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Especial Barracões SP: Império de Casa Verde levará ao Anhembi a espiritualidade de Fafá de Belém

Tigre Guerreiro se inspira na mística da cantora para construir homenagem criativa e original

“O sorriso que espalha o bem e o talento de Fafá de Belém” vão brilhar no carnaval do Império de Casa Verde em 2024. A homenagem a uma das maiores cantoras do Brasil às vésperas de completar 50 anos de carreira será o enredo do Tigre Guerreiro, que está na iminência de comemorar 30 anos de história. A série “Barracões” do site CARNAVALESCO conheceu de perto o trabalho artístico assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza e o enredista Thiago Freitas, e mostra para o público a maneira como a vida de Fafá será retratada no Sambódromo do Anhembi.

Inspiração para o enredo: um sonho de muitos anos

Um enredo pode ter que esperar o momento certo para ganhar a luz. A homenagem à Fafá de Belém era um sonho de longa data de Leandro Barboza, que ganhou forma nas mãos de Thiago Freitas e fez com que o carnavalesco ficasse ainda mais motivado.

“A Fafá é um enredo que eu já sonho há bastante tempo. Tenho ele de seis a sete anos, e quando eu apresentei ao Thiago ele deu um novo caminho. Thiago, que é meu enredista, apresentou vários outros caminhos que a gente poderia dar para a Fafá, o que me apegou mais ainda a esse tema. Thiago me apresentou essa proposta de falar sobre rituais e falei: ‘Thiago, é isso que eu acho que isso que vai representar ela na Avenida, acho que ela vai ficar mais contente com isso’. Foi quando a gente apresentou a ela o primeiro momento, e que o Thiago foi lendo o enredo para Fafá, que ela foi se reconhecendo em cada linha e isso deixou a gente muito confortável, além de ser um sonho passar uma narrativa que deixe ela muito confortável, a todo momento querendo trazer todas essas mulheres paraenses, amazônicas que saíram de lá para ganhar o mundo, trazendo com ela essas mulheres. Isso que deixou ela mais feliz, a gente está bem contente com isso tudo”, declarou o carnavalesco.

O segredo para que Fafá de Belém pudesse se identificar melhor com o enredo foi fugir da óbvia narrativa biográfica. Thiago Freitas explica que a ideia para tornar a narrativa mais atrativa foi apostar na espiritualidade, a mística da cantora.

“É um enredo de muita força feminina. Todas as mulheres e todos os homens que nascem na Amazônia são caboclos, e a Fafá vem como a grande cabocla. A gente pega essa expressão e crava na Fafá com a sua mística. Ela é muito mística mesmo, conversando com ela a gente percebe essa misticidade que é muito forte. A gente optou por trazer um enredo não-biográfico e nem só focado na musicalidade, a gente trouxe a espiritualidade, a força guerreira da Fafá, toda a mística, o encanto, todos os rituais que a gente pode agregar. Ela tem um leque de musicalidades de quase 50 anos de carreira, que é a comemoração do nosso enredo. Ela sempre traz musicalidade muito enraizada nos aspectos da mata, dos elementos naturais, dos povos originários, que são os povos indígenas. A gente amarrou a narrativa por esses aspectos, a Fafá trazendo na musicalidade, trazendo com o seu canto essa mística mesmo, os rituais da mata”, explicou.

Presença da cabocla serena no projeto

Ao entrar em contato com Fafá de Belém para contar sobre o enredo, a reação da cantora foi de grande alegria. Leandro Barboza afirma que a simbologia em torno da homenagem teve grande importância para o aceite da artista.

“O primeiro contato foi incrível. Em um primeiro momento foi por telefone, eu falando que ela seria um enredo. A gente já tinha tido uma conversa antes, só que estava esperando o presidente aprovar. Quando ele aprovou, ele falou: ‘não, tem que ser Fafá mesmo’. Eu liguei para ela e a reação dela foi gritar ao telefone e vibrar porque a Fafá é do carnaval. A Fafá não tem muita participação no carnaval de São Paulo, mas sempre foi muito ativa no carnaval do Rio. A Fafá é uma sambista nata, ela entende toda a importância de todos os setores da escola. Ela desligou o telefone, ficou três dias tentando captar, compreender que ela seria enredo. Por que São Paulo? Tudo para ela tem que ter uma conexão. Ela me liga depois de três dias agradecendo muito, que ela ficou isolada tentando entender tudo isso, e que não seria tão feliz para ela se não fosse São Paulo, se não fosse o Império porque a vida dela é em São Paulo, a raiz dela é em São Paulo. Isso fecha o sonho dela de ser enredo aqui em São Paulo, ela está muito feliz com isso tudo”, disse.

Thiago Freitas explica que o desafio seguinte foi conter a ansiedade de Fafá de Belém para que o segredo pudesse ser guardado até o dia do lançamento oficial do enredo imperiano. A presença da cantora dentro de todo o projeto faz de Fafá não apenas uma simples homenageada, mas também uma parceira de trabalhos.

“Quando ela recebeu a confirmação que ia ser enredo em maio, ela já queria soltar. ‘Posso divulgar? Posso divulgar?’. Foi um desafio segurar Fafá maio, junho, julho e agosto, quando a gente lançou. Foi muito difícil segurar esse segredo, tanto é que ela estava se arrumando para vir para cá no dia do lançamento e ela não aguentou e já anunciou no Twitter dela. Esse foi um desafio também, controlar a Fafá na emoção de divulgar porque a gente não queria que vazasse, a gente queria essa surpresa”, contou.

“Mas acho que a gente conseguiu. Vazou muito em cima da hora, umas horinhas antes, tamanha emoção dela. Mas com relação à participação dela, por mais que a agenda dela seja muito grande por causa do trabalho dela, ela tem participado. Ao mesmo tempo, quando ela não está no barracão, a gente está lá. A gente sempre está em reunião, e quando está viajando, ela está em vídeo. Ela está muito presente em cada elemento da escola. Tudo que foi passado de fantasia, alegoria, ela está dentro do processo, e essa semana já intensificou mais a presença dela tanto nos ensaios quanto aqui no barracão”, completou Leandro.

Desafios enfrentados para conceber o enredo

Resumir 50 anos de carreira em quatro setores foi o maior desafio na visão de Leandro e Thiago. A solução de caminhar para o lado da espiritualidade e da representatividade feminina de Fafá se mostrou um grande acerto.

“Para mim é essa responsabilidade dela se reconhecer. Eu acho que é o mais importante uma pessoa como ela, de tamanho importância, de tamanho carreira, se reconhecer em quatro setores, que é muito pequeno perto dos 50 anos de sucesso dela. Isso foi um desafio muito grande e eu tenho certeza de que a gente acertou. A gente representou esses 50 anos dela em quatro setores, e eu acho que isso foi um desafio dos mais importantes e uma responsabilidade incrível”, afirmou o carnavalesco.

“É como o Leandro falou. Acho que o homenageado precisa se reconhecer em todos os elementos, então enquanto a gente foi lendo a primeira versão do esboço, da sinopse, ela dizia: ‘eu sou isso, eu sou isso’. Ela falava em lágrimas e entrava no transe dela. Esse enredo já nasce desse transe dela se reconhecendo e chorando, entendendo que ela era aquilo. O nosso desafio foi fazer com que Fafá se reconhecesse em um enredo que foge um pouco do comum das homenagens, então acho que a gente acertou nessa pegada”, celebrou Thiago.

“Ao mesmo tempo de fugir do comum, ele é um enredo 100% vida de Fafá, ela se reconhece em cada etapa. A gente vem trazendo as festas, a gente traz o Círio, e ela está presente em cada um desses elementos, o que deixa a gente muito confortável em termos de narrativa”, acrescentou Leandro.

“E a questão ambiental na defesa da mata, ela é isso mesmo. Ela é embaixadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), então todos os carros, todas as fantasias, cada parte do samba tem uma ligação com Fafá. Quando o samba diz ‘Senhora das Águas’ é porque ela se conecta muito com as águas, ‘Maria dos Jurunas’ é porque Jurunas é um bairro de Belém e é uma etnia indígena. A gente trabalha em tocar no coração do belenense ao trazer esses aspectos de lá, da terra de Fafá. A gente navegou bem esses elementos”, concluiu Thiago.

Pedidos de Fafá em nome da família e das mulheres do Norte

Leandro Barboza e Thiago Freitas afirmam que a identificação de Fafá de Belém com o enredo foi total. A artista não pediu nenhum tipo de alteração na forma como o enredo contará sua história, mas fez pedidos especiais quanto a participação das netas e as referências às mulheres nortistas.

“Acho que a felicidade nossa e também do Thiago é de a gente fazer essa leitura para ela, e no final dessa leitura eu perguntar: ‘Fafá, você quer que altere alguma coisa?’, e o Thiago: ‘está dentro do que você é? Te representa?’, e ela responder: ‘não quero botar uma vírgula em nenhum ponto. A minha vida está resumida aí’. Não tem retoque em hora nenhuma”, afirmou o carnavalesco.

“Eu acho que não foi nenhuma exigência, foi só uma forma de reconhecimento. Ela apontou para onde as netas iam desfilar. Não foi nem o pedido, ela falou assim: ‘as minhas netas vão vir aqui, né?’, e já apontou. Eu acho que isso foi bem marcante, ela reconhece que ali é um bom lugar”, contou Thiago.

“E também de puxar essas mulheres do Pará também. Ela pediu desde o início que, como ela sempre fala em qualquer entrevista, o enredo não é ela, é ela e todas essas mulheres que vêm do Norte, esse olhar para elas. Desde o primeiro momento ela colocou isso. Isso é muito legal, ela se sente muito mais confortável e muito mais feliz”, completou Leandro.

Curiosidades das pesquisas: os animais de proteção de Fafá de Belém

Ao longo das pesquisas e consultas à artista para construção do enredo, Thiago Freitas contou que a curiosidade que mais chamou sua atenção foi a referência de Fafá de Belém aos seus animais de proteção. São elementos da espiritualidade da cantora que estarão presentes de forma especial no desfile imperiano. O enredista também aproveitou para exaltar os compositores na escolha acertada para finalização da letra do samba da escola.

“Em uma das entrevistas quando ela fala com a gente, ela diz assim: ‘os meus animais de proteção são águia, búfalo e onça. Ela solta assim e isso ficou muito em mim e muito em Leandro, e a gente veio no carro falando porque isso representa a espiritualidade dela. Ela falou de uma forma natural e a gente traz isso, a gente corporifica isso, acrescenta na narrativa essa questão da religiosidade dela com águia, búfalo e onça, que representa o aspecto da religiosidade dela. A gente traz a Fafá como mulher-onça, mulher-tigre, mulher-águia, mulher-búfalo. Eu acho que isso é um ponto da pesquisa que acrescentou com a entrevista dela. No mais, eu acho que o desafio também foi resumir a musicalidade de 50 anos em um setor. Eu acho que o ‘Emoriô’ foi um grande acerto dos compositores e que levanta a arquibancada, levanta a cultura, levanta a plateia, levanta os componentes e traz essa proximidade da Fafá também com a afro-religiosidade, que é muito presente nela. Ela é católica e também traz elementos da fé cabocla, que são os caruanas. Ela é uma mistura, digamos assim, de símbolos religiosos, e ela não defende uma religião, ela diz que ela está em todas, ela circula por todas. Isso deixa a gente bem confortável também. Ela fala que a fé dela é feliz”, afirmou.

Setor a setor: Fafá de Belém no desfile do Império

A homenagem à Fafá de Belém ocorrerá na forma de cinco rituais divididos em quatro setores. A comissão de frente e o carro Abre-alas representarão os dois primeiros, que serão o aparecimento de Fafá e a mistura da fé cabocla com a fé católica.

“Começamos com a comissão de frente trazendo o aparecimento de Fafá. A Fafá surge de um ritual chamado Kanapí, dos indígenas jurunas. A gente traz caboclas, mulheres, as indígenas caboclas jurunas. Fafá nasce desse ritual. Não vamos dar muitos spoilers, mas em síntese a Fafá surge na narrativa e nasce energizada pelas caboclas mais velhas desse ritual. Aí a gente vai para o primeiro carro, que é o segundo ritual, que mistura a fé cabocla de Fafá e a fé católica. A gente traz o Círio de Nazaré indígena”, explicou Thiago Freitas.

“A gente traz essa abertura toda do Círio, retratando toda essa parte ribeirinha, essa fusão da palha com ouro. A gente traz muito isso”, disse Leandro Barboza

“O ouro da Igreja e a palha indígena da fé cabocla. A gente mistura toda essa mística”, completou o enredista.

Os demais setores trazem os animais de proteção, a mística das festas e a coroação de Fafá. “No segundo setor a gente vem trazendo o vermelho da música e os animais de proteção dela, que já encaixam nesse setor. No terceiro setor, a gente vem trazendo toda a mística das festas, retratando todas as festas paraenses em que ela circula. E são todas, Fafá está em todas. Tudo que a gente pontua de eventos aqui a Fafá está presente nessas festas. E a gente finaliza com o setor que é o grande palco dela, a coroação de Fafá. A gente vai estar trazendo todas as músicas, os sucessos dela e a parte negra”, pontuou o carnavalesco.

“A gente traz também a mística da relação Fafá e Casa Verde. Fafá grava uma música chamada ‘Pauapixuna’, que significa Aldeia dos Negros. A gente traz então essa mística nesse ritual em que o Tigre encontra esse grande pajé da aldeia negra. O samba fala: ‘unindo o teu canto à expressão da minha cor’, e essa cor é a cor negra. A Casa Verde se une com a sua negritude ao canto caboclo de Fafá, e aí a mística acontece nesse ritual que é o quarto setor”, acrescentou Thiago.

Questionados sobre quais elementos do desfile podem chamar mais atenção do público, os artistas destacaram que as alegorias, um dos grandes trunfos históricos do Império de Casa Verde, se destacarão por uma nova linguagem estética.

“Acho que esse ano a gente vai estar trazendo mais elementos com movimentos, esculturas. Acho que o Império esse ano está com uma nova proposta também de esculturas. Não perdendo um acabamento, que a Império sempre teve sim, mas a gente está trazendo um novo conceito de proporção de alegoria que acho que vai impactar bem. Eu acho que é uma virada novamente de chave do Império nesses movimentos e esse novo formato”, afirmou Leandro.

“Eu acho também que vai pegar muito na Avenida, vai acontecer muito o carro dois. Todos são importantes, mas eu acho que vai ser aquele que o público vai ficar mais impactado por uma mística de coisas que acontecem ali. Tudo está ali nesse carro. Ali tem um ritual que acontece que é a junção do fogo e da água. Tudo está acontecendo nessa magia que é muito importante. Eu acho que o público vai gostar muito”, apontou Thiago.

“E o fechamento, o último carro, sem dúvida, tendo a grande estrela. A grande estrela acho que vai ser bem aguardada. Recentemente ela veio aqui e testou o carro. Ela subiu no lugar dela e ficou emocionada. Pulou, sambou, vibrou. Foi muito legal. Ela está muito presente aqui, ela está presente. A gente respira e a gente tem certeza que ela está respirando o Império”, completou o carnavalesco.

Ficha técnica
“Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta”
Diretor de barracão: Ney Meirelles
Diretor de ateliê: Vinícius Cruz
4 alegorias
20 alas
1600 componentes
Ordem de desfile: Sexta escola a desfilar no dia 10 de fevereiro pelo Grupo Especial

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