O último ensaio técnico do Vai-Vai para o carnaval 2023 foi a prova de que a maior campeã da folia de São Paulo observou o que deveria ser melhorado. Após dois ensaios técnicos com percalços, o terceiro, realizado na quinta-feira, viu uma escola bastante madura, sabendo aproveitar o que tem de melhor e corrigindo pontos que mereciam atenção. Defendendo o enredo “Eu Também Sou Imortal”, reeditando o desfile de 2005, a Alvinegra promete muita força no Grupo de Acesso I do carnaval paulistano.

Evolução

A reedição de um samba popularíssimo de uma das escolas mais tradicional do carnaval paulista, por si só, já gera um ganho no quesito. A adoção de adornos, como bexigas e cabos de vassoura, para simular as fantasias, idem. Mas o que se viu no Vai-Vai foi algo a mais – para parafrasear uma frase muito dita por componentes, diretores e torcedores da escola.

Se, em outros ensaios técnicos no Anhembi, a agremiação sofreu no quesito, com paradas no meio da avenida por diversos motivos, a terceira apresentação teve fluidez impecável. Leve e sempre com componentes sorridentes e com muito samba no pé, a escola passou pelo Sambódromo como um tranquilo peixe no rio Saracura – canalizado e que fica na Bela Vista, bairro onde está localizada a instituição.

Dois pontos merecem destaques. O primeiro deles é a entrada da Pegada de Macaco, bateria da escola, no recuo. Tal qual algumas escolas faziam nas décadas de 1990 e 2000 no carnaval paulistano, ela ficou de frente para a Arquibancada Monumental e virou. Quando os ritmistas entraram, uma ala coreografada apertou o passo (algo permitido pelo regulamento de acordo com a evolução da coreografia da mesma) e preencheu de maneira quase que instantânea o espaço.

O segundo ponto de atenção foi, justamente, o instante em que a apresentação foi encerrada. Se o Vai-Vai, em ensaios anteriores, chegou a estourar o tempo permitido no regulamento pelo Acesso I (uma hora completa), nesta quinta-feira a Alvinegra fechou o desfile com 57 minutos – logo, dentro do tempo regulamentar.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Retornando ao Vai-Vai após 17 anos, Renatinho Trindade e Fabíola Pereira mostraram a classe e a eficiência que fizeram dos irmãos tetracampeões de fato e de direito do carnaval paulistano – entre 1998 e 2001.

É bem verdade que, no momento em que eles desfilaram, a garoa tinha dado uma trégua (e voltaria mais tarde à noite paulistana) e o conhecido vento do Anhembi estava calmo, mas nada tira o brilho da exibição da dupla. Mesclando bem os giros (majoritariamente no sentido horário), coreografias relativas à canção e samba no pé, ambos estiveram sempre sorridentes e confiantes. Renatinho, em especial, esbanjava samba no pé entre um giro e outro, enquanto Fabíola conduzia o pavilhão que não tinha problema algum para ser desfraldado.

A reportagem acompanhou a apresentação da dupla nas três primeiras cabines de jurados, com ambos bastante expressivos ao defender o pavilhão – que foi desfraldado com facilidade para ser apresentado ao local onde ficarão os julgadores. Apesar do público mais em conta em relação a outras noites, ambos eram muito aplaudidos e saudados pelas arquibancadas.

Comissão de Frente

Majoritariamente, os integrantes vestiam-se com duas roupas distintas. Uma delas, com a cor preta acima e a cor branca abaixo – as segundas combinações invertiam as cores. Um único integrante, com destaque na coreografia, estava inteiro de preto e com uma touca laranja.

A dança, por sinal, era bastante simples e, basicamente, marcava a execução do samba – com uma leve variação ao chegar próximos da cabine de jurados. Por sinal, pouco antes do segundo local onde ficarão julgadores, uma das integrantes do grupo ajudou um componente a arrumar um adereço da roupa – sem grandes problemas para o andamento do conjunto como um todo.

Dois pontos chamaram atenção: por vezes, abria-se um espaço considerável entre os integrantes e a ala subsequente – das poucas coreografadas da escola. Fica a dúvida se a agremiação trará algum tripé para a apresentação – não havia marcação de espaço para isso no ensaio. Também é destacável a celeridade com que a coreografia foi executada: em catorze minutos, todos já estavam na frente do recuo da bateria – perto da segunda cabine de jurados.

Samba-Enredo

Extremamente popular, a canção foi, novamente, muito bem executada pela ala musical do Vai-Vai. Há, entretanto, uma curiosidade no canto do carro de som – capitaneado com bastante competência por Luiz Felipe, que conduzirá a escola pelo terceiro desfile consecutivo. Com uma variação melódica no verso “É carnaval” do refrão, a canção ficou mais semelhante à versão do samba-enredo de 2005 e mais distante do que foi apresentado no CD de 2023.

Sob o comando dos mestres Tadeu e Beto, a Pegada de Macaco imprimiu o andamento mais acelerado que o normal e contagiou os componentes e o público presente, já acostumados com a característica da bateria da agremiação.

Harmonia

O começo da apresentação do Vai-Vai seguiu tudo que foi visto da instituição até aqui: um canto fortíssimo da grande maioria dos componentes e um fôlego interminável de cada um deles. O primeiro setor, com uma das poucas alas coreografadas da Alvinegra, manteve tal tradição.

Depois do segundo carro alegórico, entretanto, o canto passou a ser irregular. Algumas alas cantavam mais que outras – e tais diferenças também eram vistas nas próprias alas, com componentes mais animados que outros companheiros. No corredor onde ficam repórteres e staff, tal situação foi sentida – tanto que, pelo menos em duas oportunidades, chefes de ala e outros com cargos semelhantes pediam para que os componentes cantassem com gestos e na própria fala.

Outro ponto de atenção, este em alguns pontos pré-determinados (como na ala logo após a comissão de frente, por exemplo), é o alinhamento de componentes dentro das próprias alas.

Outros destaques

– Pelo espaço demarcado, o abre-alas da escola terá dois carros alegóricos acoplados – criando, certamente, uma das maiores alegorias de todo o carnaval paulistano.

– Por vezes, os componentes do Vai-Vai ficam mais “pilhados” que o normal em ensaios técnicos. Nesta quinta-feira, entretanto, era perceptível a maior leveza dos integrantes, com mais sorrisos, abraços e comentários em tom de brincadeira. A reportagem presenciou diversos momentos com tais características.

– Cada vez mais conhecido como “Mestre dos Mestres”, a presença de mestre Tadeu, por si só, é imponente. Perto da última cabine de jurados, ele fez um sinal para que a corte da bateria saudasse a cabine de jurados e apresentasse a Pegada de Macaco – e foi prontamente atendido. Depois, ele virou para os ritmistas e comandou uma bossa. Por fim, ele tirou o boné utilizado e saudou as duas cabines de jurados. Tudo isso em um período de menos de um minuto.

– Encerrada a apresentação, o carro de som executou alguns sambas antigos da escola e sambas de quadra. Até mesmo “Vira de Ladinho”, da banda Malha Funk, foi executada.