida, entende? Nem dava tempo de dar um tchau. Foi um projeto caríssimo. Três carros acoplados, três motores caso algo desse errado e, se ainda assim desse, tinham 130 pessoas do lado de fora para empurrar. Fiquei vários dias sem dormir por conta disso, com medo de algo dar errado porque a ideia foi minha. A minha cabeça ficou quente. Entramos na Avenida de madrugada e eu tinha que esperar o momento certo para subir, ficar atento ao relógio… subi antes, quase caí do carro porque estava nervoso. Esse carnaval foi inesquecível e não fomos campeões, mas sempre brinco com todo mundo: ‘quem estava lá, estava, porque nunca mais vão ter essa oportunidade’. Tecnicamente, a escola merecia uma colocação melhor. Foi uma ocasião espetacular, o Paulo ajudou… só que ele também exagerou muito. Eu avisei que não queria aquilo tudo e ele respondeu que se fosse para fazer tinha que ser direito. Quando eu falo que não vou fazer mais isso é porque eu não curti o desfile, sabe? Eu queria estar no chão sentindo o momento. Mesmo assim, foi uma boa ideia, deu muita audiência também. Até hoje comentam”.

O que você ainda sonha em fazer com a bateria, mas que ainda não conseguiu realizar?

Ciça: “Muitas coisas! Tem uma que eu quase fiz na Grande Rio, não vou contar o que é porque quando fizer vai ser histórico. Está bem guardado, vai ser espetacular quando chegar o momento e absurdo também. Quem sabe eu não faço na Viradouro um dia? Como eu disse antes, também depende muito do enredo. As ideias sempre surgem, mas essa, como a do carro, eu tenho guardada há anos comigo. Quem é próximo de mim sabe, me chamam até de maluco, mas não sou. Aliás, pelo visto, muita gente chama. Vai engrandecer o carnaval e eu gosto de dar espetáculos. Só espero que ninguém faça antes, mas eu duvido que façam porque, com todo respeito, tem que ter coragem para fazer”.

Seu nome está na história do carnaval. Um dos momentos mais espetaculares foi com a Luma de Oliveira. Era especial ter ela como rainha, o que lembra daquela época?

Ciça: “A Luma é sensacional. Além de ser rainha de bateria, ela sempre foi muito profissional. Nós nos conhecemos na Viradouro em 1999 e criamos uma amizade em que, até hoje, vou na casa dela. Temos um carinho enorme um pelo outro. Como eu falei, ela é profissional. Eu ia para a casa dela ensaiar quando ela não podia e ela filmava tudo. Sempre foi uma rainha participativa. Eu falei para ela algo que falo para todas as rainhas de bateria, porque todas foram importantes, mas já que citaram ela, ‘não basta ser famosa, tem que ensaiar’. Tenho isso comigo, entende? Se quiser ser rainha de bateria, vai precisar ensaiar porque é necessário interagir com a bateria. Quando me refiro a interação, não é sobre ficar pulando na frente, mas saber as nuances, entender um desenho do tamborim. Uma rainha tem que fazer tudo isso gestualmente. Alguns amigos meus dizem ‘pô, Ciça, você se preocupa muito com a rainha de bateria’ e é claro, ela vem na nossa frente. Ela não rende nota, mas precisa participar, não apenas sambar como uma doida. Precisamos dessa interação entre a gente. Ela tem que saber o momento do samba em que vai fazer a bossa, aprender o sinal que eu faço, ficar atenta no repique… Isso é uma verdadeira rainha de bateria. No passado, a Luma começou com isso comigo, depois tivemos outras grandes rainhas. Elas estão nesse processo de aprendizado, percebo o cuidado e a preocupação que elas têm. Tive Paola Oliveira na Grande Rio, Gracyanne Barbosa na Ilha… Me lembro de uma vez que a Juliana Paes chegou na quadra da Viradouro de madrugada para ensaiar com as pessoas. Achei aquilo espetacular e por isso dava certo na Avenida. Chamo a nossa rainha atual, Erika Januza, de fominha. Ela está perfeita, faz questão de estar por dentro de tudo. É muito bacana porque as pessoas percebem essa diferença no desfile. Se houver alguma perdida, por exemplo, é perceptível na Sapucaí. Entendo que existem outros compromissos, mas o processo importa demais. O conjunto fica incrível”.

Você agradeceu muito na pandemia em estar na Viradouro e ser bem tratado. Mas com certeza muita gente te viu passar dificuldade em outras escolas. Qual é a importância do tratamento que você e seus ritmistas recebem na Viradouro?

Ciça: “Nunca imaginei que voltaria para a Viradouro. Mesmo com as dificuldades, eu estava bem na Ilha. A Ilha nunca me deveu nada e sempre cumpriu com os compromissos. Quando surgiu o convite da Viradouro, nem acreditei. Depois de muita conversa, aceitei. A minha apresentação na escola foi coisa de louco… vinte anos depois da última vez, tinha uns 500 ritmistas lá. Deus teve ter me ajudado com isso porque, na pandemia, a escola fez tudo que prometeu. Era 50% para todo mundo e se faltasse alguma coisa, atendiam a gente. Teve escola que nem isso deu, nem 1%… os profissionais aqui foram sensacionais. No começo, quando veio o baque da pandemia, tínhamos sido campões do carnaval e nem curtimos porque foi um mês depois. O mais bacana foi o acordo de que, caso não tivesse carnaval em 2022 ou até mesmo 2023… o Calil deu a palavra que continuaríamos recebendo igualmente. Só a Viradouro mesmo para fazer isso por nós e eu sou grato demais. Foi o momento mais difícil da minha vida, perdi um irmão, amigos e parentes próximos. E eu sou todo errado, sabe? Sou fumante… e aquilo foi me consumindo dentro de casa por quase sete meses. Sei que foi difícil para todo mundo, mas estou contando a minha experiencia. Conseguimos sair dessa, mas a Viradouro foi tudo para gente. Comigo, principalmente. Eu ligava para o nosso patrono e ele perguntava como eu estava me sentindo, se precisava de algo, mandava mensagens no nosso grupo… um carinho incrível. Também tive que me habituar a nova realidade, vendi meu carro para me manter bem, deixar a casa organizada e comprar remédios. Um processo financeiramente longo e sempre vou lembrar o quão grato sou a Viradouro por isso. Posso falar porque já tive em outras escolas que às vezes eu nem recebia, ou recebia atrasado… momentos complicados mesmo. Agradeço muito a família Calil, Marcelo, Marcelinho… e eu estou aqui vivo, com saúde e brigando pelo próximo título”.

É realmente muito diferente trabalhar na gestão Calil? O que é tão diferente?

Ciça: “Muito! Eu falo sobre até com amigos de outras escolas. Nem gosto de falar porque às vezes podem pensar que é soberba, mas não é. É a realidade. O profissionalismo aqui é absurdo, coisa de outro mundo em termos de escola de samba. A estrutura que dão… o profissional pode ser bom ou ruim, mas ele precisa de estrutura para trabalhar. O que é estrutura para um mestre de bateria? Quando você começa os ensaios cedo. Na primeira terça-feira da Semana Santa eu começo o meu ensaio. Poucas começam tão cedo, mas eu posso aqui porque me dão essa condição. Não preciso me preocupar se as baquetas do estoque vão acabar. É a condição de ter suas coisas, não de forma abusada, mas no cotidiano do trabalho. Os meus instrumentos estão prontos para o desfile desde
novembro. Tenho os instrumentos de ensaio e os do desfile. Isso é o absurdo do absurdo. Também posso me organizar e reparar no que vamos precisar no futuro. Não vou esperar uma corda arrebentar para resolver o problema, eu me antecipo. Além do espaço, temos uma equipe maravilhosa como o Quico, o Alex, o Dudu e o Helio que é o vice-presidente. Vou citar os nomes deles porque são muito importantes no projeto como um todo. As fantasias também surgem com quatro meses de antecedência. Não falta bebida nos ensaios, não preciso correr atrás do presidente para pedir. Acho que é o mínimo que uma escola precisa proporcionar, fazer o profissional se sentir confortável e valorizado no trabalho. E trabalhamos muito por aqui. Lógico que não vou afirmar que isso ganha o carnaval porque carnaval se ganha na pista, na hora pode acontecer de tudo, mas a Viradouro vai para avenida ciente de que vai brigar pelo título. Hoje eu posso bater no peito e dizer que vamos entrar na avenida para sermos os campões. Acho que a imprensa nunca tira a Viradouro do pódio no pré-carnaval. Fazendo as contas, acho que fizemos vinte ensaios de rua. Se gasta muito e se necessita de muito empenho para fazer isso. Vejo até outras escolas copiando esse modelo de trabalho e acho muito bacana. Isso não é demérito para ninguém, falando de carnaval em geral. O que funciona deve ser copiado e colocado como padrão. Deixa todos confiantes, e para fazer isso precisa de uma gestão séria. A família Calil assumiu a escola quase enrolando a bandeira e transformou nessa potência, sem marra, tratando todos com humildade. A gente prega isso aqui: ter o pé no chão. Acho isso muito bacana. Hoje tenho 66 anos e não quero mais passar pela falta de segurança que passei anos atrás. Para ter noção, sei que enquanto dou essa entrevista, tem muita gente trabalhando para entregarmos um bom desfile”.

Você teve um grande entrosamento com Dominguinhos e agora com o Zé Paulo. O ‘Vai Ciça’ é inesquecível. Como é esse relacionamento de trabalho entre você e o Zé?

Ciça: “É ótimo. Eu e Zé conversamos muito, como eu já fazia com o Dominguinhos. Aprendo muito com ele, trocamos opiniões… às vezes pode acontecer um desentendimento, mas passa logo porque sabemos que é em prol da escola. Isso é legal, precisamos desse entrosamento. Não adianta ninguém pensar que sabe mais, temos que colocar a escola em primeiro lugar. Quando vim para Viradouro não conhecia o Zé pessoalmente e hoje posso dizer que ele é um grande parceiro. Ele é um cara do bem e me sinto vitorioso trabalhando com ele. Conseguimos bons resultados juntos”.

Falam muito de correria na bateria e citam você. Isso te incomoda? O que você responde sobre o andamento?

Ciça: “Essa pergunta é incrível. Numa escola séria, e eu sei que vou incomodar muita gente falando isso, mestre de bateria nenhum dita o andamento da Avenida. Aqui a gente se senta com o presidente da escola, o diretor do carnaval, o intérprete… com todo mundo, e decide o que vai ser melhor para o desfile. A gente vai colocar 140, 148, 150 bpm? Isso é conversado. Tudo cai na minha conta, devo ser muito forte. Aqui na Viradouro conversamos muito. Na União da Ilha a gente conversava um pouco também, nas outras escolas, na Estácio… a gente não conversava. Decidíamos no toque da caixa. Aqui na Viradouro a gente conversa muito sobre o andamento. Eu gosto do andamento com uma pegada, coisa minha. Sou estaciano, vim da Estácio, moro na Estácio até hoje, e a Estácio tem essa característica. Mas é lógico que a gente precisa pensar no que se encaixa melhor na proposta da escola. Eu estou me adaptando a um andamento mais confortável. Nesse carnaval de 2023 as pessoas vão se surpreender com o andamento da Viradouro, mas é uma coisa que foi conversada. Se eles não conversassem comigo, a minha pegada iria prevalecer. Não que eu goste de correria, porque você pode tocar 147 bpm com swing. Se o menino tocar 140 bpm com swing vai ser a mesma coisa, essa é a diferença. Até exagerei, confesso. É que as pessoas falam que é correria, mas 147 bpm é um andamento com pegada boa. E com swing, porque isso é importante. Quem toca correndo não sabe tocar, viu? Eu posso tocar até 149 bpm que vai ser swingado. É controverso, mas agora… se eu gosto de um andamento mais rápido? Confesso que gosto. Só que preciso me adaptar. Estou com 66 anos, tem garotos novos como mestres de bateria e eles são muito bons. São craques, estudam música. Eu tenho que acompanhar, aprender também. Eu até falo para eles ‘olha, o velho não está morto e na Avenida o pau vai torar’ e isso faz parte. Isso é um aprendizado para mim, a gente nunca sabe tudo. Gosto de conversar com os meus ritmistas, trocar ideias de uma forma que seja confortável para todos. Fiquei rotulado mesmo, mas como eu falei, em escola séria tem conversa com todo mundo. Já aconteceu várias vezes em outra escola de alguém falar ‘tem que botar na frente’, mas ninguém assume. Eu sempre me calei, segurei essa onda sozinho. Se você tem um cantor como o Dominguinhos, por exemplo, que é um monstro e não está reclamando, por que o Ciça tem que segurar a onda sozinho? Por que não pergunta para o Dominguinhos ou para direção da escola? ‘Ah, porque o Ciça gosta de correr’. Repito: mestre de bateria nenhum dita o ritmo da Avenida. Até porque se um presidente chega em você e diz ‘eu estou te pagando, toca desse jeito e acabou’, você vai fazer diferente porque prefere? Duvido que alguém faça diferente. É isso, não sou eu que decido sozinho. Sempre me calei, mas de uns seis anos para cá resolvi colocar as cartas na mesa. Assumo as minhas responsabilidades. Já aconteceu de um diretor de carnaval dizer ‘tem que ser 150 bpm’ e eu disse ‘é isso que você quer?’ e fui 150 bpm na Avenida. Depois que deu errado, ninguém falou nada e caiu na minha conta. Não vou me calar mais. Várias pessoas são responsáveis pela decisão, não só o Ciça”.

Você passou por grandes escolas, mas na Ilha a relação foi bem especial. Você é adorado lá. Foi diferente o trabalho lá?

Ciça: “Sim. A Ilha foi o maior desafio que tive na carreira. A escola é maravilhosa e o bairro é bom. Foi um desafio porque a Ilha já foi a bateria mais premiada do carnaval, pensei que não tivessem nada a ver comigo, mas fui. O Thiago Diogo fez um trabalho belíssimo lá também, aí foi para a Grande Rio e eu para a Ilha. Trocamos de lugar. Meu primeiro ano na Ilha não foi legal porque fui na minha pegada e reparei que lá não funcionava. Aí um dia, num ensaio de bateria num estacionamento, me pediram para resgatar a velha bateria da Ilha. Eles tinham se perdido um pouco. A minha preocupação era não ter gente para tocar. Aí eu fiz um vídeo anunciando, chamando quem quisesse, até os antigos. Na quarta-feira seguinte aquilo ficou lotado de ritmistas e percebi que ia funcionar. Fizemos um trabalho maravilhoso e eu tenho orgulho de ter feito parte desse resgate, de trazer o melhor que a Ilha tinha, embora muitos não gostem do termo. Eu saí e agora o mestre Marcelo está dando continuidade ao trabalho e isso é ótimo. A Ilha é isso, não se deve mudar. Eu acho até que não se deve mudar característica nenhuma da bateria própria quando você é contratado por uma escola de samba. Não pode ter essa vaidade de querer mudar a essência da escola. Já pensou se eu chego na Mangueira e mudo a bateria? Não tem cabimento. Fico feliz com esse carinho que a Ilha tem por mim, como outras escolas também têm, porque eu busco tratar todos da melhor maneira. Dessa vida nada se leva. Nós somos artistas agora, quando chega o momento de entrar na Avenida, mas no decorrer do ano somos pessoas como as outras. É importante lembrar disso. Podem falar mal de mim como mestre de bateria, cada um tem sua opinião, mas nunca por sacanear outras pessoas. Isso eu não faço. Na Grande Rio também recebi muito carinho, foi um trabalho difícil. Peguei a bateria do Odilon, uma bateria que só tirava dez. Confesso que não fui muito feliz lá, poderia ter sido melhor, mas tenho a humildade de falar isso. Em 2010 sei que foi sensacional. Me considero o maior injustiçado em relação aos prêmios que uma bateria pode receber. Não teve bateria melhor que a da Grande Rio em 2010 e ponto. Usando uma gíria, tiramos onda na Avenida. Faz parte. Só fui ganhar um grande prêmio depois de muitos anos na União da Ilha, olha que curioso! Uma característica completamente diferente da minha. Acho que merecia na Estácio também e nunca aconteceu. Voltando para a Grande Rio, foi um trabalho legal. Encontramos bons garotos que hoje estão na bateria. O Fafá faz um trabalho lindo e me sinto muito à vontade para falar isso dele. É a bateria campeã do último carnaval, excepcional. E eu brinco muito hoje com essa rapaziada do carnaval porque foram todos meus ritmistas. Colaboramos muito juntos e sou grato a eles. Sou grato a todos os mestres de bateria, na verdade. Os caras são feras. Somos amigos fora do carnaval, não tem inimizade, e a competição é de um nível elevadíssimo”.

Dói em você ver a Estácio na Série Ouro?

Ciça: “Claro. A Estácio é uma potência, uma escola gigantesca. Posso falar porque moro no bairro e foi onde aprendi tudo na vida. Comecei lá também, e é claro que me dói. Ela está lutando para subir, às vezes sobe e desce mesmo não merecendo o rebaixamento, mas infelizmente o carnaval tem essas coisas. As condições financeiras também não ajudam, mas eu sei que um dia ela vai conseguir se manter. O presidente que elegeram lá faz carnavais belíssimos. Muitas pessoas às vezes falam bobagem, mas não se pode negar que a escola faz carnavais bonitos na Série Ouro. Tanto que na gestão dele a escola subiu duas ou três vezes, mas tenho certeza de que um dia ela vai se assentar. Mas que me entristece ver a Estácio na Série Ouro, entristece. Estou sempre lá, apareço nos ensaios, na quadra…”.

Mestre Fafá e mestre Rodney falaram que você teria que dar o nome para o segundo recuo de bateria no Sambódromo. Homenagem em vida. O que sentiu quando ouviu isso?

Ciça: “As pessoas mandaram para mim, eu não tinha escutado. É uma coisa que mexe com a gente, ninguém vai negar. É uma satisfação ouvir isso de mestres de bateria, saber que estou marcado na história do carnaval… A minha vida toda foi na Sapucaí, no samba e isso é muito bom. Fico na torcida de um dia realizar esse sonho. Como eles disseram, precisa ser em vida. Tivemos grandes mestres passando na Sapucaí e se partiu do Fafá e do Rodney, agradeço muito. É satisfatório demais esse reconhecimento. Tem gente vindo me perguntar sobre, mas não sou que tenho que planejar isso. Espero que dê certo. Não esperem eu morrer, por favor”.

Bateria é destaque no segundo ensaio do Morro de Casa Verde

O Morro da Casa Verde realizou na noite de quinta-feira o seu segundo e último ensaio técnico visando a preparação para o carnaval de 2023. O treino foi marcado pelo grande desempenho da ‘Bateria do Morro’, comandada pelo mestre Marcel Bonfim. O destaque também fica para o intérprete Juninho Branco, que fez uma grande arrancada e colocou a comunidade para cima. Porém a agremiação precisa se atentar a alguns detalhes, principalmente ao canto da escola, que continua irregular, assim como foi no primeiro ensaio.

Comissão de frente

A coreografia girava em torno de bastões que a ala carregava. Com esses instrumentos, os componentes evoluíam de um lado para o outro fazendo movimentos diferentes entres eles, como por exemplo movimentos de cruzes. Também colocavam o instrumento no chão, ajoelhavam e executavam outro tipo de coreografia para saudar o público. Um momento chave da dança foi na hora do refrão principal, onde todos formavam uma fila diagonal na pista e, um por um, levantava o bastão. Os personagens aparentam ser algum tipo de guardião ou um guerreiro lutador.

Harmonia

A escola teve um canto bastante satisfatório desde a arrancada até certa parte do ensaio. Porém, após isso repetiu a primeira dose do último treino. O volume caiu muito de produção. A garra que a verde e rosa imprimiu na largada, praticamente se perdeu. Isso pode ser afetado devido ao samba, que tem uma grande letra, mas em certas partes a melodia é para baixo. Entretanto, o último setor da escola teve um canto muito aquém do que uma agremiação precisa para passar na avenida. Nitidamente muitos componentes não sabiam o hino para 2023, com exceção do refrão principal. O Morro da Casa Verde tem um grande potencial de harmonia, basta executar isso durante todo o desfile, além de ajustar os últimos setores que estão praticamente nulos.

MorroDaCasaVerde et InterpreteJuninho

Mestre-sala e Porta-bandeira

Analisando o casal por diversos momentos, deu para notar que Leonardo e Bruna fizeram um ensaio estratégico. Nitidamente se pouparam por alguns momentos com o intuito de realizar a coreografia de apresentação nos pontos chave. A dupla conseguiu realizar os requisitos de giro horário e anti-horário. A coreografia dentro do samba segue bastante a melodia que a trilha sonora propõe do que o contexto do enredo propriamente dito. Contudo, o casal teve uma apresentação segura.

MorroDaCasaVerde et PrimeiroCasal

Evolução

A evolução das alas fluiu de forma satisfatória. Porém vale se atentar ao momento de recuo da bateria, onde o movimento foi muito bem concluído. A entrada da ala foi bem executada, mas só uma pessoa ficou presente e preencheu o espaço, além do fato de que a ala de trás demorou para se ajustar. Não dá para dizer se ocasiona ou não um buraco, mas o Morro precisa se atentar a esses detalhes. Dentro do samba não existe tanta coreografia, mas vale destacar o refrão do meio, onde nos versos há giros e braços levantados.

MorroDaCasaVerde et Comunidade 2

Samba-Enredo

Interpretado por Juninho Branco, foi um samba que rendeu bastante no começo do ensaio. Uma arrancada impressionante. Porém, como dito anteriormente, caiu no decorrer da avenida. O refrão principal é a parte mais cantada pelos componentes. Tanto no primeiro ensaio, quanto neste último, mas o que chama a atenção é novamente a escola executando a grande ideia de fazer o duplo sentido com o seu nome. “Morro de orgulho”, “Morro de amor”.

MorroDaCasaVerde et DonaGuga

Outros destaques

A bateria foi o destaque principal do ensaio. Comandada pelo mestre Marcel Bonfim, a ‘Bateria do Morro’ apresentou um grande repertório no seu ritmo. Destaque para os instrumentos de surdos e o desenho do agogô, que deram um belo contraste dentro da batucada. As alas foram com bexigões verde e rosa. A escola levou um elemento alegórico colorido e com o nome “Morro”.

Como quesito e progresso, Evolução é destaque do Vai-Vai no último ensaio técnico

O último ensaio técnico do Vai-Vai para o carnaval 2023 foi a prova de que a maior campeã da folia de São Paulo observou o que deveria ser melhorado. Após dois ensaios técnicos com percalços, o terceiro, realizado na quinta-feira, viu uma escola bastante madura, sabendo aproveitar o que tem de melhor e corrigindo pontos que mereciam atenção. Defendendo o enredo “Eu Também Sou Imortal”, reeditando o desfile de 2005, a Alvinegra promete muita força no Grupo de Acesso I do carnaval paulistano.

Evolução

A reedição de um samba popularíssimo de uma das escolas mais tradicional do carnaval paulista, por si só, já gera um ganho no quesito. A adoção de adornos, como bexigas e cabos de vassoura, para simular as fantasias, idem. Mas o que se viu no Vai-Vai foi algo a mais – para parafrasear uma frase muito dita por componentes, diretores e torcedores da escola.

Se, em outros ensaios técnicos no Anhembi, a agremiação sofreu no quesito, com paradas no meio da avenida por diversos motivos, a terceira apresentação teve fluidez impecável. Leve e sempre com componentes sorridentes e com muito samba no pé, a escola passou pelo Sambódromo como um tranquilo peixe no rio Saracura – canalizado e que fica na Bela Vista, bairro onde está localizada a instituição.

VaiVai et 18

Dois pontos merecem destaques. O primeiro deles é a entrada da Pegada de Macaco, bateria da escola, no recuo. Tal qual algumas escolas faziam nas décadas de 1990 e 2000 no carnaval paulistano, ela ficou de frente para a Arquibancada Monumental e virou. Quando os ritmistas entraram, uma ala coreografada apertou o passo (algo permitido pelo regulamento de acordo com a evolução da coreografia da mesma) e preencheu de maneira quase que instantânea o espaço.

O segundo ponto de atenção foi, justamente, o instante em que a apresentação foi encerrada. Se o Vai-Vai, em ensaios anteriores, chegou a estourar o tempo permitido no regulamento pelo Acesso I (uma hora completa), nesta quinta-feira a Alvinegra fechou o desfile com 57 minutos – logo, dentro do tempo regulamentar.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Retornando ao Vai-Vai após 17 anos, Renatinho Trindade e Fabíola Pereira mostraram a classe e a eficiência que fizeram dos irmãos tetracampeões de fato e de direito do carnaval paulistano – entre 1998 e 2001.

É bem verdade que, no momento em que eles desfilaram, a garoa tinha dado uma trégua (e voltaria mais tarde à noite paulistana) e o conhecido vento do Anhembi estava calmo, mas nada tira o brilho da exibição da dupla. Mesclando bem os giros (majoritariamente no sentido horário), coreografias relativas à canção e samba no pé, ambos estiveram sempre sorridentes e confiantes. Renatinho, em especial, esbanjava samba no pé entre um giro e outro, enquanto Fabíola conduzia o pavilhão que não tinha problema algum para ser desfraldado.

VaiVai et PrimeiroCasal 2

A reportagem acompanhou a apresentação da dupla nas três primeiras cabines de jurados, com ambos bastante expressivos ao defender o pavilhão – que foi desfraldado com facilidade para ser apresentado ao local onde ficarão os julgadores. Apesar do público mais em conta em relação a outras noites, ambos eram muito aplaudidos e saudados pelas arquibancadas.

Comissão de Frente

Majoritariamente, os integrantes vestiam-se com duas roupas distintas. Uma delas, com a cor preta acima e a cor branca abaixo – as segundas combinações invertiam as cores. Um único integrante, com destaque na coreografia, estava inteiro de preto e com uma touca laranja.

A dança, por sinal, era bastante simples e, basicamente, marcava a execução do samba – com uma leve variação ao chegar próximos da cabine de jurados. Por sinal, pouco antes do segundo local onde ficarão julgadores, uma das integrantes do grupo ajudou um componente a arrumar um adereço da roupa – sem grandes problemas para o andamento do conjunto como um todo.

VaiVai et Comissao

Dois pontos chamaram atenção: por vezes, abria-se um espaço considerável entre os integrantes e a ala subsequente – das poucas coreografadas da escola. Fica a dúvida se a agremiação trará algum tripé para a apresentação – não havia marcação de espaço para isso no ensaio. Também é destacável a celeridade com que a coreografia foi executada: em catorze minutos, todos já estavam na frente do recuo da bateria – perto da segunda cabine de jurados.

Samba-Enredo

Extremamente popular, a canção foi, novamente, muito bem executada pela ala musical do Vai-Vai. Há, entretanto, uma curiosidade no canto do carro de som – capitaneado com bastante competência por Luiz Felipe, que conduzirá a escola pelo terceiro desfile consecutivo. Com uma variação melódica no verso “É carnaval” do refrão, a canção ficou mais semelhante à versão do samba-enredo de 2005 e mais distante do que foi apresentado no CD de 2023.

VaiVai et InterpreteLuizFelipe

Sob o comando dos mestres Tadeu e Beto, a Pegada de Macaco imprimiu o andamento mais acelerado que o normal e contagiou os componentes e o público presente, já acostumados com a característica da bateria da agremiação.

Harmonia

O começo da apresentação do Vai-Vai seguiu tudo que foi visto da instituição até aqui: um canto fortíssimo da grande maioria dos componentes e um fôlego interminável de cada um deles. O primeiro setor, com uma das poucas alas coreografadas da Alvinegra, manteve tal tradição.

Depois do segundo carro alegórico, entretanto, o canto passou a ser irregular. Algumas alas cantavam mais que outras – e tais diferenças também eram vistas nas próprias alas, com componentes mais animados que outros companheiros. No corredor onde ficam repórteres e staff, tal situação foi sentida – tanto que, pelo menos em duas oportunidades, chefes de ala e outros com cargos semelhantes pediam para que os componentes cantassem com gestos e na própria fala.

VaiVai et 17

Outro ponto de atenção, este em alguns pontos pré-determinados (como na ala logo após a comissão de frente, por exemplo), é o alinhamento de componentes dentro das próprias alas.

Outros destaques

– Pelo espaço demarcado, o abre-alas da escola terá dois carros alegóricos acoplados – criando, certamente, uma das maiores alegorias de todo o carnaval paulistano.

– Por vezes, os componentes do Vai-Vai ficam mais “pilhados” que o normal em ensaios técnicos. Nesta quinta-feira, entretanto, era perceptível a maior leveza dos integrantes, com mais sorrisos, abraços e comentários em tom de brincadeira. A reportagem presenciou diversos momentos com tais características.

VaiVai et MestreBeto

– Cada vez mais conhecido como “Mestre dos Mestres”, a presença de mestre Tadeu, por si só, é imponente. Perto da última cabine de jurados, ele fez um sinal para que a corte da bateria saudasse a cabine de jurados e apresentasse a Pegada de Macaco – e foi prontamente atendido. Depois, ele virou para os ritmistas e comandou uma bossa. Por fim, ele tirou o boné utilizado e saudou as duas cabines de jurados. Tudo isso em um período de menos de um minuto.

– Encerrada a apresentação, o carro de som executou alguns sambas antigos da escola e sambas de quadra. Até mesmo “Vira de Ladinho”, da banda Malha Funk, foi executada.

Entrevistão com Júlio Guimarães, coordenador de jurados da Liesa: ‘Jurado da Liga não é eterno’

Após a realização do curso de preparação dos julgadores da Liesa para o Carnaval 2023, o coordenador do corpo de jurados da Liga, Júlio César Guimarães, conversou com o site CARNAVALESCO para avaliar como foi o trabalho de 2022, comentar a redução do número de jurados de 45 para 36, explicar o julgamento de alguns quesitos que ainda geram dúvidas para o público em geral, e revelar como se deu o curso deste ano que contou novamente com a participação dos segmentos em uma troca que, segundo Júlio, tem sido positiva para ambos os lados. Formado em Direito pela PUC, ele já esteve no cargo em outras gestões da Liesa e retornou para o carnaval passado.

julio guimaraes
Foto: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

Qual é o balanço que você faz do trabalho na coordenação do júri no Carnaval 2022?

“Acho que foi um sucesso total, até porque a campeã saiu aclamada da Avenida pelas coirmãs. Desceu quem tinha que descer, esse é o trabalho principal de um bom julgamento. Eu não discuto posições intermediárias, porque o julgamento é subjetivo. Às vezes a pessoa acha que a oitava deveria ser a sétima. O importante é que foi tão bem julgado que no curso de jurados, com as explicações, todos os presidentes e representantes saíram satisfeitos”.

As escolas falaram que o curso para o Carnaval 2023 foi mais aberto, ou seja, houve mais troca entre os quesitos e os julgadores. Esse é o caminho que você quer dar para o corpo julgador?

“Isso é uma inovação. Ano passado eu já peguei um corpo de jurados quase que montado e sete ou oito que saíram, dois morreram, dois não quiseram. Eu não avaliei o jurado pela nota, até porque já tinha dois anos sem carnaval por causa de pandemia. Foi um corpo de jurados que a gente pegou e colocamos mais sete ou oito. O curso de jurados passado não poderia ter essa mesma dinâmica. Foi um curso de jurados bom, diferente do que era dado que era leitura de manual, mas foi mais para falar sobre o quesito. Como o julgador julga o quesito? Esse no carnaval passado. Cada julgador explicou para diretor de bateria, mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente e demais quesitos, como ele julgava o quesito. Mais do que isso eu não podia fazer. E eles tiraram suas dúvidas. É comparativo, não é? Tem quesito que é, tem quesito que não é. Já para esse ano que o corpo dos 36 jurados, 35 julgaram o carnaval passado, fiz o curso baseado nas justificativas deles. Porque a justificativa da nota é o que faz com que a escola não erre novamente da mesma maneira. O 10 você foi perfeito. Mas do 9,9 para baixo, você tem que saber onde você errou, para fazer melhor. E se você discorda, você teve a oportunidade, como todos tiveram de no curso de jurados, cada jurado foi a frente explicar o que viu do carnaval, o que achou positivo ou negativo, e os que quiseram entrar na despontuação, entraram. Os que não quiseram, esperaram as escolas que foram pela ordem do desfile, uma a uma, perguntarem. E as pessoas perguntaram, pediram para explicar melhor, para melhorarem, um curso com a maior elegância, não foi uma caça às bruxas. Com elegância e educação”.

Algumas justificativas ainda são muito subjetivas, como melhorar isso ainda em 2023 ou para o próximo carnaval?

“Isso já está sendo feito desde o carnaval passado. Se você pegar justificativa de outros anos, e pegar deste último carnaval, qual é o meu pedido? Que no primeiro parágrafo o jurado fale ‘tirei um décimo da escola tal por isso, isso’, ‘ tirei mais um décimo…’. E depois ele pode mostrar toda a cultura dele. É bem-vindo. Mas, o primeiro parágrafo tem que ser direto. E assim foi feito em sua maioria. E como era um critério de corte, eu precisava cortar jurados, nem todos foi só justificativa, vários fatores, mas nenhum jurado foi cortado por falta de honestidade. Os nove que saíram são muito capacitados. Mas é igual a um torneio mata a mata. Eu preciso tirar nove. Escolhi com a coordenação os que ficariam. Posso até ter errado. Mas nenhuma escola de samba pediu para que saísse nenhum, ou que eu voltasse com algum. Isso passa pelo crivo das escolas. O jurado na Liga mudou hoje. Acabou o carnaval, a Liga não tem mais jurados. Todos serão jurados do carnaval 2023. Acabou, não tem jurado. Eu que vou convocar mais a frente o corpo de julgadores. Isso ficou claro para todos. Antigamente tirava-se o jurado e ele vinha reclamar que julgava há 20 anos. Você recebeu 20 convites. Eu faço aniversário todo ano, eu posso te convidar um ano, no ano seguinte eu faço uma festa diferente e não te convido. Não quer dizer que eu não goste de você. Antes eu fiz uma festa grande, hoje só para minha família, ano que vem vou fazer para Deus e o mundo. Jurado da Liga não é eterno”.

Para esse ano a ideia é ter um encontro dos julgadores com as escolas após 45 dias dos desfiles. É possível pensar em um aperfeiçoamento dessa relação pós-desfiles para orientação dos profissionais que trabalham nos quesitos?

“O que eu quero fazer esse ano, no máximo 60 dias após o carnaval, é um grande simpósio com a imprensa, com quem julgou o Carnaval 2023 e os segmentos das escolas. Fazer uns três desses, toda segunda-feira. Dois ou três quesitos por segunda-feira. E que todo mundo possa participar, 60 dias você está com tudo que você viu na Avenida ainda fresco na cabeça. Todos vão dar opinião”.

Hoje, os julgadores ficam em hotéis, mas ainda podem ter contato com familiares e amigos por celular. É possível pensar em um dia mudar isso com relação ao domingo para evitar que o julgador não tenha nenhuma informação do que aconteceu no domingo?

“Não é possível mudar porque você vai estar se enganando. Hoje todo mundo tem um telefone celular. Então, eu vou ter que pegar o julgador, manter ele em cárcere privado. Ele não vai poder ter acesso a ninguém, nem o telefone. E nós aqui estamos tratando, isso eu falei muito no curso de jurados, com 36 pessoas preparadíssimas, que tem uma vida profissional brilhante nas suas carreiras e não podem ser tratados com esse desrespeito. Se eu achar que um julgador vai julgar, me desculpe, por uma pessoa de site que sabe muito menos que ele, ou da TV Globo, é melhor eu trocar esse jurado. Se você for ver o currículo, é um desrespeito para com o julgador. Por mim, vou ser sincero, eles podiam até ir com o telefone para a Avenida. Não deixo. Mas, no futuro , pretendo deixar. Porque estamos falando de pessoas habilitadas que não vão se deixar levar por nenhum comentário externo. Eles estão na melhor posição, privilegiada, com livro abre-alas, com tudo. Eu sou a favor da liberdade. Eles ficam em hotel não para ficar incomunicáveis, é porque a logística para levá-los do hotel para a Sapucaí demora. Se eu for esperar, cada um vem da sua casa, um atrasa, um fura o pneu, isso já aconteceu, aí eu tenho que esperar o jurado. Eles têm direito a acompanhante, como sempre tiveram”.

Dentro da cabine será possível o julgador ter acesso ao celular ou à câmera para fazer fotos?

“Só o uso do celular é proibido. Mas pode usar tablet, até porque muitos levam os textos no tablet, e pode usar binóculo, monóculo. Só quem usa celular é o de bateria, porque existe um aparelho que nós compramos, mas não deu certo. É o metrônomo, marcador de BPM. E no celular eles baixam. Só o julgador de bateria”.

A cabine dupla ficará em qual módulo, como será essa distribuição de cabines?

“Esse ano só teremos a dupla no setor 3 (a outra no setor 6 e a outra 10, são quatro cabines no total). É uma coisa que para o futuro, a gente tenta com alguma ideia de novamente separar. E qual é o problema que nós enfrentamos, o tempo de desfile diminuiu. Já foi até 90 minutos. Cada cabine são sete minutos e meio entre casal e comissão de frente parados. Quando eu separar a 1 da 2, são mais sete minutos. É uma coisa que tem que se pensar tanto no engarrafamento, como na forma de se julgar mestre-sala e porta-bandeira, e comissão de frente. E eu tenho. Não vou falar agora, porque tem que ser falado no primeiro plenário. Eu sou a favor de termos quatro cabines separadas, até porque eu queria a cabine 2 do lado direito. Ficava 1 e 3 do lado ímpar, 2 e 4 do lado par. A vontade que eu tenho”.

Hoje, algumas escolas estão optando por usarem bandeiras menores que facilitam para não enrolarem, mas gera uma alteração na competição. Não existe no regulamento a padronização do tamanho da bandeira. É possível pensar nisso?

“No regulamento do desfile não existe e no manual do julgador também não. Mas existe o bom senso. Acho que as que usam a bandeira menor, é coisa mínima. Até porque existe a proporcionalidade. Se o jurado está vendo uma fantasia, ele sabe o tamanho de uma bandeira, e vê que a bandeira é pequena, ele vai tirar ponto. Porque a bandeira faz parte da indumentária. Se vier sem bandeira? A indumentária vai embora. Isso também é julgado. Tem muitas coisas que não estão no manual do julgador, e isso foi muito falado esse ano no curso, mais uma vez, o bom senso. A bateria não é obrigada a parar no módulo de julgador. Ela pode passar andando. Mas, os quatro julgadores de bateria entendem que se você parar no meio, em frente ao módulo, e tocar ali por um curto espaço de tempo, não precisa ser nem a passagem toda do samba, eles têm condição de julgar melhor, porque alguns instrumentos quando se bate embaixo tem um som, outro cara parado ele bate em cima, e quando você anda é difícil você manter a bateria. O que eu falei para os diretores de bateria, você vai parar ou vai andar? É o bom senso. É uma série de coisas, ano que vem uma modificação que eu vou fazer no curso é convidar a imprensa. Para que a imprensa veja o que muita gente não sabe, a qualidade do corpo de julgadores. Tem gente que tira férias um mês para ficar lendo abre-alas, pesquisa a bibliografia toda do livro. É um trabalho hercúleo que essas pessoas têm. Se você entrevistar você verá que está todo mundo feliz com o curso, porque eles sabem que estão sendo julgados por especialistas, não é por curioso. Não tem nenhum curioso no curso. Tem PHD da Sorbonne, professor da UFRJ, perdi a conta, estudiosos, escritores, historiadores, isso é importante saber”.

Sobre o julgamento de Samba-Enredo, como evitar que ele não seja pré-julgado antes de passar na Avenida?

“Ele não é pré-julgado. Samba-enredo é julgado na Avenida. Mas, como você tem acesso antes, e as pessoas são estudiosas, claro que eles vêem todas as nuances do samba. Mas deixaram claro no curso que ele é julgado na Avenida. Agora, às vezes isso aqui não está legal, mas na Avenida funciona. Eles fizeram nominal no curso, ‘olha o teu samba não encaixava em uma métrica perfeita, em um curso de faculdade não poderia tirar 10’. Mas, na Avenida tirou 10. Eles também sabem que na bateria não tem 300 músicos, e o samba-enredo não tem 300 pessoas formadas em música não. É dom e isso é tranquilo. O samba-enredo e todo o carnaval é julgado na Avenida”.

Como evitar que o julgador pese a mão na primeira escola a desfilar no domingo e nas agremiações com menos peso de bandeira?

“Vou dizer o que digo para o jurado, todas as 12 escolas têm as mesmas condições, brigam de igual para igual. Agora, muita coisa vai da organização. Tem que ter uma primeira. A escola que subiu esse ano, não desceu. O que talvez tenha estigmatizado isso, dependendo da escola que sobe, não foi o caso da Imperatriz, é que às vezes a escola vem muito prejudicada do Acesso, não tem aquela estrutura, mesmo ela recebendo condições iguais financeiras, mas ela tem que começar a casinha dela do zero, ela não tem alicerce. As outras quando ganham o dinheiro é para melhorar as condições. Isso que tem que ser visto. Se nós formos ver a fundo, 95 % dos problemas é este, a escola sobe e tem dois carros, dois chassis, vai ter que comprar chassi, vai ter que comprar pneu, é caro, tem que comprar ferro, as outras já tem isso tudo. Não é por ela ser a primeira que ela é mal julgada, é que ela chega sem estrutura. Eu não vejo da parte do jurado nenhum problema com a primeira escola. Essa é a minha leitura”.

Existe questionamento quando uma escola comete um buraco e não perde quase nada em evolução ou se desfila com queijos sem integrantes e também não é despontuada. Como evitar essa distorção no julgamento?

“Se o jurado não ver uma pessoa no queijo, ele vai tirar pontuação. Acontece muito de o cara passar no módulo um e dois, o jurado só ver a alegoria de um lado, do outro está faltando, e chegou lá na frente a escola completou. Passou no primeiro módulo e ele não viu, ele está vendo só de um lado a alegoria. São coisas sutis. Pode acontecer de o jurado não ver alguma coisa? Pode. O jurado é ser humano. Ele pode errar? Claro! Quem de nós não erramos? Agora, má fé não tem! Às vezes o jurado é um grande jurado por 5, 6 anos, chega um ano e ele julgou mal. Ele estava doente, estava com dor de dente, o filho dele estava internado. Acontece. O jurado é um ser humano. Quantos árbitros de Copa do Mundo, aí vão apitar um jogo comum e apitam mal. Ser juiz é difícil em qualquer ramo”.

É possível projetar para o futuro uma espécie de oficina anual de formação de jurados até para oxigenar o júri?

“Eu não gosto de tirar o jurado que julgou muito bem. Eu não tenho problema de ter esse jurado por muitos anos, desde que ele julgue bem todos os anos. O que nós temos na Liga, é um banco de dados de muitos currículos, eu não aceito indicação de ninguém. Esse ano eu tive que botar um jurado em mestre-sala e porta-bandeira. Peguei com a minha secretária Elaine o que nós tínhamos de currículo. Veio pela internet. Ela separou aqui, nós lemos, entrevistamos três e escolhemos. A Liga tem um banco de dados de pseudo jurados das pessoas que mandam dizendo do que podem julgar. Agora um curso para esse pessoal, nós nunca fizemos”.

As escolas sempre possuem poder de veto e você acolhe ou não. Como foi esse ano?

“É comum a escola me procurar, e por isso eu mudei o formato do curso, trazendo as justificativas. Vamos estudar todas as notas do jurado, se eu também não entender nada, a partir desse ano não é mais jurado. Quando eu entendo e não convenço a escola, eu dou essa oportunidade do curso. Todo mundo saiu feliz, ninguém saiu dizendo que não entendeu. O curso foi feito desse formato por as escolas me procurarem discordando. O curso atual foi baseado nas justificativas das notas dadas no último carnaval. Todos os jurados que participaram do curso, com exceção de um, julgaram o carnaval passado. Nós tiramos dez julgadores, mas diminuiu o número de julgadores. Eram cinco por quesito, agora são quatro. E o critério do corte foi a justificativa de nota. Não foram claras, não me agradaram. Só quem mexe em corte é a coordenação de julgadores da Liesa. Não tem interferência de mais ninguém. Nem da presidência e nem da escola de samba. As dúvidas das escolas de samba, elas esperaram chegar o curso e tiraram ao vivo com o julgador. O julgador nominou. Eu tirei de tal escola por isso, outra por isso. Não teve pano preto com a gente, tem que falar nome e sobrenome”.

Sobre o julgamento de harmonia, é muito difícil o julgador do alto saber quem está cantando ou não. Como melhorar isso? E o que você pensa do carro de som ser julgado dentro do quesito Harmonia?

“Harmonia dá para ouvir. O cara sabe quando a ala está cantando. Eu já fiquei no lugar e várias vezes fico, dá para ouvir perfeitamente. Sobre o carro de som, nós conversamos sobre isso este ano, vamos preparar todo o carro de som, todas as vozes, escola por escola. O problema é que chega no dia do desfile, a galera está mais empolgada, um já sai na frente, o outro não deixa o engenheiro falar. Pessoal está muito tenso. E o carro de som também não pode, quem julga carro de som, se o carro de som sair completamente do que ele é, que agrida o ouvido, infelizmente tem que ser punido. São 12 carros de som que passam, se ele não punir alguns, é porque aquele foi correto. E se uns não foram… O julgamento tem comparações. Não todos os quesitos. Mas existem comparações. Você passou com teu carro de som certinho, não saiu nada, todo mundo ensaiadinho, aí o outro sai, o jurado tem que punir, não tem jeito. Caco foi explicado no curso. Existem cacos e existe o cara falar no samba. Caco tem que ser na hora certa, que não agrida nada. O caco não é brincadeira, não é o cara te ver na rua e cumprimentar. Aí já estragou tudo. Teve quem colocou o caco e quase conseguiu um feito inédito: atravessar o samba na Sapucaí, que é impossível hoje com a tecnologia de som. O caco pode a vontade. Mas é que do outro lado não se sabia o que era caco. Os professores lá no quesito, deram aula para eles do que é caco”.

É possível um dia trazer os julgadores dos quesitos que precisam de um olhar mais próximo estarem perto da pista?

“Acho que o jurado tem que julgar lá de cima, todo mundo do mesmo lugar, é uma opinião minha. O Carnaval do Rio é parâmetro. O cara faz o carnaval de São Paulo que é muito bonito. Ele tem que fazer uma coisa diferente para não dizer que copiou do Rio. O primeiro manual de julgadores da Liga de São Paulo, eu era funcionário da Liga com 20 anos, nós que demos para eles. Isso não é vergonha não. Se lá fosse o contrário nós também íamos pegar com eles, se fosse mais antigo. Claro que o cara tem que mudar, ele tem que fazer o diferente. Por o jurado na pista, acho legal, acho bacana todas as inovações. Mas, eu não vejo necessidade de fazer aqui e das escolas daqui nunca falaram nada nesse sentido”.

Os julgadores de bateria tem justificado muito a questão da criatividade, mas sem especificar do que se trata. Não seria melhor tornar essa justificativa mais clara?

“Eu acho que os jurados que ficaram tornaram elas mais claras. Acho que o público pode dar uma revisada nos quatro jurados de bateria que permanecem para 2023, e ver a justificativa deles, todas me atendem bem até neste sentido”.

Em fantasias e alegorias a concepção raramente é punida. O curso pretende aprimorar esse subquesito?

“Não é questão de aprimorar. Eu não posso aprimorar se já estiver bom. Se não é punido, é porque está sendo bem executado. Temos que pensar sempre pelo lado bom. Se não é punido é porque as escolas estão acertando nessa questão. Eu prefiro pensar assim”.

Sobre o texto do manual do julgador é possível e necessário mudar o texto, aperfeiçoando ele para o novo momento dos desfiles e que seja colocado em prática para 2024?

“Muita gente quando eu cheguei aqui reclamava que o manual do julgador era antigo. Eu reuni vários segmentos e pedi que dessem sugestões sobre o manual. Nós aprimoramos em dois ou três quesitos para o carnaval passado. Quando acabou o carnaval, mandamos para todos pedindo sugestões do manual do julgador. Esse ano eu abri o curso dizendo que eu tenho certeza que temos o melhor manual de julgador do mundo, porque eu não recebi uma sugestão, inclusive da imprensa, pois nós fizemos um simpósio aqui com a imprensa. O único que mexeu fui eu, mas também em coisas pequenas, harmonia, escrevemos mais, enredo, e só”.

Série ‘Barracões’: Império da Tijuca une duas estéticas para falar da energia vital do Axé guiado por Carybé

Após ficar injustamente em nono lugar da Série Ouro no Carnaval 2022, o Império da Tijuca aposta em uma dupla de carnavalescos com estilos diferentes, porém complementares, para compor o enredo deste ano: Junior Pernambucano e Ricardo Hessez. O primeiro império do samba vem com o enredo “Cores do Axé”, uma proposta que se inspira na documentação artística do pintor argentino Carybé sobre o Axé enquanto energia criadora, os orixás, os terreiros, a baianidade e as festividades.

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Fotos: Matheus Vinícius/Site CARNAVALESCO

“Inicialmente, o Junior chegou com uma proposta de enredo afro para a escola, que era a pegada dos enredos que ele fazia no Império da Tijuca que inclusive levou a escola para o Grupo Especial em 2013. Com o pensamento de um enredo afro, ele trouxe a temática do Axé. A partir da visão do Junior, a gente começou a fazer pesquisas. Assim, chegamos a referências do Carybé”, disse Ricardo Hessez.

Para unir as estéticas díspares dos integrantes da dupla, as obras de Carybé foram essenciais. O artista plástico argentino, mas de alma baiana, viveu no século XX, se encantou com a cultura afro-brasileira e foi uma figura importante porque pôs em tela e em escultura muitos elementos que faziam parte da tradição oral dos terreiros. A construção de um conceito de baianidade passou pelas suas mãos tanto quanto por outras renomadas personalidades, por exemplo, o cantor e compositor Dorival Caymmi, o fotógrafo Pierre Verger e o escritor Jorge Amado. Por isso ele foi escolhido para ser reverenciado pela escola.

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Carnavalesco Ricardo Hessez

O Império da Tijuca vai contar a trajetória da energia Axé desde a criação do mundo até o cotidiano pela ótica deste homenageado por meio de três carros alegóricos e um tripé, desfilando com cerca de 2500 componentes. A comunidade do Morro da Formiga está engajada com o enredo por conta da identificação com a narrativa elaborada e da qualidade do samba, segundo Hessez. O carnavalesco adiantou a descrição de uma das alegorias que representa a união da estética mais limpa e objetiva dele com a forma mais barroca de seu parceiro Junior Pernambucano.

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“Tem um momento interessante no meio do desfile, no segundo carro da escola, que é justamente a visão de dois artistas diferentes. É uma homenagem aos assentamentos da escola, porque o assentamento é a fonte de Axé do terreiro. Nós temos um para Oxum e outro para Ogum. Assim, a gente exercita as duas características. Oxum ficou a cargo do Junior, que é mais barroco, e Ogum ficou mais à minha responsabilidade, que é parte de ferragem aparente, é um assentamento mais enferrujado. “Vai ser um desfile que vai mesclar essas duas imagens, esses dois modos de fazer Carnaval, acho que de uma forma, principalmente, muito colorida. Vai ser um desfile extremamente colorido”, afirmou Ricardo.

Um ponto de encontro chamado Carybé

Nome conhecido pelos foliões da Formiga, Junior Pernambucano está envolvido com escola de samba desde muito jovem, já que seu pai fundou uma agremiação na sua cidade natal Goiana, em Pernambuco. Veio fazer Carnaval no estado do Rio de Janeiro, em 2000, em Três Rios. Em 2013, ele ingressou nos desfiles da Marquês de Sapucaí estreando como campeão do Grupo de Acesso A pela verde e branco da Tijuca. Ele também foi responsável pelo enredo “Batuk”, de 2014, no Grupo Especial que encantou o público, mas não garantiu a permanência da escola na elite do Carnaval carioca. A experiência de Junior com essa comunidade é uma das coisas tranquiliza Ricardo Hessez em sua estreia na Sapucaí.

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“Ter o Junior do meu lado é uma coisa muito positiva para mim, porque é uma pessoa que já tem uma experiência gigantesca principalmente com o Império da Tijuca. Então eu não cheguei na escola leigo, o Junior já me deixou a par do que a gente conseguiria fazer aqui. Apesar de estar nervoso, eu sei que vai ser [um desfile] muito legal e muito bonito”, comentou Hessez.

No Carnaval desde 2017, Ricardo Hessez já participou de desfiles como assistente, por exemplo, do carnavalesco Jorge Silveira durante quatro anos. Ele sabe que estrear na Sapucaí a responsabilidade é muito grande. No seu currículo, ele tem passagem por Viradouro, São Clemente, Botafogo Samba Clube e pela paulistana Dragões da Real.

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“Eu trabalhei anos com Jorge Silveira, então ele é inegavelmente uma das minhas referências para fazer Carnaval, que é um Carnaval mais limpo [esteticamente]. Alex de Souza e Leandro Vieira são referências que eu levo. Eu sou o tipo de carnavalesco que gosta de ver o ferro, que gosta das formas limpas”, contou Ricardo.

O trabalho em equipe vai ser uma marca dessa dupla na Avenida. “A gente tenta unir o útil ao agradável. Eu faço a alegoria e o projeto e Junior compõe com o que é dele. Eu acho que o que controla essa situação toda é, justamente, o Carybé. Então temos três artistas trabalhando na escola de forma involuntária”, revelou Ricardo sobre a dinâmica desenvolvida pelos dois para colocar esse desfile da Passarela do Samba.

Conheça o desfile do Império da Tijuca

O Império da Tijuca será a sétima escola de samba de sábado a desfilar pela Série Ouro, ou seja, a penúltima escola do grupo. A agremiação virá com três carros alegóricos, um tripé e cerca de 3000 componentes para narrar a beleza do Axé como energia vital que transita por tudo, desde os orixás até uma concha de feijoada.

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Setor 1: “Vamos falar do axé como força criadora, que movimenta, que passa de um para o outro, da energia. No começo, a gente brinca que o artista pinta de Axé essa tela em branco. O Carybé é esse artista. Só que mesclamos o Carybé com a história do enredo. Por exemplo, no começo, os orixás só vestiam branco, então vamos levar em consideração a tela em branco também. A partir dessa tela em branco a natureza surge, as cores surgem, os elementos surgem, e tudo isso foi documentado pelo Carybé. Nesse 1º setor, falaremos de mitologia. A mitologia através do Axé: o Axé criando a natureza, da natureza nascendo os orixás e dos orixás nascendo os preceitos do terreiro”.

Setor 2: “Os preceitos vão para o 2º setor da escola. Nos preceitos do terreiro, mostramos os personagens que compõem o terreiro, os instrumentos que compõem cada orixá e esses movimentos religiosos do terreiro, a música através dos ataques dos ogãs, as oferendas relacionadas aos orixás. Tudo isso emana Axé. Até chegar no assentamento do terreiro, que é uma homenagem a Oxum e Ogum para a escola”.

Setor 3: “A gente passa o Axé de dentro do terreiro para as ruas e para as ladeiras. A partir daqui a gente documenta festas da Bahia. Falamos da Lavagem do Bonfim, do 2 de Fevereiro, festa para Iemanjá, da festa para Xangô, que é São João. Esse é o 3º setor”.

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Setor 4: “No 4º setor falamos do Axé enquanto troca. Depois dessa festa, tem o contato físico da dança, da capoeira, da dança dentro do Carnaval, do Axé que a gente sente dentro de uma escola de samba. A gente fala desse Axé compartilhado dentro da concha de feijão, que é um dos quadros do Carybé. Tradicionalmente, o Império da Tijuca tem uma festa em homenagem a Ogum, que é uma feijoada importante para a escola, e o Ogum é sincretizado com São Jorge. Através dessa concha de feijão distribuída pela baiana, cada conchinha de feijão contém um pouquinho de Axé e os preceitos da escola. E a gente fala também do pavilhão do Império da Tijuca. O pavilhão é a fonte do axé de cada escola de samba. Quando a porta-bandeira gira, ela está emanando e espalhando Axé. E tudo isso foi documentado por Carybé”.

Imperatriz Leopoldinense se torna Patrimônio Cultural e Imaterial do Rio de Janeiro

A Imperatriz Leopoldinense se tornou patrimônio cultural e imaterial do Rio de Janeiro. Com a finalidade de preservar a cultura do samba, da música e da história, bem como na divulgação da quadra da agremiação, que fica no bairro de Ramos, Zona Norte do Rio, para ensaios e visitação turística, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro publicou a medida no Diário Oficial do Estado através da Lei Nº 9.933, de 15 de dezembro de 2022, de autoria do deputado Valdecy da Saúde.

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Foto: Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

“A Imperatriz tem um legado para a cultura brasileira através de enredos nacionalistas que exaltam a cultura do nosso povo e da nossa história. Somos reconhecidos por uma grande discografia, com sambas antológicos. Estamos muito gratos com este presente e reconhecimento da Alerj com a nossa que escola, que pertece a todo o povo do Rio de Janeiro”, comemora esse grande feito da sua gestão a presidente da agremiação Cátia Drumond.

Fundada em 6 de março de 1959, a Imperatriz Leopoldinense ganhou notoriedade no Carnaval após a chegada de Luiz Pachedo Drumond à presidência, em 1974. Como marca de sua gestão, Luizinho trouxe nomes consagrados da folia, como Arlindo Rodrigues e Dominguinhos do Estácio, conquistando os títulos de 1980 e 1981. Nos anos 90, contratou Rosa Magalhães, numa parceria que rendeu outros cinco campeonatos. Como legado, sua filha, Cátia Drumond, seguiu os passos do pai ao contratar um grande artista para o projeto artístico leopoldinense, o carnavalesco Leandro Vieira.

Ao todo, a Imperatriz Leopoldinense é detentora de oito títulos do grupo principal: 1980, 1981, 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001. Sendo que em 1980, 1989 e 2001 foi campeã obtendo nota máxima em todos os quesitos. Desfilou pela primeira vez em 1960, com um enredo em homenagem à Academia Brasileira de Letras. Em 1972, ganhou destaque após fazer parte da novela “Bandeira 2”, da Rede Globo. Naquele ano, apresentou o enredo “Martim Cererê”, conquistando o 4.º lugar. O samba-enredo foi o primeiro a ser incluído em uma trilha sonora de telenovela. Em 2012, outro samba da escola – “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!” – do carnaval de 1989, seria o primeiro samba-enredo utilizado como tema de abertura de uma telenovela. Nesse caso, na novela “Lado a lado”, também da Globo.

Acidente deixa três feridos no barracão da Tom Maior

Um acidente envolvendo um guindaste ocorreu nesta quinta-feira, por volta das 15h20, no barracão da Tom Maior, localizado na Fábrica do Samba do bairro Bom Retiro. De acordo com o Corpo de Bombeiros, três pessoas ficaram feridas após serem prensadas pelo veículo pesado durante a movimentação de uma carga dentro do local destinado à escola do Sumaré. O helicóptero Águia-17 foi acionado para auxiliar o transporte das vítimas, que foram levadas ao Hospital das Clínicas. Os profissionais, oriundos de Parintins-AM, não correm risco de vida.

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Foto: Reprodução de TV

Procurada pelo site CARNAVALESCO, a Liga SP emitiu a seguinte nota: ”Na tarde desta quinta-feira (02/02/2023), prestadores de serviço da Escola de Samba Tom Maior sofreram um acidente de trabalho quando se encontravam no galpão de uso exclusivo desta agremiação, onde a mesma produz suas alegorias.

Toda a assistência necessária foi prestada pelo Corpo de Bombeiros e os prestadores de serviço foram prontamente socorridos e encaminhados ao hospital.

A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo ressalta que os galpões de uso de suas associadas, localizados na Fábrica do Samba, são munidos de equipamentos de proteção e os prestadores de serviços e artistas devidamente orientados a executar suas atividades em segurança. Ademais, a Escola de Samba Tom Maior está prestando toda a assistência aos trabalhadores e seus familiares”.

De oito a dez: Mudança na atribuição das notas promete impactar o resultado do Carnaval 2023 em São Paulo

Uma novidade que promete impactar o resultado do Carnaval 2023 em São Paulo veio a público após a realização do curso de preparação dos jurados para os desfiles deste ano. De acordo com a nova regra, cada julgador poderá atribuir notas de oito a dez fracionadas em décimos, totalizando 21 notas possíveis de serem atribuídas ao desempenho de cada escola de acordo com os critérios previstos no regulamento.

Até o ano passado, as notas eram atribuídas de nove a dez com fracionamento também em décimos, o que na prática tornava uma nota “9.0” equivalente a uma nota zero, com cada décimo perdido equivalendo a 10% do total da pontuação dada pelo julgador. Para que o peso de uma dedução refletisse melhor a realidade, os descontos aplicados pelos jurados dependiam de um acúmulo de erros cometidos pelas escolas. Mas o leque de notas possíveis baixo, somado ao alto nível das disputas dos últimos anos, acabou causando o fenômeno popularmente conhecido como “chuva de dez”, com todas as agremiações recebendo a nota máxima de todos os jurados em alguns quesitos.

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Foto: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

As expectativas dos apaixonados por carnaval para os desfiles de 2023 são as melhores possíveis. Com a Fábrica do Samba localizada no Bom Retiro totalmente inaugurada, a promessa é de um nível de disputa jamais visto, afinal pela primeira vez todas as escolas de samba estão com uma estrutura de igual nível para produzir seus projetos.

O aumento do número de pontuações possíveis faz parte de uma das medidas que a Liga SP aposta para não apenas combater o excesso de notas máximas, mas também garantir que o julgamento de um concurso cada vez mais disputado reflita com maior justiça os esforços de todas as escolas de samba.

A equipe do site CARNAVALESCO conversou na última semana com lideranças de algumas escolas de samba a respeito de suas opiniões sobre esta mudança no critério de julgamento e no que pode impactar na preparação dos trabalhos em andamento.

‘Uma escola não irá se preparar para errar pouco’

O presidente do Águia de Ouro e da Liga SP, Sidnei Carriuolo, vê como positiva a mudança. De acordo com Sidnei, o leque maior de notas possíveis dará aos jurados mais tranquilidade ao atribuírem suas notas para as escolas, enquanto para as mesmas não afetará o projeto em andamento.

“Na preparação da escola, não influencia nada. Influencia é no jurado. Quando você tem uma nota de nove a dez, você tem dez possibilidades de penalidades. Agora, se você tiver 21 oportunidades, ele não precisa se preocupar muito. Era complicado, porque o jurado pensa duas vezes, se penalizar com um décimo, são dez porcento de uma nota, é doído. Agora, se for um décimo de oito a dez, já não é tanto, dói menos, essa é a verdade. Se você errar, será penalizado do mesmo jeito. Não muda muito a história, só que as penalidades são um pouco mais tranquilas, é mais nesse sentido, afinal uma escola não irá se preparar para errar pouco, né? Para nós não muda nada. Muda para o jurado, que ele fica um pouco mais confortável para julgar com mais tranquilidade”, declarou o presidente.

Uma mudança drástica

O vice-presidente e diretor de carnaval dos Acadêmicos do Tucuruvi, Rodrigo Delduque, acredita que a novidade vem para melhorar o Carnaval de São Paulo.

“Eu acho válido para o carnaval. Faz parte da Liga e está junto com a gestão. É válido o que vem para melhorar o carnaval e acrescentar a cultura. Para nós que venha com antecedência para poder somar para melhor. Nós estamos aí para cumprir”, disse Delduque.

Já para diretor de carnaval do Império de Casa Verde, Tiguês, a mudança anunciada às vésperas do carnaval exigirá uma atenção ainda maior, principalmente em determinados quesitos que possuem uma possibilidade maior de ocorrerem erros ao longo do desfile.

“Algumas coisas mudaram, e essa mudança é um pouco drástica. Por exemplo, quesito evolução, quesito fantasia, você precisava acumular três, quatro erros para dar um décimo de desconto, agora um erro é um décimo, é preciso ficar esperto. Foi uma mudança brusca, meio em cima da hora, o treinamento dos jurados foi agora em janeiro, então a gente tem que ficar muito esperto nesses quesitos que mudaram o peso agora”, avaliou o diretor.

Comunidade canta forte e alto no ensaio de rua da Vila Isabel

Por Raphael Lacerda e Rhyan de Meira

Em uma noite animada no Boulevard 28 de setembro, a Vila Isabel realizou mais um ensaio técnico de rua. Com destaque para a harmonia e do canto da comunidade, a escola realizou um belo espetáculo na preparação para a Marquês de Sapucaí. Por volta das 22h, a agremiação deu início ao ensaio de rua, que durou cerca de uma hora. Ao fim do evento, uma roda de samba foi realizada na quadra.

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Fotos de Raphael Lacerda e Rhyan de Meira/Site CARNAVALESCO

Devido aos ensaios que estão ocorrendo durante a madrugada na Marquês de Sapucaí, a comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira não puderam comparecer. Por isso, quem abriu o ensaio na avenida foi o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Bárbara Dionísio e Jackson Senhorinho.

“Foi um dos melhores ensaios. Cada quarta-feira nós estamos colocando ‘tijolinho por tijolinho’ pra subir. Fizemos uma pesquisa (departamento de harmonia) em todas as alas. São 85 harmonias, destas, 98% queriam esse samba. Sempre acreditei nesse ‘Evoé Evoé’. É um samba que vai mostrar sua força no dia 11 (ensaio na Sapucaí). A comunidade ficou apaixonada por esse samba. O departamento de som está fazendo acontecer, a bateria está fazendo acontecer e a comunidade está fazendo acontecer. Estamos chegando na perfeição da harmonia. A comunidade está sendo muito mais valorizada hoje e estão retribuindo com canto e evolução”, afirmou Marcelinho Emoção, diretor de harmonia.

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Harmonia

A comunidade, mais uma vez, chegou junto com a escola. O “evoé” foi ecoado em cada trecho da pista, o que ressalta a força do chão da Vila. O intérprete Tinga iniciou o samba cumprimentando o público presente os componentes. Todos cantaram forte e alto, com destaque para a ala 1 do primeiro setor – que cantou o samba durante todo ensaio – e também para a ala 16, que realizou movimentos coreografados e não parou de cantar.

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Evolução

Apesar das calçadas e alguns trechos da avenida estarem com grande quantidade de público, a Vila Isabel conseguiu realizar um ensaio com ótima evolução e sem deixar abrir qualquer buraco. A direção de harmonia conduziu bem o desfile e os componentes demonstraram entrosamento, o que garantiu uma boa evolução até o fim do ensaio, já na quadra da escola de samba. Novamente, o destaque para a ala 16, que realizou movimentos coreografados com bastante sincronismo.

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Samba-Enredo

O “evoé” foi abraçado pela comunidade desde a disputa e no ensaio não poderia ser diferente. Com muita força e paixão, o público que acompanhava o ensaio cantou ao longo de todo Boulevard. Moradores que acompanhavam nas varandas dos apartamentos também cantavam e aplaudiam a escola de samba. Tinga interagiu durante todo o ensaio com a comunidade. Mesmo chegando ao ponto final do ensaio, os componentes seguiam cantando o samba-enredo da Vila Isabel.

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Outros destaques

A bateria da Vila, a “Swingueira de Noel”, compareceu em peso no ensaio e deu um verdadeiro show. De acordo com o mestre de bateria, Macaco Branco, quase 200 ritmistas estavam presentes. Uma hora antes do ensaio, parte do grupo já aquecia na quadra da escola de samba. O entrosamento entre os ritmistas e a equipe de som foi positivo. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o mestre falou sobre o balanço do ensaio e garantiu que tudo está pronto para o grande dia.

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“O ensaio foi maravilhoso. A comunidade está muito feliz e cantando muito. A bateria também está muito feliz, porque o samba é muito alegre e animado. É uma pegada boa, de festa. A bateria está com bossas bem encaixadas no samba, todas dentro da métrica e da melodia. Se o desfile fosse amanhã, graças a Deus a bateria da Vila Isabel estaria pronta para defender esse título e ajudar a nossa comunidade”, destacou.

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Destaque especial do ensaio para aaAla 6, que curiosamente improvisou com guarda-chuvas um tipo de adereço que será usado na Passarela do Samba. Segundo um dos componentes, eles trarão um adereço de mão na Marquês de Sapucaí que, quando os componentes girarem, ele irá se abrir. Ao parar de girar, ele se fecha novamente.

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A musa da comunidade, Kauanny da Glória, esbanjou simpatia e samba no pé por toda Vila Isabel. Em seu primeiro ano como musa, ela demonstrou que está pronta para defender a Vila na Sapucaí.