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Primeira da Cidade Líder faz grande desfile em homenagem ao Salgueiro

A homenagem para a escola do Rio de Janeiro deu certo. A Primeira da Cidade Líder mostrou organização e ousadia em seu desfile. Há de se destacar a forma como a agremiação contou o enredo do Salgueiro. Apesar de ser um desfile menor, como é o Acesso II, tudo foi muito bem apresentado. No decorrer da apresentação, notou-se várias homenagens a figuras da ‘Academia do Samba’. O canto da comunidade foi muito forte. O samba-enredo e as bossas da ‘Batucada de Primeira’, que fazia o tradicional funk, levantaram a arquibancada. Vale destacar que apesar da chuva e pista molhada, casal de mestre-sala e porta-bandeira fizeram grandes apresentações. A escola terminou o desfile com 47 minutos. O enredo é intitulado como “70 Anos de Uma Escola Diferente, Lá vem Salgueiro”.

Comissão de frente

A ala, que é comandada pelo coreógrafo Robson Sambista, desfilou representando malandros típicos do morro salgueirense. Obviamente o hino da escola faz várias citações aos enredos da história da agremiação carioca. A fantasia usada foi simples, porém de fácil entendimento. Todos os integrantes usavam roupas inteiramente brancas com gravatas vermelhas e chapéus também na cor do uniforme, representando a típica malandragem. Se for fazer uma alusão presente, lembrou muito o enredo do Salgueiro de 2016.

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Vale destacar que a pistava estava molhada e os integrantes desfilaram debaixo de chuva. Não era intensa, mas suficiente para atrapalhar. Porém não foi nenhum problema para os componentes, que conseguiram evoluir com tranquilidade. Não houve quedas, escorregões e demais turbulências.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Analisando o casal Fabiano e Sandra do setor B até a torre 8, deu para notar uma grande apresentação da dupla. Mesmo com a pista molhada, ambos conseguiram executar os movimentos com maestria. Esbanjaram simpatia, sorriso e os toques de mãos foram feitos de forma sincronizada. Na hora de mostrar o pavilhão para os jurados, fizeram com bastante delicadeza e segurança. A fantasia usada também ajudou o casal, pois aparentemente era leve e os movimentos foram facilitados devido a isso.

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Harmonia

O canto da escola se fez muito presente. Apesar de desfilar ‘enxuta’, a Primeira da Cidade Líder trabalhou bastante a questão da harmonia com a comunidade. A comprovação de tal feito foi quando as bossas da bateria ‘Batucada de Primeira’ foram realizadas. Houve um pequeno apagão no verso ‘explode coração’. De fato, o volume das vozes explodiu neste momento.

Vale destacar que apesar do desempenho do canto da comunidade ter tido um desempenho satisfatório no total, tiveram alguns componentes que não sabiam certas partes do samba.

Enredo

“70 Anos de Uma Escola Diferente, Lá vem Salgueiro” é o tema que foi abraçado pela comunidade da Primeira da Cidade Líder. Uma singela homenagem à grande agremiação carioca. Apesar de o desfile ser pequeno, deu para colocar muitas coisas importantes dentro dele. A escola conseguiu contar muito bem a história do Salgueiro. Ao longo da apresentação na pista, deu para ver várias citações aos maiores feitos da entidade do Rio de Janeiro. Destaque principal para a segunda alegoria, onde havia várias personalidades, como Joãozinho Trinta, Fernando Pamplona, Quinho e fotos de vários outros desfiles históricos.

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Evolução

A evolução da escola foi executada de forma satisfatória. Pudemos observar uma agremiação bem compactada dentro da avenida, alas organizadas e sem buracos. Dentro das próprias alas, a velocidade da evolução foi prejudicada devido à pista molhada. Aparentemente os próprios componentes quiseram se precaver para evitar riscos.

Samba-Enredo

É um dos sambas mais animados do grupo. Embalados pelo intérprete Thiago Melodia, a comunidade da Primeira da Cidade Líder teve um desempenho satisfatório. Além da melodia satisfatória e animada para priorizar o componente, é uma obra rica que conta a história muito bem do Salgueiro. Isso é muito bem respeitado dentro do desfile.

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Fantasias

A escola tomou um grande cuidado com suas vestimentas. As fantasias eram muito bem acabadas e com um material de primeira. Algumas alas mostraram muito luxo. Destaque para a primeira ala após a primeira alegoria, onde houve um grande misto de cores. Foram separadas três fantasias diferentes em filas e deu um belo contraste dentro da ala.

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Destaque para as fantasias das baianas, que era toda branca e tinha muito brilho. No centro da vestimenta, imagem do orixá Xangô.

Alegorias

O carro abre-alas foi apresentado como esculturada de uma espécie de guardiões, onde neles havia o cordão do Salgueiro e da Primeira Cidade Líder. Na parte de trás e mais alto no carro, se avistava a imagem do Cristo Redentor. Tudo isso na cor vermelho predominante. Na frente havia sistema de iluminação.

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A segunda alegoria claramente era ‘Peguei um Ita no norte’. Era um barco que levava várias pessoas. Nas laterais, havia bandeiras de ambas as escolas e, na parte de baixo, imagens de personalidades, acontecimentos e desfiles históricos do Salgueiro. Na frente, uma escultura de Xangô se destacava. O acabamento foi bem feito e a Primeira da Cidade Líder não teve problemas.

Outros destaques

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A bateria ‘Batucada de Primeira’, de mestre Alê, ousou bastante no desfile. Executou a famosa bossa do funk que a ‘Academia do Samba’ já fez bastante, especialmente nos anos 90. Outra bossa destaque fica nos últimos versos, onde há um pequeno apagão no verso ‘explode coração’.

Brinco da Marquesa celebra as festas brasileiras em desfile leve e de fácil leitura do enredo

A Brinco da Marquesa foi a terceira escola a desfilar neste sábado pelo Grupo de Acesso II. Com destaque para o agradável samba e simpáticas fantasias e alegorias, a escola fez uma apresentação simples, com potencial para se manter na divisão, finalizando o desfile com 48 minutos. O enredo apresentado foi “É Festa!! No Brasil é alegria o ano inteiro. A Marquesa comemora com você”.

Comissão de Frente

A comissão de frente da Brinco da Marquesa, liderada pelo coreógrafo Danilo Pacheco, representou em sua dança a diversão do povo brasileiro nas festas populares. Vestidos de Pierrot e com máscaras de baile na mão, os atores fizeram uma coreografia simples, com movimentos não muito ousados. O costeiro das fantasias, volumosos, acabou atrapalhando em dados momentos da apresentação no primeiro módulo de jurados. Com o tempo, os dançarinos ganharam confiança e foram melhorando na passagem pelos outros módulos, chegando ao quarto com mais harmonia e graciosidade.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Marquesa, formada por Samuel e Juliana Ferreira, apresentou bom desempenho. Houve um pouco de falha no sincronismo nas finalizações dos giros, mas foi possível perceber que a dupla transmitia segurança um para o outro, trocando sorrisos e dançando de forma leve. Destaque para o mestre-sala, que em dados momentos, nas duas cabines em que foram observados, fez um movimento com o pé no próprio eixo, enquanto a porta-bandeira o circundava, o qual parecia que todo o resto do corpo estava estático, impressionando o público. O bailado do dançarino foi contagiante, e mostrou grande potencial de ascender neste mundo tão competitivo dos casais. A porta-bandeira também chamou atenção por sempre manter o pavilhão firme no braço, com giros confiantes e leves, e sem enrolar em nenhum momento em que foi observada.

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Harmonia

Foi um quesito deficitário no desfile da Marquesa. A harmonia passou pela Avenida morna, com poucos componentes cantando o samba. A ala que representou a Oktoberfest continha quase uma linha inteira de componentes evoluindo calados e com expressão séria bem em frente ao primeiro módulo de jurados. As graciosas baianas da Marquesa, por outro lado, se destacaram positivamente representando a lavagem do Bonfim e cantando o bom samba da escola.

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Enredo

A Brinco da Marquesa trouxe uma concepção plástica muito simples. Isso não significa que tornou o desfile de difícil compreensão. Pelo contrário, a proposta do enredo de falar das festas que ocorrem no Brasil ao longo do ano foi muito bem transmitida pelas alegorias e fantasias, e quem não entendeu o enredo certamente não viu o desfile. Festas de todos os tipos e de todos os cantos do Brasil foram representadas, e nenhuma grande celebração brasileira ficou de fora. Ótimo desempenho da escola nesse quesito.

Evolução

A escola evoluiu com tranquilidade por boa parte do tempo de desfile, porém, houve muitos espaços entre alas. A Marquesa apostou em destaques entre determinadas alas, mas os componentes da linha da frente em geral tinham dificuldades de se manter assim. Se algo foi positivo nisso é que as alas no geral estavam livres para brincar o carnaval. Ao final do desfile, foi percebida uma aceleração no ritmo para fechar os portões aos 48 minutos. Poderiam ter tido mais calma, se for observar pelos três minutos de sobra.

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Samba-Enredo

Um samba contagiante, que conta bem o enredo e levanta bem o público mesmo tendo uma pegada leve. É o tipo de obra que dá para ouvir numa lista de reprodução geral de carnaval que ninguém achará ruim. Os refrãos têm uma construção de versos rica, e cumprem seu papel individualmente. A ala musical, liderada pelo intérprete Buiu MT, teve grande atuação e ajudaram a escola a ter grande desempenho no quesito ao longo de todo o desfile.

Fantasias

Como já ressaltado no quesito enredo, as fantasias da Marquesa eram todas muito simples, mas o grande trunfo delas foi a facilidade de leitura. Um copo gigante com chapéus de bandeiras do Brasil e Alemanha é o tipo de fantasia que muitos adorariam vestir em um baile de carnaval. A Festa do Peão de Barretos, muito bem representada por vaqueiros com costeiros de um clássico adesivo de baú de caminhão. Referências para todos os gostos e de todos os lados. Esteticamente, a Marquesa mais divertiu do que impressionou, o que não deixa de ser uma forma de mandar bem em um desfile de carnaval.

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Alegorias e Adereços

Dois carros alegóricos de acabamento bem simples, um no começo e outro no fim da escola, ilustraram o desfile da melhor forma que poderiam fazer. O abre-alas, que fez referência a festas religiosas, no geral foi agradável de se ver, mas teve um erro de ortografia em uma das faixas do adorno traseiro, que representava os meses do ano. A que fazia referência ao mês de outubro veio escrita “OTUBRO”, sendo que era explícito que havia espaço ali para a letra que estava faltando. O último carro representou diferentes estilos musicais presentes no carnaval brasileiro, e fez um bom papel de dar desfecho ao desfile da Brinco da Marques.

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Outros destaques

A bateria “Fantástica”, liderada pelo mestre Juan Cotto, contribuiu para o clima agradável da celebração da Brinco da Marquesa com bossas pontuais e de bom gosto. A corte da bateria, liderada pela Rainha Thamires, fez sua parte se exibindo com graça, belas fantasias e interagindo com o público constantemente.

Organizada e com evolução destacada, Amizade Zona Leste busca segurança com enredo popular

Apelido de um dos nomes mais tradicionais e conhecidos do país, a nacionalmente conhecida figura do “Zé” e todas as derivações e complementos surgidas dele foi tema do Amizade Zona Leste, segunda escola a desfilar neste sábado no Grupo de Acesso II do carnaval de São Paulo. Bem organizada, com destaque para a Evolução e segurança do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente, a agremiação de São Mateus desfilou em 48 minutos (no agrupamento, são permitidas apresentações até 50 minutos) com o enredo “Do Zé Pelintra ao Zé Ninguém, Qual Zé é Você?”.

Evolução

Não faltou dinamismo e movimentação no desfile da agremiação da Zona Leste paulistana. Com um tema bastante simples e de fácil identificação com toda e qualquer pessoa (seja da plateia ou dos componentes), a escola foi bastante leve para fazer a apresentação de 2023. A grande maioria dos foliões dançavam, se movimentavam e sambavam, interagindo com o samba-enredo, com o carro de som e com quem estava presente no Anhembi.

Os staffs tiveram pouco trabalho para organizar a escola, que não teve problema algum quanto ao ajuntamento de alas, com ótima organização dos responsáveis. Os credenciados pela escola, por sinal, aparentavam bastante tranquilidade.

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Um pequeno deslize foi notado no recuo da bateria. Se o movimento dos ritmistas foi bem executado, com entrada bastante rápida, e se a corte da bateria foi bastante segura ao ocupar o espaço deixado na hora do ato, a ala adiante, que representava os Zés de artes marciais, com quimonos e faixas pretas, seguiu evoluindo. O vácuo permitido foi pequeno e rapidamente ocupado, porém. Até mesmo Camilo Augusto, presidente da organização, estava no momento em que os ritmistas entraram no recuo.

Comissão de frente

No melhor estilo Zé Pilintra (entidade de religiões afro bastante conhecida), os comandados pelo coreógrafo Marcio Akira trouxeram muito samba no pé na coreografia executada por eles – bastante simples, por sinal, marcando o verso que era cantado pelo carro de som e pela escola.

Com roupas predominantemente brancas e detalhes vermelhos, todos eles estavam com um figurino que, além da entidade religiosa, também remetia à gafieira carioca. Não eram todos homens, porém: uma integrante com destaque trajava vermelho com detalhes brancos – vale destacar um conhecido cântico ligado ao Zé Pilintra, que pede para que “a mulher não tenha medo do marido”.

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Com coreografia eficiente e sem grandes ousadias, ela tinha uma pequena apresentação, de pura execução de samba, na frente das cabines. Cabe destacar que em um movimento, quando todos ficavam perfilados e tiravam os chapéus, faltou sincronia para os coreografados que estavam na segunda metade, com alguns tirando os chapéus antes de outros. Por fim, vale destacar o momento em que todos os integrantes ficam alguns segundos parados – movimento raro em escolas de samba.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Buscando trazer pontos para a agremiação, João Lucas e Angélica Paiva tiveram execução bastante segura ao sustentar o pavilhão do Amizade Zona Leste. Com movimentos mais cadenciados e sem tantos giros antes das cabines de jurados, ambos tiveram noite bastante graciosa e sorridente. Em uma noite de poucos ventos, João Lucas não teve grandes problemas para desfraldar o pavilhão da escola, enquanto Angélica aparentava estar bastante leve ao conduzir o símbolo máximo da instituição. Não foram notados erros técnicos no bailado do casal, que teve atuação segura ao longo de todo o desfile.

Alegorias e Adereços

As duas alegorias da escola tiveram concepção bastante diferença. O abre-alas, quase que inteiro em dourado e com detalhes em vermelho, remetia às religiões africanas, com uma escultura de Xangô – sincretizado, justamente, com São José na tradição católica. Com dois carros bem acoplados, o primeiro era uma espécie de santuário com machados (adorno muito ligado a Xangô), enquanto o segundo era mais alto e com componentes.

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Já o outro carro alegórico dava muito destaque para o verde, já que representava a chegada dos portugueses ao Brasil. Com muitas cruzes de malta, destacaram-se os diversos telões na parte de baixo da alegoria, com desenhos remetendo às interações entre europeus e indígenas.

Em alguns pontos das esculturas e dos apoios, havia certa sobra de tecido – nada, porém, quem comprometesse o acabamento de ambos.

Enredo

Para cantar o enredo “Do Zé Pelintra ao Zé Ninguém, Qual Zé é Você?”, o Amizade da Zona Leste optou por um caminho pouco usual: algumas alas não tinham uma leitura quase que imediata – mesmo com o apelido bastante popular em todo o país. Outras, entretanto, traziam um adereço para falar da referência a qual “Zé” a ala fazia.

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O samba, de fácil leitura, entretanto, deixa o papel bem mais simples para o julgador. As próprias alegorias, por sinal, eram de fácil leitura: a primeira também fazia referências a religiões africanas; a segunda tratava da chegada dos portugueses ao Brasil – e, claro, aos Josés que nela vieram. paulistano”

Samba-Enredo

Bastante simples, a canção foi executada com competência por Adauto Jr. e Eliezer PQP, intérpretes da escola. Sem muitos cacos, o carro de som da escola sustentou bem a canção, bastante leve e animada – apesar da dificuldade de comunicação com os integrantes da escola, que pouco cantaram. A sustentação da canção por parte dos ritmistas do Batucada do Amizade, sob a batuta de Mestre Vinicius Nagy, também merece destaques – leia mais em “Outros Destaques”.

Fantasias

Bastante simples, o Amizade Zona Leste apostou em materiais mais em conta para a concepção de boa parte das fantasias de alas. Não faltaram, porém, cores distintas ao longo do desfile (com destaque para o verde, uma das cores da agremiação) e nem qualidade no acabamento de cada uma delas.

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Na frente da primeira cabine de jurados, enquanto executava a dança, a mestre-sala Angélica Paiva viu uma das plumas da fantasia se soltar, ficando no chão – e sendo retirada por um staff logo depois o bailado acabou.

Harmonia

O samba-enredo, bastante simples de ser cantado, tinha forte canto no verso “Canta forte Amizade” – último do refrão. Alguns apagões da Batucada do Amizade ajudavam ainda mais o canto no período. Nos demais instantes, entretanto, os integrantes pouco interagiam com a canção. Quem cantava, fazia de maneira mais discreta e não empolgavam integrantes da própria ala, que seguiam se movimentando, mas sem cantar de maneira estridente.

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A ala que representava Zé Carioca, famoso personagem do universo Disney, foi o destaque negativo, com poucos foliões cantando; já a do Zé Fini, logo atrás, teve canto destacado positivamente.

Como ponto positivo, vale destacar a organização de absolutamente todas as alas, sem mesmo os staffs precisarem de muito trabalho no corredor.

Outros destaques

A corte da Batucada do Amizade, além de engrandecer o desfile, tiveram papel fundamental no recuo da bateria, como já dito anteriormente. Também vale pontuar os diversos apagões dos ritmistas comandados por Mestre Vinicius Nagy – foram ao menos cinco.

Abrindo os desfiles do Acesso II, Imperatriz da Paulicéia faz desfile seguro com o objetivo de se manter

A Imperatriz da Paulicéia abriu os desfiles do Grupo de Acesso II. Para a escola, foi uma noite muito simbólica, pois a agremiação pôde voltar a desfilar oficialmente no Anhembi. Anteriormente desfilava como bloco pela UESP, até que conseguiu o acesso em 2022. Falando sobre a pista, a Paulicéia realizou um desfile seguro. Claramente para se manter. Levando o enredo sobre a Vila Esperança, a agremiação se destacou por um colorido muito forte. Fantasias e alegorias em tons diferentes em vários momentos da apresentação. A comissão de frente mostrou a alegria que estava por vir no desfile e a bateria da Rafa, primeira mulher da história a comandar uma batucada, executou bossas durante o percurso e conseguiu se destacar também. Além disso, o canto da comunidade foi o principal quesito. Os componentes cantaram forte o samba durante todo o percurso. A Imperatriz da Paulicéia fechou os portões com 46 minutos. O enredo é intitulado como “Bem-vindos à Vila Esperança – O Berço do Carnaval Paulistano”.

Comissão de frente

A ala, que é comandada por Diego Albornoz, se apresentou com todos os integrantes de rostos pintados e fantasias laranja, azul e verde. Por ser um tema com homenagem a um bairro, a comissão de frente optou por levar uma coreografia que remete a alegria. A apresentação foi simples e de fácil leitura. O momento chave acontecia quando um personagem principal com um bastão evoluía na frente dos demais componentes, que faziam fila e saudava o público. Destaque também para um determinado em que um integrante menor da ala fazia acrobacia, subindo no ombro de outro e pulando de volta.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Analisando o casal em frente ao setor B em diante, Ronaldo e Leila, executaram movimentos corretos, mas apesar disso, dava para ver no rosto de ambos, a demonstração de certa insegurança. Principalmente por parte do mestre-sala, que não sorria. Estava focado apenas na dança e não em demonstrar a elegância que se pede. A apresentação da dupla girou em torno dos movimentos protocolares, que são os giros horários e anti-horários, além dos minuetos.

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Harmonia

Foi o ponto chave da agremiação. Notou-se uma comunidade bastante feliz pelo fato de pisar no Anhembi depois de tanto tempo, pois estava em bloco. O canto se fez presente, a melodia do samba ajuda e o andamento da bateria de mestre Rafa não deixou os componentes parados. O refrão do meio e o principal se destacam no canto da comunidade.

Enredo

O desfile se tratou sobre o bairro da Vila Esperança, cujo é intitulado como “Bem-vindos à Vila Esperança – O Berço do Carnaval Paulistano”. Foi um enredo contado de forma bem simples. O destaque positivo é que a agremiação deu grande destaque às personalidades importantes que tiveram certa história com o bairro, como o Seu Nenê e principalmente Adoniran Barbosa, que foi ilustrado no abre-alas. s à Vila Esperança – O Berço do Carnaval paulistano”.

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Evolução

Houve uma certa tensão na entrada da bateria no recuo. No momento em que os comandados da mestre Rafa entrava, a ala de trás demorou para avançar e a alegoria avançou um pouco demais. Devido a isso, um integrante do departamento de harmonia gritou ‘desesperadamente’ para os merendeiros fazendo sinal para os outros componentes e merendeiros pararem de empurrar o carro alegórico. O espaço técnico foi preenchido apenas pela rainha de bateria Ariê Suyane e a ala que vinha atrás demorou um certo tempo para preencher o espaço. No entanto, o resto da escola evoluiu de forma correta, principalmente dentro das alas. As fileiras estavam bem feitas e os componentes conseguiam dançar e cantar com satisfação.

Samba-Enredo

Como dito anteriormente, é uma obra com melodia feita para o componente se divertir, e foi o que aconteceu. O samba pegou na comunidade e todas as alas cantaram. Destaque para a ala de abertura, que vinha logo em seguida do carro abre-alas. Dá para dizer que o refrão do meio resumiu muito bem a proposta de desfile da Imperatriz. “Bloco e cordões, palhaços, colombinas… Pierrot apaixonado, confete, serpentina… Ai que saudade, que bom recordar! Lembranças guardadas, é pura emoção… Bate forte coração”. O intérprete Fabiano Melodia e seu carro de som guiou empolgou a comunidade para cantar cada vez mais.

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Fantasias

O acabamento das fantasias era de material simples, talvez com o objetivo de facilitar a leitura dos jurados. Vale destacar a roupa das baianas, que foi homenageando o ilustre sambista Seu Nenê, eterno patrono da Nenê de Vila Matilde. A velha-guarda foi vestida inteiramente de azul e destacada no primeiro setor da escola. Como dito anteriormente, a Imperatriz quis levar um desfile descontraído e, por isso, fizeram fantasias coloridas para a sua apresentação na pista. Porém, vale destacar a segunda e terceira ala após a primeira alegoria, onde partes caíram. Eram detalhes de bolas que haviam nos costeiros.

Alegorias e Adereços

Um abre-alas colorido onde na parte da frente havia a coroa, que é o símbolo da escola e, logo atrás, a escultura de Adoniran Barbosa. A agremiação, que para fincar a sua estreia colocou sua coroa. Já sobre o cantor, a homenagem foi feita pois ele tem uma grande ligação com a Vila Esperança. Vale destacar tal semelhança, que foi bem realista. Na frente contava com uma iluminação especial brilhosa.

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A segunda alegoria aparentemente simbolizava o carnaval na Vila Esperança. O carro era todo rosa com duas esculturas sambistas com chapéu na parte da frente. No alto da alegoria, havia um Rei Momo, realmente significando o samba.

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Outros destaques

O maior destaque é a estreia de uma mulher á frente de uma bateria de escola de samba. Mestre Rafa fez história no Anhembi nesta noite sob a ‘Swing da Paulicéia’. A batucada teve um grande desempenho, realizando várias bossas enquanto a escola passava.

Vice-presidente da Liesa, Hélio Motta fala do projeto da gravação ao vivo dos sambas: ‘É para colocar no ouvido, fechar os olhos e dizer: ‘Estou na Sapucaí’

Vice-presidente da Liesa e presidente da Edimusa (a gravadora da entidade), Hélio Motta, conversou com o site CARNAVALESCO e falou da novidade que é a gravação dos sambas ao vivo nos desfiles e dos esquentas no sábado das campeãs. Veja abaixo o bate-papo.

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Foto: Divulgação

Qual é a novidade em relação aos sambas na versão ao vivo dos desfiles e os esquentas nas campeãs?

Hélio Motta: “O grande diferencial é que iremos gravar no templo sagrado do samba, a Marquês de Sapucaí, na hora que a magia acontece. Nosso conceito é tentar transmitir a espontaneidade e a energia tanto da escola, quanto do público. Um produto para colocar no ouvido, fechar os olhos e dizer: ‘Estou na Sapucaí! Estou no Rio Carnaval'”.

Como será o processo de elaboração desse álbum?

Hélio Motta: “A produção musical será do Pretinho da Serrinha e a gravação se dará de forma muito natural e quase não será percebida, de modo a não atrapalharmos o espetáculo, principalmente, os músicos, ritmistas e mestres de bateria. Colocaremos uma unidade móvel atrás do primeiro recuo de bateria recebendo e gravando todos os canais multi-tracks da avenida para uma posterior mixagem e masterização no estúdio”.

O público poderá consumir em todas plataformas de áudio? Tem previsão de lançamento?

Hélio Motta: “Após o carnaval nós já estaremos mixando e editando tudo. Nossa meta é entregar o ‘Ao Vivo na Sapucaí’ em todas as plataformas digitais em meados de março e o ‘Esquenta das Campeãs’ por volta de julho”.

A Liga já teve essa iniciativa dos sambas ao vivo. Você lembra como foi?

“Lembro muito e tenho ele guardado aqui comigo. Foi um grande sucesso e quem curte a pegada de ‘ao vivo’ tenho a certeza de que gostou também. A diferença é que hoje há uma grande melhoria tecnológica para criarmos um produto muito superior ao de 1998. As mesas mudaram, a microfonação e captação de áudio se aprimoraram e do ponto de vista do usuário final, o consumo é instantâneo pelas plataformas digitais. Quem é que não vai colocar na playlist a sua escola do coração tocando ao vivo naquela resenha com os amigos?'”.

A ideia é para temporada 2023/2024 investir mais nas versões ao vivo e ter também a de estúdio?

Hélio Motta: “Acredito que temos demanda para ambos, pois teoricamente cumprem papéis diferentes. O de estúdio é um cartão de visitas, para apresentar o samba, tem um caráter informativo com nuances técnicas e melódicas únicas. O ‘ao vivo’ é aquela pegada dinâmica da emoção, improviso e vibração. É pra quem ama e quem quer sonhar em estar ali dentro”.

O que mais a editora/ gravadora pode criar para o processo de 2023/2024?

Hélio Motta: “O trabalho em conjunto com a Liesa é fundamental. O carnaval é uma fonte inesgotável de conteúdos diversos, onde sua a grande maioria, pode se transformar em recursos audiovisuais, novos fonogramas etc. Quem sabe possamos fazer um grande evento e um álbum em homenagem às nossas guerreiras que defendem os sambas na avenida? Temos um timaço com a Wic da Tijuca, a Lissandra no Salgueiro, a Milena na Mocidade, enfim, tantas vozes femininas… olha aí uma ideia”.

Paes visita os barracões do Grupo Especial, revela volta do apoio federal e ainda não confirma presença de Lula nos desfiles

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, visitaram na tarde deste sábado os 12 barracões das escolas de samba do Grupo Especial. Eles foram recebidos por Jorge Perlingeiro, presidente da Liesa. Em seu discurso, Paes ressaltou a importância da volta do apoio federal ao carnaval carioca.

“A gente tem muita alegria, porque nos últimos anos tivemos muito desrespeito ao carnaval carioca. Primeiro por parte da própria prefeitura e depois por parte do governo federal. É muito bom termos uma ministra do Turismo que prestigia o carnaval. Esse ano é o centenário da Portela e vamos ganhar o carnaval”, disse Paes.

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O prefeitura do Rio de Janeiro revelou que convidou o presidente Lula para assistir aos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. “O presidente ama o carnaval. Enchi o saco do Lula para ele vir, mas achei ele sem vontade, porque vem de uma viagem. É bom sabermos que temos de novo o governo federal apoiando o carnaval carioca”.

Em sua fala, a ministra Daniela Carneiro frisou que o governo Lula está aberto para o carnaval carioca. “É um momento ímpar na minha vida estar á frente do Ministério do Turismo. O carnaval é muito forte no Brasil. O Rio de Janeiro é a porta de entrada do turismo no Brasil. Estou aqui pela retomada do carnaval. Estou disponível para conversamos sobre a estrutura que foi pedida pela Liesa e com o apoio dos deputados vamos atender. O Brasil está de volta. Vou percorrer todas cidades importantes para o carnaval. Estamos juntos. O povo está necessitado dessa cultura e alegria tão forte do nosso Brasil”.

Presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, ressaltou a importância do apoio federal e a realização da modernização da Cidade do Samba. “O presidente já tinha nos ajudado em outras ocasiões. Temos o apoio maciço da prefeitura, o estado e a volta do governo federal. A Cidade do Samba será um grande centro de turismo. Não será mais uma fábrica de alegorias, vamos entregar uma área também para os turistas”, afirmou Perlingeiro.

Veja fotos da visitação

É hoje em São Paulo! Desfiles do Acesso II uma semana antes do carnaval agradam sambistas

O “Carnaval da Vida”, como ficou conhecida a folia na cidade de São Paulo em 2022, entrou para a história por diversos motivos. Um deles foi a mudança da data do Acesso II, terceiro grupo das escolas de samba paulistanas. Antes realizada na segunda-feira do feriado, ela foi remanejada, pela primeira vez, para o sábado da semana anterior. Por isso, neste sábado, acontece no Anhembi a abertura do carnaval paulistano. A novidade agradou a imensa maioria dos componentes de escolas de samba que disputarão o Acesso II. O CARNAVALESCO entrevistou integrantes das agremiações que deram as respectivas opiniões.

Experiência aprovada

Como não poderia deixar de ser, quando a novidade foi anunciada, causou estranheza. Se hoje foi aprovada, os desfiles na semana anterior ao tradicional eram vistas com ressalvas, como explica Rodrigo Atração, intérprete da Imperador do Ipiranga. “Eu tive uma opinião muito contrária a isso quando tudo começou. Eu achava que na segunda-feira de carnaval não tinha atividade nenhuma de carnaval em São Paulo e o Acesso II poderia ser essa atividade. Só que, com esse ano tendo atraído um público e atenção maiores, acho que é
um caminho e uma atração a mais para o carnaval de São Paulo. Hoje, acho bem viável essa mudança, acabou favorecendo bastante essas escolas que, muitas vezes, não são vistas. Hoje, você tem escolas muito fortes. Eu também costumo dizer que os Grupos de Acesso de São Paulo estão virando mini desfiles de Especial”, destacou.

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Quem também aprovou e foi contundente na aceitação foi André Vinícius, o Deko. Presidente da Torcida Jovem. “Da nossa parte, foi um novo molde construído devido à pandemia e nós gostamos. Não ficou tudo em um final de semana só, e essa semana de carnaval estendida por mais uma semaninha abrilhanta ainda mais o carnaval. São dois finais de semana para todo mundo vir ao Anhembi prestigiar o carnaval de São Paulo, acho que foi muito válido. Se depender da gente, a gente sempre desfila uma semana antes”.

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Mais prestígio

Um argumento muito utilizado pelos sambistas para apoiar a mudança da data foi a visibilidade dada ao Acesso II após o novo dia de desfile. Seja para o público nas arquibancadas do Sambódromo do Anhembi ou para desfilantes, a semana antes do Especial e do Acesso I é um combustível para acompanhar as agremiações.

José Luis Castro, mestre-sala da Leandro de Itaquera, destacou a observação ao ser perguntado. “É muito importante o desfile ser antes do Acesso I e do Especial até pelo contingente de pessoas. Muitas pessoas desfilam nos grupos de cima e vêm desfilar no Acesso II, eles também nos ajudam. É muito importante isso”, comentou.

Outra sambista a comemorar a mudança da data foi Nathalia Bete, porta-bandeira da Unidos do Peruche. “Eu achei que foi uma experiência muito boa nesse ano e deu super certo. O Acesso II teve muita visibilidade! Todo mundo parou para assistir e isso engrandeceu muito o nosso carnaval. Às vezes, não era assim porque era no último dia do carnaval, todo mundo estava cansado e tinha outros compromissos. Por ser uma semana antes, foi muito vantajoso – mesmo com a correria de terminar tudo antes”, comemorou. É importante destacar que, tal qual em 2022, a entrada para os desfiles do Acesso II em
2023 será gratuita.

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Mestre Bola, diretor de bateria da Dom Bosco, observou que a “migração” de componente entre as escolas também é comum entre os ritmistas. “Eu gosto bastante. Achei acertada a decisão, o pessoal chega com mais fôlego, já que quem desfila na sexta, no sábado e no domingo chega na segunda meio cansado. Vamos chegar com força total já tanto dos foliões quanto do público que está lá para assistir. Sei que os ritmistas também gostam justamente pelo fôlego extra que eles têm”, destacou.

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Comunidades também aprovam

Quando perguntados se as comunidades estavam de acordo com as respectivas opiniões, os integrantes entrevistados pelo CARNAVALESCO mostraram alinhamento. No Ipiranga, componentes da Imperador respiram confiança com o cronograma da escola, de acordo com Rodrigo: “Essa também é a percepção da escola. Principalmente para nós, da Imperador do Ipiranga, sendo bem sincero, no ano passado já estávamos preparados para o desfile com uma semana de antecedência. Nesse ano, a mesma coisa”.

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O planejamento também foi tema de outros dois integrantes de escolas de samba. José Luis revelou que a preparação começa já no mês de janeiro para a Leandro de Itaquera e para quem está no Acesso II. “Para a escola também é muito importante. A gente se planeja com até duas semanas de antecedência para o desfile”. Por fim, Deko destacou a força dos componentes da Torcida Jovem. “A comunidade também gostou. Temos uma boa relação com a comunidade, eles estão muito integrados no trabalho e estão muito satisfeitos desfilando uma semana antes”, finalizou.

Série Barracões: Tuiuti apresenta o ‘boi da Cara Preta’ da Ilha de Marajó em inédita parceria Rosa e João Vitor

Apostando em unir a experiência e a juventude na construção criativa, o Tuiuti constituiu uma parceria entre Rosa Magalhães e João Vitor. Com sete títulos no Grupo Especial por Imperatriz, Império Serrano e Vila Isabel, Rosa fará sua estreia na Azul e Amarela de São Cristóvão buscando voltar a produzir um desfile que volte às colocações de cima. Já João Vitor, após desenvolver o carnaval do Cubango em 2022, está de volta ao Tuiuti, escola que produziu um carnaval bastante elogiado em 2020. De pano de fundo para essas novidades, estará o enredo “Mogangueiro da Cara Preta” que vai contar a chegada dos búfalos e sua adaptação a Ilha de Marajó, além de aproveitar para levar para Sapucaí toda a riqueza cultural da região insular no estado do Pará. Após o vice-campeonato em 2018 com um carnaval digno de título, e sustentando grandes sambas nos últimos anos, ainda há expectativa de que a escola de São Cristóvão possa repetir a dose e surpreender produzindo um carnaval que figure mais uma vez entre os melhores do ano.

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Foto: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

João Vitor Araújo conta que o enredo foi sugerido pelo próprio presidente Renato Thor e desenvolvido até tomar a forma que tem hoje pelo próprio carnavalesco e pela professora Rosa Magalhães.

“A ideia surgiu do nosso presidente. Ele deu esse ponto de partida para a gente por ser apaixonado por Belém e pelo Pará em geral. Queria que a gente contasse alguma coisa relacionada ao estado. Ele acha que é um estado muito rico de cultura, formações. Eu questionei o fato da Imperatriz já ter feito, a Viradouro já ter feito e de forma muito bem feita. Aí a Rosa também fez o mesmo questionamento sobre esses dois carnavais exaltando o Pará feitos de forma magnífica. A gente teve uma certa liberdade nesse desenvolvimento. Foi quando a gente decidiu partir para a Ilha de Marajó e não fazer aquele tradicional enredo C.E.P que todo mundo está acostumado, sobre a colonização, sobre a formação, e etc. Nós decidimos ir a partir da figura do búfalo, o nosso ‘Mogangueiro da Cara Preta’, que se tornou o protagonista dessa história toda”, explicou João Vitor.

A carnavalesca Rosa Magalhães já havia tido contato com a região por trabalhos que havia feito fora do carnaval. Na pesquisa realizada pela dupla, João Vitor conta que os dois passaram a conhecer muita coisa sobre a riqueza cultural da região e história, inclusive descobriram um local para festa bem parecido com a folia que acontece na Marquês de Sapucaí.

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“Tudo era muito interessante, porque era uma história desconhecida até então. A gente partiu em busca de algo diferenciado e tudo para gente era novidade. Acho que ninguém conhecia de fato como os búfalos chegaram ao Brasil, como eles se adaptaram tão bem ao clima brasileiro. E a gente não sabia a importância que eles têm na Ilha de Marajó, a forma que eles são tratados, a forma com que as pessoas dependem desse animal para sobreviver. É um animal presente na vida de todos os moradores dali e de diversas formas. Tudo nessa pesquisa foi uma novidade para a gente. Até descobrir, por exemplo, que nos dias de carnaval a rua principal se transforma em um Bufódromo. A gente tem o sambódromo, Parintins tem o Bumbódromo, e em Marajó tem o Bufódromo. Isso é sensacional”, acredita o carnavalesco.

Mesmo sem viajar ao estado no período de pesquisa, Rosa e João realizaram a pesquisa da melhor forma possível, trocando bastante informações. O carnavalesco conta que a expectativa pelo carnaval do Tuiuti não é só da população regional da Ilha de Marajó, mas o enredo conquistou outras regiões do estado.

“Não chegamos a viajar. A Rosa já conhece Marajó, já fez alguns trabalhos na época dela de televisão e eu estou indo na última semana a Belém para falar um pouco sobre o trabalho, vou participar de um outro evento, mas obviamente estão todos curiosos para saber como está esse carnaval do Paraíso do Tuiuti, como vai se desenrolar essa história do Mogangueiro da Cara Preta. Inclusive é um enredo que é bem focado na Ilha de Marajó, mas todo o estado do Pará está muito mobilizado. Eu recebo muitas mensagens nas minhas redes sociais das pessoas dizendo que nem conhecem carnaval mas que o Tuiuti vai ganhar pelo enredo. A corrente do povo de lá é gigantesca. Uma corrente do bem, uma corrente positiva para que dê tudo certo”.

Desfile terá mestre Damasceno como narrador

Uma das figuras mais expressivas da cultura popular do estado do Pará, e em especial da cultura marajoara, é mestre Damasceno. Cantor de carimbó, compositor de sambas, repentista, poeta, pescador e artesão. Tudo isso e muito mais formam a história de Damasceno Gregório dos Santos que terá função muito importante no desfile do Paraíso do Tuiuti em 2023.

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“Mestre Damasceno é o cantador dessa história toda. Na verdade, tudo é uma descoberta, o Igor(assessor de imprensa do Tuiuti) apresentou para mim e para Rosa mestre Damasceno, que ela trabalhava de lá, e eu trabalhava de cá e tinha o Igor ali também trabalhando enriquecendo esse enredo. Ele trouxe para mim um relatório dizendo que esse homem tinha que estar dentro do enredo. Levei para a Rosa e ela se apaixonou pela importância do mestre Damasceno na Ilha de Marajó, e é como se ele estivesse contando essa história toda para o público. Ele é o grande narrador do Mogangueiro da Cara Preta”, revela João Vitor Araújo.

Segundo a EBC, o artista tem mais de 400 composições entre toadas de boi-bumbá, carimbós, xotes, chulas, sambas e até bregas. Em 2010 recebeu do Ministério da Cultura o “Prêmio Maria Isabel” por sua dedicação à cultura marajoara. Mestre Damasceno também foi o criador do “Búfalo-Bumbá”, adaptação do Auto do Boi, tendo como figura o animal expoente da Ilha de Marajó, o búfalo.

Divisão de trabalho da dupla Rosa e João

O Tuiuti tem apostado em grandes nomes para comandar seus carnavais. Em 2022, Paulo Barros produziu “Ka Ríba Tí ye”. Em 2023, a escola terá uma das maiores campeãs do carnaval, a professora Rosa Magalhães. Mas, a agremiação também apostou em trazer de volta um velho conhecido da casa que deu muito certo no carnaval de 2020, apesar de a escola não ter tido um julgamento tão condizente em termos de colocação. João Vitor chega já conhecendo a agremiação e esperando que a dupla com Rosa seja vitoriosa.

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“Esse casamento, pode até parecer clichê, mas está dando muito certo. Não ficou pesado para ninguém. Obviamente que você se choca ao se ver de frente da figura da Rosa Magalhães. Eu não preciso me estender muito, todo mundo conhece a importância que ela tem para a cultura, a importância que ela tem para o carnaval, e foi um processo muito tranquilo. A pesquisa foi uma delícia. Ela trabalhava da casa dela, eu trabalhava da minha. A gente juntava as informações. Tinha tanta coisa bacana nesse enredo que infelizmente nós não pudemos manter por causa do tamanho do carnaval. Hoje nós levamos cinco setores para o desfile, então é impossível compactar tudo isso. Mas, muita coisa bacana que a gente descobriu sobre esse enredo, que a gente teve acesso, e se a gente fosse colocar a gente ia ficar concentrado até a Praça da Bandeira”, disse o carnavalesco aos risos.

Com Rosa e João Vitor, a escola espera apagar a décima primeira colocação do carnaval passado, corrigir os erros que contribuíram para o mau resultado, e retornar a produzir um desfile que mexa com o público e gere no mínimo uma inquietação na briga pelas primeiras posições. Na produção de trabalho, há muita expectativa no que vai sair dessa união inédita entre os dois carnavalescos de gerações distintas. João Vitor contou mais sobre o entendimento que os dois artistas encontraram a respeito da produção artística para o Tuiuti.

“Na divisão, a Rosa ficou com a parte das fantasias e eu com a parte de alegorias. Mas isso não significa que ela faz o dela e eu faço o meu. Não, o tempo todo a gente estava em sintonia. Tudo que ela desenhava ela me chamava para ver. Tudo que eu desenhava eu chamava ela para ver, para que tudo isso tivesse uma unidade, para que tudo isso tivesse um casamento. A intenção nunca foi isso é meu, isso é seu. Não, isso é do Tuiuti, isso é do carnaval. Esse foi o nosso pensamento. Por isso acho que está tudo muito bem entrosado”, acredita o artista.

União do moderno com o tradicional na estética

Falar de qualquer tema relacionado ao Norte do Brasil gera sempre a expectativa de trazer para a Sapucaí uma diversidade cultural muito rica. É uma região que tem muito da nossa essência como país, daqueles que estavam aqui antes mesmo da mistura de povos e etnias que existe nesta nação tão miscigenada. O enredo fala especificamente da Ilha de Marajó, conta a história da chegada dos búfalos, mas também abre espaço para a arte de mestre Damasceno e para a cultura musical do carimbó. As lendas da região também se farão presentes. Por isso tudo, é fácil de se imaginar um Tuiuti com um colorido levando muito da força cultural que o Pará tem para a Sapucaí e transbordando esta diversidade na plástica da Azul e Amarela de São Cristóvão.

“Pode esperar um Tuiuti grande, coloridíssimo, cada carro tem o seu tempero, cada carro tem o seu charme. Você pode esperar formas diversas, cores diversas, peças diversas. Eu diria que é um carnaval múltiplo. Você encontra de tudo um pouco. Está tudo muito bacana, muito legal”, resume João Vitor.

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Na união estética de Rosa e João Vitor, o carnavalesco promete uma escola não acorrentada a um único estilo ou a estereótipos, mas apresentando uma diversidade artística que combina com o tema e com a região que serve de pano de fundo para o enredo.

“Acho que tem a mistura do tradicional com o moderno. Acho que carnaval é isso. Tem lugar para tudo. Dá para ser tradicional, dá para ser vanguardista. Dá para fazer de tudo um pouco. Acho que aqui dentro do meu barracão a gente tem essa mistura. Tem um toque de modernidade. Tem um toque de ousadia, mas aí tem aquele lado mais tradicional que eu gosto, que a Rosa gosta também. Acho que dá para equilibrar”.

Retorno de João Vitor e escola motivada

Após produzir o carnaval do Cubango em 2022 sobre Chica Xavier na Série Ouro que terminou em um polêmico rebaixamento, João Vitor volta a ter chance no Especial. Após o desfile de 2020 no Tuiuti, foi contratado pela São Clemente, mas em meio a pandemia foi demitido e não chegou a desenvolver o enredo que sugeriu e que nem chegou à Sapucaí depois de ser trocado pela própria agremiação da Zona Sul. De volta ao Paraíso do Tuiuti, João está completamente motivado e com a vontade de conseguir um resultado diferente de 2020 que o artista mesmo questiona em relação à produção artística que apresentou na homenagem ao padroeiro da escola, São Sebastião.

“Na verdade é uma parceria, uma associação que já tinha dado muito certo. Estou retornando a escola, um carnaval depois, fiz o carnaval de 2020, já tenho uma intimidade, já conheço a característica da escola que é um carnaval lá atrás que teve uma colocação meio duvidosa, bastante questionada. Merecia uma colocação melhor, então acho que isso é um sinal. O João com o Tuiuti, dá certo, com Rosa mais ainda, tem tudo para dar certo e dessa vez a gente conseguir algo melhor. É uma escola merecedora, tem uma comunidade forte, tem muito esforço do presidente. É um ano complicado para muita gente pois nós viemos de um outro carnaval, não tivemos aquele tempo hábil de construir o carnaval. Não é uma reclamação, é só uma constatação. A gente emendou um carnaval no outro, a gente desfilou em uma época que normalmente estamos lançando enredo, divulgando sinopse, tem escolas até abrindo barracão. É um carnaval feito em 48 horas, digamos assim, para todas”, entende João Vitor.

O carnavalesco aposta em diversas armas do Tuiuti para surpreender neste carnaval e conseguir quem sabe figurar nas primeiras posições na quarta-feira de cinzas.

“São grandes trunfos que a escola tem. Pode esperar pela comissão de frente, podem aguardar uma comissão belíssima, e eu vou colocar minha rainha, parafraseando minha colega de trabalho ‘a minha rainha é belíssima’. E o canto. Eu digo sempre, o que esperar do Tuiuti? O Tuiuti tem a bateria que todo mundo quer ouvir. O Tuiuti tem a rainha da bateria que todo mundo quer ver. O Tuiuti tem o cantor que todo mundo quer escutar. E o Tuiuti tem comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira, e uma comunidade que chega chegando”, finaliza o carnavalesco.

Conheça o desfile do Paraíso do Tuiuti

A dupla João Vitor Araújo e Rosa Magalhães vão levar para a Marquês de Sapucaí 2800 componentes divididos em 28 alas e cinco carros alegóricos. A agremiação também terá tripés. O carnavalesco João Vitor revelou como os setores de “Mogangueiro da Cara Preta” estão divididos.

Primeiro Setor: “A gente começa e não é segredo para ninguém, o samba já pontua muito bem que a gente inicia com a Índia”.

Segundo Setor: “Depois vamos falar sobre o comércio das especiarias que se tornou bastante comum ao oriente e ao ocidente”.

Terceiro Setor: “Neste setor falamos sobre o naufrágio perto da costa brasileira do navio que continha um carregamento de búfalos vindo da Índia”.

Quarto Setor: “Essa parte do desfile retrata a chegada dos Búfalos ao Brasil”.

Quinto Setor: “Neste está representada a Ilha de Marajó e a arte”.

Sexto Setor: “Por fim, representamos Mestre Damasceno e o rei do Bufódromo”.

Liesa prepara novo álbum com os sambas ao vivo e os esquentas dos desfiles do Carnaval 2023

Será lançado este ano um novo álbum com os sambas-enredo do Rio Carnaval, além da compilação anual que antecede os desfiles das escolas na Avenida desde, pelo menos, a década de 1960. Agora, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) prepara o “Sapucaí ao Vivo”, com captação de áudio in loco para eternizar as canções que embalam o público nas arquibancadas, frisas e camarotes do Sambódromo. Uma iniciativa semelhante foi criada em 2008, sem continuidade.

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Foto: Divulgação/Liesa

Com produção musical de Pretinho da Serrinha e coordenação de Hélio Motta, vice-presidente da Liesa e presidente da Edimusa (a gravadora da entidade), o projeto deve chegar às plataformas de streaming em março. A gravação acontecerá, claro, durante os desfiles oficiais, por meio de uma estrutura móvel situada no primeiro recuo da bateria, diante do Setor 1. O mesmo acontecerá na semana seguinte, no Sábado das Campeãs.

“Agora, vamos gravar no próprio Templo do Samba, enquanto a magia acontece. Queremos transmitir ao ouvinte a espontaneidade e a energia da festa. Será um produto para escutar, fechar os olhos e sentir: ‘Estou na Sapucaí'”, diz Motta, que também atuou no tradicional CD de Sambas-Enredo deste ano, disponível desde dezembro e recém-lançado em versão física para colecionadores.

Série ‘Barracões’: Unidos de Padre Miguel vai tratar da influência árabe na cultura nordestina

A Unidos de Padre Miguel vai retratar o intercâmbio cultural entre as culturas árabe e nordestina. “Baião dos Mouros” é um enredo elaborado pela dupla de carnavalescos Edson Pereira, experiente na escola, e Wagner Gonçalves, recém-chegado. Previamente, o tema escolhido havia sido a Irmandade da Boa Morte, mas, como houve atritos de comunicação, a escola optou por respeitar os possíveis homenageados e mudar o enredo. A última vez que a UPM fez um desfile com a temática nordestina foi em 2015 com a homenagem ao Ariano Suassuna, executada por Edson. A agremiação conseguiu o vice-campeonato da Série Ouro naquele ano. Oito anos depois, os carnavalescos acharam que era o momento adequado de voltar a essa estética e se afastar desta vez da plástica africana dos últimos anos.

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Fotos: Matheus Vinícius/Site CARNAVALESCO

“Eu acho que o enredo é original. A gente já teve carnavais com essa linguagem muçulmana e árabe, que dá um visual bem interessante, e nordestina, esse ano é um ano de muita estética nordestina. Mas o nosso é uma mistura mesmo, essa coisa híbrida. Nos apropriamos da questão do boi, por causa dos mouros e o nosso boi vermelho. Parecia um enredo que já estava pronto ou engatilhado para ser da escola e surgiu naquela circunstância”, explicou Wagner Gonçalves.

A meta da escola da Vila Vintém é subir para o Grupo Especial, após anos chegando perto de alcançá-la. Agora, próximo do desfile na sexta-feira, dia 17 de fevereiro, os componentes conseguem visualizar melhor o potencial do que será apresentado na Sapucaí. Segundo o carnavalesco, a Unidos de Padre Miguel vai entrar para ser protagonista na disputa.

“A nossa inspiração é que a Unidos faça mais um grande desfile. Ela sempre protagoniza o desfile da Série Ouro. Sem querer ser pretensioso e com muito respeito às co-irmãs, esse é o histórico que ela vem apresentando. A gente tem que atender a essa expectativa do público e do componente”, contou Wagner.

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Para evitar falhas técnicas em alegorias que já fizeram parte do histórico da UPM, a agremiação vai seguir à risca as especificações da Liga RJ que são próprias para quem está tão longe do Sambódromo. Entre as estratégias está a montagem em módulos dos carros alegóricos para facilitar o transporte.

“Para mim é um carnaval diferente porque é um barracão muito atípico. A escola gosta de carros grandes, só que existe um limite maior do que as outras escolas porque tem um traslado muito maior para a Presidente Vargas. Eu tenho a felicidade de ter um diretor de barracão que foi da Cubango. Mesmo na grandiosidade, a gente fragmenta tudo para atender a medidas que a Liga passa para a gente, sobretudo as escolas que estão desse lado da Av. Brasil”, explicou Gonçalves.

Beleza árabe-nordestina

Para imergir os componentes nesse cenário árabe e nordestino, Wagner Gonçalves e Edson Pereira vão se garantir em um carnaval colorido. Quem for assistir o desfile da Unidos de Padre Miguel, vai observar mistura de tecidos, a presença de bordados e contraste de texturas. Wagner afirma que, por conta da crise na indústria têxtil nos últimos anos desde a pandemia, a solução foi encontrar materiais baratos e investir nas cores.

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“A indústrias ainda estão se estabelecendo e a gente não está podendo importar, então fomos no mercado entender. Misturamos muito tecido barato, brincamos com as cores e muita pintura. Deu o resultado que nós queríamos. A comunidade teve acesso às fantasias e ficou bem satisfeita. As fantasias acabaram muito rápido e tem pouquíssimas vagas”, disse o carnavalesco.

Trabalho em dupla

O Carnaval 2023 do boi vermelho da Vila-Vintém está sendo construído a quatro mãos. Edson Pereira é um velho conhecido da casa. Ele é responsável por oito carnavais da agremiação, cinco destes na Série Ouro sempre figurando na parte de cima da tabela de classificação. Já Wagner Gonçalves acabou de chegar na UPM, vindo da Estácio de Sá onde trabalhou com o carnavalesco Mauro Leite.

“Na verdade, eu não pretendia fazer um carnaval de dupla. Acredito que nem o Edson. Já fui chamado para a escola em outro momento, havia esse namoro comigo aqui. Para esse momento agora, a ideia era manter o Edson e ele tem muito carinho pela escola. Então ele me ligou falando que queria continuar, mas, com o compromisso no Salgueiro, ia ficar difícil. Se eu aceitasse, ia ser mais fácil de ele permanecer. Casou. Foi feito um carnaval a duas cabeças, mas a quatro mãos. Eu conheço o trabalho do Edson e o Edson conhece o meu. Mesmo quando eu criava alguma coisa, eu enveredava pela estética dele e vice-versa”, relatou Wagner.

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A dupla tem a consciência de que embarcou em um projeto de uma escola que está constantemente entre as primeiras colocadas da Série Ouro, sempre brigando ponto a ponto para subir ao Grupo Especial. O foco é um trabalho dinâmico e objetivo, já que Pereira também tem que se equilibrar com o carnaval do Salgueiro. Deste modo, surge um carnaval em que o chão da escola está se reconhecendo, se identificando e sonhando com o título.

Para Gonçalves, é importante compreender que a Unidos de Padre Miguel é uma escola de Série Ouro e enfrenta problemas como as co-irmãs. A vantagem está na estrutura que foi desenvolvida nos últimos anos e Edson também é responsável por construí-la. Neste Carnaval, Wagner vê como uma passagem de bastão e um aprendizado sobre como funciona a vermelho e branco e isso inclui lidar com a criatividade para fazer um desfile com a cara da agremiação.

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“Ele está passando o bastão me instruindo como aqui funciona. A gente não faz um projeto grandioso e executa achando que o dinheiro vai chegar. Não vai chegar. Tem que ser muito criativo, entender as prioridades da escola. É um ano de muita dificuldade, com um orçamento mais modesto para todas as escolas do grupo; com a Unidos não é diferente. Então temos que trabalhar, se dedicar e privilegiar a criatividade e o truque. É o truque mesmo, o falso brilhante”, comentou o carnavalesco.

Conheça o desfile da Unidos de Padre Miguel

A vermelho e branco da Vila Vintém vai dividir seus 2500 componentes em três alegorias, dois tripés e 23 alas. O carnavalesco Wagner Gonçalves manteve o segredo da estrutura do desfile, mas contou o que o público pode esperar quando vir a UPM entrar na Marquês de Sapucaí. Primeiramente, o desfile será atemporal, logo não terá uma ordem cronológica do intercâmbio entre os árabes e o povo nordestino.

“Nós entendemos que, entre todas as interferências, a música é a mais latente. Nós estruturamos através da música, o nosso enredo é um repente. E uma estrutura narrativa de repente é que ele pode vir nessas emboladas e improvisações”, disse Gonçalves.

Como a estratégia foi catalogar as influências dos árabes, esse resultado das pesquisas será visto de forma objetiva na Avenida. A promessa é de um visual de fácil entendimento, até mesmo quando os carnavalescos recorrem a analogias. Signos e símbolos de conhecimento geral ajudarão nessa narrativa, por exemplo, o uso de xilogravuras, incensos, cactos, camelos.

“É muito mais simples do que as pessoas possam imaginar, com leitura muito direta. Por mais analogias que tenhamos feito, a leitura visual é muito direta. Nos preocupamos com isso”, garantiu Wagner.

Embora visualmente objetivo, o “Baião dos Mouros” pretende ter um desfile poético por conta da estrutura do repente. A divisão de setores é a solução de trechos compilados da pesquisa feita pelos dois.

“Não é tão literal. A gente pegou trechos do que a gente leu tanto em crônicas quanto em poesia e demos tópicos e títulos. O samba conta isso. ‘Sou eu vivendo o sonho das Arábias, são mil e uma noites de histórias ao luar’, isso é um setor inteiro que nós chamamos de ‘Mil e uma noites sertanejas’. Neste setor, cabem as questões da literatura entre outras. O nosso trunfo, para poder ter essa liberdade de ir e vir nessa construção narrativa, é apresentar um carnaval com novidade, com recorte atemporal, com recortes visuais mais criativos. Não é nada de outro mundo, mas é uma opção que fizemos para criar uma reversão de expectativa”, explicitou Wagner Gonçalves.

Os carnavalescos adiantam que o público pode esperar um tratamento sobre música, literatura, folclore e muitos outros recortes culturais. Para descobrir todos os segredos da Unidos de Padre Miguel, o público terá que esperar a sexta-feira de Carnaval e vê-la como a quinta escola a passar no Sambódromo.