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Em noite de celebração, comunidade comparece em peso no último ensaio de rua do Tuiuti e desfila com muita garra e alegria

Há uma semana do desfile oficial, o Paraíso do Tuiuti “desceu o morro” pela última vez em São Cristóvão neste pré-carnaval e fechou o ciclo de ensaios de rua para o carnaval de 2024. Desde o final de outubro do ano passado, abrilhantando as noites de segunda-feira com muito samba no Campo de São Cristóvão, a Azul e Amarela da Zona Norte, neste teste final, aproveitou, para , antes de tudo, confraternizar entre segmentos, componentes e a comunidade. Fantasiados, como para os antigos bailes de carnaval, teve pierrot, colombina, rainha, outros personagens menos óbvios, como o “fofão” e a “minnie”, mas também teve muito ensaio, foram cerca de duas horas de treino no deslocamento entre o Colégio Pedro II e a Quadra do Tuiuti. Em seu discurso, o presidente Renato Thor ressaltou a organização da escola para estes treinos e para o carnaval que irá colocar na Avenida, inflamando os componentes a desfilarem com muita vontade de vencer. O diretor de carnaval André Gonçalves explicou que além da preparação, a ideia principal para esta segunda-feira era que o folião do Paraíso do Tuiuti pudesse se confraternizar uns com os outros em um momento de muita alegria para chegar no desfile bastante leve e felizes, também por mais uma temporada de muitos ensaios concluída.

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“Hoje foi uma grande festa, elaboramos uma grande festa, estamos prontos para o dia 12, para entrar na Avenida, fazer um belíssimo trabalho, um belíssimo desfile, um belíssimo carnaval, apresentar o que a casa sabe fazer, o que a comunidade sabe fazer que é o carnaval. A gente vem de muito tempo batendo na trave, volto a dizer, estávamos fazendo um trabalho incansável, mas nunca falando que estávamos prontos. Hoje eu posso falar para vocês que estamos prontos. Realizamos mais um ensaio, porém um ensaio para a gente poder curtir esse dia maravilhoso, é como se fosse uma confraternização, mas também foi um belo ensaio”, esclarece o diretor.

André também aproveitou para colocar que a escola está bastante tranquila nesta reta final em direção ao carnaval 2024, pois tem tudo concluído e uma escola pronta para buscar surpreender de novo, como foi em 2018.

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“Estamos bem tranquilos, carnaval todo pronto, estamos entregando fantasias, o nosso barracão está pronto, nossas alegorias todas prontas, tudo que a gente pensou para a Avenida, já está pronto”, destaca o profissional.

Com um canto que manteve o bom rendimento de outros ensaios de rua do Tuiuti, a escola mais uma fez viu a bateria SuperSom de mestre Marcão se destacar com bom andamento, ritmo e bossas bem elaboradas como uma em forma de marcha e homenageando João Candido e sua profissão, bem no trecho “Salve o almirante negro…”. Com 40 anos de Sapucaí, ou seja desde o início do sambódromo, mestre Marcão revelou que apesar da experiência o frio na barriga sempre dá.

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“São quarenta anos de Sapucaí, eu entrei em 1984 na bateria. Já fiz 40 anos, graças a Deus. A expectativa é sempre a melhor e o sentimento é sempre de como se fosse a primeira vez que vou pisar na Avenida. A gente sabe que treino é treino, jogo é jogo, ainda não estamos jogando, só treinando ainda, hoje foi o último treino, daqui a pouco a gente está lá na Sapucaí, semana que vem, vai ser interessante”, promete Marcão.

O comandante da Supersom avalia todos esses meses de trabalho e ainda destaca que há surpresas que só vão pintar na segunda-feira de carnaval quando o Tuiuti fizer a curva na Sapucaí.

“Está tudo redondinho, estamos fazendo aquilo que preparamos desde junho, algumas coisas modificamos neste período, até mesmo para poder ficar tudo casado com o carro de som, com a comunidade, a cada hora vem uma ideia boa. Depois do ensaio técnico, tive uma reunião com a minha diretoria, já planejamos uma outra coisa para fazer no dia, estivemos analisando os ensaios, está todo mundo de parabéns, cada um com a sua proposta, e estamos nessa luta. Como diz o diretor Claudinho, não é briga, mas luta, temos que lutar sempre”, finaliza o mestre de bateria da Azul e Amarela de São Cristóvão.

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Dentro deste momento de preparação, que era também de celebração, o Tuiuti também trouxe a abertura da escola com a comissão de frente coreografada por Claudia Motta e Edifranc Alves e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane. Claudia e Edifranc trouxeram dois elencos, apresentando uma coreografia mais elaborada, mais próxima do que se pode esperar na Avenida, o que teve uma boa receptividade do público que acompanhava da calçada. Intensa e pontuando samba em diversas partes de forma bastante didática e fácil de acompanhar pelo público, mas com emoção e carregada com o peso do simbolismo histórico que o enredo do Tuiuti promete trazer. Logo depois no desfile, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Combinados no azul em predominância no traje, a dupla mostrou o entrosamento de sempre e a dança mesclando passos um pouco mais coreografados, bem dentro do enredo, e o bailado característico e clássico de um casal de mestre-sala e porta-bandeira. Na pista, apesar da proximidade do desfile, não teve ninguém se poupando, apesar de que alguns cuidados para não correr riscos desnecessários sempre são bem vindos.

“A gente tem que ter uma atenção redobrada, como um quesito importante, a gente vem para o ensaio de rua há uma semana do nosso desfile, exatamente sete dias, então tem que ter um cuidado com os nossos corpos que são os nossos instrumentos de trabalho, então hoje foi com muita atenção, mas não viemos segurando, só que em um estado maior de alerta e atenção maior. E o frio na barriga é sempre o mesmo, acho que a responsabilidade de cada quesito é ano a ano, no carnaval, a cada temporada se apresenta um novo trabalho, uma nova proposta, uma nova coreografia no nosso caso, não tem como não entrar na Avenida com esse friozinho na barriga”, revela a porta-bandeira do Tuiuti, Dandara Ventapane.

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A “dancinha” no “Lerê, Lerê mais um preto lutando pelo irmão…” que vem fazendo sucesso nos ensaios de rua, é extraordinária e original, transmitindo alguns passos afros com potência e ritmo e não ficou de fora neste teste. A apresentação foi marcada por simbolismos e ancestralidade. Raphael Rodrigues também explicou que o processo de preparação para o desfile contou com algumas etapas e que a espontaneidade da dupla foi colocando possibilidades na dança do casal para este carnaval 2024.

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“Todo projeto tem sempre um período de criação e adaptação, e finalização, que é no dia do evento. Mas , graças a Deus, eu e a Dandara, a gente conseguiu agrupar tudo isso muito bem. A gente consegue conversar, a gente primeiro entende o que que é, o que que significa, o que que isso pode influenciar na gente, e depois a gente começa a colocar em prática as criações. Entre a gente é muito bom porque surge tudo muito naturalmente, a gente dançando na frente do espelho surge um passo, a gente guarda isso, a gente até brinca que todo ensaio, toda brincadeira nossa tem que ser filmada, porque sempre surgem algumas coisas do nada, como surgiu nessa coreografia. Tem muitos passos que chegaram de forma espontânea e a gente só aprimorou eles e viemos aprimorando cada vez mais. E temos ensaiado bastante para no dia chegar ao nosso grande objetivo”, avalia o mestre-sala, que está na escola desde 2022, ao lado da mesma parceira.

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O ensaio ainda contou com a participação do filho de João Cândido, Seu Candinho, um senhor de quase 90 anos que neste treino veio a pé, mostrou muito vigor e alegria. O samba, uma obra com a cara do Tuiuti destes últimos anos, produzida pelos mesmos autores, mais uma vez passou bem impulsionado pela voz de Pixulé que mostrou bastante resistência ao cantar a obra por duas horas ao lado de seu carro de som. No fim, poupando a garganta, o cantor que volta ao Grupo Especial, agora pelo Tuiuti, após dez anos, limitou-se a enfatizar ao site CARNAVALESCO que a comunidade do Paraíso do Tuiuti está pronta para cantar e evoluir bastante.

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“Essa comunidade tem sido maravilhosa, um show. Se o desfile fosse hoje, Tuiuti estaria ponta”, finalizou o intérprete estreante no Quilombo do Samba.

No carnaval de 2024, o Paraíso do Tuiuti levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, e vai homenagear João Cândido. A Azul e Amarela será a penúltima escola a desfilar na segunda-feira de carnaval.

De olho nos quesitos: jurados de fantasia apontam acabamento, leitura e paleta de cores repetitivas como principais justificativas

De acordo com o manual do julgador da Liesa, o julgador de fantasia precisa observar além da beleza do figurino das alas e sua adequação ao enredo se o uso de materiais está adequado, se o entendimento é facilitado ou não e ainda deve apontar eventuais situações repetitivas. Ao se apresentar completa na avenida, uma escola de samba precisa parecer um grande “tapete” multicolorido.

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Foto: Diego Mendes/Divulgação Rio Carnaval

A série ‘De olho nos quesitos‘ apresenta nesta reportagem uma minuciosa análise das notas e justificativas dos quatro julgadores de fantasia nos últimos carnavais. Paulo Paradela e Regina Oliva só não julgaram em 2020 nos últimos cinco anos. Sérgio Henrique e Wagner Louza estão no júri desde 2020. Os quatro terão a incumbência de avaliar os figurinos das 12 escolas do Grupo Especial na avenida este ano.

O site CARNAVALESCO levantou as justificativas mais utilizadas pelos quatro em seus julgamentos mais recentes e traz um guia aos carnavalescos sobre quais os temas mais causam perda de pontos. Assim como outros quesitos da festa, a fantasia se subdivide em concepção e realização. As perdas de pontos na maioria das vezes apontam para a realização. E a justificativa mais corriqueira nesse sentido é o acabamento das roupas. Se há partes caindo do corpo dos componentes, se algum tipo de iluminação está funcionando ou se eventuais maquiagens estão se desfazendo com o suor.

Outro aspecto bastante empregado nas justificativas é a leitura das fantasias. Não basta que elas estejam bem feitas, coloridas, criativas e com o emprego de diferentes materiais. Elas precisam dizer algo, precisam fazer sentido naquela parte do desfile e entrem com o fácil entendimento daquilo que representam. Caso contrário, os julgadores retiram décimos.

Um terceiro ponto bastante cobrado pelos jurados trata da paleta de cores. Se um determinado desfile tem um setor inteiro no mesmo tom de cor ou se a apresentação da escola como um todo abusa de uma mesma tonalidade, os julgadores também descontam décimos. O apuro visual das roupas, o excesso de informação, a volumetria das fantasias e a repetição de soluções estéticas em diferentes alas são outras justificativas enfatizadas pelos julgadores para punir as agremiações.

Julgadores de 2024 distribuíram 81 notas 10 em cinco anos

Os quatro julgadores do quesito fantasias aplicaram, desde 2018, 81 notas 10 para as escolas do Grupo Especial. O índice é quase metade (46%) das 176 notas totais distribuídas entre 2018 e 2023. 57% das notas máximas dadas por eles foram para as escolas de segunda-feira. Um índice mais equilibrado que em outros quesitos.

O julgador mais ‘generoso’ do júri deste ano é Sérgio Henrique. Ele é o único dos quatro que possui o índice de notas 10 acima dos 50%. Foram 20 notas 10 nos três anos que julgou, uma média de 6,6 por ano. Já Paulo Paradela é o mais exigente. 41% de suas notas nos quatro anos analisados foram 10 (21 de 51 notas dadas). Média de 5,25 por ano.

Viradouro ‘perde’ 0,5 décimo por ano e Mocidade quatro

A Viradouro é a escola de maior excelência no quesito a julgar pelas notas atribuídas pelos julgadores nos últimos cinco anos. Mesmo não tendo desfilado em 2018, a vermelha e branca de Niterói só perdeu dois décimos em 12 notas recebidas, o que dá uma média de apenas 0,5 décimo perdido por ano. Como não é possível perder meio décimo (se perde no mínimo um) pode-se sustentar que a escola é praticamente perfeita no quesito.

A Mocidade Independente de Padre Miguel, dentre aquelas que desfilam pelo menos quatro dos últimos cinco anos, é quem possui o desempenho mais baixo na média. A escola já perdeu 2,2 pontos em fantasias desde 2018 e só tirou quatro notas 10 em 14 possíveis. Isso dá uma média de perda de quatro décimos por ano.

Além da Viradouro as escolas com o melhor desempenho em fantasias são Vila Isabel, Mangueira, Salgueiro e Beija-Flor (0,1 décimo perdido por ano). As de desempenho mais fraco, além da Mocidade, foram Imperatriz e Tuiuti (0,3 por ano). Vale ressaltar que a série ‘De olho nos quesitos’ analisa apenas as notas dadas pelos jurados de cada quesito que estarão julgando em 2024. Notas atribuídas por outros jurados que não compõem o júri deste ano não foram analisadas.

Série Barracões SP: Camisa cumpre promessa e retorna ao Especial para homenagear legado de Oxossi

Doze anos depois, o Camisa Verde e Branco, nove vezes do carnaval paulistano, desfilará no Grupo Especial de São Paulo. E a história do enredo é bastante curiosa. Ainda no Grupo de Acesso I, a agremiação fez uma promessa para o orixá que guia os caminhos da instituição: quando o Trevo voltasse, Oxossi seria a temática da exibição. O projeto original foi mudado e recebeu o nome de “Adenla – O Imperador nas Terras do Rei”, que contará como três figuras (Faraó Piye, Mansa Musa e Adriano) honram o legado da entidade de religiões de matizes africanas. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Renan Ribeiro, idealizador do enredo, deu detalhes sobre a exibição – que abrirá os desfiles do Grupo Especial de São Paulo, na sexta-feira, 09 de fevereiro.

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Sintetizando

Como dito, a promessa de homenagear única e exclusivamente Oxossi foi mudada. Mas, nas palavras do carnavalesco, apenas isso mudou no fio condutor da temática: “O enredo não teve alteração nenhuma. Às vezes é até comum no processo por questões técnicas. Aí, a gente faz alguma alteraçãozinha aqui, outra ali – o samba, às vezes, também faz com que a gente mexa no texto. Mas isso não aconteceu, a gente não teve nenhuma alteração no projeto. Fizemos só uma amarração mesmo, de correção. O que ganhou força dentro do decorrer desses meses de trabalho foi a ideia de monumentar a construção que a negritude fez baseada nessa memória genética, que os reis homenageados plantaram na história da negritude. Esse era um dos links que faríamos e a questão das dinastias africanas que culminaram em reposicionamento social ficou mais presente. Isso tudo foi condensado e se tornou um amálgama para poder fazer com que a negritude tivesse no Adriano um exemplo disso: um enredo que busca mostrar o impulso de reposicionamento social, econômico, financeiro e político dentro da sociedade”, comentou.

Muito além da religião

Muitas vezes apresentado como uma entidade unicamente ligada à fé, o orixá, nos dias de hoje, também ganhou outra conotação importantíssima, na visão de Renan: “A história de Oxossi como uma figura política me chamou muita atenção. É comum a vertente religiosa e espiritual dele como orixá. O lado divino dele já foi muito explorado, já desfilou algumas vezes no Carnaval do Brasil, mas a figura política dele me chamou muita atenção. E, apesar de ter feito um enredo político só e ser taxado como um carnavalesco político, o enredo tem algumas questões que tocam em questões políticas – mas não partidária, na parte de luta de classes. O que me chamou atenção é que todas as figuras homenageadas tocam, de alguma forma, nessa parte política”, pontuou.

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Para exemplificar, o carnavalesco destacou como cada um dos homenageados impactará no desfile – aproveitando para destacar o que, para ele, será o ponto forte da exibição: “Oxossi, faraó Piye – talvez o mais veemente de todos por conta do reposicionamento dele dentro da política egípcia, de sair de um povo escravizado para se tornar líder do povo egípcio. Esse setor me encanta, talvez seja o meu setor favorito. Gosto muito da estética do Egito, mas também gosto muito do setor textual do Mansa Musa. Acho que ele merece um enredo só dele porque ele desmistifica e desconstrói o que a gente entende por África hoje, de gente faminta e ligada à miséria. Acho que esses serão os principais trunfos do desfile”, apostou.

Estética em pauta

Pouco depois, entretanto, Renan deu outra ótica para o ponto alto da exibição: “Eu não tenho como falar o que eu acho que chama mais atenção porque em cada setor da escola nós temos um recomeço de desfile. A gente muda a estética completamente: abrimos com uma África mais geométrica, com uma estética quilombola; depois, vamos para uma África egípcia, com uma estética completamente diferente; e vamos para uma África islâmica, árabe. Quando entramos nesse setor, a gente já tem essa memória genética reverberando na atualidade. Depois, falamos sobre movimentos políticos e do black power até a gente desencadear em um carro que é meio favela, meio Roma, coliseu. A estética é completamente maluca, no último setor eu tenho até algo meio Joãosinho Trinta. O último carro também tem muito a mão do Leonardo Catta Preta [carnavalesco que chegou ao Camisa em dezembro]. Foi uma mudança que a gente teve no projeto por sugestão dele, mais baixo. Encerraremos o desfile com algo mais teatral, mais elementos humanos em cima do carro, com vibração. Não com esculturas, espelhos e bandôs, não com uma grandiosidade material, mas com um elemento humano bastante presente. Eu destaco pontos porque eu tenho praticamente quatro desfiles dentro do mesmo desfile falando em questões estéticas”, refletiu.

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Citando outras coirmãs que também desfile na sexta-feira, Renan pontuou que optou por seguir um caminho diferente: “Esteticamente, a gente tem um desfile africano que quase não é afro. Na mesma noite do Camisa, desfilam Independente e Dragões da Real, duas escolas muito fortes também com enredos africanos – mas com temas mais tradicionais, com um arco mais ligado à savana. A gente não tem essa estética aqui, faremos algo mais tribal. Falando de reinados africanos, teremos outro ponto de vista estético, saindo das pelas animais (como zebras e gnus) para mostrar a diversidade que a África tem. Essa foi uma escolha minha”, bancou.

Setorização

Sobre a divisão da agremiação, o carnavalesco se preocupou em trazer tudo que será apresentado para o Continente Espelho: “Cada setor ele vai desmistificando um estereótipo plantado no consciente coletivo sobre o que que é África. Eu começo falando que existe um continente que foi empobrecido, roubado e saqueado. Essas histórias vão desconstruindo a ideia que a África é isso: a África foi tornada assim. E, aí, eles se ligam a Adenla. A coroa do rei para mostrar que todos eles foram ligados à nobreza, dinastias, reinados e uma riqueza absurda. Eu falo de Oxossi como uma figura política porque ele desconstrói uma ideia de africano com um conformismo de subalternidade, de subserviência, de inferioridade. Ele deixa de ser um aldeão para se tornar um rei, ele recoloca dentro da sociedade dele. Ele já desconstrói esse estereótipo de que africano é escravo e não escravizado. O faraó Piye descontrói a ideia da África entregue, de que não é um continente onde se plantou muita luta. Líder dos núbios e dos cuxitas, ele se torna faraó do Egito. Mansa Musa descontrói a ideia da pobreza e da miséria africana, sendo o homem mais rico da Idade Média – quando, no consciente coletivo, os grandes impérios eram os europeus. No último setor, tudo isso vai se condensando e se afunilando para se tornar essa história sendo reverberada – ele sintetiza tudo aquilo que o sangue traz. Se a gente for dividir em setores, penso que cada personagem, dentro do enredo, descontrói um ícone dos estereótipos construído na África”, comentou.

Cotidiano apreensivo

Ao ser perguntado sobre como era o dia a dia em tudo que envolve a instituição, Renan fez uma confissão: “Foi, de longe, o carnaval mais difícil dos três que eu fiz pelo Camisa. Mais difícil que os do Grupo de Acesso porque subimos pro Especial ainda nos reestruturando. Não tem como dar um cavalo de pau em onze anos de Grupo de Acesso, subir e ter a mesma estrutura de outras escolas que nunca caíram. Tem sido muito difícil a minha rotina aqui, eu boto a mão na massa, vou para a mesa de corte e para a máquina de costura, vou para ateliês, trago fantasias. Tenho participação constante fora a participação que tenho com a própria escola de conversar com todo mundo, receber destaque por destaque no barracão, acompanho chefes de ala… o trabalho tem sido muito puxado porque o Camisa, em comparação a outras escolas, ainda tem uma equipe reduzida por questões orçamentárias. Queremos fazer um carnaval competitivo para manter o Camisa no Especial. Está todo mundo trabalhando dobrado para fazer um carnaval de excelente nível, acredito que vamos abrir o carnaval de São Paulo do jeito que o Camisa merece, a gente vai surpreender muito. São os setenta anos da escola, os cento e dez anos do cordão… vamos abrir o Especial em alto nível”, prometeu.

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Ainda falando da escola, Renan aproveitou para relembrar uma situação vivida bem recentemente: “Eu era frequentador de ensaio, olho, avalio, canto e ensaio junto. O enredo afro era o desejo da escola já que é ligado à própria identidade da agremiação, todos se sentem à vontade com uma temática como essa. Quando revelamos o enredo, ninguém entendia muito bem o que era um enredo africano com a participação do Adriano. Conforme foram saindo as primeiras matérias, eu fui conversando com os próprios componentes e eles foram entendendo o que era, quais eram os caminhos, do que se tratava… o samba sintetiza e amarra bem o enredo, se tornou muito mais deglutível para a comunidade – e eles entenderam o recado. Até as eliminatórias eu tinha um pouco de desconfiança, e olha que ela foi de altíssimo nível. O samba ganhou algumas enquetes de melhor do Grupo Especial e isso vai ajudando na autoestima da escola: é o Camisa Verde e Branco, uma escola absurdamente tradicional, fazendo a lição de casa – que é ter uma boa bateria, um bom enredo, um bom samba, uma boa Evolução e uma boa Harmonia. O samba pegou, dentro e fora da instituição. A autoestima retornou e a escola está embalada, feliz, empolgada, animada… é um conjunto de fatores que faz com que a escola esteja cantando assim. No último domingo, teve ensaio na quadra, saí da Fábrica do Samba atrasado, o evento já tinha começado na quadra e, dois quarteirões antes, eu estava escutando os componentes no nosso terreiro – e fazendo eco. Apesar disso, o João [Victor Ferro, diretor de carnaval da escola] marcou ensaio de canto porque a gente sempre acha que pode melhorar ainda mais”, surpreendeu-se.

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Para Renan, a principal preocupação do staff do Trevo são quesitos que envolvam algo além do canto e do samba-enredo: “Apesar do chão do Camisa e da empolgação da escola, a gente também busca uma linha mais técnica pensando muito em entregar a questão de critério de julgamento de regulamento. Esse ano a gente também vem na mesma forma para poder buscar os mesmos resultados. O desempenho da comissão de frente, por exemplo, é na entrega dos balizamentos; o Alex Malbec e Jessika Barbosa (casal de mestre-sala e porta-bandeira), a mesma coisa, dando aquele tempero. Em todos os setores a gente tem buscado isso. Fantasias, alegorias… a gente vai ‘fazendo os checks’, ‘ticando’. Pensamos nisso porque o Camisa é a emoção, o momento, a catarse. Isso o Camisa faz sem precisar de ensaio. O componente já é emocionado por si só. Precisamos ensaiar a parte técnica. Com essa questão redonda, a gente vai ter um desfile um equilíbrio entre técnica e pegada – como foi no desfile do ano passado”, lembrou-se.

Privilégio do Grupo Especial

A Fábrica do Samba é um espaço que reúne todos os barracões das escolas do Grupo Especial – quem está no Grupo de Acesso I e II fica na Fábrica do Samba II, conhecida popularmente como Fupe. Para o carnavalesco, o novo espaço é muito mais adequado para todos os envolvidos: “Você sai de uma construção mambembe para algo meio Big Brother. É muito diferente, principalmente para alegoria – que é o maior abismo que existe. Hoje, o Grupo de Acesso é absurdamente disputado, a gente tem grandes escolas lá – eu sempre ouvi que é o terceiro dia do Grupo Especial, que fazem carnavais gigantescos à mão. Um carnaval gigante com uma estrutura ínfima é complexo: você tira um carro alegórico da Fábrica do Samba II com o máximo de quatro metros e meio de altura para chegar a quinze metros, tem que montar mil peças para ter o direito de sonhar chegar no Grupo Especial. Aqui na Fábrica do Samba, já saímos com sete metros, a metade do caminho para a alegoria. A gente consegue ver o carro alegórico inteiro, de cima, quase em 360°. No outro local, vemos ele de baixo – já que não tem como subir em um carro. Aqui, a gente também consegue fazer um ateliê de costura e de corte, fazer a produção das fantasias parcialmente. A diferença de estrutura é gritante, principalmente nas alegorias – que ficam infinitamente melhores”, comemorou.

Peso do pavilhão

Ao ser perguntado sobre o que o público poderia esperar da agremiação, Renan Ribeiro deu uma dimensão do quão confiante está o Trevo no retorno ao Grupo Especial: “Para o pessoal que vai estar sexta-feira no Anhembi: o Camisa volta em um momento muito propício, marcando os setenta anos da escola e os cento e dez anos do cordão da Barra Funda – que é a origem não só da agremiação, mas de todo o carnaval de São Paulo. Para quem sente saudade do Camisa no Grupo Especial, quem vai estar na arquibancada, assistindo na televisão ou na internet, vai ver uma escola potente, grande e volumoso – do jeito que todo mundo esperava. A gente vai matar essa saudade em grande estilo: vai ser emocionante e comovente. Teremos já no abre-alas grandes figuras, nossa Velha Guarda, Casal Soberano [Gabi e Vivi, históricos mestre-sala e porta-bandeira da agremiação], matriarcas, baianas na frente para abrir os caminhos… esses setenta anos vem aos pés de Oxossi: o padroeiro da escola traz a dinastia e sua corte toda aos seus pés. A linha real do Camisa vem de cara: os setenta anos de uma escola tradicionalíssima, que é absurdamente preta e de comunidade”, finalizou.

Ficha técnica
Alas: 16
Alegorias: 04

Série Barracões SP: É hora de sintonizar! Águia vai trazer história dos cem anos do rádio no Brasil

A Águia de Ouro será a quinta escola a pisar no Sambódromo do Anhembi no sábado, dia 10 de fevereiro. O enredo será “Águia de Ouro nas Ondas do rádio”, sobre os 100 anos da rádio no Brasil. Com o retorno do carnavalesco Victor Santos para o carnaval de São Paulo, a agremiação da Pompeia busca repetir o feito de 2020, quando conquistou o seu título inédito no Grupo Especial. O carnavalesco Victor Santos esteve na agremiação em 2006 e 2009, e é cria da Beija-Flor de Nilópolis, portanto volta a São Paulo após um tempo longe. Em visita ao barracão da Águia de Ouro, o artista contou sobre o enredo para 2024 para o site CARNAVALESCO.

AguiaDeOuro et Barracao

Em relação ao retorno para São Paulo após um período distante, Victor Santos relatou: “Fiz parte do carnaval de São Paulo já mais ou menos uns 10 anos atrás. Fiz o Águia de Ouro foi a primeira escola que fiz aqui em São Paulo, depois eu cheguei a fazer dois anos Império de Casa Verde, né? Fizemos dois carnavais muito bacanas lá, inclusive um foi o primeiro campeonato da império. Mas sempre tive aqui no Águia de Ouro, sempre fui envolvido com Águia de Ouro e a Águia de Ouro e Beija-Flor, é minha escola onde eu comecei e me formei como carnavalesco. Foi lá que comecei a entender tudo sobre desfile de escola de samba, o Beija-Flor. Comecei muito novo trabalhando com Joãosinho Trinta, com outros grandes profissionais. Mas fiquei com saudade de São Paulo, sabe? Parece que eu tinha deixado alguma coisa que precisava, um ciclo que precisava ser fechado em São Paulo. E Graças a Deus estou aqui de novo fazendo parte desse cenário de São Paulo, desse tipo de carnaval de São Paulo e do Águia de Ouro”.

Enredo e as temáticas escolhidas

A história do rádio no Brasil é muito ampla, muita gente iniciou no meio de comunicação e hoje está em outro veículos, seja televisão, internet, humor, e tantos outros meios… Outros seguem em jornada dupla. Pois o enredo surgiu através do presidente da Águia de Ouro, Sidnei Carriuolo, como contou o carnavalesco Victor Santos.

“A proposta veio do presidente Sidnei, né? Ele disse que queria fazer uma homenagem ao rádio pelo centenário do rádio. Ele está fazendo o centenário no Brasil e ele queria desenvolver, achei a ideia maravilhosa. Ele disse que merecia uma homenagem, então o enredo é uma celebração a esse aniversário da rádio dentro da celebração do carnaval é um abrir de cortina. É um show que vai começar, não tem muito mistério esse enredo. Nós vamos mostrar a importância do rádio no Brasil, tantas pessoas maravilhosas que o rádio apresentou. Claro que nós não vamos conseguir fechar tudo isso porque é muita coisa, mas nós vamos fazer um espetáculo, onde nós vamos dar pinceladas dos momentos do rádio”.

Com um enredo cheio de histórias para contar, afinal a história da rádio no Brasil completou cem anos, foi preciso fazer uma seleção do que abordar dentro do enredo: “Olha, nós nos reunimos, eu, o presidente, mais a diretoria da escola, algumas pessoas. Nos reunimos e conversamos, fomos fazendo uma separação do que não poderia faltar e o que tinha que ter. E na minha cabeça o que acontece mais, eu tô o tempo todo visualizando o desfile e vendo esses momentos. Poxa, eu acho que isso aí agora, esse elemento nesse momento do desfile. Vai ser importante porque a gente saiu de um momento de repente vamos dizer assim, mais tranquilo, você saiu da Fé, aí agora a gente tem que ter uma levantada, né? Então eu penso muito nessas nuances que o enredo que o desfile vai ter através no decorrer do tempo até o final, né? Então eu penso nessa coisa nessa nuance da mudança de cores, dos momentos do samba. Vamos destacando o que não pode faltar, o jornalismo, a coisa do analfabetismo também, importantíssimo. Vamos fazendo assim devagarzinho de depois do samba incluímos algumas coisas também”.

É hora de sintonizar: a presença do rádio atualmente

Muito se falou sobre o fim do rádio com televisão, computador e por último a internet, mas não, o rádio sobreviveu e segue tendo grande audiência. Mas claro, com o tempo adaptou e vai ser abordado sobre o futuro: “Até hoje, e para o futuro, quando fala ‘o futuro assim será’ no samba, porque depois da descoberta dessas ondas começou essa avalanche de aparecimento de pessoas de momentos. A vida das pessoas começou a mudar. E essa descoberta dessas ondas invisíveis é que proporcionou o que nós estamos vivendo hoje e um futuro que nós não sabemos o que esperar. Hoje em dia nós falamos de Inteligência Artificial, tá todo mundo com medo, Inteligência Artificial do poder que ela tem. É esse futuro que a gente não sabe o que nos aguarda. Não vamos ficar só olhando para o passado do rádio, vamos falar do passado do que ela aconteceu no passado, da atualidade, passamos pelos DJs. E o futuro com as ondas novas ondas, novas frequências”.

Grande descoberta: Um padre visionário

Em toda grande pesquisa de enredo tem grandes descobertas que aparecem, no caso do Victor, foi um padre que iniciou tudo lá atrás: “Foi o Padre que temos nesse visual aí do rádio, do espetáculo, que o samba fala ‘é hora de sincronizar, o show vai começar’. Realmente o samba mostra o que a gente quer apresentar. Isso é importantíssimo, para que a pessoa que está assistindo possa entender bem participar daquilo. Além desse espetáculo todo de Carmem Miranda, de rainhas, humoristas, o padre ele sai um pouco dessa coisa. Ele é uma história dentro da história. Só o padre já daria um enredo e realmente eu nunca tinha ouvido falar desse padre. O nosso presidente Sidnei que é o maior pesquisador que tem aqui, tem me ajudado muito no desenvolvimento do enredo e falou dessa figura. Na época eu estava pesquisando, já tinha chegado até esse personagem, mas não tinha conhecido muito a respeito da vida dele. E fiquei completamente apaixonado, completamente apaixonado quero conhecer mais, quero visitar o grupo que tem, parece que é em Porto Alegre que tem uma uma associação que cuida da memória dele e eu fiquei fascinado pelo fato de ser uma pessoa sonhadora, uma pessoa que olhava para o céu e questionava o universo. Por isso, por que que a gente tá aqui nesse planeta? Por que existem tantos planetas galáxias? O que é Deus, né? Tanto que depois disso ele se tornou Padre, por causa da busca do Divino, do desconhecido, do sobrenatural e que o cara foi perseguido pela igreja e foi boicotado, ele era transferido da paróquia para não poder dar seguimento às pesquisas dele, e conseguiu fazer né? Conseguiu fazer a transmissão, então posso te dizer dentro desse cenário maravilhoso de pessoas fantásticas. O padre é assim a cereja do bolo”.

Outros homenageados da rádio brasileira

Com ar de surpresa, o carnavalesco da Águia de Ouro falou sobre outros homenageados: “Vai ter algumas pessoas importantes, bacanas, né e vão trazer muita emoção para gente na avenida, sabe gente que começou no rádio. Vivas, e também homenagem que tá no outro plano espiritual. Mas assim o homenageado é personificado ali, como se ele tivesse personificando o enredo, porque foi 50 anos da vida dele. É o Eli Corrêa”.

Estrutura e as cores

As cores azul e branco da Águia de Ouro vão aparecer no desfile? A expectativa foi gerada por Victor Santos que relatou: “Gosto de trabalhar as cores de forma que elas possam te conduzir. Porque dependendo da cor que você vê na Avenida, você é conduzida a uma determinada emoção. Sabemos que as cores elas têm essa influência. Então você vai ter uma escola muito colorida, mas em determinados momentos. Por exemplo, no momento da Fé, nós vamos trabalhar com cores que possam remeter aquele sentimento de paz, de tranquilidade e encher os olhos, é um colorido bem inteligentemente trabalhado. Porque se a cor não for harmonizada, ela pode causar um borrão. Então nós estamos com uma escola colorida. Não posso te dizer exatamente como isso vai se dar. Mas nós temos nuances de cores que vão apresentar uma variedade, de uma paleta cromática”.

AguiaDeOuro et VictorSantos

Em relação a estrutura de alegorias e o desenho que a escola vem para o carnaval de 2024 nos contou: “Tem pessoas, têm carnavalescos, artistas não ligam para a questão do gigantismo, né? Eu gosto de gigantismo, sabe? Gosto de alegoria grande. Claro que vai ter é vai ter que momentos que não vão ser alegorias assim tão grandes, para ter aquela nuance né… Que você tem um carro maior, um carro não tão grande, um outro maior, mas gosto de estrutura grande, até porque a passarela aqui de São Paulo, ela é maior, mais ampla, então se você não fizer um carro muito grande, no tamanho bacana, as pessoas que estão muito afastadas, elas veem muito pouco. Então gosto de fazer o máximo que eu puder fazer grande, eu faço. E vou balanceando isso com estruturas menores também para não ficar aquela coisa também só aquele formato. Ter uma dança aí da emoção, do tamanho, isso também é trabalhado nas cores também, momentos mais coloridos. Nós vamos ter momentos preto e branco porque quando você lembra do rádio lá no início você vê imagens preto e branca. Então você vai ter também momentos preto e branco. Então vai ser assim, um desfile muito rico, isso é maravilhoso, porque às vezes não escolhemos determinado tema, pois o tema não oferece elementos para você fazer um desfile rico. Onde você vê uma coisa, daqui a pouco você vê outra coisa aqui que não tem nada a ver com aquilo que você já viu aí vem outra coisa, sabe a surpresa para não ficar uma coisa cansativa. Ou seja, esse desfile, esse enredo, ele proporciona isso, essa possibilidade”.

Aposta principal é no momento de fé

Sobre o grande trunfo do desfile, momento que vai emocionar o povo, tem uma opinião de quem desenvolveu todo o projeto na agremiação da Pompeia: “Tem um momento que vai ser emocionante, realmente vai trazer essa emoção que é esse momento da Hora do Angelus, da Ave Maria, que não vou falar o que que é porque realmente assim, mas meu pensamento é a escola inteira ser esse momento, sabe? O Águia tá muito feliz, o Águia tá cantando que é uma maravilha, tá curtindo que é uma benção. Nós tivemos nosso primeiro ensaio de rua (dezembro de 2023). Foi uma maravilha uma delícia, sabe por quê? Porque o samba é fácil, isso é importante a pessoa não precisar embolar a língua para poder cantar. Então samba é fácil, conduz bem a emoção, então a minha expectativa é a escola inteira sendo um momento assim num momento grande que vai ter aquela nuance que eu te falei, mas o tempo todo a energia vai ser mantida até o final”.

Conheça o desfile

O carnavalesco do Águia de Ouro, Victor Santos revelou que trocaram o nome de ‘setor’ para ‘sintonia’ em homenagem ao rádio, e assim vem:

Sintonia 1: “A começar pelo é 7 de Setembro de 1922, quando houve a primeira transmissão radiofônica no país, que foi no teatro municipal do Rio de Janeiro com a fala do presidente Epitácio Pessoa. Mas antes disso também um padre Landell de Moura que a gente pesquisando, eu tive a felicidade de encontrar esse padre né? O presidente também falou pra mim a respeito da figura desse Padre. Fiquei encantado com esse padre. Um brasileiro que é voltado para a ciência que dizia que tinha percepções de ondas que saíam do ser humano e que também percorriam o espaço. E aí ele teve oportunidade de muito antes dessa transmissão do sete de setembro de 1922 no teatro municipal, ele teve a oportunidade de fazer uma transmissão aqui em São Paulo no pátio do colégio para Avenida Paulista e foi acusado de bruxaria, foi demonizado, foi completamente relegada ao esquecimento. Ele foi acusado porque diziam que ele tinha uma caixa mágica que falava e os cientistas da época diziam que era impossível transmitir a voz humana sem fio, né? Ele foi esquecido, então a Águia de Ouro está fazendo isso, que é o papel da escola de samba também, trazer esses personagens esquecidos, negligenciados pelo país, um inventor brasileiro. Estamos muito felizes de trazer a figura do padre Landell que veio antes dessa transmissão oficial”.

Sintonia 2: “E aí depois dessa transmissão oficial, começamos com essa ciência que é essa busca da invenção, da percepção, da existência de ondas desconhecidas. E aí depois vamos ver a primeira transmissão radiofônica. E aí começa a mudança da sociedade brasileira com a chegada da rádio. Primeiro depois do abre-alas, nós temos uma ala que trata do analfabetismo que é uma ala que fala da inclusão social dessas pessoas que não tinham direito à informação. Que era um número muito grande na época do país era mais de 70%, mais 80% da população era analfabeta então quem tinha acesso à informação era só aqueles que podiam fazer o uso da imprensa escrita, né aí agora não. Porque quando o Roquette-Pinto pegou todo aquele material do Teatro Municipal que participou daquela transmissão quando Epitácio Pessoa criou a Rádio Nacional, aí nós tivemos um país mudou. Esses excluídos começaram a ser incluídos na sociedade através do acesso à comunicação. E aí começa, a nossa vida começa a ter uma trilha sonora, começa a vir a era de ouro dos grandes cantores. Nós temos também o humor fazendo parte, depois disso o rádio começa a fazer parte da vida, do cotidiano das pessoas. A pessoa, a dona de casa, acorda e liga o rádio. As pessoas afastadas nas áreas rurais começam a fazer o uso do rádio de pilha. Você leva para onde você quiser, a informação. Às vezes não temos noção de como isso foi importante, como isso mudou o país, quantas pessoas maravilhosas, se a gente for ver todos os grandes comunicadores e os grandes artistas que nós temos começaram no rádio”.

Sintonia 3: “Depois disso nós temos um momento que vamos destacar, que é o momento em que o Brasil todo se unia em torno do rádio. Além das rádios de novelas, que veio também lá na Rádio Nacional, nós temos um momento da hora do Angelus que era às 6 horas da tarde, quando todo mundo se reunia para fazer a prece da Ave Maria. Quando você tava, ouvia o ‘Ave Maria’, fez 6 horas, tá tocando Ave Maria no rádio. Então esse é um momento que nós destacamos como um momento de fé, um momento importante, um momento que vai trazer também uma surpresa que o elemento surpresa é muito importante na Avenida”.

Sintonia 4: “Então nós vamos trazer um elemento surpresa nesse momento. Depois nós fazemos uma homenagem a um radialista, até então nós falamos das pessoas homenageamos pessoas, mas não temos aí no desfile, nenhuma pessoa que realmente tenha vivido isso e o Eli Corrêa, se o rádio tem 100 anos no Brasil, ele tem 50 anos de rádio. Então ele vem abrilhantar o nosso desfile com ‘Oi gente’ dele, com a energia dele no último carro, onde nós fazemos homenagem a ele e também destacamos a Sociedade Clube da Amizade, é um trabalho dele, um trabalho social, filantrópico, que é um trabalho que o rádio também presta até hoje. Um trabalho de cartas de amor, de encontrar pessoas desaparecidas, trazer mensagens e também aquela coisa toda, dedique uma canção a uma pessoa amada. Quer dizer quando a nossa vida realmente passa a ter um fundo musical e a gente encerra com esse carro que homenageia o Eli Corrêa e também ele trata já, de comunicações mais avançadas. Por exemplo, telescópio, quando essas ondas quando nós temos antenas poderosas que captam ondas do universo e lançam também ondas do universo, descobrindo novas galáxias, e oportunidades que a gente não pode nem mensurar até onde nós vamos chegar. Isso tudo se a gente vive hoje na internet, vive hoje essa onda toda futurista que a gente tá vivendo, dessas possibilidades todas. Tudo nós devemos a aquele início, lá no padre, nas suas pesquisas, descobrindo essas ondas, esse início dessas ondas. A ousadia que ele teve que descobrir de todos os outros inventores também, de descobrir essas ondas invisíveis, né que nós também estamos mergulhadas”.

Ficha técnica
4 alegorias
3000 componentes
20 alas

Expectativa no alto! Squel fala em fantasia maravilhosa do casal da Portela no Carnaval 2024

Em entrevista ao site CARNAVALESCO a porta-bandeira da Portela, Squel, aumentou ainda mais a expectativa do portelense ao falar sobre a fantasia do casal para o desfile no Carnaval 20274. “Podem abordar a fantasia do casal como algo maravilhoso”, revelou Squel Jorgea,com brilho nos olhos e um sorriso.

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Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval

“Já vestimos duas vezes, vamos para a terceira e sairemos com a fantasia finalizada. É linda, está muito linda”, garantiu o mestre-sala Marlon Lamar.

O casal da azul e branca de Madureira entende a relevância do desfile neste ano. A centenária da Sapucaí representará as mulheres negras no desfile de 2024, com o enredo “Um Defeito de Cor”, baseado na obra da escritora Ana Maria Gonçalves.

Para Squel, o enredo significa “gratidão, renascimento, dar a volta por cima, força, coragem e resiliência”. Como mulher negra, ela se sente representada, a artista define emocionada:

“É não desistir nunca. É pelo meu filho, o Henrico, é para minha mãe, é para os meus que me acolhem, que não me deixam, que estão ali me protegendo, me acolhendo sempre, sempre, sempre, sempre. É gratidão eterna”.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

A história do enredo se desenrolará na avenida através de uma carta imaginada pelos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues. No texto, o baiano Luís Gama, um abolicionista, advogado e escritor, que foi separado de sua mãe Luísa Mahin, também conhecida como Kehinde, quando criança, se dirige a ela. Luís Gama, nascido de uma mãe negra ex-escrava livre e pai branco, foi vendido como escravo aos dez anos. Gama enaltece o legado deixado por sua mãe, conforme descrito em um livro.

À frente da Águia, o casal falou sobre o tradicional e o moderno e também fez uma autoavaliação do trabalho deles. Marlon se define como do “time clássico” e defende as tradições. “Acho que a tradição deve ser mantida. Para a manutenção do carnaval, o samba como um grande espetáculo evolui. Mas a dança do mestre-sala e porta-bandeira, acredito que o olho no olho, o horário anti-horário, o afeto e o carinho, isso deve ser intocável”.

Squel concorda em parte com o companheiro, defende a tradição e se define como a porta-bandeira que seguia a tradição à risca, em um momento em que o moderno era “a moda”. No entanto, ela comenta sobre ter sido “penalizada demais” em 2005, quando estava à frente da Grande Rio por ser “tradicional demais”.

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Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

“Já fui penalizada por ser considerada tradicional demais, isso em 2005, em 2015 os jurados deram um alerta: ‘Alô, vocês estão se perdendo, voltem para a essência’. E quando me olhei, eu não me perdi. Eu continuei acreditando em mim, e é o que continuo acreditando, é essa dança que me abastece, que alimenta minha alma, meu corpo e me faz acreditar em continuar”, avaliou.

O casal da agremiação compartilharam seus pensamentos sobre a importância do ensaiador e diretor artístico em seu desempenho, eles defenderam a importância deste “terceiro olhar”, mas também afirmam produzir a coreografia.

“Nossa ensaiadora não montou a coreografia. Nós montamos a coreografia. Ela nos ajuda a lapidar, ela nos ajuda a limpar. É sempre muito bem-vinda, ela é uma pessoa maravilhosa. Para nós, acho extremamente importante”, disse Marlon.

Squel, complementou as palavras de Marlon, destacando a relevância desse terceiro olhar. “Ter esse olhar, nos observando, compreendendo nossos limites e identificando o que podemos alcançar, é fundamental. Isso é muito significativo e traz gratificação ao casal. Visto que nosso trabalho pode ser bastante solitário, ter outra pessoa conosco para compartilhar nossas preocupações é crucial”.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

E, no meio de tudo isso, a admiração mútua e a paixão que ambos têm por trabalhar juntos é evidente. Marlon descreve Squel como a personificação da resiliência, uma verdadeira guerreira e uma “amazona em forma de pessoa”. Enquanto isso, Squel enaltece Marlon como um exemplo de acolhimento, carinho e afeto.

“Squel? Ela é a resiliência, com certeza. É uma mulher guerreira, é uma amazona. Isso aqui é uma amazona em forma de pessoa”, disse Marlon. Squel acrescentou com um sorriso no rosto: “Você é muito acolhedor, é carinho, é afeto”.

Rosas de Ouro aposta na plástica para fechar a sexta-feira de carnaval

Em um ano que a cidade de São Paulo está completando 470 anos e o Parque do Ibirapuera, marco da cidade, festejando 70 anos, nada melhor do que uma escola ligada a enredos sobre São Paulo homenagear tudo isso. Com o enredo “Ibira 70”, a Rosas de Ouro celebra as sete décadas do parque. É um tema onde a diretoria, carnavalesco e comunidade estão felizes. Remete ao passado de glórias que a comunidade da Brasilândia sempre teve, especialmente na década de 90. Outro fato que soma com tudo isso é o amanhecer, como diz o samba-enredo. A ‘Roseira’ irá fechar a sexta-feira de carnaval e, sendo assim, combina com o parque, que se destaca pelo dia.

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Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Surgimento do tema

Rosas de Ouro e São Paulo estiveram sempre ligados nos enredos. O mais famoso é o “Non Ducor Duco, Qual é a minha cara?”. O tema deu à escola o maior samba de sua história, além de um grande presente ao carnaval paulistano. Devido a isso, a agremiação, que necessita buscar posições melhores, viu no parque Ibirapuera uma forma de resgatar essas memórias. É o que confirma o artista. “Esse enredo surgiu coincidindo com aquilo que a gente estava pensando. Depois do carnaval a gente sentiu a necessidade de falar de alguma coisa ligada a São Paulo, porque a Rosas de Ouro em vários momentos abordou São Paulo e sempre foi feliz em temas ligados à cidade. A gente já tinha uma ideia formada a respeito disso e esse enredo surgiu e achamos que seria bacana falar, porque ia de encontro com aquilo que a gente estava pensando”, contou.

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Explicação do enredo

Nada será lúdico ou algo do gênero. É um enredo histórico. Paulo diz que o desfile vai abranger a história inteira do ‘Ibira’, desde como começou a ser pensado até o momento atual. “A gente conta a história do Ibirapuera, desde quando ele começou a ser pensado quando ele começou a ser sonhado, até os dias de hoje. Então a gente vai mostrar todas as características desse parque que é muito peculiar, porque ele não é um parque só de natureza. É um lugar de cultura, um parque social, enfim. Posso dizer que é um parque completo, porque abrange tudo aquilo que as pessoas esperam de calmaria em uma cidade tão veloz quanto São Paulo. Na verdade, eu acho que o Ibirapuera é o coração e o pulmão da cidade, porque quando você entra ali, parece que não está em São Paulo. Ele te transmite paz, calma, mas ele também te transmite cultura. Te permite várias coisas. São Paulo é feita de tribos e esse parque acaba abrangendo tudo isso”, explanou.

Encantamento do artista

Segundo o carnavalesco, o que mais fascinou na concepção do tema, foi a questão de ter vários fatos dentro do local a se aproveitar. “Eu acho que a diversidade. Eu frequento Ibirapuera até como turista. Antes de morar em São Paulo, sempre que vinha, eu ia ao Ibirapuera muito também por causa do museu Afro Brasil, que é o meu museu preferido. Então em algum momento eu vou para esse museu, porque é o que eu mais gosto de todos que eu conheço. O parque já me cativava antes de eu morar aqui na cidade e eu acho que o grande barato é o desenvolvimento. É podermos mostrar para as pessoas que ele tem muito mais daquilo que às vezes elas esperam. Quando você ver a Rosas de Ouro na avenida, vai ter coisas que as pessoas não vão reconhecer, porque elas vão para o parque com um olhar e o parque tem outros olhares. Se você for pensando em saúde e lazer, tem coisas culturais dentro do parque que vão passar batido para você e não vai perceber. O local tem muito mais do que isso. Vai para várias vertentes. Eu acho que isso foi o que acabou me encantando na hora de desenvolver o enredo e de criar as fantasias da Rosas de Ouro”, explicou.

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Mudança de característica

A ‘Roseira’ teve como enredo desde a chegada do Paulo, duas ideias do artista. Em 2022, o enredo “Sanitatém”, que abordava a cura. No desfile passado, “Kindala”, um tema de resistência negra também foi de autoria de Menezes. Agora, em seu terceiro carnaval dentro da escola, o carnavalesco terá que realizar algo proposto pela agremiação, mas diz que está lidando tranquilamente com a situação. “Para mim é normal, porque eu sou meio que classificado como um artista barroco e, na realidade, o artista não é barroco e não é moderno. Ele é artista. Você tem que se adaptar à realidade que o enredo te propõe e a característica de cada escola que você está trabalhando. O artista tem que ser meio camaleônico. O importante é um enredo passar a mensagem dele, você não pode ficar preso. Então eu acho que a gente procura sempre fazer passar a mensagem do enredo da melhor maneira possível. É claro que a tua característica sempre vai estar presente, mas o artista é diverso. Não tem essa de ser uma coisa só. A gente consegue fazer várias coisas”, declarou.

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Parceria dentro do tema

Para 2024, a Rosas tem uma parceria para desenvolver o “Ibira 70”. Mas, segundo o artista, nada está influenciando em seu processo de criação. “Essa parceria nunca interferiu em nada na criação. Então o que foi criado, desenvolvido, pensado, foi aquilo que o Rosas de Ouro queria fazer. Zero interferência de parceria”, afirmou.

Liberdade para o artista

Paulo também se diz muito tranquilo na escola, pois tem a liberdade de realizar tudo o que queria. “Eu não posso reclamar, porque tudo que sempre quis fazer aqui no Rosas, a escola sempre me deixou fazer. A escola também nunca interferiu em nada na criação. Então eu não tenho essa preocupação e nem essa reclamação em relação à Rosas de Ouro. Eu sempre tive muita liberdade aqui dentro”, disse.

Trunfo da escola

Exaltando a escola, o artista fala que o trunfo do desfile é a própria Rosas. Dentro da pista, avaliou que a segunda alegoria pode impressionar o público. “Eu acho que o grande trunfo da Rosas de Ouro é a Rosas de Ouro. É um carnaval que eu acho que é bem diferenciado, porque a gente vai desfilar de manhã, então é um carnaval muito colorido e tem umas pegadas que eu acho que vai cativar as pessoas. Vai deixar as pessoas bastante interessadas e bastante felizes em ver o desfile, mas o ponto alto do desfile, eu acho que é a segunda alegoria, que vai interagir mais com o público e com todos que estão assistindo”, afirmou.

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Horário diferente – aprovado

A agremiação da Brasilândia irá fechar a sexta-feira de carnaval. Dentro disso, o carnavalesco contou que os carnavais pela manhã de sua autoria foram os mais legais. “Eu perdi a conta de quantas vezes eu fechei o desfile e encerrei de manhã. Eu acho que os meus desfiles mais bacanas foram ou no amanhecer ou na luz do dia. Eu acho que aqui não vai ser diferente. Vai ser um desfile muito legal, muito bacana e que as cores vão ajudar muito, só espero que o sol apareça no dia”, comentou.

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Conheça o desfile

“A gente abre mostrando o sonho ideal do parque até a construção da inauguração do parque. É a abertura da escola. Aí depois a gente mostra a ecologia, a fauna e a flora. Tudo que o parque tem nesse nesse aspecto. Depois a gente mostra o corpo, a mente, a saúde e o bem-estar. Toda essa parte envolvendo esse sentimento dentro da procura humana, a gente está mostrando nesse setor. Depois vamos mostrar tudo que é de cultura, arquitetura e arte. Logo após, a gente vai mostrar tudo aquilo que já aconteceu no parque, que já existiu e que está na memória e no coração do paulistano, mas que hoje não acontece mais. É a memória do paulistano em relação ao parque. A gente encerra comemorando os 70 anos do parque e mostrando que o Ibirapuera um dia já foi palco das escolas de samba também e que elas já desfilaram lá”, concluiu.

Ficha técnica
Quatro alegorias
Um tripé
2.000 componentes
Um elemento alegórico (comissão de frente)
Diretor de barracão – Alexandre Vicente
Diretor de ateliê – Marcão

Primeiro fim de semana de shows no Terreirão do Samba faz sucesso; próximo é imperdível

A maratona de shows especiais do Carnaval 2024 no Terreirão do Samba teve início com grande sucesso, reunindo alguns dos principais nomes do samba e pagode carioca, o evento promete apresentações até o dia 17 de fevereiro. Artistas como Belo, Diogo Nogueira, Sorriso Maroto, Tiee e Dilsinho já brilharam no Terreirão. No próximo final de semana, a programação incluirá apresentações de Vitinho, Vou Zuar, Clareou, Arlindinho, Pique Novo e Suel, prometendo momentos memoráveis.

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Foto: Paulo Mumia/Divulgação Riotur

O vice-presidente da Riotur, Luiz Gustavo Motof, ao site Carnavalesco, fez um balanço positivo do primeiro final de semana de shows no Terreirão do Samba. Destacou o tamanho do público, mencionando que o Terreirão iniciou a temporada com uma expressiva participação. Motof ressaltou que a temporada promete muito mais, especialmente no próximo final de semana, que coincide com o varnaval.

Ele antecipou que há inúmeras atrações programadas para a sexta-feira, 9 de fevereiro, e para o sábado, 10 de fevereiro, indicando que o Terreirão continuará sendo palco de grandes momentos festivos durante a temporada carnavalesca.

“A próxima semana é de Carnaval, semana cheia, com shows de sexta-feira até terça-feira que vem. Então, assim, dia nove, nós temos ali o cantor Vitinho, um cantor que é atualmente da nova geração do pagode, que tem feito shows belíssimos pela cidade, vai estar brindando o Terreirão pela primeira vez. A estreia do Vitinho promete muito e os ingressos também devem esgotar rapidamente para esse show. Ainda no sábado, o cantor Suel, Pique Novo, o Arlindinho, depois Gustavo Lins, depois na terça-feira o Tá Na Mente, enfim, uma programação completa com diversos shows bacanas”, comentou Motof.

Os ingressos, com preço popular de R$ 20, podem ser adquiridos online, permitindo a compra de até 5 ingressos por pessoa. Para realizar a compra, basta acessar o site https://www.tickethub.com.br/ – Depois, é só se preparar para se divertir muito no Terreirão e aproveitar as atrações do Carnaval.

“Convidamos todo o público, os segmentos das escolas de samba que inclusive estiverem desfilando, seja no Grupo Série Ouro ou seja no Grupo Especial, após desfilar ou antes de desfilar, para dar uma passadinha no Terreirão, sentar e aproveitar uma comidinha típica. Serão 40 barracas espalhadas, banheiros também, proporcionando ao público todo o sistema de posto médico e infraestrutura para conforto e segurança da população, som de qualidade, segurança e toda uma infraestrutura preparada para receber os foliões e os amantes do pagode e do Carnaval”, citou o vice-presidente.

Governador apresenta plano operacional e exalta investimento de R$ 62,5 milhões no carnaval do Rio

O governador Cláudio Castro apresentou, na manhã desta segunda-feira, o plano operacional do Carnaval 2024. O anúncio foi feito no Palácio Guanabara com as campanhas que serão realizadas pelo Estado durante os dias de folia, como ações de conscientização contra o assédio à mulher e sobre a dengue. Ao todo, 12.100 policiais militares reforçam o patrulhamento na capital e no interior – aumento de 5% comparado a 2023. Como destaque, a segurança pública terá, pela primeira vez no Carnaval, videomonitoramento com reconhecimento facial na orla da capital, Sambódromo, estações de metrô e Supervia. Todas as imagens captadas serão transmitidas em tempo real para o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).

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Governador Cláudio Castro durante a apresentação do Plano Operacional do Estado para o Carnaval. (Philippe Lima)

“Estamos a menos de uma semana de dar início à maior e mais popular festa do país. E eu tenho orgulho de ser o governador do Estado do Rio, que faz o maior Carnaval do mundo. Estamos preparados com um grande plano operacional. Nossas secretarias estão prontas para atuar nesta festa nos mais diversos setores. Fizemos um investimento de R$ 62,5 milhões, o maior da história do carnaval do Rio de Janeiro, destinado às escolas de samba, a um novo calendário de eventos durante todo o ano na Cidade do Samba, e nos blocos e outras manifestações culturais”, afirmou o governador.

Na Marquês de Sapucaí, no Setor 11, será montado um posto avançado da 6ª DP (Cidade Nova) e unidades especializadas da Polícia Civil. Seis torres de observação também serão instaladas ao longo da Avenida Presidente Vargas e durante todo o evento haverá monitoramento por drones.

Nas ruas, as ações também serão intensificadas. Nos megablocos, no Centro do Rio, haverá patrulhamento com drones e pontos de interceptação e revista com 250 detectores de metais, iniciativa que se repete nas estações de metrô da Zona Sul (Copacabana, Ipanema e Leblon). Já no interior do Estado e municípios da Região Metropolitana, batalhões da área farão reforço do policiamento nos blocos de rua.

“São mais de 12 mil policiais extras para garantir o acesso de todos a essa festa maravilhosa. Esse é um trabalho de integração não somente das secretarias de Governo, mas também com os municípios”, ressaltou o secretário de Estado de Segurança Pública, Victor dos Santos.

Série Barracões: Sereno de Campo Grande volta para Sapucaí abordando a relação Oyá e Santa Bárbara

No solo sagrado da Sapucaí o Sereno de Campo Grande apresentará no Carnaval 2024 o enredo “4 de Dezembro” que aborda a relação de Oyá e Santa Bárbara. O carnavalesco Thiago Avis conta de onde veio a ideia do enredo que foi desenvolvido em trabalho conjunto com os enredistas Juliana Joannou e Leonardo Antan e comenta como vai ser o desfile e os preparativos.

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Fotos: Giovanna Garcia/CARNAVALESCO

Surgimento do enredo

“Ele surge de uma observação minha, durante a finalização do carnaval passado de 2023. Por volta do dia 19 de fevereiro, por aí, teve uma tempestade e caiu um raio dentro do barracão, onde nós estávamos concluindo as alegorias e aquilo foi bem marcante. Depois que a escola se consagrou campeã e no domingo posterior, nós estávamos comemorando dentro da quadra, entrou uma borboleta monarca muito grande e pousou numa senhora que estava sentada na quadra. Eu me lembro que a camisa dessa senhora era bem tropical, com flores, com frutas, e eu achei aquilo interessante, eu gravei essa cena. Como eu estava brifado por um babalorixá, tambor de mina, referente ao enredo do ano passado. Eu fui perguntá-lo, né, e eu também conhecedor das religiões matriz africana, eu entendia que Oyá e Santa Bárbara tinha relação. Eu já tinha um conhecimento da festa e sabia que a festa nunca tinha sido contada na avenida. Então nós unimos uma coisa com a outra. Então, foi um trabalho de observação do artista, mas a pesquisa de todo um grupo. Porque o enredo é uma ideia minha, uma estruturação, mas com o desenvolvimento de pesquisa do Leonardo Antan e da Juliana Janot também”.

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Durante a pesquisa e descoberta, Thiago, fala que o que mais te interessou foi as experiências, as trocas e a cultura que viu. “É, me interessou a troca com o Babé Vitor, que é um babalorixá que teve em Oió. Eu tive a oportunidade de estar na Bahia e agora em dezembro para o festejo de Santa Bárbara. Tudo que eu conhecia, eu conhecia era de uma pesquisa secundária, eu necessitaria fazer uma pesquisa primária. Então, eu e Leonardo Antan fomos à festa. O Leonardo já conhecia a Bahia, ácido frequentador já de Salvador. Eu fui, fiquei encantado e muito emocionado com o que eu vi lá, porque assim, é uma expressão totalmente diferente do que eu já tinha visto aqui no Rio de Janeiro. Com isso, eu tive essa troca com o Babar Vitor que teve em Oió e me mandou imagens, vídeos de realmente como é o culto lá, inclusive os segredos que tem dentro do Palácio de Oió, são segredos da religião. Existe um juramento que você não pode passar diante dessas ideias. Não é nada tão fantástico, mas é um mistério que existe lá dentro. Porque eu não sei se vocês sabem, mas a Oyá, ela vem de Irá, da cidade de Irá. Só que o culto, ele se perde em Irá. Ele é cultuado em Oio, e o governo de Oio, recentemente, reconstruiu o palácio na cidade de Irá, que é a cidade de Oyá. Então, o rio Níger tem toda essa relação com a Oyá também, o Odoyá, o Odoyá de Iemanjá, mas é Odoyá a água de Iemanjá, o rio de Yansã. E o Oio, o rei Xangô, o Obá. Ela foi esposa dele de Xangô, então o grande amor da vida dela, por isso essa relação dela com a cidade Jóia”, explicou o carnavalesco.

Criação e desenvolvimento antes de chegar desfile

Com um enredo tão rico, a escola irá desfilar com três alegorias, um tripé e 1.800 componentes e promete marcar a Marquês de Sapucaí. O carnavalesco comenta os desafios de ser uma escola nova na Série Ouro, os seus enfrentamentos pessoais e o grande trunfo que irá trazer no desfile.

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“É a primeira vez que eu faço África, de fato, em quase 20 anos. Ano que vem eu faço 20 anos que eu estou no carnaval, desde 2005, isso transitando pela Intendente Magalhães. Então é uma estreia meio reestreia, mas é uma estreia mesmo na Sapucaí e fazendo uma áfrica, sabe, eu acho que isso mexe um pouco. Eu sempre perguntei como seria, eu fazendo áfrica e agora eu tô tendo a resposta. É claro que, dentro do que eu posso fazer, do que eu gostaria de fazer. A gente sempre quer fazer de uma outra forma, mas vejam, uma escola que subiu da Série Ouro agora, teve que montar uma estrutura de barracão, estrutura de chassi. Tudo isso impacta também no andamento do seu barracão, é diferente de uma coirmã que já está estruturada. Isso não tem a ver só com financeiro, mas eu acho que quem já está ali com todas as suas máquinas, com todos os seus profissionais, tudo organizado, é diferente. É quase você criar um pouco no meio do caos, mas sem deixar o caos tomar conta de você. Eu acho que o grande trunfo do desfile, além do canto aguerrido da escola, dos componentes do Sereno de Campo Grande, também a homenageada Santa Bárbara. Eu acho que vale o olhar para esse trabalho que a gente está fazendo em cima da santa Bárbara, que é a grande homenageada, como ela vai ser apresentada na avenida. Nós temos uma alegoria que vem representando o andor de Santa Bárbara”.

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A escola que será a primeira a desfilar no sábado de carnaval trará o abre-alas representando o grande Palácio de Oyá, importantíssimo para o enredo. E Thiago Avis fala que ele é o do seu queridinho do barracão

“Eu acho que o carnaval, num todo, eu tenho gostado, o tratamento que nós temos feito com abre alas que vem representando o Palácio de Oyá em Oio, na verdade, o Rio Níger. Ele é todo baseado, a pesquisa foi feita junto ao Babá Vitor. As cores, nós fomos fiéis, as cores que tem lá, do jeito que é lá. Foi feito um levantamento iconográfico de padronagens, de modo de pintura, pra gente tentar manter o mais fiel possível, claro, carnavalizando”.

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A escola que é originalmente azul e branco promete ter cores variadas da cultura africana. “É um desafio porque o Sereno de Campo Grande tem as cores branco e azul. E o enredo, o manto de Santa Bárbara é vermelho e Oyá é uma iabá da cor quente. Então, nós conseguimos fazer uma mescla dentro de todo o desfile, de um cromatismo que prevalecesse as cores quentes, mas que tivesse o contraste também dos tons frios da escola”, afirma o artista.

Estrutura da Coruja da Zona Oeste

As escolas da Série Ouro ainda não tem um espaço específico, barracões organizados e com boa infraestrutura para desenvolver o carnaval. A Cidade do Samba II foi prometida para esse ano de 2024 e efetivamente seu funcionamento para o carnaval 2025. Ao subir da Intendente Magalhães para a Sério Ouro, o Sereno trocou de barracão com a agremiação que desceu, a Lins Imperial, mas deu sorte de ter uma mínima estrutura.

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“A precarização dos barracões impacta, assim como também a verba impacta do momento que ela chega para a escola. Então quanto mais em cima do carnaval, mais próximo do carnaval a verba chega, existe uma maior dificuldade. Porque você tem todo um projeto para levantar, que deveria ter sido levantado em 3, 4, 5 meses, em dias. Então você vai abdicando de alguns itens, algumas coisas e vai dando outras soluções. Eu em questão de barracão, eu não posso nem reclamar porque eu já tive situações realmente muito precárias para isso, mas esse ano, graças a deus, a gente está num lugar que é coberto, tem banheiro e não é tão insalubre. Eu sei de outras coirmãs, isso não tira também a questão de que outras co-irmãs. A gente até divide aqui espaço com outra, com uma irmã que também tá com um carro em dois barracões. Você imagina um colega carnavalesco fazer um carnaval em dois barracões diferentes, um longe do outro né, então é bem difícil em relação a isso. O trajeto para a avenida é uma outra dificuldade, porque você tem muita afiação no caminho, tem ambulantes. Então tudo isso, apesar de estarmos num barracão que é próximo da avenida, que daria um certo conforto pra gente, mas a gente tem essa dificuldade em relação a limitação da altura de alegoria. Todo um cuidado para que ninguém tenha algum problema em relação a algum morador de alguma casa que fica sem energia elétrica. Tudo isso está sendo pensado para causar o menor dano possível às pessoas. O nosso ateliê fica na quadra da escola, fica lá em Campo Grande. Foi algo que nós começamos mais cedo, foi um pensamento mesmo de engenharia de produção. A gente precisava primeiro limar toda a necessidade, escoar essa produção de ateliê com fantasias para a gente poder focar no barracão em si”.

Diante de problemas e dificuldades de barracão e de investimento, os truques que uma escola de sambos da Série Ouro são necessários para tentar trazer um desfile espetacular, assim como fala Thiago Avis do barracão da Coruja da Zona Oeste.

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“Eu acho que é ter pé no chão, né? É ter pé no chão, ter o pé na terra firme. Eu, pelo menos no meu caso, eu sou virginiano, eu costumo falar isso. Então a gente tenta buscar organização e é um signo de terra. Então eu acho que você ter esse pé no chão é válido, porque você não pode sonhar tanto. Você gostaria de fazer mais, mas você tem que fazer aquilo que é possível, que cabe dentro do bolso e tirar aquela velha história, né? Tirar da cabeça o que o bolso não tem. Então, é quase um jogo de quebra-cabeças, porque a gente não tem 12 metros de altura dentro do barracão para testar uma alegoria. Então a gente sonha ou vislumbra que isso vai dar certo na hora. Então assim, é tentar manter a calma que é o primordial”.

As dificuldades não podem deixar abalar a questão da inteligência emocional para Thiago, é preciso ser profissional para levar o carnaval a Avenida para o artista.

“Se é prazeroso trazer o carnaval, é prazeroso. De certa forma é, né? Eu acho que com a maturação, com a maturidade, você vai aprendendo a lidar melhor com as pessoas, lidar melhor com todo o processo, tem o estresse e é corrido. Eu aprendi uma palavra no último ano, na verdade eu já sabia, mas não sabia empregá-la da forma correta. Eu falo que é desafiador. Quando o dia tá difícil, eu falo que é desafiador aquele dia, porque o outro dia, quem sabe, você melhora um pouco. Então, se você manter essa calma e o ritmo, você consegue tocar o seu trabalho e entregar, que é o primordial. Hoje você tem que ser sério e são pessoas que trabalham com você. Então, isso faz parte de uma inteligência emocional. Se você, como liderança, é uma direção de arte, como um carnavalesco, você tem que manter um discernimento. Se você estressar todo mundo, você não consegue botar seu carnaval na rua. Então, pelo menos pra mim, esse tipo de atitude, acho que não rola”.

História da Azul e Branco sendo contada na avenida

“Nós temos três setores no desfile todo, o início, o meio e o fim. Como toda história é, como no cinema é contado, como no livro é contado”, conta o carnavalesco.

Setor 1: “O primeiro setor, nós temos Oyá, em Oyó, na cidade de Oyó, ela chegando em Oyó, e o Palácio de Oyá”.

Setor 2: “O segundo setor, nós vamos pra Bahia, pra mostrar como essa Oyá, ela é festejada nesse terreiro, no dia de Santa Bárbara”.

Setor 3: “E o terceiro setor, é o setor da festa de Santa Bárbara, que nós mostramos todos os símbolos e signos que tem a ver com a santa em si. Ela é padroeira de quem ela, quem são os devotos dela, quais são as comidas que acontecem no dia. Todas essas coisas vão fazer parte desse setor”.

Série Barracões: Um enredo reeditado, mas atual; Vila Isabel aposta na emoção de Gbalá para buscar o título

Na briga pelo tão sonhado quarto título do Grupo Especial, a Unidos de Vila Isabel levará para a Marquês de Sapucaí a reedição de “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, idealizado pelo carnavalesco Oswaldo Jardim em 1993. A obra, que possui um espaço especial no coração do torcedor da agremiação, tem o samba-enredo assinado por Martinho da Vila. À época, a escola teve que desfilar debaixo de forte chuva e ficou em oitavo lugar. No entanto, a canção até hoje é considerada uma das mais bonitas de Martinho. Agora, o enredo está sob o olhar do carnavalesco Paulo Barros.

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Fotos: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO

Baseado na mitologia iorubá, a obra retrata a importância das crianças para um mundo melhor. Com os males causados pelo homem ao planeta, o criador – Oxalá – adoece junto com a sua própria criação. A esperança para um mundo melhor surge justamente através dos pequeninos. Apesar de ser um desfile feito há mais de três décadas, Gbalá é um enredo com temática atual, já que aborda problemas que persistiram ao passar das décadas e se tornaram ainda piores, como afirma o enredista Vinícius Natal.

“Um dos motivos que fizeram a gente sacramentar o Gbalá é exatamente porque os problemas que motivaram Oswaldo Jardim a criar o enredo ainda são atuais e até mesmo piores. Vivemos em 2023, por exemplo, o ano mais quente da história do planeta Terra. Não só isso, como também a pobreza, a poluição dos rios e a caça desenfreada de animais. Se a gente pegar os motivos que levaram o Oswaldo a criá-lo, basicamente são os mesmos de hoje. Tudo isso são os motivos que adoecem o criador – em 1990 e hoje”, explica o pesquisador.

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Além de ser um enredo atual, Vinícius explica que a ideia de escolher a reedição surgiu por conta da identificação criada pela comunidade e por ter o perfil do carnavalesco Paulo Barros.

“Já conversávamos com o presidente sobre muitas propostas de enredo. Dentro dessas várias possibilidades, entendemos que esse era o momento ideal para a Vila Isabel reeditar Gbalá, porque foi um enredo maravilhoso e que marcou muito a escola – que na época tinha outra estrutura. É um enredo que tem muito a ver com o Paulo Barros, então decidimos fazer a reedição. Tudo isso faz parte de alguns dos motivos que nos impulsionam a escolher esse enredo, além da memória afetiva que os torcedores e o mundo do samba têm por esse desfile”, detalha Vinícius.

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Para a pesquisa de enredo, Vinícius contou com o jovem João Vitor Silveira, além de Isabela Azevedo e Simone Martins. Juntos, os quatro realizaram um trabalho baseado no samba-enredo. O enredista revela que durante todo o processo de pesquisa, a emoção foi o que mais chamou atenção. Para ele, esse é, inclusive, um dos grandes trunfos da Azul e Branca para a Passarela do Samba: “O Gbalá toca muito no interior das pessoas”.

“Acredito que o mais interessante é a memória que os torcedores da Vila Isabel tem com Gbalá. Já sabíamos que era um enredo que marcou muito a história da escola, mas durante o processo de regravar o samba e apresentação da logomarca, a emoção das pessoas foi algo muito marcante. Por isso esse enredo tem a tônica da emoção, porque toca diretamente a memória do torcedor. A emoção, com certeza, será um trunfo muito bom. Durante o documentário ‘Kizomba’ – que fizemos no departamento cultural – o Martinho da Vila falou algo que me marcou muito. Ele disse que as pessoas acreditam que o samba-enredo deve necessariamente fazer as pessoas pularem de alegria. E também deve. Mas, às vezes, emociona”, conta.

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A reedição de um enredo ainda é um certo tabu para algumas pessoas do mundo do samba. Há quem tente evitar repetições por acreditar que não dá certo. Mas afinal, um carnaval reeditado facilita ou dificulta a preparação do trabalho que será apresentado na Avenida? Para Vinícius, o grande segredo para o sucesso é ter a consciência do que a escola precisa no momento. É o caso de Gbalá.

“Tem sido feito um debate muito grande sobre uma reedição ser válida ou não. Acredito que depende. Criou-se um mito de que ela não dá certo, e acho que não é verdade. A Estácio já subiu do Grupo B para o Grupo A com reedição, a Imperatriz recentemente também subiu para o Grupo Especial. A Viradouro já foi terceira colocada reeditando um samba. A reedição é fruto do momento presente da escola. Gratuita talvez não dê certo, mas uma reedição em que a escola abraça e faz com bastante consciência do que quer e precisa, pode dar certo. Como todo enredo, tem seus facilitadores e complicadores”, comenta o enredista.

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Vinícius é cria da Vila e retornou para a agremiação neste Carnaval. Ele ficou entre 2020 e 2023 na Grande Rio, e foi o pesquisador do enredo que levou a primeira estrela para Duque de Caxias, em 2022. Sentindo-se em casa e com a responsabilidade de representar a escola do coração, ele revelou que acompanhou as disputas de samba de 1993. A avó, que é compositora, ficou em segundo lugar na disputa daquele ano.

A relação com o enredo vai além da família. Ele trabalhou com o carnavalesco Edu Gonçalves, que foi assistente de Oswaldo Jardim e contava detalhes de como Gbalá surgiu.

“Eu tenho uma certa lembrança afetiva com esse enredo, porque é uma das primeiras memórias que tenho com a Vila Isabel. Muito pequeno, lembro que ficava brincando durante a disputa de samba. Esse enredo estava na minha cabeça há algum tempo. O Eduardo Gonçalves – que foi um dos caras que me ensinou o que era uma escola de samba pelo ‘lado de dentro’ – era assistente do Oswaldo e sempre contava que viu os primeiros rabiscos do Gbalá. O Oswaldo pegou um pedaço de pão e começou a rabiscar o abre-alas. Ele queria fazer um enredo iorubá, mas que não era uma África com o visual usual. Quando decidimos fazer a reedição, trouxe essas memórias junto com o processo de pesquisa”, revela.

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Principais personagens da história, as crianças vão estar inseridas ao longo de todo o desfile. “Quando depositamos a esperança na criança – lá no início da década de 1990 – estávamos no contexto da constituição de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Hoje, quais são esses direitos que devem ser assegurados para as elas? Quando olhamos para o hoje, os mesmos problemas daquela época são encontrados também. Esse foco na criança misturado com a narrativa ficcional é fundamental”.

Sob o comando de Paulo Barros, a Vila promete levar para a Passarela do Samba uma releitura bastante autoral, com a essência da escola e de fácil compreensão. O recado para o torcedor é a promessa é de um desfile imponente e que brigará pelo título do Carnaval carioca.

“O Paulo está trazendo uma releitura muito autoral e muito dentro do artista genial que ele é. Acredito que o grande trunfo será a fácil leitura. As pessoas vão bater o olho e entender o que queremos dizer, sem perder o fundamento religioso, a característica visual que o carnavalesco possui e, principalmente, sem perder a característica do que é a Vila Isabel. Podem esperar uma Vila que vai brigar pelo campeonato. Acredito que todo mundo está muito confiante e imbuído em fazer o melhor. Com todo o respeito às nossas coirmãs, acredito que vamos vir para brigar”, afirma o enredista da agremiação.

Conheça o desfile da Vila Isabel

A Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval. A agremiação vai levar para a Avenida seis alegorias e dois tripés. Ao todo, serão 28 alas e cerca de 2800 componentes, divididos em cinco setores – além da abertura.

Setor 1: “Meu Deus! O grande criador adoeceu!”: “O primeiro setor, intitulado “Meu Deus! O grande criador adoeceu!”, apresenta, de fato, o início de nossa “estória”, onde são representados alguns dos males do mundo causados pelo homem, e, dessa forma, Oxalá adoece junto com a sua própria criação. São apresentados alguns dos motivos que levam o mundo ao seu atual estado de degradação. O setor finaliza quando Exu, orixá da comunicação entre o mundo espiritual e o mundo terreno – Orum e Ayê, na terminologia yorubá –, atendendo a um pedido de Olorum e de todos os outros orixás, desce à Terra e leva crianças de diferentes partes do mundo ao Templo da Criação, para que conheçam como o mundo foi concebido”.

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Setor 2: “Se encantaram com a mãe natureza”. “No segundo setor, já no Templo da Criação, as crianças são levadas pelos orixás para conhecer a natureza, contemplando as águas, os animais, as flores e os frutos. Compreendem a criação do mundo natural como fundamental para a harmonia do planeta e observam, atentamente, como tudo foi concebido.”

Setor 3: “Descobrindo o próprio corpo”. “No terceiro setor, as crianças entendem a importância do corpo humano e algumas de suas partes mais importantes. Veem que cada órgão do ser humano é criado para compor um complexo sistema – o mais perfeito! – e que, do barro, muitos homens são esculpidos e criados”.

Setor 4: “Conheceram os valores…”. “No quarto setor, de acordo com suas essências, os orixás ensinam alguns dos seus principais valores às crianças. Explicam o que deve ser seguido pelos seres humanos para que o mundo não se corrompa com maldade e ganância. Justiça para todos os seres, amor para curar as feridas, trabalho para o progresso e para o bem da Terra, entre outros. Assim, a humanidade entrará em equilíbrio. Esses são alguns dos valores que importam para o bem viver”.

Setor 5: “Gbalá é regastar, salvar!”. “Depois de conhecer o Templo da Criação, as crianças se preparam para retornar à Terra e, então, entendem a sua real missão: voltar e ensinar aos adultos o que aprenderam. Preservar o meio ambiente, lutar pela paz universal e proteger a natureza, os animais e as águas da Terra. Oxalá se levanta e se enche de esperança: as crianças salvarão o planeta. Rebatizadas nas águas sagradas, antes de seu retorno, demonstram que aprenderam a lição. Oxalá está salvo! Viva as crianças! Viva a Unidos de Vila Isabel”.