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Série Barracões: Com o caju no enredo e na boca do povo, Mocidade levará para Avenida um desfile de brasilidade, bom humor e sensualidade

Embalada na busca de voltar para briga na parte de cima do Grupo Especial, a Mocidade Independente de Padre Miguel levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Pede Caju que Dou… Pé de Caju que Dá!”, do carnavalesco Marcus Ferreira. Repleta de brasilidade, a Verde e Branca promete tratar a história do país e as diversas simbologias da fruta nativa com bastante informação e historicismo.

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Fotos: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO

Responsável por abrir a segunda noite de desfiles da elite do carnaval carioca, a estrela-guia da Zona Oeste aposta no samba e no enredo como trunfos, através de uma obra que resgata o perfil da escola e é marcada pelo bom humor, além da fácil leitura, sensualidade e – no protagonismo de tudo isso – a força e a alegria da comunidade independente, como conta o carnavalesco da agremiação.

“Entendemos este momento de reposição e retomada para que pudéssemos transmitir a alegria, primeiramente, para dentro da escola. Frutas já foram enredo, mas acredito que o caju foi escolhido para a Mocidade por permitir a brasilidade, tropicalidade e subversão de uma fruta que o próprio brasileiro desconhece. É tudo o que o caju nos propõe como simbologia brasileira. Todos esses atributos estão presentes no enredo, e acredito que o independente conseguiu se olhar e enxergar o perfil da Mocidade”, explica Marcus.

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E a alegria proposta pela escola parece ter ultrapassado as barreiras da Zona Oeste e do próprio Carnaval. Com um samba-enredo que se tornou hit de verão no Rio de Janeiro, o caju caiu nas graças dos sambistas e até de quem não acompanha os desfiles. A obra, assinada por Paulinho Mocidade, Marcelo Adnet e companhia, lidera, desde dezembro, o ranking carioca de músicas mais tocadas nas plataformas digitais de áudio. Com o estouro, rapidamente a tropicalidade independente foi parar nas rádios e até nos blocos de rua da cidade.

Para o carnavalesco, o grande sucesso do samba-enredo é essencial para o momento de retomada da escola e será um grande diferencial para o desfile. O artista também ressalta a importância de que isso se repita todos os anos para elevar o nome do espetáculo do Carnaval.

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“A Mocidade tem se extrapolado de maneira muito natural. A gente faz carnaval porque o samba existe. Se somos uma escola de samba, acredito que ele tem que ser a primeira coisa erguida enquanto patrimônio da agremiação. Graças a Deus tivemos essa alegria e a popularidade do samba da Mocidade. Como artista do Carnaval, acredito que todos os sambistas devam torcer para que isso aconteça todos os anos, porque assim teremos o nome do carnaval carioca lá em cima. Tem sido um grande ânimo neste momento de retomada e recuperação da escola e estamos tratando este desfile com muita ansiedade e felicidade, por tudo que fizemos durante o ano. É um samba que está sendo cantado pelas crianças”, destaca.

Para um hino que atendesse a proposta do enredo, a direção de carnaval pontuou aos compositores quatro conceitos que vão marcar o desfile da agremiação: alegria, conteúdo, bom humor e sensualidade. A fácil leitura do enredo deixou a disputa de samba acirrada, mas resultou em um desfile que será coroado por uma obra que faz sucesso dentro e fora da Avenida.

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“Quando fizemos a leitura da sinopse, lembro que houve um silêncio entre os compositores – não houve dúvidas. Essa fala direta que o enredo permitiu é algo que pontuo. O samba campeão atingiu o que a gente queria: a felicidade que a escola tanto precisa. Foi uma safra diversa e até difícil para a diretoria, mas a escola fez a escolha certa e o fruto disso é essa alegria que o samba tem transmitido nos ensaios e nas redes sociais. Ele é muito importante para o carnaval carioca, e ver meu trabalho ser coroado me deixa muito feliz e ansioso. Gera muita ansiedade para ver como isso se tornará real no desfile oficial, mas tenho certeza que será um sucesso. A Mocidade vai se recolocar como uma escola que não pode figurar na parte de baixo. Temos trabalhado o ano inteiro para isso”, afirma Marcus.

Enredo

Abrir a noite de desfiles é uma grande responsabilidade para qualquer agremiação. Por outro lado, a Mocidade foi a última escola a divulgar o enredo – o que, para o carnavalesco, possibilitou que a escola se diferenciasse das coirmãs. A ideia de falar sobre o caju, segundo Marcus, surgiu quando estava na praia e foi abordado por um vendedor de castanhas. De início, o tema causou estranheza, mas foi rapidamente abraçado pela diretoria e a comunidade.

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“O vendedor me contou a história do caju em dois minutos. Achei muito bacana e subversivo, e acreditei que o enredo teria a minha personalidade e a da escola. Passei a ideia para o Fábio Fabato (pesquisador), que achou maravilhosa. É uma fruta subversiva e que desconhecemos a história. O caju acompanhou a evolução brasileira e está presente desde os nossos povos originários. Acredito que a Mocidade está escrevendo a história do caju para o mundo. É o entendimento e o passar da informação com historicismo, brasilidade, sensualidade, aroma, sabor e tudo aquilo que a fruta permeia”, detalha o carnavalesco.

O caju caiu como algo divino. A partir do trabalho de pesquisa, um dos pontos mais interessantes para a equipe foi a relação histórica entre a fruta e o país. “O que eu encontrei de mais interessante foi essa subversão que o caju nos dá. A fruta não é em si o corpo carnudo, é a castanha em si. É uma fruta que não é barata, nasce de cabeça para baixo e foi um dos primeiros produtos levados por Cabral em 1506. São vários atributos diferentes da nossa história – enquanto brasileiros – que achei um barato. Pensei em permear isso com todo o bom humor que a fruta carrega”.

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Entre as diversas curiosidades sobre o desfile, o carnavalesco deu detalhes sobre o segundo carro alegórico: ele terá quase mil mudas de cajueiro, doadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Ao final, as plantas serão distribuídas para a comunidade independente. “É um cajueiro que eles estudaram e apropriaram cientificamente. É uma árvore que começa a frutificar daqui a um ano e meio”, explica.

Fácil leitura e linguagem popular

Marcus Ferreira está no mundo do carnaval há mais de 20 anos. Assinou seu primeiro trabalho como carnavalesco em 2009, na Intendente Magalhães, pela Mocidade de Vicente de Carvalho. Com passagens por agremiações da Série Ouro e até em carnavais de outros estados, se destacou no Império Serrano – em 2017 – quando levou a escola ao Grupo Especial com o enredo “Meu quintal é maior do que o mundo”, e na Inocentes de Belford Roxo – em 2019 – com o “Frasco do Bandoleiro”. No ano seguinte, estreou no Especial como carnavalesco da Viradouro, ao lado de Tarcísio Zanon, e garantiu o campeonato com enredo “Viradouro de Alma Lavada”.

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Para ele, o popular é a característica em comum entre esses trabalhos e que não pode ficar de fora do desfile da estrela-guia da Zona Oeste. “Desde o acesso, trabalhei com vários temas regionais – no Império Serrano, na Inocentes com o ‘Frasco do Bandoleiro’ e também no campeonato da Viradouro com o Tarcísio. É uma marca que mantive, mas com essa nova roupagem da alegria e sensualidade que a Mocidade trará. Acredito que essa popularização das escolas de samba deve existir, e de início é o enredo. Quero manter essa leitura fácil, porque acredito que essa linguagem direta com o sambista é o que sempre tive e devo manter, mas sempre trazendo algo diferente”, revela.

Conheça o desfile da Mocidade

A Verde e Branca vai abrir a segunda-feira de desfiles e levará para a Avenida cinco alegorias, três tripés e um elemento cenográfico da comissão de frente. Ao todo, serão 25 alas e cerca de 3300 componentes.

Setor 1: Carne de caju: “Começamos com o tropicalismo, com a música que Caetano Veloso escreveu para Torquato Neto em homenagem a sua partida prematura. A canção refaz essa antropofagia, e a Mocidade apresenta o caju através do tropicalismo. Vamos refazer a nossa brasilidade mostrando que o caju é a nossa fruta nativa”.

Setor 2: Anacardium Occidentale: “A gente fala da lenda dos primeiros povos originários – os Tupis – em torno da fruta. Um velho sábio pajé, o Tamandaré, se apropriou da lenda das castanhas que eram utilizadas para contar os anos de cada indivíduo da tribo. É uma lenda mais lúdica em torno dos índios tupis, e que neste momento o invasor chega ao Brasil e leva um dos nossos primeiros tesouros – que é o caju”.

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Setor 3: Caju-rei: “A gente valoriza o cajueiro em si, enquanto apelido de polvo que ele ganha. É a disputa dos maiores dois cajueiros do mundo: Delta do Parnaíba, no Piauí, e Pirangi, no Rio Grande do Norte. Existe essa disputa e que agora não sabemos qual é o maior. A Mocidade provoca e fala que não importa, porque o maior é brasileiro. É um carro mais marítimo, em que os cajueiros se apropriam dessa questão paradisíaca brasileira”.

Setor 4: Caju-brasuca: “É o caju artístico e como o melhor amigo do brasileiro. É o caju sendo pintado por Tarsila do Amaral e por Debret – que colocou o caju sem protagonismo em suas gravuras. A Mocidade recria esse imaginário da fruta como a melhor amiga do brasileiro. Tem xilogravura, Macunaíma, Tarsila do Amaral, Debret. A gente traz esse mosaico de brasilidade dos artistas que enxergaram e colocaram o caju na tela”.

Setor 5: Geleia geral: “A geleira geral que é ser brasileiro e caju. É o caju brasileiro no nosso cotidiano. Com muito sabor e estamparia, a Mocidade coroa a fruta como uma de nossas estrelas tropicais – o caju na moda – já que é a fruta do verão -, com drink e a batida mais quente ao final, que é a associação a nossa bateria. Encerramos essa apoteótica ao caju mostrando que ele é a nossa estrela tropical. A gente bebe da fonte da Mocidade de maneira muito feliz, apoteótica e de sigmas do caju no nosso cotidiano, para coroá-lo como nossa estrela tropical”.

Especial Barracões SP: Império de Casa Verde levará ao Anhembi a espiritualidade de Fafá de Belém

“O sorriso que espalha o bem e o talento de Fafá de Belém” vão brilhar no carnaval do Império de Casa Verde em 2024. A homenagem a uma das maiores cantoras do Brasil às vésperas de completar 50 anos de carreira será o enredo do Tigre Guerreiro, que está na iminência de comemorar 30 anos de história. A série “Barracões” do site CARNAVALESCO conheceu de perto o trabalho artístico assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza e o enredista Thiago Freitas, e mostra para o público a maneira como a vida de Fafá será retratada no Sambódromo do Anhembi.

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Inspiração para o enredo: um sonho de muitos anos

Um enredo pode ter que esperar o momento certo para ganhar a luz. A homenagem à Fafá de Belém era um sonho de longa data de Leandro Barboza, que ganhou forma nas mãos de Thiago Freitas e fez com que o carnavalesco ficasse ainda mais motivado.

“A Fafá é um enredo que eu já sonho há bastante tempo. Tenho ele de seis a sete anos, e quando eu apresentei ao Thiago ele deu um novo caminho. Thiago, que é meu enredista, apresentou vários outros caminhos que a gente poderia dar para a Fafá, o que me apegou mais ainda a esse tema. Thiago me apresentou essa proposta de falar sobre rituais e falei: ‘Thiago, é isso que eu acho que isso que vai representar ela na Avenida, acho que ela vai ficar mais contente com isso’. Foi quando a gente apresentou a ela o primeiro momento, e que o Thiago foi lendo o enredo para Fafá, que ela foi se reconhecendo em cada linha e isso deixou a gente muito confortável, além de ser um sonho passar uma narrativa que deixe ela muito confortável, a todo momento querendo trazer todas essas mulheres paraenses, amazônicas que saíram de lá para ganhar o mundo, trazendo com ela essas mulheres. Isso que deixou ela mais feliz, a gente está bem contente com isso tudo”, declarou o carnavalesco.

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O segredo para que Fafá de Belém pudesse se identificar melhor com o enredo foi fugir da óbvia narrativa biográfica. Thiago Freitas explica que a ideia para tornar a narrativa mais atrativa foi apostar na espiritualidade, a mística da cantora.

“É um enredo de muita força feminina. Todas as mulheres e todos os homens que nascem na Amazônia são caboclos, e a Fafá vem como a grande cabocla. A gente pega essa expressão e crava na Fafá com a sua mística. Ela é muito mística mesmo, conversando com ela a gente percebe essa misticidade que é muito forte. A gente optou por trazer um enredo não-biográfico e nem só focado na musicalidade, a gente trouxe a espiritualidade, a força guerreira da Fafá, toda a mística, o encanto, todos os rituais que a gente pode agregar. Ela tem um leque de musicalidades de quase 50 anos de carreira, que é a comemoração do nosso enredo. Ela sempre traz musicalidade muito enraizada nos aspectos da mata, dos elementos naturais, dos povos originários, que são os povos indígenas. A gente amarrou a narrativa por esses aspectos, a Fafá trazendo na musicalidade, trazendo com o seu canto essa mística mesmo, os rituais da mata”, explicou.

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Presença da cabocla serena no projeto

Ao entrar em contato com Fafá de Belém para contar sobre o enredo, a reação da cantora foi de grande alegria. Leandro Barboza afirma que a simbologia em torno da homenagem teve grande importância para o aceite da artista.

“O primeiro contato foi incrível. Em um primeiro momento foi por telefone, eu falando que ela seria um enredo. A gente já tinha tido uma conversa antes, só que estava esperando o presidente aprovar. Quando ele aprovou, ele falou: ‘não, tem que ser Fafá mesmo’. Eu liguei para ela e a reação dela foi gritar ao telefone e vibrar porque a Fafá é do carnaval. A Fafá não tem muita participação no carnaval de São Paulo, mas sempre foi muito ativa no carnaval do Rio. A Fafá é uma sambista nata, ela entende toda a importância de todos os setores da escola. Ela desligou o telefone, ficou três dias tentando captar, compreender que ela seria enredo. Por que São Paulo? Tudo para ela tem que ter uma conexão. Ela me liga depois de três dias agradecendo muito, que ela ficou isolada tentando entender tudo isso, e que não seria tão feliz para ela se não fosse São Paulo, se não fosse o Império porque a vida dela é em São Paulo, a raiz dela é em São Paulo. Isso fecha o sonho dela de ser enredo aqui em São Paulo, ela está muito feliz com isso tudo”, disse.

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Thiago Freitas explica que o desafio seguinte foi conter a ansiedade de Fafá de Belém para que o segredo pudesse ser guardado até o dia do lançamento oficial do enredo imperiano. A presença da cantora dentro de todo o projeto faz de Fafá não apenas uma simples homenageada, mas também uma parceira de trabalhos.

“Quando ela recebeu a confirmação que ia ser enredo em maio, ela já queria soltar. ‘Posso divulgar? Posso divulgar?’. Foi um desafio segurar Fafá maio, junho, julho e agosto, quando a gente lançou. Foi muito difícil segurar esse segredo, tanto é que ela estava se arrumando para vir para cá no dia do lançamento e ela não aguentou e já anunciou no Twitter dela. Esse foi um desafio também, controlar a Fafá na emoção de divulgar porque a gente não queria que vazasse, a gente queria essa surpresa”, contou.

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“Mas acho que a gente conseguiu. Vazou muito em cima da hora, umas horinhas antes, tamanha emoção dela. Mas com relação à participação dela, por mais que a agenda dela seja muito grande por causa do trabalho dela, ela tem participado. Ao mesmo tempo, quando ela não está no barracão, a gente está lá. A gente sempre está em reunião, e quando está viajando, ela está em vídeo. Ela está muito presente em cada elemento da escola. Tudo que foi passado de fantasia, alegoria, ela está dentro do processo, e essa semana já intensificou mais a presença dela tanto nos ensaios quanto aqui no barracão”, completou Leandro.

Desafios enfrentados para conceber o enredo

Resumir 50 anos de carreira em quatro setores foi o maior desafio na visão de Leandro e Thiago. A solução de caminhar para o lado da espiritualidade e da representatividade feminina de Fafá se mostrou um grande acerto.

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“Para mim é essa responsabilidade dela se reconhecer. Eu acho que é o mais importante uma pessoa como ela, de tamanho importância, de tamanho carreira, se reconhecer em quatro setores, que é muito pequeno perto dos 50 anos de sucesso dela. Isso foi um desafio muito grande e eu tenho certeza de que a gente acertou. A gente representou esses 50 anos dela em quatro setores, e eu acho que isso foi um desafio dos mais importantes e uma responsabilidade incrível”, afirmou o carnavalesco.

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“É como o Leandro falou. Acho que o homenageado precisa se reconhecer em todos os elementos, então enquanto a gente foi lendo a primeira versão do esboço, da sinopse, ela dizia: ‘eu sou isso, eu sou isso’. Ela falava em lágrimas e entrava no transe dela. Esse enredo já nasce desse transe dela se reconhecendo e chorando, entendendo que ela era aquilo. O nosso desafio foi fazer com que Fafá se reconhecesse em um enredo que foge um pouco do comum das homenagens, então acho que a gente acertou nessa pegada”, celebrou Thiago.

“Ao mesmo tempo de fugir do comum, ele é um enredo 100% vida de Fafá, ela se reconhece em cada etapa. A gente vem trazendo as festas, a gente traz o Círio, e ela está presente em cada um desses elementos, o que deixa a gente muito confortável em termos de narrativa”, acrescentou Leandro.

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“E a questão ambiental na defesa da mata, ela é isso mesmo. Ela é embaixadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), então todos os carros, todas as fantasias, cada parte do samba tem uma ligação com Fafá. Quando o samba diz ‘Senhora das Águas’ é porque ela se conecta muito com as águas, ‘Maria dos Jurunas’ é porque Jurunas é um bairro de Belém e é uma etnia indígena. A gente trabalha em tocar no coração do belenense ao trazer esses aspectos de lá, da terra de Fafá. A gente navegou bem esses elementos”, concluiu Thiago.

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Pedidos de Fafá em nome da família e das mulheres do Norte

Leandro Barboza e Thiago Freitas afirmam que a identificação de Fafá de Belém com o enredo foi total. A artista não pediu nenhum tipo de alteração na forma como o enredo contará sua história, mas fez pedidos especiais quanto a participação das netas e as referências às mulheres nortistas.

“Acho que a felicidade nossa e também do Thiago é de a gente fazer essa leitura para ela, e no final dessa leitura eu perguntar: ‘Fafá, você quer que altere alguma coisa?’, e o Thiago: ‘está dentro do que você é? Te representa?’, e ela responder: ‘não quero botar uma vírgula em nenhum ponto. A minha vida está resumida aí’. Não tem retoque em hora nenhuma”, afirmou o carnavalesco.

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“Eu acho que não foi nenhuma exigência, foi só uma forma de reconhecimento. Ela apontou para onde as netas iam desfilar. Não foi nem o pedido, ela falou assim: ‘as minhas netas vão vir aqui, né?’, e já apontou. Eu acho que isso foi bem marcante, ela reconhece que ali é um bom lugar”, contou Thiago.

“E também de puxar essas mulheres do Pará também. Ela pediu desde o início que, como ela sempre fala em qualquer entrevista, o enredo não é ela, é ela e todas essas mulheres que vêm do Norte, esse olhar para elas. Desde o primeiro momento ela colocou isso. Isso é muito legal, ela se sente muito mais confortável e muito mais feliz”, completou Leandro.

Curiosidades das pesquisas: os animais de proteção de Fafá de Belém

Ao longo das pesquisas e consultas à artista para construção do enredo, Thiago Freitas contou que a curiosidade que mais chamou sua atenção foi a referência de Fafá de Belém aos seus animais de proteção. São elementos da espiritualidade da cantora que estarão presentes de forma especial no desfile imperiano. O enredista também aproveitou para exaltar os compositores na escolha acertada para finalização da letra do samba da escola.

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“Em uma das entrevistas quando ela fala com a gente, ela diz assim: ‘os meus animais de proteção são águia, búfalo e onça. Ela solta assim e isso ficou muito em mim e muito em Leandro, e a gente veio no carro falando porque isso representa a espiritualidade dela. Ela falou de uma forma natural e a gente traz isso, a gente corporifica isso, acrescenta na narrativa essa questão da religiosidade dela com águia, búfalo e onça, que representa o aspecto da religiosidade dela. A gente traz a Fafá como mulher-onça, mulher-tigre, mulher-águia, mulher-búfalo. Eu acho que isso é um ponto da pesquisa que acrescentou com a entrevista dela. No mais, eu acho que o desafio também foi resumir a musicalidade de 50 anos em um setor. Eu acho que o ‘Emoriô’ foi um grande acerto dos compositores e que levanta a arquibancada, levanta a cultura, levanta a plateia, levanta os componentes e traz essa proximidade da Fafá também com a afro-religiosidade, que é muito presente nela. Ela é católica e também traz elementos da fé cabocla, que são os caruanas. Ela é uma mistura, digamos assim, de símbolos religiosos, e ela não defende uma religião, ela diz que ela está em todas, ela circula por todas. Isso deixa a gente bem confortável também. Ela fala que a fé dela é feliz”, afirmou.

Setor a setor: Fafá de Belém no desfile do Império

A homenagem à Fafá de Belém ocorrerá na forma de cinco rituais divididos em quatro setores. A comissão de frente e o carro Abre-alas representarão os dois primeiros, que serão o aparecimento de Fafá e a mistura da fé cabocla com a fé católica.

“Começamos com a comissão de frente trazendo o aparecimento de Fafá. A Fafá surge de um ritual chamado Kanapí, dos indígenas jurunas. A gente traz caboclas, mulheres, as indígenas caboclas jurunas. Fafá nasce desse ritual. Não vamos dar muitos spoilers, mas em síntese a Fafá surge na narrativa e nasce energizada pelas caboclas mais velhas desse ritual. Aí a gente vai para o primeiro carro, que é o segundo ritual, que mistura a fé cabocla de Fafá e a fé católica. A gente traz o Círio de Nazaré indígena”, explicou Thiago Freitas.

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“A gente traz essa abertura toda do Círio, retratando toda essa parte ribeirinha, essa fusão da palha com ouro. A gente traz muito isso”, disse Leandro Barboza

“O ouro da Igreja e a palha indígena da fé cabocla. A gente mistura toda essa mística”, completou o enredista.

Os demais setores trazem os animais de proteção, a mística das festas e a coroação de Fafá. “No segundo setor a gente vem trazendo o vermelho da música e os animais de proteção dela, que já encaixam nesse setor. No terceiro setor, a gente vem trazendo toda a mística das festas, retratando todas as festas paraenses em que ela circula. E são todas, Fafá está em todas. Tudo que a gente pontua de eventos aqui a Fafá está presente nessas festas. E a gente finaliza com o setor que é o grande palco dela, a coroação de Fafá. A gente vai estar trazendo todas as músicas, os sucessos dela e a parte negra”, pontuou o carnavalesco.

“A gente traz também a mística da relação Fafá e Casa Verde. Fafá grava uma música chamada ‘Pauapixuna’, que significa Aldeia dos Negros. A gente traz então essa mística nesse ritual em que o Tigre encontra esse grande pajé da aldeia negra. O samba fala: ‘unindo o teu canto à expressão da minha cor’, e essa cor é a cor negra. A Casa Verde se une com a sua negritude ao canto caboclo de Fafá, e aí a mística acontece nesse ritual que é o quarto setor”, acrescentou Thiago.

Questionados sobre quais elementos do desfile podem chamar mais atenção do público, os artistas destacaram que as alegorias, um dos grandes trunfos históricos do Império de Casa Verde, se destacarão por uma nova linguagem estética.

“Acho que esse ano a gente vai estar trazendo mais elementos com movimentos, esculturas. Acho que o Império esse ano está com uma nova proposta também de esculturas. Não perdendo um acabamento, que a Império sempre teve sim, mas a gente está trazendo um novo conceito de proporção de alegoria que acho que vai impactar bem. Eu acho que é uma virada novamente de chave do Império nesses movimentos e esse novo formato”, afirmou Leandro.

“Eu acho também que vai pegar muito na Avenida, vai acontecer muito o carro dois. Todos são importantes, mas eu acho que vai ser aquele que o público vai ficar mais impactado por uma mística de coisas que acontecem ali. Tudo está ali nesse carro. Ali tem um ritual que acontece que é a junção do fogo e da água. Tudo está acontecendo nessa magia que é muito importante. Eu acho que o público vai gostar muito”, apontou Thiago.

“E o fechamento, o último carro, sem dúvida, tendo a grande estrela. A grande estrela acho que vai ser bem aguardada. Recentemente ela veio aqui e testou o carro. Ela subiu no lugar dela e ficou emocionada. Pulou, sambou, vibrou. Foi muito legal. Ela está muito presente aqui, ela está presente. A gente respira e a gente tem certeza que ela está respirando o Império”, completou o carnavalesco.

Ficha técnica
“Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta”
Diretor de barracão: Ney Meirelles
Diretor de ateliê: Vinícius Cruz
4 alegorias
20 alas
1600 componentes
Ordem de desfile: Sexta escola a desfilar no dia 10 de fevereiro pelo Grupo Especial

Série Barracões SP: Tatuapé exalta Mata de São João em diversos aspectos

Quarta colocada no carnaval paulistano em 2023, a Acadêmicos do Tatuapé ficou a apenas um ponto do título. Para conquistar o tricampeonato de fato, uma das apostas da escola é o trabalho de barracão, que historicamente utiliza muito material reciclável para brilhar no Anhembi. Em 2024, contando a história de uma cidade da Costa dos Coqueiros, na Grande Salvador, o enredo “Mata de São João – Uma joia da Bahia símbolo de preservação! Entre cantos e tambores. Viva a Mata de São João!”, idealizado pelo carnavalesco Wagner Santos, a agremiação será a quinta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval – 09 de fevereiro. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Wagner abriu as portas do barracão da azul e branca, sediado na Fábrica do Samba – Zona Oeste de São Paulo.

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História de um paraíso

Perguntado sobre detalhes sobre o enredo da escola, Wagner destacou o fio condutor de todo o desfile – além, é claro, de exaltar o município que será homenageado: “O que eu tenho a dizer é que a gente vai fazer uma linda homenagem a cidade de Mata de São João, que é uma cidade pertencente ao estado da Bahia. Uma cidade visitada por muitos turistas e uma cidade que tem uma história rica, tem tradição, tem cultura, tem festa, tem lazer, também tem comida boa e praias belíssimas, afrodisíacas, que você pode levar sua família e curtir um maravilhoso fim de semana, bem tranquilo. A gente pretende, através do nosso desfile, fazer uma homenagem a Mata de São João através de um artesão, um caboclo filho da terra. Ele trabalha na modelagem de peças através do barro e ele vai contar a história da sua cidade, ele vai modelar a história da sua cidade e, através dessas modelagens, você vai conhecer toda a história de como surgiu a cidade, com a chegada dos primeiros imigrantes que lá encontraram com os nativos que habitavam a região, o conflito entre os grupos de escravos que chegaram para trabalhar na construção do Castelo d’Ávila e lá mantém as suas tradições”, pontuou.

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Setor a setor

A setorização da agremiação será encabeçada por destaques muito conhecidos de quem frequenta a região. Como toda história tem um começo, o primeiro deles será a chegada dos colonizadores e o embate com os povos originários: “Nós temos o nosso abre-alas com os nativos que habitavam a região, eles exercitavam a prática do canibalismo não como um costume diário, mas sim uma tradição: se você comesse a carne ou as vísceras daquele com quem você combateu, você estava iria adquirir as mesmas forças e o mesmo poder que aquela pessoa: era uma espécie de ritual. Então os portugueses, quando chegaram, se encontraram com os habitantes que habitavam a região. Houve um grande confronto entre os dois e nesta grande jornada, nessa missão, eles acompanharam os portugueses jesuítas e grandes navegadores, grandes desbravadores. Teremos também a figura de São João Batista, de quem ela recebeu o nome e que é o padroeiro da cidade. Nós temos toda essa retratação aqui nesse primeiro módulo. Já no nosso segundo módulo nós temos a retratação do primeiro grupo de escravos que lá chegaram pra trabalhar na construção da fortificação, com um carro que fala do artesanato regional. Nós temos algumas peças presentes no carro que retratam peças bem típicas do artesanato, que lá é muito forte – principalmente na questão do barro, que é muito presente na cultura artesanal da região. Nós também temos a fauna e a flora, temos os principais animais que habitam a região. Fizeram tudo isso de uma forma bem artesanal, bem rústica, representando um trabalho todo feito em barro, o artesão modelou essa história”, destacou.

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O tradicional sincretismo religioso baiano será o destaque no setor seguinte: “O nosso segundo carro vai fazer uma homenagem às festas de fé. É algo muito comum, porque nós estamos na Bahia, e na Bahia o sincretismo religioso é muito presente em todo o estado. Toda semana tem festa todo dia na Bahia tem festa, é sempre uma homenagem ao santo, padroeiro – ou, se não é festa católica, é uma festa de umbanda, candomblé. EA cultura africana está sempre presente, é uma figura muito marcante,. Nós temos aqui a igreja do Bonfim, que na verdade não é igreja do Bonfim: é a igreja da cidade onde as baianas, as mães de santo, fazem também uma festa chamada de Lavagem do Bonfim. Nós temos Iemanjá, temos Nossa Senhora dos Navegantes. Temos a a festa de Bom Jesus dos Navegantes, festa de São João Batista, festa de Nossa Senhora da Conceição, temos a festa de São João. Temos diversas festas religiosas que compõem o calendário festivo da cidade”, afirmou.

A preocupação com a natureza terá especial impacto no terceiro setor: “Já o nosso o nosso terceiro carro vai fazer uma homenagem a dois grandes projetos existentes na cidade: o Projeto Tamar, que trabalha em defesa e proteção das baleias jubarte – e nós temos um globo terrestre onde temos duas baleias jubarte se encontrando, porque a cidade de Mata de São João preserva a vida marítima. Não só para o Brasil, ela preserva para o mundo. Vem turistas do mundo inteiro apreciar essa grande criatura criada por Deus. Outro grande projeto é a preservação da desova das tartarugas: nós temos uma ideia de um carro com uma proposta exclusiva, trazendo esses dois grandes projetos de uma forma bem monumental e grandiosa”, reverberou.

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Por fim, um dos principais pontos turísticos da cidade estará representado no setor que encerra o desfile. “Já o nosso último carro é o que retrata a Praia do Forte, ponto de encontro de turistas da cidade da Mata de São João. Eles se encontram para as festas de carnaval e de fim de ano, onde você encontra grupos de afoxé, grupos de dança, mascarados que enfeitam as ruas e “assustam” as crianças na cidade. Nós temos muito coqueiro, porque você chegando em Mata de São João, uma das coisas que você vai logo observar é a grande quantidade de coqueiros que compõem toda a orla marítima – que também é uma renda para muitos moradores da cidade”, observou.

Caminho até aqui

Se o último setor é o que chama atenção para a preservação do ecossistema, tal ideia foi a que mais chamou atenção de Wagner ao longo da pesquisa para o enredo – incluindo uma experiência pessoal vivida por ele na cidade em questão. “Eu gostei de muitas coisas, mas uma das coisas que mais me fascinou é o cuidado com o que a cidade tem com a preservação do meio ambiente. Eu tive a oportunidade e passar lá uma semana e achei realmente encantador, fantástico. Eu nunca tive a oportunidade de entrar numa água onde eu estava com a água batendo no meu pescoço e de repente eu tive a oportunidade de olhar para baixo, quando vi peixes e tartarugas passando entre minhas pernas. Nadando ao meu lado! Para mim, aquilo foi fantástico. Isso mostra o cuidado que a cidade tem com a preservação do meio ambiente e a vida aquática”, emocionou-se.

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Principal força

Na já citada apuração do carnaval 2023, a Tatuapé perdeu décimos (que foram descartados por força do regulamento) nos quesitos Fantasia e Alegoria. Mostrando confiança de que tal fato não tornará a acontecer, o carnavalesco elencou que ambos são o grande triunfo da agremiação para este desfile. “Eu acredito que o grande trunfo vai ser o conjunto visual que vai ser apresentado na avenida. O conjunto visual pretende realmente ser uma grande surpresa, vai ser o grande elemento surpresa para o desfile porque muita gente acredita, já recebi muitas críticas em vários lugares, muitas pessoas criticando e achando que um uma cidade como Mata de São João não tem história, não tem cultura, não tem tradição. Eu vou mostrar pra essas pessoas que até uma caixa de fósforo é capaz de virar um grande enredo com uma grande história. Não existe enredo ruim, existe enredo mal elaborado e mal desenvolvido porque tudo que você possa imaginar você consegue desenvolver um enredo bonito, claro, objetivo, com propostas e com ideias diferentes. Basta você pesquisar e explorar a si mesmo”, refletiu.

Cotidiano, relação com a escola e desabafo

Mais que carnavalesco, Wagner Santos sente-se abraçado e acolhido pela comunidade da Tatuapé – de acordo com o próprio: “Eu vivo como um componente da comunidade. Eu gosto muito de ditar, de estar presente nas reuniões, nos momentos em que realmente a minha opinião faça sentido. Eu sempre estou presente, sempre procuro trabalhar com a comunidade, sempre procuro descobrir o que a comunidade espera de mim. Só o tempo é que te dá essa experiência, essa oportunidade. E, quando venho para uma escola, eu venho pra solucionar problemas. Todo carnavalesco, não é simplesmente um artista, ele está dentro do carnaval para solucionar problemas. Qual é o material? Qual é a fórmula? O que que você vai usar então, carnavalesco? O carnavalesco é uma figura que está ali para resolver problemas, porque se não tivesse problema, não haveria necessidade de um carnaval”, destacou.

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Em outro momento, ele destacou como é o dia a dia habitual dele próprio em relação a tudo que envolve a escola de samba. “Quem decide enredo é a escola, o carnavalesco é um profissional para solucionar problemas. Mas, ao mesmo tempo, o carnavalesco, tem que desenvolver um enredo que a escola quer. Não sou eu quem decido. As pessoas ficam na internet metendo o pau no carnavalesco, esculhamba o carnavalesco, mas as pessoas precisam ter um pouco de conhecimento do que é o bastidor do samba, não ficar achando que o carnavalesco fica dentro de uma escola de samba sentado numa cadeira e dando ordem. Carnavalesco que trabalha está andando no barracão. Ele sai do barracão com camisa suja de cola, sai com roupa manchada de tinta porque você tem que estar envolvido. E você tem que fazer parte disso tudo. Não adianta você estar tentando resolver problemas com pessoas vindo na sua sala, você tem que ir até onde está o problema – não só o problema chegar até você. Costumo resolver dessa forma. Eu sou uma pessoa muito participativa, participo de tudo. Quero saber de tudo, gosto de saber como funciona as coisas. Sempre procuro escolher as soluções certas para que tudo termine bem, numa boa ideia. E a gente trabalha também com o que tem”, afirmou.

Para encerrar o tópico, ele contou um pouco do que sente em relação aos rumos pelos quais a folia está passando e rememorou parte de sua trajetória na festa paulistana. “O carnaval é um espetáculo em que as pessoas querem usar somente material caro. As pessoas querem usar veludo, as pessoas querem usar franja ou galão, por exemplo. E, às vezes, usam esse material tão caro mal empregado! Gosto de usar material alternativo, o carnaval foi feito justamente para proporcionar às pessoas materiais alternativos, para que você tenha um diferencial na avenida. Eu tenho o meu estilo próprio de trabalhar, cada carnavalesco aqui dentro da Fábrica do Samba tem o seu estilo de trabalho. Eu gosto de trabalhar de uma forma em que eu possa ter liberdade de criar. Se eu não tiver liberdade de criar, para mim não me interessa. Trabalhei durante muitos anos com marketing e propaganda, trabalhei com grandes empresas. Morria de medo do carnaval. Vim parar no carnaval através do convite do seo Carlos Cruz Bichara, o pai da Solange. Ele me convidou e eu disse para ele que não conhecia carnaval. Ele falou para eu ir porque eu tenho talento e condição. Eu comecei entrando pela porta da frente. Eu não fui querer ser carnavalesco, me chamaram pra ser carnavalesco. Eu tenho muito orgulho da minha trajetória como carnavalesco, porque eu faço parte dessa história, desse crescimento e dessa evolução toda do carnaval. Eu e o Jorge Freitas somos as pessoas que realmente fizemos história no carnaval de São Paulo. Nós acompanhamos todas as fases que o carnaval de São Paulo já passou, nós acompanhamos todas essas fases e eu tenho certeza que o Jorge também é um grande profissional, eu tenho muito orgulho e ter amizade com ele. É uma pessoa que fez história e continua fazendo história no carnaval e eu também estou na mesma luta com ela”, indicou, ao falar de um grande amigo.

Por fim, o carnavalesco reafirmou o quanto confia na capacidade da azul e branca para conquistar o terceiro título no Grupo Especial. “As pessoas podem esperar um grande resultado. Mas, independentemente do resultado, nós, com certeza, vamos fazer um grande espetáculo para as pessoas que pagaram para assistir. O resultado é uma consequência. Isso aí a gente vai deixar na mão de Deus, que só ele sabe”, finalizou.

Ficha técnica
Componentes: De 2500 a 3000
Carros alegóricos: 04
Tripés: 01

Série Barracões: Com anseio pelo título, Dragões quer mostrar uma África que a história nunca quis contar

Desde que ganhou o título do Grupo de Acesso, em 2011, a Dragões da Real tem se mostrado uma escola competente e que sempre briga pelo título do carnaval. Desta vez, é sabido que a escola irá diferente para 2024, pois é um enredo de temática africana, algo que a agremiação não realizou desde quando subiu para o Grupo Especial.

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Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Tal fato era um pedido da comunidade, que sempre levava enredos lúdicos e homenagens de uma forma leve e descontraída para a avenida. Foi assim que a escola conseguiu dois vices e bateu várias vezes nos desfiles das campeãs. Com o enredo “África – Uma constelação de Reis e Rainhas”, a ‘comunidade será a terceira a desfilar na sexta-feira de carnaval e a expectativa de levantar a taça é grande. A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da Dragões e conheceu o projeto para o Carnaval 2024, entrevistando o carnavalesco Jorge Freitas.

Explicação do tema

O artista conta como que abordará o tema. Existem muitas temáticas de matriz africanas no meio do carnaval em todos os anos. Porém, de acordo com Jorge, ele quer mostrar um continente alegre, sem nenhuma tristeza. “O processo nosso de criação era um anseio da agremiação, eu já tinha alguma ideia do que fazer já em outros carnavais com o tema afro e a proposta é bem simples. Quando a gente sair da avenida as pessoas veem uma África totalmente diferente dessa que está habitualmente aparecendo. Vamos falar de uma África triunfante, de uma África que é um grande continente de milhares de anos, não é de agora que nós vamos falar da África. Eu pedi logo no início das minhas explanações para os compositores, que eu não queria lamento. Queria falar de algo que realmente a história não quis nos contar. Falar desse continente de riquezas culturais, de riquezas naturais e de riquezas espirituais. Então tudo isso vai ser demonstrado na avenida através da nossa plástica. O samba por si só já conta tudo isso e as pessoas ainda perguntam: ‘mas não tem nome de rei e rainha?’ Eles vão se fazer presente. Esses reis e rainhas vão estar ao longo de todo o nosso desfile. A gente já inicia com o nosso portal da ancestralidade e é uma tribo da África ocidental, os Dogons, que vão estar fazendo esse elo de ligação, é uma tribo que tem mais de mil anos. Eles já são bem apurados na questão do estudo das estrelas e do universo como um todo os astrônomos atuais e os cientistas, vieram descobrir isso através de aparelhos, que hoje são utilizados. A tribo há mais de mil anos já tinha qualidade de fazer o que hoje é descoberto. Então vamos abrir dessa forma”, explicou.

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Como surgiu

O nascimento do enredo veio em um consenso de várias pessoas. Enredista, diretor de carnaval, Jorge Freitas e até a própria comunidade se fez presente. O carnavalesco exaltou a aceitação dos componentes da Dragões no momento do anúncio. “Na verdade, eu estou com o enredista, que já trabalha há bastante tempo comigo, que é o Rafael Villares e esse ano tive também a grande satisfação de ter da confecção de histórica desse enredo o diretor de carnaval da escola, que é o Márcio, que é um historiador. Eu acho que é um processo onde desde o início a escola está muito envolvida. Até chegarmos a concretizar o caminho que nós queríamos mostrar na avenida, tivemos inúmeras reuniões com a diretoria dos segmentos, com o Renato, que é que está sempre atuando diretamente junto a todos os segmentos da escola. Quando foi apresentado para agremiação, houve uma aceitação muito grande. Tivemos inúmeros artistas da nossa comunidade participando desse lançamento de enredo e ao revelar, houve uma aceitação muito grande também por parte da crítica. Temos tudo para fazer um grande desfile”, contou.

‘Padrão Jorge Freitas’

Ao longo de passagens de Jorge, que está desde o começo dos anos 2000 em São Paulo, todos conhecem como ele gosta de implementar o seu estilo estético na avenida. Dessa vez não será diferente. Segundo o próprio, a Dragões da Real virá luxuosa. Além disso, a escola recebeu personagens na quadra que condiz com o contexto do tema. “Logo assim na temática da escolha do tema eu já procurei fazer algo que tivesse muito a minha linha de trabalho. É um carnaval luxuoso e grandioso pelo processo que ele é confeccionado. Nós estamos desde o mês de abril trabalhando nesse projeto. Tudo isso aí transforma o processo todo que é a construção de um carnaval. A gente afirma que o nosso carnaval é muito grande. Ele é grande pelo envolvimento das pessoas, pelas pesquisas que foram feitas, pelo envolvimento feito através da nossa comunidade. Trouxemos até reis e rainhas para dentro de nossa quadra para falar de todo o processo”, declarou.

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Beleza plástica

Jorge lamentou o desfile de 2023, mas garantiu que o trabalho de cores e plasticidade dentro da pista será impecável, e tudo foi pensado no dia do sorteio. “Na verdade, o desfile de João Pessoa foi um pecado. Uma proposta totalmente diferente também de desfile. A nossa escola esse ano, está muito mais solta e aguerrida. Eu quero uma proposta de enredo que já era o sonho da nossa comunidade. O trabalho de cores vai ser muito forte, até porque vem com estampas diretamente de uma região africana que nós vamos estar exaltando. Vem com uma cromática muito impecável e quem acompanhou os nossos pilotos sabe. Depois da parte descritiva, eu já penso na parte plástica. Quando saiu o sorteio, já pensei nisso. Posso garantir que vem um conjunto bem harmônico e de um bom gosto incrível”, declarou.

Horário diferente

Nos anos de 2022 e 2023 a Dragões da Real encerrou desfiles, sendo a estreia de Jorge no ano passado. Como dito acima, o carnavalesco reforçou o luxo. “De João Pessoa, eu fiz uma mudança em função de ser a última a desfilar, coisa que não aconteceu no dia do nosso desfile. Nós terminamos e estava quase parecendo noite, devido à chuva e tudo o que aconteceu, mas mesmo assim foi um desfile impecável. Sobre a mudança de posição, muda muito. Ainda mais a questão temática da nossa proposta de enredo. Então eu venho com as cores bem quentes para fazer. Nós somos a terceira agremiação e eu tenho que chamar atenção. As pessoas que esperam o carnaval do Jorge, já sabem que é um trabalho de cor muito bem difundido, além da questão de acabamento e requinte. Eu trabalho muita cor sobre cor, porque como eu falei, está estampado a África dentro do nosso enredo. Então essa estamparia vai formar uma cromática bem de um grande mosaico onde as pessoas vão poder enxergar uma África dentro do nosso colorido”, afirmou.

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Carta na manga

Como sempre, Freitas prega pela alegria dos componentes. Por onde passa, coloca esse estilo de desfile. “O trunfo é você fazer um desfile de carnaval descontraído. A nossa comunidade está incluída dentro de um conceito que é brincar de carnaval. Então o que ela tem que fazer é cantar e dançar. Eu tinha que elaborar uma proposta de fantasia para que o componente pudesse cantar solto, se pudesse dançar solto. Então eu acho que a fantasia é leve por mais que ela tenha volume. Pera aí que o componente realmente faça um desfile de carnaval. Ele entra naquela avenida para dar o seu máximo que em 20 minutos, ele vai estar sendo avaliado o trabalho de um ano todo que a nossa escola realmente ensaiou”, comentou.

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‘Coragem, resistência, comunidade’

O profissional se declarou para a escola. Falou que está totalmente envolvido com a Dragões da Real pelo carinho que recebeu. Além disso, acredita muito em soltar o grito de campeão. “Um grande desfile dos projetos que eu faço eu me envolvo muito e não basta você ter carro bonito, não basta você tentar fazer bonito, você tem que ter uma comunidade que esteja pronta para tudo isso que você apresenta para ela e sem medo de afirmar. Uma comunidade se sente bem investindo através da Dragões. Ela se sente bem em estar na Dragões da Real. Se sente bem representada. Então eu acho que acima de tudo eu hoje sou Dragões da Real pela receptividade que eu tive e o meu compromisso perante essa comunidade é de fazer o meu melhor sempre para que realmente eles se sintam bem respeitados dentro de uma proposta de Jorge enquanto profissional; O nosso objetivo é entrar e sair campeã do carnaval, mas para isso a gente faz esse trabalho durante todo o ano. Mas eu posso te afirmar: Vamos fazer um grande carnaval e eu penso muito em sair daquela avenida e poder soltar o grito de campeão”, finalizou.

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Conheça o desfile

“O nosso primeiro setor são os mitos. A gente vem com um carro que é a representação da África, que é a grande Savana. O nosso primeiro setor corresponde da nossa primeira alegoria até a segunda alegoria que são as virtudes. Tem justiça e alguns reis com essas virtudes. Depois a gente fala dos reis e rainhas guerreiras contentes do nosso segundo alegoria até o nosso terceiro alegoria. Depois o nosso último setor que é o dos expansionistas. Significa levar essa cultura africana para outros lugares e ela se expandir não só no continente africano. É também fazer essa amplitude da cultura africana em outros lugares e sempre mostrando e enfatizando essas grandes riquezas do continente africano que é a riqueza cultural, a riqueza humana e a riqueza espiritual”, explicou.

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Ficha técnica
Quatro alegorias
2.800 componentes
Elemento alegórico (Comissão de frente)
Diretor de barracão – Elias Vieira
Diretor de ateliê – Victor Hugo

Série Barracões: União da Ilha trará o olhar lúdico das crianças pretas para combater o racismo com educação e amor

Depois do justo rebaixamento de 2020 no Grupo Especial, a União da Ilha do Governador fará seu terceiro desfile em sequência no carnaval da Série Ouro. Sonhando em retornar à elite, a escola seguirá apostando no talento e competência do carnavalesco Cahê Rodrigues. Dessa vez, o artista resolveu apostar em dois temas que a Ilha tem predileção, por ter gerado desfiles de muito destaque. Ao unir a africanidade com o mundo infantil, criou o enredo de 2024, que teve grande aceitação da comunidade. Crianças passaram a frequentar a quadra da escola, incentivados pelos componentes ao explicar a história que Cahê pretende desenvolver na avenida. Jovens pretos começaram a se sentir representados, encorpando ainda mais a Ilha, que sempre foi tradicionalmente bastante popular. E pelo que se vê no barracão da escola, mesmo em condições não tão favoráveis em termos de estrutura, os sambistas podem esperar um trabalho estético de alto nível. Alegorias muito grandes, limpas e impactantes. Um dos carros deve chegar a 15 metros de altura no ponto mais alto de sua escultura principal. Além disso, serão vistos mecanismos giratórios, demonstrando que a direção da União da Ilha também aposta e investe bastante no próximo carnaval. Mas a principal mensagem estará contida no enredo, que será um grande manifesto antirracista através do olhar infantil, utilizando a educação e o amor como armas nesta importante luta.

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Fotos: Rafael Soares/CARNAVALESCO

A União da Ilha será a quarta escola a desfilar no sábado de carnaval, dia 10 de fevereiro, pela Série Ouro, na Marquês de Sapucaí. A agremiação irá levar para a avenida o enredo “Doum e Amora: Crianças para transformar o mundo!”, de autoria do carnavalesco Cahê Rodrigues.

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o artista falou sobre como surgiu a ideia do enredo e de que forma o livro do rapper Emicida ajudou no desenvolvimento:

“Eu já tinha um enredo pré-desenvolvido falando de crianças transformadoras, e aí, conversando com a minha equipe de enredistas, a gente se deparou com a obra do Emicida, que completou tudo aquilo que faltava dentro da nossa concepção, que era juntar o afro com o infantil, que são dois temas que a Ilha gosta muito de fazer. E aí, o livro Amoras, do Emicida, nos deu essa possibilidade de fazer um enredo com um olhar infantil, mas tendo uma roupagem africana. Então, não é uma África pesada, não é uma África terrosa, como a gente costuma ver, é uma África infantil, dentro de um tema infantil. E aí, nasceu Doum e Amora, crianças para transformar o mundo. Então, foi uma junção de ideias dentro de uma conversa na equipe, que nasceu a ideia de falar sobre o enredo antirracista inspirado no livro do Emicida”, disse Cahê Rodrigues.

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O carnavalesco contou que viveu episódios muito marcantes em sua infância e adolescência em que seus amigos foram alvo de racismo. Cahê trouxe essas memórias como uma importante motivação para realizar seu carnaval, mas buscando retratar esse contexto sem tanta dor, muito mais com o olhar puro das crianças. Ele ainda contou um belo momento sobre uma menina preta na escola:

“Eu fui uma criança, um adolescente que conviveu muito com negros. Os meus melhores amigos são negros, as pessoas que eu tenho, que eu carrego no meu coração, são negras, então eu já vi de perto muitas situações de racismo. Eu nunca vou sentir a dor que eles sentem, o que eles já sentiram, mas eu pude ver de perto muitas coisas que doeram em mim poder presenciar. Então, quando eu olho para essa história, quando eu vejo a possibilidade de um homem branco como eu poder tocar num tema desse, poder desenvolver um enredo desse, peço permissão à ancestralidade preta, conversando com pessoas, porque eu não sei trabalhar de outra forma, não sei deixar de ouvir as pessoas que estão inseridas dentro desse processo. Um dos meus enredistas é um homem preto. A escola tem muitos exemplos pretos, pessoas que carregam histórias muito bacanas. Então, eu procurei ter muito cuidado, porque enredo sobre racismo já passou um monte na avenida. Mas quando a gente olha para a Ilha e vê o enredo que tem como protagonistas duas crianças pretas que vão contar essa história de uma outra forma, isso que me encanta, poder tocar em temas tão sensíveis e necessários, mas sem agressão, sem dor, sem corrente, sem chicotada. Não que eu esteja fantasiando e floreando uma história que a gente sabe que não é bonita, mas na ocasião, para o nosso enredo, a gente tem essas crianças que vão nos ajudar a contar isso de forma mais leve, mostrando que não é com agressão, não é com chicotada, não é com palavrão que você vai transformar a humanidade. Você só vai conseguir transformar a humanidade através da educação e do amor. Porque ninguém nasce racista. As pessoas aprendem a ser racistas por falta justamente de uma educação antirracista dentro de casa, dentro das escolas. Então, Doum e Amora vão transformar a vida das pessoas através dos seus olhares. Quando eu comecei a ter alguns sinais de que a gente estava no caminho certo, foi quando a filha de uma menina da escola, quando ela viu a logo do enredo, ela falou para a mãe dela que a menina se parecia com ela, porque é uma menina negra de cachinhos. Então, aí você vê o protagonismo da criança preta que nunca existiu. Ou existiu de forma camuflada. Quando você vê uma criança olhando para um logo de um enredo e apontando para a mãe que aquela menina se parece com ela, eu acho que já é uma vitória do nosso enredo, independente de qualquer coisa”, falou o artista.

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Cahê disse ter muito carinho por todo o desenvolvimento do enredo, mas revelou algumas partes do desfile em que aposta bastante, por conta de sua beleza e significado muito fortes:

“Eu sou muito apaixonado nesse enredo e pelos momentos que a gente vai apresentar, mas eu acho que a abertura da Ilha, a entrada da escola esse ano vai ser mágica. A nossa frente é muito bonita, o nosso Abre-alas trazendo o Doum é muito bonito. É muito significativo esse céu de África trazendo a imagem do Doum. A escola toda está muito bacana, mas eu acho que um outro ponto que vai ser muito bonitinho também vai ser o tripé, que vem logo depois do carro Abre-alas, que traz Amora, que é apresentada dentro desse contexto da ciranda dos orixás, com as ferramentas dos orixás, como se a gente estivesse materializando a logo do enredo no desfile. Então, você tem um livro que salta de dentro dele essa energia, essa espiritualidade de Amora, cercada por esse carrossel de ferramentas dos orixás, e é onde vem Belinha, também nesse tripé de Amora, então acho que vai ser bem bonitinho de ver”, apostou o carnavalesco.

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O artista preferiu não afirmar que o desfile da Ilha será o maior de sua história no grupo de acesso, mas demonstrou muita confiança de que representará um divisor de águas para a agremiação:

“Eu não sei se vai ser o maior, cada desfile é um desfile. O desfile de Nossa Senhora Aparecida foi arrebatador, foi lindo. E eu considero um dos grandes desfiles da história da Ilha. Não só porque estava no Grupo de Acesso, mas eu acho que o Vendedor de Orações foi um grande desfile. Eu acho que Doum e Amora vai ser um divisor de águas dentro de uma escola onde, de alguma forma, a gente também está ensinando as pessoas essa educação antirracista. Eu acho que quando a gente fala de um bom enredo, ele só vale a pena quando a mensagem fica. Quando a gente aprende alguma coisa com ele. Então, eu olho para a quadra da Ilha hoje cheia de crianças. Eu nunca vi aquela quadra com tanta criança, eu nunca vi tantas crianças perto de mim. Parece uma coisa que realmente o mundo espiritual ele carrega, ele traz isso para perto da gente. Não sei se vai ser o maior desfile da União da Ilha, mas eu acho que vai ser um desfile que vai marcar a história da União da Ilha e que vai emocionar o sambódromo pela mensagem, pela verdade que a gente carrega e por tudo, todo o cuidado que a gente está tendo com o tema deste carnaval”, disse Cahê.

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Após muitos anos de trabalho no Grupo Especial, em escolas como Imperatriz, Grande Rio, Portela e Porto da Pedra, Cahê está em seu terceiro ano seguido com a União da llha na Série Ouro. O artista contou as principais dificuldades que encontra no barracão em que está atualmente, em comparação com a estrutura da Cidade do Samba:

“Não tem estrutura nenhuma de trabalho. A Ilha ainda é uma escola que se preocupa em fazer uma sala, tem um ar-condicionado, fez um banheiro. Mas até pouco tempo eu estava brigando aqui com órgãos, com lideranças da prefeitura, para poder vir aqui jogar um remédio de mosquito, porque um monte de gente com dengue nessa região, os barracões infestados de mosquito, ninguém faz nada. E aí eu estou vendo meus funcionários adoecendo, barracões vizinhos também reclamando da mesma coisa. Essa situação a gente não passa na Cidade do Samba. E aqui a gente tem que se virar nos trinta para poder trabalhar de forma digna e dar pelo menos um pouco de estrutura às pessoas que estão aqui dentro. Essa é a maior dificuldade. É a falta de segurança, a falta de higiene. E aí você acaba tendo que se preocupar. Não só com a feitura do carnaval, mas com as pessoas que estão aqui dentro trabalhando. Acho que existe uma diferença muito grande em estar dentro da Cidade do Samba e fazer um carnaval fora muito competitivo como a Ilha faz, porque é uma escola que é muito esperada, se cobra muito da Ilha um grande carnaval e a gente trabalha nas mesmas condições que todas as escolas da Série Ouro, não é diferente. Então, é driblar esses problemas e poder fazer um carnaval digno da Ilha, dentro de uma estrutura muito ruim, é o nosso maior desafio”, desabafou o carnavalesco.

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Ainda neste tema, o artista falou sobre as formas que ele e a escola encontraram para driblar as dificuldades financeiras e estruturais para o desenvolvimento do carnaval, buscando novos recursos e apostando em uma equipe muito competente:

“A gente vai dando o nosso jeito. Acho que a Ilha tem uma boa administração, então o presidente tem consciência de que a gente precisa apresentar um grande carnaval. Ao mesmo tempo, a gente sabe que recebeu a mesma grana que todo mundo, não foi diferente, então aí ele também corre atrás de outros recursos, de apoio de empresários, de amigos, que sempre ajudam a escola. O orçamento da escola, claro que vai ultrapassar a subvenção que a escola recebeu, porque é um projeto para disputar título. A gente teve que fazer praticamente carros novos, estruturas de ferro novas, a escola gastou muito com madeira e fibra, coisa que no ano passado a gente não gastou tanto. No conjunto de fantasias houve um investimento também muito grande, então é uma escola que tem essa obrigação, independente das dificuldades de fazer um grande carnaval, e isso demanda muito tempo, dedicação, jogo de cintura, porque a gente tem que procurar sempre caminhos, pensar em plano A, B, C, o tempo todo. Eu mudei o meu projeto, por exemplo, umas três vezes, porque o dinheiro chegou muito em cima do laço e não dava para ficar brigando pelo projeto original, porque não ia sair. Você acorda e entende que não vai ter tempo de concluir o projeto original. E pensa no plano B, C, D, porque senão você vai ficar todo enrolado aqui, foi o que eu fiz. A estrutura foi feita, o carnaval é grande, os carros são grandes, mas eles precisam ser finalizados. E aí, com pouco dinheiro, como faz? Então, é realmente driblar os problemas com materiais alternativos. Eu também agradeço a equipe que eu tenho aqui dentro, que é fantástica. Minha equipe de ferreiros, de carpinteiros, de decoração, são pessoas muito comprometidas. E aí, somado à minha praticidade, que eu tenho em lidar com as dificuldades, e à administração da escola, que entende também que a gente precisa fazer um grande carnaval, independente das dificuldades”, explicou Rodrigues.

Cahê disse não se sentir desprestigiado por trabalhar na Série Ouro. Ele revelou que a União da Ilha devolveu seu prazer em fazer carnaval, pois é uma grande escola que o tirou da zona de conforto do Grupo Especial:

“Eu fiquei muitos anos no Especial, então, pra mim, estar lá não é novidade. A minha satisfação e alegria enquanto artista é ter paz e respeito onde estou trabalhando. Não me sinto diminuído pelo fato de estar na Série Ouro. Posso dizer que hoje eu estou muito feliz. Talvez eu tenha encontrado na Ilha uma alegria e um prazer de trabalhar que eu já não sentia há muito tempo. Então, para o artista que faz carnaval, é indiferente ele estar na Série Ouro ou no Especial. Até porque não adianta eu estar no Especial e não conseguir fazer um grande projeto ou não conseguir levar meu carnaval para a avenida, como já aconteceu em outros anos. Porque a gente sempre vai ser julgado pelo trabalho que atravessa o sambódromo. É claro que quando eu olho para as questões de estrutura de trabalho e a questão financeira, o Grupo Especial te dá muito mais possibilidades de um salário mais digno, de uma estrutura decente. Mas na Ilha eu encontrei essa alegria. Depois que eu comecei no acesso, e depois fui para o Especial, você acaba se acomodando um pouco. É normal, porque você encontra ali uma grande estrutura e só não faz um grande carnaval se você não quiser. Na Série Ouro é diferente. Se você não tiver experiência de barracão, se não tiver jogo de cintura, se não tiver um bom relacionamento com os profissionais, a coisa fica mais difícil. É claro que eu almejo em algum momento voltar para o Especial. Eu tenho projetos, tenho enredos que são para o Grupo Especial, e que eu sei que não vou conseguir fazer na Série Ouro por uma questão de investimento. Mas não me sinto diminuído pelo fato de estar na Série Ouro. Pelo contrário, eu agradeço todos os dias o fato de estar empregado em um momento que está tudo tão difícil para todo mundo. E eu estou em uma grande escola, a Ilha tem uma grande bandeira. Me sinto honrado em fazer parte da história da Ilha. E vou trabalhar até o último momento para ver essa escola de volta ao Grupo Especial”, refletiu o artista.

O carnavalesco da Ilha afirmou não ter planos traçados para a sequência da carreira. Cahê quer fazer o máximo possível pela escola e, depois do carnaval, aguardar o que o futuro reserva para ele:

“Na minha vida inteira eu nunca fiz planos. As coisas sempre foram acontecendo naturalmente. Nunca bati na porta de ninguém para pedir emprego, nunca liguei para ninguém. Eu não tenho esse perfil, dos famosos puxadores de tapete. Eu sempre espero e não faço planos. Carnaval é uma caixinha de surpresas, a gente nunca sabe o que vai acontecer. Hoje uma escola que é cotada para ser campeã pode chegar na hora e não acontecer. Então, a gente não sabe nunca o que está reservado para nós. Eu faço o meu trabalho pensando no meu carnaval. O que vai acontecer depois é consequência de uma série de coisas. Então, hoje o meu projeto é trabalhar até o último momento para ver a Ilha fazer mais um grande carnaval. E o que vai acontecer depois, se eu vou continuar na escola, se eu vou para outra escola, eu vou deixar acontecer. Não tenho contato de ninguém, não tenho convite de ninguém, como muitas pessoas ficam especulando. É claro que uma hora ou outra aparece alguém que fala alguma coisa, faz uma ligação ou algo mais concreto. Mas eu deixo a coisa acontecer, se tiver que ser, será. Se um convite tiver que vir, virá. E o que tiver guardado para mim, será meu porque está escrito”, disse Cahê.

Conheça o desfile da União da Ilha

Setor 1: “Doum e Amora, crianças para transformar o mundo, é um enredo inspirado livremente na obra do Emicida, Amoras. É um tema de educação antirracista e que foi dividido em quatro setores. O primeiro setor é quando a gente apresenta Doum, que chega ao céu de África e traz com ele toda a sua ancestralidade, toda a sua espiritualidade. Então, é um setor que a gente vai tratar exclusivamente da apresentação e chegada desse personagem. Ele é o protagonista desse primeiro momento do enredo”.

Setor 2: “O segundo setor é quando a gente apresenta Amora, a menina com a cara do Brasil. Também dentro desse perfil de menina de periferia, porque Amora pode ser qualquer menina de qualquer favela do Rio de Janeiro, do Brasil, do mundo. Então, é uma menina que representa a caminhada de todas essas meninas pretas que passam por tantas coisas ao longo do seu crescimento e que por falta de uma educação antirracista acabam sofrendo muito, principalmente na primeira idade, vamos dizer assim. Então, é um setor que a gente também vai falar desse universo de Amora, da sua ancestralidade, da sua origem, dos seus saberes, do seu habitat, do seu dia a dia dentro da sua comunidade”.

Setor 3: “O terceiro setor é quando Amora encontra Doum e aí os dois trocam experiências, trocam saberes e Amora apresenta Doum à sua comunidade. Onde ela mora, as suas brincadeiras, os seus costumes. Doum vai começar a se deparar também com as lutas diárias dos pais de Amora, em meio à luta contra o racismo, só que isso tudo com o olhar da criança. A gente sempre vai tocar no racismo com o olhar da criança. E aí nesse terceiro setor, a gente sai um pouquinho do lúdico, que está muito presente nos dois primeiros setores, e entra numa realidade onde Amora apresenta a Doum esse universo”.

Setor 4: “Quarto e último setor é quando essas crianças, protagonistas desse enredo, se encontram com outras lideranças. Então, já é um setor que eles começam a entender as histórias que os pais contavam. Até porque o livro do Emicida é um diálogo de um pai preto para uma filha preta, onde ele ensina a ela a beleza de ser preto. É um livreto simples, mas com uma mensagem muito potente desse pai para essa filha que o livro deixa muito claro. Vai estar muito presente no último setor, que é um setor que a gente fala diretamente dessa luta pautada na educação antirracista. Então, Doum e Amora vão se deparando ao longo das alas com esses personagens, com esses exemplos que servem de inspiração para eles, e que eles escutaram a vida inteira os pais falando para eles sobre o exemplo desses homens e mulheres. No final, a gente vê Doum e Amora inseridos em um universo onde, de fato, o que vai salvar a ignorância do mundo e o racismo é a educação e o amor que vão estar sendo espalhados ao longo de todo o desfile por essas crianças”.

Integrantes da Mocidade participam de encontro com Lula

Integrantes da Mocidade Independente de Padre Miguel participaram na noite de terça-feira de um encontro com o presidente Lula. O evento foi oferecido pelo prefeito Eduardo Paes.

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Foto: Divulgação Mocidade

A escola da Vila Vintém publicou imagens nas redes sociais e celebrou estar com o presidente do país e ainda citou que a primeira-dama, Janja, é torcedora da Verde e Branco.

“A Estrela aqui viveu uma noite maravilhosa ontem. Queríamos agradecer ao prefeito pelo convite de mostrarmos o hit do verão ao presidente da república. Um beijo especial a minha Independente, Janja. Viva o Rio. Viva a nossa cultura, a nossa gente. Viva o carnaval”.

Folia Carioca e Ministério Público do Trabalho lançam campanha de conscientização contra o abuso infantil no Carnaval

Com o objetivo de conscientizar os foliões para o combate ao abuso infantil, a Folia Carioca, uma das mais representativas entidades do Carnaval de rua carioca, lançou a campanha “Abuso não combina com a folia. Para um Carnaval seguro para as crianças”. A iniciativa, criada em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e com o apoio da Associação de Conselheiros Tutelares do Estado do Rio de Janeiro (ACTERJ), prevê a instalação de outdoors, busdoors, cartazes em estações do MetrôRio e da Supervia e a distribuição de ventarolas.

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Foto: Divulgação

A campanha pretende alertar sobre a vulnerabilidade das crianças e dos adolescentes durante o Carnaval. Nesta época, são mais comuns o acesso desregrado à bebida alcóolica, a negligência de alguns responsáveis, a sexualização, o abuso sexual e o uso do trabalho infantil. Para isso, serão instalados dez outdoors em vários pontos da cidade, 50 busdoors em 16 linhas de ônibus, cartazes nas estações Carioca, Cinelândia, Saens Pena e Botafogo do MetroRio e na Central do Brasil (Supervia). Além disso, dezenas de milhares de ventarolas serão ofertadas aos foliões que participarem dos cortejos dos blocos e bandas.

De acordo com Marco Muniz, coordenador da Folia Carioca, a ação é mais uma oportunidade de lançar luz sobre este importante problema de nossa sociedade: ” Como instituição, temos uma responsabilidade social que vai além da folia. Entendemos que o Carnaval é uma oportunidade de levar uma mensagem à população sobre temas importantes nesse momento de festa”.

Já a presidente da ACTERJ, Tatiana Charles, destaca que a ação também é importante para informar à população como se faz a denúncia de violação dos direitos de crianças e adolescentes. “Campanhas de sensibilização são fundamentais para proteção de crianças e adolescentes, desta forma convidamos a todos a se engajar em nossa iniciativa”, afirma.

A campanha também conta com a colaboração da Federação dos Blocos Afros e Afoxés do Rio de Janeiro (Febarj), da Liga Independente dos Blocos de Embalo do Estado do Rio de Janeiro (Liberj), da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro (Aesm-Rio) e do G.R.E.S. Estácio de Sá.

Sobre a Folia Carioca:

A Folia Carioca foi fundada em 2009 e congrega 18 blocos e bandas tradicionais do Carnaval Carioca: Bloco Se Me Der, Eu Como!, Bloco Cata-Latas do Grajaú, Bloco Guri da Merck, Bloco Enxota Que Eu Vou, Bloco Berço do Samba, Banda da Rua do Mercado, Bloco Largo do Machado Mas Não Largo do Copo, Bloco Largo do Machadinho Mas Não Largo do Suquinho, Associação Carnavalesca Infiéis, Bloco Arteiros da Glória, Bloco Boêmios da Lapa, Bloco Quem Não Guenta Bebe Água, Bloco da Insana, Foliões do ABRACES, Bloco Educa Que Liberta, Bloco da Harmonia, DNA Suburbano e Bloco Eu Também Tenho Arsch.

Série Barracões: União de Maricá estreia na Sapucaí homenageando e reconhecendo grandes compositores brasileiros

Na sua estreia na Sapucaí, a União de Maricá apresenta o enredo “O Esperançar do Poeta”, uma homenagem ao papel social, cultural e humanitário presente no ofício do compositor. Com um barracão quase pronto, o carnavalesco André Rodrigues reconhece a ajuda da prefeitura de Maricá e contou um pouco do que envolve a criação do desfile, que, segundo ele, tem a simplicidade como trunfo, mas com muito luxo e romance. A escola, que vem da série bronze como vice-campeã, traz um enredo que, lançado em forma de curta-metragem, é fruto de uma conversa de André com uma amiga, que promete homenagear grandes compositores e o universo deles na Sapucaí.

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Fotos: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

“A ideia do enredo veio até mim, quando a minha amiga Kamila me mostrou um texto do Igor Trindade, sobre a carreira do Guará, o Guaracy Sant’anna, um grande compositor carioca. E partindo daí, contar a vida desses compositores. É um enredo que fala sobre o ato de compor, a arte de compor, a escola vai exaltar os compositores, tendo como fio condutor Guará, mas falando sobre essas vivências e realidades desses compositores e o que esses compositores viveram. A gente está vindo aí para honrar um pouco a história desses compositores e compositoras que fizeram grandes sambas para tocar a nossa vida, e às vezes a gente não sabe, muitas vezes a gente lembra mais do intérprete e acaba esquecendo de pensar em quem compôs aquela música, a realidade que aquela pessoa viveu e a mensagem que ela queria passar”, conta André.

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Guaracy Sant’anna foi um cantor e compositor do subúrbio carioca e teve a sua trajetória como artista marcada por diversos sucessos. O maior deles é o samba “Sorriso Aberto”, faixa-título do disco de Jovelina Pérola Negra em 1988. O enredo também tem como inspiração outros compositores de sambas, como, por exemplo: “Castelo de um quarto só” (Vinny Santa Fé), “Sonhar não custa nada, ou quase nada” (Dico da Viola/ Moleque Silveira/ Paulinho Mocidade), “Zé do Caroço” (Leci Brandão), “Despejo da Favela” (Adoniran Barbosa), etc., todos alinhados com a narrativa do enredo, composições que falam sobre a realidade dos compositores e os locais em que eles vivem.

“Para mim, o grande trunfo desse enredo é a simplicidade dos compositores, a simplicidade da vida deles que se reflete na arte de compor. Algo que vai ser visto no desfile é o universo particular de cada compositor. Fazendo uma homenagem ao próprio ato de compor mesmo, à magia envolvida nesse processo, e às formas com que a inspiração pode chegar até a gente, falando das coisas que nos trazem inspiração. Eu mesmo fiquei muito tocado com a leitura do texto do Igor, que inclusive assina o enredo junto comigo e com a Kamila. O trunfo é esse, falar da essência desses artistas que nos atravessam de diversas formas com suas músicas e nem sempre são reconhecidos”, afirma o carnavalesco.

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A União de Maricá faz sua estreia na Série Ouro, por conta disso, entende-se que o porte da escola, consequentemente, tende a aumentar, pois ela estará disputando com escolas já consagradas e que conhecem muito bem a Sapucaí nesses 40 anos de existência da avenida. No entanto, é sabido que o trabalho de concepção de um carnaval na Série Ouro é precarizado, pois faltam recursos e estrutura necessária para o trabalho. Porém, André, que já tem experiência com a Série Ouro, relata que com a União de Maricá, essa questão tem sido muito diferente das outras.

“Eu entendo e conheço muito bem a situação precária que é fazer um carnaval na Série Ouro, mas a minha experiência para o carnaval desse ano, aqui na União de Maricá, tem sido muito diferente graças a uma subvenção da prefeitura de Maricá. Eu seria até hipócrita se falasse que enfrentei alguma dificuldade desse tipo aqui. Mas essa subvenção da prefeitura não foi apenas para o artístico do carnaval, mas também e inclusive para a estrutura da escola, porque a escola vem da Série Prata, então é preciso dar uma estrutura maior para a escola ir para a avenida, como um novo barracão. Então, é necessário construir uma identidade nova para essa escola, né? Porque ela vem fazendo um desfile na Intendente, que era de um jeito, e agora ela vai ter que se comportar, de certa forma, de outro jeito na Sapucaí, né? Com outro tamanho, com outros objetivos”, revela André.

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Uma nova estrutura, uma equipe de ponta, uma prefeitura que apoia. A União de Maricá vem preparada para a sua estreia na Sapucaí, no entanto, a estreia é um momento histórico e muito esperado pela comunidade e pelo público do carnaval, o que acaba gerando ansiedade e colocando muita responsabilidade em cima dos responsáveis pelo desfile, André se mostra tranquilo quanto a isso, mas reconhece a responsabilidade desse momento.

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“Eu sempre procuro estar muito próximo das pessoas, as pessoas que são a escola, né? Procurar entender quem são essas pessoas que fazem essas escolas para a gente desvendar um pouco a alma dessas agremiações. Eu falo muito que, assim, eu sou sambista, eu gosto de carnaval, eu gosto de escola de samba. Eu até tento consertar essa frase, eu não gosto de carnaval, eu gosto de escola de samba. Escola de samba é uma coisa que eu gosto e que eu respeito muito. E que eu procuro levar cada vez mais as importâncias da escola de samba para sociedade em si. Então, eu procuro muito entender quem são essas pessoas que fazem as escolas de samba. E a Maricá, nesse sentido, me toca um pouco justamente por essa estreia dela na Sapucaí, né? É uma coisa que é difícil você ver uma escola que vai estrear na Sapucaí de alguma maneira. E eu me sinto feliz, assim, de estar vivendo esse momento com essas pessoas, de estar vivendo esse momento com os outros profissionais que também estão aqui, que são muito meus amigos, muitos de vários outros anos, assim. Então, eu acho que a ansiedade é mais pelo que a gente pode dar para o torcedor da Maricá, sobre o que a gente pode construir com o torcedor da Maricá, com a pessoa que é Maricá. Então, dar um pouco do tom desse objetivo é uma responsabilidade muito grande. Mas, para mim, é sempre muito emocionante. Eu gosto de lidar mesmo com as pessoas em si, de entender quais são as expectativas delas, para poder entrar cada vez mais na alma das escolas. Eu fiz assim na Portela, fiz assim na Maricá, fiz assim na Sossego principalmente e, enfim, fiz na Beija-Flor e eu acho que essa maneira é a maneira mais correta, a gente respeitando o que são as escolas de samba, até porque, a gente que está chegando tem que entender um pouco o que são esses redutos, quem são as pessoas que fazem ele para poder construir algo que respeite a história dele”, disse o carnavalesco.

Conheça o desfile da União de Maricá

Na sua estreia no Sambódromo, a União de Maricá vem com 1500 componentes, divididos em 19 alas, com três carros alegóricos e um tripé, além do tripé da comissão de frente. O desfile é dividido em quatro setores.

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1º Setor: “O primeiro setor fala sobre o local desses poetas, como eles enxergam um pouco o local onde eles vivem, como eles romantizam esse local. O desfile todo tem uma visão muito romântica, sobretudo porque é a visão da composição, é a visão da poesia, da melodia e tudo mais. Então, o abre-alas é isso, são esses barracos suspensos entre nuvens, em meio às bananeiras. É uma visão muito dos anos 70, dos anos 80, dessas favelas, que tem aquele monte de bananeira, os barracos e tal. Só que tudo isso envolto em muito luxo, obviamente, de delírio, de sonho. Então, tem esses pássaros que vão voando. Enfim, tudo é muito romântico para essa visão do poeta sobre o seu lugar”.

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2º Setor: “O segundo setor fala sobre como eles acabam compondo grandes músicas, também extremamente poéticas, sobre esses lugares, sobre denúncias desses lugares, músicas ótimas que falam sobre fome, falam sobre estrutura, sobre trabalho, sobre, enfim, sobre uma série de denúncias sociais que eles conseguem fazer através das suas músicas”.

3º Setor: “O terceiro setor fala sobre eles vivendo nesse mundo da escola de samba, sobre como eles constroem o mundo das escolas de samba, a partir também dos sambas-enredos, como os sambas-enredos, que são esses que a gente selecionou, acabam extrapolando o mundo da escola de samba para esses compositores, pensando que muitos compositores buscam esse reconhecimento, buscam o reconhecimento das suas obras”.

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4º Setor: “E o último setor, fala sobre como eles depositam a esperança, esse esperançar, principalmente construindo músicas de fé e construindo músicas que propõem novos futuros a partir principalmente das crianças, a partir desse legado deles de que outras pessoas virão para manter essa busca por um esperançar de um lugar melhor, onde eles possam fazer música por fazer música, não necessariamente por viverem ou romantizarem esses lugares. Então, essa homenagem a essas múltiplas facetas que a gente encontra nesses compositores e sobre como eles conseguem criar imaginários para a gente em vários outros lugares”.

Série Barracões: Voltando ao Grupo de Acesso I, Torcida Jovem já almeja vaga no Grupo Especial

Finalmente um grande sonho alvinegro se tornou realidade. Após uma curta passagem pelo Grupo de Acesso em 2011, a Torcida Jovem ficou anos no antigo chamado ‘Grupo 1-Uesp’, onde bateu na trave várias vezes para voltar à segunda prateleira do carnaval paulistano. Também, em 2022, já com todas as escolas da terceira divisão integrada à Liga-SP, a Jovem novamente quase conseguiu o acesso, ficando atrás de Nenê e Peruche. As três brigaram fortemente na apuração àquela época.

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Entretanto, naquela oportunidade, já havia indícios de que a escola alvinegra estava em uma crescente como uma escola que logo alcançaria os seus objetivos. Em uma apuração que imaginávamos ser acirrada no Grupo de Acesso em 2023, a oriunda santista nadou de braçadas e conquistou o título e, consequentemente, a vaga para o Grupo de Acesso I.

A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da agremiação e conversou com Fernando Dias, integrante da comissão artística e um dos responsáveis pelo projeto de carnaval que a escola levou para si.

Vale destacar que a Torcida Jovem historicamente tem bastante enredos afros. Nesta volta ao Acesso I não será diferente – “Raiz afro mãe, meu Brasil bantu”, é o título do tema da entidade.

O tema da Jovem foi decidido internamente, pela própria diretoria e pelo pesquisador Marcelo Caverna, que é um grande conhecido do carnaval paulistano, também por ser mestre de bateria da escola. “O enredo conta a história dos escravos, que é o povo bantu. Eles vieram da África, escravizados através do europeu em troca de mercadorias e sendo vendidos para os senhores de engenho. Aos poucos eles foram conquistando a sua liberdade, o seu espaço e voltando a se tornar reis e rainhas como eram na África”, explicou Fernando Dias.

Importância da cultura

Perguntado sobre o que é mais alucinante nesse enredo, na opinião de Fernando é a cultura. O artista gosta de comunicar ao povo enredos históricos, além de entender o que ocorreu para chegarmos aqui. “O que me fascina é a cultura. É muito legal trazer enredos históricos e culturais para as pessoas conhecerem mais. E também desenvolver este projeto. Cada vez que ele começa a ganhar corpo, ganhar vida, a gente se apaixona muito mais e começa a entender muito mais lá atrás a nossa história, o que foi passado e o que aconteceu”, disse.

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Diferencial na matriz africana

Há uma demanda muito grande de enredos ligados à matriz africana no Grupo de Acesso I. das oito agremiações, seis delas têm fortes ligações. Contudo, de acordo com Fernando, a riqueza do tema e a garra da comunidade podem ser os diferenciais no desfile. “Todas as outras escolas buscaram um enredo afro e estão trazendo a cultura. A Jovem foi por esse lado e eu vejo um grande diferencial no projeto e na própria comunidade que aceitou esse tema afro. Nós temos, talvez, o melhor samba do Acesso I e a comunidade está cantando e abraçou. o grande diferencial vai estar nesse projeto. A garra e o desenvolvimento que eles abraçaram. Nosso enredo é muito rico nesse aspecto da cultura”, declarou.

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Voltando para a escola

Dias afirma que a volta para a Torcida Jovem está sendo benéfica e está encontrando uma escola bastante organizada e com uma diretoria que tem pensamentos melhores para o desenvolvimento de um carnaval. “Para mim está sendo gratificante depois de sete anos estar voltando para a Torcida Jovem. Eu passei aqui como carnavalesco e a convite da diretoria estou retornando. O grande diferencial da minha participação aqui é legal por ter uma nova diretoria com um novo pensamento. Tanto que eles foram campeões e estão voltando para o Acesso I. Eu sempre acreditei que a Jovem tem força e é só saber usar ela para poder chegar onde a gente quer, que é o Grupo Especial. Para nós, artistas, é muito gratificante pegar a escola com essa vontade”, comentou.

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Beleza estética

Indo ao barracão é inegável ver que a escola está investindo bastante nas alegorias. O cuidado com o acabamento de todas está sendo primoroso. O otimismo reina internamente, e com Fernando não é diferente. “O Acesso I é um grupo que antecede ao Grupo Especial, então se deve ter mais ou menos o mesmo nível. A Jovem vem com isso, com fantasias luxuosas, alegorias grandes, bem acabadas, montadas e preenchidas. Porque se a gente conseguir chegar lá, eu acredito muito nisso, não vai sofrer tanto. Está bem legal isso. Quando o conjunto chegar na avenida, vai surpreender muita gente”, afirmou.

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Ficha técnica
1000 componentes
3 alegorias
Diretor de barracão – Paulo Roberto
Trabalho de pesquisa – Marcelo Caverna