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Série Barracões: Em Cima da Hora luta por um carnaval com a escola mais impactante

A Em Cima da Hora levará para a Sapucaí em 2024 uma mensagem muito poderosa: a luta contra a precarização do trabalho, a importância da classe operária e toda a questão do trabalhismo no Brasil com o enredo “A Nossa Luta Continua!”. O desfile, que terá a assinatura dos carnavalescos Rodrigo Almeida e Ricardo Hessez, busca homenagear aqueles que contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento do país. O enredo surgiu como uma sugestão da diretoria da escola, e o carnavalesco Rodrigo compartilha como o tema é relevante para o pavilhão que carrega a tradição de abordar questões sociais em seus desfiles. O tema de 2024 destaca a fragilidade da sociedade diante de diversas questões e ressalta a importância de dar voz aos temas abordados. Durante a pesquisa, Rodrigo encontrou elementos que destacam a vulnerabilidade das pessoas diante de diversos desafios, contribuindo para uma análise mais profunda sobre a realidade social.

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“Esse enredo foi solicitado pela escola, pela diretoria da escola na época, e é um enredo que tem muito a ver com a escola, porque a escola tem temas sociais já há muito tempo e a escola tem uma sorte muito grande de falar de alguns lamentos como os sertões, o 33. Então, calhou de ser um enredo que fosse a cara da escola e no momento de retomada foi escolhido para desenvolver esse carnaval. Eu acho que o enredo mostra para gente durante a pesquisa o quanto a gente é frágil perante tanta coisa. A gente acaba não tendo voz para nada, e a gente só consegue enxergar isso quando para e faz uma análise assim, meio que de fora”, comentou Rodrigo.

Rodrigo, em entrevista para o CARNAVALESCO, destaca que o trunfo do desfile deste ano será a busca por uma entrada da escola mais impactante, com alegorias e fantasias de alta qualidade. Ele ressalta que o enredo “A Nossa Luta Continua!” vai além do espetáculo visual, buscando mexer com as emoções do público na Avenida, promovendo uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela sociedade.

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“Eu acho que a gente está buscando uma Em Cima da Hora maior, mais competitiva, uma entrada de escola muito forte, alegorias muito bem acabadas, a gente está batendo muito nessa tecla, fantasias com mais volume, mais cores. Eu acho que o trunfo também é o enredo, mexer com as pessoas, cada um se entender e perceber o que está acontecendo de fato com a vida da gente”, compartilhou Rodrigo.

A precarização dos barracões da Série Ouro é apresentada como um grande obstáculo para o desenvolvimento do Carnaval da Em Cima da Hora. Rodrigo compartilha suas experiências, desafios com a umidade nos barracões e a falta de infraestrutura adequada e também expressa seu comprometimento em superar as dificuldades. “Se você olhar ali fora, você vai ver que está chovendo a beça. Já parou de chover na rua, mas vai chover aqui dentro. Acho que questão de altura, largura, saída de carro, esses barracões eles são muito antigos, são muito úmidos, então a gente vai tentar pintar uma escultura, escultura não seca, a escultura mancha, a gente vai empastelar uma escultura, escultura não seca, acaba caindo, escorrendo a fibra, então eu acho que esses são os principais pontos assim, de não ter um local para receber as pessoas, para dar mais conforto aos funcionários, as pessoas que estão trabalhando”.

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Diante dos desafios, o carnavalesco enfatiza que o truque para levar a escola para a avenida é continuar trabalhando incansavelmente, destacando o desejo de transformar a Em Cima da Hora em uma verdadeira obra de arte. Ele ressalta o comprometimento de todos os envolvidos para garantir que a escola se destaque no Carnaval de 2024.

CONHEÇA O DESFILE DA ESCOLA

A Em Cima da Hora será a segunda escola a desfilar no sábado, 10 de fevereiro, usando cinco bases, que são quatro carros alegóricos, um acoplado, mais duas alegorias e um tripé.

Setor 1: “A abertura da escola é uma indagação, na verdade, a todo mundo. A gente se pergunta na abertura da escola, isso foi importante na época de criar o enredo, foi, você viu a sua mãe envelhecer? Se você tiver filho, você viu o seu filho crescer? Você viu o seu pai nesse tempo todo? A gente quer indagar isso. O tempo é o dono de tudo, e o tempo é o primeiro setor da escola. A gente pega essa robotização porque é o robô, porque não é o robô que a gente conhece, futurista, tecnológico. É a alma humana que vai embora e deixa a carcaça meio robotizada. Então, esse é o primeiro setor da escola, essa indagação do homem, do tempo, da robotização, do deixar de ser humano, de se transformar em um zumbi tecnológico que tenha que trabalhar”.

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Setor 2: “No segundo setor, a gente vai narrar, basicamente, as lutas, as revoltas, os manifestos que fizeram nascer a consciência de um socialismo, que fizeram nascer a consciência de um ideário, de que, poxa, se eu trabalho aqui, você trabalha aqui e ele trabalha, todos nós trabalhamos juntos, nós temos direito a alguma coisa. A gente precisa entender, e para isso houveram manifestos, revoltas, revoluções, que foi essa consciência surgindo coletiva. A gente vai encerrar esse setor com os direitos trabalhistas da era Vargas, a manipulação criada por Vargas para conseguir votos e tal, apoio popular, e a gente vai encerrar esse setor com o pau de arara, a imigração do país nesse momento. A imigração do país é importante porque é nesse momento que a gente se conhece como povo, como cultura, é nesse momento que sem internet, sem telefone, sem whatsapp, sem nada, a gente começa a ver o folclore nordestino, a gente começa a ver os folguedos do centro -oeste, esse país começa a se misturar e se reconhecer como país.Então esses trabalhadores não carregam só esse pau de arara, ele não carrega só pessoas, ele carrega sonhos, desejos, saudades e muita cultura”.

Setor 3: “A partir desse setor a gente vai falar um pouco dos tempos um pouco mais atuais, a gente vai narrar a ditadura, as flores vencendo canhões, a gente vai falar do operário do ABC que veio, lutou e foi voz e é voz de uma quantidade imensa de pessoas, apoiados e debruçados sobre a música de Chico Buarque, linha de montagem, nós novamente vemos uma sinfonia de pistões e engrenagens montando coisas na avenida, ou seja, o homem nunca vai deixar de ser robô porque ele precisa permanecer dessa maneira para que ele sustente, a sua família, sua vida. E a gente encerra esse setor com a luta feminista dos direitos trabalhistas para as mulheres, as sufragistas, é um encerramento bem interessante de setor, onde a gente vai mostrar imagem bem impactante, reproduzidas nesse tripé”.

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Setor 4: “O quarto setor vai narrar os dias atuais. Então a gente pega pontos incríveis do Brasil, como por exemplo a construção civil, que cria coisas maravilhosas que só existem aqui, os nossos ambulantes, nossos camelôs, o Rapa, a galera que está na rua, que está fugindo de policial, que está tentando defender o seu. A gente fala dos professores porque sem essa profissão não há mais outra profissão no mundo, não importa se você tem faculdade, se você não tem faculdade, algum tipo de professor na vida você teve, nem que seja sua mãe, seu pai, sua tia, alguém que estava do seu lado, elas te ensinaram alguma coisa e a professora é a base de tudo”.

Setor 5: “A gente vai falar e a gente vai encerrar esse carnaval com a retomada do Morro da Primavera, com essa nova Em Cima da Hora e os trabalhadores da Intendente Magalhães. A gente vai fazer um carro para homenagear essas pessoas que estão lá embaixo e elas precisam sim ser conhecidas. Eu sou um artista que veio da Intendente Magalhães, que estou na Intendente Magalhães e eu quero que esse pessoal seja reconhecido. Vamos dar luz a essa galera, o carro é bem mais com uma pegada luxuosa e é um barracão de escola de samba com coisas acontecendo ao vivo, pinturas, esculturas, costureiras e esse pessoal da Intendente Magalhães sendo homenageado, que para mim é o mais emocionante”.

Bruno Ribas completa 21 anos como cantor e sonha com a consagração da UPM: ‘A gente está lutando para esse objetivo’

O intérprete Bruno Ribas consagrou o segundo ano na Unidos de Padre Miguel completando 21 anos de carreira em 2024. Ele, que já passou por diversas agremiações, como: Portela, Grande Rio, Império Serrano, Imperatriz e Mocidade, mais um ano desfila na UPM. A vermelho e branco se apresenta no dia 10 de fevereiro, a quinta escola, com o enredo “O Redentor do Sertão”.

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“Sabe aquela questão de você estar bem preparado? E na luta, as pessoas dizem que treino forte, luta fácil. Na verdade, a UPM faz treino forte para fazer um combate árduo, para passar aqui arrancando pedaços do asfalto na Sapucaí. É isso. O que eu espero é a continuidade do que a gente já vem fazendo. A gente está lutando e lutando realmente para chegar a esse objetivo. A gente vai desfilar com muita garra, com muita emoção. Tudo vai gerar um misto de sentimentos”, disse Bruno Ribas.

Para ele, o trabalho do carro de som e da bateria está pronto. E, ainda, brinca sobre o trabalho que será feito na semana que falta para o desfile oficial. O samba de 2024 está na boca da comunidade da Vila Vintém, mas, especialmente, a abertura vem sendo muito elogiado. É um destaque especial do samba que inovou e deu novos olhares à escola.

“A abertura da largada foi feita pelo Caio Pascoal, que é diretor de tamborim. A gente não sabia que ele cantava e um dia ele me ligou, me sugerindo a abertura. E aí eu falei, nada mais justo que você cantar. Botei ele no disco. Essa criação do Caio, é uma grata criação, a gente agradece ao Caio. Nós montamos isso tudo com Júlio Assis que é o nosso diretor musical”, comenta o intérprete.

As trocas na Padre Miguel são muitas, entre o próprio carro de som, mas também com a bateria. Bruno divide a avenida com o mestre Dinho e comenta que há sintonia, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

“Bateria e carro de som são uma coisa só aqui e em termos musicais são uma coisa sem qualquer lugar. Nós temos vários lugares que não tem uma grande oportunidade, mas de toda certa, graças a Deus e a todos os orixás, aqui funciona muito bem. Até porque o meu relacionamento com o Dinho é de muita proximidade, nos tratamos como familiares, como primos. Tem muitos anos que a gente tem vontade de trabalhar um com o outro. O momento chegou e a gente simplesmente cortou essa prática, e está aí, o resultado é esse, bacana”.

Completando a “maioridade” em sua carreira musical, no ano de 2024, o cantor fala que é um prazer comemorar a frente do carro de som da Unidos de Padre Miguel.

“É um motivo de orgulho, festa, alegria, porque eu sempre fui padrinho do carro de som daqui da UPM. Minha vida inteira e nunca consegui trabalhar aqui. Agora eu tenho a oportunidade de estar comemorando a minha maior idade musical aqui dentro, aos 66 anos dessa agremiação. Olha é legal que tudo no seu tempo, não tem não tem como falhar com Deus”.

Bruno Ribas, ainda nas comemorações musicais, comenta como foi fazer a produção da faixa oficial da Unidos para o álbum da Série Ouro, junto com intérpretes renomados do carnaval carioca como: Neguinho da Beija-Flor, Tinga, Ito Melodia, Emerson Dias, Wantuir, Marquinho Art’Samba, Serginho do Porto, Leozinho Nunes, Clovis Pê e o compositor Lequinho.

“A reunião com grandes amigos e meu tio Neguinho que é meu padrinho, foi exatamente pra emplacar os 21 anos. Foi para anunciar que a minha vida toda tá ligada a aquelas pessoas que estavam ali presentes. Todos aqueles que estavam ali presentes têm um sentido muito positivo dentro da minha carreira. Todos contribuíram pra que eu chegasse aqui aos 21 anos, porque várias vezes eu quis parar e teve muito amigo que falou ‘Cara, não faz isso e tal’. Hoje eu tô aqui conseguindo chegar a 21 anos de carreira e é só alegria, só festa”.

Neguinho da Beija-Flor, um grande cantor no mundo do samba e dindo de Bruno Ribas, é uma das maiores inspirações de seu afilhado.

“O Neguinho da Beija-Flor é minha inspiração, em qualquer lugar que eu vá. Em qualquer lugar que eu pense em referência, eu penso em Neguinho da Beija-Flor. Esse cara é minha referência, é minha inspiração, é meu tudo”, finaliza o cantor.

Selminha Sorriso: Uma linda história de 35 anos de Avenida

O feito notável de Selminha Sorriso, que completa 35 anos desfilando como porta-bandeira neste Carnaval, merece ser celebrado. Em uma entrevista emocionante ao site CARNAVALESCO, ela abriu seu coração, compartilhando detalhes sobre sua longa trajetória, a emoção de atingir esse marco significativo, o desfile que considera o mais marcante de sua vida e sua parceria duradoura com Claudinho.

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Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval

“Quando eu olho para trás, eu me emociono muito, porque ser porta-bandeira, exercer esse ofício, é meu sonho de menina. Então, imagina você realizar o seu sonho há 35 anos. Cada vez que eu adento na Marquês de Sapucaí, eu lembro dos meus sonhos, da minha infância, da minha história, tantas coisas que eu vivi. Nem tudo é mar de flores. Então, imagina você completar 35 anos, muitas das pessoas que torcem pela Beija-Flor nem eram nascidas, e hoje beijam o pavilhão, tiram foto com a Selminha, participam do projeto social no Instituto Beija-Flor, na modalidade que eu ministro as aulas, que coordeno. Meu filho não era nascido. Então, cada vez desses anos todos, eu falo Deus muito obrigado, Deuses do samba, gratidão, porque é mágico. Você saber que você está todo ano ali, porque é uma função que depende de muitos fatores. Vontade das partes, ou seja, do casal e da escola, saúde, vigor, renovação sem perder as tradições, você manter o padrão de qualidade, respeitar as pessoas e preencher as expectativas delas, então é gratidão”, compartilhou Selminha.

Selma de Mattos Rocha, conhecida como Selminha Sorriso, iniciou sua trajetória no Carnaval em 1986, desfilando pelo Império Serrano. Inicialmente, atuando como passista, em 1991 fez sua estreia como porta-bandeira após passar seis meses se apresentando em casas de show no Japão. No ano seguinte, ao lado do mestre-sala Claudinho, desfilou pela Estácio de Sá, contribuindo para a conquista do primeiro título da escola em 1992.

A dupla, Selminha Sorriso e Claudinho, consolidou sua parceria ao longo dos anos e, em 1996, passaram a desfilar pela Beija-Flor. Juntos, conquistaram impressionantes nove títulos para a agremiação, contribuindo significativamente para o sucesso da escola de Nilópolis.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnavl

“Tem o Claudinho e a Selminha, mas tem todo um contingente de pessoas que trabalham, daqueles que torcem, os que estão presentes, que estão à distância, então todo esse sentimento é um sentimento que eu agrego na minha dança, entendendo que eu tenho um sonho, mas as pessoas também têm um sonho. E esse pavilhão que eu conduzo representa a coletividade, passado, presente e futuro. Então, imagina quantas histórias nós vivemos, eu e o Claudinho, conduzindo esse manto sagrado. Então, é assim, respeita a minha história, porque é uma história construída com amor. Não é uma história construída na era global, é uma história construída de uma menina que estava com o pé no chão, correndo na comunidade e que viu uma porta-bandeira dançar e disse essa função que eu quero exercer dentro dessa escola de samba”, citou Selminha.

Selminha também compartilhou sobre o que se passa em sua mente, comparando a Selminha do início de sua jornada com a Selminha de hoje. Ela desabafou: “É sempre um sonho. Essa história dessa arte mudou a história da minha vida. Consequentemente, eu mudei a história de algumas pessoas e o meu compromisso cada vez é maior. O meu amor, a minha entrega, a minha responsabilidade de entender que a minha arte é para o coletivo, não é individual, eu acho que é sempre um sonho”.

Sobre o desfile que marcou profundamente sua vida, Selminha conta que foi o realizado em 2001, pela Beija-Flor. Esse desfile foi significativo por unir dois sentimentos essenciais em sua vida: o sonho de ser porta-bandeira e o sonho da maternidade.

“O desfile que eu posso mencionar e que une dois sentimentos, que é o sentimento do sonho da porta -bandeira, de realizar o sonho da menina, mas também o sonho da maternidade, foi em 2001 que foi o meu desfile de sentimento intenso, grau máximo de sentimento, porque eu estava realizando meu sonho depois da gestação, de ter ficado com o meu filhinho guardadinho oito meses, ele nasceu de oito meses, e depois realizar o sonho de estar ali dançando e voltar para casa para abraçar meu filho. Foi uma cesariana, não foi fácil, eu tive dois meses para emagrecer, tive dois meses para me recuperar, tive dois meses para entender que era um trabalho sério que envolvia todo um sentimento de torcedores, de apaixonados, de trabalhadores. Então, eu tinha que responder tudo que a escola fez por mim. A escola me esperou, a escola acreditou que eu me recuperaria”, expressou Selminha.

A grande porta-bandeira de Nilópolis não mediu palavras ao expressar seu amor pelo pavilhão e a importância desse sentimento que a conecta à escola há quase 29 anos: “O meu amor pela Beija-Flor, eu amo todas as escolas por onde eu passei, agradeço todas, e as pessoas que torceram por mim a minha vida inteira e torcem, mas esse sentimento de você defender um pavilhão, na verdade, conduzir e proteger há quase 29 anos, é uma vida”.

A Beija-Flor será a segunda agremiação a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no domingo de Carnaval, sendo a primeira vez na história da escola que ela desfilará nesta posição e Selminha revelou sua expectativa para o desfile, destacou a diferença e o entusiasmo de chegar com a luz do dia na avenida, reconhecendo a oportunidade de fazer história ao desfilar no domingo e, principalmente, nesta posição e compartilhou a emoção de saber que a Beija-Flor tem a chance de entrar para a história, como poucas escolas que ganharam no domingo e em uma posição tão especial.

A mensagem final de Selminha Sorriso é poderosa e carregada de significado. Ela destaca a importância de respeitar sua trajetória, pois é uma história construída com amor. Ao relembrar os primórdios de sua jornada, Selminha enfatiza que sua inspiração veio de uma porta-bandeira de uma escola simples, sem glamour, mas com sonhos e amor.

“Essa é a mensagem que eu deixo, respeitar a minha história, porque é uma história de amor. O mundo não sabia nem quem era o mundo, porque o mundo não conseguia se ver em tempo real, e era o que eu queria exercer. Então, não tinha glamour, tinha sonho, tinha amor, e a minha inspiração foi uma porta-bandeira de uma escola simples, não existia pavão, era um vestido de tecido, mas a porta-bandeira sempre é uma rainha e sempre será. Então, mesmo se ela estiver com o vestido de chita, o tecido mais barato e o sapato mais barato, ela vai ser sempre uma rainha, porque essa função é uma função escolhida pelos deuses”.

Com homenagem a Helena Theodoro, Mocidade Unida da Mooca aposta em conjunto estético

A Mocidade Unida da Mooca busca seu primeiro acesso na história para o Grupo Especial, para isso, terá o enredo ‘Oyá Helena’, uma homenagem para a Helena Theodoro, uma renomada escritora, pesquisadora e professora do Brasil, além de claro, uma sambista de raiz. A MUM será a última escola a entrar no Anhembi em disputa no carnaval de 2024, será a oitava no Grupo de Acesso I, no domingo, dia 11 de fevereiro. O site CARNAVALESCO visitou o barracão da MUM ainda no fim de 2023, e conversou com o carnavalesco, o jovem Caio Araújo, que vai para o seu segundo trabalho, o primeiro solo, como carnavalesco nas escolas de samba de São Paulo.

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Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

‘Oyá Helena’, conheça o enredo da MUM

O enredo da Mocidade Unida da Mooca, vulgo MUM, surgiu através da jornalista esportiva da Rede Globo, Ana Thaís Matos, que é noiva do presidente Rafael Falanga, que inclusive a pediu em casamento na véspera de um ensaio técnico no ano passado. Pois, Helena Theodoro surgiu através da jornalista e aprovada por Falanga e Caio, virou o enredo da escola, seguindo uma linha lógica de enredos há alguns anos, como explicou o carnavalesco da MUM.

“Olha, a “Oyá Helena” é uma homenagem para Helena Theodora, e veio de uma ideia do Rafael e da esposa dele, a Ana Thaís, né? A Ana Thaís é uma grande fã do trabalho da Helena e ela foi apresentando para o Rafa, enquanto o Rafa foi apresentando para mim. Quando eu fui conhecendo mais a fundo a obra de Helena e mais do que a obra conhecendo a vida dela. Falei que essa mulher tem que ser enredo. É uma figura muito relevante culturalmente para o país, mas uma figura que também fala muito dos afetos que a gente constrói dentro do samba, sabe? E muito da construção do nosso enredo vai por esse caminho. A Helena está completando 80 anos esse ano. Ela começa a construir o legado do trabalho dela com 13. Então são muitos anos de trabalho para poucos setores de desfile. Então a gente tem que fazer algumas escolhas em como conduzir essa história. O que eu escolhi para contar um pouco desse legado da Helena, foi entender quais eram os pilares principais do trabalho dela. E aí, a partir deste momento entender como a gente dentro do Samba é capaz de conhecer diversas Helenas. E aí no final das contas é onde esse enredo vira uma homenagem para todas as mulheres pretas do carnaval”.

Descobertas na pesquisa

Durante a pesquisa, o que encontrou de interessante, o carnavalesco Caio Araújo nos contou descobertas históricas: “Em todos os setores tem alguma coisinha que inspiraram muito visual da escola e que eram informações que eu desconhecia. Então a origem de onde vão aparecer os primeiros cultos a Iansã, inspiraram muita estética da abre-alas, a relação da Iansã com os elementos, ela não é só o orixá do vento, né? Ela tem também relação com fogo, mas o nome da Iansã vem de um rio. Então ela também tem uma relação com a água e eu desconhecia, isso também vai aparecer de alguma forma no nosso desfile. Inclusive os cultos a Iansã, eles vão começar a nascer justamente nos impérios que cresceram nas margens desses rios, que hoje em dia é o rio Níger, que corta a Nigéria de ponta a ponta. Então todos os impérios que foram crescendo em torno desses foram tipo desenvolvendo cultos a Iansã. E aí tem um império principal ali onde a gente encontra os primeiros relatos de culto a ela, esculturas em homenagem a Iansã e que é esse Império inspirou ali a estética do abre alas. Todo o contexto de estudar revolução salgueirense é apaixonante, é que é isso, você entende, a gente entende o que é o poder numa escola de samba, mas você vê isso acontecendo nos anos 60, é muito potente e o trabalho da Helena, ele está sintetizado no último carro”.

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Revelou também a importância da pesquisa nas obras de Helena, e claro, nas recorrentes conversas feitas com a artista: “Acho que ali eu conversando com ela, lendo as publicações dela. Vem nessa relação que ela estabelece entre homem natureza e orixá, né? O orixá é uma manifestação da natureza e nós enquanto humanidade. Acabamos se afastando muito da natureza, mas somos parte dela também. E aí a Helena tem todo esse esforço de fazer essa aproximação de novo do homem com a natureza, porque aproximar o homem da natureza é aproximar o homem do Orixá, e isso tá ali traduzido também de uma certa forma nessa biblioteca do último carro”.

Alegorias da MUM prometem mais uma vez

Com uma temática que exige um estilo diferente em cores, Caio Araújo revelou que a MUM sairá um pouco das cores do seu pavilhão, vermelho e verde, tem motivos: “Esse ano a MUM vem bem colorida, ela não vem ali muito ligada as cores do pavilhão, elas vão aparecer em determinado momento, principalmente o vermelho, mas não são as cores básicas do nosso desfile. A gente vai abrir baseado na Iansã, mãe do céu do entardecer. Que é uma Iansã que se relaciona mais com o rosa e com laranja. Então a gente vai ter uma abertura que vai puxar para o rosa e para o laranja e para a cor das paramentas dela são cor de cobre na verdade. E aí vamos fazendo uma transição para cores quentes no segundo setor para falar dessa herança toda que a Helena constrói dentro do Salgueiro. E depois vamos fazer uma transição para cores frias, então terminamos o nosso desfile tipo com tons de azul, de roxo, lilás e bastante dourado. Mas fomos para um caminho bem diferente assim de cor esse ano, abandonamos um pouquinho as cores da escola, mas tivemos que dar por enredo as cores que ele pediu. Então abrimos mão um pouquinho ali, tentando colocar onde é possível, mas fomos nessa pegada de levar realmente as cores que o enredo pede”.

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Tradicionalmente a MUM tem feito grandes apostas alegóricas, seja na beleza, riqueza ou no tamanho das estruturas. Para 2024, não será diferente como contou o Caio Araújo: “Vamos vir com as alegorias grandes novamente. É um projeto que é maior que o do ano passado, é maior do que o projeto do Santo Negro da Liberdade, principalmente o abre-alas. Creio que é o segundo maior abre-alas da Mooca, talvez só perca pro abre-alas do de 2019, mas é um carro grande e detalhado, a gente vem com todos os carros tipo grandes assim. Vamos fazer bastante uso de tripé esse ano também que é uma ferramenta que o regulamento proporciona para nós. Dá soluções visuais interessantes na avenida e ajudam a contar histórias. Então vamos ter alegoricamente uma escola grandiosa. Em termos de fantasia também, aumentamos o tamanho do costeiro, deixou as fantasias mais volumosas, a comunidade na Mooca gosta de vir com costeiro grande, eles não curtem quando vem a fantasia ali com costeiro pequenininho ou sem costeiro. Então vamos vir com uma escola grandiosa, volumosa. com volume de desfile, sabe? Vai ser vai ser legal”.

A aposta no conjunto alegórico: Tem um quadripé na abertura da escola. E ao longo do desfile a gente vai ter seis tripés na frente do abre-alas. O abre-alas são dois chassis, mais dois carros e mais quatro tripés que vão vir na cênica que vem na frente do terceiro carro. Então estamos nessa proposta de criar uma dinâmica visual diferente do desfile, sabe… De não ser só ala, ala, ala carro, queremos colocar ali algumas coisinhas, algumas diferenças ali no meio do desfile para deixá-lo mais dinâmico visualmente. As pessoas têm sempre uma novidade para ver ali no desfile”.

Grande aposta do desfile

É difícil perguntar para um carnavalesco da sua maior aposta, entretanto, Caio Araújo apontou dois momentos que considera como diferenciais: “Aposto muito na abertura como um todo, desde a comissão até ela abre-alas. É o trabalho do Nildo na comissão. Então já vocês já sabem como é, dá para esperar um grande espetáculo dele. O coreógrafo Nildo é muito bom. E é muito gostoso trabalhar com Nildo. E o terceiro carro, aposto bastante no terceiro carro. Ele traz uma linguagem um pouco diferente do que estamos acostumados de ver aqui em São Paulo. Então aposto muito no terceiro e nesta abertura, da comissão até abre-alas, vai ser um conjunto bem bonito”.

Proposta de temas fortes

O carnavalesco Caio Araújo ressaltou a sequência de escolhas de enredo como foi no caso de ‘Oya Helena’, e o momento vivido pela MUM que busca o primeiro acesso à elite em sua história: “É importante olharmos para escola de samba e sempre tirar coisas boas de dentro dela, sabe? A Mooca é uma escola que está construindo um caminho muito legal e desde antes de vir para a Mooca já tava tipo de olho nela e admirando o trabalho estava sendo feito aqui dentro de resgate de bons enredos e de entender a importância de você contar uma boa história na avenida e de entender a importância de você ter um grande samba. A Mooca é essa escola que é corajosa no sentido de bancar decisões que favoreçam o espetáculo, que favoreçam o show do carnaval. É sempre importante ressaltar e exaltar isso de como a Mooca está construindo a história dela dentro do carnaval. Isso é uma escola que entende os quesitos de base, que os mais importantes são o samba e a história que estamos contando na Avenida. Se não tivermos uma boa história e um bom samba, podemos passar com o desfile mais lindo do mundo que ainda assim ele não vai ser relevante. Ele vai ser ali um momento de uma hora e cinco que vai estar passando na Avenida, pode ser campeão, até, mas que no final das contas não vale a pena. É isso, entender a relevância, o poder de uma escola de uma escola de samba e levar isso para frente. Isso é muito bonito na Mooca, é um projeto de escola, não é um projeto de carnavalesco e não é um projeto de pessoas que passaram por aqui ou que vão passar por aqui. É um projeto da diretoria e de como a diretoria entende que deveria ser o carnaval, essa necessidade de sempre dar um espetáculo grande pro público. É muito legal, eu acho que sempre tem que ser exaltado. E ouçam bastante Samba da Mooca que tá belíssimo, ‘Oya Helena’ vai dar muito certo na avenida”.

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E agradeceu o artista André Rodrigues pelo início do trabalho na agremiação da Zona Leste de São Paulo: “O André faz um trabalho muito importante aqui, né, André Rodrigues que agora tá lá na Portela quando ele faz primeiro ali a ‘Santíssima Trindade de Oyo’, depois ele vai fazer ‘Abdias do Nascimento’ e acho que isso também ajuda a escola a entender muita coisa. Fica essa semente dele aqui que agora está germinando. O André é um artista tão potente por conta disso também, ele sabe plantar sementes ali nos lugares certos e a Mooca foi a escola certa para essa semente que ele plantou germinar e no final das contas é carnaval, tem que ser do jeito que a Mooca propõe assim, pensa esse espetáculo. Tem que olhar para trás, tem que olhar para frente. A Mooca é essa escola que equilibra muito bem a tradição com um novo”.

Conheça o desfile

Setor 1: “Vamos descobrindo que a Helena desde criança já recebe esse estímulo do pai e da mãe, a educação, a frequentar a escola de samba e os terreiros. Então ela tem essa religiosidade, essa relação com samba construída muito estreitamente desde muito cedo. Isso vai construir todo o repertório dela que vai mais tarde se transformar no trabalho acadêmico da Helena, então a gente começa o desfile justamente falando dessa mulher que nasce nesse contexto de país que introduziram ela já essa herança preta ancestral que existe aqui no Brasil. E a partir disso, a gente vai mostrando o legado da Helena. E aí a ideia é que na nossa abertura colocamos essa coisa do nascimento de Helena sob as bençãos de Iansã, como uma tempestade de mudança no dentro do da cultura e da construção do academicismo intelectual do Brasil. O nosso abre-alas é justamente isso, é sobre a filha de Iansã, a tempestade da mudança e a gente faz essa relação muito estreita também por dois fatores, né. Helena, filha de Iansã, tem um livro que é todo dedicado a falar sobre a Orixá. E por conta do que aconteceu conosco no ano passado, né? Depois do desabamento dos carros por conta da ventania, então a gente achava que também era importante homenagear Iansã e Oyá no nosso enredo. E aí no ano passado a gente fala desta tempestade que veio para o mal que nos prejudicou, mas essa tempestade também pode vir para o bem e aí a gente coloca a Helena como a grande tempestade que vem pro bem, ela foi um agente de transformação. Foi a primeira mulher preta a fazer mestrado no Brasil. Foi a mulher preta que colocou conhecimentos pretos dentro da Universidade do Brasil, antes dela isso não existia. Então essa é a grande mudança que ela vai propor, sobre as bênçãos de Iansã, ela vai promover essa mudança dentro do ensino do Brasil. E aí esse repertório se constrói dentro do terreiro, então vamos valorizar neste primeiro momento, a Helena dentro do terreiro descobrindo a religiosidade e a relação dos orixás com a natureza. E como a força deles age ali dentro do nosso mundo.

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Setor 2: “A partir deste momento que a gente passa do nascimento da Helena para a juventude adolescência dela, vamos ter essa Helena crescendo literalmente dentro do Salgueiro. Então é uma mulher que vai pegar ali toda revolução salgueirense dos anos 60, onde começam a aparecer personagens importantes da história preta do país, Zumbi, Chica da Silva, Chico Rei, são personagens que o samba popularizou, não foram os livros de história, não foram as academias. Foi o samba e o Salgueiro ali nos anos 60 que traz esses personagens pro imaginário popular. E aí paramos para pensar numa criança preta dentro de tudo isso e crescendo com essas referências, então vemos a escola de samba, realmente é exercendo o seu papel de escola. Daí entendemos toda a potência que uma escola de samba tem, a escola de samba não é só uma festa que a gente faz uma vez por ano em fevereiro. Ela é também produtora de um conteúdo intelectual tão relevante quanto qualquer universidade. Se a gente não tivesse Salgueiro nos anos 60, talvez não tivéssemos ainda descoberto esses personagens ou teria descoberto eles por outras fontes, mas é importante entender a revolução cultural que uma escola de samba é capaz de propor e a Helena aprende isso na adolescência dela e vai transportar isso mais tarde para o trabalho que é quando a gente já vai chegar no desfile na vida adulta de Helena. Que Helena pega a Academia do Samba e vai levar um samba para academia, né? Então, Helena vai pegar todos esses conhecimentos que ela adquiriu ao longo da vida nas escolas de samba e nos terreiros vai levar para dentro de uma faculdade que é absolutamente embranquecida. Onde só existiam referências europeias e aí ela vai falar ‘não essas referências não começam ali na Europa’. Se falarmos de filosofia, que é ali a primeira formação de Helena, a filosofia não começa na Grécia, os filósofos gregos foram estudar no Egito, um país africano com dinastias pretas e que construiu boa parte da base do conhecimento ocidental.

Setor 3: “E aí a gente passa neste último setor por esse processo de empretecimento da academia onde Helena vai tirando essas referências brancas e vai colocando referências pretas dentro do Imaginário do Brasil. Aí a gente chega no último carro que é uma celebração ao trabalho da Helena e que é também um grande resumo do nosso enredo. O carro é uma grande biblioteca, mas não é uma biblioteca como a gente conhece porque esses conceitos mudam também com a Helena, então não era simplesmente colocar um monte de estante com livrinhos ali, que iam dar conta de falar de tudo que o trabalho de Helena representa e do que a figura dela representa. O que acho muito interessante na figura dela, é isso a gente conhece dentro dos sambas, muitas mulheres pretas que começaram a frequentar terreiros muito cedo, que entendem o poder de uma escola de samba e a ideia que todas essas mulheres olhem para Helena Teodoro, conheçam o trabalho dela e se identifiquem. Ali que a gente vai ver que dentro de cada escola de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro vai ter muitas Helenas Teodoros, muita mulher preta foda ali pra gente admirar e tomar como um norte sabe que são verdadeiros agentes de transformação da mesma maneira que Helena foi. E acho importante a gente falar da Helena, porque é isso ela fez essa mudança tão grande dentro da do ensino brasileiro e ainda assim ela não é uma figura extremamente popular. Ela é mais popular dentro do nicho do samba. É legal que a gente populariza o nome dela, entenda a importância e relevância dessa mulher que desde cedo ali, desde os 13 anos, ela já começou a colocar os dois pés no peito ali para falar ‘ó a herança do povo preto é tão relevante tão importante quanto qualquer outra que a gente a valoriza nesse país’. E é esse o caminho que a gente vai levar. Vamos falar muito do legado dela para construir esse imaginário de quem é Helena Theodoro e do porque ela é tão relevante e tão importante no nosso país”.

Ficha técnica
3 alegorias
15 alas
10 tripés (um quadripé)
1300 componentes
Diretor de barracão – Diego Falanga
Diretor de ateliê – Cristiano

Com perfeição nos quesitos, caravana cigana da Imperatriz mostra escola pronta para brigar pelo bicampeonato

Por Lucas Santos, Allan Duffes, Luan Costa, Maria Clara Marcelo e fotos de Nelson Malfacini

Optchá! A caravana da Imperatriz está em festa! E não é só pela honra de fechar os ensaios técnicos como campeã do carnaval passado, mas por ser hoje uma escola que tem trabalhado profundamente para não só se contentar pelo título e pela virada positiva que a escola tem passado nos últimos anos, mas, principalmente, por continuar brigando lá em cima e voltar a almejar o desejo de empilhar conquistas como no início dos anos 2000. Nesta noite de alto nível no sambódromo em que Mangueira e Viradouro já haviam realizados grandes ensaios técnicos, a Imperatriz não se intimidou e mostrou porque é a atual campeã, apresentando excelência e correção nos quesitos, um canto muito forte da comunidade, uma evolução fluída e cadenciada, mas, tudo isso, com uma dose de picardia, de emoção, de troca com o público, elementos que o carnavalesco Leandro Vieira prometeu trazer para a escola desde o ano passado e que é cada vez mais realidade na Rainha de Ramos. Apelidada pelo carnavalesco em suas redes como “ex-certinha” de Ramos para não rotular a Imperatriz como uma agremiação fria e de qualidades somente técnicas, a escola ainda continua desfilando muito bem como no final dos anos 90, início dos anos 2000, mas agora cada vez mais quente na Avenida. O bicampeonato, que nenhuma escola conquista desde a Beija-Flor em 2007/2008 é um objetivo palpável para a Verde e Branca da Leopoldina. O sonho pode virar realidade mais uma vez.

Em 2024, a Imperatriz vai levar para a Sapucaí o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, do carnavalesco Leandro Vieira. Buscando o bicampeonato, a Verde e Branca de Ramos irá encerrar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.

“Hoje foi o retrato do tanto que a gente trabalha e trabalha. É ensaio na chuva, ensaio sem chuva, ensaio sexta, ensaio domingo, é trabalho mesmo. E esse belo ensaio que fizemos hoje é realmente reflexo de tudo que a gente faz na Rua Professor Lacê. A escola está muito bem em harmonia. A escola está feliz, o povo abraçou o samba, aqui é um retrato disso. Faltando uma semana a gente vai trabalhar, trabalhar, trabalhar até fechar o portão”, disse emocionado, Mauro Amorim, diretor de carnaval.

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“O que a gente viu aqui hoje é o reflexo de quase três meses de rua, de ensaio, ou seja, as pessoas dominam o andamento naturalmente, a evolução foi boa, a harmonia foi boa, o samba funcionou, a bateria funcionou, pode vir o dia 11 de fevereiro que a gente está preparado para brigar por esse campeonato. Eu tenho um olhar desse ensaio, o Mauro (Amorim) tem outro, a Cátia tem outro, o João tem outro. Amanhã a gente vai se reunir e vai afinar algumas coisas que alguém achar que pode não ter sido da melhor maneira. Mas o meu retorno, o feedback que eu estou tendo, é que foi tudo certinho. Agora só falta aparecer aqui na Avenida as fantasias e as alegorias que já estão prontas, só faltam participarem do desfile. Estou confiante no trabalho, estou confiante na briga por esse título, respeitando todo mundo, é uma briga no bom sentido. Mas a gente confia muito no nosso trabalho”, completou André Bonatte, também da direção de carnaval.

Comissão de frente

Marcelo Misailidis procurou mais uma vez manter os segredos da comissão e apostou em uma apresentação mais dançante, marcada pela elegância de vestimenta dos bailarinos e pela elegância também nos movimentos em uma dança cigana. Seis casais se apresentavam com muita doçura e altivez, enquanto outros quatro bailarinos faziam passos solos, mas integrados com o restante da exibição. Nos movimentos da cigana, o tom misterioso e a sedução. Um dos pontos de maior destaque acontecia quando as ciganas eram erguidas no ar por seus pares em um momento de maior intensidade da coreografia. Algumas partes do samba eram pontuadas pelos movimentos dos bailarinos como o “Vai Clarear” em que os componentes erguiam os braços ao céu. No trecho “a caravana está em festa” todos os integrantes estão mais juntos como que formando este grande grupo de ciganos dançando. A frente da comissão e do lado do coreógrafo Marcelo Misailidis, o cachorrinho da comissão de 2023, divertia o público antes da apresentação propriamente dita do quesito.

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“Foi super válido, acho que isso é um termômetro de emoção, é um termômetro de entrega, então é um ajuste de projeto de desfile, tudo isso correu super bem e agora a expectativa é a melhor possível, a gente percebe uma escola que canta do início ao fim, que tem essa entrega maravilhosa, e o público vai participando porque o samba é contagiante”, disse o coreógrafo.

Mestre-sala e Porta-bandeira

É incrível ver a cada dia o entrosamento da dupla que ficou alguns anos dançando com outros parceiros e que desde o retorno no carnaval passado parece que não houve nenhum hiato na parceria, e hoje com a coordenação de Ana Botafogo tem elevado o padrão de suas apresentações. Phelipe Lemos estava trajado de um elegante terno branco enquanto Rafaela Theodoro atraiu os holofotes todos com um até ousado, mas muito bonito vestido com a parte de cima em renda branca e a saia toda colorida em retalhos, finalizado com tiara de rosas na cabeça. Rafaela mostrou bastante intensidade sem perder a delicadeza e postura que lhe é conhecida. A dupla mesclou passos mais tradicionais com algumas pontuações do samba em movimentos. Os giros foram bem sincronizados e em grande velocidade. Não se observou nenhuma falta ou imprecisão. Phelipe e Rafaela demonstraram muita segurança daquilo que trouxeram para a Sapucaí.

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“O coração está muito feliz, radiante, acho que, acho não, eu tenho certeza que nós conseguimos fazer o nosso melhor, fizemos o que nós nos preparamos esse tempo todo para fazer, utilizamos vários movimentos da nossa coreografia, então agora é só se resguardar essa última semana que falta, esperar o grande dia, para quem sabe é isso, se Deus quiser, e a cigana também, buscar o bicampeonato na Imperatriz. A gente não está 100% porque não chegou o dia. Sempre está precisando aprimorar, mas eu acho que o mais importante a gente apresentou que é a alegria, a leveza, o amor por essa arte e o amor que a gente tem nessa parceria. Essa aqui é minha irmã, uma guerreira, a melhor porta-bandeira que o carnaval carioca já viu”, disse o mestre-sala.

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“A gente só tem que agradecer primeiramente a Deus, os orixás, todo povo cigano que esteve presente aqui, com toda a sua alegria, com toda a sua luz, com todo o seu axé, porque eu acho que é isso que o povo cigano traz, e combina perfeitamente com o carnaval, o samba cura, o samba tira toda a tristeza. Aqui a gente é feliz e é assim que a gente tem que levar o carnaval, com toda a felicidade, com amor no coração e transmitir isso para que cada um de nós consiga enxergar que a gente pode muito mais e que o samba com toda certeza ele tem que ser respeitado, tem que ser cultivado. Eu acho que essa semana é para a gente tentar manter o foco, a concentração. A gente vem ensaiando exaustivamente todos os dias e tudo o que a gente planejou saiu dentro do esperado, para isso que serve os ensaios de rua, os ensaios noturnos aqui na avenida, para que hoje a gente tivesse pisando aqui nessa avenida com a sensação de dever cumprido. Ajuste ele sempre vai ser necessário, mas que graças a Deus é o ajuste da mente e do corpo, porque a gente tem que controlar toda a ansiedade”, completou a porta-bandeira.

Harmonia

O canto foi, mais uma vez, um ponto alto e é a prova de uma escola que vive um momento muito diferente. A comunidade não só tem comprado a briga e cantado muito, como isso se tornou algo orgânico, não é mecânico, pois é espontâneo, é feito com muito gosto, com muita alegria, os componentes estão incorporando a cigana Esmeralda, e estão entrando no personagem. Cantam ao mesmo tempo que brincam, seduzem, dão o ar de mistério próprios da gente cigana, estão totalmente mergulhados no enredo. E gostam do samba. Isso é claro e evidente, e são os principais ativos hoje para defender essa obra na Avenida, ainda que a escola conte com um craque no comando do carro de som e com excelentes vozes de apoio, que hoje mais uma vez dominaram o samba, reproduzindo tudo aquilo que ensaiam e já exibem em Ramos todos os domingos. Aliás, esse alto rendimento do canto dos componentes também é, entre outros ativos da agremiação, mérito de Pitty de Menezes. Com o carisma e talento, foi conquistando o povo de Ramos e hoje o que ele canta eles vão juntos, sorte que o samba da Imperatriz ficou muito bom pelo trabalho musical da escola.Cantar o hino da agremiação em 2024 não é um sacrifício, é um prazer.

Evolução

A Imperatriz ontem parecia que estava realizando mais um dos seus ensaios na Rua Professor Lacê de tão fluída que foi a evolução da escola. Técnica, sem deixar buracos, sem correr, com um andamento que permitia com que o componente se divertisse e ao mesmo tempo que o público apreciasse o que foi preparado neste ensaio, a Rainha de Ramos, em quase 1h10 de treino, teve total controle de suas ações e não se pode observar nada que pudesse citar que deu errado ou que tenha atrapalhado a passagem da “caravana” verde e branca até a Praça da Apoteose. Destaque também para algumas alas que vinham coreografadas, em movimentos bem pertinentes e que não faziam com que o componentes perdesse muito da sua espontaneidade. A primeira ala da Imperatriz era um primor de colorido e criatividade com a caravana cigana que continha muito colorido nas roupas, muito brilho e algumas mulheres em pernas de pau. A escola também trouxe um tripé com a coroa da Imperatriz.

Samba-enredo

Talvez, ninguém se lembre mais de que o samba da Imperatriz para o carnaval 2024 foi resultado de uma junção de duas obras. Isso porque a escola trabalhou para que ficasse um resultado natural e o processo de ensaios com a comunidade, tanto na rua como na quadra, trouxeram para a veia da comunidade gresiliense o samba-enredo escolhido pela diretoria e ajeitado em estúdio com presença dos principais quadros da agremiação. Pontos altos mais uma vez neste ensaio, os refrões “Vai Clarear..” e ” O destino é traçado na palma da mão” (esse último já extremamente natural sem o “se’ da versão original), além do “o que é meu é da cigana..” com seu jeito mais malandreado, e o “prenúncio da sina …” que vem logo antes e é um primazia em termos de melodia. A introdução da obra com todos os componentes batendo palmas, mestre Lolo subindo a bateria até o “verde-esmeralda é vitória que virá para entrar no “Vai Clarear…” mostrou que não havia necessidade de surpresa, era só treinar esta entrada, como foi feito, que já tem a qualidade necessária para a escola começar o desfile com a energia lá em cima. O ensaio técnico, então, provou, a qualidade do trabalho feito pela Imperatriz com as duas obras escolhidas no concurso. É dos melhores deste carnaval.

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“O samba foi nota mil. O samba está na boca do povo, na boca da comunidade. A comunidade está muito feliz, está leve. A gente cantou esse samba com uma leveza, a sapucaí toda cantando. Então é nota mil nessa avaliação, não tem outra nota, nota dez, nota mil. Essa bateria maravilhosa, o mestre Lolo, maravilhosa. Vamos rumo ao bicampeonato. Eu acho que a gente tem sempre algo para aprimorar, mas eu acho que a escola está pronta. A gente já sabe o que tem que fazer. A escola já sabe, já está ensaiando há tanto tempo. É chegar no dia aqui e praticar tudo que a gente estava ensaiando. Cantar com essa bateria é muito fácil. Ela leva a gente, ela conduz a gente. Então, carro de som maravilhoso que eu tenho. Rapaziada canta muito, as cordas. Mas cantar com mestre Lolo, com essa bateria, é muito fácil”, garantiu o intérprete Pitty de Menezes.

Outros destaques

A rainha de bateria Maria Mariá estava deslumbrante com uma brilhosa fantasia dourada. A vestimenta representava o amor, as nuances, a força , a vitalidade e o magnetismo único e matriarcal. O carnavalesco Leandro Vieira desfilou com seu tradicional chapéu de pirata. No esquenta, o samba campeão de 2023 sobre Lampião puxado por Pitty e com boa resposta do público. Logo depois, o intérprete também cantou “Pode chorar” que é cantado pelo Cacique de Ramos, além da música “Barracão Velha” que é da umbanda.

O diretor de carnaval João Drummond em seu discurso agradeceu a comunidade e convocou-os a lutar pelo bicampeonato lembrando que “nós somos do tamanho de nossos sonhos”. A musa Rafa Kalimann desfilou neste treino com uma roupa usada em 2011 pela ex-rainha de bateria da Imperatriz Luiza Brunet. O mimo foi um presente da antiga rainha. O clima cigano estava presente em cada acessório e bijuteria que as pessoas resolveram colocar no corpo para desfilar na Marquês de Sapucaí neste teste oficial.

Viradouro realiza ensaio técnico avassalador, mostra força de seus quesitos e garra impressionante da comunidade

Por Luan Costa, Allan Duffes, Maria Clara Marcelo, Matheus Morais e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos do Viradouro foi a segunda escola a pisar na Marquês de Sapucaí neste domingo para realizar o seu ensaio técnico. Para aqueles que tiveram o prazer de acompanhar a temporada de ensaios de rua que a escola realizou no centro de Niterói, a noite de hoje foi apenas a coroação de um pré-carnaval perfeito, já para aqueles que ainda não tinham visto, a escola deixou o melhor para o final. A apresentação da vermelha e branca foi avassaladora do início ao fim e presenteou o público com um espetáculo completo, tanto sonoro, por conta do belíssimo samba conduzido de forma sublime por Wander Pires, acompanhado de uma bateria em estado de graça, quanto visual, já que a agremiação levou alguns elementos cênicos decorados e alas com vários detalhes para a avenida.

Uma determinada parte da letra do samba deste ano diz que o ninho da serpente está preparado para lutar, a ver pela força com que o componente entrou na avenida, eles realmente estão pronto para a batalha que será conquistar o tão sonhado campeonato. Dentre os vários destaques do ensaio, o maior de todos foi a comunidade, o canto foi impressionante, mas acima de tudo a garra de cada desfilante merece todos os elogios.

Em 2024 a Viradouro levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodum serpente. Criado e desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. Assim como no último carnaval, a escola terá a missão de encerrar os desfiles pelo Grupo Especial na segunda noite de espetáculo.

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“Na verdade a única coisa que a gente pode analisar é cara de satisfação, rosto de satisfação das pessoas. Porque cada um tem um lugar pra ficar, eu vou aí na bateria, Alex vem puxando a escola, daqui a pouco a gente faz um compilado de informação e fazemos a análise mais criteriosa, mas há sete anos na escola nós já conseguimos saber o termômetro pelo rosto do componente, o componente tá superfeliz, bateria feliz, carro de som feliz, mestre-sala feliz, porta-bandeira feliz a escola feliz, então significa que fez um um ótimo teste, um ótimo ensaio e agora é dar uma olhada com mais critério, mais calma, vem a transmissão, vê o que vocês vão postar, e aí chegar na segunda de carnaval fazer o nosso ápice, nosso melhor mesmo e tentar esse título que a escola tanto almeja”, explicou Dudu Falcão, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pelos talentosos e campeoníssimos Priscilla Mota e Rodrigo Negri deu a tônica de como seria o ensaio da Viradouro neste domingo: forte, emocionante e avassalador. O casal é conhecido como “casal segredo” e o que vimos no ensaio foi apenas uma esquenta do que veremos na segunda-feira de carnaval, porém, o nível de entrega dos bailarinos foi espetacular, a caracterização também foi um dos pontos altos. A dança foi a grande protagonista da comissão neste ensaio, os componentes se apresentaram com muita intensidade e movimentos rápidos, o destaque ficou por conta de uma mulher que representou o próprio espírito da serpente, a expressão corporal dela deixou o público vidrado, já o ápice da apresentação foi quando uma grande serpente surgiu, vimos também o uso da iluminação cênica da Sapucaí no final.

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“Eu estou exausta, me acabei, eu me acabei. Que energia maravilhosa! Que público, que escola, que comunidade, que comissão! Muito bom, muito bom. Alma lavada. A gente está trabalhando muito, com certeza essa é uma das comissões mais elaboradas que a gente já fez até hoje. Acho que também muito fruto do nosso amadurecimento profissional, da gente pensar carnaval, entender o que vem funcionando, o que as pessoas estão gostando de ver. Como a gente pode servir ao enredo da melhor forma. E eu acho que esse é o trabalho, a nossa comissão de frente ela trabalha muito, ensaia muito e ainda falta uma semana e a gente vai trabalhar mais ainda”, citou Priscilla Mota.

“O ensaio foi maravilhoso. O ensaio técnico serve para isso para a gente testar essa energia, não só dos bailarinos, mas também da comunidade, do público. E foi maravilhoso, estou muito feliz com o resultado. Pode esperar essa energia que a galera veio hoje. Uma comissão que tem muita força, tem o encantamento do enredo e tem um toque especial que é a nossa marca. A magia, uma coisa que vai estar inserida nesse trabalho”, garantiu Rodrigo Negri.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Julinho e Rute fazem parecer que o bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira é algo fácil, no ensaio desta noite a dupla realizou três apresentações incríveis e arrebatou o público, ambos vestiram roupas predominantemente brancas e com muita renda. Toda a apresentação do casal merece atenção e aplausos, porém, a entrada no módulo de julgamento foi de arrepiar, Rute deu incontáveis giros, enquanto Julinho riscou o chão da avenida, vale lembrar que a pista estava molhada, mas nem isso tirou o brilho da apresentação que foi extremamente vigorosa.

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“Eu achei maravilhoso. Tem aquela ansiedade, aquela tensão normal, mas a satisfação de ter passado na avenida, cumprindo o que tem que cumprir no ensaio técnico. Mas a gente sai daqui com a sensação de que estamos no caminho certo e agora com os ensaios que a gente já começou a fazer essa semana anterior com fantasia, que a gente vai intensificar essa semana, é para melhorar, para passar daí para mais. A sensação para mim, eu saio maravilhado com o nosso ensaio. Sempre há algo o que aperfeiçoar, aqui é um termômetro, como eu disse. Aqui a gente sente como dosar a emoção, apesar que a emoção de hoje é uma emoção diferente do dia do desfile, mas é uma emoção chegar aqui e saber que é o povão que está assistindo o ensaio na Sapucaí, que às vezes nem todo mundo que está aqui hoje vai ter condições às vezes financeiras de assistir. Mas a gente sempre tem alguma coisinha. A Juliana, com certeza, ela é muito exigente, muito exigente. Ela quer que a gente se divirta, entre aspas, dançando, que a gente se curta, namore. Mas sempre ela tem uma coisinha, vamos melhorar aqui a mãozinha ali, o dedinho aqui, mas assim, saímos daqui com a certeza de que estamos faltando subir só um degrau para a gente atingir o êxodo, que é o que a gente quer e planejou”, disse o mestre-sala.

“Eu faço ensaio técnico desde a época que as seis primeiras colocadas do ano anterior faziam três ensaios técnicos e hoje eu descobri um negócio, que a gente faz uma marcação, aliás, voltando, eu sempre usei esse ensaio e final de samba como meu carnaval. Final de samba e esse ensaio sempre foi para eu brincar, para eu me divertir, eu fiz isso hoje sim, brinquei, dancei, a gente fez passo ao longo da avenida, fora das cabines. Nada tem a ver com a nossa dança, mas eu também aprendi que certas marcações que a gente faz, quando a gente vem para cá às seis da manhã, a gente não pode fazer, porque realmente as pessoas ficam ali e meio que atrapalham. O mais importante é que independente de eu considerar, hoje o meu carnaval, eu venho também com a responsabilidade para ensaiar, aprimorar, ajudar a minha escola, fazer um excelente ensaio técnico, porque já que criaram os rankings, a gente quer participar e quer ficar lá na ponta. A gente vem para cá com essa responsabilidade também, mas também brincar”, completou a porta-bandeira.

Samba-enredo

Um dos grandes destaques da noite foi o samba composto por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno. O hino da escola passou de forma avassaladora e permaneceu assim durante todo o ensaio, em nenhum momento o samba diminuiu seu ritmo ou cansou quem acompanhava, várias são os momentos que causam conforto para que ouve, a letra apesar de algumas palavras mais complexas consegue passar todo sentimento que o enredo pede, por exemplo, no verso “Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar” boa parte do enredo é sintetizado.

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Harmonia

Não é segredo para ninguém que a comunidade da Viradouro está acostumada a defender seus sambas com unhas e dentes, não foi diferente dessa vez, a garra presente em cada componente foi fundamental para que o grande destaque do ensaio fosse justamente o canto, destacar uma só ala seria injusto, a escola gritou o seu samba de forma contínua por toda a avenida, até mesmo no final quando já não havia mais cabine de julgamento foi possível observar o alto padrão. A bateria furacão vermelha e branca comandada por mestre Ciça deu o ritmo e engrandeceu ainda mais o conjunto harmônico da escola, não teve quem ficasse parado com as diversas bossas realizadas, o entrosamento com o carro de som também foi nítido.

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“O rendimento foi maravilhoso, a gente estava super feliz. Rolou melhor do que a gente esperava. A gente se doou bastante, se entregou. É só um pouco da entrega que a gente vai fazer na segunda-feira de carnaval. Temos, tem mais uma coisinha ou outra. Eu me cobro muito, mas aos poucos é só questão realmente técnica, mais fôlego e isso aí, eu consigo nadando na piscina e a fono me ajuda também. Fiquei muito feliz, o mestre Ciça ficou feliz, ele ficou realizado. Eu rendi para ele, ele deu para mim e eu reverenciei para ele e ele para mim. Ciça é um fenômeno”, comentou o intérprete Wander Pires.

Evolução

Outro ponto de muito destaque foi a evolução fluída, organizada e vibrante da agremiação, todas as alas estavam extremamente compactas, organizadas e leves, o componente da Viradouro entrou na avenida sabendo exatamente o que fazer, engrandeceram o espetáculo de forma orgânica, espontânea e natural, um show de evolução. Até mesmo as alas coreografadas, que exigem um pouco mais de atenção, evoluíram com precisão. Para demarcar o espaço dos carros alegóricos no desfile oficial, a escola levou tripés representando alguns enredos da escola, algo simples, mas muito bem feito.

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Outros Destaques

A Viradouro presenteou o público com um verdadeiro espetáculo, pensado com muito carinho e realizado com muito carinho, em várias alas vimos adereços de mão elaborados e algumas carregaram até ervas, o nível de apresentação foi altíssimo, digno do que todo sambista merece prestigiar.

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Outro destaque do ensaio foi a presença da rainha Erika Januza magistralmente à frente da bateria “Furacão Vermelho e Branco”, nem mesmo o chão molhado fez com que ela diminuísse a empolgação e o samba no pé, mestre Ciça realizou inúmeras bossas e ela participou ativamente de todas.

“Para mim, foi excepcional e aquilo que eu esperava. A bateria está pronta e não cometeu nenhuma falha. O andamento, que era a preocupação, foi sustentado até o final. As vossas se encaixaram e ficou tudo muito dentro do enredo. Estou feliz da vida! Os atabaques são o foco dos naipes de 2024. Que eu percebi que não estava na altura que eu queria e vamos melhorar. De resto, são as caixas. Aqueles toques fortes, que fazem parte da minha vida. O nosso entrosamento da bateria com o carro de som é excepcional. Ensaiamos e conversamos muito, porque a bateria da Viradouro toca na frente. Tivemos a proposta da escola de colocar um andamento mais confortável. E ficou para trás demais. Conversamos e vimos que precisava ficar bom para o ritmista, que toca há 15 anos na mesma pegada chegar e mudar radicalmente, eles cedem. Ajustamos para ajudar a rapaziada da Viradouro. A fantasia é bonita”, garantiu mestre Ciça.

Mangueira faz ensaio técnico com alto nível de canto e atuação impactante da bateria

Por Rafael Soares, Allan Duffes, Maria Clara Marcelo, Matheus Morais e fotos de Nelson Malfacini

A Estação Primeira de Mangueira foi a escola de samba que abriu o último dia de ensaios técnicos do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí. Uma chuva razoável chegou a cair pouco antes do treino começar, mas não foi o suficiente para abalar a garra dos mangueirenses. Já no esquenta, uma seleção de músicas de sucesso da carreira de Alcione, cantora homenageada no enredo, foi entoada pelo carro de som no setor 1, fazendo com que as primeiras arquibancadas cantassem junto. Quando a verde e rosa iniciou seu desfile, o impacto já era grande. Uma comissão de frente que chamou a atenção por levar muitos integrantes performando dança de gafieira, o que indica que teremos tripé para troca de bailarinos no desfile oficial. Logo depois, uma sublime atuação do casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus e Cintya, mesmo com a pista molhada, mostrando toda sua força e técnica.

A harmonia da agremiação foi de ótimo volume, com todas as alas cantando o criticado samba-enredo, garantindo um belo rendimento. A evolução da escola na avenida teve um ritmo perfeito, propiciando aos componentes bastante espaço para brincar com leveza e animação. O ensaio técnico foi elevado a outro patamar pelo desempenho da bateria dos mestres Rodrigo e Taranta Neto. Uma cadência que se mostrou muito adequada, além de bossas de grande qualidade musical. O ponto alto foi o ‘paradão’, onde só os instrumentos leves se alternavam na execução. O efeito foi muito positivo, pois deixou ainda mais notória a forte harmonia da verde e rosa.

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Para o carnaval de 2024, a Estação Primeira de Mangueira levará para a avenida o enredo “A Negra Voz do Amanhã”, de autoria dos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, mostrando a história de vida e a carreira musical de Alcione, além de exaltar sua representatividade negra e feminina. A verde e rosa será a quarta escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro.

“Nós estamos muito felizes com o ensaio, tendo em vista a cara dos componentes e a cara da diretoria na linha de final de desfile. Tudo aquilo que foi programado, foi feito dentro da Avenida. Tecnicamente, foi um grande ensaio, até corroborado pela torcida em volta e componentes que gostaram muito. Agora é só esperar esse semana, a gente concluir entrega de fantasia, esperar o dia do grande desfile para a Mangueira brigar por esse carnaval. Nosso samba vem crescendo desde a semifinal do concurso em nossa quadra ainda, a obra deu uma explodida naquela fase, na final foi arrebatadora, e de lá pra cá teve um trabalho sendo feito pelo Vitor Art e pelo Digão, a comunidade comprou o barulho, é um orgulho para a comunidade cantar a Alcione. É um grande samba, queria agradecer aos meus compositores por essa obra que eles nos deram e assim vamos com um grande samba em busca desse caneco”, explicou Junior Cabeça, diretor de carnaval.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos liderado pelos coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias continha muitos integrantes homens e mulheres. Elas usavam um vestido rosa brilhante e usavam saltos altos pretos, e eles vestiam camisas verdes, calças rosas, sapatos pretos e chapéus de malandro. O numeroso time também trouxe três caixas com estampas do calçadão de Copacabana. Os dançarinos alternavam movimentos no chão e em cima das caixas, lembrando uma gafieira. Talvez pela pista molhada, esses movimentos não foram tão intensos, embora com bastante expressividade e bem sincronizados. Uma das meninas chegou a cair na primeira cabine de jurados, mas rapidamente se levantou. Isso fez com que elas resolvessem tirar os saltos a partir do segundo módulo, elevando o nível da apresentação. O alto contingente nos faz acreditar que no desfile oficial, a Mangueira deverá trazer um elemento cenográfico para a troca dos bailarinos, deixando grande expectativa.

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“A energia foi incrível. Incrível! Eu acho que nada menos do que a gente esperava. Sim, a chuva sempre atrapalha. É bom, um alerta, liga o nosso alerta para preparar ainda mais, que agora pode vir um temporal que a gente vai estar preparado. A gente está com um elenco de trinta bailarinos praticamente. A comissão, está quase sendo uma característica nossa, vem trazendo muita emoção. Contando uma história do início, meio, fim. Claro que tem as surpresas, tem as mágicas, mas eu acho que o mais importante dessa história é a própria história da Alcione que é incrível. É a sensibilidade da história dela”, disse Karina.

“É como eu sempre falo: ‘Mangueira e chuva é uma parada que sempre acontece, mas no final dá bom’. Aconteceu para a gente se preparar, mas de uma certa forma é bom que traz para gente esse gostinho de que vai dar bom. A gente vai fazer praticamente uma síntese da história dela, desde o início até o auge dela da carreira. Como a Karina falou, com uns toquezinhos de surpresa, mas o principal, que é a nossa característica, é a emoção e contando bastante a história”, comentou Lucas.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Atuação simplesmente fabulosa de Matheus Olivério e Cintya Santos, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mangueira. Mesmo com a pista molhada pela chuva, a dupla exibiu toda sua força, energia e sintonia. Cintya mostrou um bailado muito distinto, com seus giros impactantes. Um dos momentos mais belos foi quando ela fez o movimento de pegar a bandeira com a mão livre e rodar com grande velocidade. Matheus, como de costume, mostrou sua marcante elegância e altivez, além de sorrir o tempo todo e cortejar a porta-bandeira segurando um lenço. As interações entre os dois foram muito singelas, bem combinadas com a obra musical. Movimentos limpos e coreografia na medida certa garantiram um desempenho memorável para o casal.

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“Agora, passou o frio na barriga, passou a cólica, passou a dor de barriga, agora foi, a gente viu que a gente está no caminho certo”, disse a porta-bandeira.

“É um trabalho de quase um ano, hoje a gente se deu o prazer de se divertir, o prazer de sentir o que é a Estação Primeira de Mangueira, velha-guarda lotada, o morro todo desceu e o ditado é o mesmo de sempre: ‘tem que esperar a Mangueira passar’”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A obra musical mangueirense não é considerada uma das melhores do ano. A letra, que tem belas passagens, tem outras não tão inspiradas. A melodia possui boas variações que impulsionam o canto, embora não sejam tão originais. Mas o rendimento do samba no ensaio técnico foi exemplar. O forte canto da comunidade, aliado ao desempenho de alto nível do carro de som, comandado pelos intérpretes Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz, e da bateria dos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, garantiu que a obra rendesse bastante na pista.

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“Melhor possível não há. Maravilhoso, a comunidade gritando o samba. A parte musical junto com a bateria, excepcional, depois de muito ensaio. Eu acho que atingimos o resultado que a gente queria, trabalhando em questão de andamento, de bossa para a resposta da escola. Então, o torcedor sai daqui muito satisfeito e com a certeza que faremos um grande desfile na segunda-feira de carnaval. Me sinto muito feliz, estou muito emocionado. Para mim, foi um dos melhores ensaios técnicos que a gente teve na vida, e se for desse jeito, vai ser difícil segurar no desfile. Isso é resultado de um trabalho vindo desde setembro, antes mesmo de a gente ter o nosso hino, a gente já vem trabalhando juntamente com a bateria, com os mestres, nosso diretor musical, para tentar achar o andamento certo e introduzir as bossas e as harmonias, e acabou dando nisso aí que vocês viram. Trabalho maravilhoso”, afirmou o intérprete Dowglas Diniz.

Harmonia

Desempenho marcante da comunidade mangueirense ao entoar o samba-enredo na avenida no treino deste domingo. Desde o princípio, as alas cantavam com grande volume. A obra estava na ponta da língua dos componentes. Não se percebeu ninguém que não cantasse. O alto nível foi constante durante todo o cortejo. Os trechos que ecoaram com mais intensidade foram os três refrões, mas é bom salientar que todo o samba foi muito bem cantado. As bossas da bateria, inclusive a ‘paradona’, deixaram ainda mais nítido o belo desempenho dos desfilantes. No carro de som, mais uma atuação ótima. A dupla de cantores oficiais, Marquinho e Dowglas, segue dando um show de interpretação, além de sempre injetar energia nos desfilantes. Os cantores de apoio também mereceram destaque, ao sustentarem o samba com muita firmeza.

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Evolução

A Mangueira mostrou um ótimo ritmo de desfile no ensaio técnico. Com muita fluidez e constante do início ao fim. Não se notou qualquer tipo de aceleração indevida ou lentidão no cortejo. Também não se viram espaçamentos anormais entre as alas. Essa cadência permitiu com que os integrantes desfilassem com muita tranquilidade. O que se percebeu foi uma comunidade alegre e espontânea na avenida, brincando bastante o carnaval e defendendo seu samba. Foi uma aula de como defender o quesito.

Outros destaques

A bateria liderada pelos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto foi um espetáculo à parte durante todo o treino. Sustentando um ritmo perfeito para a execução do samba-enredo pelo carro de som e também para o canto dos componentes. O grupo mostrou muita musicalidade e originalidade, ao usar instrumentos diferenciados, como os xequerês, os timbaques, e os pandeirões. As bossas se mostraram bastante versáteis e plenamente integradas à obra musical. A que chamou muito a atenção foi o ‘paradão’, que só deixava os instrumentos leves sendo tocados, tamborins combinados ora com chocalhos, ora com cuícas. Ela só foi executada uma vez no ensaio, mas garantiu um momento de catarse.

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“Hoje a gente conseguiu alcançar quase 100% do que se pretende fazer no desfile. Claro que a chuva atrapalhou um pouco, mas não foi tanto. A bateria evoluiu muito do último ensaio para hoje. Os erros que aconteceram lá, foram acertados para este ensaio técnico. Espero que a gente passa assim também no dia do desfile para conseguir a nota máxima. A nossa meta para esse ano é fazer todo mundo cantar e se alegrar. Alcione não tem como fazer nada pra baixo, tem que ser tudo muito alegre. Claro que tem sempre o que melhorar. A gente tem que acertar alguns deslocamentos. Mais o andamento da escola que problema da bateria mesmo”, citou o mestre Taranta Neto.

Novamente, a rainha de bateria, Evelyn Bastos, atraiu muitos olhares, provocando interação com o público. Ela estava vestida como loba, inclusive com marcas simuladas de arranhões em sua pele, em alusão a uma das canções mais famosas de Alcione.

Imperatriz: fotos do ensaio técnico na Sapucaí

Viradouro: fotos do ensaio técnico na Sapucaí