O feito notável de Selminha Sorriso, que completa 35 anos desfilando como porta-bandeira neste Carnaval, merece ser celebrado. Em uma entrevista emocionante ao site CARNAVALESCO, ela abriu seu coração, compartilhando detalhes sobre sua longa trajetória, a emoção de atingir esse marco significativo, o desfile que considera o mais marcante de sua vida e sua parceria duradoura com Claudinho.

Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval

“Quando eu olho para trás, eu me emociono muito, porque ser porta-bandeira, exercer esse ofício, é meu sonho de menina. Então, imagina você realizar o seu sonho há 35 anos. Cada vez que eu adento na Marquês de Sapucaí, eu lembro dos meus sonhos, da minha infância, da minha história, tantas coisas que eu vivi. Nem tudo é mar de flores. Então, imagina você completar 35 anos, muitas das pessoas que torcem pela Beija-Flor nem eram nascidas, e hoje beijam o pavilhão, tiram foto com a Selminha, participam do projeto social no Instituto Beija-Flor, na modalidade que eu ministro as aulas, que coordeno. Meu filho não era nascido. Então, cada vez desses anos todos, eu falo Deus muito obrigado, Deuses do samba, gratidão, porque é mágico. Você saber que você está todo ano ali, porque é uma função que depende de muitos fatores. Vontade das partes, ou seja, do casal e da escola, saúde, vigor, renovação sem perder as tradições, você manter o padrão de qualidade, respeitar as pessoas e preencher as expectativas delas, então é gratidão”, compartilhou Selminha.

Selma de Mattos Rocha, conhecida como Selminha Sorriso, iniciou sua trajetória no Carnaval em 1986, desfilando pelo Império Serrano. Inicialmente, atuando como passista, em 1991 fez sua estreia como porta-bandeira após passar seis meses se apresentando em casas de show no Japão. No ano seguinte, ao lado do mestre-sala Claudinho, desfilou pela Estácio de Sá, contribuindo para a conquista do primeiro título da escola em 1992.

A dupla, Selminha Sorriso e Claudinho, consolidou sua parceria ao longo dos anos e, em 1996, passaram a desfilar pela Beija-Flor. Juntos, conquistaram impressionantes nove títulos para a agremiação, contribuindo significativamente para o sucesso da escola de Nilópolis.

Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnavl

“Tem o Claudinho e a Selminha, mas tem todo um contingente de pessoas que trabalham, daqueles que torcem, os que estão presentes, que estão à distância, então todo esse sentimento é um sentimento que eu agrego na minha dança, entendendo que eu tenho um sonho, mas as pessoas também têm um sonho. E esse pavilhão que eu conduzo representa a coletividade, passado, presente e futuro. Então, imagina quantas histórias nós vivemos, eu e o Claudinho, conduzindo esse manto sagrado. Então, é assim, respeita a minha história, porque é uma história construída com amor. Não é uma história construída na era global, é uma história construída de uma menina que estava com o pé no chão, correndo na comunidade e que viu uma porta-bandeira dançar e disse essa função que eu quero exercer dentro dessa escola de samba”, citou Selminha.

Selminha também compartilhou sobre o que se passa em sua mente, comparando a Selminha do início de sua jornada com a Selminha de hoje. Ela desabafou: “É sempre um sonho. Essa história dessa arte mudou a história da minha vida. Consequentemente, eu mudei a história de algumas pessoas e o meu compromisso cada vez é maior. O meu amor, a minha entrega, a minha responsabilidade de entender que a minha arte é para o coletivo, não é individual, eu acho que é sempre um sonho”.

Sobre o desfile que marcou profundamente sua vida, Selminha conta que foi o realizado em 2001, pela Beija-Flor. Esse desfile foi significativo por unir dois sentimentos essenciais em sua vida: o sonho de ser porta-bandeira e o sonho da maternidade.

“O desfile que eu posso mencionar e que une dois sentimentos, que é o sentimento do sonho da porta -bandeira, de realizar o sonho da menina, mas também o sonho da maternidade, foi em 2001 que foi o meu desfile de sentimento intenso, grau máximo de sentimento, porque eu estava realizando meu sonho depois da gestação, de ter ficado com o meu filhinho guardadinho oito meses, ele nasceu de oito meses, e depois realizar o sonho de estar ali dançando e voltar para casa para abraçar meu filho. Foi uma cesariana, não foi fácil, eu tive dois meses para emagrecer, tive dois meses para me recuperar, tive dois meses para entender que era um trabalho sério que envolvia todo um sentimento de torcedores, de apaixonados, de trabalhadores. Então, eu tinha que responder tudo que a escola fez por mim. A escola me esperou, a escola acreditou que eu me recuperaria”, expressou Selminha.

A grande porta-bandeira de Nilópolis não mediu palavras ao expressar seu amor pelo pavilhão e a importância desse sentimento que a conecta à escola há quase 29 anos: “O meu amor pela Beija-Flor, eu amo todas as escolas por onde eu passei, agradeço todas, e as pessoas que torceram por mim a minha vida inteira e torcem, mas esse sentimento de você defender um pavilhão, na verdade, conduzir e proteger há quase 29 anos, é uma vida”.

A Beija-Flor será a segunda agremiação a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no domingo de Carnaval, sendo a primeira vez na história da escola que ela desfilará nesta posição e Selminha revelou sua expectativa para o desfile, destacou a diferença e o entusiasmo de chegar com a luz do dia na avenida, reconhecendo a oportunidade de fazer história ao desfilar no domingo e, principalmente, nesta posição e compartilhou a emoção de saber que a Beija-Flor tem a chance de entrar para a história, como poucas escolas que ganharam no domingo e em uma posição tão especial.

A mensagem final de Selminha Sorriso é poderosa e carregada de significado. Ela destaca a importância de respeitar sua trajetória, pois é uma história construída com amor. Ao relembrar os primórdios de sua jornada, Selminha enfatiza que sua inspiração veio de uma porta-bandeira de uma escola simples, sem glamour, mas com sonhos e amor.

“Essa é a mensagem que eu deixo, respeitar a minha história, porque é uma história de amor. O mundo não sabia nem quem era o mundo, porque o mundo não conseguia se ver em tempo real, e era o que eu queria exercer. Então, não tinha glamour, tinha sonho, tinha amor, e a minha inspiração foi uma porta-bandeira de uma escola simples, não existia pavão, era um vestido de tecido, mas a porta-bandeira sempre é uma rainha e sempre será. Então, mesmo se ela estiver com o vestido de chita, o tecido mais barato e o sapato mais barato, ela vai ser sempre uma rainha, porque essa função é uma função escolhida pelos deuses”.