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Vila Isabel faz ensaio técnico de alto nível de harmonia e evolução, mostrando excelência na defesa dos quesitos

Por Rafael Soares, Luan Costa, Maria Clara Marcelo, Lucas Santos e fotos de Allan Duffes

A Unidos de Vila Isabel foi a terceira e última escola de samba a se apresentar na noite deste sábado em mais um dia de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. A agremiação teve que atrasar o início de seu treino por conta de um defeito no carro de som, que precisou ser trocado. Mesmo com a demora, quando o ensaio começou, por volta de 23h20, a Vila já mostrou toda sua força. A branca e azul estabeleceu um padrão alto de desfile e consegue repetir em todos os treinos que realiza. A defesa de quesitos é exemplar. A começar pela harmonia, que foi de grande volume e constante por todo o cortejo. Na evolução, vimos uma verdadeira aula. Um ritmo muito fluido e agradável para que os componentes desfilassem com tranquilidade para brincar. O aclamado samba-enredo, de autoria do gênio Martinho da Vila em 1993, e reeditado em 2024, teve mais um ótimo rendimento. Muito impulsionado por mais uma atuação de gala de Tinga e seu carro de som, sempre passando bastante energia aos desfilantes. E também por um desempenho formidável da bateria do mestre Macaco Branco, que impôs uma cadência perfeita para a execução da obra, além de bossas de qualidade musical e muito adequadas.

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A comissão de frente chamou a atenção pela representação de Oxalá em uma coreografia cheia de significado, embora com movimentos mais tranquilos. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho e Cris Caldas, dançou novamente mostrando muita beleza e segurança, apesar de um pequeno erro do mestre-sala na segunda cabine ao tentar pegar a bandeira. Mas isso não apagou o brilho da atuação, que ainda teve um belo momento de interação com crianças no final do número.

A Vila Isabel levará para a Sapucaí a reedição do enredo “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, de autoria do saudoso carnavalesco Oswaldo Jardim em 1993. Neste ano, o carnavalesco Paulo Barros será o responsável pelo trabalho. A branca e azul será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro.

“Foi um ensaio muito positivo na nossa avaliação. Ao meu ver fizemos ótimos ensaios na Boulevard 28 de Setembro, e o reflexo, obviamente, aqui no ensaio técnico, e esperamos que seja no desfile oficial.Gostaria de agradecer a todos o segmentos. E tenho que agradecer a comunidade que vem cantando muito, evoluindo muito. É um trabalho que a gente fez desde lá de trás,em outubro. E temos que valorizar, não só os ensaios de rua, mas os ensaios de setor que a gente fez fora dos ensaios da 28, dentro da quadra. E com tudo isso, a comunidade vem passando. Estou muito feliz e com a certeza de dever comprido. E o que a gente almeja, ansia é campeonato, único sentimento que a e gente têm, ser campeões de 2022”, explicou Moisés Carvalho, diretor de carnaval da Vila.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos, comandados pelos coreógrafos Alex Neoral e Márcio Jahú, realizou uma apresentação com bastante significado. Quase todos eram homens, vestidos com roupas brancas, empunhando escudos e espadas. Um deles estava caracterizado como Oxalá. A única mulher estava vestida em cores verdes e representava a mãe natureza. Esses dois personagens tiveram grande destaque no número. De forma geral, os movimentos continham giros e pulos, bem sincronizados, embora mais simples. Em determinado momento, os guerreiros se reuniram em torno da bailarina e puxaram uma rede de dentro de sua bolsa levada nas costas. O dançarino que representava Oxalá se encaminhou para baixo dessa rede e começou a ser carregado por outro integrante.

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“Eu me emocionei em vários momentos. Tinha umas crianças atrás também com um casal, que eu achei lindíssima a relação delas com o casal. Acho que os meninos da comissão estavam lindos, interpretando muito bem o que vieram fazer, o oxalá, a dança. Achei muito lindo, daqui da frente foi muito bonito”, disse Márcio Jahú.

“Tem elementos, certamente. Porque também a gente tem que fazer de todo esse esforço do ensaio ser proveitoso pra gente. Então assim, logicamente a gente guarda os elementos surpresas, o que a gente tá realmente trabalhando a sete chaves, mas é sempre bom estar aqui, experimentando um pouquinho das ideias que a gente vai trazer”, completou Alex Neoral.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, pode ser considerado uma das melhores duplas da atualidade no quesito. Em mais uma ótima apresentação, os dois mostraram uma dança bem clássica, sem muitos momentos coreografados, embora com alguns movimentos mais ousados. Cristiane exibiu toda sua leveza característica ao bailar na avenida, parecendo levitar. Marcinho, sempre muito expressivo, mostrou sua habitual segurança e destreza. Os pontos de interação entre os dois foram muito belos, com uma sintonia que chamou a atenção. O mestre-sala fez duas pegadas de costas na bandeira, movimento sempre bem arriscado. Na segunda cabine de jurados, entretanto, Marcinho acabou deixando escapar, o que representa um ponto de atenção para o casal.

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“A gente estava ensaiando, teve alguns erros, mas nada que daqui para frente a gente consiga consertar. E acho que foi um ensaio lindo. Espero que a Vila também tenha feito um ensaio lindo. Teremos duas fantasias, talvez. Dei um spoiler”, revelou a porta-bandeira.

“Treino é treino, jogo é jogo. Claro que a gente treina como se estivesse jogando, mas o treino serve para gente não repetir os erros. Então, a gente trabalhou muito e hoje foi ótimo para gente perceber algumas coisas e fazer diferente. Fazer tudo certo, tudo, tudo, tudo, tudo certo na segunda-feira. A nossa coreografia é ousada. Eu acho que a gente tentou, pelo menos, manter o nível de ousadia e de criatividade do ano passado. Porque a gente sabia que o efeito não podia se sobressair a nossa dança e aí a gente tentou manter o nível e a gente até talvez tenha elevado um pouquinho. Então, assim, a gente está trabalhando muito para poder fazer, sustentar esse nível e fazer a ousadia que a gente está pretendendo. Sobre a fantasia: Uma frasezinha, luz da esperança”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A Vila Isabel escolheu reeditar um clássico samba de sua grandiosa história. De autoria do gênio compositor Martinho da Vila, “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” ainda é muito atual, possuindo alta qualidade de letra, que é muito poética, e melodia, com suas belas variações. O enredo é facilmente entendido através da obra musical. Seu rendimento, mais uma vez, se mostrou excelente. Através do forte canto da comunidade, impulsionado por atuações exemplares do intérprete Tinga e da bateria de mestre Macaco Branco.

“Maravilhoso nosso ensaio, a comunidade está muito feliz com o samba, com o nosso enredo, e vamos com tudo. Vila Isabel está vindo aí com força total para buscar esse título. Respeitando a todos, mas a gente vai vir para ganhar, se Deus quiser. Só que 100% nunca está, a gente vai procurar melhorar sempre até o dia de entrar na avenida. Mas esse foi o nosso último ensaio e espero que agora a gente consiga fazer um grande desfile. Eu converso muito com o Macaco Branco para a gente botar o samba no lugar, no andamento certo. Então, toda a bateria, toda a comunidade está de parabéns. Foi um grande ensaio, e se Deus quiser, também faremos um grande desfile”, prometeu o intérprete Tinga.

Harmonia

Mais uma ótima apresentação de canto da comunidade de Vila Isabel. Todas as alas cantaram a obra musical com muita facilidade, mostrando ter o samba na ponta da língua. Foi uma harmonia muito consistente, que pode ser ouvida desde o começo do cortejo até o seu final, mesmo sem ser explosiva. O ponto alto certamente é o refrão principal “Gbala é resgatar, salvar/E a criança, esperança de Oxalá/Gbala, resgatar, salvar/A criança é a esperança de Oxalá”, cantado com um volume incrível. Mas as demais partes também foram entoadas em ótimo nível. Talvez seja repetitivo falar do desempenho de Tinga, cantor principal da escola, mas é a pura verdade. Sua atuação foi fantástica do início ao fim do cortejo. Com uma voz limpa, o intérprete adicionou a sua já conhecida energia para embalar os componentes.

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Evolução

Grande apresentação da escola no quesito. Imprimindo um ritmo fluido de desfile durante todo o ensaio. O desfile foi constante, sem qualquer pausa mais longa ou aceleração indevida. Nenhuma espécie de buraco foi observada entre suas alas. Esse padrão de evolução se tornou uma marca da agremiação. E ela consegue repeti-lo com muita naturalidade, mostrando um ótimo trabalho dos profissionais envolvidos. Essa cadência perfeita de cortejo permitiu com que os desfilantes brincassem bastante seu carnaval, exibindo muita animação e espontaneidade. Os balões e pompons que carregavam deram um efeito a mais, além de deixar ainda mais marcante a felicidade dos componentes.

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Outros destaques

Como já se tornou costumeira, atuação de excelência da bateria do mestre Macaco Branco. Os ritmistas impuseram uma cadência muito adequada para o rendimento do samba-enredo na voz dos intérpretes e dos componentes. Todas as bossas foram de muita qualidade musical, bem adaptadas à obra, impulsionando ainda mais seu desempenho. Em uma delas, todos os instrumentos pararam de ser tocados, o famoso ‘apagão’. Isso deixou ainda mais nítido o grande nível de canto da Vila Isabel.

Ensaio da Grande Rio mostra excelência nos quesitos, com forte canto da comunidade e casal bastante inspirado

Por Lucas Santos, Luan Costa, Maria Clara Marcelo, Raphael Lacerda, Rafael Soares e fotos de Allan Duffes

Como tem sido nos ensaios de rua na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, em Duque de Caxias, a Grande Rio mostrou um conjunto muito forte de quesitos, fruto de um trabalho que vem desde a renovação realizada na agremiação nos anos de 2019 e 2020 na equipe e sua manutenção nos anos seguintes. Desde cedo, na Marquês de Sapucaí muita gente vestia estampa de onça, temática do enredo, mostrando por parte da torcida que as garras estão afiadas para buscar um bicampeonato. E como tem sido ao longo desses meses de preparação, a comunidade tem ignorado as críticas de que a obra tenha partes difíceis e está mostrando muita força no canto do samba em sua totalidade. E, quem, também, vinha sendo destaque e mais uma vez brindou o público com uma apresentação muito correta, bonita e inserida no contexto do enredo, foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto.

Outros pontos fortes se repetiram, como o bom entrosamento entre mestre Fafá e Evandro Malandro. O único ponto negativo foi uma receptividade morna por parte da arquibancada que não se viu nas outras escolas da noite, pois fora da torcida o samba não causou grande interesse. Mas, na comunidade, que é o mais importante, a escola mostrou, junto com os demais quesitos, que está muito forte para tentar ganhar o caneco pela segunda vez. No geral, um ensaio para consolidar a força dos quesitos de Caxias.

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“Bom, eu fico dentro do ensaio, o que eu vi, eu gostei bastante, muito mesmo, vamos analisar vídeo, eu botei um pessoal pra filmar alguns pontos aí e tem essa semana pra analisar e se for o caso até chamar a comunidade pra bater o papo. Mas acho que não vai ser necessário porque eu saio muito satisfeito. Eu vejo a comunidade feliz, comunidade comprou a ideia, nosso destino é ser onça, é o enredo de guerra é um enredo beligerante, é o espírito que a história tem que trazer, espírito aguerrido. O ano passado era comemoração, era levantar copo, era uma coisa mais leve. Esse ano, o personagem exige isso. Acho que a gente tentou esses meses todos passar pra escola essa filosofia e eu acho que está dando certo”, explicou Thiago Monteiro, diretor de carnaval, que também falou sobre a possível dificuldade na segunda parte do samba.

“Eu sempre falo que pra gente essa parte é fácil, porque a gente sabe o intérprete que a gente tem, a gente sabe o material humano de comunidade que nós temos e como ela é trabalhada não só pelo Thiago, mas é trabalhada pela harmonia, trabalhada pelo carro de som, é trabalhada pela bateria, pela diretoria da escola e a comunidade que tá junto há muito tempo consegue corresponder. Se para os outros é difícil, pra gente é fácil, ninguém é doido de escolher um samba achando que vai ser um tiro no pé, ninguém vai escolher um samba suicida, fizemos uma escolha consciente que chegaria nesse momento”.

Comissão de frente

Trajados com um roupa que imitava a pele de onça, acompanhada de um colete verde com folhas e algumas marcas mais indígenas, os bailarinos comandados pelo casal Hélio e Beth Bejani usaram duas passadas do samba para realizar as suas apresentações nos módulos de julgamento. Os componentes utilizavam duas flechas em cada mão que produziam um interesse efeito quando unidas as demais. Quando unidos, os componentes, através daquele colete, quase imitavam a vegetação. Em diversos momentos apresentavam os trejeitos da onça, no deslocamento e na caracterização facial.Um dos bailarinos, que possuía uma ligeira diferença na vestimenta, com a estampa de pele de onça mais a mostra, se destacava representando a onça do mito Tupinambá em meio a floresta representada pelos demais integrantes.

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A exibição utilizou o jogo de luzes cênicas da Sapucaí e no final da apresentação, outros componentes que seguravam uma espécie de tambores que soltavam faíscas. Tudo correu bem no geral, a não ser uma das faíscas que falhou a segunda cabine de julgamento. Outro ponto a ser elogiado foi a atenção dada à coreografia de deslocamento que era muito bonita. Os bailarinos, em alguns momentos, formavam um corredor para a passagem da onça e pelos componentes que levavam os tambores.

“Tem algumas diferenças (para o desfile) e elementos a mais, como os carros alegóricos. Com isso, a gente deve fazer um pouquinho menos de samba do que foi feito hoje. Saímos com um tempo bom – aos 37 minutos. Acredito que estamos bem e tivemos um ensaio proveitoso e positivo. Podem esperar todo o nosso empenho. É um trabalho grandioso e um grande delírio, como é a proposta da cosmovisão dos tupinambás em relação à criação do mundo. Viremos ‘linkados’ com o abre-alas – como sempre é a nossa característica de trabalho -, e entregando o nosso melhor. Nós não trabalhamos para ser os melhores, apenas fazemos o nosso melhor sempre. O resto é consequência. Ainda falta uma semana – é bastante tempo – e ainda há ajustes para fazer. Mas o que foi proposto para hoje, aconteceu. É um primeiro impacto com a Avenida lotada”, analisou o coreógrafo Hélio Bejani.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Mantendo o nível muito alto dos ensaios de rua, o casal Daniel Werneck e Taciana Couto veio vestido nas cores da escola com o verde em um tom diferente, fizeram uma apresentação que não fugiu às características do casal, mas que mostrou um entrosamento ainda maior, com uma singeleza e delicadeza em alguns movimentos, mas também, com aquilo que dominam muito bem, nos gestos mais coreografados como os passos do “Kio, Kio, Kio, kio, Kiera…” em que com muito sincronismos, apresentam movimentos que remetem ao indígena, ao místico.

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A intensidade da dança, mais uma vez, esteve bem adequada ao samba, ao estilo dos dois, e com aquilo que hoje o julgador pede. A dupla entrou em sua apresentação, no “trovejou , escureceu”, quando as luzes da Sapucaí diminuem, iniciando os movimentos quando a luz volta para o máximo do branco. Não se observou nenhum movimento brusco ou que pudesse sugerir alguma quebra de equilíbrio da dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira.

“Se a gente fosse avaliar, daríamos 10, porque a gente sempre quer o melhor para gente mesmo. Mas lógico que existem coisas para serem corrigidas, a gente fez um pedacinho da coreografia, já deu para sentir, vamos fazer algumas modificações, mas nada que seja tão exorbitante que atrapalhe o nosso desenvolvimento aqui. Nossa fantasia está impactante. Vem combinando com o primeiro setor que é uma pura magia”, disse o mestre-sala.

“A gente conseguiu cumprir com o que foi proposto, com o que a gente planejou até aqui. A gente mostrou um pouco do que a gente vai trazer para a Avenida e agora essa semaninha até o dia do desfile é ajustar, corrigir e trabalhar para trazer a nota máxima para a escola. Uma fantasia linda, acho que uma das mais bonitas que a gente vestiu até agora”, completou a porta-bandeira.

Harmonia

A Grande Rio contou mais uma vez com uma presença muito forte da comunidade. Os componentes sustentaram o canto durante todo o tempo, mantiveram a intensidade, puxando a obra sem correria, em um andamento agradável que facilitou com que os desfilantes mantivessem o nível. Ainda que a resposta do público não tenha sido tão forte quanto ao samba, a comunidade não se importou e na pista foi muito quente o desfile. O carro de som, como falado, apostou em um andamento cadenciado, sem correria, mas nem um pouco arrastado. Este andamento facilitou o trabalho para os componentes, e fez com que o samba fosse mais perceptível, nas letras, na melodia, e até as cordas tiveram seu destaque, participando inclusive na bossa de mestre Fafá.

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“Achei maravilhoso o desempenho da comunidade, do samba-enredo, da bateria, o carro de som, graças a Deus, irretocável. Muito bem afinado, muito obrigado ao meu professor, Pedro Lima. Estou muito feliz com o rendimento da bateria. Foi maravilhoso, a gente conseguiu trazer tudo o que a gente bem mostrou em Caxias. Eu acho que é manter o bom rendimento que a gente fez em Caxias e o bom rendimento que teve aqui. Mas aí, vocês de casa, os internautas, que vão falar melhor, pois vocês assistiram, a gente desfilou. E nós fomos tentando mostrar o máximo. Espero em Deus e nos orixás que a gente consiga mostrar. É maravilhoso o entrosamento do carro de som e da bateria. Como eu sempre digo, o Fafá é muito musical. É muito fácil a conversa com ele sobre o samba-enredo, sobre os arranjos. Tanto os arranjos musicais do samba enredo, quanto da bateria, então é muito fácil trabalhar com ele. Eu fico muito feliz em ter essa família chamada Grande Rio, me abraçando e eu abraçando todos”, comentou o intérprete Evandro Malandro.

Evolução

A Grande Rio apresentou uma evolução com bastante fluidez, ainda que a comissão de frente tenha se apresentado utilizando duas passagens do tempo. Com 1h09 de desfile, a Grande Rio em nenhum momento correu, e ficou muito tempo parada. Algumas alas apresentaram coreografia, mas no geral a escola atravessou a Sapucaí de forma muito espontânea. As alas vieram volumosas, com um bom contingente de componentes e não se observou buracos pela via de desfile. O único ponto negativo foi na lateral das alas em que havia um excesso de pessoas com a camisa da escola que estava em alguns momentos gerando um incômodo aos componentes pelo espaço que ocupavam na pista.

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Samba-enredo

O samba teve um bom rendimento pela escola que tem mostrado desde os ensaios de rua em Caxias que conseguiu absorver bem a letra e a melodia. Até o ponto de maior dificuldade, no começo da segunda do samba “Yawalapiti, Pankararu, Apinajé
O ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá/ No tempo que pinta a pedra, pajelança encantada /Onça-loba coroada na memória popular” passa claramente sem problemas pela boca do componente. Um dos trechos que mais chama atenção é também na segunda do samba, o “Kio Kio Kio Kiera”, que representa um momento da obra que sugere uma parte mais mística, mais fora do contexto que a melodia vem apresentando, mas ainda assim pertinente ao enredo. A interação com o público nas arquibancadas, como citado acima, realmente foi mais fria, não teve uma grande recepção como as outras escolas da noite, mas, importante enfatizar que não comunidade ele está completamente dominado.

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Outros destaques

O intérprete Evandro Malandro cantou o samba vencedor de 2022, “Fala Majeté” e mexeu com o público logo após a tradicional lavagem do sambódromo. Já durante o desfile com o samba de 2024, nos momentos em que se cantava “Trovejou, escureceu”, as luzes cênicas da Sapucaí diminuem até se apagar por alguns segundos e retomando logo em seguida. Este jogo de luz também marcava o início das apresentações da comissão e casal nos módulos após uma rápida penumbra trazia paradas exibições um tom de suspense.

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Muitos dos componentes que participaram do ensaio da Grande Rio usavam ou máscara ou maquiagem de onça, em outro setor havia muitos que carregavam algum traço indígena no rosto. Bastões de luz, guarda-chuvas como do frevo, leques, eram alguns dos itens que a comunidade de Caxias levavam na mão. O adereço de mão, inclusive, nos últimos desfiles tem marcado presença em larga escala. No trecho do samba “no sertão” , a bateria comandada por mestre Fafá fez uma bossa de xaxado muito bem acompanhada pelo violão de sete cordas, evidenciando pela disciplina musical da Grande Rio. Fafá também chamou atenção pelos gestos de comando com as mãos que apresentou aos jurados nas apresentações nos módulos. A rainha Paolla Oliveira trajava uma fantasia prateada com asas de anjo no costeiro. A bela mostrou o samba no pé de sempre e foi muito tietada pelo público. Outra que também chamou a atenção, foi a musa Deolane Bezerra com uma fantasia toda preta com traços de onça no chapéu, além de estampa e cauda do felino.

“Tudo o que foi proposto, foi feito na avenida. A bateria teve um rendimento perfeito pelo carinho que recebemos do público e tudo que aconteceu, acredito que mostramos a que viemos. Trabalhamos muito, tivemos um ano difícil e perdemos um grande amigo; um cara que era a energia dessa bateria, mas infelizmente veio a falecer, o nosso querido Vancleiton. O nosso ensaio de hoje foi para ele. Tenho a certeza de que, lá de cima, ele estava olhando pela gente. Eu espero que, no desfile, a nossa bateria repita esse desempenho. Que seja incrível! A Grande Rio está preparando algo mágico e eu tenho a certeza de que vamos brigar pelo título. Serão 260 ritmistas. Eu não tenho nada a pedir a eles. Eu só tenho a agradecer tudo o que eles fazem. Todo o esforço, todo o carinho. Ontem (sexta, 03/02), entregamos todas as fantasias. Então, só tenho a agradecer tudo o que eles fazem e nos proporcionam. Só peço uma coisa: que venham com a mesma garra, com a mesma educação e com a mesma precisão, para que a gente consiga obter os 40 pontos. Eu sou muito chato. Sou muito perfeccionista, mas hoje a bateria merece parabéns. Ali na frente, onde eu estava, foi tudo perfeito. Eu espero que todo mundo tenha gostado também. Nossa fantasia é extremamente leve, pensada em todos os detalhes para o ritmista”, garantiu mestre Fafá.

Escola de respeito! Brilho da comunidade e show da bateria são destaques em ensaio vibrante da Beija-Flor na Sapucaí

Por Luan Costa, Lucas Santos, Maria Clara Marcelo, Rafael Soares, Raphael Lacerda e fotos de Allan Duffes

A Beija-Flor de Nilópolis foi a segunda escola a pisar na Sapucaí na noite deste sábado para realizar o seu ensaio técnico. Às vésperas do desfile oficial, a escola deixou ótimas credenciais e mostrou que deseja novamente ser a grande protagonista da festa, dessa vez apostando em algo mais leve e vibrante. O ensaio foi marcado pelo brilho e alegria da comunidade, que juntamente com a incrível bateria comandada pelos mestres Plínio e Rodney foram os principais destaques da noite, ao lado do consagrado casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso, que novamente tiveram uma noite memorável.

Mesmo criticado no pré carnaval, o samba da azul e branca passou pela avenida como uma avalanche e o “doa a quem doer” não comprometeu o belíssimo treino realizado pela agremiação, foi um ótimo teste e a sensação de que a aposta em um desfile com características mais leves fez bem aos componentes e a escola. Nem mesmo a ausência de Neguinho da Beija-Flor foi capaz de diminuir a intensidade do ensaio.

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A Beija-Flor será a segunda escola a desfilar no domingo de Carnaval, dia 11 de fevereiro, com o enredo “Um Delírio de Carnaval na Maceió de Ras Gonguila”, assinado pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que faz sua estreia na azul e branca.

“É o que a gente vem falando sempre, quem vai lá na Mirandela percebe que o canto é muito forte, a gente trabalha muito o canto, faz muitos ensaios na quinta. A proposta do samba da Beija-Flor era ter evolução, era cantar, brincar, se divertir, ter alegria. Eu peida muito isso nos ensaios e hoje eu conto com a Simone e com o Walber, com uma equipe deslumbrante. Temos uma grande evolução nas alas e é muito gostoso de ver, e isso faz com que haja uma interação muito grande entre o público e a gente. A escola evoluiu muito bem na Avenida, paramos, cantamos, desfilamos e atingimos os nossos objetivos. Agora eu vou conversar com todos os meus pares, eu vim na frente da escola, cada uma vem no seu lugar, cada um vê uma coisa, comigo aqui foi tudo muito tranquilo, mas vamos conversar, ver tudo direitinho para ver se estamos prontos mesmo”, explicou Dudu Azevedo, diretor de carnaval, que falou sobre a ausência de Neguinho na Avenida.

“O Neguinho teve hoje uma agenda, um compromisso particular dele. A gente tem um ícone do carnaval, o maior expoente do carnaval carioca que é o Neguinho. É difícil chegar no patamar dele. Mas a gente tem uma galera trabalhadora que toda vez que é chamada eles dão conta. Foi uma apresentação deslumbrante, que carro de som, que sintonia, modulações, terças, oitavas, perfeitas”.

Comissão de frente

Pelo segundo ano consecutivo os coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon são os responsáveis pelo comando da comissão de frente da Beija-Flor, a dupla adiantou que para o desfile oficial não contatará com um grande elemento cenográfico, indo na contramão do que temos visto no quesito ultimamente, pelo o que foi mostrado no ensaio desta noite a dança é a grande protagonista da apresentação. No total 15 componentes realizaram diversos movimentos intensos ao longo da apresentação, em alguns momentos do samba um membro era jogado pro alto, em outro momento eles representavam brincadeiras, na parte do samba que faz menção ao ofício de Rás Gonguila eles encenam que estão engraxando sapatos.

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A fantasia era simples, porém, funcional para facilitar a mobilidade dos bailarinos, um macacão branco com detalhes floridos, eles também carregavam um adereço de mão com fitas coloridas. O ápice da comissão foi quando parte do grupo se entrelaçou e girou durante a parte do samba que diz: “Gira, mundo, feito pião que Gonguila do jeito”, foi um movimento teoricamente simples, mas que causou curiosidade e aplausos por ter sido tão bem executado.

“Já era esperada a emoção, além da energia e uma comissão alegre e dinâmica. Deu tudo certo coreograficamente – os espaços que a gente vem ensaiando há meses na Avenida, o decorrer e também a entrada e saída da Selminha. Foi perfeito e emocionante”, avaliou Saulo.

“Como é um ensaio técnico, a questão técnica foi o esperávamos e ensaiamos. Não ocorreram problemas na entrada e saída. A avaliação é bastante positiva, foi melhor do que estávamos esperando. A coreografia de avanço será essa, mas a de jurados não. O desfile será muito especial”, completou Jorge.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Já são mais de 30 anos de uma parceria vitoriosa, mas ao pisarem no chão sagrado da Marquês de Sapucaí para o ensaio desta noite, a dupla Claudinho e Selminha Sorriso entraram com a certeza de que os anos podem até ter passado, mas o vigor, a firmeza nos movimentos e a precisão nos giros continuam os mesmos. Eles foram mais uma vez hipnotizantes, todos os holofotes estavam na dupla, o público presente assistiu feliz a todas as três apresentações. Enquanto Claudinho estava predominantemente de azul, Selminha bailou com um vestido rendado branco que tinha um efeito incrível a cada giro. Foi mais uma noite para eles e o torcedor nilopolitano guardarem na memória, se baseando na dança clássica, os dois esbanjaram sintonia e leveza, o alto número de giros impressionou, assim como a destreza de Selminha para manter a bandeira esticada mesmo com o forte vento.

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“Você já está vendo pelos meus olhos, eu estou chorando de emoção. Quando a gente coloca o propósito que a gente fez durante o ano todo, o ensaio, e a gente consegue 100% de acerto, é sinal que a gente está no caminho certo. Só que hoje é só o ensaio técnico, mas a gente conseguiu pontuar as questões que a gente queria. Só agradeço a Deus e meus orixás por isso, a minha equipe, que está sempre comigo, minha filha, minha esposa. E, agora, em busca da nota 40 que é no dia 11, no domingo de carnaval”, disse o mestre-sala.

“Eu sempre dou nota 10, porque só de estar aqui já é tão maravilhoso. É a razão de agradecimento daquele sonho da menina, é por ter saúde, por pertencer a essa cultura que transforma vidas, que é a resistência cultural do nosso povo, que é a empregabilidade, o trabalho social, o compromisso da sua comunidade. Cada vez que eu adentro aqui, portando o pavilhão da Beija-Flor, eu olho para trás e falo: ‘nossa, que agradecimento, como eu sou feliz’. E a Beija-Flor toda preparada para semana que vem, domingo que vem, vamos fazer história, estamos confiando. Eu sou uma pessoa que me cobro muito, então cada vez eu sempre acho que tem que melhorar mais. Foi maravilhoso, foi tudo certinho, a coreografia, o tempo, o andamento, sabe? A energia, mas sempre tem que melhorar, quem diz que sabe, tudo não sabe nada, você está sempre buscando aperfeiçoar, melhorar cada vez mais, fazer história e dar continuidade a um sonho de infância”, completou Selminha.

Samba-enredo

Criticado desde sua escolha como hino oficial da escola, a obra dos compositores Kirazinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério passou pela avenida sem comprometer o bom ensaio da azul e branca, fugindo da linha de sambas densos e aguerridos que a escola apresentou nos últimos carnavais, o samba desse aposta na leveza e simplicidade, algo que a escola não está habituada, mas a ver pelo ensaio desta noite tem tudo para ser um ótimo encontro.

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O refrão principal possui características que mexe com o brio do nilopolitano, o “doa a quem doer” fez com que a comunidade explodisse a cada passada, o componente cantou até mesmo algumas partes da obra que são de difícil compreensão e mais complicadas em termos de letra, como por exemplo nos versos “Gira, mundo, feito pião que Gonguila do jeito, que me eterniza o bendito dos plebeus” e “Um coco, um pouco de samba de roda”, embora o nível não seja o mesmo apresentado nos refrões principais, a resposta ainda assim foi positiva.

“A pressão é sempre a melhor possível, a gente já tem as prévias do que vai acontecer na avenida, os ensaios de quadra, a gente vê essa comunidade cantar. Tenho certeza que aqui a comunidade repetiu isso com mais garra, porque quando essa escola pisa na avenida, a escola vem para rasgar esse chão. Sem contar que é uma responsabilidade enorme para nós desfilarmos sem o nosso querido ídolo Neguinho da Beija-Flor. Mas o trabalho foi feito, nossa comunidade berrou o samba junto com a gente e se Deus quiser tudo vai dar certo e a Beija-Flor vai se sagrar campeã do carnaval. Essa dinâmica do samba com a comunidade, um samba que muita gente falou muita coisa. Mas a gente sabe que carnaval se ganha na avenida. Uma comunidade que veio aqui berrou esse samba, cantou, comprou a briga, comprou a ideia. A gente tem um barracão que vai falar por si só aqui na avenida. A Beija-Flor sabe como fazer carnaval aqui nesse chão. A gente tem certeza que a gente vai vir para abrilhantar esse espetáculo, para fazer bonito, para a gente brigar, para ser aquela competição em alto nível que o Carnaval do Rio de Janeiro merece. E hoje a nossa comunidade deu o recado. O rolo compressor está aí. A gente mostrou um pouquinho do que tá sendo feito na quadra. E hoje foi só um aperitivo do que vai rolar no domingo que vem”, disse Igor Pitta, integrante do carro de som da escola.

Harmonia

Falar que a comunidade da Beija-Flor canta é chover no molhado, mas no ensaio desta noite a escola conseguiu superar todas as expectativas, existia uma desconfiança por conta do samba que foi deixada de lado logo nos primeiros acordes, do início ao fim o que se viu (e ouviu) foi uma comunidade gritando o samba com muita raça e principalmente alegria, como mencionado no tópico acima, a obra possui momentos que poderiam atrapalhar o canto uniforme, mas o trabalho realizado neste pré carnaval surtiu efeito.

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A ausência de Neguinho da Beija-Flor poderia ser outro complicador para a agremiação, porém, o carro de som deu conta do recado e mostrou total entrosamento com a bateria soberana, os ritmistas de mestre Plínio e Rodney foram incríveis e deram o tom para que a escola explodisse a cada passada do samba, eles fizeram ainda um enorme paradão que teve resposta imediata da comunidade e também do público do presente no Sambódromo.

Evolução

O componente da Beija-Flor sabe desfilar, é algo já enraizado em cada um dos brincantes de Nilópolis, foram anos sob o comando firme de Laíla, aquela antiga Beija-Flor estava lá:
organizada, bem dividida e com todos sabendo o seu papel, porém, no ensaio desta noite vimos uma escola mais solta, mais leve e até mesmo mais vibrante, o enredo pede isso, assim como o samba. A escola levou diversos elementos que remetiam a cidade de Maceió para demarcar os setores, foi possível observar uma enorme placa com os dizeres “eu amo Maceió” é um elemento cênico que representava uma enorme cadeira de praia.

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A empolgação e leveza esteve presente em todo o ensaio da azul e branca, várias alas levaram adereços de mãos e brincaram o carnaval, nota-se a presença de algumas alas coreografadas por toda a escola, como por exemplo na abertura, essa inclusive tendo destaque por sua evolução e canto. Como contratempo foi observado apenas um pequeno descompasso após a entrada da bateria no primeiro recuo quando alguns componentes apressaram o passo um pouco acima do ideal.

Outros Destaques

O ensaio da azul e branca foi prestigiado por algumas figuras públicas, sendo a principal delas o ator Samuel de Assis, que no desfile da próxima semana representará a figura central do enredo: Rás Gonguila. Outra figura muito festejada foi Brunna Gonçalves, esposa da cantora Ludmilla, que no carnaval de 2023 cantou ao lado de Neguinho.

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À frente da bateria soberana desde o ano passado, a jovem Lorena Raíssa mais uma vez encantou a Sapucaí com seu carisma e muito samba no pé, mesmo tão jovem ela não parece sentir o peso do cargo e se diverte naturalmente.

“Estamos em uma crescente que vai culminar no próximo domingo. Será um grande espetáculo. É um surpresa! Domingo todo mundo vai descobrir se vamos ter o paradão no desfile. Não tenho o que melhorar. Nós fomos muito bem e fizemos o que estava proposto. Você vê pelo semblante do ritmista. Tivemos um andamento perfeito, as conversões muito bem casadas e o componente interagindo. A escola cantou muito. Estamos no caminho certo. Serão 240 ritmistas. O grande lance é no dia que vamos fazer muito melhor que hoje. A fantasia está aprovada e é belíssima. É uma referência a uma tribo da Etiópia”, disse mestre Rodney.

Vila Isabel: fotos do ensaio técnico na Sapucaí

Beija-Flor: fotos do ensaio técnico na Sapucaí

Grande Rio: fotos do ensaio técnico na Sapucaí

Samba se destaca em desfile do Morro da Casa Verde sobre a luta feminina pela liberdade

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

O Morro da Casa Verde realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi. O samba da escola interpretado por Wantuir foi o grande destaque da apresentação, que teve constantes problemas de evolução. A Verde e Rosa da Zona Norte foi a décima escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2, fechando os portões aos 49 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “A Força das Yabás sobre a Figura Feminina” se apresentou em dois atos marcados pelo samba. Há a presença de uma protagonista que contracena com dois diferentes grupos, sendo o primeiro representando as Yabás e o segundo a Figura Feminina. Os grupos se intercalam em interações com a protagonista ao longo dos atos, se juntando na dança em dado momento.

MorroDaCasaVerde et ComissaoFrente

A coreografia chama atenção pela volumetria das fantasias, que dão a sensação de que a pista está preenchida de pessoas ao longo da apresentação do conjunto. Mas a dança não é clara em seu propósito em vários momentos, com exceção em situação onde os demais atores reverenciam à figura da protagonista. O final do segundo ato, onde um dos agrupamentos se alinha para reiniciar a dança, se mostrou problemático ao longo da Avenida, com a atriz principal se adiantando em relação aos demais no primeiro módulo, mas ficando para trás nos demais.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Morro, formado por Gabriel e Juliana Souza, desfilou com fantasias representando “Orum Ayê”. A atuação ao longo de todos os módulos apresentou problemas de sincronia nos giros, sendo no primeiro e no terceiro módulo a porta-bandeira por várias vezes concluiu seus passos após o mestre-sala parar. A clara desatenção da parte da dupla pode comprometer a nota final da escola.

MorroDaCasaVerde et PrimeiroCasal

Enredo

O enredo da escola da Casa Verde em 2024 foi “O canto de Ominirá: Negra é a raiz da liberdade!”, assinado pelo carnavalesco Ulisses Bara. A proposta do Morro foi falar sobre a necessidade de exaltar e preservar a cultura e o nome e mulheres pretas que lutaram por sua liberdade e deram suas vidas por seu povo. “Ominirá”, na língua yorubá, significa “independência, liberdade”, o clamor que o tema da Verde e Rosa faz pelas mulheres pretas batalhadoras de todo o mundo.

MorroDaCasaVerde et DonaGuga

Na Avenida, porém, a leitura do enredo se mostrou confusa pelas alas, com poucos segmentos sendo identificados com facilidade. O enredo não conseguiu ser claro em sua proposta após a passagem do Abre-alas, gerando um declínio de reação até seu desfecho.

Alegorias

MorroDaCasaVerde et AbreAlas

O Morro se apresentou com dois carros alegóricos. O Abre-alas foi nomeado como “As Sete Deusas Sagradas – O Berço de Ominirá”, e o segundo carro foi intitulado “A Coroação da Mulher – A Nossa Voz Jamais se Calará – Viva Ominirá!”. A primeira alegoria chamou atenção pelo belo acabamento como um todo e clareza na identificação de seus elementos, em especial as figuras das entidades representadas. O desfile se encerrou com um carro, porém, cujas esculturas não esclareciam sua proposta de representar uma coroação. Havia um grupo cênico em uma estrutura muito elevada o qual do campo de visão observado não estava claro o significado de sua atuação.

MorroDaCasaVerde et SegundoCarro

Fantasias

O Morro da Casa Verde desfilou com alas em referência a diferentes mulheres pretas cujos nomes marcaram a história pela luta e superação. As fantasias apresentaram um bom conjunto de acabamento, porém eram de difícil leitura em sua maioria. Haviam conjuntos de fácil identificação, como a ala “Anastácia e a Máscara do Silêncio”, mas em geral é preciso grande conhecimento da temática abordada para elucidar o significado das roupas.

MorroDaCasaVerde et 9

Harmonia

O coral do Morro começou o desfile animado e vigoroso, mas a lentidão com a qual a escola evoluiu na pista fez com o que o clamor do samba pela comunidade da Casa Verde fosse comprometido. Em dado momento, já na reta final do desfile, com o ritmo acelerado da escola para não estourar o tempo e após um considerável tempo sem tentar apagões, os componentes das alas demoraram a responder gerando um instante de silêncio que comprometeu o andamento do samba.

MorroDaCasaVerde et InterpreteWantuir

Samba-enredo

O samba do Morro da Casa Verde foi composto por Sidney Arruda, André Ricardo, Rubens Gordinho, Thiago SP, Douglas Chocolate, Ulisses Sousa, Jacopetti, Nega e Celsinho Mody, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo consagrado intérprete Wantuir. Considerado um dos melhores sambas do ano de 2024 em São Paulo, a obra se apresentou de maneira correra ao longo de boa parte do desfile, com o início da escola sendo o grande destaque aliado ao bom desempenho inicial da harmonia da escola.

MorroDaCasaVerde et 17

Evolução

­O quesito que mais causou problemas ao Morro da Casa Verde. O início vagaroso do desfile da escola comprometeu o andamento como um todo, e em dados momentos notou-se interrupções no fluxo do cortejo da escola. O receio de não fechar os portões no tempo máximo regulamentar fez com que a escola passasse a acelerar o passo, comprometendo consideravelmente a compactação das alas entre os módulos três e quatro.

MorroDaCasaVerde et Baiana

Outros Destaques

As baianas do Morro da Casa Verde vieram representando “A Realeza Ancestral”, se destacando dentre o conjunto visual da escola. A Rainha Bruna Costa deu o tom do ritmo da “Bateria do Morro”, comandada pelo mestre Fábio Américo. Os ritmistas da Verde e Rosa apresentaram um bom conjunto de bossas, que animaram o público ao longo da apresentação da escola.

MorroDaCasaVerde et RainhaBruna

Fotos: desfile do Morro da Casa Verde no Carnaval 2024

Equilibrada, Imperador do Ipiranga sonha alto ao falar do universo infantil

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

É difícil destacar um único quesito no desfile da Imperador do Ipiranga no Grupo de Acesso II em 2024. Bastante coesa, a agremiação foi a nona a se apresentar para defender o enredo “Desperte a Criança que Há Dentro de Você” e conseguiu destaque, entre outros motivos, pela ótima Evolução, por carros alegóricos bonitos e muito bem acabados e uma bateria com naipes pouco comuns hoje em dia. Encerrado em 49 minutos, o desfile empolgou componentes e arquibancadas.

Comissão de Frente

O tripé do segmento, que não era dos maiores no ensaio técnico e estava inteiro no ferro, enfim foi revelado: era uma espécie de cápsula do tempo em tons terrosos. Na coreografia em dois atos, destacam-se um homem aparentemente já na melhor idade em um momento e uma menina, chamada Yasmin, no segundo. O grande momento de toda a exibição se dá quando a criança interage com um pavilhão da escola, sendo erguida em tal momento. A explicação para tal dinâmica, importante para entender o desfile como um todo, pode ser conferida no quesito Enredo.

ImperadorDoIpiranga et Comissao1

Mestre-sala e Porta-bandeira

Após um ensaio técnico no qual Vitor Barbosa e Naiomy Pires enfrentaram fortes ventos, o desfile oficial teve condições climáticas bem mais favoráveis para eles. E, pensando nos quatro módulos de julgamento, em três deles não foram identificados erros – sendo que em todos os balizamentos obrigatórios foram realizados. Logo na primeira cabine, entretanto, foi notada uma dificuldade do casal para finalizar alguns dos movimentos propostos.

ImperadorDoIpiranga et PrimeiroCasal

Enredo

Para falar do universo infantil, a Imperador do Ipiranga focou nas lendas e imaginações das crianças. Palhaços, o bicho-papão e soldadinhos de chumbo, por exemplo, marcaram presença no desfile. Nesse ponto, a presença das alas “doces e guloseimas” e “pipas”, por exemplo, ganham espaço por conta de tudo que uma criança é capaz de imaginar utilizando tais itens. Basicamente resumido em referências, o desfile teve uma associação bastante clara, ganhando a simpatia de quem acompanhava a exibição. Também é importante pontuar o fio condutor da temática: na história proposta pelo carnavalesco Anselmo Brito, um homem de mais idade começa a recordar a infância e todos os brinquedos com que gostava de se divertir – e, a partir disso, todos eles foram ganhando espaço no desfile.

ImperadorDoIpiranga et 10

Alegorias

O abre-alas, intitulado “O Universo Infantil da Imaginação”, remetia a um parque de diversões ou a um circo – com atrações como uma roda-gigante, palhaços, carrosséis e espaço, até mesmo, para jogos eletrônicos portáteis. A alegoria, por sinal, tinha explosões de serpentinas e muito brilho. Já o segundo, “Reino Encantado”, altíssimo, tinha um castelo com destaque e uma bruxa levitando, chamado atenção pela movimentação suspensa no ar. Não foram identificados erros de execução e nem de acabamento em ambos e no tripé “Bicho Papão”, inteiro preto com um rosto em tons de amarelo e laranja.

ImperadorDoIpiranga et 9

Fantasias

A agremiação usou e abusou das cores e da criatividade para montar as fantasias em 2024. Se ancorando na temática infantil, também foram utilizados materiais como fitas e pompons, altamente integrados ao enredo. Alguns segmentos tinham identificação instantânea, como a ala 09, “Exército de Baralhos” – com uma roupa inteira preta e uma carta de baralho na frente.

ImperadorDoIpiranga et 7

Harmonia

Apesar da boa atuação do carro de som e do samba-enredo receber elogios da comunidade carnavalesca paulistana, o canto da escola foi irregular ao longo do desfile. A ala 01, “Palhaços”, por exemplo, tinha pouca força no canto. A já citada ala “Exército de Baralhos”, porém, contribuía bastante para o canto – e o segundo setor, é bem verdade, tinha rendimento superior ao primeiro. A comunidade crescia quando a Só Quem É, bateria da Imperador, executava um apagão na parte final da canção – ao todo, foram dois.

ImperadorDoIpiranga et 17

Samba-enredo

Todas figuras representadas figuram na obra – como o bicho-papão e palhaços em geral. Toda a canção, por sinal, é dedicada a momentos simples que toda criança costuma fazer: empinar pipa ou brincar com soldadinhos de chumbo, por exemplo. Na música, elas ficam juntas com situações que são desejos de todo pequeno e pequena – como brincar nas nuvens e vencer alguma partida de um jogo qualquer. Vale destacar que a obra buscou, até mesmo, inserir cada elemento na narrativa na ordem em que eles aparecem no desfile. Focando na referenciação de tudo que aparece no enredo, a canção foi muito bem defendida pelo intérprete Rodrigo Atração (fantasiado de palhaço). Dida, uma das integrantes do carro de som, veio como uma princesa, e os demais cantores estavam de boné, meia alta e shorts coloridos – tal qual um garoto levado. A obra, por sinal, foi composta por Xandinho Nocera, Nando do Cavaco, Fredy Vianna, Rodrigo Atração, Edson Liz, André Filosofia, Thiago SP e Ronny Potolski.

ImperadorDoIpiranga et SegundoCarro

Evolução

Enquanto outro coirmãs precisaram apertar o passo para não estourar o tempo limite, a Imperador teve ótima atuação em tal quesito. Novamente, o recuo da bateria foi um prenúncio do que estava por vir: os ritmistas ocuparam o espaço à frente do box, viraram o corpo e, depois, entraram em linha reta. A ala seguinte foi bastante célere ao ocupar o espaço deixado, em movimento que consumiu cerca de 70 segundos – ótima marca. Encerrado com alguma folga em relação aos 50 minutos tolerados pelo regulamento, o quesito teve especial contribuição para a ótima exibição da escola da Zona Sul.

ImperadorDoIpiranga et InterpreteRodrigoAtracao

Outros Destaques

Dentre os ritmistas, destacaram-se um pratista e um componente tocando reco-reco – instrumentos raros nas baterias paulistanas. A corte da Só Quem É, comandada por Mestre Thiago Praxedes, por sinal, tinha Kananda Santos (rainha), Jaiana Sales (musa), Victorya Menezes (princesa), Sarah Cristina Azevedo (Miss Simpatia) e Arthur Martins (malandro). Após o encerramento da exibição, as arquibancadas aplaudiram a atuação e os componentes, na Concentração, gritavam “É campeão”.

Fotos: desfile do Imperador do Ipiranga no Carnaval 2024